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Paulo Roberto Ceccarelli

Psicanálise, sexo e gênero1


Psychoanalysis, sex and gender
Paulo Roberto Ceccarelli

Resumo
Segundo um autor, para se retomar, na atualidade, a dimensão da ruptura freudiana é ne-
cessário fazer um retorno a Freud em Freud. Isto é, uma releitura do texto freudiano para
evitar atribuir a Freud coisas que ele não disse. A partir daí, e apoiado sobretudo nas teorias
de gênero e a teoria Queer, procurar compreender as novas possibilidades de subjetivação e
de construções identitárias, quando as referências do feminino passaram a ser apresentadas a
partir de outros parâmetros. Avaliar também as mudanças nas formas discursivas do mascu-
lino e do feminino que nos obrigam a reavaliar certos pressupostos psicanalíticos tais como as
construções identitárias, o binômio fálico-castrado a chamada “escolha sexual”, abrindo novas
possibilidades de diversidades e de singularidades.

Palavras-chave: Psicanálise, Sexo, Gênero, Mudanças simbólicas.

Há trabalho suficiente
para se fazer nos próximos cem anos –
nos quais nossa civilização terá de aprender
a conviver com as reivindicações
de nossa sexualidade.
Freud, [1898] 1976, p. 305.

Introdução mal e o patológico, em detrimento da posição


A proposta deste congresso – Assim cami- revolucionária, e libertadora, de normas cul-
nha a psicanálise: indagações do século XXI – turais opressivas, sobretudo no que diz res-
apresentou-se como uma oportunidade para peito à moral sexual, perpetrada por Freud.
refletir sobre um aspecto da psicanálise que Para debater minha hipótese, basta um
há muito venho observando. breve retorno a Freud, não no sentido de re-
Nos inúmeros eventos de psicanálise de ler textos freudianos e, nessa ‘releitura’ atri-
que tenho participado nos últimos anos, cha- buir a Freud coisas que ele não disse (Cec-
ma-me a atenção um certo ‘retrocesso intelec- carelli, 2007), mas, antes, de retomar os
tual’, o que fez com que alguns psicanalistas pontos da ruptura freudiana que mudaram
tivessem se colocado como guardiões de uma radicalmente o modo de conceber o humano
ordem social supostamente imutável, outor- e ver a quantas anda essa ruptura na atuali-
gando-se o poder de deliberar sobre o nor- dade.

1. Trabalho apresentado no XXII Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise, XXVI Jornada do Círculo
Psicanalítico da Bahia: Assim caminha a psicanálise: indagações do século XXI. Salvador, 18 nov. 2017.

