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A Aplicação Da Psicanálise À Educação

(BASTOS. Paulo R. da Silva)

Introdução:

Sigmund Freud foi um médico vienense que alterou o modo de pensar a vida psíquica. Sua
contribuição é comparável a de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e
sociais. Freud ousou colocar a interioridade do homem como problema científico. A
investigação sistemática desses problemas levou Freud à criação da psicanálise.

Freud especializou-se em Psiquiatria, e desde o início de sua prática médica usou a hipnose,
para obter a origem dos sintomas. Posteriormente passou a usar o método catártico, e mais
tarde desenvolveu a técnica de concentração. Com essa técnica, ele percebeu que as
pessoas ficavam constrangidas ao tocarem em determinados assuntos, então ele chamou de
repressão o processo psíquico que visa encobrir uma idéia insuportável.

Em 1900, no livro "A interpretação dos sonhos", Freud cria a primeira teoria sobre a
Estrutura do Aparelho Psíquico. Essa teoria refere-se à existência de 3 instâncias psíquicas:
inconsciente, pré-consciente e consciente.

Freud em sua prática clínica, descobriu que as neuroses eram na maioria das vezes
pensamentos ou desejos reprimidos, que referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados
nos primeiros anos de vida.

Freud postulou as fases do desenvolvimento sexual em: fase oral ( a zona de erotização é a
boca); fase anal (a zona de erotização é o ânus); fase fálica (zona de erotização é o orgão
sexual); fase genital (quando o objeto de erotização não está na pessoa, mas no outro).

No decorrer dessas fases ocorre o complexo de Édipo – acontece entre 2 e 5 anos, introduz
os conceitos de ïd" e "superego[1]".

A função primordial da psicanálise é integrar os conteúdos do inconsiente na consciência,


objetivando a cura e o autoconhecimento.

Enfim, podemos dizer que a palavra chave da psicanálise é a Interpretação, pois é o que se
usa para atingir seus objetivos.

Sigmund Freud:

Sigismund Schlomo Freud nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia


(atualmente Pribor, Tchecoslovaquia), filho de Jacob Freud e sua terceira esposa, Amalia
(vinte anos mais jovem que o marido). A familia falava alemão. Sigi, como era chamado por
seus parentes, teve sete irmãos mais jovens.

A constelação familiar era incomum pois, dois meio-irmãos de Freud, Emmanuel e Philipp,
tinham praticamente a mesma idade de sua mãe. Freud era ligeiramente mais novo que seu
sobrinho John, filho de Emmanuel. Esta situação peculiar pode ter estimulado o interesse de
Freud em dinâmica familiar, levando-o às suas posteriores formulações sobre o Complexo de
Édipo.
O pai de Freud, um comerciante judeu de posses modestas, levou a família para Leipzig,
Alemanha (1859), seguindo para Viena (1860), onde Freud viveu até 1938.

Aos 8 anos de idade, Freud lia Shakespeare e, na adolescência, ouviu uma conferência, cujo
tema era o ensaio de Goethe sobre a natureza, ficando profundamente impressionado.

Abreviou seu nome para Sigmund Freud em 1877.

Pretendia estudar Direito, mas decidiu seguir Medicina, interessado na área de pesquisas.
Ingressou na Universidade de Viena em 1873. Como aluno, Freud iniciou um trabalho de
pesquisa sobre o sistema nervoso central, orientado por Ernst von Brücke (1876), e formou-
se médico em 1881. Trabalhou na Clínica Psiquiátrica de Theodor Meynert (1882-83),
estudando posteriormente com Charcot (Salpetrière), em Paris (1885).

De 1884 a 1887, Freud publicou vários artigos sobre cocaina.

