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1 - Entrevista D.

Nair [01:17:52]

D. Nair: D.
Professor Virgílio: P.V.
Professor Fred: P.F.
Voz masculina não identificada: M1
Voz feminina não identifica: F1
Texto ininteligível: inint.
Trecho irrelevante: T.I

[00:00: 01]

D: as casa para os fuzileiros foi feito o reservatório de água pra policia e os navio.

P.F: uhum.

D: e... Depois ficou pra marinha. A marinha cuidou um pouco depois eles desativaram o
negocio da água. Aí foi um senhor que foi meu vizinho aqui

P.F: uhum.

D: seu José... Ai meu Deus do céu... Esqueci o nome dele. Ai tô esquecida. (pensando)
[00:00:32] Dias, Seu José Dias é quem foi o último guardião lá da...

P.F: e isso faz muito tempo?

D: ah faz uns trinta e poucos anos, mais ou menos.

P.F: eu... Eu nem tinha noção... Eu nem tinha conhecimento dessa ilha na verdade.

D: tem, tem. A Univille tem um... Uma parte lá que eles cuidam né.

P.F: uhum.

D: que fica no... No... No outro lado, perto da... Da Vila da Glória.

P.F: sim.

D: (inint) [00h01min:01].

P.F: ah sim, eu acho que eu passei uma vez... Fui uma vez de balsa pra Vila da Glória, passa
por perto de umas duas ou três ilhas.

D: é, e tem a construção lá ainda das casas que existe. E tem até um enteado desse Seu José,
aí ele morreu lá na ilha. Cuida lá Paulo Cesar, mas acontece que ele não soube... Não soube
falar pra... Pras moças lá da... Da Univille que era o pai dele, padrasto dele que tava ali, porque
ele criou-se ali, aí eu falando lá “nossa, mas o Paulo Cesar mora lá, sim, mas ele não explicou
pras vocês que era aqui”. O único que cuidou foi o pai dele, padrasto.

P.F: eu... Eu acho que a maioria dessas ilhas tem pelo menos um pouco de habitantes né.

D: sim, agora só tem esse lá.

P.F: só tem esse lá?

D: é, tem outras ilhas aí, tem ilha grande, tem muitas ilhas lá, mas...
P.F: aquela do farol não tem mais ninguém né? Aquela que tinha o farol.

D: deve ter. Deve ter alguém

P.F: porque eu sei que parece que não tem mais uma visitação frequente lá assim.

D: sabe quem, quem tá cuidando daquilo ali? Pessoal do... Do porto aí. Eu não sei se é...

P.F: é eu ouvi falar que é...

D: da família do Feijão... Do... Do... Zera.

P.F: aham.

D: essa gente que tão cuidando lá. Aí eles construíram, fizeram casa boa lá, morada lá, e de
vez em quando tem reunião lá. Até sabe quem vem de vez em quando pra lá... Pra ilha do
farol? É essa Da... Da... Faustão. Faustão Da... Da televisão.

P.F: Faustão?

D: que o Faustão é amigo do Beto Caroço, do Feijão, de vez em quando ele vem pra aqui
(inint.) [00:02:52] (conversa paralela)

[00:02:57]

D: aí eles tomaram conta né, eles tomaram conta da ilha.

P.F: é, e ali como é difícil de chegar né é bem... É bem fácil de eles ficarem isolados ali.

D: é, e é da marinha aquilo ali né, todo.

P.F: mas a senhora sempre morou aqui mesmo, do lado de cá?

D: faz... Que eu moro aqui faz... Cinquenta e nove anos.

P.F: nossa. Em São Francisco só ou aqui no bairro?

D: no Paulas, sempre morei no Paulas. Morei onde é a (inint) [00:03:21] a Bunge ali, que era a
antiga (inint)[00:03:24] onde era a oficina da (inint)[00:03:27], era nossa casa, aí fui indenizada
de morar aqui, e aqui não podia ceder, porque aqui já tava tudo organizado, tudo planejado,
aqui onde eu tô era pra ser a piscina da... (inint) [00:03:42] mas daí eu não queria outro lugar
né, eu queria ficar no Paulas.

P.F: toda a vida no Paulas.

D: í foi uma revolução rapaz pessoal de... De... Lá... De... Lá de Blumenau que eram os donos
da (inint.) [00:04:00] e tudo, e reuniram, e reuniram, e digo “não quero”, “então a senhora vai
ficar no meio da firma lá”, mas acontece que tinha uma rua que passava lá.

P.F: uhum.

D: mais de... De oitenta anos, e ali a gente morava né, o nosso terreno era uso campeão...
Pelo uso campeão...

P.F: ah tinha ficado bastante tempo lá.

D: é. Muitos anos, meu marido criou-se tudo, minha sogra morou lá tudo.

P.F: é porque quando vocês vieram para morar aqui talvez não tivesse bairro aqui, era um
povoadinho.

D: é, era pequenininho o bairro do Paulas.

P.F: era... Eram... Era gente pescadora que... Que vinham morar pra cá.
D: era. Era os pescadores só, aí depois que veio hotel...

M1: Bença mãe.

D: Deus te abençoe. (conversa paralela entre a vozes não identificadas) [00:04:42] Ih... era
pequenininho isso aqui. Inclusive o Morro de Pão de Açúcar né nessa época pertencia pro
Paulas, agora é pro Rocio Pequeno, não é mais do... Não pertence mais do Paulas o morro ali.

P.F: Ah é, não sabia.

D: É eu tô sabendo, fiquei sabendo faz pouco tempo.

P.F: Ah legal isso, não sabia. A senhora veio da onde quando a senhora mudou pra cá?

D: Eu vim de... Oeste catarinense, meu marido que é daqui, mas eu sou Lageana, me criei em
Campos Novos, estudei em Campos Novos, Caçador, depois me casei, aí fui morar em
Xanxerê, morei em Aberlado Luz.

P.F: Aberlado Luz...

D: É, lecionei lá.

P.F: Lecionou? A senhora era professora.

D: É, mas desisti porque ser professora é uma missão né.

P.F: É uma missão.

D: É uma missão.

P.F: A senhora era professora do que?

D: De... D...de primeiro a quarto ano.

P.F: Ahhhhhhhhhhhh o magistério?

D: O magistério. Tenho o magistério, mas dai eu fiz o (inint.) [00:05:53] em Campos Novos, eu
estudei em Campos Novos também, é um colégio de freira, um colégio que tem lá, um grupo
escolar. E dai depois que casei fui morar nesses lugares e dai lecionei, lecionei no Paraná.

P.F: Lecionou em bastante lugar.

D: Em (inint.) [00:06:09] lecionei. Mais depois que eu achei que não... Não combinava comigo o
modo de... De... De educar.

P.F: Por quê... Qual era o modo de educar daquela época?

D: Num... Não combinava comigo. Porque naquela época era permitido bater nas crianças,
existia régua, existia... Né e eu não era gente pra bater numa criança.

P.F.: Não concordava com esse tipo de método.

D: Não concordava com aquele método.

P.F: É difícil de se incluir dai né.

D: É, é difícil, mas era antigamente, pergunta pros professores antigos. Então aquele castigo
de botar a criança de joelho, o milho no joelho, era castigo, eu nunca fiz isso. Aí as crianças
tinha criança que já tava no regime antigo ai... Não respeitava a gente... Não tinha mesmo...
(inint.) [00:07:10]... Sofrendo dos nervos, aí desisti de leciona. Aí sabe o que que eu fui fazer?

P.F: o que?
D: A minha área que eu gosto, comecei a cozinhar. Fui cozinheira em São Francisco, no
Zibamba, na... Ah... Em todo lugar aí.

P.F: Aí quando a senhora veio pra cá a senhora já era cozinheira então.

D: Não, não era. Cheguei aqui e o seu Nicola Batista era o inspetor escolar daquela época, do
município. Aí quando soube que tinha uma professora aqui, que eu morava aqui... Pra aqui
mandou me chamar né, “ah... nos estamos precisando de professores” , mas eu já tava na
área de cozinha entende, aí eu perguntei “quanto é que a gente vai ganhar aí ?” “ah mas eu
quero salario pra substituto porque tem duas gravidas, uma pro outro lado outra pro Fi... pro
Vitor Konder... Felipe Schmidt. Eu disse “Ah não, substituta eu não quero” [P.F. (risadas)] eu ia
ganhar metade do que eu ganhava de... de... de cozinheira... de chefe de cozinha. Aí... aí
desisti, não quis ir, ah ficou brava comigo, chegou “isso é uma vergonha mesmo” ,“então o
senhor me dá pra servente eu aceito, porque é área de cozinha que eu tô gostando”, “cria
vergonha, onde é que se viu uma professora querer ser cozinheira... Servente”. Mas é uma
profissão digna né, pra mim tudo é digno.

P.F: Tudo é digno.

D: Sendo honesto né, sendo limpo, tudo é digno. E ai eu continuei né, mas depois meu marido
fez um curso pra marinha é... Marítimo é. Marítimo é...

P.F: Marinha?

D: Marinha mercante.

P.F: Ah, des...

D: Aí eu desisti, não trabalhei mais.

P.F: Uhum.

D: Aí fiquei cuidando da minha casa, meus filhos, minhas plantas.

P.F: A senhora desistiu da educação quando a senhora veio pra cá então.

D: Não, mas educar meus filhos né.

P.F: Ah não, é, mas desistiu da profissão.

D: Eu tenho uma filha... Eu tenho uma filha que é advogada.

