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FREUD E A CRIAÇÃO DA PSICANÁLISE

PAULO MARCHON

Para que possamos compreender o processo de implantação da Psicanálise


no Brasil e o que levou Alcyon B. Bahia e seus colegas do Rio a se analisar em
Buenos Aires, nos anos quarenta, é imprescindível uma breve passagem por
Freud – o criador da Psicanálise – e os primórdios desta ciência. O resumo sucinto
da teoria freudiana, que apresentamos, tem sido objeto de inúmeros estudos e
reformulações que os diversos capítulos deste livro irão realçar. Em muitos
momentos, preferiremos transcrever as palavras do próprio Freud, para que se
conheça mais autenticamente sua linguagem e seu estilo, para que seja apreciada
a riqueza de suas imagens, sinta-se a facilidade para compreendê-lo e, assim, se
estimule o leitor a criar coragem para mergulhar no estudo da sua obra e tomar
contato com a sua grande criação – a Psicanálise. Desejamos também mostrar
que a genialidade dele não tem sido empecilho, pelo contrário, tem sido fonte
inesgotável de estímulo a que inúmeros pesquisadores em todo o mundo
trabalhem decisivamente para o desenvolvimento da Psicanálise. Este livro irá
mostrar a contribuição de brasileiros que, partindo do Rio de Janeiro, levaram a
Psicanálise aos quatro cantos do Brasil.

Freud nasceu em 1856, em Freiberg, na Moravia, que fazia parte do Império


Austro-húngaro. Depois da Primeira Guerra Mundial, sua cidade natal, recebeu o
nome de Príbor e agora está no território da República Tcheca e Eslováquia. Era
filho de uma família judia de recursos modestos, mas suficientes para lhe permitir
cursar a carreira médica. Quando o pequenino Sigmund contava quatro anos de
idade, sua família mudou-se para Viena, onde ele viveria até 1938, com mais de
oitenta anos. Nesta data, diante da opressão nazista, a insistência de amigos e
parentes, bem como um movimento empreendido por altas personalidades
mundiais levaram-no a se mudar para Londres. Um ano depois de sua ida para a
Inglaterra, ele optou pela eutanásia, ao perceber seu infrutífero sofrimento na luta
contra o câncer na boca. Foram dezesseis anos e inúmeras cirurgias para debelar

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a doença. Nada o impediu, porém, de trabalhar, até o fim de sua vida, na sua
criação – a Psicanálise.

Freud já era médico, especialista em neurologia e psiquiatria, com trabalhos


publicados sobre afasias e pesquisas neurológicas, quando se interessou
vivamente pelo caso de Anna O, cujo nome real era Berta Pappenheim, uma
histérica, com sintomas multivariados, que Breuer, um grande clínico e
pesquisador, tratara anos antes. Com ela, Breuer criou o método catártico, que
teria efeitos terapêuticos através da liberação das emoções patológicas. Em 1893,
Breuer e Freud publicariam, em Comunicação preliminar, suas idéias a respeito
das pesquisas conjuntas que empreenderam e que, mais tarde, apareceriam nos
Estudos sobre a histeria, presentes no segundo volume das obras completas de
Freud.

Em 1887, ele conheceu Wilhelm Fliess, que viria a tornar-se seu amigo mais
íntimo, a quem ele dedicaria muito do seu entusiasmo, de sua confiança, durante
muitos anos e com quem manteria intensa correspondência, atualmente publicada,
além de encontros caracterizados por troca de projetos e trabalhos científicos que
ambos desenvolviam. Sete anos depois, Freud escreveria para ele: “você é meu
único Outro”. Um Outro com inicial maiúscula. A relação que ele desenvolveu com
seu amigo exprimiria, de alguma forma, o laço emocional que envolve o que
posteriormente iria se transformar, através do trabalho de Freud e seus pacientes,
em uma relação importante para o desenvolvimento e a realização de seus
projetos científicos. Sabemos que, durante esta relação de amizade, Freud
realizou sua auto-análise e que muitos detalhes dela foram discutidos e
conversados com Fliess, que funcionou como um autêntico Outro.

Faltavam quatro anos para terminar o século XIX, em 1896, quando Emmy
von N., uma paciente de Freud, lhe pediu que a deixasse falar o que ela estava
pensando naquele momento e não a interrompesse, permitindo-lhe assim
expressar suas idéias sem interferências de perguntas e intervenções. Freud,
pacientemente, atendeu à doente. No modo de ver de Peter Gay (p. 82), o grande

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historiador e biógrafo de Freud, aquele momento teria sido tão decisivo que teria
levado Freud a comentar que ali ele teria criado “a terapia psicanalítica, a mais
sensata”. Ainda no dizer de Peter Gay, se algum dia existiu “um médico capaz de
converter seus erros em fonte de discernimento”, este médico foi Freud. Pouco
depois, com outra paciente, Elizabeth von R, Freud teria feito o que ele mesmo
considerava “a primeira análise completa de uma histeria”. Estamos falando dos
momentos da criação da Psicanálise. A paciente propôs a associação livre de
idéias, Freud aceitou-a e passou o resto de sua vida dedicando-se a apurar o que
dizer e também o que não dizer ao paciente. O analisando, ao expressar tudo,
toda e qualquer idéia, sentimento, fantasia, não importando o que fosse, sem
crítica ou censura, colocava para Freud seus próprios enigmas e, desde então, tais
enigmas têm mobilizado a mente de dezenas de milhares de psicanalistas do
mundo inteiro, na tentativa de compreendê-los. Ele estava com quarenta e três
anos de idade; contaria ainda com mais quarenta anos de vida para aperfeiçoar o
que ele iria interpretar ao paciente e a todos nós. Porque, na realidade, os
problemas dos pacientes, por mais anômalos que sejam, são problemas humanos
e, portanto, de todos nós. Daí podermos compreender que Freud, da sua clínica,
tenha desenvolvido uma extraordinária revisão na compreensão, no estudo e no
entendimento do ser humano. Seus escritos invadiram inúmeros ramos do saber,
revolucionando o conhecimento que o homem tem de si mesmo, pela força de
suas idéias e pelo enriquecimento constante que suas teorias produziam.
Mobilizou um questionamento fecundo sobre o mundo inconsciente e sua relação
dinâmica com nossa personalidade e nossa história pessoal.

Muitas idéias de Freud, tais como o inconsciente dinâmico, a sexualidade


infantil, o valor da interpretação dos sonhos para a compreensão dos processos
mentais, a importância da psicoterapia no cuidado do ser humano, que hoje fazem
parte do acervo cultural da Humanidade, foram intensamente questionadas na
época em que ele as propugnava e defendia.

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A auto-análise de Freud

Acreditar na auto-análise é não acreditar no poder do inconsciente e, muito menos,


no que o inconsciente pode fazer, mesmo sem Poder, quanto mais, podendo...
Exceções: Freud, M. Klein... e você? Quanto a mim, não!
Paulo Marchon

No prefácio de A interpretação dos sonhos, Freud escrevia que seu livro era
“parte da minha própria auto-análise; minha reação à morte do meu pai – isto é, ao
evento mais importante, à perda mais pungente da vida de um homem” (1900,
p.32). O pai de Freud faleceu em 1896. A tristeza de Freud, em virtude da perda,
foi excepcionalmente intensa. Em Psicanálise, não há como descartar a biografia
do seu fundador e separá-lo da ciência por ele criada. Freud fez de si mesmo o
campo maior de suas experiências. Ensina-nos Peter Gay:

O que deve interessar ao estudioso da psicanálise, em última instância, não é se


Freud tinha (ou imaginava) um complexo de Édipo, mas sim se sua asserção, de
que este é o complexo pelo qual todas as pessoas têm que passar, pode ser
comprovada pela observação independente ou experiências bem feitas. Freud não
considerava suas experiências pessoais como automaticamente válidas para toda
a Humanidade. Ele confrontou suas idéias com as experiências de seus pacientes
e, mais tarde, com a literatura psicanalítica. Passou anos e anos elaborando,
refinando, revendo suas generalizações (Gay, 1989, p. 97).

Com a morte de seu pai, Freud realizou uma revisão geral em sua vida.
Iniciou sua “auto-análise”, a única que é realmente reconhecida pela Psicanálise.
Alguém teria que ser o primeiro a passar pelas experiências de perceber e viver
seus dramas, mistérios, misérias e também grandezas; ver suas fantasias, todas
as possíveis, inclusive as edipianas, por si só. Em 15 de outubro de 1897, ele
escrevia a Fliess:

Não é nada fácil. Ser totalmente franco consigo mesmo é um bom exercício. Uma
única idéia de valor geral despontou em mim. Descobri, também em meu próprio
caso, o fenômeno de me apaixonar por mamãe e ter ciúmes de papai e agora
considero-o um acontecimento universal do início da infância.

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Mais à frente, na mesma carta, comentando Édipo-Rei, a tragédia teatral de
Sófocles, Freud afirmou:

A lenda grega capta uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um
pressente sua existência em si mesmo. Cada pessoa da platéia foi, um dia, um
Édipo em potencial ou na fantasia, e cada pessoa recua, horrorizada, diante da
realização de sonho ali transplantada para a realidade, com toda a carga de
recalcamento que separa seu estado infantil do estado atual.

