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Resumo
O objetivo deste artigo é tentar compreender o funcionamento psíquico da histeria masculi-
na, levando em consideração o contexto sócio-histórico no qual a teoria é desenvolvida. Nos
primórdios da psicanálise e em alguns pensadores pós-freudianos, a histeria foi associada ao
feminino. Freud no início de sua obra já se questiona acerca da histeria apenas como manifes-
tação na mulher e se interessa pela histeria ligada aos homens. Neste artigo, os autores fazem
um breve estudo da histeria masculina através da revisão da obra de Freud e de autores con-
temporâneos.
1. Este texto faz parte de um projeto de pesquisa que conta com uma Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Processo
n. 312687/2013-3).
irmão o intimida com uma faca para não pa- so com o demônio. Em troca de uma alma
gar. No segundo momento, August foi acusa- imortal, o demônio poderia oferecer diver-
do de furto por uma mulher, o que agravou o sas regalias: segurança, riqueza, poder e o
seu estado. Ele sofria de violentos espasmos, gozo das belas mulheres.
depressão e tremores no lado esquerdo de Mas curiosamente, diz Freud, não foi por
seu corpo. A metade de seu cérebro aparen- nenhum desses prazeres, mas o demônio lhe
tava ter sido comprometida por um acidente prometeu apoio e auxílio diante de seu esta-
cerebral (Freud, [1886] 1996). do melancólico:
Freud relata, então, aos seus colegas da
Sociedade de Viena que esse caso de hemia- Seu pai, portanto, falecera, e, em consequên-
nestesia tinha causas não somente orgânicas, cia, ele havia caído em um estado de melan-
mas também de ordem psíquica. O sofri- colia, após o que o Demônio se aproximara
mento psíquico de August se expressava no dele e lhe perguntara por que estava tão aba-
corpo, e seus sintomas advinham de diversas tido e triste, e prometera “auxiliá-lo de todas
situações traumáticas. as maneiras e dar-lhe apoio” (Freud, [1923]
Anos depois Freud ([1923] 1996) escreve 1996, p. 97).
o seu segundo caso de histeria masculina em
Uma neurose demoníaca do século XVll, ten- Freud descreve que o pintor se encontrava
do como base um conjunto de documentos em um estado melancólico devido à morte
históricos. Freud narra o caso de Chistoph de seu pai, e foi diante desse fato que o pac-
Haizmann, um pintor que, enquanto se en- to surgiu. Fez o compromisso com o diabo
contrava na igreja de sua aldeia, foi acome- para ser libertado desse estado de depressão,
tido por convulsões assustadoras, as quais como o autor relata:
persistiram durante vários dias.
Diante desse fato, foi examinado pelo [...] temos aqui, portanto, uma pessoa que
Praefectus Dominii Pottenbrunnensis assinou um compromisso com o diabo, a fim
(Prefeito do domínio de Pottenbrunn) para de ser libertado de um estado de depressão
desvendar o motivo dessas convulsões e a (Freud, [1923] 1996, p. 97).
possibilidade da existência de algum tipo
de envolvimento com o demônio. Chistoph E assim, Chistoph Haizzman entregou
Haizmann admitiu ter sido tentado nove ve- sua alma não por algo que fosse obter do de-
zes pelo demônio e acabou realizando um mônio, mas por algo que deveria fazer para
compromisso por escrito de pertencer-lhe ele, a saber, ser filho obrigado até o nono ano,
em corpo e alma após o período de nove e o demônio se compromete a ser o substitu-
anos. Contudo, ele havia se arrependido do to do pai falecido do pintor pelo período de
pacto e estava convicto de que só a graça da nove anos.
mãe de Deus em Mariazell, cidade próxima Pode soar estranho, diz Freud ([1923]
da aldeia onde residia, poderia libertá-lo 1996), que o diabo seja o eleito para ser o
desse pacto escrito com sangue. substituto paterno de um suposto pai amado.