P.F: Ah que legal.

D: A minha mais nova ela mora na Áustria, já esteve em Nova Zelândia.

P.F: Ah que legal.

D: Você já esteve em Nova Zelândia?

P.F: Não eu não fui na Nova Zelândia.

D: É lindo rapaz, só que eu fui lá rezei tanto rezei tanto meu genro é engenheiro e aí.

P.F: Seu genro é daqui? Ou seu genro mora fora também?

D: Mora lá né.

P.F: Ah não, sim, é.

D: Ele é filho dos donos do... Do Colégio Francisquense.

P.F: Ahhhh sim.


D: Ele é o casula da dona Tené.

P.F: Uhum é eu conheço um pessoal dessa família.

D: É... É.

P.F: Dos donos ali do Francisquense.

D: É, a dona Tené a dona (inint.) [00:09:48] ... [00:09:53] Então, foi um colégio muito bom o
Francisquense, antigamente, antigamente agora não sei como é que tá.

P.F: Ah não sei, não falam muito bem na verdade. É um colégio que tem raiz aqui né, com
freiras tal.

D: Tem, foi um colégio de freiras, na época que eu cheguei aqui eras as freiras que.

P.F: Era... Era colégio de freiras ainda.

D: Era, era as freiras da Divina Providencia que cuidava dali. Era muito bem cuidado ali depois.

P.F: Era internato ali? Não?

D: Era.

P.F: Era internato.

D: É tinha interno e externo né.

P.F: Uhum.

D: algumas meninas era só pra meninas.

P.F: Sim, era um colégio de... De

D: Só pra meninas. Feminino não tinha menino. Então algumas ficavam interna e outras
estudavam né, davam aulas pra elas né.

P.F: Uhum.

D: Particular, porque era particular. E... Faz 59 anos vai fazer 60 em maio agora.

P.F: Nossa é muito tempo né.

D: No ano que vem é que eles tão aqui muito tempo. Conheço bem São Francisco, conheço
muita gente, gosto muito daqui. Você é da onde?

P.F: Do Interior de São Paulo.

D: São Paulo?

P.F: É, mas eu tô morando pra cá faz pouco tempo na verdade.

D: pouco tempo é diferente. São Paulo é um estado muito evoluído, são muito antigas as
cidades. Se bem que nos aqui estamos na terceira cidade mais antiga né.

P.F: É, é uma das cidades mais antigas mesmo. O povoamento aqui é muito antigo.

D: É, são.

P.F: Mas é difícil encontrar quem tem raiz na cidade, eu vejo pessoas que tem raiz na cidade.

D: Meu marido é daqui, mas ele não... Não se interessa, não estuda, não liga pra nada.

P.F: Ele nasceu aqui?


D: Ele é daqui.

P.F: Ele nasceu aqui.

D: Nasceu aqui nesse bairro, ali onde é a Bunge ele nasceu.

P.F: Ali onde é a Bunge.

D: É, perto do cais, nesse tempo não existia porto ainda. Ele tá com 83 anos, e eu estou com
88.

P.F: É eu acho... Eu acho bem curioso que as pessoas vinham morar aqui naquela época
porque era bem... Deveria ser uma área bem inóspita sem muito recurso, sem muita coisa pra.

D: Sabe que São Francisco já ouve... Já era como dizem né já teve, mas agora tem mais, já
teve muitos intelectuais em São Francisco já existiu.

P.F: Ah é?

D: Já... Eu tenho muitos livros ai.

P.F: De São Francisco mesmo ou...?

D: De São Francisco mesmo.

P.F: Olha só.

D: (inint.) [00:12:24] esse pessoal parente do...do ex-governador do estado (inint.)[00:12:32] as


raízes dele era daqui, o Santiago...

P.F: E esse pessoal... E esse pessoal se encontravam por aqui mesmo eles tinham discussões
esse tipo de coisa?

D: Sim se encontravam.

P.F: Aqui mesmo em São Francisco tinha uma movimentação?

D: Você vê a. a... Como é que se diz?... A estrutura da cidade né, os casarios que são antigos,
é diferente dos outros né.

P.F: É, é verdade né.

D: Era diferente né.

P.F: Uhum.

D: Não era uma coisa... É uma coisa antiga né.

P.F: Bem antiga bem antiga.

D: É tem prédios ali que tem 400 anos, a igreja nossa foi feita de... Foi feita de...

P.F: De preda né.

D: Preda e... Óleo de baleia.

P.F: É. Tem uma historia... Te... Te... Tem uma historia falando lá.

D: É óleo de baleia e pedra quebrada né.

P.F: Uhum.

D: E foi feito pelos escravos da época da escravidão.


P.F: Mas fazem muitos anos né.

D: É... Muitíssimos, essa geração nem tá sabendo né, o que a gente estudou um pouquinho a
gente aprende.

P.F: Uhum.

D: Então, é muito antiga a igreja ah... E outros casarios ali que tem muitos casa... Muitos...
cas... Prédios bem antigos, então era... Era bonito São Francisco, já foi. Quando eu cheguei
em São Francisco as casas eram tudo pintadinho, era tudo bonito tinha... Tinha a área dos
clubes lá em baixo tinha muitos restaurantes, tinha aquele que é uma coisa bonita também o...
Mercado municipal.

P.F: A senhora acha que tinha mais movimento no centro histórico naquela época que a
senhora chegou do que hoje em dia?

D: Meu deus tinha, era tudo ali né.

P.F: Era tudo ali.

D: Essa Barão (no caso a rua) ali não tinha nada, só umas casinhas, então era muito bonito,
era bem movimentado, vinha... Vinha barco de... De...

P.F: Passageiro?

D: De passageiro. Tinha o trapiche (inint.) [00:14:36] lá que sempre chegava ali no ri. Era muito
bonito. Agora pra você ver (inint.) [00:14:42] n, São Francisco o centro é a (inint.)[00:14:46].

P.F: Tá, pior que é.

D: Tá uma (inint.) [00:14:49] porque acabou-se. Depois que... Que foi... Como é que se diz ele
é do patrimônio...?

P.F: Histórico.

D: É, ele não pode, foi tombado né.

P.F: Mas muita casa só tem fachada...

D: Mas depois que foi tombado acabou-se.

P.F: Acabou.

D: Acabou-se, porque ficaram os herdeiros, não queriam arrumar, não queriam coisa... Ai
depois eles arrumaram dinheiro pra fazer esse monumento né, eu não sei o que que foi feito,
não fizeram nada que preste. Eu sei por que a moça que fez, fez a minha casa aqui... A minha
casa aqui é um palco de reuniões, sempre foi, pra fundação de partido politico, pra... (P.F.
risadas)... É que a gente é bem conhecido né, e ainda tem um filho que é politico...

P.F: Ah...

D: E eu tenho três filhos na prefeitura.

P.F: Uhum.

D: E... Uma nora, que trabalha na prefeitura. Onde tem o (inint.) [00:15:41] ou seja... Cê já viu
falar do (inint.) [00:15:42] ?

P.F: Já ouvi, já ouvi falar do (inint.) [00:15:42].

D: O (inint.) [00:15:44] é politico, é que ele nasceu na politica e não vai desistir.

P.F: Mas a senhora acha que... É... A instalação de vários portos aqui em São Francisco e as
empresas de logística todas não foi o que de repente deu uma atrasada na cidade? Porque
parece que as pessoas que detém todo esse poder e as casas e imóveis, eles não têm muito
interesse de...

D: Não tem muito interesse, eles querem...

P.F: De fazer a Cida...

D: Com esse porto que tão arrumando ó isso aqui foi desmatado isso aqui tudinho a gente fez
um abrigo e (inint.) [00:16:14]. Porque aqui era mato né, e pertencia pra um cara Da... Da...
Da... Bung... Da Serval, aí ele vendeu um pedaço pro Beto Caroço, aqui é a pessoa que tem
em São Francisco chama-se Beto Caroço.

P.F: Ele também tá preso?

D: A pessoa mais suja que tem é Beto Caroço, eu conheço porque eu trabalhei com o pai dele,
desde criancinha então eu conheço esse camarada, ele é um egoísta, mal-educado, e... Ele
mora em Joinville, ele não mora aqui, comprou isso aqui e vendeu pros chineses.

P.F: Oloko.

D: Tá vendido pros chineses. A gente fez uma briga meu... Deus a minha neta fez um coisa aí,
a gente reuniu gente contra... Só o abaixo-assinado que não foi feito por causa dessa
derrubada que eles começavam de manhã, quatro... Quatro pra corta ali né pra gente falar aí a
gente achou ruim, porque aqui tinha... Vou te contar... Nessa arvore aqui vem os passarinhos,
tinha jacu, tinha um bando de jacu aqui, ali onde tem aquelas plantas cortadas, eles não
deixam crescer mais, duas vezes já cortaram uma do... Cortaram. Tinha jacu, tinha aquele
outro pássaro grande, tinha muito... Como é que se diz?... Aquele do bico comprido...

P.V: Tucano?

D: Tucano. Tinha Tucano do Bico Amarelo e tinha do bico preto né, que tá em... Que tá quase
em extinção. Mas tinha aqui bastante, de bando e eles ficavam só nesse pedaço aqui,
acontece que quando eles dislumbraram as arvores, sabe onde é que os passarinhos vinham
come, e vem ainda, nessa aqui e nessas arvores aqui ó (mostra as arvores), essas arvores
aqui foi eu que plantei.

P.F: Você que plantou?

