Você está na página 1de 42

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 TEORIAS DA PERSONALIDADE ............................................................... 4

2.1 Abordagens da Personalidade ............................................................. 5

2.2 Perspectiva Psicanalítica...................................................................... 6

2.2.1 Freud .............................................................................................. 7

2.3 Perspectiva Neo-Analítica .................................................................... 9

2.3.1 Jung................................................................................................ 9

2.3.2 Adler ............................................................................................. 10

2.3.3 Horney .......................................................................................... 10

2.3.4 Sullivan ......................................................................................... 11

2.3.5 Erikson ......................................................................................... 11

2.3.6 Fromm .......................................................................................... 11

2.4 Perspectiva Humanista....................................................................... 12

2.4.1 Rogers .......................................................................................... 12

2.4.2 Maslow ......................................................................................... 13

2.5 Perspectiva da Aprendizagem ............................................................ 13

2.5.1 Skinner ......................................................................................... 13

2.5.2 Bandura ........................................................................................ 13

2.5.3 Rotter............................................................................................ 13

2.6 Perspectiva Cognitiva ......................................................................... 14

2.6.1 Kelly.............................................................................................. 14

2.6.2 Mischel ......................................................................................... 15

2.6.3 Beck ............................................................................................. 15

2.7 Perspectiva das Disposições .............................................................. 15

2.7.1 Allport ........................................................................................... 15

1
2.7.2 Cattell ........................................................................................... 15

2.7.3 Eysenck ........................................................................................ 16

2.8 Perspectiva Psicobiológica ................................................................. 17

2.8.1 Gray.............................................................................................. 17

2.8.2 Tellegen........................................................................................ 18

2.8.3 Zuckerman ................................................................................... 18

2.8.4 Cloninger ...................................................................................... 18

3 TEMPERAMENTO .................................................................................... 20

3.1 Temperamento de Galeno.................................................................. 21

3.2 Teorias Contemporâneas do Temperamento ..................................... 23

3.2.1 Carl Gustav Jung .......................................................................... 23

3.2.2 Adler ............................................................................................. 24

3.3 Temperamento na Visão Empírica ..................................................... 25

3.3.1 Gerard Heymans .......................................................................... 25

3.3.2 Ernst Kretschmer .......................................................................... 26

3.3.3 Ivan P. Pavlov .............................................................................. 27

3.4 Estudos Contemporâneos .................................................................. 29

3.4.1 Eysenck ........................................................................................ 29

3.4.2 Teplov........................................................................................... 30

3.4.3 Thomas e Chess .......................................................................... 31

3.4.4 Goldsmith ..................................................................................... 32

3.4.5 Buss e Plomin .............................................................................. 33

3.4.6 Rothbart........................................................................................ 33

3.4.7 Windle e Lerner ............................................................................ 34

3.4.8 Strelau .......................................................................................... 34

4 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 39

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

3
2 TEORIAS DA PERSONALIDADE

Fonte: revistamedicinaintegrativa.com

Desde os primórdios, o conceito de Personalidade vem sofrendo significativas


mudanças, o que leva a perceber que esta temática bem como de todas as
componentes intimamente relacionadas é bastante complexa.
Diante inúmeras definições, segundo Carver et Scheier (2000, apud
HANSENNE, 2003) de forma resumida destacam alguns pontos:
I. A personalidade não corresponde a uma justaposição de peças, mas
sim representa uma organização;
II. A personalidade não se encontra num local específico. Ela é ativa e
representa um processo dinâmico no interior do indivíduo;
III. A personalidade corresponde a um conceito psicológico cujas bases
são fisiológicas;
IV. A personalidade é uma força interna que determina como o indivíduo se
comportará;
V. A personalidade é constituída por padrões de respostas recorrentes e
consistentes;

4
VI. A personalidade não se reflete apenas numa direção, mas sim em
várias, à semelhança dos sentimentos, pensamentos e
comportamentos.
É importante destacar de forma superficial as noções de temperamento, de
caráter e de traços da personalidade, tendo em vista que o temperamento é definido
como “traços inatos” da personalidade, onde sua origem iminentemente genética,
enfatizando também o fato que os temperamentos podem ser modificados através da
experiência, independentemente da base hereditária que apresentam (BUSS &
PLOMIN, 1984 apud HANSENNE, 2003). Por sua vez, o caráter segundo o modelo
de Cloninger et al. (1993, apud HANSENNE, 2003) é definido por disposições
duradouras, aparecendo tardiamente na vida do indivíduo, e que modificam os
temperamentos base.