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Psicanálise, sexo e gênero

Para a sexologia do final do século XIX quiátrico de raciocínio” (Von Haute, 2017,
e início do XX, a reprodução era o objetivo p. 4), que tem como eixo central a noção de
exclusivo da sexualidade humana. No céle- personalidade, apoiado em explicações psi-
bre Psicopatia sexual, de Von Krafft-Ebing, cológicas.
lemos logo nas primeiras linhas: “[...] a pere- Cabe ainda lembrar que essas ‘perversões’
nidade da raça humana é garantida por um foram literalmente criadas por aqueles sexó-
poderoso instinto natural (Naturtrieb), que logos. Evidentemente, as atividades sexuais
exige imperiosamente ser satisfeito” (Von que não serviam à reprodução sempre exis-
Krafft-Ebing, [1895] 1990, p. 5). Para o tiram e, segundo o momento sócio-histórico
autor, a sexualidade visava a procriação, e e a cultura em questão, eram consideradas
toda manifestação que escapasse a esse fim pecado, pouca vergonha, atentado ao pu-
era considerada perversão. dor, sodomia e outras tantas nomenclaturas
Os psiquiatras e os sexólogos do século que continuam crescendo (os DSMs). Ainda
XIX construíram um “herbário de prazeres” hoje, alguns países punem com pena de mor-
(Foucault, 1985a, p. 63), que incluía desde te tais desvios.
o acanhado admirador de sapatos e de peças O novo é que essas atividades passaram a
íntimas femininas até os portadores do “sen- definir tipos específicos de indivíduos mar-
timento contrário”: a homossexualidade. As cados por uma subjetividade na qual a se-
práticas sexuais que escapavam aos ditames xualidade se transformou em um elemento
primeiros – a reprodução – foram minucio- distintivo, uma possibilidade de individua-
samente repertoriadas e etiquetadas, dando ção (Foucault, 1985a).
origem a uma ampla variedade de desvios:
perversão (1882, Charcot e Magna), nar- As contribuições de Freud
cisismo (1888, Havellock-Ellis), autoero- A revolução que Freud provocou vem não
tismo (1899, Havellock-Ellis), sadismo e do tipo de material clínico observado que,
masoquismo (1890, Krafft-Ebing), entre como citamos, fora exaustivamente classifi-
outros. cado por seus predecessores, mas do novo
Os ‘efeitos nocivos’ da sexualidade eram caminho que ele toma: Freud parte não da
amplamente discutidos e classificados, em- função supostamente ‘normal’ da sexualida-
bora em uma perspectiva higienista e repres- de (a procriação), mas de seus desvios.
siva. Em nome dos bons costumes, da moral Segundo Ernest Jones (1979), a publica-
e da saúde, e não mais da religião, uma va- ção em 1905 dos Três ensaios sobre a teoria
riante da ‘caça às bruxas’ foi se construindo, da sexualidade fez de Freud uma figura qua-
o que levou à criação de dispositivos para se universalmente impopular. Ele foi trata-
regular e controlar a sexualidade, além de do com imoral e obsceno, recebeu insultos
curar suas manifestações ‘desviantes’: as que e injúrias, chegando mesmo a não ser cum-
não escapavam aos critérios estabelecidos primentando na rua. Em pequeno ensaio de
pelo discurso do poder e que, consequente- pouco mais de 40 páginas, Freud subverte os
mente, ameaçavam a ordem vigente. (É im- esquemas explicativos tradicionais ao afirmar
pressionante, e triste, constatar como esses que as perversões cuidadosamente cataloga-
fatos vêm se repetindo na atualidade). das como aberrações humanas assombram
A partir do momento em que a sexualida- o espírito de todos os homens – inclusive
de passou a ser entendida como uma função, daqueles que as catalogaram – podendo ser
suas perturbações passaram a ser observadas observadas desde os primeiros anos da in-
e qualificadas, mesmo na ausência de uma fância: “a criança é um perverso polimorfo”.
causa orgânica específica ou uma lesão neu- A concepção de uma “pulsão natural”
rológica. Trata-se do chamado “estilo psi- (Naturtrieb) é abandonada, e o debate se