Neste momento – 1897 – em que Freud compreende que os histéricos criam


seus sintomas, em que ele passa a valorizar a realidade psíquica, também
chamada realidade interna, em que ele reconhece essa impressão digital,
emocional, autenticamente nossa, marco da nossa individualidade – ele
complementou a criação da Psicanálise, trabalho esse que não teria fim.
Valorizando nosso mundo de fantasia, o que se passa em nossa mente
consciente, nossa história pessoal, nosso passado infantil, nossas agruras, nossas
vitórias, deu nova vida ao dia-a-dia das fantasias que criamos quando estamos
acordados, nossos day-dreamings, nossos devaneios, nossos desejos, nossos
sonhos, nossos pensamentos e sentimentos, quaisquer que eles sejam. Freud
criou um método de acesso ao inconsciente – o da associação livre de idéias —
campo fértil que permite ao psicanalista ficar por ali, ciscando como um passarinho
com sua atenção flutuante, deixando-se envolver por todo aquele clima emocional,
pronto para gerar e agarrar, de assalto, a interpretação esquiva e fugidia.

Nos sonhos, encontrou Freud, in status nascendi – no nascedouro – o


trabalho do inconsciente. Sem nenhum controle consciente, dormindo, podemos
viver as situações mais extraordinárias. O íntimo de nossa alma pode estar ali
expresso à procura de um intérprete. Freud forneceu as primeiras condições
científicas para permitir tal trabalho, organizando, posteriormente, os modelos para
a formação de especialistas nesta função – os psicanalistas. Voltemos ao livro A
Interpretação dos sonhos, onde está escrita parte da auto-análise de Freud – a
parte que pôde ser escrita. Freud considerou a compreensão do sonho como
sendo a via régia — o caminho por excelência para o inconsciente. Ele comentou

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que desejava escrever A Interpretação dos sonhos para se livrar do mau-humor
que o atormentava. Não são necessárias muitas luzes psicanalíticas para
compreender que escrever o livro, dar-lhe conteúdo e forma era uma maneira de
ele continuar sua análise e tentar a cura muito mais ampla do que, apenas, do seu
mau-humor. Sem o perceber, ele estava realizando modificações profundas em
sua personalidade. A Psicanálise desse momento crucial e importantíssimo que
gerou o livro – a morte do seu pai – possibilitou criar também um outro Sigmund
Freud, inteiramente diferente do simplório autor da teoria da sedução como causa
da histeria e dos distúrbios emocionais, surgindo, então, um grande cientista, de
notável capacidade e profundidade psicológica, que iria participar e interferir
fundamentalmente, daí em diante, na História do Pensamento Humano.
Evidentemente que Freud sempre deu valor à sedução como fator traumático na
vida emocional do ser humano. O que ele considerou como sendo inválida foi a
sua teoria da sedução como o fator etiológico único da histeria.

Mas vamos mergulhar um pouco mais na História. Na noite de 23 para 24 de


julho de 1895, cinco anos antes da publicação do livro dos sonhos, Freud estava
de férias, na estação de veraneio de Bellevue, nas cercanias da maravilhosa Viena
de então, quando sonhou o célebre “sonho da injeção de Irma”, o primeiro sonho a
ser interpretado por ele. Ernest Jones, o psicanalista fundador da poderosa e
criativa Sociedade Britânica de Psicanálise, autor da magistral biografia de Freud,
em três volumes, nos conta, anos e anos depois:

Certa vez Freud levou-me a almoçar no Restaurante Bellevue, onde ocupamos a


mesa do ângulo nordeste do terraço. Ali teve lugar o grande acontecimento.
Quando fiz [disse Jones] o natural comentário acerca de uma placa que
consignasse o feito, ignorava eu que já anos atrás, meio a sério e meio de
brincadeira, Freud perguntara a seu amigo Fliess, em uma carta, de 12 de junho de
1900, se lhe parecia que alguma vez haveria ali uma placa de mármore com a
seguinte inscrição: 'Aqui foi revelado ao doutor Sigmund Freud o segredo dos
sonhos, no dia 24 de julho de 1895' (1959,volume I, p.365).

Muitos anos depois, em 1931, já bafejado pela glória, ele diria, no prefácio da
terceira edição inglesa revista de A interpretação dos sonhos: “[este livro] contém,

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mesmo de acordo com meu julgamento atual, a mais valiosa de todas as
descobertas que tive a felicidade de fazer. Um discernimento (insight) claro como
este só nos acontece uma vez na vida” (1900, p.38). E Freud nunca mais parou de
interpretar sonhos, os próprios, dos filhos, dos pacientes, amigos e inimigos. Na
época em que estava escrevendo o livro, Freud mudou até o seu lugar de dormir,
para, assim, ele poder recordar dos sonhos com mais fidelidade e facilidade: “Por
várias semanas me vi obrigado a mudar meu leito usual, por outro mais duro, no
qual tive sonhos numerosos ou mais vívidos, ou nos quais não me foi possível,
talvez, alcançar o grau usual de profundidade no sono (1959, p.364)”.

Façamos agora um breve passeio, à vol d'oiseau, sobre o sonho como uma
realização de um desejo. Meynert, o grande neurologista da época, havia descrito
um quadro psicótico, por ele denominado “amência”, hoje conhecido como uma
“psicose alucinatória aguda”. Pois bem, Meynert chamou a atenção para o fato de
que o conteúdo dos delírios e das alucinações era uma realização de desejos. Um
paciente de minha clínica particular, simplório, troncho, desajeitado e desprezado
pelas mulheres, alucinava em pleno consultório, uma famosa artista brasileira que,
há tempos, ousava aparecer nua nas telas. Ele mandava a moça ir vestir-se
decentemente para que ela pudesse ser apresentada a mim. Parece-me que o
desejo dele de dominar mulheres famosas era flagrante. Um outro paciente, um
alcoólatra que abandonara o vício, de forma taxativa, sonhava freqüentemente
estar bebendo. Griesinger, um renomado neurologista e psiquiatra da época,
chamava a atenção para o fato de que nos sonhos e nas psicoses a realização de
desejos fosse traço comum. Imagino que seja desnecessário afirmar que,
fenomenologicamente, sonho e delírio, sonho e alucinação sejam dados emocionais
que observam também diferenças flagrantes do ponto de vista psiquiátrico. Estamos
apenas a sublinhar suas semelhanças.

O paciente que nos afirma ser Napoleão, ser o próprio conquistador da


Europa, embora esteja internado em um hospício, comendo um prato de feijão
azedo, demonstra o que Griesinger, Meynert e Freud nos apontaram: uma
realização de desejos. Afinal, o verdadeiro Napoleão mobilizou não apenas a

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mente de Julien Sorel, personagem célebre do renomado romance O vermelho e o
negro, de Stendhal, como também a dos homens da época. Ainda hoje,
Napoleão é um estímulo a quem deseja conquistar o mundo. O renascimento do
Nazismo, inclusive aqui no Brasil, mostra como a mente humana é susceptível às
tentativas de realizar desejos, principalmente o de conquistar o mundo. O delírio
tem equivalência com o sonho. Em ambos, nós podemos pensar que somos Napoleão,
um Napoleão que não teve Waterloo. Dormindo na cama, podemos conquistar o
mundo e, ao acordar, burguesamente, na manhã seguinte, tomar um alentado café
e ir para a faina diária, lutar pelo glorioso pão nosso de cada dia.

Na sintomatologia da histeria, se observa alguma coisa errática que é a


matéria dos sonhos; nela se vêem o polimorfismo e a mutabilidade dos sintomas
que ora afloram em um local, ora noutro. Além do mais, as paralisias dos
histéricos estão desconectadas em relação à normalidade neurológica. O
histérico faria suas paralisias obedientes àquilo que ele supõe que seja a função
do órgão, desprezando a ciência anatômica. O famoso “bolo histérico” não
encontrava nenhum amparo orgânico. As hipóteses médicas de então, que
tentavam explicar os fenômenos, baseavam-se fundamentalmente nas idéias
de degeneração mental. Freud percebeu que os sintomas possuíam um
sentido. Sua tarefa era de explicar este sentido. As neuroses, para ele, eram
explicadas através do conceito de defesa. Esta – a defesa – implicava um
processo que se desenvolvia no ego, que, ao repelir uma idéia intolerável,
daria lugar à criação do sintoma.

Freud considerou o sonho como sendo um “produto” semelhante ao sintoma


do neurótico. Aplicou então à compreensão do sonho o mesmo processo que
vinha empregando em relação ao sintoma. Havia algumas razões a mais que o
levaram a isso: durante a análise, freqüentemente, os pacientes contavam seus
sonhos, junto com associações de idéias que facilitavam a compreensão das
neuroses. Observou também que resistências, do mesmo tipo daquelas que os
pacientes apresentavam diante dos sintomas, surgiam também na hora de se

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haverem com a interpretação de seus sonhos diante de um analista e assim por
diante.

Colocando lado a lado sonho e sintoma, havia também que se consignar uma
divisão, uma separação importantíssima para a teoria de Freud, entre o sonho como
ele era vivido e formulado pela pessoa, ou seja, a parte consciente do sonho, ou
como passou a ser chamada, seu conteúdo manifesto e, por outro lado, a parte
inconsciente – o seu conteúdo latente. Em termos mais simples: a pessoa, ao nos
contar o sonho, nos traz o conteúdo manifesto do mesmo e, se for nosso paciente,
dentro das condições psicanalíticas clássicas, associa idéias ao sonho, ou a algu-
mas partes dele e com estes dados cabe ao analista tentar descobrir o conteúdo
latente.

