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O CASO P. V
Para tornar mais sintetizado, o terapeuta se coloca em uma postura de facilitador das
expressões de seu cliente, para isso não se utilizando da interpretação, mas sim, da
compreensão existencial imediata do cliente (GOMES; CASTRO, 2010).
Sabe-se que em psicoterapia a maior ferramenta de trabalho é a fala, porém quando não
possuímos essa atitude do cliente deve-se notar que a comunicação não é apenas verbal,
podendo ser expressa também de um modo não-verbal onde o “falar” pode se ter um sentido
mais amplo, em apenas “comportar-se”.
Mesmo se terapeuta e paciente iniciam a terapia pela fala, muitas mensagens são transmitidas
de forma não verbal ao longo do processo, e cada um, paciente como terapeuta, aprende a “ler”
e interpretar a linguagem silenciosa do outro no diálogo terapêutico. (FIGUEIREDO, 2005, p.32).
Miranda e Freire (2012), em seu artigo sobre comunicação terapêutica, nos traz um pensamento
do próprio Rogers, que em seu livro “Tornar-se Pessoa” (1961-1997), relata seu entendimento
sobre as maneiras de se comunicar, nos dizendo que, normalmente uma pessoa desajustada
possui muitas dificuldades em falar, pois rompeu a comunicação consigo mesmo sendo,
portanto o resultado disso o prejuízo com a comunicação com os outros.
Torna-se necessário um contato mais sensível, sem cobranças e imposições para que o
tratamento seja bem aceito pelo cliente (MIRANDA, 2012).
De alguma maneira a palavra adolescência nos remete a uma forma de adoecer e de sofrer,
podemos confirmar tal pensamento tomando as ideias de Jerusalinsky (2004) quando ele fala
sobre adolescência e contemporaneidade, relatando que o sofrimento pela falta da proteção da
infância passa a se tornar uma exposição, exposição essa que por sua vez causa sofrimento e
sentimentos de desamparo e angústia.
Diante de tais sentimentos nessa fase, é que de alguma forma o sofrimento psíquico vai se
instalando de forma gradual,
Sabemos que o ser humano é afetivo e que precisa dessas manifestações para conviver de
maneira saudável. Partindo-se da conceituação de afetividade descrita por Ballone (2005), para
compreender melhor a sua importância. Portanto afetividade é como uma energia capaz de
impulsionar o indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento do ser
com sua vida, como o humor necessário para valoração das vivências.
Quando essa energia já não é mais suficiente, nos deparamos muitas vezes com quadros graves
de doenças psicológicas como a depressão, ou seja, a falta de vontade de enfrentar a vida é
maior do que vontade de expressar seus conflitos e problemáticas a serem melhoradas.
É por meio do se manter calado que sujeito, neste caso o adolescente, vai “enfrentando” as
vicissitudes do seu processo de desenvolvimento (JERUSALINSKY, 2004).
“É preciso salientar que o terapeuta deve examinar e apreender a linguagem verbal e não verbal
do cliente, sempre baseado no contexto.
Nas palavras de Erthal (1995), o silêncio, a imobilidade ou qualquer outra forma de renúncia já
em si uma comunicação” (ALMEIDA; NETO, 2012).
De frente a tal dificuldade é necessário um olhar mais compreensivo do que interpretativo, e dar
consciência ao cliente sobre essa experiência de se calar.
Fazemos isso por meio de intervenções mais assertivas, ou seja, fazer com o que o cliente
perceba os seus comportamentos, sinalizando para ele suas condutas e a sua forma de
comunicação não verbal.
No caso clínico descrito, o adolescente se recusa não apenas a se expressar, a sua recusa está
estabelecida também diante dos contatos afetivos e sociais, na sua alimentação, no seu modo
de andar.
Torna-se complexo para esse sujeito, colocar para fora, de modo literal, todas suas
manifestações, a sua forma de existir consiste em estar totalmente voltado para dentro, onde o
mundo exterior não é aceito.
Nesse sentindo a redução é observar o fenômeno do silêncio e apreender para além do não é
dito, é considerar que sua totalidade existencial que vai além de uma hipótese diagnóstica e
interpretativa e sim lançando um olhar para o sujeito integral que está em terapia.
Outra característica expressa por esse adolescente está estabelecida por meio de um
embotamento severo, onde o contato afetivo e social é negado pelo sujeito, suas experiências
estão se voltando para um mundo interno, impossibilitando o acesso do terapeuta por meio da
fala.
Tornando-se apenas possível estabelecer o contato e possível vínculo, por meio de perguntas
diretas e objetivas, sendo correspondidas com “sim” ou “não” expresso por movimentos com a
cabeça. Mediante isso, o papel do terapeuta é assinalar para o cliente que essa foi a maneira
encontrada para lidar com o vazio.
Portanto, cabe a nós como profissionais aprendermos a lidar com o nosso próprio silêncio para
que o processo terapêutico se torne um espaço em que possamos ouvir para além do que é dito,
um espaço de acolhida, mesmo que a princípio não seja manifestado nenhuma fala.