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centra nos caminhos pulsionais que levam Acreditar que a sexualidade deriva de
à escolha de determinado objeto em detri- uma pulsão natural (Naturtrieb) que estaria
mento de outros. O impulso sexual (Sexual- ausente na infância e só se manifesta na pu-
trieb) no ser humano é composto por inú- berdade por uma atração natural de um sexo
meros impulsos parciais (Partialtrieben), os pelo outro visando a reprodução é uma “fá-
quais servem à obtenção de inúmeras formas bula poética” (Freud, [1905] 1976, p. 136): a
de prazer em diferentes partes do corpo, para visão dos sexólogos torna-se uma quimera.
além dos genitais (Freud, [1908] 1976). Entender a sexualidade dessa forma não
Posto que a pulsão não tem objeto fixo e traduz apenas um erro simples, mas
muito menos um programa biológico, toda
atividade sexual testemunha um percurso [...] um equívoco de graves consequências,
pulsional particular, traçada pela singulari- pois é o principal culpado de nossa ignorân-
dade da história de cada um, o que impos- cia de hoje sobre as condições fundamentais
sibilita a tentativa de criação de uma “norma da vida sexual (Freud, [1905] 1976, p. 177).
sexual”. Nesse sentido, uma suposta prima-
zia das zonas genitais é uma ficção, e é uma Freud se situa à frente de seu tempo, po-
grande injustiça o fato de a cultura “exigir de sicionando-se de forma bem mais radical
todos uma idêntica conduta sexual” (Freud, e revolucionária que muitos analistas con-
[1908a] 1976, p. 197). temporâneos: as perversões não podem ser
Enfim, Freud rompe com o “estilo psi- entendidas como uma identidade separada,
quiátrico de raciocínio”, ao sustentar que na pois a sexualidade não é uma função natural
disposição às perversões encontramos o hu- que só se dá a conhecer pelos seus desvios,
mano e o original, isto é, o núcleo mais pro-
fundo do sujeito: [...] torna-se impossível classificar um grupo
de pessoas como “perversas”, o que, de um
[...] há sem dúvida algo inato na base das per- ponto de vista psicológico, seria fazer uma
versões, mas esse algo é inato em todos os distinção fundamental entre um grupo que
seres humanos (Freud, [1905] 1976, p. 174). escapa à “perversão” e outro que não o faz
(Von Haute, 2017, p. 5).
As perversões “[...] são blocos de constru-
ção da sexualidade humana de uma forma Infelizmente, todo movimento ou cor-
isolada e ampliada” (Von Haute, 2017, p. 5). rente de pensamento que, em um primeiro
momento, trouxe novas perspectivas de vida
A normalidade como “fábula poética” e/ou novas leituras do mundo foi, em um
Não é por acaso que Freud ([1905] 1976) ini- segundo momento, incorporado à ordem vi-
cia os Três ensaios sobre a teoria da sexuali- gente e, não raro, transformado em sistemas
dade na contramão dos sexólogos da época normativos. em completa oposição à pro-
que, vimos, entendiam que a sexualidade posta original.
“normal” era a reprodutiva. Freud ([1905] Com a psicanálise, as coisas não foram
1976) parte das “aberrações sexuais”, para fa- diferentes, a começar pelo próprio Freud: a
zer o que poderíamos chamar de desconstru- primeira edição dos Três ensaios não contém
ção, no sentindo de Derrida, das diferentes alguns conceitos e teorias desenvolvimentis-
perversões previamente definidas. Ele inicia tas introduzidas nas edições posteriores com
esse texto mostrando à moral, à religião, à as quais estamos familiarizados (Von Hau-
biologia (os sexólogos) e à opinião popular te, 2017).
que se enganam em relação a uma suposta E é justamente essa dimensão primeira da
“natureza” da sexualidade humana. psicanálise que reverteu inexoravelmente os

