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0 discipulado no lar, no trabalho e no

exército de Deus (5.22-6.24)


22As m ulheres, sejam subm issas a seus próprios
maridos, como ao Senhor, “ porque o marido é o cabeça
da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja,
sendo este mesmo salvador do corpo. “ Como, porém, a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres
sejam em tudo submissas a seus maridos. “ M aridos,
amai vossas m ulheres, como tam bém Cristo amou a
igreja, e a si mesmo se entregou por ela, “ para que a
santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem
de água pela palavra, “ para a apresentar a si mesmo
igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa seme­
lhante, porém santa e sem defeito. 28Assim também os
m aridos devem am ar as suas m ulheres como a seus
próprios corpos. Quem ama a sua esposa, a si mesmo
se ama. 29Porque ninguém jamais odiou a sua própria
carne, antes a alim enta e dela cuida, como tam bém
Cristo o faz com a igreja.; 30porque somos membros do
seu corpo. 3lEis por que deixará o homem a seu pai e a
sua mãe, e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois
uma só carne. 32Grande é este mistério, mas eu me refiro
a Cristo e à igreja. “ Não obstante, vós, cada um de per
si, também ame a sua própria esposa como a si mesmo,
e a esposa respeite a seu marido.
6 ‘Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois
isto é justo. 2Honra a teu pai e a tua mãe (que é o pri­
meiro m andam ento com promessa), 3para que te vá bem,
e sejas de longa vida sobre a terra. 4E vós, pais, não
provoqueis vossos filhos à ira, mas criais na disciplina
e na adm oestação do Senhor. 5Q uanto a vós outros,

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servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne com
temor e tremor, na sinceridade do vosso coração como a
C risto, 6não servindo à vista, como para agradar a
homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração
a vontade de Deus. 7Servindo de boa vontade, como ao
Senhor, e não como a homens, 8certos de que cada um,
se fizer algum a coisa boa, receberá issò outra- vez do
Senhor, quer seja servo, quer livre. 9E vós, senhores, de
igual modo procedei para com eles, deixando as ameaças,
sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos
céus, e que para com ele não há acepção de pessoas.
"Q uanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força
do seu poder. "Revesti-vos de toda a arm adura de Deus,
para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;
"porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e,
sim , contra os p rincipados e potestades, contra os
dominadores deste m undo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes. "Portanto, tomai
toda a arm adura de Deus, para que possais resistir no
dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer
inabaláveis. 14Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a
verdade, e vestindo-vos da couraça da justiça. "Calçai
os pés com a preparação do evangelho da paz; 16embra-
çando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar
todos os dardos inflamados do maligno. 17Tomai também
o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus; "com (no original: “através de”) toda
oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e
para isto vigiando com toda perseverança e súplica por
todos os santos, 19e também por mim; para que me seja
dada, no ab rir da m inha boca, a palavra, para com
intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho, 20pelo
qual sou embaixador em cadeias, para que em Cristo eu
seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo. 21E para
que saibais tam bém a m eu respeito, e o que faço, de
tudo vos informará Tíquico, o irmão amado, e fiel m i­
nistro do Senhor. 22Foi para isso que eu vo-lo enviei,
para que saibais a nosso respeito e ele console os vossos
corações. 23Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da
parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 24A graça

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seja com todos os que am am sinceram ente a nosso
Senhor Jesus Cristo.