No decorrer da descrição do caso, Freud Porém, para Freud, Deus é um substituto pa-
relata que dois compromissos com o demô- terno, que constitui o protótipo do pai infan-
nio aparecem em sua história: um anterior, til experimentado e visto quando criança, e
redigido com tinta, e o posterior, com sangue. na pré-história de toda a humanidade como
Ao examinar esse pacto demoníaco como o pai da horda primitiva. E que cedo todo
um caso clínico de um neurótico, Freud sujeito se depara com sentimentos ambiva-
([1923] 1996) se volta para a questão do que lentes em relação ao pai: impulsos afetuosos
levaria alguém a assinar um compromis- e impulsos de natureza hostil.
Por se tratar de um caso no qual a pessoa assim, o resultado de uma revolta contra a
não está sendo analisada, Freud sente difi- castração (Freud, [1923] 1996, p. 106).
culdades para
Sua via de expressão comumente é en-
[...] descobrir quais foram os fatores aciden- contrada na fantasia inversa de castrar o pai,
tais que se acrescentaram aos motivos típicos de transformá-lo em “mulher” e, no caso de
para o ódio ao pai, inerentes ao relaciona- Chistoph, os seios atribuídos ao demônio
mento de filho e pai (Freud, [1923] 1996, p. corresponderiam a uma projeção da própria
103). feminilidade do pintor sobre o substituto pa-
terno (Freud, [1923] 1996).
Freud ([1923] 1996) cogita a possibi- O segundo caminho apontado por Freud
lidade de o pai ter se oposto ao desejo de sobre os acréscimos femininos ao corpo do
Chistoph de ser pintor. Seguindo esse racio- diabo comporta um caráter mais afetuoso,
cínio, a impossibilidade de exercer sua arte, sem hostilidade:
após o falecimento do pai, seria a expressão
do fenômeno de “obediência adiada”. E ao se Ele vê na adoção dessa forma uma indicação
tornar incapaz de se sustentar, seria impelido de que os sentimentos ternos da criança pela
a cada vez mais a ansiar pelo pai protetor ao mãe foram deslocados para os pais, e isso su-
encontro de suas necessidades. No aspecto gere que houve previamente intensa fixação
da obediência adiada, há que levar em consi- na mãe, fixação que, por sua vez, é responsá-
deração uma suposta expressão de remorso e vel por parte da hostilidade da criança para
autopunição bem-sucedida. com o pai (Freud, [1923] 1996, p. 106).
Freud ([1923] 1996) associa o número do
compromisso com o demônio ao período de A intolerância de Chistoph Haizzman
gestação materna (nove meses), relacionan- em aceitar a castração desencadeou a im-
do a posição feminina do pintor adotada em possibilidade de atenuar seu anseio pelo pai.
relação ao pai, pois o luto pela perda do pai Portanto, é compreensível sua volta para a
e seu intenso anseio por ele desencadeiam imagem materna na esperança de que so-
no pintor uma reativação de sua fantasia in- mente a Santa Mãe de Deus em Mariazell
consciente de gravidez reprimida, e diante poderia libertá-lo de seu compromisso com
dessa fantasia, Chistoph adota a neurose e o o demônio (Freud, [1923] 1996).
aviltamento do pai como saída psíquica. Através desse caso, Freud aponta uma das
Todavia, Freud ([1923] 1996) se questiona importantes características da histeria mas-
o motivo pelo qual o pai de Chistoph, além culina: a dificuldade de lidar com a castra-
de ter sido reduzido ao demônio, porta essa ção. Diversos autores pós-freudianos tece-
característica física de uma mulher. ram alguns estudos sobre a histeria mascu-
Diante de tal questionamento, Freud lina e ampliaram o arcabouço teórico sobre
aponta dois caminhos para entender essa o fenômeno.