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Psicanálise, sexo e gênero

esquemas explicativos tradicionais que dita- A resposta a Jones é assinada por Freud e
vam os parâmetros da normalidade que, pa- Otto Rank:
rece, vem se distanciando cada vez mais das
primeiras posições freudianas. Sua pergunta, estimado Ernest, sobre a possi-
Apenas dois exemplos, aos quais podería- bilidade de filiação dos homossexuais à Socie-
mos acrescentar muitos outros. O primeiro dade, foi avaliada por nós e não concordamos
diz respeito à chamada “escolha sexual”: para com você. Com efeito, não podemos excluir
Freud a determinação das escolhas sexuais é estas pessoas sem outras razões suficientes
bastante complexa, pois responde a dinâmi- […] em tais casos, a decisão dependerá de
cas inconscientes, que envolvem vários fato- uma minuciosa análise de outras qualidades
res, tais como o caráter triangular da situa- do candidato (Lewis, 1988, p. 33).
ção edipiana, a bissexualidade constitucional
de cada indivíduo e a ambivalência inerente Na atualidade, o debate continua entre os
às identificações (Freud, [1923] 1976). que veem as homossexualidades como algo a
Consequentemente, a atração tanto hete- ser tratado (a cura gay?) e aqueles que a en-
rossexual quanto homossexual necessita de tendem como uma posição libidinal ao mes-
explicação, pois não se trata de um “fato evi- mo título que a heterossexualidade. Impres-
dente em si mesmo, baseado em uma atração sionam-nos sobremaneira duas passagens de
afinal de natureza química” (Freud, [1905] Lacan, já citadas em um texto anterior (Cec-
1976, p. 146). carelli, 2012).
O que parece interessar a Freud são os ca-
minhos pulsionais responsáveis pelas esco- Se a teoria analítica assimila ao Édipo uma
lhas de objeto: função normativa, lembremos que nossa ex-
periência nos ensina que não basta que ela
Não compete à psicanálise solucionar o pro- leve o sujeito a uma escolha objetal, mas é ne-
blema do homossexualismo. Ela deve conten- cessário ainda que esta escolha de objeto seja
tar-se com revelar os mecanismos psíquicos heterossexual (Lacan, [1956-1957] 1994, p.
que culminaram na determinação da escolha 201).
de objeto, e remontar os caminhos que levam
deles até as disposições pulsionais (Freud, Ou ainda: “[...] se é verdade que a doutri-
1920, p. 211). na analítica nos indica [a homossexualidade]
como o suporte do laço social da fraternida-
Contudo, ainda na época de Freud, alguns de entre os homens” (Lacan, [1960-1961]
psicanalistas insistiam que a heteronorma- 1991, p. 42), ela não deve ser confundida
tividade era o único horizonte possível. A com a homossexualidade do tempo de Pla-
falta de consenso entre os analistas chegou tão que, como na atualidade, continua sendo
a provocar polêmica entre a Sociedade Psi- uma perversão:
canalítica de Viena e a de Berlim. A de Ber-
lin, dirigida por Abraham, considerava que Que não me venham dizer, sob o pretexto que
os homossexuais eram incapazes de exercer se tratava de uma perversão recebida, aprova-
a profissão de analista, pois suas inversões da e mesmo festejada, que aquilo não era uma
eram incuráveis. Já a de Viena, apoiada em perversão. A homossexualidade não era nada
Freud, tinha uma opinião totalmente contrá- a mais do que ela realmente é: uma perversão
ria: em 1921, Jones, então presidente da IPA, (Lacan, [1960-1961] 1991, p. 43).
recusa a admissão de um analista declarada-
mente homossexual à International Psychoa- Outro aspecto que merece um deba-
nalytical Association (IPA). te muito mais amplo se refere à clínica das

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perversões e à analisabilidade do sujeito per- caminhos possíveis, sem que se caia necessa-
verso (Ceccarelli, 2011). Contentar-me-ei riamente na dicotomização (Catão, Prisci-
neste ponto a uma citação de Freud que in- la de Lima).
dica que o perverso é tão analisável quanto o
neurótico:
Sexo e gênero
Isto [o recalque] não se aplica apenas as ten- Estes e outros conceitos centrais da psicaná-
dências “negativas” para a perversão que apa- lise têm sido duramente questionados pelas
recem nas neuroses, mas igualmente às per- novas configurações sociais. Têm sido repen-
versões propriamente ditas chamadas “posi- sadas as questões chamadas “de gênero”, que
tivas”. Assim, estas últimas devem originar-se por muito tempo foram tratadas de como se
não apenas de uma fixação de tendências in- fossem imutáveis, pois faziam parte de uma
fantis, mas também de uma regressão àquelas ordem natural. Não há um só evento em que
tendências como resultado do bloqueio de esse tema não é abordado.
outros canais da corrente sexual. É por este Entretanto, se essa questão não for bem
motivo que as perversões positivas são aces- considerada e tratada com seriedade, e so-
síveis à terapia psicanalítica (Freud, [1905] bretudo sem que os psicanalistas se sintam
1976, p. 239, nota). ameaçados com o retorno de moções pul-
sionais recalcadas e reprimidas, corremos
Outros pontos que poderiam ainda ser o risco de provocar um equívoco de conse-
discutidos dizem respeito ao falocentrismo, quências não menos graves que os denuncia-
à sexualidade feminina e à sexualidade mas- dos por Freud nos Três ensaios. E se muitos
culina (Ceccarelli, 2013). psicanalistas têm fechado os olhos sobre esse
Tem me impressionado, em alguns even- ponto, é hora de abri-los, pois o desejo in-
tos de que tenho participado, o quanto cer- consciente segue seu caminho.
tos arranjos pulsionais, que, sem dúvida, em Como na época de Freud em relação à
um primeiro momento causam espanto, são orientação sexual, o consenso geral continua
imediatamente diagnosticados, talvez como rígido em estreita consonância com a mo-
defesa para não se entrar em contato com ral sexual: sexo, gênero, desejo e orientação
conteúdos Ics, de forma quase idêntica à sexual continuam a ser entendidos como
que se fazia com os primeiros pacientes que características ‘naturais’ dos indivíduos. Do
Freud atendeu. ponto de vista da biologia, o sexo é definido
Alguns profissionais continuam vendo pelos genitais: macho/fêmea; as representa-
nos sujeitos trans manifestações de psicose, ções e os papéis sociais que se espera de um
baseados nas fórmulas de sexuação discuti- homem e de uma mulher ditam o gênero; o
das por Lacan há mais de 40 anos. Não se tra- desejo deveria ocorrer entre sexos opostos;
ta, evidentemente, de negar as contribuições quanto à ‘orientação sexual’, a heterossexual
de Lacan para definir o complexo terreno da é a norma em consonância com o sexo e o
sexuação. gênero da pessoa, em vista da preservação da
A questão é espécie.
Tais posicionamentos, e este é o grande
[...] que, no vazio do indizível, há um poten- debate atual, naturalizavam as construções
cial infinito de possibilidades. Na tentativa de históricas que os sustentavam, o que garantia
dar conta, Lacan escolheu esta. O que se trata a sua função ideológica através do discurso
aqui, então, é produzir reflexões acerca do lu- hegemônico dominante que dita tanto as se-
gar de onde partem os pensamentos a respei- xualidades lícitas e as ilícitas, quanto as re-
to da construção dos sujeitos, ampliando os lações entre homens e mulheres e seu lugar