Casou-se com Martha Bernays em 1886. O casal teve seis filhos (Mathilde, 1887; Jean-
Martin, 1889; Olivier, 1891; Ernst, 1892; Sophie, 1893; Anna, 1895). Freud iniciou seu
trabalho clínico, em consultório próprio, especializando-se em doenças nervosas. Seu
interesse pela histeria foi estimulado pela hipnoterapia praticada por Breuer e Charcot
(1887-88). Freud mudou-se para um apartamento em Bergasse 19 (1891), que 80 anos
mais tarde veio a se tornar The Freud Museu Vienna (1971).

Freud e Breuer publicaram suas descobertas em Estudos sobre a Histeria (método


catártico) em 1895; no mesmo ano, Freud conseguiu, pela primeira vez, analisar um sonho
seu, conhecido posteriormente como "o sonho da injeção feita em Irma". Ele também
elaborou o rascunho de 100 páginas manuscritas, que só foram publicadas após sua morte,
sob o título de Projeto para uma Psicologia Científica (1950).

Nos cinco anos que se seguiram (1895-1900), Freud desenvolveu muitos dos conceitos que
foram posteriormente incluídos na teoria e prática da psicanálise.

O termo "psicanálise" (associação livre) foi concebido por Freud em 1896. Após romper com
Breuer, e passando por uma crise, devida à morte de seu pai, Freud iniciou sua auto-análise
em 1897, ao examinar seus sonhos e fantasias, contando com o apoio emocional de seu
amigo íntimo, Wilhelm Fliess.

A Interpretação de Sonhos ('Die Traumdeutung') , o qual Freud considerou como sendo


o mais importante de todos os seus livros, foi publicado em 1899, com data de impressão de
1900, pois ele queria que sua grande descoberta fosse associada ao início de um novo
século.

Seus pares, na área médica, ainda encaravam seus trabalhos com hostilidade e Freud
trabalhava em completo isolamento. Iniciou a análise de sua jovem paciente Dora e Sobre a
Psicopatologia da Vida Cotidiana foi publicado em 1901.

Foi nomeado Professor na Universidade de Viena e fundou a "Sociedade das Quartas-feiras"


em 1902 (reunião semanal de amigos, em sua casa, com o propósito de discutir os trabalhos
que vinha desenvolvendo), a qual veio a se tornar a Associação de Psicanálise de Viena, em
1908.
Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Os Chistes e sua relação com o
Inconsciente, Fragmento da análise de um caso de Histeria ('Dora') foram publicados
em 1905.

Por volta de 1906, um pequeno grupo de seguidores havia se formado em torno de Freud,
incluindo William Stekel, Alfred Adler, Otto Rank, Abraham Brill, Eugen Bleuler e Carl Jung.

Sándor Ferenczi e Ernest Jones juntaram-se ao círculo psicanalítico e o "Primeiro Congresso


de Psicologia Freudiana" teve lugar em Salzburg, contando com a presença de quarenta
participantes de cinco países (1908).

Em 1909, Freud foi convidado por Stanley Hall para proferir cinco conferências, na Clark
University (Worcester, Massachussets), baseadas nos seus seis livros previamente
publicados (mencionados acima nesta biografia), e Cinco Lições de Psicanálise foi a
versão alemã dessas conferências, publicada em 1910. Mesmo tendo sido essa sua única
visita aos Estados Unidos da América, essa oportunidade marcou definitivamente sua
carreira, ao atrair atenção mundial para seus trabalhos.

O movimento psicanalítico foi sendo gradativamente reconhecido e uma organização


internacional, chamada "International Psychoanalytical Association" foi fundada em 1910. A
revista de psicanálise "Imago" foi criada em 1912.

Conforme o movimento se difundiu, Freud teve que enfrentar a dissidência entre os


membros de seu círculo. Adler (1911) e Jung (1913) deixaram a "Associação Psicanalítica de
Viena" e formaram suas próprias escolas de pensamento, discordando da ênfase dada por
Freud à origem sexual da neurose.

Início da Primeira Guerra Mundial (1914). Freud recebeu as visitas de Rainer Maria Rilke
(1915) e André Breton (1921).