O trabalho do psicanalista é o de desvelamento do sonho para chegar aos


desejos iniciais, inconscientes, ao conteúdo latente e, assim, ele e o paciente lutam,
porfiam e tentam arejar a mente dos dois – porque ninguém trata sem se tratar e ser
tratado. Todos nós, seres humanos, do mais simples e humilde ao maior gênio, nós
nos tratamos o tempo todo e em todos os momentos de nossa vida e também
somos tratados pelos nossos parentes, amigos, colegas e pelo mundo em geral.
Muitas pessoas conseguem realizar isto de uma maneira esplêndida. Outros
atingem uma condição apenas razoável nesta tarefa, enquanto uma parcela,
digamos numerosa, por certo melhor se daria se procurasse alguma ajuda
psicanalítica.

Imaginemos, então, um desejo inconsciente que se aproveita do momento


em que as defesas da pessoa abaixam a guarda, como durante o sono;
acrescentemos ainda o fato de que a pessoa dormindo está com a parte motora
sob controle, ou seja, há uma relativa convicção de que ela não irá se projetar pela
janela, que irá continuar deitada e, então, essa pessoa estará com plena
liberdade para sonhar que é o Super Homem e iniciar seu vôo pelos caminhos da
onipotência, permitida pelos sonhos.

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Há motivos para que, atualmente, alguns creiam que nós – os seres humanos
– seríamos essencialmente psicóticos e que, à noite, precisaríamos deste retorno a
nós mesmos, à nossa mais íntima intimidade, mergulhando no sonho, no mundo do
tudo é possível, tudo é permitido e tudo é realizado, numa psicose em que a
camisa-de-força é a doce, acolhedora, aconchegante cama, para que
pudéssemos, depois deste banho de psicose noturna, estar em condições de
retornar aos pagos da nossa simples neurose do dia-a-dia.

Para que o desejo inconsciente possa ser sonhado, ele precisa passar pela
censura. A solução que ele tem é a de se modificar e, até mesmo, se deformar.
Uma destas maneiras é a de condensar em uma imagem, palavra ou idéia
única, diversas e até antagônicas intenções e, assim, mascarar o desejo
verdadeiro. Outra forma é a de deslocar sentimentos, idéias, fantasias, o que for,
para obter passaporte e a censura abrir passagem. Por exemplo, uma pessoa,
cujos desejos onipotentes estão sob censura, sonha que um amigo estaria
voando, com um imenso S no peito, sobre as praias e ruas da cidade, satisfazendo,
assim, seus desejos sob o manto de outrem. Depois de passar por todas as
barreiras, o sonho precisa obter ainda uma vitória a mais sobre a censura – ser
lembrado. Depois desta batalha, restará outra – vencer a censura consciente – e
ser contado. Ao final, uma outra batalha: ser interpretado.

Sobre a realização dos desejos, Freud conta o delicioso sonho de sua filha,
que se tornaria a famosa Anna Freud. Quando Anna estava com apenas dezenove
meses de idade, ela vomitara pela manhã, o que levou os pais a colocarem-na sob
dieta bem severa. À noite, ela, dormindo, gritava, agitada: “Anna molango, molango
silvestre, melete, pudim”. Era um cardápio bem variado para quem sofrera as
agruras de um jejum severo. Com os adultos, o problema da realização dos desejos,
comumente, não é tão direto assim e a situação é mais complexa, o que levou
Freud a estabelecer a sua formulação final: “O sonho é a realização disfarçada de
um desejo reprimido”.

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O sonho de angústia não seria uma refutação a tal teoria, pois é um sonho
que representa um desejo produzido no inconsciente, mas que é rejeitado pelo
resto da mente. Desta forma, o sonho manifesto pode ser carregado de angústia e
estar satisfazendo, por exemplo, um desejo de punição.

As experiências do dia anterior, mas, fundamentalmente, a nossa infância


constituem os móveis do sonho. Nestes dados, vai trabalhar a censura. A censura
comumente obriga a que o desejo tome um fato de somenos importância do dia-
a-dia, para que, ancorado nele, possam vir à consciência os desejos inconscientes,
disfarçados desta forma.

O sonho padrão da realização de desejos no adulto, o primeiro a ser


mencionado por Freud, é um sonho de um estudante de medicina, Emil
Kaufmann, sobrinho do famoso Joseph Breuer, o grande cientista do não menos
famoso reflexo de Hering-Breuer, amigo e mentor de Freud. O jovem estudante
fora despertado, de manhã, pela governanta, para ir trabalhar no hospital.
Cansado, caiu no sono de novo e sonhou que estava na enfermaria, trabalhando
feliz e contente, até novo chamado à realidade, por parte da governanta, o que o
levou a sair correndo, às pressas, rumo ao hospital. Como se vê, também neste
“sonho do estudante preguiçoso”, a teoria do sonho como guardião do sono já se
anunciava. Em 9 de junho de 1899, Freud escreveu a Fliess: “… toda a questão se
resolve em um lugar comum. Todos os sonhos procuram a realização de um
desejo, que se viu multidividido e transformado em inúmeros outros desejos. Mas
este grande desejo é o desejo de dormir. Nós sonhamos para não acordarmos,
porque desejamos realmente dormir. Tant de bruit...”.

A expressão francesa completa, tant de bruit pour rien, que significaria “tanto
barulho por nada”, indica que se trata de algo sem maior importância. Porém,
mesmo que atender ao nosso desejo de dormir fosse a única função do sonho, já
estaríamos diante de algo de extraordinário valor. A simples necessidade do ser
humano de dormir e o que ele realiza através do sono e do sonho ainda não foram
suficientemente estudados pela ciência, não obstante todos os esforços da

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psicanálise e da neurociência. Estamos nos primórdios do conhecimento, dizia Ilya
Prigogine, Prêmio Nobel de Química. Afinal, não é assim tão simples dormir. Os
insones que o digam...

Em 1926, Freud admitiu que os sonhos traumáticos – aqueles que evocam


acidentes ou traumas adultos e infantis – poderiam estar fora deste esquema.
Porém, mesmo estes sonhos, se os visualizarmos sob o ângulo do desejo de aliviar
o trauma, elaborando-o, ou seja, tentar através do sonho dominá-lo, tratá-lo,
poderemos ainda mantê-los dentro do princípio geral da realização de desejos – o
desejo de subjugar o trauma, vencê-lo e, assim, nos curarmos.

Consideramos estas questões técnicas de saber se é fato ou não que o


sonho seja uma realização de desejos algo de somenos importância face ao
extraordinário acesso que se pode ter, através do sonho, ao nosso mundo
desconhecido. O psicanalista Donald Meltzer comparou a Interpretação dos sonhos
de Freud com a história do homem de muitas terras e muitos filhos. Ao morrer,
deixou-lhes como herança as terras, ao mesmo tempo em que fazia constar do
testamento o fato de que havia escondido uma grande fortuna em ouro, enterrado a
apenas um palmo abaixo da superfície da terra. Os filhos colocaram mãos à obra.
Reviraram a fazenda toda, não acharam tesouro nenhum em forma de ouro, mas,
sem o perceber, na sua procura frenética do tesouro, araram a terra e, assim, fizeram
da fazenda paterna uma extraordinária fonte de riqueza. Da mesma forma, Freud
revolveu sua mente, feito que o levou a descobertas extraordinárias, que têm
propiciado a algumas pessoas desenvolvimentos bem razoáveis em suas vidas
pessoais.

A respeito da auto-análise, em uma carta a Fliess, em 14 de novembro de


1897, ano em que realmente a Psicanálise realizou o seu début no mundo das
ciências, Freud dizia: “Minha auto-análise continua interrompida. Descobri o motivo.
Só posso me analisar com conhecimentos obtidos objetivamente (como um
estranho). A verdadeira auto-análise é impossível, do contrário não haveria doença
[neurótica]”.

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Porém o ineditismo, o fato de Freud ser o primeiro, permitia-lhe a incoerência
e lhe dava autorização para realizar o impossível – a auto-análise. Desta forma,
nesta mesma carta, ele lembrava a Fliess: “o paciente mais importante sou eu
mesmo” e “depois de minha viagem de férias, minha auto-análise, da qual não
havia o mínimo traço, reiniciou-se subitamente”. E ele ainda iria dizer,
posteriormente, a Paul Schilder, que os pioneiros não se orgulhavam de não se
haverem submetido à Psicanálise e comentaria que, mesmo entre eles, “Jones e
Ferenczi, por exemplo, fizeram longas análises” . Em relação a si mesmo, Freud
comentou que se “poderia talvez reivindicar o direito a uma posição
excepcional” Peter Gay defende a seguinte posição:

De modo bastante interessante, Freud não estabelecia uma sólida equivalência


entre seu auto-escrutínio e uma análise completa. Em sua popular Psicopatologia
da vida cotidiana, Freud se referia a ele em termos modestos, chamando-o de
“observação de si mesmo”. Olhando retrospectivamente para 1898 como “comecei,
aos 43 anos, a dirigir meus interesses para os resíduos, em minha memória, de
minha própria infância”. Isso soa menos rígido, menos exaltado, certamente menos
grandioso do que “auto-análise” (Gay, 1989, pp.103-104).

