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CURSO DE PSICANALISE CLINICA

MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

PALAVRA DO REITOR DO SETEAD

Estamos vivendo tempos de fome espiritual, onde heresias têm procurado se instalar no seio da
Igreja; Deus levantou o projeto para um grande avivamento espiritual. Não basta apenas termos
talentos naturais ou compreensão das conseqüências das crises que o mundo atravessa.
Precisamos,exercer influências com nosso testemunho perante os que dispomos a ensinar a
Palavra de Deus. é muito importante porque nos dará ampla visão da teologia Divina, atrairá
futuros líderes ao aprendizado e criará um ambiente mais espiritual na nossa Igreja (Koinonia).
Aprendizados errados geram desastres e resistência à Obra de Deus. Somente o correto de forma
correta leva ao sucesso, na consciência e submissão ao Espírito Santo que rege a igreja. Temos
que combinar estratégias de ensino com o nosso caráter revelado em nossas vidas; devemos
incentivar a confiança dos alunos na Escritura, com coerência e potencial. Temos capacidade, em
Deus, de mudarmos o mundo, começando do mundo interior das consciências humanas dos
alunos, que se tornarão futuros evangelizadores capacitados na Bíblia. Tome esta certa decisão:
Estude, antes, o material, reúna seus alunos, apresente os planos de aula, dê um tempo para
refletirem, divulgue a doutrina, em conjunto, como facilitador do processo educacional,
tranqüilize e encoraje os outros a fazerem parte de novas turmas. Não preguemos a verdade para
ferirmos os outros ou para destruir, mas para ajudar e corrigir as almas,com amor, esperando que
Deus lhes conceda o entendimento do Reino dos Céus.
Como facilitador da visão de ensino, conheça os quatro pilares da Educação:
1) Aprender a Conhecer: -Tenha a humildade de saber que não sabes tudo; Seja competente,
compreensivo, útil, atento, memorizador e informe o assunto de forma contextualizada com a
realidade atual.
2) Aprender a fazer: -Seja Preparado para ministrar as aulas, conhecendo a matéria previamente,
estimulando a criatividade dos alunos, preparando-os para a tarefa determinada de Jesus de serem
discípulos.
3) Aprender a Viver juntos: -Estimule a descoberta mútua entre os alunos da Palavra de Deus,
em forma de solidariedade, cooperativismo, promovendo auto-conhecimento e auto-estima entre
os alunos, na solidariedade da compreensão mútua; o objetivo do curso não é apenas ter
conhecimento, mas “ser cristão”.
4) Aprender a Ser: -Resgate a visão holística (completa) e integral dos alunos, preparando-os
para integrarem corpo, alma e espírito com sensibilidade, ética, responsabilidade social e
espiritualidade, formando juízo de valores, levando-os a aprenderem a decidir por si mesmos,
com a ajuda do Espírito Santo. Lembrem-se de que a primeira impressão é a que fica marcada na
consciência.
Deus vos abençoe.

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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

DISCIPLINA INTRODUÇÃO DA TERAPIA FREUDIANA

1-HISTORIA DA PSICANALISE

Médico vienense, fundador da psicanálise. Nascido em Freiberg, na Moravia (ou Pribor, na


República Tcheca), em 6 de maio de 1856.[...]

Como clínico, tratava essencialmente de mulheres da burguesia vienense, qualificadas como


"doentes dos nervos" e sofrendo de distúrbios histéricos.[...] Procurou, antes de tudo, curar e
tratar de suas pacientes, aliviando os seus sofrimentos psíquicos. Durante um ano, utilizou os
métodos terapêuticos aceitos na época: massagens, hidroterapia, eletroterapia. Mas logo
constatou que esses tratamentos não tinham nenhum efeito. Assim, começou a utilizar a
hipnose, inspirando-se nos métodos de sugestão de Hippolyte Bernheim. [...]

Trabalhando ao lado de Josef Breuer (médico austríaco), Freud abandonou


progressivamente a hipnose pela catarse, inventou o método da associação livre e, enfim, a
psico-análise. Essa palavra foi empregada pela primeira vez em 1896 e sua invenção foi
atribuída a Breuer.

No âmbito de sua amizade com Wilhelm Fliess ( médico alemão), ocorreram vários
acontecimentos maiores na vida de Freud: sua auto-análise, um intercâmbio de caso (Emma
Eckestein), a publicação de um primeiro grande livro, "Estudos sobre a histeria", no qual são
relatadas várias histórias de mulheres [...] e, enfim, o abandono da teoria da sedução segundo
a qual toda neurose se explicaria por um trauma real. Essa renúncia, fundamental para a
história da psicanálise, ocorreu em 21 de setembro de
1897. Freud comunicou-a a Fliess em tom enfático, em uma carta que se tornaria célebre:
"não acredito mais na minha Neurótica."

Começou então a elaborar sua doutrina da fantasia, concebendo em seguida uma nova teoria do
sonho e do inconsciente, centrada no recalcamento e no Complexo de Édipo. Seu interesse pela
tragédia de Sófocles foi contemporânea de sua paixão por Hamlet. Freud era um grande leitor
de literatura inglesa, alimentando-se especificamente da obra de Shakespeare: "Uma idéia
atravessou o meu espírito", escreveu a Fliess em
1897, "de que o conflito edipiano encenado em Édipo Rei de Sófocles poderia estar também
no cerne de Hamlet. Não acredito em uma intenção consciente de Shakespeare, mas,
antes, que um acontecimento real levou o poeta a escrever esse drama, tendo seu próprio
inconsciente lhe permitido compreender o inconsciente do seu herói."[..]

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Da nova teoria do inconsciente nasceria um segundo grande livro, publicado em


novembro de 1899, "A Interpretação dos Sonhos". "Você acredita", escreveu a Fliess, no
dia 12 de junho de 1900, "que haverá um dia nesta casa uma placa de mármore com esta
inscrição: 'foi nessa casa que, em 24 de julho de 1895, o mistério do sonho foi revelado
ao doutor Sigmund Freud'? Até agora, tenho pouca esperança."

Entre 1901 e 1905, Freud publicou seu primeiro caso clínico (Dora) e três outras obras: "A
psicopatologia da vida cotidiana" (1901), "Os chistes e sua relação com o
inconsciente" (1905), "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" (1905).

Em 1902, com Afred Adler, Wilhelm Stekel, Max Kahane (1866-1923) e Rudolf Reitler
(1865-1917), fundou a Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, primeiro círculo da
história do freudismo. Durante os anos que se seguiram, muitas personalidades do
mundo vienense se juntaram ao grupo: Paul Federn, Otto Rank, Fritz Wittels, Isidor
Sadger.

Em 1907 e 1908,o círculo dos primeiros discípulos freudianos se ampliou ainda mais,
com a adesão à psicanálise de Hanns Sachs, Sandor Ferenczi, Karl Abraham, Ernest
Jones, Abraham Arden Brill e Max Eitingon.

Durante o primeiro quarto do século, a doutrina freudiana se implantou em vários


países: Grã-Bretanha, Hungria, Alemanha, costa leste dos Estados Unidos. Na Suíça
produziu-se um acontecimento maior na história do movimento psicanalítico: Eugen
Bleuler, médico co-chefe da clínica do hospital Burghölzli de Zurique, começou a aplicar o
método psicanalítico ao tratamento das psicoses, inventando ao mesmo tempo a noção
de esquizofrenia. Uma nova "terra prometida" se abria assim à doutrina freudiana:
ela podia, a partir de então, investir o saber psiquiátrico e tentar dar uma solução para o
enigma da loucura humana.

No dia 3 de março de 1907, Carl Gustav Jung, aluno e assistente de Bleuler, foi a Viena
para conhecer Freud. Depois de várias horas de conversa, ficou encantado com esse
novo mestre. Seria o primeiro discípulo não-judeu de Freud.

Em 1909, a convite de Grandville Stanley Hall, Freud, em companhia de Jung e de


Ferenczi, foi à Clark University de Worcester, em Massachusetts, para dar cinco
conferências, que seriam reunidas sob o título de "Cinco lições de psicanálise". Apesar de

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um encontro produtivo com James Jackson Putnam e de um sucesso considerável, Freud


não gostou do continente americano. Durante toda a vida, desconfiaria do espírito
puritano desse país que acolhia suas idéias com um entusiasmo ingênuo e
desconcertante.

Temendo o anti-semitismo e que a psicanálise fosse assimilada a uma "ciência judaica",


Freud decidiu "desjudeizá-la", pondo Jung à frente do movimento. Depois de um

primeiro congresso, que reuniu em Salzburgo, em 1908, todas as sociedades locais, criou
com Ferenczi, em Nuremberg, em 1910, uma associação internacional, a
Internationale Psychoanalytische Vereinigung (IPV). Em 1933, a sigla alemã seria
abandonada. A IPV se tornaria então a International Psychoanalytical Association (IPA).

Entre 1909 e 1913, Freud publicou mais duas obras: "Leonardo da Vinci: uma
lembrança da sua infância" (1910) e "Totem e Tabu" (1912-1913).
A partir de 1910, a expansão do movimento se traduziu por dissidências, tendo como
motivo simultaneamente querelas pessoais e questões teóricas e técnicas. Em 1911,
Adler e Stekel se separaram do grupo freudiano.

Dois anos depois, Jung e Freud romperam todas as suas relações. Não suportando
desvios em relação à sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da Primeira Guerra
Mundial, um verdadeiro panfleto, "A história do movimento psicanalítico", no qual
denunciou as traições de Jung e Adler.
Depois, criou um Comitê Secreto, composto de seus melhores paladinos, aos quais
distribuiu um anel de fidelidade.

Apoiados por Jones, os berlinenses (Abraham e Eitingon) preconizavam a ortodoxia


institucional, enquanto os austro-húngaros (Rank e Ferenczi) se interessavam mais
pelas inovações técnicas. Uma nova dissidência marcou ainda a história desse primeiro
freudismo: a de Wilhelm Reich.[..]

Com o desmoronamento do império austro-húngaro, Berlim se tornou a capital do


freudismo, como provou a criação do Berliner Psychoanalytisches Instiitut (BPI), e as
numerosas atividades do instituto de Frankfurt em torno de Otto Fenichel e da
"esquerda freudiana". Enquanto os americanos afluíam a Viena para se formar no divã do
mestre, este analisava a própria filha, Anna Freud. Esta não tardaria a tornar-se chefe de
escola e a opor-se a Melanie Klein, sua principal rival no campo da psicanálise de crianças.
Nesse aspecto, a oposição entre a escola inglesa e a escola vienense, que se desenvolveu
na IPA a partir de 1924 e que girava em torno da questão da sexualidade
feminina, mostrou o lugar cada vez mais importante das mulheres no movimento
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psicanalítico. No centro dessa polêmica, Freud manteve sua teoria da libido única e do
falocentrismo, sem com isso mostrar-se misógino. Ligado em sua vida particular a
uma concepção burguesa da família patriarcal, adotava, todavia, em suas amizades com
mulheres intelectuais, uma atitude perfeitamente cortês, moderna e igualitária. Por sua
doutrina e por sua condição de terapeuta, desempenhou um papel na emancipação
feminina.

Nos anos 1920, Freud publicou três obras fundamentais, através das quais definiu sua
segunda tópica e remanejou inteiramente sua teoria do inconsciente e do dualismo
pulsional: "Mais-além do princípio de prazer" (1920), "Psicologia das massas e análise
do eu" (1921), "O eu e o isso" (1923). Esse movimento de reformulação conceitual já
começara em 1914, quando da publicação de um artigo dedicado à questão do
narcisismo. Confirmou-se, em 1915, com a elaboração de uma metapsicologia e a
publicação de um ensaio sobre a guerra e a morte, no qual Freud sublinhava a

necessidade para o sujeito de "organizar-se em vista da morte, a fim de melhor suportar a


vida". Dessa reformulação, centrada na dialética da vida e da morte e em uma
acentuação da oposição entre o eu e o isso, nasceriam as diferentes correntes do
freudismo moderno: Kleinismo, Ego Psycholog, Self Psychology, lacanismo,
annafreudismo, Independentes. [...]

Em fevereiro de 1923, Freud descobriu, do lado direito de seu palato, um pequeno


tumor, que devia ser logo extirpado. Em um primeiro tempo, Felix Deutsch, seu médico,
lhe ocultou a natureza maligna desse tumor. Freud se indispôs com ele. Seis meses
depois, Hans Pichler, cirurgião vienense, procedeu a uma intervenção radical: a
ablação dos maxilares e da parte direita do palato. Trinta e uma operações seriam
feitas posteriormente, sob a supervisão de Max Schur. Freud foi obrigado a suportar
uma prótese, que ele chamava de "monstro". "Com seu palato artificial", escreveu
Stefan Zweig, "ele tinha visivelmente dificuldade para falar[...]. Mas não abandonava
seus interlocutores. Sua alma de aço tinha a ambição particular de provar a seus
amigos que sua vontade era mais forte que os tormentos mesquinhos que seu corpo lhe
infligia [...]".