Introdução
Lembremo-nos rapidam ente do que Deus nos tem dito em Efésios.
O pensam ento-chave é que D eus planejou que todas as coisas
sejam encabeçadas e somadas em C risto (l.lO ).Para essa fina­
lidade, ele nos escolheu, nos predestinou, nos remiu, nos perdoou,
nos desvendou a sua revelação, nos deu o seu Espírito e nos con­
cedeu o privilégio de orar. O capítulo 2 sublinha que fomos redi­
midos de um a força tão escura, tão baixa, e colocados sobre a
pedra que é Cristo, alicerçando-nos para a edificação de um templo
novo, unido. Esse templo tem todas as características que Deus
deseja do seu lar, porque ele habitará no meio do seu povo (2.22).
O capítulo 3 mostra-nos que, com o propósito de criar este novo
homem, este templo de Deus na terra, ele escolheu homens como
Paulo, o pioneiro, e está nos escolhendo também. O capítulo 4
aborda nossa vocação na igreja e exorta-nos a nos esforçarmos
para m anter a unidade da igreja. Do v. 7 em diante, Paulo nos diz
como Deus está nos equipando e nos preparando para servir dentro
da sua igreja. Depois de toda essa transformação m ental que vimos
no trecho de 4.17-5.21, agora nesta últim a parte do estudo vamos
pensar ainda sobre três ou quatro outras áreas em que este propósito
de Deus precisa ser vivido e encarnado.
Intitulo esta seção, que começa em 5.22 e vai até 6.4, “O
Discipulado de Cristo no L ar”; a seção começando com 6.5, “O
D iscipulado de C risto no Trabalho”; e, finalm ente, a epístola
term in a colocando a nossa vocação nas fileiras da lu ta , nas
fronteiras da batalha contra o mal, contra o próprio poder de
Satanás; e para isso precisaremos de toda a arm adura de Deus.
O apóstolo começa, em 5.15, a exortar os leitores a andarem
cuidadosamente, com sabedoria, remindo o tempo, compreendendo
a vontade de Deus para a vida. Quando isso acontece, o Espírito
começa a ter abertura no coração e se expande no espaço íntimo
que domina. D aí decorre este clímax quanto à nossa vocação, a
necessidade de darmos cada vez mais espaço para que o Espírito
nos encha em todos os aspectos, áreas e responsabilidades de nossa
vida: na mente, na ação, no trabalho, nas viagens, nas palavras;
enfim, em tudo o que chamamos de vida. Já vimos que isso influi

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em quatro áreas: prim eiram ente, na capacidade de comunicação


bíblica com os salvos. Vimos, em seguida, que isso também nos
dá comunicação com Deus, um a alegria real no Senhor, o que
transforma o nosso culto. Em vez daquela acomodação triste que
se caracteriza pelo desejo m aior de dorm ir do que de adorar,
passa-se a realmente exultar no Senhor. Cria também um espírito
de gratidão, uma adoração em toda circunstância e em todo lugar,
já que o tem plo do Senhor não se restringe nem poderia ser
confinado às quatro paredes da igreja. O templo se manifesta onde
o cristão está dando graças, adorando e se comunicando. Mas
essa últim a conseqüência do Espírito Santo em nós (5.21) tem
implicações que surgem até o fim da epístola. Refiro-me à simples
palavra sujeitando-vos, que aponta para subm issão ou apoio.
Envolve-nos na vida do outro, como aquele que im pulsiona e
sustenta o colega. A idéia de submissão contém essa idéia de apoiar,
de impulsionar, de dar ânimo; devemos compreender como isso é
básico e fundam ental na atitude do cristão quanto à sua vocação.

As mulheres
M ulheres, apoiem seus maridos; tornem-se realmente pessoas que
estão prontas a consumir todas as energias, o tempo e os interesses
para apoiar o marido. Como submissão significa colocar-se debaixo
da missão de outra pessoa, há uma importância prioritária dada
àquele com quem se casa. Se for um casamento no Senhor (e não
é perm itido outro tipo de casamento ao crente), deve-se conhecer,
antes de se comprometer, essa obediência que não tem nada a ver
com a escravatura. E semelhante ao conceito que Cristo desenvolve
em João 15.15, quando disse: “Já não vos cham o servos [ou
escravos], mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto
ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”. Essa é uma descrição
muito bela da esposa submissa, que consagra a sua vida a apoiar
o marido dentro da missão dele. A razão disso é que o marido é o
cabeça, isto é, aquele que se expõe em sua missão e tem que
enfrentar as resistências do mundo. Então a esposa, no lar, ajuda-o
em tudo para que ele possa vencer. Que ele possa descansar bas­
tante em casa; caso contrário, não vai se dar m uito bem lá no
mundo. Que ele possa se alim entar bem, tendo-a como a cozinheira
que todo dia prepara “aquele” banquete (não esbanjando também,
porque talvez gastar demais contrarie a missão do marido). Mas,