A primeira parte das Conferências Introdutórias sobre Psicanálise foi publicada em


1916. "The International Journal of Psychoanalysis" foi criado em 1920.

Freud descobriu que sofria de cancer da boca em 1923 e, mesmo assim, manteve-se
produtivo, durante dezesseis anos, tolerando tratamentos constantes e dolorosos e resistindo
a 33 cirurgias.

Os primeiros volumes da Coletânea das Obras de Sigmund Freud surgiram em 1925,


época em que estava com sérios conflitos com Otto Rank, devido à teoria do trauma do
nascimento. Freud foi agraciado com o "Prêmio Goethe de Literatura", em 1930 e foi eleito
Membro Honorário da "English Royal Society of Medicine" (1935).

Hitler tornou-se o chanceler do Reich (1933). A Gestapo investigou a casa de Freud; prendeu
e interrogou sua filha Anna durante um dia inteiro. Ameaçado pela ocupação nazista da
Áustria (1938), Freud emigrou para a Inglaterra com sua família. Quatro irmãs dele (Rosa,
Mitzi, Dolfi e Paula), todas com quase 80 anos, foram deportadas para campos de
concentração onde morreram. Por um curto espaço de tempo, ele residiu em 20 Maresfield
Gardens, local que 48 anos mais tarde veio a se tornar o Freud Museum London.

Sigmund Freud faleceu aos 83 anos de idade, no dia 23 de setembro de 1939, em


Londres.Seu duradouro legado teve grande influência na cultura do século XX.
A aplicação da Psicanálise à Educação:

Foram pelo menos três as direções tomadas pelos teóricos interessados no casamento da
Psicanálise com a Educação:

1. A primeira tentativa de criar uma nova disciplina, a Pedagogia Psicanalítica,


empreendida principalmente por Oskar Pfister e Hans Zulliger, na Suíça no início do
Século XX.

1. A segunda constitui no esforço a que se dedicaram alguns analistas para transmitir


a pais e professores a teoria psicanalítica, imaginando que estes, de posse desse
conhecimento, pudessem evitar que as neuroses se instalassem em seus filhos e
alunos. Anna Freud, a filha do Freud, foi a principal representante desse grupo.

1. A terceira direção, mais recente, não diz respeito ao exatamente casamento da


Psicanálise com a Educação. Trata-se de uma tentativa mais difusa de transmitir a
Psicanálise a todos os representantes da cultura interessados em ampliar a sua visão
de mundo. Iniciou principalmente na França dos anos 60.

A difusão das idéias freudianas:

Freud é o responsável pela descrição do desenvolvimento afetivo-emocional das crianças.


Esse desenvolvimento começaria com uma:

1. Fase Oral (0 ao 1 ano de idade) Þ Predominam os interesses ligado a boca


(amamentação, sucção).

1. Fase anal (2 aos 03 anos de idade) Þ Predominam os interesses ligados ao


prazer de defecar e de manipular as fezes.

1. Fase Fálica (04 aos 05 anos de idade) Þ A criança passa a se interessar pela
existência do pênis.

Tais fases se relacionam á predominância de uma determinada pulsão parcial, responsável


pelo interesse a ela correspondente.

Freud queria que sua teoria constituísse entre outras coisas, um modelo de construção de
processos através das quais os indivíduos se tornariam um ser sexuado.

Uma de suas descobertas mais importantes foi à idéia de que a sexualidade se


constrói, não sendo determinada pela Biologia, os homossexuais estão para
comprová-lo.

Anna Freud

Por ter vivido durante praticamente todo o século XX, Anna Freud pôde observar as
mudanças no mundo e, consequentemente, no comportamento da sociedade. Nasceu em
Viena, em 3 de dezembro de 1895, justamente o ano ao qual Freud - que apenas iniciava
sua carreira de médico - atribuiu sua descoberta sobre o inconsciente e o significado dos
sonhos. Seu nome foi uma homenagem a Anna Lichtein, filha de um professor que, mais
tarde, se tornou grande amigo de seu pai. Freud nunca escondeu seu desapontamento por
ter tido uma menina, ao invés de um filho varão. Um lacônico telegrama foi o suficiente para
comunicar o nascimento da criança a Wilhelm Fliess, amigo íntimo e médico com o qual se
correspondia constantemente.