D: Fui eu que plantei eu... Eu... Eu trabalhei... Eu fiquei quatro anos trabalhando aqui na
empresa... Da Bunge aí eu pedi pro... Pro... Pro dire... Pro diretor na época né... Supervisor, eu
disse “(inint.) [00:18:36] eu posso botar umas arvore de fruta, que tá nascendo no meu quintal e
eu não tenho onde plantar “, “pode Dona Nair, é ate bom”, “então vou plantar pros
passarinhos”. Plantei essa ali, essa... Essa aí plantei um pé de limão do lado dela plantei
essas... Essas pitangueira que tá crescida tudo, plantei quatro pé de amorinha tá lá tudo, tudo
dando fruto, então quando na época era rixa de passarinho envolta da minha casa, só que eu
não... Ninguém vem se setra de coisa, porque eu não deixo.

P.F: Ah não pode né.

D: Não deixo e os passarinhos vem, a gralha... Esse ano tinha uma gralha comendo goiaba
aqui nessa... Gralha Azul.

P.F: Meu deus e é difícil de ver né hoje em dia...

D: porque eles destruíram ali e bicho vão onde tem fruta, eu tenho um pé de... De jabuticaba
que os jacu tavão comendo jabuticaba no pé no meu quintal.

P.F: A senhora nem pega as frutas Da. Da... Das arvores deixa pros passarinhos...

D: Não, deixo pros passarinhos, goiaba às vezes eu colho.

P.F: Uhum.
D: Quando eles não beliscão né, porque agora essa goiabeira, essa goiabeira agora não é
época, mas vai ali pra tu ver se não tem goiaba.

P.F: Ah...

D: Toda planta que eu planto meu filho da fruta o ano todo, não sei se é Deus que me ajuda ou
é meu pedido que é aceito ou né, mas da fruta o ano todo.

P.F: A também plantou com muitas boas intenções né.

D: Ahm?

P.F: A senhora também plantou essas arvores aí com boas intenções né.

D: Muito boas, ah é claro, com muito amor né. Assim como eu cuido de uma planta eu cuido de
uma pessoa.

P.F: É e a senhora tem interesse de cuidar mesmo Da... Da...

D: Tenho agora eu tô triste porque disse que vai passar... Essas casas aqui vão ser tudo
indenizada, que vai passar a estrada por aqui, vão fazer um não sei o que aí.

P.F: Ah olha só.

D: E vai pegar minha casa...

P.F: E tem todo uma reserva...

D: Tem...

P.F: Tem todo... Tem todo... Tem todo umas... Uma reserva florestal aqui nesse lado né.

D: Pois é né, não devia ter um gongo ali né, e esse aqui, esse aqui nunca podiam ter tirado
essas arvore aí, nunca foi derrubado esse mato.

P.F: Nunca foi derrubado.

D: Nunca. Cê vê o tamanho das arvore lá, elas são dali pra cá que é da estrada velha.

P.F: Uhum.

D: Aqui em baixo, onde tá esse capim mais pra cima lá não era tudo arvore, tudo mato.

P.F: Lá eles dizem bastante... E é incrível como essa cidade é uma das cidades mais antigas
do pais não muita gente conhece.

D: Não conhecem né. Nem o pessoal daqui.

P.F: É o pessoal daqui não tem tanto conhecimento e olha que eles são daqui e lá em São
Paulo o pessoal conhece todos os lugares...

D: Se interessa né.

P.F: É rua em todos os lugares, cê fala daqui eles nunca ouviram falar.

D: Aqui ó, aqui eu fui presidente de um... Duma... Duma... De um clube de... De... De idosos.

P.F: Uhum.

D: Mas eu carreguei essa gente pra tanto lado, pra outro lado que não conheciam Vila da
Gloria, não conheciam o Saí, não conheciam, o Ervino que é ali né, que agora tá bonito porque
antigamente era... Eu conheci o Ervino com duas casinhas só e conheci o Seu Ervino que é o
fundador de lá, era um alemão...
P.F: Ah... Ervino então era uma pessoa.

D: Era, era um senhor eu conheci. Essa, essa minha filha, não faz muitos anos que ele morreu
o senhor Ervino, faz uns... Vinte anos, não faz uns vinte ano não, mais ou menos, uns dezoito
anos que ele faleceu...

P.F: Ahm, ele moro lá, assim, toda vida?

D: Ele morou lá, ele desbravou ali, ele entrou lá...

P.F: E construiu uma casa...

D: E construiu uma casinha lá onde é o... Tem o bar do filho dele agora.

P.F: Aham.

D: E depois ele ficou morando sozinho lá. A mulher foi embora pra Joinville, que era mato né e
ele ficou sozinho, morando lá com um casal de filho, um filho e uma filha, aonde dai fundaram a
primeira escola lá, a minha filha tinha se formado aquele ano, a Silvana, ela foi da aula no...
Ervino, segunda professora de lá.

M1: Ah que legal. Segunda professora do Ervino.

D: Dai começaram com a... A lotear né de... De gente, foram loteando e foram, e chegando
gente...

P.F: Agora ficou um bairro até que grande.

D: To bonito ate viu. O Capri também não tinha nada...

P.F: Esse seu Ervino quando veio pra cá, ele desbravou ali, o que, que ele fazia da vida.

D: Ele parece que trabalhava com... Um negócio de carvão me parece que era carvão...

P.F: Ahm...

D: Que era lenhador né ele cortava madeira.

P.F: E dai ali né, provavelmente tinha bastante o que...

D: Bastante...

P.F: O que cortar pra fazer lenha ou...

D: Não sei se era pra estrada de ferro ou se é porque que eles vendiam aquele carvão.

P.F: Aham deve ser né, deve ser.

D: É deve ser. Deve ser. Ele desbravou ali.

P.F: Aham.

D: Foi o primeiro morador dali.

P.F: Pra... Pro lado da praia será que tinha morador nessas épocas aí? Pra aqueles lados da
praia, pra enseada, acho que não...

D: A Enseada eu conheci bem pequeno também, agora ta um cidade a Enseada né.

P.F: É agora tem bastante.

D: Eu conheci bem pequenininha.

P.F: Mas lá não morava ninguém né?


D: Não muito pouca gente

P.F: Muito pouca gente... Também né, devia ser muito longe da entrada da cidade.

D: Era...

P.F: Pras pessoas irem morar lá...

D: Só pra (inint.) [00:23:59] pescadores né...

P.F: Uhum é.

D: Uns quatro ou cinco pescadores que moravam lá, aí depois compraram... Aí depois
compraram... Veio o seu (inint.) [00:24:11], que era... Era um... Círio veio de cima ai, de...
(inint.) [00:24:18], comprou ali onde... Onde tem o... A rodoviária ali sabe? Então ali ele
comprou fez um... Fez um hotelzinho ali, depois veio um engenheiro de... De... De... Doutor
Nelson, de Curitiba, comprou onde tem aquele morro lá, sabe o Turismar?

P.F: Sei, sei.

D: Eu fui umas das primeiras cozinheiras...

P.F: Ah que legal...

D: No Turismar, chefe de cozinha. Então ali foi loteado né... {(inint.) [00:24:50] à [00:24:53] } e...
Aí veio muita gente de Curitiba, pra vê que na Enseada tem bastante gente de Curitiba...

P.F: Tem bastante.

D: Aí foi loteado e foram comprando e foram loteando e foram... E foram invadindo.

P.F: Deve ter muito lugar aqui que é de invasão né, que é de usucapião.

D: T. Te... Tem, tem. Tem a o... O Ubatuba, o Ubatuba era só praia não existia nada, tinha o
Forte lá e depois o Ubatuba era praia ali. Ali que loteou aquilo ali foi o... O... O... Bi... O. (inint.)
[00:25:34], o (inint.)[00:25:38] eu acho que é o nome dele, eles tem cartório ainda aí...

P.F: E ele loteou ainda aquilo? Como?

D: Ele loteou tudo aquilo ali dai veio o... Depois que ele saiu né que ele tinha tomado conta de
tudo aquilo ali, aí um preferi... O... O próximo prefeito era Doutor Addison, Doutor Addison
morava aqui na praia do (inint) [00h25min: 59], ele era filho do (inint.) [00:26:01], aqui em São
Francisco, então o Doutor Addison era advogado, ele foi prefeito aqui... (inint.) [00:26:10], então
houve uma briga... Uma questão né que o cara tinha pegado tudo aquilo... Aquelas... Aquela
Ubatuba lá tudo, tomou conta de tudo loteou e coisa.

P.F: Como se fosse dele né.

D: Como se fosse dele e... Apossou-se, mas acontecia uma coisa que o pai do Doutor Addison
foi (inint) [00:26:41] em inglês e São Francisco, quando ele chegou aqui ele ficou bobo né tinha
muita, muita terra, muito terreno já...legalizado tudo mas tá bem atraso com os impostos, aí iam
pro leilão esses terreno e esse velho, Doutor Addison , velho Addison, { (inint.)[00:27:02] à
[00:27:05] } ele arrematava tudo aqueles terreno, ele já arrematou esse morro aqui, ele
arrematou por quarenta reais, na época , esse morro do Pão de Açúcar em baixo aqui, dali pra
lá tudo, eu morei numa chácara ali dele né, uma casa antiga.

P.F: Foi por que preço na época?

D: Quarenta reais.