Como temos procurado mostrar, A interpretação dos sonhos não se limita aos
sonhos, pois é também uma autobiografia psicanalítica sincera, embora cautelosa,
valendo não apenas pelo que revela, mas também pelo que não revela e até
pelo que conta que não conta, mesmo quando Freud confesse que isto é o que
mais contaria.Lá, nós vamos mergulhar nas lutas entre os desejos e as defesas, as
revelações e as censuras, conhecer o mundo médico vienense em que Freud vivia,
com suas rivalidades, suas mazelas, mas também seus imensos valores. Veremos
a sociedade austríaca ir mergulhando no anti-semitismo, celeiro e nascedouro de um
austríaco diabólico, Adolph Hitler. Em A interpretação dos sonhos, vamos estudar
um paciente chamado Sigmund, suas aspirações, seus problemas, suas tentativas
de soluções, suas pequenezas, seus fracassos, seus ciúmes, invejas, fraquezas e
hostilidades; enfim, um mergulho no mare-magnum da sofredora alma de um
homem. Iremos também nos enriquecer com o extraordinário repositório de belas
passagens de Goethe, Shakespeare, Sófocles, Heine, uma demonstração de
perspicácia, cultura, inteligência e capacidade de um homem a lutar gloriosamente,

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sofridamente, no esforço estrênuo, denodado para conquistar a verdade, a
dignidade, a nobreza, a maturidade e a sabedoria, tarefa ingente, árdua e penosa
que jamais terá fim para todos nós.

Freud dialogou consigo mesmo na sua auto-análise. Normalmente,


consideramos que a psicanálise só passa a existir quando se torna um diálogo
em que se estudam as emoções despertadas e desencadeadas em um processo
a dois – analista e paciente. Freud descobriu a transferência, um fenômeno
básico do ser humano, elo que imanta toda relação humana e que traz o passado
do paciente para o momento presente do seu contacto com o analista. Esse fator
fundamental, a transferência, torna indispensável o Outro, o psicanalista. E,
assim, a Psicanálise se transforma em um processo fundamentalmente
emocional, ou seja, neste dialogo, analista e paciente recriam a verdadeira
Psicanálise. Verdadeira porque foi criada pelos dois, baseados na análise a que
o psicanalista se submeteu e ao conhecimento teórico que ele adquiriu, integrou
e desenvolveu.

No livro O esboço de Psicanálise (1938, p.185), Freud iria realçar a


importância da interpretação dos sonhos:

A experiência mostrou que os mecanismos inconscientes que viemos a conhecer


através do estudo da elaboração onírica e que nos forneceram a explicação da
formação dos sonhos também nos auxiliam a entender os enigmáticos sintomas
que atraem nosso interesse para neuroses e psicoses. Uma semelhança dessa
espécie não pode deixar de despertar grandes esperanças em nós.

A International Psychoanalytical Association (IPA) e as Sociedades


Psicanalíticas

Em 19l0, Freud fundou a International Psychoanalytical Association (IPA),


que, desde então, dele recebeu atenção e cuidados permanentes. Através dela,
Freud pretendia salvar o “ouro puro” da psicanálise. Em 1921, a IPA traçou as
normas para a assim chamada formação psicanalítica. A formação de um
psicanalista consta de um curso teórico e supervisões de casos clínicos. Tudo isso

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lastreado por uma longa e meticulosa análise pessoal. Ou seja, para se tornar
analista o candidato precisa se submeter à psicanálise, como qualquer paciente. É
possível que se pretenda para o candidato a psicanalista uma análise até mais
profunda do que a dos pacientes comuns. Na aspiração a uma real mudança de
personalidade, a Psicanálise reconhece que o trabalho árduo a que analista e
paciente se propõem, envolve um esforço que se estende por anos – e não
apenas meses – e, além disso, implica várias sessões por semana, com o mínimo
de quarenta e cinco minutos cada. É indispensável uma continuidade e um
acompanhamento constante durante a análise e, por esse motivo, a intensa
freqüência semanal é desejada e indispensável. Os menores e mais singelos
dados emocionais têm imensa importância e merecem a máxima consideração na
análise.

O curso teórico originou, na maior parte das sociedades psicanalíticas


espalhadas pelo mundo, longos e profundos estudos, que se prolongam além dos
quatro anos, período em que candidatos e professores mergulham na obra de
Freud, bem como na de outros psicanalistas, tais como Melanie Klein, Bion,
Winnicott, Abraham, Ferenczi, Kohut, Lacan, Green, Fairbairn, Ernest Jones, Anna
Freud e muitos mais. Todos esses mostram suas concordâncias e discordâncias
em relação ao mestre vienense. As reuniões clínicas das sociedades, os grupos
de estudos, as jornadas científicas locais, os congressos nacionais bem como os
internacionais, a publicação intensa de trabalhos clínicos e teóricos, mantêm o
ritmo de uma educação psicanalítica continuada para uma plêiade de analistas no
mundo.

Os cursos teóricos implicam a necessidade de os analistas manterem


constante desenvolvimento pessoal e científico para ocuparem as funções de
professores. A instituição da figura do analista didata, não obstante todas as
críticas que se possam fazer à mesma, ainda assim teve seu aspecto positivo no
sentido de mobilizar um trabalho imenso dos analistas, durante anos e anos, para
atingir o cumprimento das etapas graduais de ascensão científica dentro de suas
próprias sociedades e, conseqüentemente, paridade no conceito internacional. É

15
inegável que, através disso, como em qualquer atividade científica ou acadêmica,
se estimulou o desenvolvimento dos psicanalistas e da psicanálise. A ligação das
sociedades com a IPA trouxe também benefícios claros ao manter uma política de
“requisitos mínimos” para a titulação de analistas, embora haja criado conflitos e
perdas para as Sociedades, devido a abusos cometidos e ingerências realizadas.
Têm ocorrido uma democratização progressiva e uma universalização da
International Psychoanalytical Association, que culminam, em 2005, com a
realização do 44º Congresso Internacional de Psicanálise no Rio de Janeiro e a
posse do novo presidente eleito da IPA, Dr. Cláudio Laks Eizirik, primeiro brasileiro
eleito para esta função e segundo latino-americano a conquistá-la.

Atualmente, a IPA conta com 11.000 membros. Se considerarmos todas as


suas sociedades componentes, agregando os chamados “study groups”, bem
como os institutos de formação psicanalítica, o total de entidades chega a 143
instituições em todo o mundo. No Brasil, em torno de 1000 psicanalistas e cerca
de 650 candidatos constituem a Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI).
Formam a FEBRAPSI doze Sociedades dentro do modelo da IPA: Sociedade
Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro,
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, Sociedade Psicanalítica de
Porto Alegre, Sociedade Psicanalítica do Recife, Sociedade Psicanalítica de
Pelotas, Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, Sociedade de
Psicanálise de Brasília, Sociedade Psicanalítica de Ribeirão Preto, Associação
Psicanalítica do Estado do Rio de Janeiro Rio-4, Associação Psicanalítica Rio-3 e
Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul. Também fazem parte da
FEBRAPSI onze Núcleos Psicanalíticos: Curitiba, Belo Horizonte, Espírito Santo,
Marília e região, Goiânia, Natal, Fortaleza, Maceió, Florianópolis, Aracaju, Santa
Catarina e Campinas e região.

O Núcleo Psicanalítico é uma entidade reconhecida pela Associação


Brasileira de Psicanálise, de acordo com o artigo 38 do seu Estatuto.

16
Art. 38 – NÚCLEO PSICANALÍTICO é denominação dada a um grupo e
psicanalistas filiados a uma ou mais Sociedades do Brasil, componentes da IPA,
ou profissionais que fazem a sua formação psicanalítica por intermédio ou com
assistência de uma ou mais Sociedades componentes da IPA existentes no Brasil,
que se organiza, sob o patrocínio de uma ou mais Sociedades componentes da
IPA existentes no Brasil, com o fim de atingir a condição de Grupo de Estudo e,
posteriormente, Sociedade Provisória, quando será supervisionado diretamente
pela IPA. A seleção, análise didática, o curso teórico, as supervisões e a
graduação dos componentes dos núcleos psicanalíticos serão da exclusiva
responsabilidade da(s) Entidade(s) Federada(s) que aceitaram o grupo em questão
para esse fim específico.
§ 1º - Os padrões e formação devem ter por base os estabelecidos pela IPA.

O início da Psicanálise no Brasil

Em 1936, graças aos esforços de Durval Marcondes, chegou a São Paulo


Adelheid Koch, a primeira psicanalista a pisar em nossa terra. Lembremos que só
em 1938, dois anos depois de São Paulo, chegaram a Buenos Aires os primeiros
psicanalistas… Por outro lado, no Rio de Janeiro, alguns psiquiatras, sequiosos de
fazer a formação psicanalítica, tentaram, sem sucesso, a “importação” de um
psicanalista estrangeiro. Como não conseguissem seu intento, foram para Buenos
Aires, nos anos quarenta. Alcyon Baer Bahia, Walderedo Ismael de Oliveira,
Danilo Peretrello e sua esposa Maríalzira Perestrello iniciaram suas longas
análises pessoais – anos e anos de análise, cinco vezes por semana, em sessões
de 50 minutos – na capital portenha. Somente em 1948, aportaram no Rio de
Janeiro dois analistas estrangeiros: Mark Burke e Werner Walter Kemper.Os
estudos de Marialzira Perestrello e Ronaldo Victer oferecem detalhes a respeito
dessa história. A Revista Brasileira de Psicanálise, volume 28, número 3, de 1994,
aborda especificamente o tema “Psicanálise no Brasil – 50 anos de
reconhecimento pela IPA”.