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pelo m enos, que ela faça o m elhor possível com aquilo que o
orçamento propicia. Por que se deve fazer isso? Este trecho diz que
nós, como membros de um lar cristão e, ao mesmo tempo, m em ­
bros da igreja de Cristo, precisam os aceitar o modelo ideal da
igreja, para o aplicarmos no lar, que também é um microcosmo da
igreja. Entendo que o meu lar (minha esposa Patrícia e meus cinco
filhos) é a igreja de Cristo na rua onde moro. Sendo a igreja de
Cristo, eu represento Cristo para a m inha esposa e meus filhos,
como o cabeça desse lar. Ali está o meu sacerdócio; a esposa e os
filhos são os m em bros da igreja que se subm etem e obedecem
com a finalidade de tornar o marido o pai e o herói daquela comu­
nidade, como assim fazemos com relação a Cristo. Todos os mi­
nutos e até horas de adoração e de louvor que temos oferecido são
para cada vez mais incutir, em nosso coração, que Cristo é o nosso
herói. Nós estamos plenam ente satisfeitos com ele. Não temos
nenhum a crítica a levantar contra ele, pois estamos completamente
engajados na sua missão! O lar se constrói para ser um lar de
alegria e harm onia como uma pequenina igreja, um microcosmo
da igreja de Cristo! E por isso que Paulo dá m uita atenção à respon­
sabilidade do marido.

Os maridos
O m arido precisa am ar a esposa. Se a m ulher tem que apoiar,
preparando todas as coisas do lar para que o m arido seja um
sucesso, então o marido tem que dar tudo o que está incluído na
palavra amor para ela e para a família. Assim a esposa é para o
marido a pessoa m ais importante-no mundo. Não se pode comparar
outra pessoa, no m undo, com a esposa. A palavra am ar é a palavra
agape ou agapao; não é a palavra eros nem storge, nem qualquer
outra palavra que possa ser traduzida por “amor”. É que este amor
que o marido deve ter para com a sua mulher, para ser um amor
exemplar, modelado em Cristo, é um amor que m uitas vezes contra­
ria as emoções do m arido. M uitas vezes não quero dar a mim
mesmo, como Cristo se deu a si mesmo na cruz, por m inha esposa
ou pelos filhos. Possivelmente não tenho de fato o desejo de san­
tificá-la para mim, isto é, de amá-la de modo que ela não possa
ter alegria em nada mais que não seja neste pleno amor que eu lhe
esteja dando. Vê-se que o dever de amar vem a ser uma responsa­
bilidade das mais difíceis de cum prir e das mais altas em padrão.

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Porque o amor santifica, tanto no lar como na igreja. À medida que