Em 1926, depois de um processo intentado contra Theodor Reik, tomou vigorosamente a


defesa dos psicanalistas não-médicos, publicando "A questão da análise leiga". No ano
seguinte, deflagrou com seu amigo Oskar Pfister uma polêmica ao publicar "O futuro
de uma ilusão", obra na qual comparava a religião a uma neurose. Enfim, em
1930, com "O mal-estar na cultura", questionava a capacidade das sociedades
democráticas modernas de dominar as pulsões destrutivas que levam os homens à sua
perda.
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Dois anos depois, em um intercâmbio com Albert Einstein (1879-1955), enfatizou que o
desenvolvimento da cultura era sempre uma maneira de trabalhar contra a guerra.
Cada vez mais pessimista quanto ao futuro da humanidade, Freud não tinha nenhuma
ilusão sobre a maneira como o nazismo tratava os judeus e a psicanálise.

Entretanto, no dia seguinte ao incêndio do Reichstag, decidiu com Eitingon manter a


existência da Berliner Psychoanalytisches Instiitut. Embora não aprovasse a política de
"salvamento" da psicanálise, preconizada por Jones, cometeu o erro de privilegiar a luta
contra os dissidentes (Reich e os adlerianos) Mas em março de 1938, no momento da
invasão da Àustria pelas tropas alemãs, Richard Sterba, agiu em sentido contrário,
decidindo recusar a política de Jones e não criar em Viena um instituto "arianizado"
como o de Göring, em Berlim. Tomou-se então a decisão de dissolver a Wiener
Psychoanalytiche Vereinigung e transporta-la "para onde Freud fosse morar". Graças à
intervenção do diplomata americano William Bullitt (1891-1967) e a um resgate pago
por Marie Bonaparte, Freud pôde deixar Viena com sua família. No momento de partir,
foi obrigado a assinar uma declaração na qual afirmava que nem ele nem seus
próximos haviam sido importunados pelos funcionários do Partido Nacional-Socialista.
Em Londres instalou-se em uma bela casa em Maresfield Gardes 20, futuro Freud
Museum. Ali, redigiu sua última obra, "Moisés e o monoteísmo". Nunca saberia do
destino dado pelos nazistas às suas quatro irmãs, exterminadas em campos de
concentração.

Aos seus familiares, que lhe perguntavam se aquela seria a última guerra, respondia:
"Será minha última guerra." Em 21 de setembro, pegou a mão de Max Schur e lembrou o
primeiro encontro dos dois. "Você prometeu não me abandonar quando chegasse à hora.
Agora é só uma tortura sem sentido." Depois, acrescentou: "Fale com Anna; se ela achar
que está bem, vamos acabar com isso." Por três vezes, ele deu a Freud uma injeção de três
centigramas de morfina. Em 23 de setembro, às três horas da manhã, depois de dois
dias de coma, Freud morreu tranqüilamente. As cinzas de Freud repousam no
crematório de Golders Green.

*Texto extraído do Dicionário de Psicanálise deautoria de Elisabeth Roudinesco e


Michel Plon. Jorge Zahar Editor. 1998.

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2-TEORIA DE S FREUD

TÓPICOS DA TEORIA
FREUDIANA

1. Freud nasceu em 1856 na Áustria e faleceu em 1939 em


Londres.

2. Fundador da PSICANÁLISE ou TEORIA PSICANALÍTICA que é o campo de


hipóteses sobre o funcionamento e desenvolvimento da mente no homem. Se
interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico.

3. Freud demonstrou que o homem não é apenas um ser racional. Há impulsos irracionais
que nos influenciam.

4. Estes impulsos irracionais se manifestam através do


INCONSCIENTE

5. INCONSCIENTE = parte maior de nossa psique, não é uma coisa embutida no


fundo da cabeça dos homens e nem um lugar e sim uma energia e uma lógica em tudo
oposta à lógica da consciência que é a parte menor e mais frágil da nossa estrutura mental.
Podemos imaginar a consciência como a ponta de um iceberg e a montanha
submersa abaixo como o inconsciente. "A percepção que temos do mundo é
consciência; as lembranças, inclusive a dos sonhos e devaneios são consciência. A
memória é consciência e só há memória de fatos mentais conscientes. " (pág. 46, O que
é psicanálise, Fábio Herrmann)

6. Características do INCONSCIENTE: opostas às características da consciência. Por


isso desconhece o tempo, a negação e a contradição. Suas manifestações não são
percebidas diretamente pela consciência por isso requer deciframento e interpretação.
(Exemplo: nos sonhos o inconsciente se revela através de um conteúdo manifesto =
o que aparece na consciência - e de um conteúdo latente = o conteúdo real e oculto).
"O inconsciente... é uma interpretação ao contrário" (pág. 40, O que é psicanálise, Fábio
Herrmann). Se como veremos o princípio básico do funcionamento da mente é,
segundo Freud, o de evitar desprazer, o INCONSCIENTE é então o lugar teórico das
representações recalcadas ou o próprio processo de recalcamento, que impede certas idéias
de emergir na consciência.

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7. A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise mas não tem um


sentido restrito, ou seja, apenas genital. Tem um sentido mais amplo = toda e
qualquer forma de gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido
amplo existe em nós desde o nosso nascimento.

8. A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os princípios antagônicos


que fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego clássico, vida) X
THANATOS (do grego clássico, morte) B) Princípio do Prazer X Princípio da Realidade

- Eros = ligado às pulsões de vida, impulsiona ao contato, ao embate com o outro e


com a realidade. Sendo a vida tensão permanente, conflito permanente coloca-nos no
interior de afetos conflitantes e pode não ser a realização do princípio do prazer.

- Thanatos = é o princípio profundo do desejo de não separação, de retorno à situação


uterina ou fetal, quer o repouso, a aniquilação das tensões. Está vinculado às pulsões da
morte pois somente esta poderá satisfazer o desejo de equilíbrio, repouso e paz absolutos.

- Princípio do Prazer = é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez


mais. "É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer
saber de mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do
próprio sujeito" (pág. 95, "Sobre Ética e Psicanálise", Maria Rita Kehl). Não está
necessariamente ligado a Eros mas de forma mais profunda a Thanatos pois "se o desejo
do homem for o repouso, o imutável, a fuga do conflito, somente a morte (Thanatos)
poderá satisfazer tal desejo." (pág. 63, "Repressão Sexual", Marilena Chauí)

- Princípio da Realidade = princípio que nos faz "compreender e aceitar que nem tudo o
que se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre
pode ser conservado e muitas vezes não pode ser aumentado." (pág. 63, op. Cit.,
Marilena Chauí). Impõe-nos limites internos e externos.

9. Psicanálise e Agressividade - Freud presumiu na nossa vida mental a existência de


dois impulsos, o sexual e o agressivo. Os dois impulsos se encontram normalmente
fundidos. Assim um ato de crueldade pode possuir um significado sexual inconsciente
como um ato de amor pode ser um meio inconsciente de descarga do impulso agressivo.
A agressividade tem uma origem biológica e social na teoria freudiana. A agressividade
faz parte das pulsões de morte mas não está ligada exclusivamente a Thanatos. Está
também ligada a Eros fazendo parte das pulsões eróticas. Isto acontece por exemplo
quando tentamos modificar o outro ou o mundo para torná-los mais compatíveis com o
princípio do prazer. No limite é uma tendência destrutiva mas também "representa a
vocação humana para a rebeldia." (pág. 473, Os sentidos da Paixão, Maria Rita Kehl).
Toda civilização faz um pacto pelo qual se reprime grande parte da agressividade em
troca das vantagens da convivência humana. Mas o preço que pagamos é o de um
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rebaixamento geral dos instintos de vida e o excesso de repressão pode levar às


doenças psíquicas. O ideal para Freud "seria um equilíbrio entre a realidade psíquica
do homem e as exigências da vida em sociedade". (pág. 116 da apostila, Texto: O
caso de Romualdo e a violência)

10. A nossa vida psíquica tem três instâncias segundo Freud: 1ª) ID = parte
inconsciente formada por instintos e impulsos orgânicos e desejos inconscientes, (ou
pulsões) que são regidas pelo Princípio do Prazer e são de natureza sexual no sentido
amplo já explicitado acima. O Centro do ID é o Complexo de Édipo. 2ª) SUPEREGO =
parte inconsciente. Instância repressora do ID e do EGO, proveniente tanto das proibições
culturais e sociais interiorizadas

"quanto das proibições que cada um de nós elabora inconscientemente sobre os afetos."
(M. Chauí, op. cit., pág. 66). É o agente da civilização que tem o papel de dominar o
perigoso desejo de agressão do indivíduo. Através dele a civilização consegue inibir a
agressividade humana introjetando-a para o interior do sujeito propiciando o
SENTIMENTO DE CULPA. 3ª) EGO = é a consciência submetida aos desejos do ID e
repressão do SUPEREGO. Obedece ao Princípio da Realidade. Vive sob angústia
constante pois busca um equilíbrio entre os desejo do ID e a repressão do SUPEREGO,
busca satisfazer ao mesmo tempo o ID e o SUPEREGO. Quando o conflito é muito
grande e o EGO não consegue satisfazer o ID este é rejeitado determinando o processo
chamado REPRESSÃO. Mas o que foi reprimido não permanece no inconsciente e
reaparece então sob a forma de SINTOMAS (=representantes do reprimido).

11. MECANISMOS DE DEFESA: O Ego não é somente consciência. Há funções


inconscientes nele, os famosos Mecanismos de Defesa. Através deles o EGO dribla as
exigências do ID e do SUPEREGO. "Diante de uma pulsão proibida, cuja satisfação daria
prazer se o superego não se opusesse, há que convencer o princípio do prazer de que
sucederá dor. Para efetivar esse truque, o EGO aciona uma espécie de alarma, um
pequeno sinal de angústia, sempre que tal tipo de pulsão se lhe apresenta à porta. Como
se dissesse ao ID: veja como isso que aparece bom, na verdade, dói. E o ID, enganado
até certo ponto, cede energias para contrariar seus próprios fins pulsionais. Basta então
ativar os MECANISMOS DE DEFESA, carregados dessa energia..." (O que é Psicanálise,
Fábio Herrmann, pág. 52 e 53).

12. Segundo Freud há três fases da sexualidade humana (lembre-se do sentido amplo
da sexualidade) que se desenvolvem entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos: 1ª)
Fase Oral = prazer através da boca (ingestão de alimentos, sucção do seio materno,
chupeta, etc...)
2ª) Fase Anal = prazer localizado primordialmente nas excreções e fezes, brincar com
massas e com tintas, etc...
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3ª) Fase Genital ou Fálica = prazer principalmente nos órgãos genitais e partes do corpo
que excitam tais órgãos. Momento do surgimento do Complexo de Édipo.

13. COMPLEXO DE ÉDIPO = complexo de sentimentos e afetos com


componentes de agressividade, fúria e medo, paixões, amor e ódio, oriundos dos desejos
sexuais em relação aos genitores de sexo oposto que acontece entre os 5 e 6 anos de idade.
O complexo de Édipo se manifesta no menino desejando a mãe e querendo eliminar o pai,
seu concorrente. O medo da castração por parte do pai faz com que renuncie ao desejo
incestuoso e aceite as regras ou a Lei da Cultura. Na menina se manifesta pelo fato de
descobrir que não tem o pênis-falo, e com isto, sente-se prejudicada, tem "inveja do
pênis". Ao perceber que a mãe também não o tem, passa a desvalorizá-la e, nessa
medida, se dirige para a figura do pai, dotado de FALO e, portanto, cheio de poder e
fascinação.

Observação: De acordo com a interpretação do psicanalista LACAN (nascido em Paris em


1901 e falecido na mesma cidade em 1981) o que provoca inveja não é o pênis
anatômico, mas o PÊNIS-FALO, o objeto imaginário fálico, que tem o sentido de
COMPLETUDE e de PLENITUDE NARCÍSICAS. Neste sentido o homem também tem
inveja do pênis-falo. Com este sentido o FALO está presente em todos os seres humanos de
tal forma que a falta do pênis nas meninas e mulheres simplesmente é negada. O falo é, em
última análise, o significado da falta, conforme o define Lacan.

- Mas apesar de o menino abandonar o desejo pela mãe por medo da castração ela não
deixa de acontecer para ambos os sexos e de forma simbólica de acordo com a
interpretação de Lacan. CASTRAÇÃO no sentido simbólico significa a impossibilidade
de retorno ao estado narcísico do qual fomos expulsos com o nosso nascimento.
CASTRAÇÃO significa a perda, a

falta, o limite imposto à onipotência do desejo. É um processo que já acontece desde o


corte do cordão umbilical. A rigor quem castra é a mãe. Se a mãe permite a
independência da criança, negando formar um todo narcísico com ela, ela castra. A
castração é um evento absolutamente progressista na nossa vida e que torna possível a
vida em sociedade e a nossa autonomia. Através da CASTRAÇÃO introduz-se a LEI
DA CULTURA que é produto de Eros e não de Thanatos. A Lei não existe para
aniquilar o desejo e sim para articulá-lo com a convivência social. "É a guardiã do desejo
na medida em que o encaminha no sentido de uma subordinação ao Princípio da
Realidade" (pág. 312, Os Sentidos da Paixão, Hélio Pellegrino)

- A CASTRAÇÃO nos faz sentir como seres incompletos, carentes. Mostra-nos que é da
brecha entre tudo o que se quer e aquilo que se pode (princípio de Realidade) que
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nascem as possibilidades de movimentos do desejo. Mas o seu exagero pode trazer


conseqüências negativas como as neuroses.