Anna cresceu tendo que dividir a atenção do pai com a psicanálise e mais os seus cinco
irmãos mais velhos, com os quais não tinha um relacionamento muito bom. Sua maior
disputa em criança foi com a irmã Sophie, dois anos e meio mais velha do que ela. Tentou,
de todas as formas, equiparar-se à bela imagem projetada pela irmã, mas não conseguiu
levar vantagem em nenhuma das tentativas, qualquer que fosse a área. A família costumava
referir-se às duas como "a bela e o cérebro". Ao se casar Sophie, em 1913, Anna teria
escrito ao pai: "Estou feliz com o casamento de Sophie. Nossa eterna disputa era um
tormento para mim".

Tampouco com a mãe Anna conseguiu estabelecer um vínculo afetivo forte, muito ao
contrário do forte relacionamento criado entre ela e o pai. À medida que ela crescia, ele foi-
se orgulhando dos abrangentes e profundos interesses intelectuais da filha. Em 1913,
quando Anna tinha 18 anos, Freud, já com 57, escreveu a um colega: "Meu companheiro
mais próximo será minha filha mais nova, que, no momento, está-se desenvolvendo muito
bem". Anna se tornou sua companhia mais constante, sua confidente e colaboradora
profissional. Passou a estudar com o pai e a se dedicar com afinco à psicanálise. Era uma
aluna brilhante, participava de todos os encontros da sociedade psicanalítica de Viena,
sempre acompanhada pelo eminente pai.

Apesar de ter tido admiradores que lhe juravam "amor eterno", Anna nunca se casou.
Dedicou-se ao pai e à psicanálise. Cuidou dele com devoção, principalmente em seus últimos
anos de vida, quando Freud lutava contra um câncer de mandíbula. Seguidora de suas
teorias e do movimento psicanalítico, tornou-se, após a morte dele, a principal guardiã de
sua memória e de suas descobertas científicas. Foi a partir daí que sua carreira ganhou
ímpeto.

Anna começou, desde cedo, a fazer parte do mundo da psicanálise. Quando tinha apenas 19
meses de vida, teve um sonho que acabou ficando famoso, pois seu pai o usou para ilustrar
a teoria da "realização do desejo". Os comentários apareceram mais tarde em seu renomado
livro, "Interpretação dos Sonhos" (1900), onde Sigmund Freud fez sua primeira tentativa de
construir o que poderia ser um modelo do aparelho psíquico. Anna, bebê, após uma
indisposição digestiva, havia sido colocada na cama ainda com fome. Nessa noite,
aparentemente sonhando, gritou pedindo "morangos" e outras guloseimas.

Cresceu no famoso endereço da rua Berggasse, 19, onde ficou até que a família, por ser
judia, foi forçada a fugir da ocupação nazista, em 1938, refugiando-se em Londres, na
Inglaterra. Em criança, Anna só se interessava por histórias e contos relacionados a fatos
verídicos. Caso contrário, sua atenção se dispersava, relataria mais tarde em seus trabalhos.
Aos 6 anos de idade, em 1901, começou a freqüentar uma escola particular, o "Cottage
Lyceum", em Viena. Não gostava da escola, aborrecia-se nas aulas, a ponto de sua
inquietação lhe valer o apelido de "diabrete negro". Anna sempre afirmou que a escola de
pouco lhe servira. O que aprendera na infância e adolescência tinha sido em sua casa e, em
particular, nas visitas de seu pai. Aprendeu várias línguas hebraico, alemão, inglês, francês e
italiano. Formou-se aos 17 anos. Por ser ainda muito jovem, não se tinha decidido pela
carreira que desejava seguir, indo à Itália para descansar. Três anos mais tarde, Anna se
torna professora primária. Durante longo tempo, lecionou no "Cottage Lyceum", onde
estudara, trabalhando com alunos de 3ª, 4ª e 5ª séries. Segundo a direção da escola, Anna
tinha "um talento especial para o magistério". Queriam que ela assinasse um contrato de 4
anos, a partir de setembro de 1918, e ela o fez. No entanto, em janeiro de 1917, contraiu o
bacilo da tuberculose. Isto fez com que ficasse três semanas de licença, deixando-a muito
suscetível a outras várias enfermidades que, no futuro, afetariam sua tão auspiciosa carreira
de professora.