P.F: Por quarenta reais?(risos)


D: O morro inteiro, tá ali é dele... É da família, ele é dividido, foi. Então ele arrematava onde
tem o trigo ali, terrenos usados, aqui tem dele, aqui tem dele, na reta tem dele, tem aquele,
aquele negocio lá de... De... Da... Aquela pedreira.

P.F: Uhum.

D: Ali é deles tudo, ali onde tinha os camelos depois da ponte, aquele vargedo ali, era tudo
velho, porque os terrenos tavam... Tavam devendo pra prefeitura então entrava em leilão né,
porque os prefeito antigo faziam isso e... Ai o velho Addison, Mr. Addison ficava com tudo, aí
quando o Mr. Addison morreu, eu conheci ainda ele, pai do... Do... Do Addison, Doutor Alfred
Darcy e quando o Mr. Addison morreu foi aquela briga porque o Dr. Addison tinha que pagar
tudo que era imposto que ele tinha, ele dizia “não sei por que meu pai foi tão guloso, que queria
ficar dono de São Francisco” tem na Laranjeira tudo tem terreno dele.

P.F: Até lá tem terreno dele.

D: No Saí tem terreno dele.

P.F: E tudo com imposto?

D: Tudo ele... Ele pagava o imposto e ficava de dono, porque ele ganhava bem né.

P.F: Que loucura São Francisco né.

D: Em São Francisco teve cônsul inglês, teve cônsul uruguaio...

P.F: Muita gente importante passou por aqui né.

D: É... Muita gente importante e hoje não tem mais nada, hoje tem uma meia dúzia de boboca
aí, que esses cara aí...

P.F: Aproveitaram da cidade até quando podia e agora se desfizeram dela.

D: O que podia. Agora destruíram tudo...

P.F: Uhum.

D: Esse ex-prefeito, não sei se você tá sabendo, o Luiz Zera, disseram que ficou oito anos no
cargo, não tinha nada mas olha o que roubou, o que roubou. Tem um loteamento... Tem um
loteamento no... No, não sei se é no Sandra Regina, que tá lá tudo, aquele ele tomou conta de
tudo, tá tudo cortadinho.

P.F: Ah ele tomou conta e... Loteou?

D: Apossou-se né, botou (inint.) [00:29:30] e tá lá tudo, o mato tá tudo caído, ele apossou-se, o
cara roubou um bocado.

P.F: Eu acho... Mas acho que já é antigo isso do... D...dos prefeitos se aproveitarem da cidade
e dai...

D: Ó se essa pessoa nunca se aproveitou, eu já passei quanto? Uns cinquenta sessenta anos
quantos prefeito...

P.F: Muitos prefeito...

D: Uma pessoa que nunca roubou nunca que eu soubesse nem vi falar, Doutor Addison nunca
roubou, ainda doava, aqueles terreno que, eram muitos, do pai dele, a mulher dele, a nora né
do velho Addison né, a (inint.) [00:30:10] que já morreu, a mãe do (inint.)[00:30:11], que o
(inint)[00:30:12] é advogado aqui.

P.F: Uhum.
D: Ela é muito gulosa né, então ela não assinava, não queria que ele vendesse, não queria que
ele doasse. Ele fez uma, quando o Camilo saiu daqui que a. a... Sepal tirou o seu Camilo
daqui, da família ali, de perto da ponte.

P.F: Uhum.

D: Aí... Pagaram muito pouco naquela época, parece que pagaram vinte mil, dez mil, sei lá, pro
seu Camilo por todo o terreno dele que ele tinha aqui, isso aqui era tudo dele. Aí... Ó que o
Doutor Addison pegou um papel fez uma procuração né, (inint) [00:30:54] pra mulher dele, e
disse “ó você tem que assinar”, levou em branco, “tem que assinar esse papel aqui, que eu... é
um terreno que vai ser vendido...” tal, tal... O Alfredo deu esse terreno pro Camilo, ela assinou
dai ele fez uma procuração. O dono do terreno lá foi ele quem doou pra família, o seu Camilo
tinha muitos filhos né.

P.F: Sim...

D: E a família tudo junto ali, morava. Aí ele disse “o quê, que o Camilo vai fazer com aquele
pouquinho?”, “Vou doar um pedaço daquele terreno lá, que ele não serve.” E doou pra família
do Camilo.

P.F: Mas esse prefeitos aí eles são de muito tempo atrás, esse que a senhora citou?

D: Doutor Addison?

P.F: Doutor Addison e o...

D: Doutor Addison uns quarenta, trinta anos, não... Faz uns trinta anos que ele é falecido
mesmo.

P.F: Faz uns trinta anos.

D: É antigo.

P.F: É antigo. E esse outro prefeito que a senhora citou, também é antigo? Celso.

D: Celso Pessoa foi depois dele, foi um homem serio o se... O seu... José Silva, o primeiro
prefeito que...

P.F: O primeiro prefeito daqui?

D: Quando eu cheguei aqui era ele, ele foi o primeiro prefeito que eu conheci.

P.F: Ah entendi.

D: Até que eu vim de lá né, eu tinha meu título naquele ano e não tinha passado do... Do... Do
tempo de... De, de fazer título, mas como eu tinha desistido lá e era pra eu ser professora,
funcionaria publica, eu tive o direito de... Foi conversa com ele... “a senhora vai fazer, a
senhora foi... só que a senhora vai ter que dar aula aqui, vai pegar e vai dar aula.” e eu não
quis. Mas dai eu tive o direito de fazer meu título.

P.F: Então deixaram à senhora fazer o título daqui de São Francisco.

D: Fizeram... Fizeram, ele era prefeito né falou pro juiz.

Do eleitorado e eu fiz meu título, tenho meu título daquela época. Meu marido não pode fazer,
mas eu fiz.

P.F: Ele não cooperava pra você fazer o título, se você não...

D: Ah não fazia...

P.F: Se você não fizesse...


D: Não é que tinha passado Da... Época né.

P.F: Ahm...

D: De fazer o título, eu já... E o meu já tava atrasado e eu consegui.

P.F: Porque ele ajudou.

D: Porque ele ajudou o prefeito né, mas era um homem bom, um homem serio. Agora de um
tempo pra cá...

P.F: Acabou né. Eu acho que nessa época aí São Francisco ainda devia estar desenvolvendo,
com esses prefeitos aí, que tavam por aqui.

D: Aí tava. Doutor Addison era... Era desses prefeito que andava na rua pro... Andando, que
falava com todo mundo, conhecia todo mundo né, você chegava lá ele atendia todo mundo,
tava sempre pronto pra te atender, pra ir na comunidade ver o que, que as pessoas tavam
precisando, o que, que queriam, se concordava com isso com aquilo, o estrago que fizesse ele
era assim, o Doutor Addison era um homem muito serio, muito bom. Ó depois que passou
pro... Pro... Pra família Camargo, meu filho, acabou-se...

P.F: O pessoal tomou conta da cidade...

D: É...

P.F: A família tomou conta da cidade...

D: Os Camargo... Os Camargo foi o pai prefeito, Zé Camargo, depois foi o Flávio Camargo, do
mesmo jeito, depois veio esse aqui né.

P.F: Uhum...

D: Olha o melhorzinho aqui foi o Godofredo.

P.F: Godofredo.

D: Godofredo Moreira foi o prefeito de São Francisco.

P.F: Ele foi o último prefeito? Não?

D: Não, não...

P.F: Ou penúltimo prefeito?...

D: O último foi o... O...

P.F: O Zera?

D: O Zera. Ele foi duas vezes né foi reeleito.

P.F: Duas vezes prefeito.

D: Duas vezes e... Antes dele foi Odilon, foi o... Godofredo pro Odilon depois foi Odilon, não me
lembro se era o (inint.)[00:34:31], o médico lá, Doutor Walmor, parece que foi, Odilon, Doutor
Walmor e depois ele foi, e depois é que foi o Zera também. O Zera foi eleito, foi reeleito, e
agora passou pro Renatinho. Que esse aí só puxa pro lado deles.

P.F: É mais do mesmo.

D: Nenhum deles mora aqui. Eles explora aqui e tão acabando com tudo.

P.F: Explora a cidade quanto pode pra gerar capital pra eles.
D: Tão botando essa porcaria de adubo aqui que podia ter... Por que, que não levam lá
Imbituba, que lá é deserto lá não é igual São Francisco.

P.F: Aqui tem praia, aqui tem natureza.

D: Conheço Imbituba, conheço Laguna, conheço tudo esses lugar por aí, por que, que não põe
pra lá né, que um porto novo que precisa né, não eles tiveram que fazer a sujeira aqui. Você
entra nessas rua aí morro grande tudo, que tem asfalto né é tudo cheio de armazém de... De...
Fertilizante. Tudo fertilizante, e o que... Que tá acontecendo é que tá poluindo.

P.F: É, e a produção de fertilizante deve ser muito prejudicial né.

D: Meu Deus é veneno.

P.F: Porque é veneno.

D: Sabe que é veneno.

P.F: Sim é veneno.

