Você está na página 1de 7

07/04/2020

PSICOLOGIA DO O QUE É ENVELHECER?


ENVELHECIMENTO
Thiago Pereira Machado
Psicólogo
Mestre em Psicologia Institucional

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

DESAFIO A SER ENFRENTADO


u Crescimento acelerado da parcela mais velha da
população, no Brasil e no mundo.

u No Brasil, 26 milhões de pessoas, ou 13% da população


total, com idade a partir de 60 anos, que são os
Um novo olhar sobre a velhice.
classificados legalmente como idosos.(IBGE 2014)

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Mudanças na formulação de políticas públicas


voltadas a esta camada da população, como:

O Brasil tem sido precursor na promulgação de diversas leis


u Autonomia dos idosos;
voltadas para a pessoa idosa; participação de vários acordos
u Um envelhecimento saudável, ativo; internacionais pautados na questão do envelhecimento.
u Uma maior qualidade de vida para essas pessoas.

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

1
07/04/2020

ENVELHECIMENTO u Características físicas ou especificidades biológicas, como


critérios de classificação do sujeito na sociedade;

Homogeneização da categoria (velhos, idosos ou indivíduos


u Princípios de classificação que são utilizados em nossa
da terceira idade)
sociedade, até mesmo os que nos parecem ser “naturais”,
são na verdade construídos socialmente;
Categoria que na realidade se apresenta de formas
heterogêneas.
u Esses critérios geralmente se relacionam com o surgimento
de certas instituições e agentes especializados, que fazem
uso desses critérios para suas atividades;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Para Debert (1998) os estudos com a temática velhice


A CONSTRUÇÃO DA VELHICE esbarram em algumas dificuldades, pois é uma problemática
marcada por três características:

u Tal critério não pode ser considerado como um dado u É uma categoria que foi culturalmente produzida e tem
natural, mesmo quando utilizado em análises da evolução como referências supostos processos biológicos e
biológica de determinados indivíduos (Halbwachs); universais;

u É uma questão que na sociedade ocidental contemporânea


u Noção social; se constitui como problema social;

u É um tempo em torno do qual um discurso científico é


institucionalizado.
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

u Para Lenoir (1996), a primeira grande dificuldade


encontrada pelos pesquisadores deve-se ao fato de
u Estudo do processo de elaboração dessas categorias que
estarmos diante das representações já estabelecidas do
nosso objeto de estudo; classificam;

u Os princípios utilizados para a classificação de sujeitos em


u Pode nos induzir na maneira de apreendê-lo, defini-lo e
concebê-lo; nossa sociedade, até mesmo os que nos parecem ser
naturais, como a idade ou o sexo, foram construídos
u Essas pré-noções encontram um fundamento e uma
socialmente.
função social;

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

2
07/04/2020

A idade, não deve ser compreendida como sendo uma


Esses princípios de classificação não tem sua origem na consciência;
‘natureza’, mas em um trabalho social de produção das
populações;

São construídos segundo critérios juridicamente “um indivíduo humano, isolado, privado de qualquer
constituídos, por diferentes instituições, como:
relação com seus semelhantes e que não se apoiasse na
u Sistema escolar;
experiência social, nem chegaria a saber que deve
morrer”
u Médico;
Halbwachs, 1972
u Mercado de trabalho;
u Proteção social;

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Inicialmente a fragmentação da vida em etapas não era A idade não é um dado da natureza;
favorecida por alguns motivos, como:
Não é um princípio naturalmente constitutivo de grupos
u A falta de uma idade específica para começar a trabalhar; sociais, nem o fator explicativo dos comportamentos
humanos;
u Diferentes idades entre crianças da mesma família;

Rompimento com os pressupostos da psicologia do


A velhice é reconhecida como uma etapa isolada das outras, desenvolvimento que concebe o curso da vida como uma
resultado do processo de novas fases da vida e da separação sequência unilinear de etapas evolutivas em que cada etapa,
das idades nos espaços públicos e privados. apesar das particularidades sociais e culturais, seriam estágios
pelos quais todos os indivíduos passam e, portanto, teriam
caráter universal;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Philippe Ariès (1981), “História Social da Criança e da Família” A periodização das etapas da vida e a forma como cada
período é classificado por diferentes comportamentos
podem variar;

u A criança não existia como categoria, na Idade Média. Pertencer a “juventude” dizia menos respeito à idade
biológica do que à idade, bastante variável, em que os
u A criança era vista como um adulto em miniatura; herdeiros assumiam a sucessão da gestão do patrimônio, isto
é, em geral no momento da morte do pai;
u Sua constituição veio no século XIII, resultando no
afastamento das crianças com os adultos;
Os “jovens” eram cavaleiros celibatários votados à errância e
aventura, esperando o momento em que poderiam assumir a
sucessão dos pais e casar;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