14. Psicanálise, razão e consciência - Descobrir a existência do inconsciente não é


esquecer a consciência, a razão, e abandoná-las como algo ilusório e inútil. É pela
consciência, pela razão, que desvendamos e deciframos o inconsciente. Em outras
palavras, a razão não está descartada apesar das forças irracionais inconscientes.
Longe de desvalorizar a razão a psicanálise exige que o pensamento racional não "faça
concessões às idéias estabelecidas, à moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de
nossa sociedade, em que os enfrente em nome da própria razão e do pensamento." (pág.
356, Convite à Filosofia, Marilena Chauí)

15. Psicanálise e Ética - A psicanálise mostrou que uma das causas dos distúrbios
psíquicos é o rigor excessivo do SUPEREGO, a CASTRAÇÃO excessiva. Quando isto
acontece há dois caminhos não éticos: ou a transgressão violenta de seus valores pelos
sujeitos reprimidos ou a resignação passiva de uma coletividade neurótica, que confunde
neurose e moralidade." (pág.
356, op. Cit., Marilena Chauí). Não éticos porque a violência é introduzida:
violência da sociedade que exige dos sujeitos padrões de conduta impossíveis de serem
realizados e, por
outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois somente transgredindo
e
desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver. Em suma é necessária a
repressão dos desejos, da sexualidade, para ser possível a convivência social e a ética
"mas por outro lado a repressão excessiva destruirá primeiramente a ética e depois a
sociedade." (pág. 356, op. Cit. Marilena Chauí). Segundo Freud o sujeito da psicanálise
é responsabilizado, sim, por seu inconsciente pois "quem mais, além de mim, pode se
responsabilizar por algo que, embora eu não controle, não posso deixar de admitir como
parte de mim mesmo? Responsabilidade difícil de assumir, esta - pelo estranho que
existe em nós, age em nós e com o qual não queremos nos identificar. No entanto,
eticamente, é preferível que o sujeito arque com as conseqüências dos efeitos de seu
inconsciente, fazendo deles o início de uma investigação sobre o seu desejo, a que ele
permita que tais efeitos se manifestem apenas na forma do sintoma. Ou, o que é ainda
mais grave, que o sujeito tente se desembaraçar do inconsciente, por meio dos atos de
intolerância que projetam no outro o que o eu não quer admitir em si mesmo. A
passagem por uma análise torna o sujeito não apenas mais responsável pelo desejo que o
habita, mas também preserva as pessoas que lhe são mais próximas, aquelas que
dependem de seu afeto e de sua compreensão - filhos, parceiros, subordinados etc -, de
se tornarem objetos das projeções e das passagens ao ato de quem não quer
assumir as condições de seu próprio conflito." (pág. 32, Sobre Ética e Psicanálise., Maria
Rita Kehl).

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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

2.2- FREUD E SUAS TEORIAS

É de todos conhecido, que a psicanálise, como terapia e como teoria foi uma criação de
Sigmund Freud, que nos finais do século XIX pôde observar nos seus pacientes

neuróticos que a maior parte das perturbações emocionais se deviam à existência de


problemas sexuais reprimidos, embora, o conceito de sexualidade tivesse para ele um
significado muito mais vasto do que lhe era atribuído pela linguagem comum. Segundo
Freud, a sexualidade não se deve identificar com a “genitalidade”, embora esta esteja
incluída naquela.

A sexualidade seria para Freud, todo o tipo de comportamento que resultasse


fisicamente gratificante, que produzisse sensações de prazer e, portanto, abrangeria toda
a actividade instintiva relacionada com as necessidades corporais. A partir desta ideia
básica, a concepção de Freud sobre o homem mudou consideravelmente à medida
que o seu trabalho com os seu pacientes neuróticos, lhe ia aportando novos dados (é
sabido que Freud tratou alguns casos de histeria, perturbação que, segundo ele, tinha
como causa a repressão da actividade sexual, sobretudo nas mulheres). Não esqueçamos
que estávamos em plena época vitoriana e as mulheres não tinham, nessa altura, os
mesmos direitos que o homem em termos da manifestação dos seus desejos sexuais, para
além de outros. As mulheres sobretudo as casadas, eram tidas como objectos sexuais,
que não deviam, por questões éticas e morais da época, manifestar desejo ou prazer no
acto sexual.

Por volta de 1920 Freud elabora então uma teoria da personalidade que se tornou
definitiva e que constituiu uma verdadeira revolução quanto ao modo de estruturação do
nosso psiquismo.

Segundo ele, seriam três as instâncias básicas da personalidade: o id, o ego e o


superego. Freud não quis afirmar que o psiquismo humano era constituído por três
partes, porque não foi isso que ele observou no comportamento perturbado ou normal
dos seus pacientes; a sua genialidade consistiu em encontrar nesses comportamentos uma
série de estruturas ou leis valendo-se dos três conceitos a que acima fizemos referência.

Estes conceitos revelaram-se de extrema utilidade para explicar ordenada e


sistematicamente os fenómenos psíquicos, não fosse Freud, para além das suas
competências na área da Medicina um excelente escritor.

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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

O id seria o conceito que designaria os impulsos, as motivações e desejos mais


primitivos do ser humano. Para Freud, em grande parte esses desejos seriam de
carácter sexual, tendo em mira o prazer. No início, o ser humano seria todo ele id, já
que nessa altura o organismo humano não busca mais que a satisfação das suas
necessidades instintivas e através delas o prazer. O id como tal é inconsciente, embora
procure alcançar a consciência para desse modo conseguir a realização dos seus
desejos. O recalcamento, ou repressão é o mecanismo de defesa que impede, caso
ocorra, a tomada de consciência do id. Este mecanismo defensivo mantém o id numa
situação inconsciente quando os desejos que lutam por realizar-se não estão de acordo com
o ego ou o superego. Freud, a partir de 1920 passa a atribuir também muito

importância não só aos desejos sexuais mas também aos desejos agressivos do id.

O ego é o conceito que Freud utiliza para designar o conjunto de processos psíquicos e de
mecanismos através dos quais o organismo entra em contacto com a realidade
objectiva. O ego seria um guia do comportamento do organismo à luz da realidade. É
certo, que o ego faz eco das demandas do id e dos seus desejos, mas a sua função
consiste em os satisfazer ou não, segundo as possibilidades oferecidas pela realidade. Não
é que o ego não queira o prazer que o id procura, porém às vezes reconhece que tem de
suspender a sua procura sob pena de entrar em conflito com a realidade.

Um ego amadurecido, não se assusta ao fazer eco dos desejos do id, ao tomar
consciência deles. Ao contrário, um ego infantil e neurótico resiste a trazê-los à
consciência, defendendo-se contra eles através da repressão (recalcamento) e outros
mecanismos de defesa. Um ego maduro e adulto não se assusta, não teme os desejos
instintivos; não quer dizer que os satisfaça a todo o momento, significa somente que os
consciencializa e depois satisfá-los ou não segundo seja ou não racional fazê-lo.

No ego radicam as funções perceptivas, cognitivas, linguísticas e da aprendizagem, ou


seja, todas as funções através das quais o sujeito se adapta ao meio ambiente.

Um dos erros mais correntes, e que, com alguma frequência é cometido também por
alguns psicólogos, consiste em acreditar que todos os processos designados pelo ego
freudiano possuem a propriedade de ser conscientes. É certo que a maior parte dos
mecanismos e processos do ego são conscientes, mas nem todos o são. Freud chegou a
esta conclusão ao observar que em certas ocasiões alguns desejos instintivos
procedentes do id são rejeitados ou reprimidos pelo ego sem que o sujeito tenha
consciência alguma nem dos desejos nem da sua rejeição ou repressão.

A terceira instância da personalidade - o superego - representa as normas e os valores


convencionais da sociedade ou do grupo social no qual o indivíduo foi criado e em que
está inserido. Diríamos que representa a sociedade dentro do próprio indivíduo, com as
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suas leis e normas muitas vezes fonte de embaraço e de inibição para a estrutura do ego.

É evidente que as exigências do superego se opõem quase sempre aos desejos do id. Este
conflito, entre o superego e o id incide directamente no ego, já que tanto o id como o
superego procuram que o ego actue de acordo com as suas próprias exigências ou
desejos. Normalmente o que o ego faz é procurar uma solução de compromisso, que os
satisfaça, embora parcialmente. Um ego maduro consegue normalmente achar esta
fórmula conciliatória, a qual, para que seja realmente válida, deverá ter em conta
também a realidade ambiental.

Poder-se-á dizer que, para Freud, a personalidade consiste basicamente neste conflito
entre os desejos instintivos e as normas interiorizadas da sociedade, conflito que se
desenrola no grande cenário constituído pela relação mútua entre o ego e a realidade
ambiental.

2.2- FREUD E SUAS TEORIAS: AS DUAS TEORIAS DAS


PULSÕES

A utilização do método catártico e hipnótico de Breuer logo trouxe problemas. Os


tratamentos fracassavam devido ao fato de que a cura só durava até que a pessoa
voltasse à sua consciência; e, além disso, muitos pacientes não conseguiam ser
hipnotizados. Freud deduziu que se um fato tão significativo não podia emergir senão
com muito esforço, era porque havia uma força que se opunha à sua percepção consciente.
Freud chamou essa força de resistência, que só pôde ser descoberta e compreendida após o
abandono da hipnose.

Quando era dada ao hipnotizado uma ordem que ele não podia cumprir, ele
acordava abruptamente do transe, bastante incomodado, e tornava-se, em seguida,
resistente a entrar em nova hipnose. Em síntese, se a hipnose era capaz de fazer surgir
algumas pequenas atitudes que geralmente o paciente não as teria quando sentindo- se
ameaçado, ele não só se recusava a cumprir as ordens como tornava-se
particularmente resistente ao procedimento. Isso fez com que Freud abandonasse a
técnica da hipnose.

A tarefa do médico seria, então, utilizar a hipnose como um bisturi. O método de


penetrar o psiquismo e criar condições para que o trauma ressurgisse à consciência, fora
do estado de ‘absence’, quando então poderia ser experienciado com toda a carga afetiva
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que não pôde ser vivida na hora traumática, ficou conhecido como o método catártico.
Freud, após um certo tempo, o abandonou.

O processo ocorre mais ou menos assim: a homeostase, mantida pelo princípio de


constância, evolui com o surgimento do princípio de Nirvana (que tende a exigir tensão
zero) . A energia livre(afetiva) liga-se a alguma idéia ( representante ou conteúdo
ideativo) - processo primário, o mais próximo do que depois perderá a característica
de substantivo (O Inconsciente) e aparecerá ligado a algum outro
conteúdo aceito pelo sistema (com a característica de qualidade Inconsciente , Pré-
Consciente ou Consciente) - processo secundário.

Uma força mantia essa percepção de acontecimentos cuja dor o indivíduo não
poderia suportar de imediato inconsciente ( a mente não sabe que sabe). Essa força foi
denominada recalque.

A descoberta da resistência e do recalque marcaram a ultrapassagem de um


modelo estático do trauma para um modelo dinâmico, de jogo de forças.

Por motivos éticos e estéticos, o consciente não suportava a percepção de uma


vivência e a mantinha inconsciente. A resistência bloqueava essa percepção, índice
inexplicável de que a mente sabia o que não queria saber.

Freud fez o que, cf. o “Vocabulário de psicanálise” Laplanche e Pontalis,


chamou-se de “a viragem” do modelo psicanalítico. Os conceitos tópicos de consciente e
incosciente cederam lugar a três novos constructos, que constitui o modelo dinâmico
da estruturação da personalidade: id, ego e superego.

Freud elaborou a primeira teoria das pulsões, que as dividia em as de auto-


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conservação e as sexuais. As pulsões de auto-conservação teriam como objetivo a


preservação da vida do organismo. A ausência prolongada de sua satisfação seria letal.
Essas pulsões se aliam ao princípio de realidade e são percebidas pelo pensamento
consciente e racional. Já as pulsões sexuais teriam como objetivo a preservação da vida
da espécie. A ausência prolongada de sua satisfação não seria letal. Essas pulsões se
aliam ao princípio do prazer e são percebidas pelo pensamento inconsciente ou fantasia.