D: É, você vê, os pescadores aqui, eu fui em uma audiência publica, onde teve lá né um painel
da explanação que não tinha pescador aqui e queriam fazer um porto aqui, aqui onde é... De
frente o hotel aqui, onde queriam fazer o porto, mas dai eu fiz um abaixo-assinado, eu fui falar
com o pessoal da...da...da...do, como é que é?... Das estradas. Secretario no dia da audiência
aí ele... Aí eu disse “o que, que eu posso fazer eu não... não... não precisamos daquilo, já tem
o porto publico aqui, pra que fazer um porto particular ali pra botar veneno, ali tem um hotel
bom, ali tem muita gente que mora ali, fim de semana todo mundo pesca, todo mundo tem sua
baterinha tem peixe, tem tudo ali, tem até Mero ali”. Que apareceu um Mero grande ali né que
tavam quebrando as pedras e... Mata... E mataram um Mero de quase duzentos quilos. Eu
disse “as coisa que tá em extinção lá nos precisamos preservar São Francisco, o que eu posso
fazer?” aí ele disse “senhora tem uma associação comunitária?”, “tem”. Eu mesmo andei
procurando fa... A reerguer essa associação que tava a seis anos inadimplente, eu andei
procurando pelos livros da associação, resgatei, fiz a reunião, bastante reuniões aí com as
pessoas né pra não sair esse porto aí e aí ele citou “a senhora faz um abaixo-assinado mas
com até quinze dias, a senhora faz um abaixo-assinado com o pessoal do Paulas”. Eu fiz... Eu
peguei oitocentas assinaturas do pessoal daqui. Mandei pra Brasília, uhm... Ficou engavetado
lá o troço né, mas pra (inint.) [00:37:38].

P.F: É tem um porto sendo construído no forte também e o pessoal tá nessa mesma luta aí.

D: É pro cê vê. O quê, que tu acha que podia desenvolver São Francisco, porque aqui é lindo,
você é paulista né, mas São Francisco é muito bonito. Muito lindo eu não nasci aqui, mas eu
conheço muito as ilhas a gente vê que coisa mais linda, a natureza aqui, acabar com isso aqui
só pra ganhar em dinheiro pra uma meia dúzia, poluía as água acabar com os pássaros com
os bichos que tem aqui, acabar com as pessoal, ah não. Eu não concordo com isso aí. Eu não
concordo. Aqui...

P.F: Eu acho que o que devia se desenvolver é a parte de turismo...

D: De turismo. Né, então preparasse essa pessoa pro turismo né, ahm... Pessoa s que saibam
receber as pessoa né... Que sejam... Guia turístico, hotéis bom, pessoas, bom garçons,
pessoas... Essa área.

P.F: Coisa pra turista fazer né, atividades.

D: Pra turista, né. Artesanato, eu tenho uma filha que é artesã.

P.F: Ah que legal.

D: Ela é artesã, ela tá desenvolvendo agora, ela tá aprendendo pela internet uma peruana,
uma Da... Não sei se é Da... É Da... da.... Como é que se diz é Da... Da... Europa, europeia, e
ela sozinha pela internet. Meu se tu vê os trabalho da minha filha.
P.F: E ela começou a vender esse trabalho ou ela tá só aprendendo?

D: Não ela vai fazer uma procissão, nem pra fazer uma procissão ela foi ela (inint.) [00:39:22] .
Ela foi duas vezes, no secretario lá da cultura, um dia não podia receber outro dia tinha três
pessoas se vê a... O descaso das pessoa, o descaso que fazem com as pessoas aí eu disse
pra ela “deixa que eu vou falar com o (inint.)[00:39:38]”, disse “a mãe se acredi...” eu digo “sabe
que ele é meu amigo, ele me conhece e eu chega lá, ah a dona Nair quer falar com você,
prontamente eu tenho certeza que ele vai me receber”, e se não receber eu já faço um AUE
digo ”olha eu preciso falar com você de qualquer o jeito, é uma coisa necessária é bom pra São
Francisco é mostra o nosso trabalho, é da tua área”, já vou dizendo.

P.F: É e pelo o que eu conheci de boca a boca, tem muita gente faz um trabalho legal aqui em
São Francisco, mas eles não conseguem espaço pra expor não conseguem oportunidade pra...

D: As minhas filhas fazem tudo que é trabalho, tudo que é curso elas aprendem, é crochê, é
tricô, tem uma que trabalha é... No... É funcionaria ela trabalha no cine, a (inint.) [00:40:25], é
ela que faz o (inint.)[00:40:27] de trabalho. Ela ainda tem tempo de fazer... De aprender a fazer
crochê, ela tem tempo de borda, ela tem tempo de, ela é muito caprichosa. Ela é (inint.)
[00:40:36], só que ela não gosta mais de costurar porque é muito trabalhoso mas ela tem...
Fazem flores, fazem tudo, agora... {(D. Nair mostra sua filha que trabalha no Cine Teatro.)
[00:40:45] à [00:40:51] }. Ontem ela chegou cansada, “aí mãe não aguento mais, eu tô sozinha
no Cine pra atender”... Pra fazer carteira de trabalho pra atender... É... Esses que tá
desempregado, pra fazer é...

P.F: Cadastra.

D: Cadastrar ou fazer o... Como é que diz?... A minha cabeça já, desculpe tá.

P.F: Imagina...

D: Eu me lembro, eu sei das coisas, mas eu esqueço. Quer ver nome de pessoa, tem uns que
eu gravo né, mas tem uns que não.

P.F: Dificil né, muita coisa pra lembrar.

D: É, tem uns que eu faço oração pras pessoas.

P.F: A senhora faz orações.

D: Eu tenho o nome de benzedeira em São Francisco.

P.F: Benzedeira, por quê?

D: Porque não existe, a benzedeira é uma pessoa que reza pelos outro, né.

P.F: Ahm.

D: Uma pessoa que reza. Hoje eu fiz oração pra um monte de gente de manhã, então alguns
eu não lembro, eu não me lembro o nome, por exemplo, teu nome é?

M1: Victor.

D: Dela?

F1: Eduarda.

D: Eduarda, Eduarda eu não esqueço, por causa do meu médico. Vitor, Eduarda... Vitor eu
tenho neto. Você?

P.F: Fred.
D: Fred. Desculpa Fred, mas eu tenho um cachorrinho que eu botei o nome de (inint.)
[00:42:12]. Porque eu acho bonitinho o nome Fred. Desculpa né, eu sou muito sincera, eu não
sei mentir.

P.F: Pelo menos é um nome bonito.

D: Não minto. Mas eu acho que você devia se orgulhar, porque eu sou muito amada no meu
cachorrinho, eu vou tirar.

P.F: Ah não precisa tirar não.

D: Não porque tem o... Tem o Thor e tem o... Tem o Thor tem a Tina e tem o... Fred, mas eu
vou botar outro nome, eu vou botar Ted. (P.F. riu). É vou botar Ted.

P.F: Ted, e a senhora... E. E... Quando a senhora não lembra o nome das pessoas assim.

D: Eu me lembro uns...dez minutos eu lembro. Eu acho que é igual do circulo né, deve ser.

P.F: E como é que funciona isso do dona Nair de...d....de falarem que a senhora é benzedeira.

D: Mas eu faço minhas orações.

P.F: É. Mas como é que funciona?

D: Funciona com as minhas palavras né, a gente fala como as forças interiores né, fala com o
cosmo. Sabe que é tudo né?

P.F: Uhum.

D: E eu falo com Deus, Jesus Cristo que eu acredito nele né.

P.F: Uhum.

D: Que foi o homem que foi no mundo, não sei se você tem religião?

P.F: Sim.

D: Católico?

P.F: Cristão.

D: Cristão, pois é eu sou cristã, Cristo é Jesus Cristo né, então Deus botou Jesus Cristo, ele é
filho de uma mulher né.

P.F: Sim.

D: Mas ele foi gerado pelo espirito santo, no nosso pensamento no nosso modo que a gente
aprendeu. Então ele veio no mundo pra salvar.

P.F: Uhum.

D: Pra salvar as pessoas, q. que acreditassem nele, nos bons conselhos que Jesus que Jesus
veio só pra fazer o bem, ele nunca fez o mal e o mundo é ingrato dês do começo né, uma
pessoa que foi justa, que foi bom, que só fez o bem morreu crucificado né e Jesus Cristo foi
crucificado.

P.F: E a história vai se repetindo.

D: Então vai se repetindo e... Ninguém, ninguém tá livre de, de tentações e... Todos nos
estamos com a coisa... O bom e o ruim né. Então o bom, a coisa boa eu classifico de positivo e
a coisa ruim eu classifico negativo, é uma parte negativa. Nos através da nossa mente, é meu
moda de pensar meu filho, se eu tô errada você é um professor deve... Na nossa mente
capitamo, a gente capta capitamos o bom e o ruim, o positivo o bom e o negativo o ruim. E às
vezes chega uma pessoa aqui e... Completamente negativada, fez mal pro próximo desejou
mal pro próximo, falaram mal, essas coisas, então aquilo ali tá um posso de negativismo e aí
começa aquela energia negativa, maltrata o corpo.

P.F: Maltrata o corpo.

D: Principalmente a cabeça.

P.F: Sim, deixa a pessoa ruim né.

D: Deixa a pessoa ruim, deixa a pessoa mal-humorada, não pode dormir, não pode comer, não
pode ter sossego. Então através disso aí é que eu faço a minha oração, que eu faço a minha
oração e peço que saia o... O lado negativo e fique o bom né.

P.F: E que fique o bom

D: Que fique o bom, que nos captamos dos astros né sol, energia do... Solar, da lua do... Do...

Cosmos das estrelas de tudo né.

P.F: uhum.

D: A gente capta o bom e o mal e capta o mal também né.

P.F: É e tem que cuidar com esse mal

D: E tem que cuidar. Então a gente pra... Sai o mal com certeza, se você tiver fé, que tudo é
através da fé.

P.F: Sim.

D: Que o meu trabalho é através da fé né, eu tenho muita fé.