Estudo da obra de Freud

Sugerimos iniciar o estudo da obra de Freud pela leitura de uma pequena


obra chamada Um estudo autobiográfico, escrita em 1924, para uma coleção de

17
personalidades famosas na época. Nela, Freud faz um resumo sucinto de suas
idéias e de como evoluiu sua teoria e prática no tratamento das doenças mentais e
na compreensão do ser humano. Em seguida, seria proveitosa a leitura das Novas
conferências introdutórias sobre psicanálise, escritas em 1932, e sua última obra,
O esboço de Psicanálise, escrito em 1938. Continuando as sugestões, teríamos:
Sobre os sonhos, O ego e o id, Além do princípio do prazer, O mal estar na
civilização, as histórias clínicas, A interpretação dos sonhos e, ao final, a obra
completa de Freud, inteiramente publicada pela Imago, perfazendo 24 volumes.
Entre as inúmeras biografias incluímos a de Peter Gay, Freud – uma vida para
nosso tempo e a de Ernest Jones, Vida e obra de Freud. Ambas contêm amplos e
profundos estudos da obra freudiana.

Freud considerava a existência de três instâncias no ser humano: Id, Ego e


Superego. Ao ego caberia a função de manter o organismo vivo, protegendo-o
através do sinal de ansiedade, bem como pela procura dos melhores meios de
obter satisfação, utilizando, para isso, os recursos menos perigosos. Tendo a
função de evitar a ansiedade e o desprazer, o ego se utiliza da sinalização, do
aviso de ansiedade, para mostrar que percebeu que estaria se aproximando de
algo que é conhecido como perigo, seja interno, seja externo e assim, tomar as
providências devidas. Além do mais, o ego teria ainda que observar as exigências
do mundo circundante. Todo esse trabalho teria que ser realizado ao mesmo
tempo, conjugando e desenvolvendo todas as suas capacidades. Em outros
termos, o ego teria que atender, simultaneamente, as exigências do id, do
superego e da realidade externa.

Ao superego caberia, fundamentalmente, o trabalho de dar limites às


satisfações pretendidas. Na primeira das três únicas referências que Freud faz a
Melanie Klein, ele disse que foi corretamente enfatizado por ela que “a severidade
do superego que uma criança desenvolve de maneira nenhuma corresponde à
severidade do tratamento com que ela própria se defrontou” (1930, p.133).
Sabemos, pela experiência clínica, que a severidade do nosso superego para
conosco é muito maior do que a severidade de nossos pais.

18
Quanto ao Id, lá estaria o verdadeiro propósito da vida do ser humano, o
“âmago do nosso ser”, a exigência de atendimento às nossas “necessidades
inatas”, a “parte mais antiga e mais importante” das pessoas (1938, p.158). Freud
chama de pulsões às “forças que presumimos existir por trás das tensões
causadas por essas necessidades” (1938, p. 158). Sendo assim, as pulsões
estariam nos limites entre o somático e o psíquico.

Em Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, Freud afirmava que:

O ego é a parte mais bem organizado do id, com sua face voltada para a realidade.
Não devemos exagerar demasiadamente a separação entre os dois e não
devemos nos surpreender se o ego, de seu lado, pode aplicar essa influência
sobre os processos do id. Acredito que o ego exerce essa influência colocando em
ação o quase todo poderoso princípio de prazer-desprazer por meio do sinal da
ansiedade. Por outro lado, mostra sua debilidade de novo, imediatamente após, de
vez que, pelo ato da repressão, renuncia a uma parte de sua organização e tem de
convir em que o impulso instintual reprimido se mantenha permanentemente
afastado de sua influência (1932, p. 96).

Revendo sua teoria da ansiedade, Freud concluiu de maneira taxativa que


seria a ansiedade que provocaria a repressão e não o oposto, que era sua teoria
anterior. Podemos compreender isso, reconhecendo a capacidade do ego de
realizar uma das suas principais funções, que é idêntica ao pensar normal. Desta
forma, o ego, ao perceber que, atendendo a uma determinada demanda do id, irá
criar uma situação de perigo, tem como solução esvaziar, suprimir ou paralisar a
demanda.

O pensar é um ato experimental executado com pequenas quantidades de energia,


do mesmo modo como um general muda pequenas figuras no mapa antes de
colocar em movimento seus grandes corpos de tropas. Assim, o ego antecipa a
satisfação do impulso instintual suspeito e permite efetuar-se a reprodução dos
sentimentos desprazerosos no início da situação de perigo temida. Com isso, o
automatismo do princípio de prazer-desprazer é posto em ação e agora executa a
repressão do impulso instintual perigoso (1932, p.92).

Com a evolução do conhecimento de Freud em relação aos conflitos


humanos, ele concluiu que a destrutividade teria que passar a integrar o corpo

19
teórico da Psicanálise. Daí ele intuiu a pulsão de morte. Acompanhemos o que
Freud escreveu em O esquema de psicanálise:

Depois de muito hesitar e vacilar, decidimos presumir a existência de apenas duas


pulsões básicas, Eros e a pulsão destrutiva. (O contraste entre os instintos de auto-
preservação e a preservação da espécie, assim como o contraste entre o amor do
ego e o amor objetal, incidem dentro de Eros). O objetivo da primeira destas
pulsões básicas – Eros – é estabelecer unidades cada vez maiores e assim
preservá-las – em resumo, unir. O objetivo da segunda – a pulsão destrutiva – pelo
contrário, é desfazer conexões e, assim, destruir coisas. No caso da pulsão
destrutiva, podemos supor que seu objetivo final é levar o que é vivo a um estado
inorgânico. Por essa razão, chamamo-la também de pulsão de morte” (1938,
p.161, os itálicos são de Freud).

Assim como a vida veio do inorgânico, o impulso natural é o de retornar à


condição anterior, ao inorgânico, sem vida, dessa forma se realizando a pulsão de
morte... As duas pulsões agem e interagem o tempo todo, em todos os seres,
colorindo e dando origem à multiplicidade dos fenômenos vitais. Assim, no simples
ato de comer, destruímos o objeto, incorporando-o dentro de nós mesmos e nos
dando vida. A energia de Eros – a pulsão de vida – é a libido. Ela tem por função
neutralizar as tendências destrutivas presentes em todo momento e em toda parte,
dentro e fora do ser humano. A libido provém de fontes somáticas, de diversos
órgãos e partes do corpo confluindo para o ego, que seria fundamentalmente
corporal. A libido é armazenada no ego, constituindo o narcisismo primário que
persiste até que a libido comece a investir nos objetos – o mundo fora do ego –
tornando-se então libido objetal.

Genitalidade e sexualidade

Para Freud, o conceito de sexualidade era muito mais amplo que o de


genitalidade. A formulação comum atribuída à sexualidade seria correspondente
ao ato sexual. A esta parte da atividade sexual Freud deu o nome de genital. Na
sexualidade, o criador da psicanálise incluiu certas atividades do bebê, como

20
aquelas com o mamilo, que ultrapassavam a simples necessidade de se alimentar
e apresentavam todo um colorido prazeroso. Daí em diante, Freud persistiu no seu
trabalho, despertando reações, por vezes, extremamente hostis às suas
concepções, que envolviam desfazer a inocência infantil. A conseqüência natural
da admissão da sexualidade infantil implicava o estudo do complexo edipiano e
sua extraordinária importância não apenas nas crianças e adolescentes, mas
também na compreensão da problemática adulta.

Instinto e pulsão

Freud utilizou apenas quatro ou cinco vezes a palavra instinkt, equivalente


ao nosso vocábulo instinto que, para ele e para os cientistas em geral, referia-se a
um tipo de comportamento animal pré-formado, ou, mais especificamente,
hereditário, que se revelava de modo relativamente invariável em todos ou quase
todos os indivíduos da espécie estudada e também relativamente invariável no que
diz respeito à sua realização. Exemplos seriam o do salmão, ao subir as
correntezas dos rios e o das tartarugas, a desovarem nas praias para refazerem o
ciclo vital.

A sexualidade humana não pode ser compreendida dentro deste conceito


de instinto, pois o objeto – aquilo a que tende o instinto – na sexualidade humana
é variável. As assim chamadas perversões – modalidades diferentes de satisfação
sexual – estão aí para mostrar como é “relativamente variável” o comportamento
sexual humano. Daí a palavra alemã trieb, traduzida por pulsão, bem mais
caracteristicamente humana, ter sido empregada por Freud em toda a sua imensa
obra, em vez de instinkt.

Nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise, em 1932, disse


Freud: ““Em uma pulsão podemos distinguir sua origem, seu objeto e sua
finalidade. Sua origem é um estado de excitação do corpo; sua finalidade é a

21
remoção desta excitação; no caminho que vai desde sua origem até a sua
finalidade, a pulsão torna-se atuante psiquicamente”. (p. 99)

No mesmo trabalho, Freud também menciona a importância de um quarto


fator, a pressão, a força de uma pulsão, mais especificamente, a trieb. Andrade
(1991, p.95-96) lembra que os estudos de Lorenz e dos etólogos levaram a que
eles preferissem se expressar em termos de “comportamento filogeneticamente
adaptado”, para evitar a palavra “instinto”. Quanto à capacidade de aprendizagem,
eles utilizam a expressão “comportamento adaptativamente modificado”. Para
Lorenz, “a própria capacidade de aprendizagem está pré-programada e é
transmitida por herança no comportamento filogeneticamente adaptado”. Ou seja,
há uma interpenetração de instinto e aprendizagem. A trieb freudiana teria esses
aspectos essenciais.