3
07/04/2020

Mesmo sendo construídas e passíveis de mudanças no


decorrer dos anos, não significa que não possuam
A categoria ‘velhice’, assim como a ‘infância’ e a ‘juventude’, legitimidade em nossa sociedade.
não se tratam de características biológicas que pertencem a
todos os indivíduos com o passar dos anos; A partir do momento que os recortes são feitos, diferentes
direitos e deveres são estabelecidos e direcionados para cada
grupo, como por exemplo:
A manipulação das categorias de identidade envolve uma
verdadeira luta política, onde o que está em jogo é a
u Idade para início escolar;
redefinição de poderes ligados a grupos sociais distintos em
variados momentos no ciclo da vida; u Maioridade civil;
u Idade para votar;
u Permissão para trabalhar;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

As categorias e os grupos de idade contribuem para manter e


transformar as posições de cada um em espaços sociais e
específicos; O Estado redefiniu os espaços doméstico e familiar, visto
que as transformações na modernização ocidental também
Não é possível o estudo da velhice apenas com a utilização alteraram o próprio curso da vida como instituição social.
de informações biológicas, pois existem outros fatores que
são essenciais para pesquisas que buscam respostas mais
complexas; Uma forma de vida, em que a idade cronológica era
praticamente irrelevante, foi suplantada por outra, em que a
Simone de Beauvoir (1990) afirma que a temática não idade é uma dimensão fundamental na organização social
poderia ser compreendida senão em sua totalidade, pois ela
não é somente um fato biológico, mas também um fato
cultural;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VIDA
Padronização das fases: O Estado é a instituição que orienta a vida em sociedade;

u Infância; Questões da esfera privada e familiar foram transformadas


u Adolescência; em ordem pública;
u idade adulta;
No caso dos idosos, a partir de uma determinação legal, ou
u velhice; seja, 60 anos, o status da velhice é imposto ao indivíduo
determinando assim o seu papel na sociedade;
Mudança de uma economia com base doméstica para uma
baseada no mercado de trabalho;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

4
07/04/2020

A “VELHICE” COMO PROBLEMA SOCIAL


O Estado tem o poder de regular todo o percurso da vida do Surge na classe operária a partir de meados do século XIX;
indivíduo, do momento que nasce até a hora de sua morte,
através do controle das fases da vidas e das atividades Extensão rápida da organização do capitalismo do trabalho e do
sistema de atitudes que lhe é associado;
específicas para cada uma dela, como:
O salário remunera apenas a força investida no trabalho;
u Escola;
A “velhice” dos operários é, então, assimilada, à “invalidez”, à
u Trabalho; “incapacidade” para produzir;
u Aposentadoria;
A partir dessa lógica, as caixas de aposentadoria foram instituídas
pelos empresários a fim de reduzirem os custos da produção,
desfazendo-se em condições honrosas dos trabalhadores idosos
Thiago Pereira M achado que ganhavam demais pelo rendimento fornecido
Thiago Pereira M achado

Uma parte dos fundamentos da unidade e da estrutura do


grupo familiar encontra-se, assim, abalada;
u A guarda e educação das crianças são confiadas, à escola;
O que dava lugar a trocas e negociações de pessoa a pessoa,
u O acesso aos jovens ao mercado de trabalho é garantido tende, daí em diante, a ser assumido por instituições que
pela via de concurso ou agência de emprego; atuam segundo uma lógica própria

u A manutenção material da velhice é garantida por caixa de Nas considerações de que a velhice é uma nova juventude,
aposentadorias e estabelecimentos especializados; uma etapa produtiva da vida, é sempre reiterado o direito à
aposentadoria a partir de uma determinada idade
cronológica;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Como as pessoas idosas são consideradas incapazes de uma


A representação da velhice como um processo contínuo de
ação coletiva, são obrigadas a submeter-se para serem
perdas - em que os Indivíduos ficariam relegados a uma
reconhecidas e ouvidas;
situação de abandono, de desprezo e de ausência de papéis
sociais - foi responsável por uma série de estereótipos
Os representantes das pessoas idosas são, “sobretudo experts,
negativos em relação aos velhos;
cuja competência é oficialmente reconhecida cientificamente;
Mas foi, também, um elemento fundamental para a
Especialistas formularam a nova definição da velhice como legitimação de um conjunto de direitos sociais que levaram,
uma nova maneira de “ser velho”, ou seja, a velhice não era
por exemplo, universalização da aposentadoria;
mais assumida por suas famílias, mas pelos sistemas de
aposentadoria.