P.F: Muita fé.

D: Eu tenho muita fé que aquilo que eu peço, com fé com vontade, que aquela outra pessoa
tenha fé, que não adianta a pessoa vim aqui “ah vinha aqui pra senhora fazer uma oração pra
mim”.

P.F: Mas ela tem que ter fé também.

D: Tem que ter fé, agora não venha pedir pra tomar namorada dos outros, pra mulher botar
marido... Já teve gente que veio com isso, com essa conversa, eu digo “minha filha eu não sei
fazer isso aí” e nem me interessa.

P.F: Sim.

D: Não, não, essas coisas não faz parte do... Do... Do meu pensamento, meu cérebro, só
penso o lado bom.

P.F: Sim, é até mais certo né.

D: Né, não é né, só penso o lado bom.

P.F: E como é que a senhora chegou a ficar tão conhecida assim aqui em São Francisco como
benzedeira?

D: Porque eu sou eu... Sempre fui uma pessoa ativa.

P.F: Ahmm...

D: Eu sempre fui eu sem... Todo mundo me conhece meu jeito é esse de falar, eu falo com
todo mundo.

P.F: Que a senhora também sempre teve convívio com a politica também né na cidade.
D: A politica também né, ah na politica todo mundo me conhece. Agora por ultimo nessa ultima
campanha eu fui três vezes pra ir em comisso que eu gosto de escutar, eu gosto de ver quem é
quem sempre frequento a câmara de vereadores pra ver conversa deles.

P.F: Pra saber o que tá acontecendo né.

D: Pra v... Pra saber quem é quem e... O que tá acontecendo, infelizmente meu filho nos temos
um vereador que presta.

P.F: Um só.

D: Em São Francisco. Mas é tudo, tudo um... Cacaredo gente.

P.F.: É tudo gente que vai se recolocando né, na politica.

D: Meu Deus do céu, vendido... Gente vendido, gente interesseiro, mentiroso, falso é o que
mais acontece lá. Agora não tem esse ano eu não fui na... Na câmara, mas eu ia lá e dava
vontade de brigar, aí você não pode falar você tem que ficar quieto, mas aí tu tem que escuta
aquela bobagerada, aquela mentirada, aquela sem vergonhisse. Tem um vereador aí que eu
enogiei da cara dele, ia lá quando foi um dia ele fez, era época de eleição, ele modificou ali na
Reta, não sei quantas rua, tinha tal de Rua Cristal, tinha morrido uma criança de uma família
com dois anos, ele mudou o nome da rua e os outros aceitaram né, porque tinha muitos
eleitores ali, tirou o nome de... A rua novinha chamava-se Rua Cristal era o nome da rua, botou
rua... Lá o nome dessa criança que tinha morrido, aí não sabe. Por que, que em um mês ele
mudou o nome de dezesseis rua. Aí, dai os outros falavam “ah, mas você é o campeão da do
troca...” , ele pegava aquela cadeira, fazia assim pro povo, virava pra cá e ria vira pra cá e ria e
eu digo “meu Deus do céu isso é coisa de... de vereador”, tá vendo da nojo de ver.

P.F: Fica se preocupando em mudar nome de rua.

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D: Mudar nome de rua, mas não faziam pedido pra isso ou pra aquilo ou pra uma... Arrumar um
poste uma luz que tá faltando essas coisas nada ele fazia. E esse outro que eu digo, não sei se
tu ouviu falar, é o único homem serio aqui e que trabalha faz jus aquilo, o voto que ele ganhou
do eleitor é o Dodô.

P.F: Não. Acho que esse eu não ouvi falar.

D: É lá do... Do... Que vai para o Ervino lá... Qual o nome lá meu Deus? Para frente do
Miranda, onde vai para o Ervino...

P.F: Para frente do Miranda... Lá não é Gamboa?

D: Isso! É isso mesmo, lembro da Gamboa... Do, do... É o único que presta. Aí o único que faz
alguma coisa. Quando ele foi eleito à primeira vez, nossa escola aqui estava sendo reformado,
ai fizeram... Um banheirinho para trezentos e poucos alunos, de cada hora né, de cada turno.
Quase quatrocentos alunos num banheiro para usar, e reclamaram, foram na Câmara
reclamar... Aí as criança vinham tudo mijada para a casa, pingando, sujava tudo né... Ai foram
lá, ninguém... Que ele era de lá Liberdade... Ele... Ele veio aqui, passou aqui na minha casa de
bicicleta, que nem um carrinho ele tinha, ele é estivador também... Passou aqui em casa é foi
lá para baixo dá moto e chegou... E pediu uma água... Ai ele falou: “onde é que tu andava
dona? fui ver a escola é está muito triste, foram mais na câmara, mais não adiantou de nada,
fui na firma para mandar fazer tudo os banheiros...”

P.F: Aham.
D: Ai ele mandou fazer seis banheiros, três para meninos e três para meninas, enquanto não
estava pronto a escola né... Ai eu digo... Isso foi um ato de bem... Porque ninguém votou daqui
para ele...

P.F: Sim.

D: Ele não era daqui, tinha outros que eram daqui...

P.F: Ele poderia se justificar nisso daí né?...

D: Não! Mais ele veio de bicicleta, de lá do Miranda, veio da câmara, dá câmara ele veio aqui
na rua da minha casa... Chee. Chegou e tomou água, cansado... E disse: “O que está fazendo
Dona Nair, fui na escola ali, fui ver se os vereadores iam fazer algo, porque os daqui não
ligaram”, porque tinha dois vereadores aqui na época...

P.F: Aham...

D: Tinha um dentista que era ruim baixo... Ninguém ligou...

P.F: Ninguém ligou.

D: Ai o veio na firma e foi lá, arrumou, mandaram fazer, no outro dia já...

P.F: Esse vereador que a Senhora falou, é um homem simples também né, porque era
estivador, professor...

D: Sim, mais é para ir pra Brasília, essas coisas... Ele que vai.

P.F: Ele que vai?

D: Ele que vai... E é uma perda, porque é um rapaz que não estudou...

P.F: Não estudou?

D: Não estudou... Estudou muito né

P.F: Aham

D: Acho que... Nem o segundo ele não tem... Perguntei para ele, porque ele não vai fazer uma
faculdade doutor? Tu tens tudo para ser o prefeito de Joinville, São Francisco, mais tá... Que
luta pelo povo, que bate na faca de ponta, porque dai eu já abuso dele né...

P.F: É... Ele podia se candidatar né?...

D: Pode, porque ele já foi eleito.

P.F: Aham.

D: É... Já foi eleito. Mais aquele é o vereador, não sei se você tem algum parente
vereador?...Desculpe eu estar falando...

P.F: Não, não... Tranquilo.

D: Eu vou falar a verdade né, não posso mentir, eu não minto é não sou falsa...

P.F: Ooo... Os outros vereadores daqui eles são o que? Só gente empresária?...Gente mais
rica, que são donos das coisas...
D: Olha... Empresários. O prefeito que ganhou... Com muitos votos, meu Deus do Céu, houve
denúncias, mais a autoridade não liga... Infelizmente...

P.F: Mais por ser uma cidade muito pequena não devia...

D: Nada... É juiz comprado, tudo caco... Se tiver que fazer uma denúncia, vá fazer lá fora.
Porque aqui não resolve nada...

P.F: Aham.

D: Eu fiz uma vez...

P.F: Denúncia?

D: Sim, no dia da eleição. Tinha um juiz ai né, que abriu mão da eleição, e estava com o carro
enfeitado de. De tema da vaquinha né...

P.F: Aham...

D: Andava duas vacas encima da caminhonete, eu peguei, sabe o que eu fiz...

P.F: Hm?

D: Botei uma bandeira na frente da minha casa. E nisso parou o carro... Uma mossa já tinha
dado um tapa no juiz lá...

P.F: Hahaha...

D: Aí... Aí era aquela coisa, e aquela propaganda, o dia da eleição, das eleições né... Aquele
andou para baixo e para cima com aquelas duas vacas. Aí quando ela viu a bandeira da minha
casa, ela estava na área (inint) [00h55min32s.]. Ela parou é disse assim: “Pode tirar essa
porcaria daí de cima”...

P.F: Hahahaha

D: Aí eu disse: “por que, não tem direito de tem meus ideais, meus pensamentos? Aí ela disse:
“É, mais quem vai ganhar é o vinte cinco.” Eles eram do TFL... Aí eu disse assim:” Porque você
quer mudar na minha casa?!”“. Ai ela disse: “Disse essa coisa dai, se não, hoje não vai ganhar
vaca”. Ai eu respondi: “Vaca vou te mostrar daqui a pouquinho”...

P.F: Hahahaha...

D: Sabe o que eu fiz? Fui procurar nestas lista telefônica, o número do diretor do PMDB de
Joinville. Porque ele tinha liberado na mudança né?...

P.F: Aham.

D: Aí me atenderam lá né... Eu disse: “É aqui de São Francisco”. Ai a mulher falou: “aí, mais
aqui tá muito apurado, não podemos te atender...”. Perguntei se o diretor estava lá, ela falou
que sim, ai eu disse: “diz para ele que a Nair quer falar com ele, com urgência”. Daí quando
viu, já veio me atender correndo né... Ele disse: “o que está acontecendo?”... Eu disse: “pelo
amor de Deus, mande a polícia aqui, porque tá virando faroeste São Francisco...”, falei também
sobre as vacas encima do carro, e que mandaram tirar a bandeira do PMDB né... Ele disse:
“Pelo amor de Deus! Mande alguém prender...” mandaram a polícia rapidinho e prendeu ela ali
perto do Santa Catarina.