Essa teoria foi abandonada e surgiu a segunda teoria das pulsões, que as dividiu em:
as pulsões de vida e as de morte. A pulsão de vida visa a preservação da vida do
organismo e da espécie. Ela é conjuntiva e construtiva e preside à organização e
diferença das formas.

Outras de suas características são a heterogeneidade e a entropia


negativa(morte térmica), manifestando-se como o amor, a solidariedade, generosidade e
outras formas positivas.

Já a pulsão de morte visa a destruição da vida do organismo e da espécie. Ela é


disjuntiva, destrutiva e preside à desorganização e dissolução das formas. Outras de suas
características são a homogeneidade, a entropia positiva, manifestando-se como ódio,
agressividade, masoquismo, sadismo, culpa , fracasso…

A estrutura da personalidade é formada por quatro fases de desenvolvimento e um


período de latência.

A fase oral corresponde à idade por volta de zero a dois anos e é subdividida em
fase oral de sucção – de zero a seis meses, e oral canibalística – de seis meses a um ano
mais ou menos.

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3-INTERPRETAÇÃO DE SONHOS

Sigmund Freud,
1899/1900.

por Augusto Cesar Freire -


psicanalista (*)

Cem anos de inconsciente

Raras são as obras cujo centenário é lembrado e celebrado. A Interpretação dos Sonhos
de Freud é uma delas. Para isto há várias razões. A data marca não apenas o centenário de
uma obra, mas também o centenário do inconsciente e da própria psicanálise.

Para aqueles que não são familiarizados com a obra freudiana uma introdução à
importância da obra será feita. Este endereçamento se refere ao fato de que todo e
qualquer psicanalista, de toda e qualquer "corrente" desde sua criação até os dias
de hoje reconhecem em A Interpretação dos Sonhos uma obra inaugural.

Trata-se de uma obra que traça o limite entre os artigos pré-psicanalíticos de Freud e o
início da psicanálise. Na edição brasileira das obras completas de Freud (Editora Imago)
encontra-se representada por dois volumes (IV e V), tendo sido também publicada em
várias edições avulsas. Obra atual por sua obrigatoriedade na formação de todos os
psicanalistas e mesmo psicólogos, pululam resenhas e comentários introdutórios. Quanto
aos comentários, para os iniciantes pode-se destacar a Introdução à Metapsicologia
Freudiana de Luiz Alfredo Garcia- Roza (Zahar Editores), com um volume inteiramente
dedicado a A Interpretação dos Sonhos.

A obra de Freud provoca uma ruptura absolutamente radical na maneira de abordar o


homem em 25 séculos de pensamento. Todas as filosofias, toda a psicologia incipiente,
toda a ciência até Freud se preocupava com o homem em seu aspecto consciente. Segundo
o próprio Freud, o conceito de inconsciente e a formulação de que o homem não é
senhor em sua própria morada tem importância equivalente às rupturas causadas pela
passagem do teocentrismo para o heliocentrismo e pela comprovação da ascendência
animal do humano.

Se há um texto, na obra de Freud, que possamos indicar como primeiro responsável por
esta ruptura é A Interpretação dos Sonhos. Nele encontramos a tese que se tornaria a mais
popular (e mais mal utilizada): a do complexo de Édipo. Neste texto, também, Freud
formula a divisão da mente entre o consciente e o inconsciente. É também ali que a
clínica psicanalítica vai encontrar sua justificativa teórica, ainda que não fosse esta a
preocupação inicial de Freud.

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A gestação e o parto da obra

Na verdade a obra foi publicada em 04 de novembro de 1899. Por uma decisão do


editor, no entanto, a data impressa é a de 1900. A correspondência de Freud a Fliess
(publicada em português pela Imago) nos fornece os dados a seguir. Durante dois anos
Freud se dedicou ao preparo deste que seria um exemplo excelente de estrutura de tese.
Sua pesquisa não deixa de fora nenhuma obra conhecida que abordasse o tema dos
sonhos, nem mesmo os sempre populares livros de sonhos egípcios. Cada possível
argumento, cada possível interpretação é examinada com seriedade e rigor científico. A
magnitude do trabalho poderia responder pela lentidão com que o texto foi produzido,
mas em suas cartas ao amigo Fliess podemos entender que as razões da demora foram mais
pessoais.

O livro é pleno de exemplos. Muitos sonhos são analisados e interpretados. O que mais
custou ao autor, portanto, foi o fato de que, devido ao sigilo com que deveria resguardar
os sonhos de seus pacientes, Freud utiliza os próprios sonhos para dar seqüência à
obra. Como o pesquisador que se contagia com a doença que pretende estudar, Freud se
expõe aos efeitos de sua própria tese, tira as conseqüências de seus próprios sonhos
trabalhando suas próprias neuroses. E corajosamente, nos expõe todo o processo.
Não poucas vezes em sua correspondência confessa que prefere não publicar o livro,
se mostra pessimista quanto às conseqüências de suas teses e apreensivo quanto à
recepção que o livro teria no meio científico e em seu círculo familiar.

Suas preocupações se mostrariam fundamentadas. O livro vendeu 228 exemplares


nos primeiros dois anos após sua publicação, e a tiragem de 600 exemplares demorou
oito anos para ser esgotada. Não houve comentários em boletins científicos a seu respeito
e as poucas menções ao trabalho raramente eram elogiosas. Somente dez anos
depois, com o reconhecimento da importância de Freud e o fim do ostracismo a
que foi entregue pela comunidade médica é que a obra passou à categoria de trabalho
sério.

Esta acolhida, no entanto, é plenamente justificada. Freud se lançara em um caminho


vedado à comunidade científica. Se preocupar com sonhos era uma coisa para poetas e
artistas, nunca um cientista consideraria este um tema de trabalho. O romantismo
alemão, em pleno vigor, tematizava a alma, as aspirações e os sonhos do homem alemão.
A ciência, por sua vez, saía do tratamento moral da doença mental e entrava no
organicismo.

Neste contexto, as preocupações e métodos de Freud eram, no mínimo,


excêntricos.

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Freud, no entanto, não era um filósofo. Seu interesse pelos sonhos tem uma
justificativa completamente científica. Seu rigor se demonstra em cada linha de seu texto
na seriedade com que aceita tirar as conseqüências dos fatos, mesmo que em prejuízo de
sua teoria ou de seu status médico. Um pouco da história envolvendo a obra e a
própria psicanálise devem esclarecer este ponto.

A origem das idéias contidas na


obra

Como o observador que se despe dos preconceitos para apreender um fato


inusitadamente novo, Freud criou o que seria um método de pesquisa pela escuta. Pouco
antes da escritura do livro passara pela experiência de ouvir de uma paciente que deveria
calar-se e escutar mais. Obedeceu. Aos poucos percebia que os sintomas histéricos
cediam à palavra. Ao narrar a origem dos sintomas as histéricas se curavam. A primeira
teoria formulada para lidar com este fato foi a da catarse. Em poucas linhas a idéia
central era a de que o sintoma histérico (no

exemplo clássico paralisias, cegueiras, convulsões etc…) consumia uma quantidade de


energia originalmente vinculada à idéia que provocou o sintoma. Assim, o acesso desta
idéia à memória e à palavra deveria recanalizar esta energia represada no sintoma,
eliminando-o.

Como conseqüência desta teoria o mais importante a se objetivar seria a rememoração


do evento desencadeante. Para facilitar esta rememoração Freud fez uso da sugestão
e da hipnose. Começava aí seu isolamento do meio médico. A hipnose tinha uma
pré-história acientífica de charlatanismo e apresentações espetaculares, e Freud se
encontrava em Viena, capital cultural que costumava não tolerar tais práticas no meio
médico. Não por acaso Freud precisa visitar Paris para estudar a hipnose com Charcot, a
quem sempre dedicou um profundo respeito.

A teoria da catarse seria progressivamente abandonada na medida em que Freud


começava a perceber a presença de algo que se opunha ativamente à rememoração.
Este fator de resistência se relacionava exatamente àquelas lembranças mais importantes,
servindo portanto de indicador do valor de uma determinada idéia para a doença
histérica correspondente. Em outras palavras, quanto mais relacionada à doença, mais
resistência seria encontrada na rememoração de uma determinada idéia. A hipnose
escamoteava este fator, derrubando todas as resistências. Uma nova abordagem se faria
necessária se o que se pretendia era tirar as conseqüências desta descoberta.

Nas tentativas iniciais do que se tornaria mais tarde o método da associação livre
Freud simplesmente se submeteu a ouvir o que vinha à mente de seus pacientes. Nos
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pontos em que localizava alguma resistência aprendeu a reconhecer a necessidade de


fazer valer sua presença, em sua insistência e incitação, fazendo com que o paciente se
detivesse neste ponto, se esforçasse um pouco mais, de modo que pudesse seguir por
uma trilha inicialmente bloqueada. Ainda em busca da memória perdida, Freud
começava a apreender o funcionamento dos sintomas, o tipo de defesas com que se
protegiam da investigação e a ferocidade com que resistiam à cura. Só em A
Interpretação dos Sonhos será possível encontrar suas teses a este respeito.

A importância dada aos sonhos começava aí a tomar força. Deixados livres para falar o
que viesse à cabeça os pacientes logo começaram a narrar sonhos, associando-os a
eventos relevantes à sua neurose. Freud não se autoriza a legislar o que teria ou não
pertinência na narrativa do paciente. Imbuído de uma crença profunda na lei da
causalidade supõe que algum fator desconhecido justificaria que os sonhos surgissem
na fala dos pacientes. Este fator desconhecido, digamos desde já, seria cernido pelo
conceito de inconsciente. Se os sonhos se impunham desta forma à observação do
pesquisador, nada mais legítimo que decifrar sua estrutura.

À guisa de comentário paralelo notemos que não só os sonhos adquiriram seu valor
desta forma, mas também a sexualidade infantil. Os pacientes também traziam
lembranças de sensações sexuais prazerosas vividas na infância, o que, apesar do
choque, Freud se viu obrigado a considerar. Esta seria outra idéia responsável pelo
isolamento da comunidade científica de sua época.

Os sonhos e a neurose

Em A Interpretação dos Sonhos, Freud formula as leis e as características do


inconsciente. Com este conceito consegue juntar fenômenos distintos como o sonho e os
sintomas histéricos. Vejamos rapidamente alguns pontos.

A tese central do texto é a de que "O sonho é a realização de um desejo". Este


desejo, entendamos, não é necessariamente um desejo que possamos aceitar em nossa
vida vigil. Quando não se trata de um desejo aceitável, nos diz Freud, preferimos
esquecê-lo. Este esquecimento será descrito como conseqüência de um mecanismo
chamado 'recalque'. O desejo recalcado, no entanto, permanece em algum lugar
exercendo seus efeitos. Os sonhos são apenas um exemplo destes efeitos.

Mas os sonhos têm por característica sua falta de senso, sua não obediência às leis que
nos regem na vigília. O que Freud formula é que os sonhos seguem uma lei própria,
seguem uma lógica que não é a lógica cotidiana. É levado assim a demonstrar que nosso
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aparato mental é formado pela consciência, cujas regras reconhecemos, e pelo


inconsciente, cujos efeitos nos surpreendem por seguir uma lógica diferente e
desconhecida (ainda que sempre familiar).

Desta forma, um desejo que não condiz com nossa posição social, nosso sexo, nossa
situação civil etc…é 'jogado' naquele campo que não segue as mesmas regras de nossa
consciência. No inconsciente, nos diz Freud, este desejo vai procurar sua expressão a
qualquer custo. Se não é possível que ele se expresse conscientemente (por que no
consciente atua aquela resistência que mencionamos acima, provocando o recalque), ele
vai buscar alguma expressão substitutiva que consiga escapar à censura. O sonho pode ser
entendido como a expressão de uma série de desejos, que encontram nele a única via para
a consciência. É por isto também que o sonho será entendido por Freud como a via
régia para o inconsciente, uma vez que é sua manifestação mais direta.

Mas dissemos que o sonho e os sintomas possuem uma estrutura comum. Isto ficará mais
claro no próximo ítem, mas digamos desde já que o sintoma neurótico é também uma
manifestação de um desejo. A principal diferença é que no sintoma uma solução é
encontrada para que o desejo se apresente na consciência.

Também neste caso, contudo, este desejo se manifestará com as distorções necessárias
para que possa ser aceito pelo consciente.

O funcionamento do
sonho

O inconsciente é freudiano. Antes de Freud já se falava de inconsciente, mas o conceito


de inconsciente é algo inédito. Falar do inconsciente como franja da consciência,
como sub- consciente ou como algo que não sabemos mas que podemos saber com
algum esforço de nossa parte não é falar do inconsciente freudiano. O
inconsciente tem suas leis e particularidades rigorosamente formuladas e a precisão
deste conceito se faz mais necessária com sua popularização, que tende a deturpá-lo.