os membros da igreja entendem o amor de Cristo, começam a se
desprender deste m undo e das coisas que idolatricamente os atraem.
Quando o marido aprende realmente a amar (e eu não sei quando
vou aprender!), começa a santificar a m ulher para si. Assim nós, os
maridos, pela expressão do amor agape, purificamos as intenções
delas, começamos a tirar essas rivalidades que tão naturalm ente
surgem entre duas personalidades, am bas egoístas, que pelo
casamento se tornaram uma só carne, tal como era a intenção de
Deus. Este é o grande mistério. O mistério do amor que purifica a
esposa com a comunicação pela palavra. Esta purificação inclui o
perdão. R e a lm e n te , p arece que a ú n ica área na vida onde
enfrentamos a necessidade de perdoar setenta vezes sete é no lar.
Temos, então, continuam ente que perdoar. A esposa tem
tam bém a mesma responsabilidade para tornar o seu m arido o
herói; assim purifica o marido com o perdão.
No v. 27 lemos: “... para a apresentar a si mesmo Igreja
gloriosa”. A palavra gloriosa descreve a beleza da esposa. Esta
descrição, aqui aplicada à igreja, é bastante clara. É como em
Apocalipse 21, onde encontramos a igreja ataviada, descendo do
céu com toda a beleza que a perfeição de Cristo (o marido) merece.
Ela não tem m ácula, não tem ruga; não tem nada que seja do
desagrado daquele m arido perfeito que é Cristo. Assim acontece
no lar. Se a m inha esposa tem alguma qualidade negativa, meu
amor precisa curá-la e transform á-la, tirando o que seja rotina
como a ruga da velhice ou da acomodação; precisa consertar as
trincas (ou desentendimentos) que aparecem no lar. Enfim, quem
tem isto como alvo, diz Paulo, realmente ama a si mesmo, porque
tem as conseqüências de um amor agape no lar, amor que vai bem
além do eros (amor egoísta), ou do storge (amor que decorre de não
haver outra pessoa que cuide da gente senão ela; e “ela está tão
acostumada”; ou ainda o tipo de am or que um cachorro devota a
seu dono). Não! Quando o amor se torna sacrificial, ao ponto do
auto-sacrifício ou da desistência daquilo que eu quero, começa a
surgir um a harm onia celestial no lar! Se tivéssemos mais tem po, e
mais capacidade, talvez pudéssemos detalhar estes modelos. Mas
pensemos, para já avançarmos neste trecho, que o modelo de Cristo
frente à igreja é o modelo do amor que Cristo demonstrou dando
sua pessoa na cruz. Este amor é o que nós devemos seguir e im itar
no lar. Ao mesmo tempo, o lar harmonioso, perfeitamente ajustado,

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tem que ser um modelo para a igreja também. No fim deste trecho
(v. 31), o apóstolo Paulo cita uma passagem do Antigo Testamento
(Gn 2.24), onde Deus estipula que o homem deixe seu pai e sua
mãe e se una à sua mulher, e ambos assim passem a ser uma só
carne. Por que Deus mandou essa separação? Por que não fez com
que o novo lar fosse sempre uma extensão direta do lar onde se foi
criado? Em outras palavras, que nos casássemos com os nossos
irmãos ou irmãs (parece um tanto esquisito, mas seria natural).
Nós já estaríamos acostumados com ele (ou ela); saberiamos de
suas m anias, de seus egoísmos, já que fomos forçados a viver
juntos. Vejo isso constantem ente com os meus filhos: são forçados
a viver naquele lar, quer queiram, quer não. Mas chega o dia em
que Deus, querendo m ostrar este modelo de Cristo para com a
igreja, coloca no coração do rapaz, ou da moça, o propósito de
deixar o seu lar e de, voluntariam ente, am ar outra pessoa. A
diferença entre o amor que temos para com os nossos pais e nossos
irmãos, este um amor natural, e o amor para com outra pessoa
está no fato de ser voluntário. E se puderm os entender que este
amor voluntário une pessoas com m uito mais vínculo e menos
egoísmo, com m uito mais alegria do que o amor natural, começa­
remos a entender o desejo de Deus para sua igreja e o o seu ideal
para o lar. Para concluir este parágrafo, a m ulher tem uma responsa­
bilidade tão simples, tão fácil de aprender. E sim plesm ente se
submeter, simplesmente respeitar (v. 33). São duas coisinhas só!
E é mais fácil ainda para o marido se lem brar do seu dever: ele
tem só uma coisa a fazer: é amar, am ar e amar!