questão de forma complementar, e um não Ao falar da histeria masculina, Dor
exclui o outro. O primeiro: (1997) destaca a sedução como sintoma pri-
vilegiado dessa posição subjetiva. A sedução
A atitude de um menino com o pai sofre re- funcionaria como um suporte excepcional
calque tão logo ele compreende que sua rivali- de um amor negociado. Assegurando-se se
dade com uma mulher pelo amor do pai tem, sentir amado por todos, o histérico oferece
como precondição, a perda de seus órgãos seu amor sem medir esforços. Todavia, esse
genitais masculinos – em outras palavras: a amor é de fachada, pois o histérico é incapaz
castração. O repúdio da atitude feminina é, de se engajar além da sedução. O que impor-
ta é receber o amor de todos, já que não pode sedução, que não pode ser cumprida e, con-
renunciar a ninguém. No entanto, querer ser sequentemente, à decepção. Há de fato um
amado por todos é, em outras palavras, não traço histérico na sedução (Mezan, 2005).
querer perder nenhum objeto de amor. Dor Melanie Klein ([1937] 1996), no texto
(1997) localiza aí um dos aspectos principais Amor, culpa e reparação, tece algumas con-
da histeria: a insatisfação. siderações sobre o personagem Don Juan em
Ao discutir a sedução em Don Juan, relação à manifestação de sua infidelidade,
Mezan (2005) destaca que o personagem é a que em suas diversas formas de apresenta-
própria encarnação do desejo: por onde pas- ção, tem um ponto em comum: o frequente
sa deixa seu rastro numa trajetória marcada distanciamento de um objeto amado, prove-
por uma espécie de furacão libidinal. Essa niente em parte do medo da dependência.
característica explicaria seu modo de existir Para Klein ([1937] 1996) Don Juan é asso-
baseado na sedução: por um lado, oferece às lado inconscientemente pelo medo da morte
mulheres seu amor, que se esgota no momen- dos objetos amados, e a manifestação desse
to da conquista e não oferece uma continui- medo se daria através de sentimentos depres-
dade na relação; por outro lado, a reiteração sivos e de grandes sofrimentos psíquicos, se
constante do mesmo ato conquistador é uma não fosse essa defesa contra si próprio: sua
necessidade inerente ao personagem. Sua infidelidade.
lista inacabada de pretendentes está sempre
aberta para a próxima aventura. Para Don Através desse recurso, ele prova a si mesmo
Juan, a próxima da lista é mais importante que seu único grande objeto amado (original-
do que as mulheres que deseja. mente a mãe, cuja morte era temida porque
Mezan (2005) enfatiza que o aspecto pri- seu amor por ela era voraz e destrutivo) não é
mordial da sedução é a veiculação incons- indispensável, pois sempre é possível encon-
ciente de significações para o sedutor, que trar outra mulher pela qual tem sentimentos
vão atribuir ao seduzido um trabalho de ardentes, porém superficiais. Ao contrário
simbolização e repressão. O autor acredita dos indivíduos cujo pavor da morte da pes-
que isso ocorre com Don Juan, que pensa soa amada leva à sua rejeição ou à negação do
amar as mulheres, quando de fato ama ape- amor, ele não consegue fazer isso, por vários
nas a si mesmo. O amor dessa lista comporta motivos. Na sua relação com as mulheres,
uma significação narcísica inconsciente que entretanto, chega inconscientemente a um
permeia com as performances galantes de meio-termo. Ao abandonar e rejeitar algumas
Don Juan, com o não cumprimento das pro- mulheres, ele se afasta inconscientemente da
messas feitas. mãe, salvando-a de seus desejos ameaçado-
É nessa mesma ordem de significação que res e se libertando de uma dependência do-
Don Juan transfigura as próximas da lista: ele lorosa. Ao mesmo tempo, ao procurar outras
as idealiza de tal forma que sua própria pai- mulheres, dando-lhes amor e prazer, mantém
xão constitui um ato de narcisização, no qual em seu inconsciente a mãe amada, ou a recria
ocorre uma projeção do objeto narcísico so- (Klein, [1937] 1996, p. 364).