As diversas modalidades de satisfação sexual estão diretamente ligadas às


zonas erógenas. Elas se referem a uma parte da pele ou das mucosas em que os
estímulos de um determinado tipo despertam uma sensação de prazer. As zonas
erógenas principais são: oral, anal e fálica. Além destas zonas, qualquer parte do
corpo humano pode ser e, na realidade, é uma zona erógena. É necessário um
trabalhoso processo de síntese para que as pulsões parciais, aquelas que
emanam das diversas zonas erógenas, se submetam ao domínio da zona genital.
Fatores psicológicos, educacionais, ambientais, interferem decididamente nesta
longa caminhada, ocasionando inibições e regressões do desenvolvimento
libidinal, que têm importância fundamental nas neuroses e nas diferentes
modalidades de satisfação sexual, algumas delas com francas características
patológicas, tais como a pedofilia, que traduz a satisfação sexual com crianças, o
sadomasoquismo, a necrofilia e outras.

Como se pode depreender, o conceito de sexualidade de Freud abarca toda


a imensa gama de sensações e sentimentos de todas essas fases, cujas
repercussões na vida humana são eternas enquanto se dure, ao passo que o
genital envolve apenas o ápice aspirado de uma evolução sexual. Uns poucos

22
analistas, que acabaram por abandonar a psicanálise, defendiam a realização
sexual plena e livre, argumentando que a neurose não teria jamais se
desenvolvido se não houvesse ocorrido a repressão. O criador da psicanálise não
concordava, em absoluto, com tal simplista teoria, dizendo que isso significaria
regredir a psicanálise ao conceito de sexualidade que existia antes de Freud, ou
seja, considerar como sexualidade apenas sua parte genital. Por outro lado, Freud
é peremptório ao afirmar o conceito de sexual:

A obstinada persistência do bebê em sugar dá prova, em estágio precoce, de uma


necessidade de satisfação que, embora se origine da ingestão da nutrição e seja
por ela instigada, esforça-se, todavia, por obter prazer independentemente da
nutrição e, por essa razão, pode e deve ser denominada de sexual (itálico de
Freud, 1938, p. l66).

Para Freud, o conceito de consciente seria o mesmo do senso comum e da


filosofia. Fora isso, “tudo o mais que é psíquico, é, em nosso ponto de vista, o
inconsciente”. Ele estabeleceu uma divisão entre processos de fácil acesso à
consciência, ou seja, aqueles que podem ser lembrados, constituindo o pré-
consciente e os inconscientes, que não gozam dessa acessibilidade e que, através
de nossos esforços, podem vencer as resistências e se tornarem conscientes. No
conjunto de sua teoria, ele supôs ainda a existência de uma “energia nervosa ou
psíquica” que existiria sob duas formas. Numa delas, a energia estaria livre e,
somente após um trabalho de síntese, é que poderia prender-se e daí tornar-se
consciente. Para ele, o reino da energia livre seria o inconsciente, onde ela
circularia sem obediência a noções de temporalidade ou contradição, ignorando
qualquer lógica, baseando-se simplesmente no princípio do prazer, constituindo o
que ele chamou de processo primário. No âmbito do consciente, sob o regime do
processo secundário, a energia encontra-se presa, adstrita ao princípio da
realidade, e, portanto, às leis da lógica, sob o domínio inseguro do ego.

Focalizando o desenvolvimento do aparelho psíquico de uma pessoa, pode-


se observar uma tão grande ligação entre o id e o inconsciente, que se poderia
dizer: “no princípio tudo era id”. Depois alguns conteúdos do id se tornaram

23
conscientes, através do contato com a realidade externa, constituindo, assim, o
ego. Haveria no id um núcleo central que seria intocável, permanecendo sempre
inconsciente. A condição mental mais simples que se poderia imaginar seria
aquela em que alguns processos conscientes estariam presentes no contorno do
ego enquanto que todo o restante dos processos ficaria no ego inconsciente. É
possível que essa condição seja a predominante entre os animais.

Os pacientes que vêm ao tratamento conosco estão com seu ego


enfraquecido pelos conflitos, fato que dificulta ao ego a realização das suas
funções. As exigências do id levam o ego “a fazer grandes dispêndios de energia
em anti-catexias” (1938, p. 187). Ou seja, o ego emprega suas forças no sentido
de se desinvestir, se esvaziar, se descatexizar das pulsões e desejos
inconscientes que o sobrecarregam. Um ônus a mais para o ego seria o das
imposições, censuras e limitações advindas do superego. Este conjunto altera a
ação do ego e, por isso, a “sua relação correta com a realidade é perturbada ou
até mesmo encerrada” (1938, p. 187). Nos sonhos, como já vimos, este fato – a
interrupção do contato com a realidade – acontece corriqueiramente e, nessas
condições, vivemos como reais as coisas que sonhamos, enquanto sonhamos.

Nestes dados se baseia a psicanálise para ajudar os pacientes. O ego do


paciente nos promete que manteria a mais absoluta sinceridade e obediência fiel à
regra fundamental da entrega absoluta do que sente e pensa naquele momento.
Da parte do analista ele se colocaria numa condição de atenção flutuante, isto é,
sem objetivo específico, nem mesmo o de memorizar. O analista procuraria estar
naturalmente sem crítica, sem censura, sem pré-julgamentos, sabendo que o
paciente precisa trazer para dentro do consultório sua doença, seus conflitos, sua
agressividade e que suas desconfianças, suas limitações precisam penetrar na
análise, na relação dele com o psicanalista, justamente para que assim sejam
tratadas.

Mas o paciente não consegue se ater à realidade do psicanalista, pois vê


nele “o retorno, a reencarnação de alguma importante figura saída de sua infância

24
ou do passado e, conseqüentemente, transfere para ele sentimentos e reações
que, inevitavelmente, aplicam-se a esse protótipo” (l938, p.189). A transferência,
então, se torna de importância “inimaginável”, pois nela estão contidos todos os
sentimentos, sejam eles positivos, negativos ou hostis, da mais variada ordem e
índole. Através do exame destes problemas, na evolução da análise, observamos
as resistências do paciente ao tratamento. Tentamos transformar o nosso
conhecimento em relação ao paciente em um processo que se torne também
conhecimento do próprio analisando para ele mesmo e quanto a ele mesmo, de
maneira vivida e não ensinada.

Mas Freud não poderia deixar de apontar algo fundamental, que pertence à
natureza humana e que fustiga a nossa alma: “Quanto mais nosso trabalho
progride e mais profundamente a nossa compreensão interna (insight) penetra na
vida mental dos neuróticos, mais claramente se impõem à nossa observação dois
novos fatores, os quais exigem a mais rigorosa atenção, como fontes de
resistência (1938, p.193).

O primeiro é o sentimento inconsciente de culpa, enquanto o segundo se


refere à existência, em alguns pacientes, de um impulso auto-destrutivo, que os
leva a realizar ataques, de modalidades e intensidade variáveis, contra si mesmos.
A união destes dois fatores constituiria a necessidade de estar doente ou de
sofrer.

Apenas “desarmonias quantitativas” separam as neuroses de um lado e, do


outro lado, as pessoas normais. Freud defendia ainda a seguinte posição: “parece
que as neuroses são adquiridas na tenra infância – até seis anos – mesmo que
seus sintomas só venham a surgir mais tarde” (1938, p.198).

O ego se defende das exigências do id ou da realidade, que operam como


verdadeiros traumas através de regressões, verdadeiras fugas que irão conduzir a
limitações no desenvolvimento. Freud compara este processo ao que ocorre em
um ovo fecundado recentemente quando é atingido pela picada de uma agulha.
Esta faria dano muito maior, se fosse comparada à lesão realizada, mais tarde, em

25
um ovo mais desenvolvido. Daí adviria a importância dos fatores traumáticos,
quando ocorrem precocemente na infância. Freud mostra ainda a importância dos
fatores sexuais e lembra que “a maioria dos impulsos da vida sexual não são de
natureza puramente erótica, mas surgem de combinações da pulsão erótica com
parte da pulsão destrutiva” (l938, p. 200). As reações podem ser desde a inibição
da função sexual até as perversões. E todas demonstrariam o alcance das
repressões e da regressão a fases passadas da infância. Na sua conclusão final,
em relação às pulsões de vida, Freud definiu que Eros abrangeria não apenas as
pulsões sexuais, mas também as de auto-preservação, evidenciando assim seu
caráter de vida integral mesma. Freud defendia também a bissexualidade como
sendo algo imanente ao ser humano.

Vejamos como Freud descreve a relação inicial do bebê com a mãe:



O primeiro objeto erótico de uma criança é o seio da mãe que a alimenta; a origem
do amor está ligada à necessidade satisfeita de nutrição. Não há dúvida de que,
inicialmente, a criança não distingue entre o seio e seu próprio corpo; quando o
seio tem de ser separado do corpo e deslocado para o “exterior”, porque a criança
tão freqüentemente o encontra ausente, ele carrega consigo, como um “objeto”,
uma parte das catexias libidinais narcísicas originais. Este primeiro objeto é depois
completado na pessoa da mãe da criança, que não apenas a alimenta, mas
também cuida dela e, assim, desperta-lhe um certo número de outras sensações
físicas, agradáveis e desagradáveis. Através dos cuidados com o corpo da criança,
ela se torna seu primeiro sedutor. Nessas duas relações reside a raiz da
importância única, sem paralelo, de uma mãe, estabelecida inalteradamente para
toda a vida como o primeiro e mais forte objeto amoroso e como protótipo de todas
as relações amorosas posteriores – para ambos os sexos. Em tudo isso, o
fundamento filogenético leva tanto a melhor sobre a experiência acidental da
pessoa, que não faz diferença que uma criança tenha realmente sugado seio ou
sido criada com mamadeira e nunca desfrutado da ternura do cuidado de uma
mãe. Em ambos os casos, o desenvolvimento da criança toma o mesmo caminho;
pode ser que, no segundo caso, seu anseio posterior torne-se ainda mais forte.E,
por mais tempo que tenha sido amamentada ao seio materno, ficará sempre com a
convicção, depois de ter sido desmamada, de que a sua na amamentação foi
breve e muito pouca (1938, p.202).