É claro que esta noção nada tem a ver com a ideia do senso comum, cuja
palavra “carácter” é empregada para realizar algum tipo de apreciação como
“Este sujeito possui um carácter forte”, e quer seja uma expressão positiva
ou negativa, constitui sempre um juízo moral. Quanto ao traço de
personalidade, representa uma característica durável, a disposição do
indivíduo para se comportar de uma determinada forma em diversas
ocasiões, e deste modo a noção de traço substitui afavelmente a noção de
carácter (BAPTISTA, 2008).

Os traços habituais, são por exemplo, a impulsividade, a generosidade, a


timidez, a sensibilidade, a empatia ou honestidade (HANSENNE, 2003).

2.1 Abordagens da Personalidade

Segundo Baptista (2008) existem duas grandes vias de abordagem relacionada


ao estudo da personalidade: abordagem idiográfica e a nomotética.
A abordagem ideográfica (1), julga o indivíduo como uma pessoa inteira e
única e seu processo consiste na concentração de um indivíduo e na análise das suas
características em diferentes situações.

5
Fonte: psicologia.com.pt

Já a abordagem nomotética (2) visa que as regras sejam aplicadas a vários


indivíduos, estudando as características de um vasto número de indivíduos,
comparando-os entre si (Hansenne, 2003).

Existem muitas teorias que estudam a personalidade:

2.2 Perspectiva Psicanalítica

Fonte: www.vittude.com

6
A Perspectiva Psicanalítica tem Freud como autor.

2.2.1 Freud

Os elementos mais importantes da teoria de Freud são:


*Personalidade é um conjunto dinâmico constituído por componentes em
conflito, dominadas por forças inconscientes;
*A sexualidade tem um papel crucial nesta teoria.
Ainda traz a primeira tópica e a segunda tópica, sendo o inconsciente, o pré-
consciente, consciente e o Id, Ego e Superego, respectivamente.
De acordo com o trabalho de Bock, Furtado & Teixeira (2001), no livro "A
Interpretação dos Sonhos", Freud discutiu o conceito de estrutura e funcionamento da
personalidade. Na teoria da Psicanálise, ele propôs o conceito de divisão do aparelho
psíquico:
1. Inconsciente – Diz respeito ao conjunto de conteúdos reprimidos que não se
fazem presentes no campo da consciência. Tais conteúdos reprimidos não estão
acessíveis pelos sistemas pré-consciente e consciente, pois são crivados por
censuras internas.
2. Pré-Consciente – Concebido como o sistema, cujos conteúdos permanecem
acessíveis ao consciente em algum momento.
3. Consciente – Sistema que recebe tanto as informações do mundo exterior,
quanto do mundo interior, apresentando-se a percepção acerca deste mundo, como
também a atenção e o raciocínio (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 2001).
Freud introduziu os conceitos de id, ego e superego em sua teoria do aparelho
psíquico. Esses conceitos envolvem o sistema de personalidade.
Freud apud Bock, Furtado & Teixeira (2001) afirma que:
Id – Se constitui enquanto um reservatório da energia de ordem psíquica, lócus
das pulsões de vida e de morte. O id é regido pelo prazer.
Ego – Responsável por equilibrar as exigências do id com as exigências da
realidade e as ordens advindas do superego, regulando e alterando o princípio do 18
prazer para conseguir a satisfação, possuindo as seguintes funções: percepção,
memória, sentimentos e pensamento.

7
Superego – Origina do complexo de Édipo, por meio da internalização das
proibições, dos limites e da autoridade. O superego tem as funções de regular a moral
e os ideais, baseado nas exigências sociais e culturais.
Segundo Freud (1964 apud HANSENNE, 2003), existem 5 fases no
desenvolvimento da personalidade, sendo estas a oral, a anal, a fálica, o período de
latência e a fase genital.
Freud descobriu que o indivíduo se desenvolve por meio de um processo
denominado psicossexual cuja função está relacionada à sobrevivência e encontra
prazer no próprio corpo. Nesse corpo foi encontrada excitação sexual, o que levou
Freud a especular sobre as seguintes etapas do desenvolvimento sexual:
– Fase oral (a zona de erotização é a boca);
– Fase anal (a zona de erotização é o ânus);
– Fase fálica (a zona de erotização é o órgão sexual) (BOCK, FURTADO e
TEIXEIRA, 2001).
De acordo com Freud (apud BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2001, p. 97), após
essas etapas, ocorre o período de latência, que se estende até a puberdade e se
caracteriza pela diminuição da atividade sexual. A puberdade é o estágio final do
desenvolvimento sexual: o estágio genital. A característica desse estágio é que o
objeto de desejo não está no corpo em si, mas fora do indivíduo.