P.F: Como?
D: Pegaram ela com a caminhonete, e duas vacas encimam... Ai foram tudo para a polícia. Foi
Solange, foi o motorista...

P.F: Vish!

D: Até terminar a eleição ele ficaram presos. Aí falava que ela chorava muito, se lamentando
sabe...

P.F: Mais fez certo né? Por que...

D: Mais era um monte de gente rapaz...

P.F: Há... É...

D: Porque era muito deboche, muita coisa né...

P.F: Isso ia acabar saindo errado alguma hora... Por isso que a Senhora é conhecida aqui
então?...Sempre esteve ligada nesses movimentos...

D: Sim! Se for preciso eu... Eu falo com o governador de estado... Ele é da minha terra lá do
sul, eu também só...

P.F: Hahaha

D: Falei com ele aqui já... Já me apresentaram para ele e já conversei com ele, mais há muito
tempo, quando ele era candidato ainda...

P.F: Olha só...

D: Aí, se for preciso conversar com ele eu vou conversar... Se for preciso com senador, eu vou
e falo... Eu falo a minha verdade, com qualquer deputado eu falo que eu conheço né...

P.F: Aham.

D: Mais também com quem eu não conheço também.

P.F: Não tem medo?

D: Não. Eu falei com o senador lá em... Em Santa Paulina. E fui longe, fui numa excursão em
Santa Paulina, numa reunião de idosos né... Estava cheio de político ali por perto... E isso ia
passando, ia passando, conversei com dois senadores. Um dia, eu estava com o pé doido,
estava sentada do lado de uma outra senhora, esperando melhorar o coiso né, que eu tinha ido
na Igreja e tudo... Lá na Santa Paulina. Quando eu ver: “nossa! Olha quem está aqui, dois
senadores...” Ali um deles veio falar comigo né... Porque já tinha falado com ele...

P.F: Hahaha

D: Eu falei que conhecia ele, ele falou: “Mais como é que a Senhora me conhece?” ai eu disse:
“Pelo senado né... sei do que vocês falam lá, assisto tudo...eu sei quem é quem lá”

P.F: Aham...

D: Aí eu disse para eles: “Obrigado por aqueles 6% que conseguiram para meu marido
aponsentado” agradeci né porque ele tinha conseguido. Aí né, ah meu Deus do céu aí fiquei
com vergonha, aí chamaram a jornalista mandaram (inint.) [00:60:12] mandaram um pro lado
outro pro outro e o (inint.) [00:60:17] só olha pros dois né. Digo “meu Deus não façam isso”...

P.F: tá (inint.) [00:60:19]...


D: É, os dois senadores né os dois de Santa Catarina, não, um do Rio Grande,
(inint.)[00:60:28] trabalha pelo... Pelo, é do PT. Mas ele é um homem legal, não é...

P.F: Então...

D: Não é nem tudo é ruim, nem tudo é ruim. PT é uma sujeira, desculpe, não sei se vós sois
PT, mas PT... PT acabou com o Brasil né, a dona Dilma acabou com o Brasil. Eu tenho um
jornal, extrapiaram, não sei onde tá porque eu tenho muito documento, tenho documento ate
da... Da morte do Getúlio eu tenho guardado.

P.F: Nossa.

D: Tenho. Tenho, eu tenho um monte, eu tenho...

P.F: É legal né guardar essas coisas...

D: Eu tenho guardado João Goulart, livro de... De Brizola de... Eu conheci o Brizola...

P.F: Conheceu o Brizola?

D: Conheci... O Brizola...

P.F: Conheceu ele onde?

D: Em Carazinho no Rio Grande do Sul, meus pais moravam lá.

M1: Que ele ganhou no Rio e no Rio Grande do Sul.

D: Ele... Aquele tempo que ele tava escondido que tavam procurando o Brizola sabe onde ele
tava? Numa fazenda do seu José Annoni que era prefeito de Carazinha, prefeito de Passo
Fundo.

P.F: Olha só.

D: E a minha mãe dentro de uma sala, um quarto grandão assim na casa do meu pai na
fazenda o Brizola passava o dia inteiro lendo e... E comendo né.

P.F: Melhor coisa né. (risos)

D: Trancado na casa da minha mãe. A mãe diz que quando passava aqueles teco-teco por
cima da fazenda né, porque primeiro ele se escondeu em outra fazenda, na fazenda (inint.)
[00:61:56] onde ouve o... O assentamento né, Sarandi lá no Rio Grande, e aí, como tava
passando muito avião, muita coisa ali, tavam com medo, do exercito achar ele ali, aí levaram lá
para... Pra fazenda onde tava o meu pai, que era o meu pai era capataz e o Brizola ficou quase
dois meses escondido lá né, na casa da mãe, a mãe que cozinhava pra ele tudo. Então a mãe
falava que quando passava aqui ela corria lá pra rezar, pra Nossa Senhora, pedir pra Nossa
Senhora pra não descobrirem o Brizola, porque iam tudo preso né e ele ia ser morto. Aí tu sabe
como é que ele fugiu pro Uruguai?

P.F: Como?

D: Vou te contar. Ele tinha nessa granja, tinha muita criação de... De tinha búfalo, tinha porcos
né, então tinha aquele chiqueirão de porco e tinha um porco, um porco que ia daquele assim e
tinha... Pirigrito o porco tinha o nome de Bugre, era um porco grande assim, eles botaram o
porco com registro com tudo né, o meu irmão era muito disso Da... Caminhonete fizeram uma
caixa de madeira botaram o porco no meio ali e aqui ficou tampado, botaram umas pás umas
coisas e o Brizola ficou escondidinho aqui porco e tudo isso. Quando chegou à divisa do
Uruguai com o Rio Grande vinte soldado né, um pelotão “o que vai levando aí?”, aí meu irmão
disse “é um porco, eu tô é...” era de madrugada... ”eu tô é... passando por Uruguai pra ter que
viajar cedo porque com o calor o bicho pode... tá aqui ó” “cadê o registro?” “tá aqui”, aí
levantaram chegaram na lona, levantaram chegaram lá e o porco tava naquela caixa ali de
madeira né. Tava naquele caixa de madeira dentro ali tava o Brizola lá no fundo lá na frente
escondidinho, cheio de coisa pra não... Sacaria coisa ali né e o porco tava ali aí o Brizola
passou junto com o porco pro Uruguai, pra não morrer né porque ia matar ele...

P.F: Ah iam.

D: Foi em 64...

P.F: 64, ainda mais em 64...

D: Foi em 64.

P.F: Passou junto com o porco. (risos) Que história.

D: É... Ah a história é, mas essa história tem muita mentira meu filho tem muita mentira.

P.F: Ninguém conta essas coisas né.

D: Falam a verdade não, o exercito matou muita gente sem merecer.

P.F: Matou...

D: Matou tem gente que até hoje ainda não acharam os ossos nem sabe onde é que tá né,
então fizeram muito...muito... Aqui, aqui em São Francisco meu marido foi preso.

P.F: A é?

D: Porque tinha o forte aqui né, quando o Paulo Moraes era o capitão do forte. E aí eu morava
ali assim, tô contando outra história pra você né?

P.F: Não pode contar...

