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Karen Horney

Psicanálise interpessoal

Biografia de Karen Horney

Karen Danielson nasceu perto de Hamburgo, Alemanha, em 15 de setembro de 1985.


(p.179)

Danielson e seu irmão mais velho, Bernet (que mais tarde se tornou advogado), eram
submetidos a uma disciplina rígida por seu tirânico pai luterano quando ele estava em
casa, depois de suas longas viagens marítimas desde o cabo Horn até a costa do Pacífico
da América do Sul e Central. (p.179)

...considerava hipócrita a manifestação das atitudes religiosas do pai e questionava os


ensinamentos fundamentalistas da sua igreja. (p.179)

A educação secundária tradicionalmente acessível para as meninas alemãs excluía uma


formação universitária. (p.179)

Em 1906 ela entrou na Universidade de Freiburg, onde estudou medicina numa classe
de 58 mulheres e 2292 homens. (p.179)

Casou-se com um dos seus assíduos companheiros, Oskar Horney, em 1909. (179)

Karen Horney foi paciente do famoso analista freudiano Karl Abraham (179)

Horney estava padecendo de depressão, fadiga e insatisfação com seu casamento, o que
ela expressou tendo um caso com um amigo de seu marido. (179)

A exigência de combinar uma formação médica com uma vida familiar sem muito
incentivo por parte do marido também exigia trabalho. (179)

Além das sessões de análise ela manteve nessa época um diário pessoal, como fizera
nos anos anteriores. (179)
Depois de se formar em psiquiatria, em 1915, ousou proferir conferências sobre a
controversa teoria freudiana e defendê-la contra os críticos, entre os quais – interessante
notar – estavam Adler e Jung. (180)

Ela não visitou Freud em Viena. (180)

Karen e Oskar Horney tiveram 3 filhas. (180)

Foi um dos membros fundadores do Instituto Psicanalítico de Berlim em 1920 e


publicou vários estudos sobre o desenvolvimento masculino e feminino,
relacionamentos e casamento. Os catorze trabalhos que publicou entre 1922 e 1935
esboçaram uma teoria da psicologia feminina que era claramente crítica em relação à
teoria de Freud. (180)

A comunidade psicanalítica, contudo, desprezou seus pontos de vista e atacou suas


motivações. (180)

Freud teria afirmado: “Ela é capaz, porém mal-intencionada” (180)

Freud a acusou de uma análise inadequada, dizendo que ela não aceitava sua própria
inveja do pênis. (180)

Horney tenha aceitado um convite para se tornar diretora associada de um novo Instituto
de Psicanálise em Chicago, sob a direção de Franz Alexander, em 1932. (180)

Em 1941 a Sociedade Psicanalítica de Nova Iorque votou pela sua remoção do cargo de
professora e supervisora clínica e rebaixou-a para a posição de instrutora. (180)

Horney e seus discípulos logo formaram uma nova organização, a Associação para o
Avanço da Psicanálise, e fundaram o American Journal of Psychoanalysis. (180)

Não eram apenas os freudianos ortodoxos que desconfiavam de Horney. O Federal


Bureau of Investigation (FBI) tinha um arquivo sobre ela devido a suas supostas
simpatias comunistas, e por isso lhe foi negado durante certo tempo passaporte para
viajar para o Japão. (180)
Em desembro de 1952, meses depois de seu regresso do Japão, Karen Horney morreu de
um câncer abdominial que não fora diagnosticado previamente. (181)

Durante a Lei Seca, pelo menos uma vez ele “batizou”um ponche, prescrevendo para si
mesma álcool “medicinal”. Gostava de se relacionar com os homens e teve vários casos.
(181)

Horney contestou a reinvindicação de Freud de haver descoberto conflitos de


desenvolvimento universais, argumentando que a personalidade e o seu
desenvolvimento sofrem de grande influencia da cultura e, portanto, variam de uma
sociedade para outra (181)

Psicanálise interpessoal 

Karen Horney acreditava firmemente que o inconsciente é um poderoso determinante de


personalidade. (...) questionou a premissa de Freud segundo a qual o inconsciente
consiste em conflitos relacionados com a expressão da libido. (...) alguns de seus
pacientes neuróticos tinham uma vida sexual plenamente satisfatória, fenômeno esse
que seria impossível no âmbito da teoria freudiana clássica. (...) estão baseados em
questões interpessoais não-resolvidas, então era fixações libidinais. (...) as diferencas de
personalidade entre homens e mulheres são influenciadasmais pelas forças sociais do
que pela anatomia. (182)