Aos processos que ocorrem no inconsciente Freud chama processos primários, em


oposição aos secundários, do consciente. Têm por característica não levar a realidade em
consideração, tolerar contradições, não conhecer a temporalidade e acima de tudo,
buscar a realização de seus impulsos. Freud decifrou a gramática destes processos,
descobriu os meios pelos quais atinge seus objetivos. Dois mecanismos básicos são
localizados: a condensação e o

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deslocamento. Nos estenderemos nisto, por ser um dos mais importantes pontos de A
Interpretação dos Sonhos.

É nos capítulos 6 e 7 do livro que Freud desenvolve o mecanismo de trabalho dos sonhos e o
funcionamento do aparato mental. Apresenta o mecanismo de deslocamento na
possibilidade que as idéias têm, no inconsciente, de 'emprestar' seu valor para outras idéias,
de modo que fatos ou imagens aparentemente sem importância podem ter sido
amenizadas, com o quê burlam a censura, compondo o material do sonho. De forma
inversa fatos que aparecem no sonho como extremamente nítidos ou valorizados
usualmente ganharam seu relevo por uma associação a outra idéia, esta sim, de grande
importância.

No sonho há também em funcionamento o mecanismo da condensação. Este mecanismo


permite que um pequeno detalhe possa representar uma idéia completa. Nos exemplos de
Freud vemos como características isoladas de uma pessoa podem representá-la por inteiro ao
se compor com outras características que representam outras pessoas. Assim, um personagem
pode estar ocupando a função (que tem na realização do desejo) de toda uma multidão de
personagens que não figuram no sonho senão por fragmentos.

As razões deste trabalho de montagem são explicadas pelo aparato psíquico proposto no
capítulo seguinte do livro. Neste aparato o ics (inconsciente) figura em um extremo e o
cs (consciente) no outro, e entre eles o pcs (pré-consciente). O ics recebe seu material do
sistema perceptivo, mas não tem acesso ao sistema motor. O cs controla as ações, mas a
realidade que lhe chega já passou pelos processos do ics. Como intermediário entre os dois
sistemas figura a censura, ou seja, uma função que determina o que pode e o que não pode
aceder à motilidade, levando a realidade em consideração. Todo o material que não pode
passar pela censura está condenado a ser recalcado, a ficar relegado ao ics, sem, no entanto,
ficar com isto silenciado. O trabalho do sonho é entendido, assim, como o trabalho de
distorção necessário para que o material do ics possa se manifestar.

Vale dizer ainda que a distorção a que o material do sonho foi submetida nunca é casual
ou caótica, e é por provar isto que o trabalho de Freud adquiriu seu valor.

Uma idéia (um desejo, uma intenção ou mesmo uma percepção) está permanentemente
relacionada a outras. A natureza desta relação é muito abrangente, podendo ser determinada
pela contigüidade espacial ou temporal em que ocorreu, pela similaridade, pela
homofonia, enfim, por toda uma gama de possibilidades. O que importa é que a idéia
'principal', uma vez que tenha sido censurada, não poderá ser reconhecida no consciente,
mas as idéias com as quais se associa, uma vez que esta associação não seja óbvia,
podem ser utilizadas para representá-la (deslocamento). Então, lembrando que no ics as
idéias buscam sua expressão, ou nos termos de Freud: os desejos buscam sua realização, o

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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

trabalho do sonho é a maneira pela qual um desejo pode se realizar por seus substitutos.

O passo seguinte é o que permite a intervenção clínica da psicanálise. Os sintomas, Freud


demonstra, são também realizações de desejo. A diferença em relação aos sonhos é que nos
sintomas um compromisso se estabelece entre o desejo e a censura, fazendo com que nem o
desejo se realize por completo nem a censura seja totalmente eficaz. Desta forma um
desejo mais 'amenizado' é realizado.

Uma conseqüência direta desta explicação do sintoma é muita incômoda para todos nós.
Se nossos desejos devem levar em consideração a realidade para que possamos aceitá-los,
como saber se o que reconhecemos como nossos desejos não são amenizações de
nossos

'verdadeiros' desejos, estes inconscientes? Em outras palavras, uma vez que vivemos em
sociedade, tendo que considerar suas regras, somos todos neuróticos.

A psicanálise hoje

A transmissão da psicanálise foi garantida, a partir da década de 50, por Jacques Lacan.
Em sua leitura desta obra de Freud propõe que o que é formulado é um inconsciente
estruturado como uma linguagem. A condensação e o deslocamento podem ser
entendidos como a metáfora e a metonímia e a estrutura associativa das idéias como a cadeia
de significantes (que só podem existir entre dois outros, em associação). Partindo da clínica
das psicoses (Freud partiu da neurose) Lacan amplia o campo psicanalítico e encontra a
precisão necessária ao ensino e à transmissão da psicanálise.

Paralelamente, o pragmatismo americano se empolga em afirmar que a psicanálise está em


crise. A descrença americana na psicanálise é equivalente à descrença freudiana nos
americanos (afirmou algumas vezes que os americanos jamais compreenderiam a psicanálise
- e a história o confirmou). Como a ciência atual se encontra cada vez mais marcada
pelo funcionalismo e utilitarismo tão típicos do american way, a psicanálise encontra seu
campo (ao contrário do que se previu) cada vez mais valorizado. A razão para isto é muito
simples. Cada vez mais o homem é tratado como um objeto sem desejos; se há falta de
interesse sexual pela esposa há uma pílula que o resolva, se há falta de empolgação pela
vida há uma outra, e etc…Nos tempos do Viagra e do Prozac, o homem se encontra na
necessidade de encontrar saídas menos mecânicas para a angústia que a vida em sociedade
cobra como preço. Vemos brotarem novas crenças e novas terapias ditas alternativas a cada
dia, vemos a procura de oráculos e gurus que prometem soluções prontas, vemos,
enfim, os efeitos colaterais da coisificação do homem. A psicanálise, absorvendo
bravamente os golpes em seu centenário, cada vez mais se mostra como a única prática
fundamentada a se propor trabalhar nesta realidade em que vivemos.
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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

(*) Augusto Cesar Freire é psicanalista associado ao Tempo Freudiano


Associação Psicanalítica e doutorando em Teoria Psicanalítica pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

Entendendo o Processo do Sono

O fenômeno do sono é de interesse tanto para a Psicologia como para a


Psicanálise, no que tange à compreensão dos mecanismos que regem o sonhar. Mais
especificamente, a Psicologia se dedica em desvendar o funcionamento do sono,
deixando de lado o sonho que, para a Psicanálise é de suma importância. Pensamos que
para retratarmos bem os mecanismos que envolvem o sonho, devemos mencionar algumas
das principais descobertas da Psicologia quanto ao fenômeno do sono.
Dormir é sonhar e sonhar é uma necessidade neurofisiológica. Estudos do campo da
Psicologia têm determinado que a privação do sono acarreta sérias consequências mentais
e físicas.
O primeiro aspecto importante que a Psicologia desvendou sobre o sono é que
existem tipos de sono: NREM (No Rapid Eye Movements) e REM (Rapid Eye
Movements). A distinção encontra-se na observação de que durante o sono REM os olhos
saltam de um lado para o outro, como se observassem uma cena. Neste,
observa-se também uma variação no Sistema Nervoso Autônomo, com a respiração e o ritmo
cardíaco tornando-se mais rápidos e irregulares, a pressão arterial mais elevada e

um aumento da secreção dos hormônios supra-renais. Dentro das distinções presentes no


sono REM, há também a ocorrência nos indivíduos masculinos (de todas as idades), a
ereção peniana. Ocorre também nos indivíduos femininos uma reação
correspondente no tecido vaginal.
Os estudos que decifraram este movimento dos olhos no sono foram realizados em
1953 pelo Dr. Nathaniel Kleitman. Tais pesquisas de laboratório mediram as ondas
cerebrais de pessoas durante o sono através do eletroencefalograma, as variações
musculares, através do eletromiograma, e a movimentação específica dos olhos,
através do eletrooculograma.
Sabe-se também que há quatro estágios no sono REM, onde cada um caracteriza-se por um
padrão de onda cerebral. O primeiro estágio é o sono leve, que marca o iniciar do sono, tem
a duração de alguns minutos , quando o indivíduo fica relaxado, com os pensamentos mais
ou menos descoordenados, podendo já neste estágio ocorrer sonhos. O segundo estágio
é o sono intermediário, ocorrendo um relaxamento maior, podendo ocorrer experiências
sensoriais sem base real (alucinações) e crispações súbitas e desordenadas do corpo,
seguidas de sensações de queda.
O terceiro estágio é o do sono profundo, quando o indivíduo se torna insensível aos sons e

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oferecerá resistência em ser acordado. No quarto estágio, o sono mais


profundo, há uma total relaxação, com o mais completo desligamento do mundo
exterior. É nesta fase que podem ocorrer irregularidades como o sonambulismo.
Em seu livro sobre o sonho, Leon L. Altman explica que as mudanças neurofisiológicas que
têm lugar durante os períodos REM sugerem que a ativação da área límbida do cérebro -
uma área associada ao funcionamento primitivo de impulsos e afetos - está em jogo. O
autor vê essa retrogressão como uma corroboração à teoria de Freud, de que o sonho é um
fenômeno regressivo, o qual nos devolve aos estados primitivos da infância.

O Sonho na Teoria Psicanalítica de Freud

O conteúdo onírico é de suma importância para a compreensão do


inconsciente de quem o produz. Por isso a Psicanálise vê com tanta atenção este
produto da mente, que é o sonho. Gastão Pereira da Silva define o sonho de uma forma
que bem demonstra sua relevância.

Uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir,


mesmo, uma realidade que nos é hostil, por outra, totalmente diferente,
onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas ações
parecem absurdas, justamente porque as mais censuráveis, na sociedade em que
vivemos, gozam, enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade condicional,
quando se expandem nos sonhos.

As descobertas de Freud, de que os sonhos têm um conteúdo psicológico


fundamental revolucionaram o estudo da mente. Antes os sonhos eram tidos como
meros efeitos de um trabalho desconexo, provocados por estímulos fisiológicos.Os

conhecimentos desenvolvidos por Freud trouxeram os sonhos para o campo da


Psicologia e demonstraram que estes são tão somente a realização de desejos,
disfarçados ou não, satisfeitos em pleno campo psíquico.

Podemos sintetizar a teoria psicanalítica dos sonhos da seguinte maneira: a experiência


subjetiva que aparece na consciência durante o sono e que, após o despertar,
chamamos de sonho é, apenas, o resultado final de uma atividade mental inconsciente
durante este processo fisiológico que, por sua natureza ou intensidade, ameaça interferir
com o próprio sono. Chama-se sonho manifesto a experiência consciente, durante
o sono, que a pessoa pode ou não recordar depois de despertar. Seus vários elementos são
designados como conteúdo manifesto do sonho. Os pensamentos e
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desejos inconscientes que ameaçam acordar a pessoa são


denominados conteúdo latente do sonho. As operações mentais inconscientes por
meio das quais o conteúdo latente do sonho se transforma em sonho manifesto,
chamamos de elaboração do sonho.

OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO SONHO

Ao falarmos em sonho, via de regra, estaremos nos referindo ao que


chamamos de sonho manifesto, ou seja, o relato que o indivíduo faz após acordar do que
sonhou e pode lembrar-se. Quando, porém, nos referimos ao significado de um sonho
estamos especificando o conteúdo latente do sonho. Estas distinções são
imprescindíveis na Psicanálise. Passaremos a detalhar estes conceitos, bem como
explicaremos como o conteúdo latente chega a ser o sonho manifesto.

