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AULA 2

Dicas para preparar


o sermão
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A Escolha do Texto Bíblico

A primeira dica é sobre algo muito óbvio: nós


precisamos escolher o texto bíblico.

Como escolhemos um texto para pregar?

Isso pode variar. Muitos sermões brotam de


leituras devocionais da Bíblia, ou seja, enquanto
leio minha Bíblia para alimentar o meu coração,
de repente, um texto salta aos meus olhos,
aquece o meu coração, meus olhos são abertos,
a alma é inflamada para se debruçar sobre esse
texto.

Outras vezes, podemos escolher o texto porque


queremos abordar um determinado assunto na
igreja, seja você o pastor da igreja, seja você um
pregador itinerante que prega ocasionalmente.

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Ao abordar um assunto específico, é necessário
buscar o texto que fala sobre tal assunto. Às
vezes, você pode ser convidado para pregar em
uma igreja por ocasião do aniversário dessa igreja,
ou outra ocasião especial - para a mocidade, ou
para os homens, ou para as mulheres, ou para
casais - ou pode ser convidado para pregar em
uma conferência, em um congresso. Nestes
eventos, os anfitriões vão te dar um tema e você
terá de buscar um texto da Bíblia que vai abordar
o tema que você precisa pregar.

A escolha do texto é fundamental. Não dá para


escolher um texto que não tem nada a ver
com aquilo que lhe foi requerido para pregar.
Tampouco podemos ler um texto e de repente
abandonar o texto e falar de outra coisa. Quando
isso acontece, o texto vira pretexto!

Então, a escolha do texto é o primeiro passo.

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A Leitura do Texto

O segundo passo é ler o texto várias vezes! Várias


vezes!

Por que ler o texto várias vezes? Porque o texto


precisa entrar em você e você precisa entrar no
texto! Tem que existir uma espécie de casamento
entre você e o texto.

Uma das coisas mais tristes ao se ouvir um sermão


é quando o pregador se levanta para ler o texto e
o atropela, ou lê o texto atabalhoadamente. Ele
come vírgulas, engole palavras, pula palavras,
introduz palavras que não estão no texto.
Quando o pregador faz isso, ele está dando um
recado, ele está dizendo o seguinte: “eu não
conheço esse texto, eu não respeito esse texto,
aliás, eu não me preparei para pregar nesse texto.

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Na verdade, eu não vou nem expor esse texto.”
Esse pregador perde o seu auditório já na leitura!

Ler o texto repetidas vezes facilita a memorização


do mesmo.

Há poucos dias eu escutei um pregador muito


experiente. Ele começou dizendo que iria pregar
um texto que era muito conhecido, e que todos
já conheciam tal texto. Ao tentar citar o texto de
cor, lá no terceiro versículo ele já se perdeu, e ao
voltar para o texto, ele não achava onde estava
mais o trecho seguinte. Ele começou onde o texto
não começava e, na medida que ele foi tentando
ler o texto, ele misturava a leitura com citação
de cor. Ele fez uma salada, acrescentou coisa
que o texto não estava dizendo, tirou coisa que
o texto estava falando, enfim, perdeu o auditório
já na leitura!

Se você for memorizar, por favor, memorize


corretamente. Você não tem o direito de tirar
palavras ou de acrescentar palavras. Mas, se
você não memorizou plenamente o texto, leia
cadenciadamente, respeite as vírgulas, respeite
os pontos e vírgulas, respeite as frases, respeite
as ênfases; se for uma narrativa bíblica com
outros personagens entrando na narrativa, mude

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a tonalidade da voz na medida que você mudar
de personagens. Este é um ponto fundamental!

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Os Detalhes do Texto

Terceiro passo: anote os verbos, as palavras


repetidas, as ênfases.

É como se você fosse entrar no texto com uma


espécie de lupa na mão, como uma espécie de
detetive espiritual, vai investigar os detalhes do
texto. Às vezes, um detalhe pode ser a chave
de virada, a chave hermenêutica do texto, para
você compreender todo o texto melhor.