Lendo a transcrição deste belíssimo trecho de Freud, Roberto Bittencourt


Martins chamou nossa atenção para o fato de que aí estaria um projeto imenso,
extraordinário para o futuro da psicanálise. Embora muitos psicanalistas estejam a
trilhar esse caminho, há muito que estudar e muito ainda para se saber e

26
conhecer. Daí podermos compreender a importância do complexo edipiano para a
criança. Tais fantasias sexuais conduziriam ao medo da castração. A amnésia que
temos em relação a este período de nossa infância é compreensível face aos
problemas emocionais que eles nos despertariam. Se um menino possui um forte
componente feminino da sua bissexualidade, ele propende a uma atitude passiva
em relação ao pai, semelhante àquela que ele veria na mãe, identificando-se com
ela. Freud considera que os efeitos do complexo de Édipo da menina se
expressam na inveja do pênis que ela percebe nos meninos, podendo levá-la ao
sentimento de inferioridade, que poderia conduzi-la a se desinteressar pela
sexualidade. As meninas que persistem no desejo de se transformar em meninos
poderão apresentar traços marcantes de afirmação de personalidade e, até
mesmo, se tornarem homossexuais. Tanto na menina quanto no menino, estamos
focalizando momentos ou tendências a fixações em determinados níveis de
conflito.

Em 1925, no trabalho “Algumas conseqüências psicológicas da distinção


anatômica entre os sexos”, Freud já sabia de sua doença – câncer na boca – e
também já estava idoso, o que o levou a escrever que não possuía mais um
“oceano de tempo” e, até pelo contrário, frisou que “o tempo diante de mim é
limitado”. Isto o levava a concluir: “Se eu penso que vejo algo novo, eu estou
incerto se poderei esperar por sua confirmação”. Ele demonstrava confiança nos
seus colegas e principalmente nas analistas mulheres para que pudessem, melhor
até que os analistas homens, desvendar o que ele chamava de continente negro e
insondável que seria a mulher. Sendo assim, ele “se sentia justificado em publicar
algo que necessita urgente confirmação antes de que seu valor ou falta de valor
possa ser decidido” (1925, p. 249). Em 1932, ele retornava a dizer que era
incompleto e fragmentário seu conhecimento sobre a psicologia da mulher.

Ele tentava justificar sua posição dizendo que à menina caberia um esforço
emocional maior do que o do menino, pois ela precisa realizar a passagem do seu
amor pela mãe e, depois, voltar-se amorosamente para com o pai. Tal passagem
permitiria a ela realizar sua predileção posteriormente, por um representante do

27
pai, um outro homem a quem ela irá se ligar afetivamente. No que diz respeito a
esse mundo primitivo da infância, Freud se agarrava a ele de modo muito intenso:
“não devemos desprezar o fato de que os primeiros impulsos libidinais possuam
uma intensidade que lhes é própria, superior a qualquer outra que surja depois, e
que pode ser verdadeiramente chamada de incomensurável” (1931, p.251, os
itálicos são meus). Em razão disto, ele tentava desconsiderar as objeções de
Karen Horney que julgava a inveja do pênis como sendo secundária, pois que ela
– a inveja – seria apenas utilizada para negar sua feminilidade e, principalmente,
suas fantasias em relação ao pai. Ernest Jones considerava a fase fálica feminina
limitadora do seu desenvolvimento feminino. Para ele, como para a maioria dos
analistas, a mulher nasce mulher. O desenvolvimento da psicanálise tem
evidenciado as dificuldades de Freud na elaboração de sua teoria sobre esse
tema. É importante frisar que fiéis seguidores de Freud como Jones, já em 1927,
mostravam suas objeções ao mestre (1931, p.251). Posteriormente, uma plêiade
de analistas, ente eles Melanie Klein, trabalhou de modo extremamente produtivo
com o eterno feminino, reformulando os conceitos freudianos e considerando a
feminilidade como um dote especial e essencial da mulher. Freud considerava a
libido como sendo a mesma para os dois sexos. Ele apontava que: “Uma das
coisas que remanesce no homem, da influência do complexo de Édipo, é um certo
desprezo, em sua atitude, para com as mulheres, a quem encara como castradas.
Nos casos extremos, isto dá origem a uma inibição em sua escolha de objeto…”
(1931, p.237).

Freud contesta totalmente a noção muito difundida e comum em certos meios


de que seja absolutamente impossível sentir um grande amor por uma pessoa,
sem que este amor seja acompanhado de ódio. Ele afirmava taxativamente que
uma condição amorosa bem límpida é possível entre pessoas adultas (1931,
p.242).

Em “Análise terminável e interminável” (1937, p.250), Freud afirma algo que


ele irá repetir em Esboço de psicanálise (1938, p.207):

28
Se perguntarmos a um analista o que a sua experiência demonstrou serem as
estruturas mentais menos acessíveis à influência em seus pacientes, a resposta
será: numa mulher, o desejo de um pênis; no homem, a atitude feminina para com
o seu próprio sexo, cuja pré-condição, naturalmente, seria a perda do pênis.

Como se pode observar, houve uma acentuação do conceito de inveja do


pênis, mas parece que os críticos de Freud e os psicanalistas de maneira geral
não têm dado o devido valor à contrapartida que tão claramente ele frisou no
homem: Num homem, a atitude feminina para com o seu próprio sexo (Os itálicos
são meus).

Freud pondera que a restrição à satisfação direta das pulsões conduziria a


que elas fossem obter realizações que teriam um cunho substitutivo, tornando-as
dessexualizadas e assim permitidas, como ocorreria nas sublimações. Muitas das
conquistas altamente consideradas do ser humano teriam sido obtidas “à custa da
sexualidade e através da restrição das forças motivadoras sexuais” (1938,
pág.214). Ele também observara que dentro da psicose mais franca há sempre
uma pessoa “normal escondida, a qual, como um espectador desligado, olhava o
tumulto da doença passar por ele” (1938, p.215). Esta divisão da personalidade
manifesta-se universalmente no ser humano e nos neuróticos de forma especial,
porque o ego do neurótico tenta, mas não consegue nunca apagar completamente
uma parte do mundo externo real ou desfazer por inteiro uma exigência do mundo
interno: “O resultado sempre reside em duas atitudes contrárias, das quais a
derrotada, a mais fraca, não menos que a outra conduz a complicações psíquicas”
(1938, p.217). A psicanálise mostra que a maior parte destas complicações são
inconscientes e que, se elas forem tratadas, analisadas, podem diminuir as
complicações de nossa vida.

O estabelecimento de um mundo interno através do interjogo entre o id e o


mundo exterior, dando lugar ao desenvolvimento das instâncias psíquicas do ego
e do superego, permite a evolução do senso moral cuja “fonte mais alta” não seria
a educação ou a vida social, mas sim os conflitos primitivos da alma humana
expressos na excessiva severidade do superego que não seguiria “um modelo

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real, mas corresponderia à força da defesa utilizada contra a tentação do
complexo de Édipo” (1938, p. 219).

Partindo do estudo da histeria, passando pela interpretação dos sonhos e


pelas tentativas de compreensão da psicose, Freud trilhou também os caminhos
da análise da cultura. Lançou ainda o olhar psicanalítico sobre o mundo primitivo
humano, sobre os grupos, a arte, a religião, a história, a literatura, a paz e a
guerra, o mundo humano enfim. Mostrou a universalidade dos conflitos humanos
inconscientes e realizou os primeiros passos para uma psicologia do humano.

Como já dissemos em trabalho anterior:

As idéias são patrimônio universal. O que nos importa, fundamentalmente, é a


escolha que delas fazemos, o uso e o destino que damos às mesmas.
Trabalhando-as e, se possível, ampliando-as, modificando-as, ou, talvez, quem
sabe, criando novas idéias, todas elas – alheias ou próprias – irão tornar-se nossas
e também do nosso torrão natal, pequeno ou grande, mas integrante de toda a
Humanidade (Marchon, 2004).

A obra de Freud já vinha despertando interesse no Brasil desde o final do


século XIX, com Juliano Moreira, o grande psiquiatra. Os brasileiros do Rio de
Janeiro que foram à Argentina, Alcyon Baer Bahia, Marialzira Perestrello, Danilo
Perestrello e Walderedo Ismael de Oliveira desenvolveram magnificamente, em
nosso país, a Psicanálise e permitiram que a ciência criada por Freud aqui tivesse
a repercussão extraordinária a que estamos assistindo e da qual este livro e seus
autores também participam.

Como o leitor irá tomar conhecimento, no desenvolver deste livro, antes


mesmo da ida e da volta desses três cavalheiros e uma dama, chamados
afetuosamente de “os argentinos”, trabalhavam ativamente no Brasil os
precursores e pioneiros. Um pouco depois, aportaram no Rio “os ingleses” –
analistas brasileiros que teriam ido realizar suas formações em Londres e que se
encontraram, ao retornar, com aqueles que se haviam formado nos divãs de Mark
Burke e Werner Walter Kemper.