Tinha acesso irrestrito ao trabalho de Freud, pois era quem traduzia seus artigos. Sua infinita
devoção e grande admiração intelectual pelo pai aproximou-a da psicanálise, particularmente
da psicologia infantil. Foi nessa época a década de 1920 que os psicanalistas davam os
primeiros passos sistemáticos na observação do comportamento infantil, estudando
detalhadamente todas as suas formas. Anna, muito interessada na área, tornou-se
psicanalista mesmo sem possuir um diploma em Medicina, fato raro na época. Em dezembro
de 1920, a família cai vítima da epidemia de gripe espanhola, que ceifou a vida de Sophie,
sua irmã mais velha. Foi então que Anna abandonou definitivamente o magistério, para não
contaminar os demais membros da escola. Com isso, teve tempo para se aprofundar, de
corpo e alma, em sua formação analítica.

Após ter recebido alta da análise, tendo seu pai como psicanalista entre 1918-1922,
apresentou-se como voluntária no Lar de Crianças "Baumgarten Home", que cuidava de
órfãos judeus ou crianças carentes e sem um lar em decorrência da 1a Guerra Mundial. Foi
nesse Lar que Anna passou a se reunir com colegas e vários dirigentes de entidades para
intercambiar informações sobre as experiências com tais crianças, em sua maioria, vitimadas
por acontecimentos traumáticos.

O câncer do pai, em abril de 1923, e a longa série de operações que se seguiriam, fizeram-
na renunciar ao projeto de mudança para Berlim, começando a tratar de crianças, tarefa à
qual, a partir de então dedicaria essencialmente a sua existência. Anna sentiu que devia
permanecer ao lado do pai, pois, além de este estar contraindo empréstimos entre os
amigos, sua enfermidade era séria. Escreveu em seus diários, "agora, nada me faria sair de
seu lado". E foi então que começou a atender alguns dos pacientes do pai, adultos e
crianças, além de traduzir suas obras e ajudá-lo a melhor articular os trabalhos novos em
que se envolvera.

Em 1925 abriu, juntamente com Dorothy Burlingham - uma psicanalista americana que
descobriu sua própria vocação quando entregou os filhos aos cuidados analíticos de Anna -
uma primeira creche para crianças com problemas emocionais. Juntas, fundaram duas
escolas experimentais: a Jackson Nursery, em Viena, e, posteriormente, a Hampstead War
Nursery, em Londres.