Os filhos
Por que em tantos casos (espero que não seja a maioria) filhos de
crentes se afastam de Deus e, conseqüentemente, estão longe dos
seus pais? Por que será tão difícil discipular um filho, quando é
relativam ente fácil discipular os filhos dos outros? Talvez seja
porque não dam os su ficiente atenção aos q u atro p rim eiro s
versículos deste capítulo 6. Vejamos rapidam ente o que deve
acontecer no lar quanto aos filhos:
Primeiramente, os filhos não têm nenhuma escolha quanto à
obediência e a honra que devem a seus pais: Filhos, obedecei a vossos
pais (6.1). Tenho visto no meu lar que os filhos não fazem isso
autom aticam ente. Não é pelo sim ples am or aos pais que eles

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obedecem. Eles respeitam seus pais porque os temem, palavra essa


que se encontra em Levítico 19.2-3: “Santos sereis, porque eu, o
Senhor vosso Deus, sou santo. Cada um respeitará (temerá) a sua
mãe e a seu pai [...] Eu sou o Senhor vosso Deus”. Os pais precisam
estreitar a ligação entre a paternidade m undana e a paternidade
divina. Se somos totalmente tolerantes diante do mal, que já está
no coração deles e vai se desenvolvendo à medida que crescem, eles
não poderão entender a justiça de Deus, nem a sua condenação e
ira contra o pecado. Isso ocorrerá se com os pais tudo estiver sempre
muito bem, tanto faz se na obediência ou na desobediência (talvez
apenas com o incômodo de um instante, mas depois a coisa passa).
São pais que não reagem com uma disciplina adequada. Notemos a
razão por que os filhos têm que obedecer: isto é justo (6.1). Faz parte
da maneira que Deus quer que este m undo ande. Quanto às leis do
governo, vemos a mesma coisa. A maior responsabilidade que tenho,
como pai, é ensinar meu filho a se submeter à missão do lar, tal
como a esposa se submete à de seu marido. Como se põe em prática
essa instrução? Isso, por si só, seria assunto para abordar num livro
inteiro. Vamos nos lim ita r a considerar pelo m enos algum as
indicações no v. 4. Notemos que o filho não obedecerá se não for
forçado a obedecer. Há necessidade, portanto, de os pais subjugarem
essa rebelião natural e adâmica no coração. Já percebi, em todos os
nossos filhos, uma vontade própria na criança com menos de um
ano. Esta vontade se choca com a vontade do pai ou da mãe, mas
precisa ser colocada em submissão. Criai-os na disciplina (v. 4). A
palavra paideia, em grego, significa a instrução que produz uma
reação automática no filho, de modo que, quando o pai chama, ele
vem. Quando diz: “sente-se aí quietinho”, ele se senta quietinho.
Eu sei que talvez isso não concorde muito bem com a psicologia,
mas é esse justam ente o problema que está surgindo em todo o
m undo. Não m uitos dias atrás soube do que aconteceu a dois
rapazes, já chegados à maturidade, que nunca foram disciplinados
no lar. Eles pegaram um carro novinho e atravessaram sem parar, a
cem quilômetros por hora, várias ruas em que eram obrigados a
parar em cada esquina. Um amigo nosso, com seus filhos, vinha
atravessando uma daquelas esquinas quando o carro dos rapazes
chocou-se com o dele. Im ediatam ente, o pai e um dos filhos
morreram; o outro filho ficou em estado de coma; os dois rapazes
do outro carro foram hospitalizados em estado de coma também. E
a tristeza que surge neste m undo pela simples falta de disciplina.

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Não culpo tanto aqueles rapazes, mas culpo os pais que


não os criaram com tem or à autoridade. Se amamos o Brasil,
disciplinemos nossos filhos. Não há m aior responsabilidade para
com a futura geração do que criá-los na disciplina e na correção
do Senhor. A palavra admoestação do Senhor (v. 4) significa que os
filhos devem também começar, desde pequeninos, a distinguir entre
o que é certo e o errado. Devem ser instruídos no certo e no errado,
segundo o que Deus fala na sua santa Palavra. Esta sim é a admoes­
tação do Senhor! Quando os pais produzem essa postura nos filhos,
como são grandes os benefícios! Tudo vai bem para o rapaz que
chega à idade adulta já disciplinado (v. 3), aplicando-se então a
promessa de Deus de longa vida sobre a terra. Essa longa vida
não quer dizer simplesmente um a longa vida individual ou parti­
cular; antes, refere-se ao abrigo proporcionado pela terra prometida
aos israelitas durante muito tempo; se eles deixassem de disciplinar
e ensinar os filhos, então o cativeiro logo viria. A preservação da
nação e a alegria dos seus cidadãos depende de esse pequeno trecho
ser cumprido: Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo.
No Senhor significa dentro dos moldes do certo e do errado que ele
prescreve. É claro que há pais que não foram disciplinados nem
admoestados no Senhor e que vão m andar seus filhos fazerem
coisas erradas. Neste caso temos um Senhor, um Pai superior, que
nos dá os padrões de vida necessários.