Ansiedade básica e hostilidade básica 

(...) Nos casos ideais l, o bebê sente que é amado é protegido pelos pais e, portando, está
seguro. Em circunstâncias menos ideias sente-se intensamente vulnerável. (183)

(...) “o sentimento que uma criança tem de estar isolada e desamparada num mondo
potencialmente hostil”. (184)

A negligência e a rejeição dos pais provocaram raiva na criança, condição essa que
Horney denominou hostilidade básica. (184)

(...)Essa hostilidade reprimida aumenta a ansiedade. (184)


(...) Por um lado a criança precisa dispais e quer se aproximar deles, mas por outro
odeia-os e quer puni-los. Esseé o conflito básico? A força motriz que existe por trás da
neurose. (184)

Três orientações interpessoais 

(...) três opções disponíveis: acentuar a dependência e aproximar-se dos pais, acentuar a
hostilidade e voltar-se contra eles ou desistir da relação e afastar-se. (184)

(...) Essa escolha torna-se a orientação interpessoal característica de cada pessoa. (185)

(...) uma pessoa saudável deveria ser capaz de aproximar-se dos outros, voltar-se contra
eles ou afastar-se deles, escolhendo de modo flexível a estratégia que mais bem se
comporte em uma circunstância particular.  (185)

(...) É bastante improvável, por exemplo, que a criança pequena que nunca pôde se
expressar qualquer crítica aos pais seja capaz de competir plenamente com os outros na
vida adulta. (185)

(...) aproximar-se das pessoas, voltar-se contra as pessoas ou afastar-se das pessoas.


Bernard Paris observou que essas três orientações correspondem aos “mecanismos de
defesa básicos do reino animal - luta, fuga e submissão “  (185)

(...) os neuróticos que enfatizam o aproximar-se das pessoas estão adotando a solução de
auto-anulação para o conflito neurótico, procuarando amor e minimizando qualquer
necessidade aparentemente egoísta que pudesse interferir no fato de ser amado. (...)
enfatizam o voltar-se contra as pessoas estão adotando a solução expansiva para o
conflito neurótico, procurando dominar mesmo que isso impedisse relacionamentos
mais próximos com os outros. (...) enfatizam o afastar-se das pessoas adotando a
solução de resignação, buscando a liberdade mesmo à custa dos relacionamentos e da
auto-realização. (185)

Aproximar-se das pessoas: a solução da auto-anulação 


Algumas pessoas voltam-se para as outras em busca do amor e da proteção que faltam
em suas vidas. (...) “Se você me ama, não vai me machucar” (...) “Se eu ceder, não serei
machucado”. (186)

Para ser amada, a pessoa fará de tudo para ser benquista pelos outros. (186)

(...) expressa numa necessidade exagerada de estar “apaixonado” ou envolvido em


relações sexuais nas quais o parceiro assume o controle. (187)

(...) exige pouco dos outros (...) fazendo-se de “coitadinho”, o que ressalta o sentimento
de desamparo. (...) auto-estima baixa. (...) A repressão da hostilidade pode resultar em
sintomas físicos como dores de cabeça e problemas estomacais. 

Voltar-se contra as pessoas: a solução expansiva

(...)enfatizar o domínio de tarefas e o poder sobre os outros. (...) tipos agressivos (...)
“Se tenho poder, ninguém pode me machucar” (...) dominando os outros.  (...) buscando
por meio de vitórias competitivas. O prestígio protege da humilhação; os outros é que
são humilhados, enquanto o indivíduo agressivo procura reconhecimento e admiração. 

(...) Horney notava que os homens tendem mais que as mulheres a adotar essa
estratégia, o que é compatível com a dificuldade, sentida por muitas mulheres, de galgar
postos de trabalho nas empresas. 

Os tipos agressivos não precisam comportar-se de modo a se tornarem benquistos pelos


outros. (...) O poder faz o amor parecer uma fraqueza desnecessária. (...) os pacientes
desse tipo parecem ter uma dificuldade particular quando começam, durante a terapia, a
ficar mais próximos de outras pessoas por amor ou amizade. 