Com a subida de Hitler ao poder, Freud e vários outros psicanalistas judeus tiveram suas
obras publicamente queimadas na Alemanha, em 1933. Nos anos que se seguiram, a
ameaça nazista provocou a emigração em massa dos membros da comunidade psicanalítica
de Viena, que era, em sua grande maioria, judia. Enquanto todos procuravam escapar da
cidade, os planos de Anna e do pai eram manter o Centro de Orientação Infantil da
Sociedade Psicanalítica de Viena em funcionamento, tentando manter a normalidade até
onde isso fosse possível. A Anna preocupava a idéia de que seu pai pudesse ser submetido a
ofensas à sua dignidade, como um mandado de busca e apreensão, em casa, ou coisas do
gênero. Na época, filiou-se ao conselho editorial do American Journal Psychoanalytic
Quarterly onde publicou, em 1935, uma edição dedicada a seu trabalho em Viena, intitulada
"Uma análise da criança".
Mas a família Freud permaneceu em Viena até o dia da Anschluss, a anexação: em 12 de
março de 1938, Hitler invadia a Áustria. Logo no dia 15, a polícia realizou buscas na casa de
Freud. No dia 22, Anna foi detida durante algumas horas pela Gestapo. Conseguiu convencê-
los a deixar que a família abandonasse Viena. Em 4 de junho, pôde enfim deixar a cidade
com seu pai, encontrando refúgio em Londres, em Maresfield Gardens, n º 20. Em 23 de
setembro de 1939, já bastante doente e idoso, aos 83 anos, Freud morre do mesmo câncer
de mandíbula que o fizera padecer durante 16 anos.

Foi no bairro londrino de Hampstead que, em 1940, Anna retomou suas atividades com
Dorothy Burlingham, na Hamps-tead Nursery, que, depois do fim das hostilidades, seria
substituída pela Hampstead Clinic. A carreira de Anna floresceu e acabou dando origem a um
movimento neo-freudiano, denominado a "Psicologia do ego". Os "annafreu-dianos" - como
ficaram conhecidos seus seguidores - aceitam as premissas básicas da psicanálise, apenas
modificando ou ampliando alguns dos aspectos da teoria e técnica psicanalítica tradicional.

Delicada e humana, Anna Freud possuía uma "encantadora sobriedade". Sempre ativa,
promoveu, na década de 1960, ciclos de conferências sobre a criança e publicou, em 1965,
Infância normal e patológica. Morreu em Londres, em 1982. Abandonara, desde 1970, suas
responsabilidades frente à Hampstead Clinic, que depois de sua morte teve o nome mudado
para "Centro Anna Freud".

De 1950 até falecer, Anna Freud publicou uma série de livros, proferiu palestras e cursos
pela Europa e Estados Unidos, recebendo homenagens, condecorações, placas e títulos.
Segundo ela, porém, sua vida nunca estimularia livros biográficos, "uma vez que não teve
muita ação", como costumava dizer. E Anna Freud concluiria, em um de seus discursos: "E
tudo o que vivi poderia ser resumido em uma só frase: passei a vida entre crianças".

Um início promissor

A vida profissional de Anna começou em 1914, quando iniciou sua formação para o
magistério primário. Embora curta, sua carreira nessa área foi de extrema importância, por
ter servido de base para o trabalho pioneiro que iria desenvolver no campo da psicologia
infantil. Quando, em 1918, começou sua formação psicanalítica, tendo por analista seu pai,
era uma jovem insatisfeita com a profissão e consigo mesma. Analisar a própria filha era
uma conduta inusitada, já que o terapeuta deveria ser neutro e objetivo. Este fato chocou os
colegas de Sigmund Freud, pois, de acordo a suas próprias teorias, o "pai-analista-da-filha"
não podia ser objetivo. Como se sabe, para a psicanálise, a teoria do interesse sexual de
uma criança pelo genitor do sexo oposto é considerada ocorrência normal. Mas, quando em
1922, Anna publicou sua primeira tese: Lutando contra fantasias e sonhos diários, seus
colegas começam a levá-la a sério. No ano seguinte, assume oficialmente as
responsabilidades de secretária e representante do pai, além de secretariar o recém-criado
Instituto de Formação Psicanalítica de Viena. Começou, também, a clinicar em psicoterapia,
numa época em que as teorias de Freud ainda provocavam uma forte oposição entre
médicos e psicólogos mais acadêmicos e conservadores.

Em 1925, como vimos acima, começa a trabalhar com Dorothy Burlingham em creches
especiais para crianças com problemas emocionais. À medida que Anna analisava um
número crescente de crianças, ficou patente que sua técnica de terapia infantil era diferente
da que o pai usava com adultos. Isto muito o agradou. Ela recorria a técnicas muito
diferenciadas, refutando a análise paterna do "Pequeno Hans". Sigmund Freud dizia que os
"sintomas nos dão a orientação e a segurança ao fazer os diagnósticos". Mas, como
observava Anna, os sintomas infantis não são iguais aos dos adultos.