Os empregados, ou escravos, e seus senhores


O trecho que vai de 6.5-9 é m uito claro. O empregado tem uma
responsabilidade: servir o seu senhor, seu empregador, quem quer
que ele seja, bom ou mau, com tem or e trem or na sinceridade de
coração, como se estivesse servindo a Cristo. Que não apenas se
alegre o coração daquele que trabalha, sentindo-se realizado, mas
que faça o melhor que pode, fazendo o seu trabalho de coração,
isto é, com amor. Essa postura também cria no seu superior, ou
chefe, a sensação de que o trabalho dele poderá ser também melhor.
O empregado, servindo a seu superior como a Cristo, acabará por
incutir na mente do seu empregador o desejo de servi-lo também.
Portanto, cria-se um ambiente de harmonia e de quase vitalidade
espiritual, sem m encionar a possibilidade de ganhar o patrão para
Cristo. Tal serviço não é o serviço feito com os olhos no relógio:
não servindo à vista, não trabalhando apenas para agradar aos

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homens, mas como quem trabalha com coisas que ninguém mais
supervisionará, como no caso de produtos que saem da seção para
serem vendidos; o funcionário sabe que os aparelhos estão perfeita-
mente montados, e sente-se bem com sua consciência, porque de
boa vontade serviu o seu Senhor.
Quanto aos empregadores a palavra é esta: E vós, senhores,
de igual modo (v. 9). A expressão de igual modo significa que temos
de servir àqueles que estão servindo a nós e à nossa indústria ou
projeto. Temos que fazer isto porque o Senhor nos julgará. De
fato, talvez neste mundo estejamos num a alta posição, com respon­
sabilidades de liderança e de chefia. Mas no outro m undo não
será assim. Notemos que no m undo vindouro todos estarão nivela­
dos. No outro mundo, aquele homem mais simples, analfabeto,
que não sabe fazer quase nada, mas que está trabalhando para
mim, será igual a mim, porque diante do Senhor não há acepção
de pessoas. E devemos cuidar daquele irmão com essa lembrança
de que um dia talvez ele venha a se lem brar (se de fato houver lá
recordação) de como o tratei. Que eu não tenha vergonha de me
encontrar com ele naquele outro mundo!

0 exército de Deus
O últim o parágrafo nos convoca para a guerra. Somos todos
chamados a nos fortalecer na força do poder de Deus. Esta última
palavra não é apenas para mulheres e maridos, chefes e servos,
filhos e pais, mas é para todos: Quanto ao mais, sede fortalecidos no
Senhor e na força do seu poder (v. 10). Novamente sentimos a neces­
sidade de o E spírito Santo vir e encher a nossa vida para que
possamos realmente transform ar este m undo para Cristo. Porque,
como percebemos logo no v. 12, este m undo é dominado por forças
destrutivas do mal, que criam miséria, injustiça, enchendo-o de
toda espécie de maldade e crueldade (como certam ente já foi no
caso de Hitler, de Stalin e de tantos outros.). Essas forças, pouco
a pouco, passaram a controlar cada vez mais a mente desses homens
e as suas decisões, de modo que eles se tornaram verdadeiros
anticristos. Essa é a m aneira bíblica de se referir à m ente que
aceita o mal e que cada vez mais vai sendo dom inada por essas
forças que operam de modo satânico nos filhos da desobediência.
Não somos imunes a essas forças do mal, às suas tentações;
o próprio Senhor Jesus Cristo, ao enfrentar a cruz, no Getsêmani,