Então, pegue uma folha em branco porque, a


princípio, você vai coletar informações, pois você
não tem as ideias todas na mão. Eu costumo
dizer que o pregador é o arquiteto das ideias. Um
arquiteto é aquele a quem você vai pedir a planta
de uma casa, ele sabe botar cada coisa no seu
lugar. Não adianta você ter tijolos, areia, pedras,
cimento, ferro, tinta, madeira, tudo junto; você
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não tem uma casa. Então, você tem que colocar
cada coisa em seu lugar. O pregador é o arquiteto
das ideias, ele vai preparar esse conteúdo,
olhar os verbos, os substantivos, os adjetivos,
as conjunções adversativas, ele vai olhar tudo
isso e vai perguntar: por que isso aqui, por que
aquilo ali, por que que esse verbo está aqui, por
que essa palavra é repetida? Ele vai observar as
expressões, tudo, todos, nada, ninguém. Tudo
isso é acervo, tudo isso é material, tudo isso
vai lançar luz no entendimento da passagem
bíblica. Comece anotando as coisas no papel,
elas ainda não estão ordenadas, você ainda
não colocou cada coisa em seu lugar. Você vai
reunindo material!

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A Ordem do Conteúdo

Quarto passo. Agora é hora de colocar em ordem


o conteúdo que você reuniu.

O que significa colocar em ordem?

É preciso colocar um tema. Posso perguntar:


qual é a ideia principal desse texto? Qual a ideia
central? Qual é a grande ideia do texto?

Dr. Haddon Robinson tem um livro sobre “The Big


Idea” – A Grande Ideia; Jay Adams tem um outro
livro fantástico ‘O Propósito da Pregação’. Com
eles aprendemos que o pregador tem que ir para
o texto e perguntar: O que é que o autor sagrado
está dizendo? Qual é a intenção dele? Porque ele
escreveu isso aqui?

Perceba se o autor sagrado, inspirado pelo

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Espírito Santo, tinha na sua mente uma ideia, um
propósito. Ao pregar, eu não posso dizer que o
texto está dizendo outra coisa, tenho que falar do
propósito de que quem escreveu inspirado pelo
Espírito Santo, eu não posso dar outro sentido!

Se fizer isso, estarei sendo um falso mestre,


dizendo o que o autor não disse, prometendo o
que ele não prometeu, proibindo o que ele não
proibiu! Eu não posso ir para o texto e impor ao
texto as minhas ideias, os meus pressupostos;
isso não seria uma exegese, mas uma eixegese.
Ao invés de extrair do texto, eu estarei impondo
ao texto.

Qual é o tema? Esse tema é o néctar, é o extrato, é


a essência, é o resumo do conteúdo! É necessário
sintetizar o texto lido em um tema. Esse tema
será o sermão resumido.

Quando você citar o tema, será como se você


estivesse extraindo do texto a essência dele, o
néctar, o propósito, a grande ideia!

Uma vez que o tema esteja definido, fica mais


fácil reunir o seu conteúdo como em um cabide.
Este é o ponto de concentração da verdade
daquela passagem.

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O Esboço

O quinto passo tem a ver com esboço. O que é um


esboço?

O esboço é o esqueleto! Você escreve em seu papel


as primeiras impressões e vai percebendo-o, não
está redondo, então você o melhora, corta aqui
e acrescenta lá. Isso dá trabalho! Exige esforço!

Eu sou pastor há 39 anos. Com 39 anos de


ministério, eu venho pregando praticamente
todos os dias, às vezes, mais de uma vez por dia.
Eu gasto, em média, 8 a 10 horas para preparar
um sermão!

Não se engane achando que, porque o pregador


passou por um seminário, porque fez um curso, o
sermão vai simplesmente fluir por ele; isso não
vem sem suor, sem esforço, não, não, não!
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A Bíblia nos diz que nós devemos nos afadigar
na Palavra. Isso é trabalho. Precisamos nos
apresentar como obreiro aprovado, que maneja
bem a Palavra da Verdade! Isso é suor, isso é
tempo, isso é dedicação, isso é esforço! É claro
que quando você está apresentando o sermão,
ninguém precisa ficar sabendo das lutas que
você teve, o trabalho que você teve, os livros
que você leu, as exegeses que você fez, todo
esse trabalho é de bastidores. O público que nos
ouve vai saber: “esse pregador se preparou para
pregar”.