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Entre muitos psicanalistas ilustres da magnífica geração que introduziu a
Psicanálise no Brasil escolhemos o nome de Alcyon Baer Bahia, porque ele
representa em muitos aspectos a Psicanálise em nosso país. Seu nome exprime
também o que podemos considerar como desenvolvimento e aplicação das idéias
psicanalíticas em nossa terra. Já em 1945, quando ainda no seu dizer era um
“psicanalista selvagem”, Bahia publicou Esboços de Psicanálise, livro de ensaios
que foram matéria de suplementos dominicais do Correio da Manhã. Por essa
época, Alcyon Bahia, Danilo Perestrello, Marialzira Perestrello e Walderedo Ismael
de Oliveira, como já dissemos anteriormente, foram se analisar com analistas
didatas da Asociación Psicoanalítica Argentina, ao mesmo tempo em que
cursavam as matérias teóricas da mesma, além de realizarem o tratamento de
pacientes sob a supervisão dos analistas, também didatas, de lá. Assim, atendiam
às exigências clássicas de uma formação psicanalítica nos moldes da International
Psychoanalytical Association, entidade fundada por Freud.

Esses pioneiros retornaram ao Brasil entre 1949 e 1950 e constituíram no Rio


de Janeiro o chamado “grupo argentino”. Reuniam-se, estudando psicanálise com
afinco, apresentavam trabalhos, divulgavam a Psicanálise e fundaram a
“Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro”, em 1951, uma entidade local, sem
vinculação com a IPA.

Nessa época, Bahia já havia introduzido a Psicoterapia de Grupo, realizando,


no Serviço Nacional de Doenças Mentais, a primeira experiência com grupos
especificamente terapêuticos no Brasil. Aplicava como método de seleção o teste
de Rorschach, colocando em prática, dessa forma, as idéias que, em 1949, ele
havia propugnado num artigo sobre “O Teste de Rorschach segundo o ponto de
vista psicanalítico”. Marialzira Perestrello, no livro História da Sociedade Brasileira
de Psicanálise, enfatiza que Bahia “seria o primeiro a implantar a Psicoterapia
Psicanalítica de Grupo” no Brasil (p.44). David Zimmermann também destaca essa
atividade pioneira de Bahia. A respeito dessa forma de Psicoterapia Psicanalítica
que teria grande repercussão em nossa pátria, Bahia publicou, em 1954, aquele
que seria o primeiro artigo escrito no Brasil sobre esse tema: “Experiências

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psicanalíticas em terapia de grupo”. Em 1958, publicaria o “Esquema para uma
teoria da psicoterapia de grupo”. Finalizaria a sua participação quanto aos grupos
com “Segredo e revelação no grupo terapêutico”. Não é demais enfatizar a
importância desse movimento de psicoterapia analítica de grupo com o objetivo de
levar a Psicanálise às pessoas mais pobres, fato que propiciou imensamente a
difusão da nossa ciência em todas as camadas sociais.

Dentro desse espírito social inovador, em 1954, Bahia fundou o Serviço de


Psicoterapia no antigo Serviço Nacional de Doenças Mentais e, cinco anos após,
continuando sua marcha voltada para os mais necessitados, já com a experiência
do sucesso no trabalho empreendido, fundou e chefiou o Ambulatório de
Psicoterapia de Grupo do mesmo Serviço. Todos esses atos foram pioneiros e
estimularam a criatividade brasileira, levando a que outros colegas, tomados por
esse entusiasmo, desenvolvessem nos hospitais públicos ou particulares e nos
seus consultórios atividades semelhantes.

Em 1959, Bahia e seus colegas do “grupo argentino”, bem como


psicanalistas formados em Londres, além de outros já formados no Brasil,
compondo ao todo catorze analistas, fundaram a Sociedade Brasileira de
Psicanálise do Rio de Janeiro, entidade reconhecida pela International
Psychoanalytical Association como Sociedade componente.

Bahia desenvolveu com seus colegas intensa atividade no Rio e escreveu


artigos fundamentais como “Repressão, lembrança e amnésia”, com que
conquistou o título de membro efetivo da Asociación Psicoanalítica Argentina.
Trinta anos depois de publicado, com Bahia já falecido, esse escrito recebeu uma
homenagem científica muito bem elaborada pelo Departamento de Pesquisa da
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, feita por Roberto
Bittencourt Martins, Ney Marinho e Luiz Fernando Gallego, cada um deles
abordando um aspecto do justamente famoso artigo. Nesse trabalho, Bahia
contesta as idéias de Freud sobre a memória e apresenta um conceito dessa
capacidade psíquica atualíssimo em termos psicanalíticos. Desenvolve uma

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compreensão psicanalítica do filme Rashomon, de Kurosawa. Anos e anos depois,
a perspectiva psicanalítica de filmes seria um movimento que se espraiaria pelo
Brasil e pelo mundo. Mais uma vez, Bahia foi pioneiro em nossa terra.

Desde 1944, em “Notas para uma psicanálise da criação artística”, Bahia já


demonstrara seu interesse em relação à Arte, temática que iria desenvolver em
inúmeros escritos, abordando obras de Nelson Rodrigues, Camus e Dostoiewski,
sob uma forma extremamente criativa. Escreveu, ainda naquela época, artigos
sobre a problemática criminal, enfocando em um deles um tema atualíssimo: A
psicologia da amotinação. Abordou ainda a psicossomática sob o ângulo
psicanalítico. A Gestalt recebeu também o aporte de sua inteligência no artigo “O
conceito de Gestalt e a situação analítica”.

Seu trabalho “Influências e conseqüências do advento de novas teorias no


manejo da técnica psicanalítica” foi apresentado como relatório oficial da SBPRJ
no IV Congresso Brasileiro de Psicanálise, de 1973, e publicado na Revista
Brasileira de Psicanálise. Posteriormente, o International Journal of
Psychoanalysis, a mais importante revista de psicanálise do mundo, publicou-o. O
artigo despertou tal interesse que James Grotstein, ex-vice-presidente da
International Psychoanalytical Association, solicitou sua publicação no magnífico
livro, do qual era editor: Do I dare disturb the Universe? A Memorial to W.R. Bion.
Essa obra contém ensaios dos maiores psicanalistas do mundo. Pode-se aquilatar
a importância e repercussão desse artigo por esses desdobramentos e pela
influência que o mesmo exerceu na Psicanálise Brasileira, ao expor e defender as
idéias kleinianas e bionianas que teriam paulatinamente um desenvolvimento, uma
maior aceitação e uma disseminação mundial.

Estava em plena produtividade científica, defendendo suas novas idéias


sobre a necessidade de conjugar a interpretação sob o duplo ângulo introjetivo e
projetivo, quando a morte o atingiu. Seus trabalhos dessa época têm os títulos de
“Notas sobre a interação dos mecanismos projetivos e introjetivos” e “Identificação
e identidade”. Bahia foi pioneiro e desbravador não apenas no campo das idéias,

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mas também no ensino, formando uma plêiade de analistas, estimulando seus
colegas com seus seminários brilhantes, cheios de idéias inovadoras, mostrando
grande sensibilidade psicanalítica. Seu imenso conhecimento da teoria freudiana,
kleiniana e bioniana, bem como dos outros aportes teóricos vindos da França e
dos Estados Unidos, transformava suas apresentações clínicas, seus seminários e
trabalhos em um amplo estímulo à criatividade dos colegas e alunos, levando a
que os psicanalistas de sua geração sentissem essas qualidades como elementos
propulsores da capacidade de pensar de todos.

Sua figura humana, sua capacidade de ajudar os colegas, sua compreensão


da psicanálise, sua luta pela ética no sentido mais amplo da expressão e o seu
denodado esforço pela ética psicanalítica em particular, transformaram-no num
exemplo a ser seguido por todos nós.

Bibliografia

ANDRADE, V. M. (1991). “Trieb e conhecimento instintivo. Rev. Bras.


Psicanál.volume 25, número 1, pp.91-108.
FREUD, S. (1887-1904). A correspondência completa de Sigmund Freud
para W. Fliess. Edit.J.M.Masson. Rio:Imago
________ (1900). A interpretação dos sonhos. SE 4 e 5.
________ (1925). “Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica
entre os sexos”. SE 19.
________ (1930). O mal estar na cultura. SE 21.
________ (1932). Novas conferências introdutórias sobre psicanálise. SE 22.
________ (1937). “Análise terminável e interminável”. SE 23.
________ (1938). Esboço de Psicanálise. SE 23.
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das Letras.
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MARCHON, P. (2004). “História e Genealogia das idéias psicanalíticas latino-
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PERESTRELLO, M. (1987). “Período pré-instituição oficial”. In História da
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro org. Marialzira Perestrello.
Rio de Janeiro: Imago
VICTER. R. (1991). “Elementos para uma compreensão da pré-história da
SBPRJ. In Revista de Psicanálise do Rio de Janeiro. Volume I, número 1, pp.77-
84.

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Os Drs. Roberto Bittencourt Martins, Abram Eksterman, Fernanda Marinho e
Marialzira Perestrello tiveram a bondade de ler o trabalho original e corrigir
algumas falhas do mesmo. Se, porventura, algumas falhas persistirem, tal se deve
exclusivamente ao autor.
marchonpaulo@yahoo.com.br

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