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

5
07/04/2020

A velhice se tornou objeto do discurso científico de uma


especialidade, a gerontologia; Com este discurso científico, além da difusão de regras de
higiene corporal, houve um reforço da imagem do
Os primeiros discursos pertenciam ao campo médico e envelhecimento como um enfraquecimento orgânico;
tratavam o envelhecimento como desgaste fisiológico;
Os custos da manutenção da velhice, das pensões pagas,
Com as políticas de aposentadoria, problemas econômicos e passam a ser avaliados;
financeiros, o discurso científico impõe-se no campo político
administrativo; É neste momento e mediante a este cenário, que a velhice
começa a ser assimilada com a aposentadoria;
Era o momento de analisar o custo financeiro do
envelhecimento;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Diferentes especialistas, como:


u Psicólogos;
u Demógrafos; O saber científico não é um saber exclusivamente técnico,
u Economistas; mas um saber que produz fatos normativos;

Não só analisaram a questão do envelhecimento, que se


O discurso da terceira idade não foi um simples discurso. Ele
transformou em um problema nacional, mas também, foi utilizado por agentes que também estão envolvidos na
estabeleceram quais eram as necessidades dos aposentados e gestão cultural e psicológica da velhice para legitimar e
os caminhos para a resolução de eventuais problemas;
normalizar uma nova velhice;
Do desgaste fisiológico e o prolongamento da vida ao
desequilíbrio demográfico e o custo financeiro das políticas
sociais;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Com a mudança dos nomes, de velho para idoso, o termo além


de passar a ser usado oficialmente também estabelece novas
formas, mecanismos e atividades associadas a esta nova
etapa da vida; O ESTADO NORMAL DA TERCEIRA
IDADE É O LAZER
Esta construção da imagem de uma velhice bem-sucedida
proporcionou a criação de espaços onde o envelhecimento
pudesse ser vivido de maneira agradável e coletivamente,
como os Grupos de Convivência e as Universidades Para
Terceira Idade;

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

6
07/04/2020

Esses discursos sobre a terceira idade, acabam sendo A imagem do envelhecimento bem-sucedido, não oferece
impostos pela política e também pela mídia;
instrumentos capazes de enfrentar os problemas envolvidos
A supervalorização da juventude, agora não mais específica na perda de habilidades cognitivas e de controles físicos e
apenas para uma determinada faixa etária, mas como estilo emocionais que estigmatizam o velho e que são
de vida; fundamentais, na nossa sociedade, para que um indivíduo
seja reconhecido como um ser autônomo, capaz de um
Aumento da oferta de serviços que garantem a beleza e exercício pleno dos direitos de cidadania;
juventude eterna através de tecnologias que corrigem as
imperfeições do corpo; A boa aparência, o bom relacionamento sexual e afetivo
deixam de depender de qualidades fixas que as pessoas
O mesmo empenho investido no envelhecimento bem- podem possuir ou não, e se transformam em algo que deve
sucedido, não é direcionado para lidar com os problemas da ser conquistado a partir de um esforço pessoal;
velhice avançada, como os problemas de saúde;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

No caso da velhice, dificilmente poderíamos supor que há O declínio inevitável do corpo, que não responde às
uma democratização das relações e uma tolerância maior demandas da vontade individual, é antes percebido como
com o corpo envelhecido. fruto de transgressões e por isso não merece piedade;

As técnicas de manutenção corporal com a ênfase no corpo Re-privatização da velhice, onde a responsabilidade da
jovem transformaram a meia-idade em uma espécie de platô maneira como o indivíduo vive essa fase da vida passa a ser
que pode ser eternamente mantido. toda dele;

O envelhecimento se transforma em um novo mercado de O Estado utiliza os discursos científicos, transformando


consumo, não há lugar para a velhice, que tende a ser vista problemas decorrentes de processos do envelhecimento a
como consequência do descuido pessoal, da falta de serem solucionados pela via da responsabilidade individual,
envolvimento em atividades motivadoras, da adoção de anulando elementos que podem constituir preocupação
formas de consumo e estilos de vida inadequados. coletiva e atenção maior das instituições estatais;
Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

REFERÊNCIAS
u DEBERT, Guita Grin. Pressupostos da Reflexão Antropológica Sobre a Velhice. In:
Se um Indivíduo não é ativo, não está envolvido em DEBERT, Guita Grin. Antropologia e Velhice, Textos Didáticos, n.19, IFCH, 1998.
Disponivel em:
programas de rejuvenescimento, atinge a velhice no https://www.academia.edu/14969267/PRESSUPOSTOS_DA_REFLEX%C3%
isolamento e na doença, a culpa é exclusivamente dele; 83O_ANTROPOL%C3%93GICA_SOBRE_A_VELHICE

u FELIPE, Thayza Wanessa Silva Souza; SOUSA, Sandra Maria Nascimento. A


construção da categoria velhice e seus significados. PRACS: Revista Eletrônica de
Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP Macapá, v.7, n. 2, p. 19-
33, jul.-dez. 2014. Disponível em:
https://periodicos.unifap.br/index.php/pracs/article/view/1384/thayzav7n2.pdf

Thiago Pereira M achado Thiago Pereira M achado

Você também pode gostar