bre o objeto externo e a identificação desse
objeto externo com o objeto narcísico. Segundo a autora Don Juan é impelido
Esse jogo de realização total do desejo, de um objeto para outro, pois cada objeto,
no qual se oferece como sendo tudo para ou seja, cada mulher com a qual se envolve,
o outro e o outro tudo para o sedutor, está acaba representando sua mãe. Esse objeto
fadado ao fracasso pela impossibilidade de amoroso originário é substituído por diver-
concretude de preenchimento total um do sos objetos subsequentes. Em sua fantasia
outro. Essa impossibilidade leva à ruína toda inconsciente, Don Juan cura ou recria a pró-
pria mãe pelo meio da gratificação sexual, o maior daquela que de fato possui e sofre de
que de fato oferece às demais mulheres, ao angústia ao saber que há uma diferença sig-
considerar sua sexualidade como restaura- nificativa entre a camuflagem fálica que se
dora e capaz de proporcioná-la a felicidade. apresenta aos outros e a própria consistência
Essa ação dupla “[...] faz parte do meio-ter- (Jerusalinsky, 2004).
mo inconsciente que resulta na sua infideli- O histérico se apresenta como um porta-
dade e é uma condição básica para esse tipo dor de um falo superlativo que o diferencia
de desenvolvimento” (Klein, [1937] 1996, p. como único, mas paga um alto preço por isso,
364). um excesso que se manifesta ora como exces-
O Outro aspecto da histeria masculina é so de trabalho, ora como excesso de recursos,
destacado por Lucy Linhares da Fontoura como o poder e o dinheiro, que são deman-
(2005), que relaciona a histeria masculi- dados para a sustentação desse falo. Como
na como uma das formas de manifestação possíveis saídas para a histeria masculina, a
da masculinidade e lança questionamentos autora aponta: encarnar o falo; supor o falo
acerca dos sintomas histéricos e suas pecu- em figuras de autoridade a quem se submete-
liaridades de expressão nos dias atuais. A rá ou reconhecer e aceitar a ordenação do falo
autora relata observar na histeria masculi- fora de si mesmo: produzir uma representa-
na a propensão característica do histérico ção social para seu falo (Fontoura, 2005).
de questionar o lugar de todos: tanto o seu Trazendo uma perspectiva sócio-históri-
quanto o dos outros. Isso se confirma na pro- ca, Marazina (2005) enfatiza a importância e
blemática do reconhecimento, a saber, a dificuldade de conceituar a masculinidade
no campo imaginário da subjetividade social
[...] quando não se obtém o reconhecimento e na clínica. Além disso, acredita que há uma
que se considera devido, ou seja, quando os torção da neurose obsessiva para a histeria
atos se justificam por sua referência narcísica, na posição subjetiva masculina e que no
para afirmar o que sou ou o que tenho (Fon- atual cenário social haveria um apontamento
toura, 2005, p. 12). característico do laço social, que é mais favo-
rável ao campo da histeria.
Fontoura (2005) articula a questão do re- Diversos fatores a levam a conceber essa
conhecimento – que se refere à imagem – à linha de pensamento como o contexto de
posição fálica do sujeito. Por essa expressão uma sociedade ocidental que enaltece a de-
se compreende o lugar em que o sujeito se vê preciação dos valores dos processos de cons-
e se posiciona relativamente à sua represen- trução que aludem o devir temporal, para se
tação simbólica, à condição de seu exercício fixar ao brilho instantâneo da imagem, das
subjetivo frente a si mesmo e ao Outro. O mudanças quase alucinatórias que foram
histérico é convocado a sustentar uma espé- afeiçoando a camada social em um culto ao
cie de falo inflacionado, no sentido de novo, das significativas mudanças nos papéis
tradicionais estabelecidos do masculino e do
[...] produzir valores imaginários, sem respal- feminino (Marazina, 2005).
do real e com um efeito – consequente desta A histeria masculina marca presença na
dilatação imaginária – de transformar a or- história, porém a histeria feminina é mais
dem simbólica, isto é, de produzir desordem interessante de ser estudada pela medicina,
no ordenamento simbólico das coisas (Fon- pois a histérica não se adequava ao ideal da
toura, 2005, p. 12). feminilidade burguesa, em que a materni-
dade era um modelo enaltecido. A histérica
Sob esse ponto de vista, o histérico apa- era vista como uma espécie de “antimãe” e
renta uma imagem fálica diante do outro ameaçadora da ordem social.