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Psicanálise, sexo e gênero

no tecido social (Foucault, 1984, 1985a, Ou ainda mulheres que se relacionam com
1985b). homens trans ou mulheres trans.
Mais recentemente, a discussão mudou Estamos assistindo a uma reavaliação dos
de foco, fazendo com que as questões ligadas discursos seculares relativos aos atributos
ao sexual, ao gênero, ao desejo e à orientação sociais de sexo e de gênero graças aos estu-
sexual tenham recebido novas leituras, o que dos de gênero, às teorias desconstrucionis-
fez surgir inúmeras possibilidades de subje- tas críticas e à teoria queer (Bertini, 2009;
tivação. Vários são os fatores que, ao longo Butler, 1993, 2003, 2004, 2009; De Sousa
da história, contribuíram para os reposicio- Filho, 2017; Fraisse, 1996; Laqueur, 1992).
namentos a que assistimos hoje: os movi- Devemos sobretudo a Judith Butler, fi-
mentos feministas, a entrada da mulher no lósofa norte-americana, um ousado e van-
mercado de trabalho, o surgimento da pílula guardista trabalho sobre o tema: Butler his-
anticoncepcional (distinção entre sexualida- toriciza não apenas o gênero mostrando seu
de e reprodução), a crise da família burgue- caráter performativo, mas também o corpo
sa nuclear (monogâmica e heterossexual), e o sexo, a fim de dissolver a dicotomia sexo
as políticas de visibilidade dos movimentos vs gênero.
LBGT, a despatologização das identidades Em Problemas de gênero - feminismo e sub-
trans, tudo isso provocou uma crise nas re- versão de identidade, sua obra de referência,
ferências simbólicas que utilizamos para ler Butler (2003) critica a ideia segundo a qual o
o mundo (Ceccarelli, 2016), levando-nos sexo é natural, e o gênero é construído.
a repensar os arranjos de Eros.2 A pergunta passou a ser: Em que momen-
Essas novas dinâmicas pulsionais e as to se dá a construção de gênero? Sobre o que
formas de conjugabilidade daí advindas re- se alicerça essa construção?
percutem nos movimentos inconscientes Por exemplo, a autora retoma a emblemá-
responsáveis pela excitação erótica. Tenho tica afirmação de Simone de Beauvoir – “A
recebido no consultório modalidades de gente não nasce mulher, torna-se mulher” –
prazer que só se tornaram possíveis devido para dizer que “não há nada em sua explica-
aos rearranjos nos papéis sexuais e sociais de ção [de Beauvoir] que garanta que o ‘ser’ que
gênero, ou seja, através de uma dissociação se torna mulher seja necessariamente fêmea”
sexo/gênero, e os avanços da medicina. Por (Butler, 2003, p. 27).
exemplo, homens que se relacionam com Com a entrada da biologia no campo do
homens trans, os quais mantêm alguma re- social, a autora sustenta o quanto seria ilusó-
ferência a seu sexo anatômico de origem; ho- rio acreditar na existência de uma identida-
mens que se relacionam com mulheres trans. de de gênero primeira por trás das inúmeras
expressões de gênero: tal “identidade” é per-
formativamente constituída, através da repe-
tição de atos, gestos, signos e outras séries de
2. Posições conservadoras, que contribuem para o elementos que, por sua vez, reforçam a cons-
debate, ainda existem: em julho de 2016 a Associação trução dos corpos masculinos e femininos,
Americana de Pediatria publicou um documento no
qual se posiciona radicalmente contra o que chama tal como os conhecemos.
de “ideologia de gênero”. A Associação considera um Para Butler não existem “[...] relações de
absurdo endossar a discordância de gênero em relação coerência e continuidade entre sexo, gênero,
ao sexo biológico. (Conf. Associação Americana de prática sexual e desejo” (Butler, 2003, p. 38).
Pediatras fulmina ideologia de gênero: é abuso infantil!
Disponível em: <https://centrodafamiliacj.wordpress.
c om / 2 0 1 6 / 0 7 / 1 3 / a ss o c i a c a o - am e r i c an a - d e - Gênero e psicanálise
pediatras-fulmina-ideologia-de-genero-e-abuso- O consenso é que não existiria em Freud
infantil>). uma “teoria de gênero”. Entretanto, uma lei-