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sen tiu a pro x im id ad e dessas forças (Jo 12.31-35). Veja-se a


necessidade que os discípulos tinham de vigiar e orar, para não
cair no controle e no domínio dessas forças. Elas estão constante­
m ente nos rodeando como leão, procurando qualquer abertura,
qualquer fraqueza, qualquer ponto de orgulho, onde nos sintamos
fortes em nós mesmos, para nos derrubar e, conosco, outras pessoas
que dependem de nós espiritualm ente. M as, tam bém , não há
avanço na obra do Senhor, se não estivermos fortalecidos e armados
para entrar nesta luta. Ela inevitavelmente tem de ser defensiva e
ofensiva. O apóstolo Paulo menciona dois tipos de armadura: as
armas, poderosas em Deus, de defesa e de ataque. Agora, nesta
lista, encontramos aparentem ente cinco arm as de defesa.
Em prim eiro lugar, o cinturão da verdade, o conhecimento e
a convicção da verdade de Deus, o saber que essa palavra não
pode falhar; podem passar os céus e a terra, mas a palavra do
Senhor permanece para sempre. Esse cinturão dá sustentação ao
resto da arm adura; todo o restante se apóia nele. Se estamos em
dúvida quanto à verdade revelada, não teremos m uitas condições
de defesa nem de ataque.
Em segundo lugar, precisamos da couraça da justiça. Jesus
C risto disse: “B em -aventurado o que tem sede de ju stiç a ” .
Conforme vimos no capítulo anterior, a transformação constante,
à medida que a cebola vai sendo descascada, é a m aneira de nos
vestirmos continuamente da justiça. Oh! Deus! Mostra-me! Permite
que me arrependa dos pecados para os quais me chamas a atenção
(ljo 1.9)!
A terceira arma é os pés calçados com a preparação do evan­
gelho. Essa preparação é a prontidão para falar de Cristo a qualquer
pessoa, fazendo a defesa da fé que temos (lPe 3.15).
A quarta arma: embraçando sempre o escudo da fé. Fé é com­
prom isso com o Senhor; é lealdade que cresce à m edida que
progredimos no conhecimento dele.
A quinta arma é o capacete da salvação, o que aponta para a
cura da mente, sobre o que já falamos bastante em 4.17-23.
Mas a sexta arma é ofensiva, a espada que o Espírito usa (é
isso que significa a espada do Espírito). A espada é a Palavra do
Senhor, a mensagem do evangelho, quando ela vem sendo aplicada
pelo Espírito de Deus. Quando isso acontece, verifica-se que a
transformação de Cristo se manifesta. Devemos ficar especialmente
abertos à verdade que conclui este trecho (v. 18-20). Uma vez que

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a nossa luta não é contra carne e sangue, mas sim contra as forças
demoníacas invisíveis, temos de ficar dependentes da oração. A
única m aneira pela qual podemos nos vestir de toda a armadura
de D eus é orando, com a súplica específica, orando em toda a
oportunidade, no Espírito, e para isso vigiando (alertas, acordados,
ressuscitados dentre os mortos), e com toda a perseverança e súplica
por todos os santos. Paulo, que tanto poder na oração demonstrava,
não teve a ousadia de insinuar que não precisava das orações dos
seus irmãos. O v. 19 mostra que a força da palavra e a coragem
que Paulo necessitava para o b ter sucesso na evangelização
dependiam da oração. Também Paulo estava orando pelos crentes
da Ásia, para que a paz, o am or e a fé fossem fortalecidos por
Deus, o qual oferece a sua graça a todos os que o amam (6'.23, 24).
Concluindo, desde a doxologia dos lugares celestiais até a
vida cotidiana, encontramos a centralidade de Cristo que cria a
unidade na igreja e se manifesta em amor e crescimento. Vivamos
no amor dele enquanto o servimos, amando a todos os que ele ama.

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