Por conseguinte, o homem histérico não Estados, a hegemonia masculina era incon-
era ameaçador à ordem, nem um “antipai testável. Todo esse aparelhamento institucio-
burguês”, mas era considerado um fora das nal estava voltado à sustentação dessa lógica
regras, que pouco atrapalhava a raça e a mo- que separava a espécie entre seres “comple-
ral das classes predominantes e em ascensão tos” e “incompletos”.
(Mazarina, 2005). A partir do século XX essa lógica vai so-
frendo gradativamente uma desconstrução
Aqui nos encontramos com uma articulação através do advento das tecnologias, com a
no mínimo intrigante: considerou-se que a valorização do eixo “pensamento e habili-
posição histérica feminina dava corpo – lite- dade” em detrimento da “força e coragem”,
ralmente – ao mal-estar resultante do recal- sem falar das revoluções e das diversas con-
que de aspectos fundamentais da sexualida- quistas femininas por um espaço que antes
de que não podiam ter espaço no laço social. era predominado pelo masculino. Por isso,
Com seu corpo em sofrimento, suas exibições a imagem do patriarca com seu atributo fá-
“destemperadas”, seus sintomas multiformes, lico natural vai sofrendo sucessivos e mor-
a histérica falava de um feminino que esca- tais golpes e sendo colocado em xeque desde
pava do ideal de mulher “decente” que a bur- o princípio da modernidade (Marazina,
guesia preconizava (Marazina, 2005, p. 19). 2005). O resultado desse processo culmi-
na na circulação do falo, que não se amarra
Considerando que a histeria masculi- mais imaginariamente no corpo masculino.
na predominava nos setores mais precários E com isso Marazina (2005) levanta os se-
desse ordenamento social, pode-se pensar guintes questionamentos:
que sua forma de denunciar o mal-estar se • A possibilidade de pensar o “ofício de
refletia nos terrenos da exclusão e da vulne- homem”, que sustentava esse falo desde o
rabilidade, onde teria que se manifestar exa- momento em que seu corpo o testemunhava
tamente naqueles que não tinham expressão na atualidade sofre um movimento bascu-
nem direitos para o ordenamento social, o lante, análogo ao processo de feminilidade?
qual definia a distribuição de valores, ou seja, • Fazer-se desejar por um corpo inteira-
nas palavras da autora, de significados fáli- mente falicizado constitui um percurso para
cos, aos sujeitos que possibilitassem susten- muitos homens que atualmente sentem que
tar o semblante humanitário e civilizatório seu pênis pouco lhes assegura, diante do mo-
(Marazina, 2005). vimento das mulheres, que se empoderaram
Ao pensar no falocentrismo como dis- de atributos ditos masculinos, e os sustentam
tribuidor de valores e poderes na sociedade com assombrosa competência?
patriarcal como aquele que reforça o binário Complementando esse raciocínio, pode-
“eles têm/elas não têm” Marazina (2005) re- mos pensar com Bourdieu (1999) para quem
porta a origem da teoria infantil emergente a marca do falocentrismo presente na teoria
da impossibilidade de inscrição da diferença freudiana (e por extensão nos pensadores
sexual nos primeiros anos de vida de vida. pós-freudianos) impossibilita a consideração
Para a autora, esse imaginário originou no do masculino como algo particular e proble-
decorrer da história um status social de po- matizável, levando-se em consideração que,
der ao homem, concebido como algo perten- sob a lógica do paradigma falocêntrico, a
cente a ele “por natureza”, daquele que possui diferença sexual é naturalizada, constituin-
um pênis, garantia do poder fálico. do-se, assim, uma oposição antitética entre
Numa época em que os atributos físicos masculino e feminino de forma diferenciada,
como a força eram indispensáveis para a ga- em que os lugares nobres eram destinados à
rantia da posse de terras, das mulheres, dos masculinidade.