Em 1927 publicou Introdução à Técnica da Análise da Criança. Começava a se opor a Melanie


Klein, líder da escola inglesa, dizendo acreditar que a terapia das crianças devia ser mantida
dentro de uma dinâmica "pedagógica". Seu trabalho mais notável foi O Ego e os Mecanismos
de Defesa, publicado em 1936. Foi nessa obra que sua visão da psicanálise infantil começa a
caminhar para a adolescência. Esse livro tinha três propósitos. Primeiro, analisar e rever, de
forma geral, as descobertas técnicas e teóricas que ensinavam os psicanalistas a dar igual
consideração clínica ao id, ao ego e ao superego. Em segundo lugar, rever os mecanismos
que seu pai isolara e descrevera, elaborando-os e os resumindo. Por último, incorporar os
mecanismos de defesa à experiência que acumulara, até então. Ela consegue terminar o livro
a tempo de apresentá-lo ao pai, em seu 80º aniversário.

Nesse livro Anna expõe sua teoria dizendo que o foco da psicanálise não deveria ser os
conflitos do inconsciente, mas sim a pesquisa do ego, também chamado de "sede de
observação". Na psicanálise, o ego é a parte do aparelho psíquico que está em contato com a
realidade externa. Serve de mediador entre os impulsos instintivos e a realidade. No livro,
Anna elaborou sobre uma variedade de mecanismos de defesa psicológicos, sendo, os
principais, repressão, negação, racionalização, comportamento reacionário, isolamento,
projeção, regressão e sublimação. Estes permitem ao ego eliminar a ansiedade e habilitam o
funcionamento psicológico original do indivíduo. Sem dúvida, esta obra foi uma contribuição
pioneira no campo da psicologia do ego e de grande utilidade para a compreensão mais
profunda do adolescente.

Para Anna, as crianças sempre foram sua razão de ser. Ela desenvolveu o modelo de estudo
sistemáti-co de sua vida emocional e mental. Em 1947, fundou em Londres a Clínica de
Terapia Infantil Hampshead, importante centro de pesquisas e treinamento para
psicanalistas, dirigindo-a até sua morte. Lá, logo começou a trabalhar no berçário de
Hampshead, como psicanalista de crianças. Durante a 2ª Guerra Mundial, Anna Freud e sua
colega, Dorothy Burlingham, escreveram três livros baseados em seu trabalho nos berçários,
que consideravam verdadeiro laboratório para o desenvolvimento infantil. Na realidade, era
um abrigo para 80 crianças, a maioria separadas dos pais, que haviam perdido casas e
pertences nos bombardeios nazistas. Os três livros eram "Jovens em tempo de guerra"
(1942), "Crianças sem família" (1943) e "Guerra e crianças" (1943). As duas colegas
descreveram o tratamento adequado para crianças separadas de suas famílias e submetidas
às condições estressantes da guerra. Em 1943, Anna Freud fundou a famosa "Clínica
Hampshead", na Grã-Gretanha, onde planejava estudar o efeito da guerra sobre as crianças.
Foi pioneira no diagnóstico do desenvolvimento da criança sob estresse, que acarreta
distúrbios mentais. Anna visava adaptar a criança à realidade, mas não necessariamente
como uma revelação do conflito inconsciente. Trabalhava junto aos pais e acreditava que a
terapia devia ter uma influência educacional positiva na criança.