As nossas ovelhas, os nossos ouvintes, podem até


ser analfabetos, mas tolos não são! Eles saberão
quem se preparou e quem não se preparou para
pregar. Por isso esse é um ponto importante.

O esboço precisa ter algumas coisas.

1º) Introdução;

2º) Tema;

3º) Argumentos;

4º) Ilustrações;

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5º) Conclusão.

A introdução nem sempre vai ser a primeira coisa


a ser feita.

A primeira coisa a ser desenvolvida é o tema.


Porque os argumentos vão depender do tema.
Não é possível elencar argumentos que estejam
dissociados do tema. O tema é aquilo que vai
governar toda a argumentação.

Os argumentos precisam ser elaborados dentro


ou sob o tema e com ordens harmônicas. É
por isso que demanda tempo, é preciso fazer e
refazer.

Se a pregação vai ser expositiva, os argumentos


precisam estar dentro do texto, não podemos
acrescentar coisas de nossa cabeça. Todo
argumento precisa estar ancorado no texto
bíblico; não é o que o teólogo falou e nem o que
você pensa, é o que a Bíblia diz.

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A Ilustração

O sexto passo é usar boas ilustrações.

A palavra ilustração tem a ver com luz – luz é


para lançar clareza, é abrir uma janela para
entrar luz!

Mutas vezes trabalhamos com conceitos


abstratos e, por isso, é importante que tenhamos
uma história para clarear o entendimento. Mas é
necessário cautela para não tornar a ilustração
a essência do sermão.

Há pessoas que pensam assim: “tenho uma boa


ilustração, agora eu só preciso do sermão!” Não,
não é assim! A ilustração joga luz no sermão,
mas ela não é essência do sermão. Não é porque
há boas ilustrações que a pregação será boa! A
ilustração é para enfatizar, clarear um princípio,
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um conceito, um conteúdo bíblico que está
sendo explanado.

Onde encontrar boas ilustrações?

É necessário ter olhos abertos para ver na Bíblia,


na natureza, na história da igreja, na música, na
ciência, nas artes.

Jesus foi o Mestre dos mestres, Ele tirou as boas


ilustrações da natureza à sua volta; falou do
sal, da luz, falou do fermento, falou das flores,
falou dos pássaros, falou das árvores, falou
das crianças, falou do casamento, da festa. Ou
seja, é preciso ter percepção, olhos abertos para
contemplar a natureza, pois ela está cheia de
boas ilustrações.

Podemos usar boas ilustrações a partir de nossas


experiências. Mas, cuidado para não ser pedante!
Cuidado para não querer ser o herói! Cuidado,
também, para não ficar lá abrindo a caixa de
ferramenta e lavando roupa suja no púlpito,
expondo você ou a sua família ao ridículo.

Quando decidimos usar uma ilustração pessoal,


é necessário ter muita cautela para não sermos
presunçosos e para não lavarmos roupa suja em

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público e nem expor a si mesmo ou à família
a uma situação delicada. Mas a ilustração é
importante!

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A Conclusão

O sétimo passo é a importância da conclusão.

A conclusão é fundamental! Como é que


concluímos um sermão?

Fazendo um resumo do que foi dito – um resumo,


ok? Não é para pregar novamente! Ou contando
uma boa ilustração que fecha o assunto.

Quando o pregador não se preparou


adequadamente, ele não consegue encerrar.
Todos nós já ouvimos algo assim: “agora nós
vamos encerrar!” Mas então outra história
é contada e a pregação continua. “Vamos
encerrar!” Aí emenda outra vez! “Vamos encerrar”
e emenda uma terceira vez! E aí os ouvintes já
vão se posicionando contra o pregador, porque
ele não sabe terminar. Ele não sabe terminar!
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Por isso a conclusão precisa ser breve e fechar no
ápice. Não é quando acabou o fôlego, porque o
fôlego vai acabando, vai acabando, e aí pronto,
acabou! Acabou. Pronto. Terminou.

Não!

Tem que ser lá em cima, no ápice! nimo! O ouvinte


precisa ficar com o peito tremendo, com a alma
incendiada!

A conclusão e a introdução são as últimas partes


do sermão que você vai preparar, e elas precisam
estar bem conectadas!