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tura mais atenta dos textos freudianos nos Em Lacan ([1964] 1973), encontramos
revela outro cenário. No texto de 1908 Sobre uma passagem no Seminário 11 que, sem
as teorias sexuais infantis, Freud ([1908b] dúvida, nos remete a questões de gênero. Sa-
1976) nos fala de uma forma de classificação, bemos que as bases que sustentam as identi-
que atualmente chamaríamos de “segundo ficações constitutivas do Eu e as futuras es-
o gênero”, anterior à percepção da diferença colhas de objeto são vicissitudes das relações
anatômica (Ceccarelli, 2010). do recém-nascido com o Outro.
Nesse texto, somos convidados a nos des- Lacan escreve:
pojarmos de nossa “existência corpórea”, isto
é, de nos livrarmos das amarras da anatomia, [...] no psiquismo não há nada pelo que o
e como “seres puramente pensantes” nos sujeito possa situar-se como ser de macho
imaginássemos chegando à Terra: a primei- ou ser de fêmea [...] aquilo que se deve fazer,
ra coisa que chamaria nossa atenção seria a como homem ou mulher, o ser humano terá
existência de dois seres. Porém, e este é um sempre que aprender, peça por peça, do Ou-
ponto importante, a distinção que faríamos tro (LACAN, [1964] 1973, p. 228-229).
não levaria em conta a anatomia, isto é, a di-
ferença sexual. As teorias de gênero trouxeram descon-
Ao que tudo indica, para Freud existiria fortos e incômodos para o arcabouço teórico
uma classificação segundo o gênero, que se da psicanálise. Se o sexo é tão historicizável
daria antes da percepção da anatomia. Nesse quanto o gênero (Butler, 2003), isto é, res-
sentido, o gênero viria primeiro, embora seja ponde às posições ideológicas e de poder,
o sexo que o determine: é a partir da percep- como, então, repensar o masculino, e o fe-
ção anatômica que o gênero é atribuído ao minino que, para a psicanálise, são calcados
recém-nascido. Vemos que, para Freud, o no biológico? As teorias de gênero reformu-
sexo é natural: a anatomia é o destino.3 laram o enunciado “torna-se mulher”: “o que
E logo nas primeiras páginas do primeiro o sujeito pode se tornar, sendo (também)
dos Três ensaios (Drei Abhandlungen zur Se- mulher”? (Kehl, 1998, p. 5).
xualtheorie) Freud fala sobre Der populären Da mesma forma, dizer “fálico” vs “cas-
Theorie des Geschlechtstriebes (“a teoria trado”, “presença” vs “ausência” denuncia um
popular sobre pulsão sexual” (de gênero) discurso de valor que, de antemão, anula a
Freud, [1905] 1976). diferença pura, para valorizar um sexo (o que
E quando no célebre texto sobre o narci- possui, o que não é castrado) em detrimento
sismo Freud (1914) propõe estudar o tema do outro (o que não possui, o castrado).
através de três caminhos, o terceiro é Das Ora, a existência de uma diferença anatô-
Liebeslebens der Geschlechter “vida amorosa mica não está em questão. Entretanto, o dis-
entre gêneros” (Freud, [1914] 2004, p. 103), curso que surge a partir daí para falar dessa
enquanto na edição standard lê-se “a vida eró- diferença ou usá-la como sustentação de teo-
tica dos sexos” (Freud, [1914a] 1976, p. 98). rias, terá sempre uma dimensão política.
Para Bertini (2009), o sistema hegemôni-
co da diferença entre os sexos nada mais faz
do que apoiar a desigualdade entre os sexos
3. Considerações interessantes e ao mesmo tempo através de um poderoso dispositivo simbó-
críticas sobre esse ponto foram feitas por Jean lico. Muitas outras questões requerem uma
Laplanche. (Conf. LAPLANCHE, J. El género, el
reflexão mais detida: ao célebre “o que quer
sexo, lo sexual. Alter n. 2: El género en la teoría
sexual, Madrid, septiembre, 2006. Disponível em: uma mulher?”, devemos acrescentar “o que
<https://revistaalter.com/revista/el-genero-el-sexo- quer um homem?”, pois a partir do momento
lo-sexual-2/937>). em que o sexo passa a ser historicizado, faz-