Afastar-se das pessoas: a solução da resignação 

Uma terceira estratégia para resolver os conflitos da infância é condensada pela raposa
da fábula do Esopo que não conseguia alcançar as uvas penduradas acima de sua
cabeça. (...) a raposa acabou desistindo e, para não ficar frustrada, disse para si mesma
que as uvas deveriam estar verdes. (...) “se virar” sem os outros , tendo desistido de
resolver o problema da ansiedade básica por meio do amor e do poder. (...) “Se eu
recuar, nada poderá me machucar”. (187)

Os tipos desvinculados tentam ser auto-suficientes. Podem desenvolver uma grande


quantidade de recursos e considerável independência. (...) podem reduzir suas
necessidades. (...) pessoas criativas muitas vezes do tipo desvinculado. (188)

Uso saudável versus uso neurótico das orientações interpessoais 

A pessoa neurótica prefere uma orientação interpessoal em detrimento das demais. A


pessoa saudável, pelo contrário, adota, sempre que isso seja apropriado, todos as três
orientações, visto que cada uma delas é adaptativa em determinada situação. 

Mensuração das orientações interpessoais 

(...) O instrumento pede aos representantes para classificar o caráter desejável de 35


itens, numa escala de 6 pontos que vai de “extremamente indesejável” a “extremamente
desejável”. (188)

Principais ajustamentos à ansiedade básica

Para resolver os conflitos relacionados com a ansiedade básica, o indivíduo adota vários
mecanismos de defesa. (190)

...ampliou bastante a lista de manobras defensivas


Todos os neuróticos empregam uma mistura de quatro estratégias principais para
resolver o conflito básico entre desamparo e hostilidade.

Ocultando o conflito: aproximar-se dos outros ou voltar-se contra eles

“ocultar parte do conflito e fazer predominar o seu oposto”

Uma pessoa que oculta a hostilidade irá, por um lado, enfatizar o desamparo e voltar-se
de forma dependente para os outros.

Uma pessoa que oculta o desamparo irá enfatizar a hostilidade e voltar-se de forma
irada contra as outras pessoas.

Desvinculação: afastar-se dos outros

Desvincular-se dos outros

O simples ato de se afastar das pessoas reduz a experiência conflitiva.

O eu idealizado: afastar-se do eu real (191)

Afastar-se do eu real e adotar um eu idealizado que lhe pareça melhor.

O eu real é o “nosso centro pessoal, vivo e único”

Na neurose o eu real é abandonado

Descrever tudo o que realmente somos num determinado momento, tanto os neuróticos
como as pessoas saudáveis – o eu de fato.

Alienação do eu real
Como resultado da ansiedade básica, a pessoa passa a acreditar, não raro
inconscientemente, que é inadequada.

A criança passa a ter uma auto-estima baixa, achando que seu eu real é desprezível.
Essa alienação produz a neurose.

“Se eu for muito bom e gentil, talvez seja amado”

“se eu impressionar as pessoas com minhas realizações e meu poder, elas não
conseguirão me ferir e até me admirarão”

“talvez eu não precise das pessoas e possa me virar sozinha”

O eu real é reprimido e a pessoa tenta converter-se no eu idealizado, que se torna a base


de um trabalho intenso.

A opção mais sadia é afastar-se do falso orgulho e aceitar a “banalidade” de seu próprio
eu real.

A tirania dos “deveria”

“eu deveria ser gentil com todo mundo”

“eu deveria ser capaz de trabalhar melhor que qualquer um”

“eu não deveria depender dos outros”

Tirania dos “deveria” (192)

Externalizacao: projeção do conflito interno

O neurótico projeta os seus conflitos interiores para o mundo exterior 

Externalização
Embora não promova o crescimento, essa estratégia reduz a ansiedade, ao menos
durante certo tempo.

"Tendência para experimentar os processos internos como se eles ocorressem fora da


pessoa e, via de regra, considerar esses fatores externos responsáveis pelas duas
dificuldades"

Projeção

A externalização pode incluir ainda, além dos impulsos, nossos sentimentos não-
reconhecidos.

O desdém que sentem por si mesmos, pensando que os outros os desprezam (projeção
do impulso) ou desprezando os outros (deslocamento do objeto de desdém).

A raiva também é externalizada de várias maneiras: irritando-nos com outras pessoas,


temendo que os outros se irritem conosco e transformando a raiva em distúrbios físicos.

Técnicas secundárias de ajustamento (193)

Obliterações

Em geral as pessoas não têm consciência de aspectos de seu comportamento que são
escandalosamente incompatíveis com sua auto-imagem idealizada.

Essas obliterações impedem a percepção consciente do conflito entre o nosso


comportamento e a nossa auto-imagem.

Compartimentalização

Outra maneira de impedir o reconhecimento do conflito é a compartimentalização, por


meio da qual os comportamentos incompatíveis são reconhecidos conscientemente, mas
não ao mesmo tempo.
Uma pessoa pode ser afetuosa dentro de casa e um competidor implacável no mundo
dos negócios.