Uma boa introdução e uma boa conclusão tem a


ver com a ilustração. A ilustração é iniciada, mas
não é terminada naquele momento, ela é deixada
pela metade e só vai ter seu fim desvendado na
conclusão. Isso é uma arte fantástica de retórica
e de oratória que fica muito bem!

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Os Comentários Bíblicos

O oitavo passo é usar bons comentários bíblicos.

Bom, o que é necessário fazer agora?

Com o esboço desenhado, você não quer ter a


pretensão de ser o único iluminado na história,
então, é hora de abrir um bom comentário, de
bons autores. Todo pregador precisa ter uma
boa biblioteca pessoal. Invista em livros, compre
livros!

Pessoalmente, quando eu vou expor um livro


da Bíblia, eu procuro tudo que tem a respeito
daquele livro - comentários bíblicos - e procuro
adquirir.

Para expor o texto, eu abro esses comentários


e leio várias vezes os diversos comentários

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que encontrei. Por quê? Porque Deus ministrou
ao coração daquele escritor coisa que eu não
consegui alcançar. E eu vou bebendo, vou
garimpando, vou cavando esses tesouros para
que toda essa contribuição que esses autores
tiveram ao longo da história, possa ser agregada
ao meu sermão. E, quando eu vou pregar, eu posso
oferecer essa contribuição que outros me deram
para alargar e aprofundar no entendimento do
assunto! Então, leia bons comentários!

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Escrever o Sermão

O nono passo é escrever seu esboço ou sermão


na íntegra.

Quero concluir dizendo o seguinte: se for possível,


escreva o seu sermão. Eu sei que nem todas
as pessoas têm facilidade para isso. Por que
eu recomendo que você escreva seu sermão?
Porque você dedicou 8, 10 horas para prepará-lo!
Se você não escrever, daqui a um mês nem você
se lembrará do que pregou.

Se você tiver que pregar outra vez sobre o mesmo


texto, você vai ter que fazer tudo de novo! Então,
gaste mais tempo na preparação e preserve esse
conteúdo. Quem sabe amanhã, se Deus der graça
a você, e você quiser escrever um livro, haverá
pesquisas que você fez a 5, 10, 15, 20 anos antes
e ainda estarão à sua disposição! É hora de remir
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o tempo! Escreva o sermão!

Há pessoas com habilidade de levar esse


conteúdo todo para o púlpito e dar uma rápida
passada de olhos, sem precisar de fato ler
ou ficar preso no papel, pois isso facilita a
comunicação. Se você não tem essa habilidade,
então leva o esboço ou pelo menos o esqueleto.
Sabe por quê? Porque tem hora que o pregador
fica nervoso, e ele perde o fio da meada e se ele
não tem um esqueleto do sermão ele começa
a gaguejar, a viajar e aí o auditório percebe que
ele tá perdido. E um pregador perdido não tem
a atenção do auditório. Então, mantenha o seu
auditório em uma linha de raciocínio.

Quero antecipar uma dica aqui porque eu acho


oportuno falar disso agora. Vamos falar mais
profundamente sobre isso em outra aula, mas
eu quero falar agora também. É necessário ler
o texto e ler os ouvintes. Você precisa ler seu
auditório, sabe por quê? Não adianta pregar e
continuar pregando, pregando, se o auditório já
desembarcou há muito tempo! Não tem ninguém
mais prestando atenção, o povo tá revirando na
cadeira, tá olhando o relógio, de vez em quando
um levanta para tomar água. O auditório está
dando sinais! Então, olho no olho! Sinta se o povo
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está com você!

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O Poder do Espírito Santo

Quero concluir dizendo uma coisa que, de tudo


que eu falei, talvez seja a mais importante: você
precisa do poder do Espírito Santo, da unção do
Espírito Santo para pregar.

Sabe por quê?

Eu posso ter a oratória de Demóstenes, eu posso


ter a oratória de João Crisóstomo, eu posso ter
a oratória de Cícero, eu posso ter a oratória de
António Vieira, eu posso ter a oratória de Charles
Haddon Spurgeon, mas se não tiver unção do
Espírito Santo, não vai adiantar de nada!

É necessário termos o preparo acadêmico,


precisamos estudar, meditar, ler, mas também é
essencial que a gente dobre os joelhos e peça a
Deus graça, unção, poder! Sabe por quê? Porque
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