8
2.3 Perspectiva Neo-Analítica

Fonte: pt.vecteezy.com

Na Neo-Analítica, destaca-se entre os autores: Jung, Adler e Erickson

2.3.1 Jung

O autor Jung rejeitando a teoria da sexualidade de Freud, construiu a


interpretação dos sonhos de forma diferente. Em sua teoria destaca-se que o
inconsciente é dividido em duas entidades diferentes, o inconsciente pessoal e o
inconsciente coletivo, sendo este último constituído por arquétipos.
Jung, ainda considerou duas atitudes distintas, a introversão e a extroversão e
paralelamente a isto, definiu 4 funções psicológicas:
1- Pensamento;
2- Impressões;
3- Sensações,
4- Intuições.
Fomentou também que o desenvolvimento da personalidade é encarado
segundo 4 fases:
Infância;
9
Juventude;
Middle age,
Old age.

2.3.2 Adler

O autor Adler (1927 apud HANSENNE, 2003), considerou que o indivíduo


sendo uma pessoa inteira, passa da imaturidade para a maturidade. O autor refere
que os indivíduos é quem decidem sobre suas vidas e independentemente dessa
decisão, buscam alçar a perfeição naquilo que estabelecem para si mesmos.
Em sua teoria, um dos tópicos fundamentais se atrela a ideia de que o homem
deve cumprir 3 tarefas na vida:
I- Inserir-se na sociedade;
II- Consagrar tempo a um trabalho,
III- Desenvolver relações amorosas.
É através destas 3 tarefas que a criança desenvolve os seus interesses
sociais.

2.3.3 Horney

Para Horney (1945 apud HANSENNE, 2003), a personalidade não é


exclusivamente determinada por pulsões inconscientes, nem a libido constitui fonte
energética das pulsões. A autora argumenta ainda, para que a criança adquira um
desenvolvimento normal da personalidade é necessário que o ambiente social da
mesma permita que ela adquira confiança em si mesmas e nos outros. Se o ambiente
não oferecer essas evidências, poderá desenvolver ansiedade e apresentar
necessidades neuróticas.
De acordo com Baptista (2008), Horney descreveu 3 disposições que os
indivíduos verificam perante si próprios e diante dos outros para reduzir a ansiedade.
Essas 3 maneiras de viver, pensar e comportar constituem 3 tipos de personalidade:
1) Submisso,
2) Agressivo
3) Desligado.

10
2.3.4 Sullivan

Conforme Sullivan (1953 apud HANSENNE, 2003) escreveu, a personalidade


é instituída pela configuração duradoura das situações interpessoais recorrentes que
caracterizam uma vida humana. O conjunto destas relações a “dois” começa com a
relação com a mãe e termina com a escolha do parceiro. Relatou também que existem
dois tipos de tensões provenientes das experiências que vivemos:
I. Necessidades Físicas,
II. Ansiedade Interpessoal.
Baptista (2008) acrescentou que Sullivan considerava que a personalidade se
desenvolve conforme 6 estágios do desenvolvimento da infância à adolescência, se
encontrando cada um centrado numa relação interpessoal única.

2.3.5 Erikson

O autor Erikson (1968 cit in Hansenne, 2003), elaborou a teoria que


compreende que o desenvolvimento da personalidade ocorre em 8 estágios
psicossociais (relação existente entre o desenvolvimento psicológico do indivíduo e o
contexto social). As referidas etapas compreendem 4 fases na infância, 1 durante a
adolescência e 3 no decorrer da vida adulta (BAPTISTA, 2008).

2.3.6 Fromm

Segundo o autor Fromm (1976 apud HANSENNE, 2003), a personalidade


deriva da interação dinâmica entre necessidades inerentes à natureza humana e as
forças exercidas pelas normas sociais e pelas instituições. Nesse entendimento
acredita-se na existência de 8 necessidades e atribuída relativa importância aos
caracteres, que podem ser do tipo individual ou do tipo social.

11
2.4 Perspectiva Humanista

Fonte: amenteemaravilhosa.com.br

Na abordagem Humanista é citado os autores Rogers e Maslow.