Racionalização

O ato de "enganar a si mesmo pelo raciocínio" 

Um tipo condescendente que é prestativo racionalizará essa atitude como devida a


sentimentos de simpatia (ignorando a tendência para dominar, que também pode estar
presente)

Autocontrole excessivo

Impede as pessoas de serem esmagadas por uma série de emoções, como " entusiasmo,
excitação sexual, autopiedade e ódio" 

As pessoas que utilizam esse mecanismo de defesa costumam evitar o álcool porque
este poderia desinibi-las. (194)

Certeza arbitrária

"Constitui uma tentativa de acalmar os conflitos de uma vez por todas declarando-se
arbitrária e dogmaticamente que se está sempre com a razão.

Esquivança
É oposto da certeza arbitrária. Essas pessoas não se comprometem com nenhuma
opinião ou ação porque "não estabeleceram uma imagem idealizada definida" 

Para evitar a experiência do conflito.

Cinismo

É uma forma de evitar conflitos "negando e ridicularizando [...] os valores morais"

Aceitam conscientemente os valores da sociedade, mas não vivem de acordo com eles.

Comportamento parental e desenvolvimento da personalidade

Se o ambiente é afetuoso, os tipos de trauma identificados por Freud, como um


desmame prematuro, o treinamento para o asseio ou testemunhar a cena primária,
poderiam ser tolerados.

Negligência dos pais, a indiferença e até mesmo a rejeição ativa da criança.

A atmosfera familiar ideal proporciona calor humano, benevolência e "um atrito


saudável com os desejos e as vontades dos outros" 

Permite que a criança desenvolva um sentimento seguro de pertencimento, em vez da


ansiedade básica.

Um dos objetivos que Horney atribui a psicanálise consiste em compreender mais


amplamente a melhor maneira de tratar as crianças de modo que os pais pudessem ser
aconselhados quanto ao modo de criar jovens saudáveis.(195)
Pesquisas longitudinais mostram que a aceitação dos pais e os castigos não-autoritários
na infância predizem um maior desenvolvimento do ego aos 30 anos, particularmente
nas mulheres.

Os pais negligentes tem filhos com maiores dificuldades. Os pais autoritários, que
fornecem tanto orientação como aceitação, criam filhos mais bem ajustados.

Supõe-se que o desenvolvimento de um vínculo seguro entre bebê e o genitor


proporcione a base da saúde emocional e da capacidade de lidar com o mundo.

Determinantes culturais do desenvolvimento (197)

Horney ressaltou os determinantes sociais e culturais da personalidade, acrescentando-


os às forças biológicas da ortodoxia freudiana.

Aceitava o determinismo biológico num grau maior do que algumas críticas feministas
desejariam.

Horney julgava necessário conhecer algo sobre a cultura e o ambiente familiar


específico no qual a pessoa foi criada a fim de se compreender o desenvolvimento da
neurose.

"Não existe uma psicologia normal válida para toda a humanidade"

Essa opinião contrasta com a descrição de Freud de uma psicodinâmica familiar


universal. Para Horney, mesmo o complexo de Édipo ocorre devido a rivalidades dentro
da família, que é característica apenas de certas condições culturais, e não universal.

Comportamentos como ter visões ou sentir vergonha da sexualidade são neuróticos em


algumas culturas mas bastante normais em outras. (198)

Na sua época, uma mulher que sacrificasse sua própria carreira pela do marido era
considerada "normal", mesmo se a esposa fosse mais bem dotada.

Dizia que o conflito sexual estava se tornando menos importante como fonte de
ansiedade nos tempos em que escrevia do que alguns anos antes...
O conflito entre competitividade e amor mais importante.

Papéis de gênero

Embora seja a biologia que determina o sexo (masculino ou feminino), é a cultura que
define os traços e comportamentos aceitos para homens e mulheres.

Realização

As mulheres declarava ela, tendem particularmente a se tornar tipos condescendentes,


que não se arriscam a realizar nada.

"Nossa situação cultural [...] inclui o sucesso na esfera masculina"

Os homens são estimulados a tornar-se competitivos, enquanto as mulheres não tem


esse incentivo e podem até desenvolver um "medo do sucesso"

O termo medo do sucesso foi usado originalmente por Karen Horney, para quem isso
pode provir de um conflito entre competição e necessidade de afeto. (199)

Uma mulher motivada pelo medo do sucesso pode achar que se tiver sucesso perderá os
amigos.