OS PROCESSOS DE ELABORAÇÃO DO SONHO


1 O Conteúdo Latente do Sonho
2 O Conteúdo Manifesto do Sonho
3 A Elaboração do Sonho
3.1 Dramatização ou concretização
3.2 Condensação
3.3 Desdobramento
3.4 Deslocamento
3.5 Representação pelo oposto
3.6 Representação pelo nímio
3.7 Representação simbólica
4 A Elaboração Secundária

4-TÉCNICA FREUDIANA

Sigmund Freud nasceu em Freiberg, na Morávia, em 1856, de família judaica. É


filho do terceiro casamento de seu pai, que trabalhava no ramo de tecelagem. Aos 4 anos de
idade, como os negócios do pai não iam bem, a família se transfere para Viena. Nessa cidade
recebeu toda sua educação, ficando conhecido como o “Mestre de Viena”. O universo
feminino em que

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viveu, com cinco irmãs, pode ter influenciado sua riquíssima e extensa obra, que tem a
marca de sua neurose.
Destacou-se como aluno da escola secundária; estudioso, curioso, atento às
preocupações humanas. Interessado em ciências naturais, prosseguiu estudos no
campo da medicina. Em seus primeiros anos como pesquisador estuda as enguias
(peixes), depois o sistema nervoso das lampreias.
Ingressou em Hospital Geral, e entre os vários departamentos, o de Psiquiatria,
sob a orientação de Meynert, que ele conhecia desde os tempos da escola, o impressionou
bastante. No entanto, naquela oportunidade, dedicou-se à fisiologia, à anatomia cerebral
e, depois às doenças nervosas.
Em1878, conheceu o Dr Joseph Breuer, catorze anos mais velho, que se tornou
seu amigo e incentivador, inspirando suas primeiras pesquisas no campo da Psicanálise.
O Dr. Breuer pode ser aproximado à figura paterna, e, inclusive, o ajuda financeiramente
em algumas situações. Foi uma grande e intensa amizade em sua vida, no entanto,
seguem-se polêmicas e rompimento. Freud estava convencido de que deixaria sua
marca na História; tinha autoconfiança em relação à sua carreira e ao peso de seu
legado; era o único filho que tinha um quarto exclusivo para estudar. O ambiente familiar
o auxiliou bastante a ter força para seguir avante em sua carreira quando suas idéias eram
consideradas, no mínimo, polêmicas.
Em 1880, o Dr Breuer iniciou o tratamento com Berta Pappenteim, mais
conhecida como Anna O, uma das pacientes mais famosas da Psicanálise, e utilizou
algumas estratégias terapêuticas inovadoras, como a hipnose, (técnica terapêutica que faz
com que o paciente se lembre e vá resgatando na memória algumas experiências
passadas visando com isso o desaparecimento de alguns sintomas) para o tratamento
da histeria, problema que afetava muitas mulheres naquela época; na maioria jovens que
alimentavam sonhos que não haviam conseguido realizar por conta da rigidez moral da
época.
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Após dois anos de tratamento, Breuer abandona o caso de Anna O; não


dá continuidade às suas pesquisas e Freud o faz, pois se interessava profundamente pela
histeria com toda a riqueza de sintomas que apresentava ao final do século XIX. Freud
partiu da clínica; das relações que se estabeleciam entre ele e os pacientes, para
elaborar modelos interpretativos; teorizar. Esta foi uma contribuição importantíssima à
ciência e ao campo da educação, pois o enfoque clínico tem sido utilizado no trabalho
de capacitação de professores visando auxiliá-los na reflexão sobre suas práticas.
Em 1882, Freud conhece Martha Bernays, jovem que virá a ser sua esposa, em 1886.

Em 1885, segue para Salpêtrière, em Paris, na intenção de trabalhar com o


neurologista Charcot. Consegue uma bolsa de estudos e faz um estágio sobre as
diferentes manifestações da histeria e efeitos do tratamento hipnótico, com esse
famoso e talentoso médico.
Fixou residência em Viena, em 1886, e teve acesso ao hipnotismo, instalando
seu consultório, onde atende pacientes histéricas, ora aplicando a técnica da hipnose,
cujo princípio fundamental é a sugestão, ora a da pressão, na qual pressiona a fronte do
paciente. Após alguns exercícios, Freud passou a acreditar que para além da hipnose
poderia haver certos processos mentais que não obstante, permaneciam escondidos
da consciência humana. Utilizando a hipnose, fazia perguntas às pacientes sobre a origem
de seus sintomas. Acrescentou, em colaboração com Breuer, que os sintomas têm
significado e são resíduos ou reminiscências de situações emocionais, porém, na
maioria das vezes, tais sintomas não provinham de uma única cena traumática,
mas da soma de significativa quantidade de situações similares. Nessa época, troca
correspondência com outro amigo importante, o Dr. Fliess, otorrino alemão com o qual se
vincula emocionalmente e, no início, fala de algumas de suas primeiras hipóteses que
têm a ver com sua experiência na clínica. A partir dessa
correspondência, fundamentam-se os alicerces da teoria psicanalítica.

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Em 1892, Freud abandona a técnica da hipnose e da pressão para deixar o


paciente falar, pois leva em consideração que a pessoa/paciente pode aceitar ou não a
sugestão. Surge, então, a técnica da associação livre, com a qual pedia para a paciente falar
livremente tudo que lhe viesse à cabeça, sem censura, por mais estranho e absurdo que
lhe parecesse. Diz que esse encadeamento leva à percepção de sobredeterminação.
Mostra que não era necessário usar a hipnose para a paciente/histérica chegar ao estado
que queria.
Em 1893, Freud formula a teoria da sedução, referindo-se aos efeitos dos
valores e regras sociais rígidas impostas aos filhos da sociedade dessa época.
Publica, com Breuer, o texto "Sobre o mecanismo Psíquico dos
Fenômenos Histéricos", nesse mesmo ano e, em 1895, "Estudos sobre a Histeria" onde são
relatados vários casos, inclusive o de Anna O; fala-se em cura pela fala ou limpeza pela
chaminé - método catártico. Passa a considerar a hipótese de que há uma questão sexual
na histeria. A evolução foi além do domínio da histeria quando Freud observou que
não era qualquer espécie de excitação emocional que estava por trás dos fenômenos da
neurose, mas uma excitação de natureza sexual. Aqui ele toca em pontos polêmicos,
propondo idéias que dão destaque ao

estudo da vida sexual, referindo-se aos efeitos dos valores e regras sociais rígidas,
impostos aos filhos da sociedade dessa época. Nesse mesmo ano, Freud analisa seu próprio
sonho, que está relatado na sua obra “Interpretação dos Sonhos”, voltando para si mesmo
o seu olhar de pesquisador. Para alguns estudiosos, esse é o momento inaugural da
Psicanálise, pois a partir daí o sonho passa a ser fundamental na construção teórica e na
clínica psicanalítica. Ainda nesse ano de 1895, nasce sua filha, Anna Freud, que se torna,
também, psicanalista.
Em1896, Freud faz uma conferência na Universidade de Viena sobre a etiologia
sexual da histeria, colocando a hipótese de que, em sua etiologia, a histeria traz a marca
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sexual. Isso produz enorme escândalo e dificulta a aceitação de Freud no meio acadêmico.
É o estopim do rompimento com Breuer, que era conservador e estava inserido no grupo
de cientistas. Freud se surpreende, pois achava que Breuer o apoiaria, o que colaboraria
para a aceitação de sua
tese.
Nesse mesmo ano de 1896, quando faz uma conferência, morre-lhe o pai,
experiência das mais difíceis para o homem, após o que Freud passa a pensar no Édipo.
Fazendo sua auto-análise, vai-se dando conta de que, como filho, alimentava pela mãe um
amor incestuoso que só foi possível perceber após a morte do pai.
Freud tinha formação humanista muito forte; tinha uma produção intelectual
intensa e por sua erudição consegue pensar em metáforas para as referidas explicações.
Através da mitologia, da arqueologia, vai buscando vestígios do passado na história
das pessoas; por exemplo, amor incestuoso mas inconsciente pela figura materna.
Freud mostra que a sexualidade humana não se liga à genitalidade e que se
organiza a partir de operações psíquicas. Propôs que as crianças já apresentam uma
sexualidade muito diferente das outras espécies e que, na infância, não está comprometida
ao órgão sexual, mas a sensações ligadas à sexualidade.
Isso foi revolucionário para a época, quando se achava que a sexualidade
ficava adormecida. A sexualidade humana tem basicamente uma questão que a torna
diferente; é a questão da pulsão, pois nós não somos, tal como os animais, movidos por
instinto, mas por pulsão, termo proposto por Freud para dar a idéia de algo que fica
exatamente no limite entre o orgânico e o psíquico.
Aos poucos, Freud vai reformulando suas próprias concepções e
desvendando segredos humanos. Em 1897, época do Édipo (experiência edípica de matar
o próprio pai em sonho e a culpa pelo amor incestuoso), Freud pondera que fatos que
fazem parte da fantasia são muito importantes na Psicanálise.

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Abandona a teoria da sedução, dizendo não mais acreditar nos relatos de


suas histéricas. Recorre à teoria da fantasia, segundo a qual os elementos relatados na
construção da história de cada paciente não fazem parte da realidade, mas, mesmo
não tendo sido experiências reais, a maneira como são relatadas tem um peso para
produzir sintomas. Freud percebe que, no momento em que a pessoa fala, seja uma
experiência empírica ou fantasiosa, o valor para o analista é o mesmo; a fantasia vai
revelar, de alguma forma, como é difícil para essas pacientes assumir conscientemente
seus discursos de que, ao contrário, elas é que procuram ser seduzidas. Se a
primeira teoria causou tanto furor, a segunda foi menos polêmica, no entanto a
comunidade científica continuou a não aceitá-lo.
Nessa época, escrevia cerca de duas a três cartas por dia para o Dr. Fliess,
independentemente das respostas. Para Freud, eram momentos de muitas questões que
não haviam sido pensadas antes, como: a questão do sonho; o que é um aparelho
psíquico; como ele se organiza; como se estrutura. Extremamente inventivo, produtivo,
Freud passava de doze a dezesseis horas diárias em seu gabinete, atendendo pacientes e
dedicando-se a estudos, pesquisas, correspondência.
1900, ano da publicação do livro “A Interpretação dos Sonhos”, deixou
marcas profundas na cultura ocidental e representa a revolução paradigmática produzida
por Freud, tirando o homem do centro de sua própria consciência, da mesma forma que
Copérnico tirou a terra do centro do universo, Darwin tirou o homem do centro da criação
e Marx tirou o homem do centro de sua própria história, dizendo que o homem é o
resultado dessa história. A noção de inconsciente configura a ruptura de Freud com a
epistemologia hegemônica do século XX.
Para Freud, o sonho é revelador de como funciona o psiquismo humano e
ele considera o sonho como a via régia para o inconsciente; é o guardião do sono; é uma
formação do inconsciente que está diretamente relacionada ao desejo; é um regus
(semelhante a uma carta enigmática). O sonho acaba sendo uma espécie de matéria-
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prima privilegiada na teoria freudiana, a partir da qual o grande mestre vai aprimorando
suas lições. A interpretação dos sonhos é a via de acesso ao conhecimento do
inconsciente, que produz suas formações: os sonhos, os lapsos, os atos falhos, os
esquecimentos, os chistes, o sintoma. Por definição, o inconsciente é inapreensível e o
que dele se pode apreender são suas formações.
Com aproximadamente cinqüenta anos de idade e fumante inveterado, Freud
desenvolveu um câncer na mandíbula; fez várias operações e teve que colocar uma
prótese. Seu médico fala que, em alguns momentos Freud pensou que tal câncer
poderia estar ligado ao fato de ele falar sobre problemas de fundo psíquico, onde o que
está em questão é o inconsciente; aquilo que não pode ser manifestado e que acaba

interferindo no corpo. A psicossomática é mais ou menos contemporânea a essa época,


embora Freud não se tenha dedicado exclusivamente a essa questão.
No desenvolvimento de sua teoria, abandonando o método catártico, Freud
mostrou a ocorrência de uma situação específica, a transferencial; aprofundou o uso do
método da associação livre e assinalou a ocorrência do recalque.Tal estudo levou-o a
adotar o conceito do inconsciente, inicialmente compreendido como a consciência, da qual
nada se conhecia. Para compreender a origem dos sintomas, Freud foi levado, cada vez
mais, à história do paciente, chegando aos primeiros anos de vida, isto é, à infância.
Dessa forma, descobre a sexualidade infantil, novidade que enfrentaria a barreira dos
preconceitos humanos, despertando indignação e contestação. Seguiram à revelação da
sexualidade infantil, o reconhecimento das fantasias, das teorias sexuais infantis, o
desejo, as fases de evolução da libido, sonhos e um trabalho mais detalhado sobre o
tratamento psicanalítico.
Freud dizia que no projeto da criação não foi contemplado o fato de o homem
ser feliz. Os que mais sofrem são aqueles que querem a felicidade ferrenhamente. A
infância não é feliz; é um período sofrido, segundo Freud porque se está no caminho da
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construção do aparelho psíquico e se entra no mundo do desejo, que é prazer e


desprazer.
A essas alturas, a Psicanálise, cujo eixo central é a questão do inconsciente,
junto com a sexualidade e a prática psicanalítica, gozava de interesse e credibilidade.
Bleuler e seu assistente Jung, em Zurique, estavam adquirindo vivo interesse
pela Psicanálise. Em 1908, publicaram o Anuário de Pesquisas Psicanalíticas e
Psicopatológicas.
À época, o assunto ainda provocava uma série de controvérsias, e isto tornou o
grupo de psicanalistas mais coeso. Em 1910, em Nuremberg, na Alemanha,
constituíram-se, por proposta de Ferenczi, em uma Associação Psicanalítica
Internacional, que sobrevive até os nossos dias, tendo como primeiro presidente Jung.
As observações sobre as neuroses de guerra colaboraram sobremaneira para o
crescimento da credibilidade da psicanálise, bem como para torná-la mais popular e
conhecida.