D: E aí então, tavam procurando as pessoas que tinham assinado um... Tinha um rapaz que
assinava pra... Pra fazer a turma dos onze que eram os, o pessoal do Brizola né, que o Brizola
era... Era a guerrilha que ele ia fazer pra não tirarem o... João Goulart que era o cunhado dele
lá. Então quando foi de manhã cedo, ele trabalhavam da Terrestre, foi pra Terrestre foi
trabalhando dali a pouco passou um jipe do forte, o jipão do forte e eu morava ali cheio de
gente na frente, “tão prendendo gente, tão prendendo gente”. Deram parte deles, levam ele,
mais dois homem que tavam trabalhando com ele, ele passou por aqui e eu vi, aí quando eu vi
assim digo “meu Deus do céu o Luiz foi preso”, mas o Luiz não fez nada de mal, mas disseram
que ele tinha assinado, aí eu digo “e agora.” Aí eu digo “vou lá falar com o capitão”, ”não vai
dona pelo amor de Deus, não vai a senhora vai ficar presa, agora essa criança pequena”. Os
meus filho era pequeno né, eu tava esperando dar leite o Dar Tair. Aí... Eu digo “eu vou falar
com ele eu vou de qualquer jeito”, aí foi o dia que eu meti mesmo, fui obrigada né, porque a
gente tem que se livrar né. Aí fui na casa do doutor Miranda, que ele tava, tava pegando gente
levando pra cadeia e levando gente ainda pegou ele e foi também. Aí o meu vizinho disse
“dona Nair não vai dona, a senhora vai ir lá, a senhora vai ser presa, o que a senhora vai fazer
com seus filhos, ficam por conta aí”, eu tenho meus parente tudo do Rio Grande ninguém
daqui, mas minha sogra morava aqui, digo “não eu vou conversar com ele”, aí fui peguei meu
filho meti no colo, pequeno né que era pequeno fui ele morava ali na (inint.) [00h67min: 00]. Aí
cheguei lá doutor Morais não tava, não tava, nisso que eu subi a escada ele chegou correndo,
foi tomar um café dentro de casa, viu eu com meu filho no colo, mas ele sempre me atendia né
era muito bom, era muito humano o doutor Morais, eu disse “Doutor Morais” “Que dona Nair, eu
não posso atender à senhora agora eu tô, tô numa missão pesada aqui então eu não...” aí eu
chorando né, aí eu disse “Doutor Morais”, “não eu vou ali tomar um cafezinho e já volto aqui
correndo, já vou vir” pensando que era o guri que tava querendo e tava vendo, aí quando ele
entrou que abriu a porta e eu entrei eu disse “não doutor Morais é o meu marido que o senhor
prendeu hoje”, “eu prendi seu marido?”, “prendeu”, “mas o que ele fez?”, “o senhor tá
prendendo todo mundo que foi denunciado”, “a senhora, ah se ele foi preso é por que ele
merece porque tá o nome dele na lista tem a foto dele tem tudo eu disse”, “olha”, digo “não ele
não fez nada disso Doutor Morais e depois o meu marido é uma porta ele é burro mal sabe
fazer o nome dele, mentira né, meu marido é um ignorante completamente”, “sorte a dele, a
senhora confia nele?”, eu digo “confio se ele fez ele fez”, “enganado eu não tô sabendo de
nada disso”, “agora o que que eu vou fazer com essas crianças o senhor me conhece Doutor
Morais”, e eu trabalhava de cozinheira né... “o senhor me conhece como é que eu vou criar
meus filho com esse home preso, prenderam um coitado aí, prendam gente que saiba o que
faz” , aí eu chorando né, ele olhou bem pra mim assim, cê vê a força do pensamento, botou a
mão no meu ombro assim “vai pra casa cuidar dos seus filhos, mas eu vou dar um chacoalho
nele e não conte pra ninguém que a senhora veio falara comigo”, e a vizinhança tudo
esperando que eu fica-se presa, ali a pouco eu vim ali, a pé né com o filho no braço .“Meu
Deus do céu ficou presa você falou com o Doutor Morais?” , eu digo “não, não falei com o
Doutor Morais”, mas eu tinha falado, “mas foi a sorte a senhora não ter ficado presa” , eu digo
“mas daqui a pouco ele vai tar aí se deus quiser”, quando foi seis horas da tarde o Doutor
Morais foi lá soltou ele, deu um rasto nele, grande né, dai ele veio pra casa senão ele tinha ido
embora junto com os outros, que teve muita gente que ficou três quatro meses. Esse doutor
que foi prefeito o doutor (inint.) [00:69:43] ele ficou tuberculoso ali, em Curitiba, na selva, diz ele
que botaram num cubículo assim bem pequenininho molhado as parede molhado e ele tinha
que dormir de pé ali, molhado tudo molhado, ficou tuberculoso, um advogado. Uhm?

P.F: A umidade.

D: A umidade (inint.) [00:70: 02] doente ele era um homem fraco, ficou tubérculos ficou um ano
na... Na... Preso lá em Curitiba e a nossa presidente a nossa ex-presidente Dilma eu tinha um
(inint.) [00:70: 17] ela armada com um baita de um fuzil com roupa de soldado porque ela
roubou né ela invadiu um quartel lá uma. Uma... Como é que se diz? Uma... No começo do
quartel ali que tem a, o vigia, ela roubou aquilo ali mataram o vigia.

M1: Uma guarita né.

D: É uma guarita né, e... Ela... Roubou as armas, foi que dai ela fugiu pra Minas, pra Minas
Gerais pra Belo Horizonte e lá ela foi presa, ela foi presa e o companheiro dela fugiu, tava ela e
o companheiro e ela que fica (inint.)[00:70:55] foi ela que matou o... Ela é uma criminosa
aquela mulher.

P.F: Matou?...

D: Que matou o... Sentinela do... Do... Do quartel.

P.F: Ah sim, sim. Olha só, não sabia dessa história não.

D: Não, então fique sabendo, que isso existe. E eu tinha a foto dela né num jornal antigo, que
eu gosto tudo dessas fotos de... De antigo, isso é bom pra história.

P: F: É bom pra história...

D: É bom pra história porque... Você sabe... Você sabe… me conta a historia do Getúlio, que
não foi culpado, Getúlio foi uma vitima, ele não foi um presidente mal não.
P.F: Ele foi muito pressionado né.

D: Foi muito pressionado pela… pela… pelos… pela oligarquia, os rico né, pelos grandes
empresários, pelas grandes impressas, pela mídia que o… a…antes da Globo a…a…e eles
perseguiram muito ele, um tal de Lacerda que perseguiu muito ele. Fizeram tudo quanto foi
sujeira e um segurança dele um preto, tem o nome do… preto, é que mandou matar um cara lá
e aí como se fosse ele que matou, aí pressionaram ele né, ele ia ser deposto que era a hora
que ele matou-se, porque tava tudo …o cateto tava tudo cercado.

P.F: O cerco tava feito já.

D: Tudo cercado, ou ele se entregava ou ele morria.

P.F: Enquanto ele serviu pros interesses né...

D: Deles né…

P.F: Dos grandes…

D: Não porque dai ele criou as leis do trabalho, o Getúlio que fez as leis do trabalho.

P.F: CLT né.

D: CLT, os diretos dos trabalhadores, negocio de férias e… negocio de salario, de horário de


trabalhar.

P.F: Que não tinha.

D: Né, porque meu sogro trabalhou na (inint.) [00:72:56] aqui mas era das sete até terminar,
até oito nove dez horas da noite, trabalhando sem parar, não tinha horário né.

P.F: E não podia vim embora né.

D: Não podia abandonar o serviço tá se quebrando continuava, e dai que o Getúlio criou tudo
isso, aí começou a perseguir aqueles milionário né, aí depois mandou matar o… o…o
esse…esse bandido que tinha lá no, no norte, o Lampião foi a policia do Getúlio que mandou
matar né porque ele tava matando muita gente fazendo muita malvadeza e ele fazeia porque
ele…de pequeno ele tinha uma…uma, uma vingança dos pais dele foram mortos por causa de
terreno e dai ele começou a mata, matar, a matar gente e quanto mais matava mais queria e
dai mandaram matar ele, matou muita gente o Lampião, aí o Getúlio, o que o Getúlio fez de
ruim foi isso deixou matarei ele o cara. Mas a Petrobras, quem foi o fundador da Petrobras foi o
Getúlio. É na época São Paulo outros lugar lá, diz que em São Paulo fizeram também isso
e…e lá no norte ai quando descobriram petróleo, ele mandava tapa o poço, fechava, pra não
explorarem né pra não…não …não ir embora, agora abriram tudo, agora (inint.)[00:74:28] mas
ele queria preservar o que Brasil tinha, é igual no ouro né, o ouro que tem no Brasil o que
tem…que já saquearam né.

P.F: ah sim.

D: O Brasil dês do começo foi saqueado, primeiro foi Da.… Pau Brasil, primeira coisa né.

P.F: Foi pra Europa embora.

D: Todo, o que puderam levar levaram né.

P.F: É porque hoje em dia quase não tem mais.


D: Mas tem lá no norte tem uma fazenda lá que tem muito Pau Brasil e ela distribui o… os dono
distribui pra… pra quem quiser do estado.

P.F: Distribuidora.

D: Distribui (inint.) [00:75: 10] eu não sei… em algum lugar lá, que tem Pau Brasil, mas é
plantação que fizeram né pra distribuir. Eu vi na televisão de vez em quando eu vejo.

P.F: Ah tem que fazer porque senão ela vai em extinção.

D: Ela acaba né. Aí depois aqui Santa Catarina e Paraná o que os americanos fizeram que os
americanos tem uma ganancia muito grande pelo Br. Lá pela Amazônia por tudo já começaram
aqui né aí fizeram essa estrada de ferro que vinha do Rio Grande até São Francisco né,
(inint.)[00:75:49] veio até São Francisco, sabe o que foi explorado primeiro aqui a erva mate.
Eu tenho meus livro aí se tu quiser eu te empresto.

P.F: A senhora pode até mostra pra gente se a senhora quiser.

D: Tá, então depois da erva mate veio à estrada de ferro, os americanos fizeram onde era…
isso aqui era tudo deles esse pedaço de terra aqui, não sei quanto na beira da estrada, não sei
quantos metro, quilometro, sei lá.

P.F: Era tudo deles.

D: Era tudo dos americanos, que fizeram a estrada de ferro. E aí fizeram a estrada de ferro
ampliaram né, fizeram ponte do linguado depois foi feito aterro, aterro não faz muitos anos,
pra… explorar madeira, ou pinho a araucária, o pinheiro da araucária, eu conheci a araucária.
Seis home assim, eu conheci, com meus 88 anos eu conheci lá em Lages, quer dizer seis
homem assim não cercava a arvore aquele pinheiro tão grosso que era. Aí foi… foi explorado
tudo aqueles pinhais né, só tem pinheirinho pequeninho agora, novo o velho acabou-se, não
tem mais, aonde os animais, caiam o pinhão e os animais, gado, porco, coisa que eram solto
na, nas fazenda engordavam só com o pinhão que eles comiam.

P.F: Vish era bastante então.

D: poh era.… por exemplo, daqui lá era só pinhão só, era só pinheiro, eu conheci e aí vinheram
esse (inint.) [00:77: 34] os americanos mudaram né (inint.) [00:77: 37]. E aí começou...

[00:77: 39] (O áudio acaba com uma voz masculina perguntando se a “Eduarda pode
usar o banheiro”, dona Nair responde que sim e o áudio se encerra).

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