2.4.1 Rogers

Rogers (1961 apud HANSENNE, 2003), considerou o sujeito na sua totalidade,


conferindo grande importância à criatividade, intencionalidade, livre-arbítrio e
espontaneidade. Rogers atribui um lugar importante à noção de “si”, definindo a forma
como as experiências são vividas e a forma como se apreende o mundo. Dentro dessa
base, foi criado o Q-sort, e conforme o autor, a personalidade é desenvolvida no
ambiente que conste com 3 fatores primordiais:
1. Empatia;
2. Visão Positiva,
3. Relações Congruentes.

12
2.4.2 Maslow

Maslow (1962 apud HANSENNE, 2003), ao considerar os indivíduos como


fundamentalmente bons, racionais e conscientes, entendia que estes eram os atores
dos seus próprios destinos e evolução. O autor também concedeu a existência de
fatores motivacionais que sustentam a personalidade. É através dessa base que
Maslow elaborou uma hierarquia das necessidades, que são organizadas em função
da sua importância.

2.5 Perspectiva da Aprendizagem

Nessa perspectiva há Skinner, Bandura e Rotter como autores.

2.5.1 Skinner

Na visão de Skinner o ambiente determina a maior parte das respostas do


indivíduo e que em função das suas consequências, as mesmas serão, ou
reproduzidas ou eliminadas. Referiu-se ainda, que os comportamentos respondem a
leis, onde é possível controla-los através de manipulações do ambiente (Skinner, 1971
apud HANSENNE, 2003).

2.5.2 Bandura

Bandura compreende que os fatores mais importantes são os sociais e


cognitivos. Ele defendeu que maioria dos reforços são de natureza social, como a
atenção dos outros, a aprovação, os sorrisos, o interesse e a aceitação. Ponto vital da
teoria da aprendizagem de Bandura é o fato que baseado na observação do
comportamento do outro, constrói-se uma ideia de como os novos comportamentos
são produzidos (Bandura, 1971 apud HANSENNE, 2003).

2.5.3 Rotter

Na teoria de Rotter (1966 apud HANSENNE, 2003), um dos aspectos


fundamentais de sua teoria é que o ambiente pode controlar os comportamentos, ou

13
seja, uma situação idêntica não ter o mesmo entendimento por dois indivíduos. Assim,
o autor explicou que “os indivíduos manifestam dois tipos de expectativas gerais que
se podem qualificar como duas formas de representar a relação entre
comportamentos e reforços: trata-se do locus of control” (HANSENNE, 2003).

2.6 Perspectiva Cognitiva

Fonte: google.com

Na perspectiva Cognitiva, o autor Beck é quem se destaca, entretanto, outros


autores também apresentaram sua teoria.
2.6.1 George Kelly

Kelly (1955 apud HANSENNE, 2003), afirmou que os processos cognitivos


representam a característica dominante da personalidade, e assim o indivíduo formula
expectativas às quais nomeou de construtos pessoais. E é no intuito de apreendê-los
que o REP Test foi criado.

14
2.6.2 Walter Mischel

Mischel (1995 apud HANSENNE, 2003), sempre rejeitou a noção de traço de


personalidade, sugerindo assim, que uma teoria adequada da personalidade devia
considerar 5 categorias de variáveis cognitivas:
1. Competências,
2. Estratégias de Codificação;
3. Expectativas;
4. Valores Subjetivos
5. Sistemas de Autorregulação.

2.6.3 Aaron Beck

De acordo com Beck (1972 apud HANSENNE, 2003) indivíduos doentes


deprimidos têm distorções cognitivas, e assim eles decodificam a realidade de
maneira inadequada. Foi através desse entendimento que o autor elaborou sua
terapia cognitiva para ajudar as pessoas a modificarem as distorções cognitivas.

2.7 Perspectiva das Disposições

Allport, Eysenck e Cattel são autores dessa perspectiva.

2.7.1 Gordon Allport

O autor Allport (1937 apud HANSENNE, 2003), foi o primeiro que utilizou a
noção de traço de personalidade e para ele, cada indivíduo é único em função de uma
configuração específica de traços. Deste modo, “o autor distingue traços comuns de
traços individuais, definindo 7 fases que terminam no final da adolescência”
(HANSENNE, 2003)

2.7.2 Raymond Cattell

Cattell (1965 cit in Hansenne, 2003) fundamentou sua teoria na observação na


predição da personalidade como foco principal. Em sua teoria, os traços constituem a

15
dimensão de base da personalidade, estes são herdados e desenvolvem-se ao longo
da vida do indivíduo. O autor desenvolveu um questionário 16-PF objetivando
apreender a personalidade.