Freud denominou segunda fase o período a partir de 1907, tendo ele


desempenhado papel de destaque na esfera do narcisismo, teoria das pulsões e da
aplicação da psicanálise às psicoses. O Complexo de Édipo se revelava cada vez mais
claramente como o núcleo das neuroses.
Desde que formulou a hipótese sobre a existência dos dois instintos (Eros e
Thanatos) e desde que propôs a divisão da personalidade mental em um ego, um
superego e um id (1923), os interesses de Freud voltaram-se para os problemas
culturais e é ele próprio quem diz: "não prestei outras contribuições decisivas à
psicanálise". Os processos encontrados nos textos seguintes que são "O mal estar na
civilização" e o "Futuro de uma ilusão", são os mesmos, colocados novamente numa
fase mais ampla.
O inventor da Psicanálise acredita que estes estudos despertaram uma
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simpatia mais forte por parte do público do que propriamente a Psicanálise, que foi
muito combatida na época, apesar de terem se originado dela.
São de Freud as palavras "não pode haver mais dúvida alguma de que ela
(a Psicanálise) continuará: comprovou sua capacidade de sobreviver e de desenvolver-se
tanto como um ramo do conhecimento, quanto como um método terapêutico".
Nas “Cinco Lições de Psicanálise”, escreve: para o Psicanalista “não existe
nada insignificante, arbitrário ou casual nas manifestações psíquicas. Antevê um motivo
suficiente em toda parte onde, habitualmente, ninguém pensa nisso; está até disposto a
aceitar causas múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que
supomos inata, se satisfaz plenamente com uma única causa psíquica.” (Obras Completas -
1970- p. 36 – vol. XI).
Em 1938, fugindo do nazismo, Freud foi para Londres. Suas três irmãs, ao
contrário, morreram no campo de concentração.
Apesar dos 83 anos de idade e da doença, Freud ainda trabalhava; atendia
pacientes, mas sofria com muitas dores e sua filha, Anna, concedeu ao médico que o
atendia permissão para que aplicasse dose excessiva de morfina. Assim morreu o
inventor da Psicanálise, a 23 de setembro de 1939, aos 83 anos, em Londres, na casa onde
hoje é um museu que conta com seu divã, parte de sua biblioteca, suas
antiguidades, funcionando como guardiões da história da Psicanálise.
Bibliografia
Obras Completas – Vol. XI

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Revista Percurso nº13, do Instituto Sedes Sapientiae, em 1994, “Epistemologia e


Psicanálise : o
Estatuto do
Sujeito”.
“Três Ensaios sobre uma teoria sexual” -
Freud
Anotações das aulas ministradas pelo professor Tácito , no Curso “Infância, Psicanálise e
Educação”, no Lepsi – USP- 2002.
SOBRE A INTERPRETAÇÃO
PSICANALÍTICA
Por Manuel
Bulcão

14/05/
2004

Muita gente pensa (e a autoridade de Popper tem reforçado muito esse pensamento) que a
investigação psicanalítica é um trabalho feito nas coxas e que as idéias subjacentes à
psicanálise servem tanto para explicar tudo quanto para justificar qualquer baboseira que se
apresente a título de explicação. "Grosso modo", seria assim: o psicanalista observa o jeitão
do paciente, realiza com ele uma ou duas sessõezinhas de livre associação, analisa dois ou
três sonhinhos e, sem perder mais tempo, tasca um diagnóstico na cara do infeliz. Depois
disso, fica só tentando convencer o pobre do analisando da absoluta verossimilitude da sua
interpretação, valendo-se para tanto (e como técnica de imunização à crítica) da própria
teoria psicanalítica. Ou seja, se o paciente aceita o diagnóstico, está provada a sua validade,
mas se o contesta, tal recusa não passa de uma "denegação" que, no fundo, é confirmação.
Se o paciente tenta contra- argumentar de uma forma mais complexa, tadinho, está ele
apenas "racionalizando"; e se de repente apresenta um comportamento inusitado que
aparentemente não fecha com o diagnóstico, prontamente o analista o interpreta como o
começo de uma "formação reativa". Em síntese, "cara eu ganho, coroa você perde" e assim
será sempre.

Não duvido que muitos psicanalistas realizam esse tipo de análise "selvagem" (a
incompetência e a presunção arrogante são mesmo endêmicas em "todas" as profissões),
mas essa idéia negativa que se tem da psicanálise é tão simplista quanto a pior interpretação
psicanalítica, e ambas têm em comum o fato de encerrarem os mesmos equívocos, sendo o
principal deles o fato de que tanto o mau analista quanto o cético mal informado — porém

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de boa-fé — acreditarem que, segundo a psicanálise, "todo" pensamento e comportamento


humanos não passam de manifestações superficiais de processos mentais não só
inconscientes como essencialmente libidinosos. Ora, isso é reducionismo vulgar ou, da parte
dos críticos, uma redução à caricatura. Tal idéia, além de estranha à psicanálise, vai de
encontro aos seus princípios e objetivos; pois, se assim fosse, o tratamento psicanalítico não
seria apenas difícil: seria impossível, totalmente inviável. Se se admite que a terapêutica
psicanalítica é potencialmente eficaz, deve-se admitir também que a consciência não é um
epifenômeno, mas um mecanismo de retroalimentação e controle (feedback) que pode ser
reforçado por meio da análise. O objetivo da psicanálise como terapia é fazer com que "o
que antes era id doravante seja ego" (Freud); é induzir o paciente a vencer suas resistências
de modo que, "ciente" dos conflitos que o dilaceram, possa então resolvê-los por meio da
"razão". Essa meta assenta-se numa pressuposição: a de que, em inúmeras circunstâncias, é
possível uma pessoa pensar e agir de uma forma totalmente racional, sem a influência da
libido, obedecendo a critérios realistas e sabendo que pode errar. Freud, em seu ensaio "O
Homem dos Lobos", escreveu: "estamos acostumados a rastrear o interesse por dinheiro ‘na
medida’ em que é irracional e libidinoso em sua natureza", no entanto, "presumimos que as
pessoas normais mantenham as suas relações com dinheiro totalmente livre de influências
libidinais e que as regulem de acordo com considerações realistas." (Sobre a história de uma
neurose infantil)

A própria decisão do neurótico de procurar um tratamento doloroso é, na maioria dos casos,


uma atitude “lúcida”, isto é, uma deliberação fundada na razão e na realidade. Aliás, os
psicanalistas admitem que um dos traços que distinguem o neurótico do psicótico é a
capacidade que o primeiro tem de “desconfiar” dos seus delírios, de considerar alguns de
seus atos como “absurdos” ou mesmo “irracionais” e, por conseguinte, de proferir
julgamentos críticos e autocríticos válidos. E se ele é capaz disso, então não se pode deixar
de reconhecer que muitas das objeções do analisando às interpretações feitas, longe de

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constituírem um mecanismo de defesa (denegação) que indiretamente confirma as conjecturas


do analista, na verdade são discordâncias “razoáveis” que devem ser consideradas. Ora, se é
possível que algumas contestações do paciente sejam refutações válidas e consistentes e não
meros sinais de resistência (aliado ao fato de que também os assentimentos do analisando
podem não ser o que parecem ser, como bem ilustra o firme “pois sim!” dos nossos irmãos
portugueses), então é natural que a suspeição de engano e falsidade também recaia sobre as
interpretações do psicanalista. Peter Gay, em seu livro “Freud para historiadores”, afirma que
“uma conjectura inicial no decurso de uma análise, uma espécie de predição oculta de que este é
o padrão que a análise irá revelar, pode mostrar-se simplesmente insustentável à luz da
exposição de mais material clínico”. (Ed. Paz e Terra; 2a. edição; págs. 71/72). E Freud, no seu
ensaio “Sobre a psicanálise selvagem” — uma crítica aos diagnósticos feitos às pressas e
imprudentemente —, é direto e lacônico: “às vezes nós interpretamos erradamente e jamais
estamos em posição de descobrir tudo”.

Como se vê, a própria psicanálise estabelece que “nenhuma conjectura proposta por um
psicanalista é infalível ou absolutamente certa”, o que significa dizer que as próprias regras do
método determinam que “todo” resultado a que se chegue através deste método encerra a
possibilidade de ser falso.

Decerto que o fato de uma hipótese ser potencialmente falsa não quer dizer que ela seja
“falseável”. Para que o seja, é necessário que haja um critério de falsificação. No caso em
questão, qual seria ele?

De acordo com a técnica psicanalítica, há uma maneira razoavelmente segura de distinguir uma
discordância válida de uma denegação que revela apenas resistência, e também de discernir uma
postura ativa (como a altivez de quem tem sólida auto-estima) de uma formação reativa
(exemplificada por aquela arrogância que não é senão a fachada compensatória de um
sentimento de inferioridade). Segundo Freud, a pedra de toque estaria, primeiro, na “medida
excessiva” das emoções presentes nos pensamentos e atitudes do analisando, no tamanho da
excitação irracional, na grandeza da desproporção entre a energia gasta e a racionalmente
necessária. Mas não só nisso, pois, como ressaltou Peter Gay, entre os comportamentos normais
“há lugar para uma indignação ou para uma admiração apaixonada”, de sorte que “onde há
fumaça, nem sempre há fogo”. Para que a intensidade do afeto seja um indicativo sólido de
que se está diante de um estratagema defensivo, ela deve ter também um “caráter compulsivo”,
ou seja, é preciso que se apresente de forma persistente e reiterada, como “padrão”
comportamental e de um modo tal que o paciente, a despeito de todo esforço consciente, mostre-
se incapaz de dissolvê-lo ou de se desembaraçar dele.

Em prol desse discernimento, também vale observar se há ou não contradição reiterada entre
intenção e resultado, entre linguagem verbal e a não-verbal ou corporal, além do que é mister
estar sempre atento às manifestações neurovegetativas — de difícil controle pela consciência —
que acompanham o pensamento e a ação.
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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

Essa maneira de avaliar o comportamento humano não é uma invenção de Freud. É algo que,
numa versão grosseira, sempre integrou o bom senso das pessoas. Por haver muita competição
nas comunidades em que vivemos, a evolução nos muniu com uma forma de raciocínio,
denominado por Charles S. Peirce de “raciocínio por abdução”, mediante o qual tanto armamos
tramas contra nossos semelhantes como desmontamos aquelas feitas contra nós. Trata-se de uma
forma de elaborar juízos que se desenvolveu na esteira da dialética malandro-otário. A
propósito, o termo “abdução” relaciona-se ao fato de que, nesta modalidade de raciocínio, os
atos e julgamentos possíveis de quem cogita figuram como premissas (realmente, é preciso
ter malícia para enxergar maldades veladas).

Acresce dizer que, se somos capazes de enganar os outros para auferir vantagens, também
somos capazes de enganar com as melhores das intenções (às vezes mentimos para um amigo
apenas para erguer o seu moral) e, também, de cometer auto-enganos deliberados. Afinal,
numa batalha, o guerreiro que não vacila é aquele que “reprime” o medo e age como o mais
valente dos mortais. Ademais, para que uma idéia se converta eficazmente em ação, é necessário
alijar da consciência qualquer pensamento que suscite dúvidas. E quando somos muito
dependentes de uma pessoa (econômica e/ou emocionalmente), convém esconder de nós
mesmos as lembranças muito ruins que temos dela e o intenso ressentimento associado a essas
recordações. Tal auto-engano deliberado é, a princípio, uma virtude. Mas o que é um

vício a não ser um excesso de virtude? Da mesma forma que o sistema imunológico, os
mecanismos de defesa do ego, até uma certa medida, são úteis à sobrevivência (do indivíduo, do
grupo, dos genes). Por outro lado, assim como o sistema imunológico pode voltar-se contra o
próprio organismo e dar origem a doenças auto-imunes, os mecanismos de defesa também
podem ocasionar efeitos tóxicos, mortificantes, como é o caso dos sintomas neuróticos.

Tanto o conhecimento da natureza baseado no senso comum quanto o conhecimento científico-


natural valem-se dos raciocínios por indução e por dedução. E, conforme indicamos acima,
quando o objeto a ser investigado é a intenção e o comportamento humanos, o senso comum
também faz uso do “raciocínio por abdução”. Deve as ciências do homem e mais
particularmente a psicologia humana negligenciar esta última forma de raciocínio? Obviamente
que não. Pelo contrário, às ciências humanas interessa que esse tipo de raciocínio seja tratado da
mesma forma que Aristóteles tratou a dedução e Francis Bacon a indução, ou seja, é preciso
dedicar ao processo abdutivo de raciocínio todo um capítulo da “Lógica”. Em outras
palavras, é importante estudá-lo, esquematizá-lo, depurá-lo das idiossincrasias individuais para
que essa técnica que empregamos pré-conscientemente (de uma forma antepredicativa, intuitiva)
se converta num instrumento de análise cientifica.