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Psicanálise, sexo e gênero

se necessário repensar os “destinos” do sexo tam nossas classificações, assim como a per-
em contraponto ao texto freudiano de 1925 tinência à noção de estrutura.5
Algumas consequências psíquicas da distinção
anatômica entre os sexos. Ainda nessa pers-
pectiva, as fórmulas de sexuação propostas Considerações finais
por Lacan seriam pensadas com ‘uma teoria’ Para terminar, é importante dizer que não
sobre a diferença, mas não como um ‘modo’ acreditamos que as novas leituras das rela-
universal de subjetivação.4 ções entre sexo, gênero, desejo e orientação
O que se depreende de tudo isso é que o sexual constituam, de fato, novos paradig-
gênero se revela um operador importante, mas para se pensar as relações do sujeito
um potente auxiliar para pensarmos com com o pulsional, com a dimensão narcísica,
novos parâmetros e novos caminhos pul- com a alteridade, com a falta e com o Outro.
sionais, e a reavaliar as relações entre corpo, Se, para a psicanálise, as expressões do
sexo, construções identitárias e discurso do sexual estão atreladas aos processos identifi-
poder. catórios e as escolhas de objeto, cujo enredo
Na clínica, temos que rever nossas posi- é a dinâmica edípica protagonizada pelas vi-
ções teóricas. Sujeitos transgêneros, transe- cissitudes pulsionais, a sexualidade de cada
xuais, sujeitos não binários, e outras tantas sujeito é sempre uma construção singular.
nomenclaturas que surgem a cada dia se fa- Cada manifestação da sexualidade é uma
zem cada vez mais presentes, levando-nos a criação particular e única de Eros, devendo
pensar nas novas formas de sociabilidade daí ser entendida como uma solução no senti-
advindas. do matemático do termo: uma equação que
Até bem pouco tempo, tais sujeitos eram comporta diferentes variantes – corpo, amor,
classificados como portadores de um dis- desejo, gozo – frente às quais, tal como em
túrbio, de uma disforia – de identidade se- um sistema vetorial de forças, uma resultan-
xual, de gênero. Entretanto, nossas posições te, uma solução, será encontrada.
devem ser revistas a partir dos avanços teó- A “solução sexual” que cada um de nós
ricos: se, como vimos, o sexo não é natural, encontra traduz nossa tentativa de solucio-
e o gênero é performativo, o que haveria de nar os conflitos – reais ou imaginários – pre-
“patológico” em um sujeito que se diz sentir sentes desde o início da vida, para escapar
homem, mas cuja performance reflete o siste- ao sofrimento psíquico: a particularidade de
ma “feminino”? cada “solução sexual” responde ao equilíbrio
É por isso que, não raro, um transexual singular da dinâmica pulsional do sujeito.
pode, após a cirurgia que lhe atribui carac- O termo “neossexualidades” foi propos-
teres anatômicos femininos, manter relações to por Joyce McDougall (1997) para pensar
afetivo-sexuais com mulheres. Tudo isso tem em soluções encontradas por alguns sujeitos
levado a uma revisão dos “critérios de diag-
nósticos” em geral, além de questionar sobre
os parâmetros de normalidade que susten-
5. Philippe Van Haute apresenta duras críticas à noção
lacaniana de estrutura perversa. Para ele tal abordagem
reintroduz a ideia de “identidade diferencial”
desconstruída por Freud. “Ao fazê-lo, seus aderentes
arriscam cair em todo tipo de preconceitos morais
e sociais que são subsequentemente apresentados
como leis que estruturam a sexualidade [...] Desta
maneira preconceitos sociais e morais tendem a ser
4. Michel Tort (2000) faz observações muito imunizados da crítica e, no processo, eles adquirem
interessantes e pertinentes sobre este ponto. um estatuto ideológico” (Van Haute, 2017, p. 3).