Em 1951, fecharam-se os berçários de Hampshead. Dois anos mais tarde, Anna fundou a
"Terapia Infantil de Hampshead", que se tornou o maior centro do mundo para tratamento
psicanalítico infantil, mudando e talvez salvando a vida de inúmeros jovens problemáticos,
com distúrbios mentais. Treinou muitos profissionais competentes em terapia infantil e teve
muita notoriedade e influência na psiquiatria, de modo geral. Muitos colegas a consideravam
a sucessora do pai; psicanalistas americanos a elegeram "a maior, em experiência clínica, de
seu tempo".
Anna Freud questionava velhas teorias que se baseavam na noção de que o desenvolvimento
saudável de uma criança dependia de uma rígida disciplina. Através das ferramentas da
psicanálise, tratava as neuroses infantis interpretando seus sonhos e suas brincadeiras. Seu
livro, "Normality and Pathology in Children" (Normalidade e Patologia nas Crianças), de
1965, é um resumo abrangente de seu pensamento, estudo e método de tratamento.

Sua contribuição à terapia e à psicologia infantil foi, sem sombra de dúvida, imensa. Ela
demonstrou quão válidas eram as reconstruções que seu pai fizera sobre o desenvolvimento
e a patologia infantil, através de suas sessões de análise, mas foi muito além disso.
Acrescentou muito ao que já se sabia, através da observação direta das crianças. Anna
influenciou muito a atenção futura que seria dada a estas, principalmente à criança e ao
adolescente institucionalizados, separados de seus pais e desprovidos de laços afetivos. Não
gostava de publicidade, recusando vários convites para ser entrevistada. Seu maior receio
era que talvez pudessem afetar seus pacientes e interferir em seu tratamento. Seu trabalho
vinha em primeiro lugar e sua dedicação a este era absoluta.

Anna Freud teve um papel revolucionário na psicologia infantil, tanto quanto seu pai o teve
na de adultos. Foi condecorada com um certificado de honra pela Universidade Hebraica de
Jerusalém, no "Bedford College", em 14 de julho de 1976

Os casamentos da Psicanálise com a Educação:

Oskar Pfister, nascido na Suíça, em 1873, foi um pastor protestante que encontrou na
Psicanálise um instrumento auxiliar na educação de jovens em sua paróquia que dirigia em
Zurique.

Para Oskar Pfister a Pedagogia Analítica era uma pedagogia que poderia descobrir as
"inibições prejudiciais ocasionadas pelas forças psíquicas inconscientes", para poder reduzi-
las e dominá-las, submetendo-as à "vontade da personalidade moral".

No pensamento de Pfister, duas orientações são bastante claras: o educador deve


funcionar como analista, ao mesmo tempo em que deve lembrar-se de perseguir
um fim moral.

A Psicanálise até hoje nunca se casou verdadeiramente com a Educação. Na verdade,


Psicanálise tem comparecido aos encontros marcados na condição de mestre, de transmissor
de verdades sobre a criança que ela julga serem desconhecidas pela Educação.

"O sonho Freudiano, que era de colocar a Psicanálise a serviço de todos, acabou
por fazer de análise, paradoxalmente, pelo viés institucional, um instrumento de
dominação e de seleção".

Catherine Millot dedicou-se ao estudo das relações entre a Psicanálise propondo-se a


responder a três questões:

1. Pode haver uma educação analítica no sentido de a educação ter uma perspectiva
profilática em relação às neuroses?

1. Pode haver uma educação analítica no sentido de visar aos mesmos fins de um
tratamento psicanalítico?
1. Poder haver uma educação psicanalítica que se inspire no método psicanalítico e o
transponha para a relação pedagógica?

Conclusão:

Psicanálise e Educação, é a aplicação de teorias psicanalíticas na escola, não como método


para substituir os já existentes, mas como instrumento de auxílio na solução dos problemas
da prática educacional.

Bibliografia:

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RAMOS, A. (1934). Educação e Psicanálise. São Paulo: Nacional.

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Instituto de Psiquiatria, Rio de Janeiro.

[1] O "id" é regido pelo príncipio do prazer; o "ego" é regido pelo príncipio da realidade; o
"superego"origina-se com o Complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições.

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