Dominação cultural

Tradicionalmente, os papéis de gênero prescrevem a dominação ou o poder para os


homens e a submissão e o provimento para as mulheres.

Os papéis de gênero influenciam profundamente o desenvolvimento do poder e da


dominação social, e isso afeta outros aspectos da personalidade, inclusive o do
masoquismo (o prazer da dor e do sofrimento).
"Na nossa cultura é difícil ver como qualquer mulher pode deixar de tornar-se
masoquista em algum nível"

Os papéis de gênero tem um preço, contribuindo para a maior incidência de depressão


entre as mulheres do que entre os homens.

As pessoas femininas, mesmo se forem homens, tendem a usar mecanismos de defesa


que se voltam contra elas mesmas, e não contra os outros.

Valorizando o papel feminino (200)

Horney achava que era a cultura, e não a anatomia, a força importante que estava por
trás da "inveja do pênis" postulada por Freud. As mulheres invejam mais o poder e o
privilégio que os seres humanos dotados de pênis tem do que o próprio pênis.

A inveja do pênis representava uma evitação do papel feminino.

Afirmava que os homens sentem uma inveja do útero igualmente importante, em virtude
da qual se sentem inferiores entre a capacidade reprodutiva das mulheres.

O que as mulheres podem ter que poderia competir com a dominação e a realização dos
papéis sociais dos homens? Um primeiro candidato seria a maior capacidade de vínculo
interpessoal das mulheres.

Márcia Westkott argumenta que a valorização dos relacionamentos por parte das
mulheres adota muitas vezes a forma de um eu idealizado, capaz de prover com
desprendimento.

A teoria e a terapia feministas, ao afirmarem valores relacionais, confirmam sem querer


um eu idealizado neurótico e perpetuam a expectativa cultural de que as mulheres
deveriam cuidar dos homens.

Saúde mental e papéis de gênero.


A opinião predominante entre os psicólogos costumava ser a de que as mulheres que
trabalhavam e tinham profissão sofriam de distúrbios da personalidade.

E que as mulheres tradicionalmente femininas eram psicologicamente mais saudáveis


que as menos tradicionais.

Não é a presença de características "femininas", como a empatia e o provimento, mas a


ausência de qualidades "masculinas", como a assertividade, que interfere na adaptação
mais saudável tanto para as mulheres como para os homens.

Terapia (201)

Uma terapia deve analisar a personalidade como um todo.

Reconhecia que as psicoterapias mais breves podem ter algum sucesso, mas não para as
neuroses.

Embora tenha permanecido ortodoxa na sua aceitação da importância da experiência


infantil para o desenvolvimento da personalidade, Horney não acreditava que todos os
tratamentos psicanalíticos exigiam uma pesquisa das lembranças da infância.(202)

Por vezes o foco no presente é mais apto para produzir mudanças, pois os pacientes
podem tentar evitar o confronto com seus conflitos neuróticos por meio de um interesse
exagerado pelas origens passadas e infantis destes.

É inevitável que a imagem idealizada do paciente seja contrariada; mas isso tem de ser
feito com cuidado e lentamente, pois constitui a base da personalidade, ferida mas não
destruída, que o paciente traz para a análise.

O objetivo final de uma psicoterapia é provocar mudanças fundamentais na


personalidade. Isso envolve várias metas: aumentar a responsabilidade pessoal; tornar-
se mais genuinamente independente dos outros; vivenciar os sentimentos de modo mais
espontâneo; e entregar-se à vida "de todo o coração", de maneira plena, sincera e
despretensiosa.
Auto análise

Horney acreditava que alguns progressos no sentido de uma saúde melhor podiam ser
conseguidos pelo trabalho da própria pessoa. Isso seria particularmente viável, segundo
ela, nos intervalos entre o fim de uma análise e o começo de outra.

A própria Horney seguia esse conselho, mantendo sistematicamente um diário de


exploração de si mesma. (203)

A auto análise traz benefícios, mas também tem suas limitações.

As obliterações que acompanham as defesas neuróticas são particularmente resistentes


mesmo na psicoterapia profissional, e é improvável que cedam a um indivíduo que
trabalhe sozinho.

Os ganhos secundários das tendências neuróticas podem ser satisfatórios demais para
ceder prontamente à análise.

"Não existe uma análise completa"

Muitas das idéias de Horney constituem a base dos conceitos desenvolvidos mais tardes
pelos psicólogos humanistas.

Ela estimulou a psicanálise a ser mais científica do que dogmática.

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