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Paulo Roberto Ceccarelli

frente a movimentos pulsionais complexos e Abstract


traumáticos no início da vida.
Entretanto, apoiada no pressuposto freu- According to one author, in order to go back
diano segundo o qual toda sexualidade é to the dimension of the Freudian rupture it is
traumática, McDougall (1999, p. 25) se per- necessary to make a return to Freud in Freud.
gunta: “Finalmente, não se poderia propor, That is, a re-reading of Freudian text to avoid
então, que a totalidade da sexualidade huma- attributing to Freud things that he did not say.
na consistiria basicamente de neossexualida- From then on and based mainly on theories
des?”. of gender and the Queer Theory, we try to
Quanto conseguimos ouvir os novos ar- understand the new possibilities of subjectiva-
ranjos pulsionais sem teorizá-los com “des- tion, and constructions of identity, when the
vios” em relação aos arranjos “tradicionais” references of the feminine began to be presen-
e, mais importante ainda, sem que nos sin- ted from other parameters. We also evaluate
tamos ameaçados pelo retorno de moções the changes in the masculine and feminine
pulsionais recalcadas, esses arranjos afetivos discursive forms that force us to reevaluating
passam a ser entendidos como uma vicis- certain psychoanalytic assumptions such as
situde pulsional como outra qualquer: não identity constructions, the phallic-castrated
aquela que responde a normas socialmen- binomial called “sexual choice,” opening up
te estabelecidas e historicamente variáveis, new possibilities for diversity and singularities.
mas aquela que, em sintonia com o mundo
interno do sujeito, reapropria e reinventa a Keywords: Psychoanalysis, Sex, Gender, Sym-
polimorfia da sexualidade infantil em uma bolic changes.
relação de objeto.
Para que a psicanálise, que em um pri-
meiro momento foi libertadora ao denun- Referências
ciar a existência de outra cena que determina
nossas escolhas objetais não se transforme
em mais uma prática normativa, é necessário BERTINI, M.-J. Ni d ‘Eve ni d ‘Adam - défaire la
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que os psicanalistas façam constantes incur-
sões em seus conceitos de base para confron- BUTLER, J. Bodies that matter: on the discursive limits
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Há que levar em conta as mudanças sociais,
sob pena de ficarmos arraigados a teses não BUTLER, J. Le transgenre et les attitudes de révolte.
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Endereço para correspondência
E-mail: < paulorcbh@me.com>

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