Agora, voltemos ao que Popper disse a respeito da psicanálise. Em seu livro “A Lógica da
Investigação Científica”, o filósofo afirma estar convencido de que existe um mundo
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inconsciente e que as análises dos sonhos de Freud são fundamentalmente corretas. Diz
inclusive que a obra “A Interpretação dos Sonhos” é um grande sucesso. No entanto, nega à
psicanálise o estatuto de ciência por se tratar de uma teoria irrefutável; pois, segundo suas
próprias palavras, “não se pode dar qualquer descrição, seja qual for, de qualquer
comportamento humano LOGICAMENTE POSSÍVEL (o grifo é meu) que se mostre
incompatível com as teorias psicanalíticas”. (O Conhecimento Objetivo; Ed. Itatiaia; pág. 336)

Trocando em miúdos, se o paciente age de uma maneira “A”, isso comprova a interpretação
psicanalítica. E se age de uma maneira inversa (“não-A”), isso também confirma o diagnóstico.
Ora, vimos que as coisas não são bem assim. De acordo com a psicanálise, um ato de negação
do analisando nem sempre é um “sim” camuflado, e se é possível discernir uma recusa lúcida de
uma denegação reativa, jamais podemos saber “com absoluta certeza” se discernimos
corretamente, uma vez que, mesmo depois de caracterizada como um mecanismo de defesa, a
denegação do paciente pode de repente vir a se apresentar sem sobrecarga emocional e sem
compulsão, o que lançaria uma dúvida razoável sobre o resultado da investigação psicanalítica.
Por conseguinte, contrariamente ao que supunha Popper, a psicanálise admite comportamentos
humanos LOGICAMENTE POSSÍVEIS capazes de refutar não só interpretações aventadas no
decorrer da análise como até mesmo o diagnóstico final.

Diga-se a bem da verdade que Freud, muitas vezes em suas experiências clínicas, deparou-se
com comportamentos humanos capazes de refutar inclusive segmentos importantes do seu
‘corpus’ teórico. E sua atitude diante desses casos não foi a de um oráculo decidido a demonstrar
que qualquer coisa que aconteça está, no fundo, de acordo com suas proferições. Ao contrário,
quando percebia não haver mais meios plausíveis de salvar a teoria, não vacilava em abandoná-
la mesmo que isso lhe custasse muito. Foi assim que, em setembro de 1897, Freud renunciou
definitivamente à sua “teoria da sedução”.

Enfim, a experiência clínica revelou-lhe que, em contraste com esta teoria, muitas das
lembranças reprimidas dos pacientes são, na verdade, memórias fictícias, ou melhor, “fantasias”,
e que são fantasmáticas — isto é, distorcidas pelos desejos conflituosos do doente — mesmo
quando baseadas em traumas reais. A capitulação resignada aos fatos e o pesar da renúncia estão
presentes numa de suas cartas endereçadas a Wilhelm Fliess, a chamada “Carta do Equinócio”.
Nessa missiva, Freud escreveu: “Não acredito mais em minha neurótica (...) Eis-me obrigado a
ficar sossegado, permanecer na mediocridade, fazer economia, ser atormentado por
preocupações. (...) Rebeca, tire o vestido, você não é mais a noiva”. (A ironia é que, atualmente,
a crítica mais consistente do ceticismo cientificista à psicanálise é a que tem por foco a teoria da
sedução.)

Ao contrário do que afirmam seus detratores, Freud não foi um intelectual inflexível,
falacioso e que buscava no material clínico apenas confirmações de suas hipóteses. Em outros
termos, a teoria psicanalítica não é a extensão de um ego narcisista para o qual o
“argumentum ad hoc” funciona como

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estratagema de defesa. Para o fundador da psicanálise, a experiência é uma autoridade que ora
confirma, ora refuta. Mas, por não ser um empirista ingênuo, mantinha uma postura
cética — mas nunca
‘irracionalmente’ cética, como é comum entre os seus opositores — tanto frente às confirmações
como diante das refutações. Foi com esse ceticismo metódico que Freud ergueu o seu edifício
teórico. “A história da psicanálise” — escreveu Peter Gay — “é, nas suas quatro primeiras
décadas, em grande medida, a história de Freud modificando os seus pontos de vista sobre
a estrutura da mente, sobre a ação terapêutica, sobre a natureza dos instintos, sobre a
sexualidade feminina e sobre a ansiedade”.

De resto, quanto à teoria da repressão e do recalque (que, para Freud, é a pedra angular da
psicanálise), além das muitas observações e experiências realizadas no âmbito da própria
clínica, corroboram-na também vários testes experimentais feitos com base em outras técnicas:
sugestão pós-hipnótica, testes projetivos, entrevistas controladas e aqueles executados com
instrumentos de precisão como o taquistoscópio, a tomografia computadorizada, etc. Há, por
exemplo, os testes realizados no começo do século passado pelo psicólogo austríaco Herbert
Silberer, o experimento de Saul Rosenzweig (British Journal of Psychology, nr. 24, 1934, p.
247-65), o de Jerome Bruner e Leo Postman (1947), o de Michel Anderson e Collin Green
(2001) e o recente experimento de M. Anderson e J. Gabrielli (2004) em que se fez uso da
ressonância magnética funcional.

Claro que não se trata de provas terminantes, conclusivas. São provisórias, como o são os
resultados de quaisquer testes experimentais. E não é correto exigir da psicanálise o que nem
mesmo a ciência mais dura poder fornecer

5-CORRENTES PSICANALÍTICAS

(Reproduzimos o texto do SINPESP, que analisa muito bem as


correntes psicanalíticas na palavra do renomado Prof. Zimerman )
No mês de abril tivemos a honra de recebermos o Prof. Davi Zimerman no Simpesp. Na
ocasião ele falou sobre O MOMENTO ATUAL DAS PSICOTERAPIAS
PSICANALÍTICAS. Comentou que a essência dos ensinamentos de Freud está
conservada, mas com inúmeras modificações na prática. Propõe que encaremos o momento
atual como o da aurora, momento de integrar os opostos de noite e dia. Lembrou o início
do seu trabalho com a hipnose e a descoberta importante daí derivada, de que “existia um
mandamento no fundo da mente”, algo ficou lá por dentro dando ordem. Dentro deste cenário
surge o superego, como uma censura interna fruto dos personagens que vão ficando
incorporados no nosso interior, mas que tem um lado bom. Propõe uma nova metáfora, a do
iceberg, onde a parte visível é o consciente e a grande parte submersa é o inconsciente, as
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zonas ocultas da mente, onde “os titanics se


espatifam”. Zimmerman recomenda guardar esta regrinha – tudo o que é
bom, porém em sendo demais, já deixa de ser bom, já entra no campo da patologia. Isto
vale para o narcisismo, antes visto como negativo e hoje como necessário no sentido de
orgulho pelo que realizamos. O mesmo acontece com a inveja que empurra a pessoa para a
realização, estimula a vontade de ser igual. Até mesmo a percepção do amor maternal passou
por revisões a partir da Psicanálise, uma vez que se reconhece o malefício trazido pelo
excesso, provocando uma infantilização do filho e o risco de torná-lo impotente frente aos
desafios da vida.

Um outro ponto levantado é a questão da “má fama da Psicanálise”. Zimerman propõe


desmistifica-la. Explicar ao paciente que existe um inconsciente cheio de escuridão a

que ele não tem acesso e a nossa proposta de botar um pouco de luz na obscuridade na mente.
In = dentro de sight luminosidade dentro de.◊= luminosidade Fala
também da grande descoberta de Freud sobre o papel dos sonhos como mensagens em
código de tudo o que se passa no inconsciente. Alerta para o cuidado com interpretações mais
estereotipadas dos símbolos e propõe que sempre é preciso ver o que a pessoa quer dizer ou
associar com uma imagem que aparece no sonho: “A coisa é o contexto
– é conversar com o paciente.” Zimerman fala que Freud está em
parte está superado, porque não saiu do Édipo. Reconhece que ele foi até camadas mais
primitivas, incluindo o conceito de narcisismo, mas não há como negar que a cultura e os
valores mudaram. Recorre à metáfora de uma árvore que tem raízes fortemente plantadas no
chão e que formam um tronco, que dá galhos, ramos, que, por sua vez dão folhas, e flores,
que deixam cair novas sementes. Os ramos representam as novas escolas, que lançam as
sementes dos futuros.

Zimerman fala de 7 correntes psicanalíticas:

1. Escola de Freud, que trabalha basicamente a repressão e a proposta de trazer para o


consciente o que está preso no inconsciente por ser desprazeroso, como se fosse “socar no
fundo do poço o que não é agradável”.

2. Escola da teoria das relações objetais – Melanie Klein, Ferber. Objetos são pessoas que
entram pra dentro da gente, podem ser boas ou más. Klein falda de uma inveja primária
(inveja do seio da mãe). Os fatos que são penosos, que a criança quer negar, ela dissocia,
como se despedaçasse e projeta no outro, o que Klein denomina identificação projetiva.

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MATÉRIA A TERAPIA FREUDIANA 2º PARTE

3. Escola da Psicologia do Ego, que começou com Hartmann e que aborda as funções da
mente – atenção, concentração, pensamento, juízo crítico.

4. Escola da psicologia do Self de Hans Kohut;

5. Escola estruturalista francesa de Jacques Lacan, que propõe um tempo da castração simbólica
que interfere no tempo de sessão. Zimerman diz aprendeu em Lacan que o inconsciente não é
só fonte de pulsões e repressões e que o discurso dos pais, o desejo dos pais vai entrando no
inconsciente da criança.

6. Winnicott

7. Bion - entrou com o conceito de contemporaneidade. Fala de um campo analítico, onde


analista e paciente estão se influenciando reciprocamente, interagindo: “2 pessoas
igualmente angustiadas, porém espera-se que uma menos que a outra.” Zimerman fala que
a Psicanálise tem 3 gênios, que trazem um novo paradigma: Freud

(foi inventar que a criança tinha fantasias sexuais); Klein, que recuou no tempo e percebeu
que desde recém-nascidas já tinha fantasia e reações e Bion com a idéia de campo
analítico.

Fala da análise contemporânea e do processo de avaliação mútua. 1º a comunicação, a entrevista


inicial para equacionar as coisas É preciso avaliar a reserva de capacidades positivas.Lembra
de que existe uma criança dentro de si não está dando conta do projeto adulto. Soterrado
sob uma massa de neurose, psicose, existe uma criança que quer ter o direito de nascer e
viver. Revê conceitos que antes eram vistos como negativos: a contratransferência, também
tem seu lado positivo, bem como os actings, atualmente entendidos como tendo valor
semelhante ao sonho.

Na Psicanálise contemporânea temos o pensar. Ora pensa contra o pensamento do outro


(histérico), o passivo que não pensa. Oram pensam patinando em torno do mesmo lugar
(obsessivos), ora pensa evitando (fóbicos), pensa orbitando o próprio umbigo (narcisista).
Ajudar o paciente a saber pensar – é juntar pedaço com outro pedaço. Isto forma um
setting, a partir da figura do analista que vai além das interpretações. É um momento
sagrado para o paciente, um espaço onde vai poder reproduzir as experiências mal resolvidas

Finalmente fala da patologia do vazio, onde existem carências, temos que suprir
complementar, preencher vazios. A análise é um momento sagrado para o paciente, um espaço
onde vai poder reproduzir as experiências mal resolvidas. Hoje a transferência é vista como uma
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necessidade de repetição, onde o paciente mostra as carências dele. Para finalizar, alinha-se
mais uma vez com Bion, chamando de crescimento mental o resultado da análise. Opta por
falar em término de uma análise, mas não cura, pois a vida continua mudando e trazendo
outros contornos

Bibliografia
Obras Completas – Vol. XI
Revista Percurso nº13, do Instituto Sedes Sapientiae, em 1994, “Epistemologia e
Psicanálise : o Estatuto do Sujeito”.
“Três Ensaios sobre uma teoria sexual” - Freud
Anotações das aulas ministradas pelo professor Tácito , no Curso “Infância, Psicanálise e
Educação”, no Lepsi – USP- 2002

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Registro da Profissão

PSICANALISTA

A conclusão do curso dá ao aluno o direito de registrar-se como PSICANALISTA, solicitando


sua filiação à Ordem Nacional dos Psicanalistas. De acordo com o Ministério do Trabalho,
Portaria Mtb 1.334/94 e Decreto Lei n.º 76.900/75 – Psicanalista – CBO Cód. 2515-50 –
Profissional de Nível Superior ou Equivalente.

Reconhecimento:

Os psicanalistas têm sua profissão classificada reconhecida no Ministério do Trabalho têm sua
profissão na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) - Portaria nº 397/TEM de 09/10/2002,
sob o nº 2515.50. podendo exercer sua profissão em todo o Território Nacional. O Psicanalista é
um profissional que pratica a Psicanálise em consultórios, clínicas e até hospitais, empregando
metodologia exclusiva ao bom exercício da profissão, quais sejam, as técnicas e meios eficazes da
psicanálise no tratamento das psiconeuroses.

REGULAMENTAÇÃO DA PSICANÁLISE

Em resposta as informações solicitadas a Central de Atendimento do MEC, conforme protocolo


de n° 9010154, finalizado em 4/7/2012, às 17:18 pela área responsável:

CONTATOS:

SETEAD-
SEMINÁRIO DE EDUCACÃO TEOLÓGICA KERIGMA DIDACHE

FONE : CELULAR: 61 8423 4299 / 61 9179 5857 ( Wathassp )

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EMAIL: falecomsetead@gmail.com

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