2.7.3 Hans J. Eysenck

Segundo Eysenck (1990 apud HANSENNE, 2003), bastam 3 super traços ou


dimensões para descrever a personalidade:
I. Extroversão versus Introversão;
II. Neuroticismo versus Estabilidade Emocional,
III. Psicoticismo versus Força do Eu.

O autor faz também referência a 4 níveis:


1. Os Tipos;
2. Os Traços;
3. As Respostas Habituais,
4. E as Respostas Específicas.

Eysenck, desenvolveu assim, o EPQ que possibilita medir as três dimensões


desta teoria.
Hansenne (2003), comentou que o questionário NEO PI foi desenvolvido
visando avaliar as 5 dimensões fundamentais da personalidade, tendo em vista à
extensa discussão de um grande número de psicólogos da personalidade, que
consideravam que as diferenças individuais podem ser determinadas por 5 fatores
(Big Five), que são:
1- Extroversão;
2- Agradabilidade;
3- Conscienciosidade;
4- Neuroticismo,
5- Abertura à Experiência.

16
2.8 Perspectiva Psicobiológica

Fonte: psicoadapta.es

Os autores Gray, Tellegen, Zuckerman e Cloninger defenderam a perspectiva


Psicobiológica

2.8.1 Jeffrey Alan Gray

De acordo com Gray (1982 apud HANSENNE, 2003), sua teoria foi concebida
mediante observações de comportamentos animais, inseridos em condições
particulares de recompensa e de punição. Dessa forma, essa teoria é fomentada em
três fatores:
I. Ansiedade;
II. Impulsividade,
III. Sistema fight/flight.

17
Therese A.Tellegen

O modelo proposto por Tellegen (1985 apud HANSENNE, 2003), compreende


três dimensões preponderantes:
A. Emoção Positiva;
B. Emoção Negativa,
C. Constrangimento.
Essa teoria evidencia que “a emoção positiva está relacionada ao sistema de
facilitação comportamental, a emoção negativa está associada com a atividade do
locus coeruleus e o constrangimento com a serotoninérgica” (HANSENNE, 2003).
Para apreender estas dimensões foi desenvolvido o Questionário
Multidimensional da Personalidade.

2.8.2 Zuckerman

Zuckerman (1994 apud HANSENNE, 2003), em substituição ao modelo dos 5


fatores, criou um modelo alternativo, que compreende 3 fatores:
1. Sociabilidade;
2. Emocionalidade,
3. Procura Impulsiva de Sensações De Caráter Anti-Social.

2.8.3 Claude Robert Cloninger

Cloninger (1988 apud HANSENNE, 2003), propôs um modelo biossocial da


personalidade, que se articula com temperamentos e caráteres. Nesse modelo os
temperamentos são geneticamente determinados, estão associados a variáveis
biológicas específicas, e os caráteres condizem à aprendizagem e aos efeitos do
ambiente.
Dessa forma os temperamentos são:
1. Procura da Novidade (Ativação);
2. Evitamento do Perigo (Inibição);
3. Dependência da Recompensa (Manutenção),
4. Persistência.

18
Por outro lado, os caráteres são:
1. A Autodeterminação (Maturidade Individual);
2. A Cooperação (Maturidade Social),
3. A Transcendência (Maturidade Espiritual).
HANSENNE (2003) citou que o questionário TCI com 226 itens foi criado
visando medir as 7 dimensões do modelo e que atualmente este questionário foi
substituído pelo TCI-R para diagnosticar perturbações da personalidade.
A partir dessas contribuições, pode-se perceber que a ideia da personalidade
é um conjunto de processos cognitivos e automáticos que faz com que o indivíduo
reaja sobre determinada forma, mediante os diversos contextos.
Baptista revelando seu entendimento acerca da personalidade, afirmou pensar
que “a personalidade deve ser entendida como um misto de fatores biológicos e
ambientais, estando ambos intimamente relacionados” (BAPTISTA, 2008). Hansenne
(2003), ressaltou que decorrido o tempo, a importância da personalidade começou a
ser reconhecida em outros domínios da Psicologia, a exemplos, na inteligência e nas
emoções.
(BUSS & PLOMIN, 1984 apud HANSENNE, 2003) mencionaram que o
temperamento é definido como “traços inatos” da personalidade, dessa forma é
necessário entendê-lo.

19
3 TEMPERAMENTO

Fonte: mamtra.com.br

O estudo das diferenças individuais sempre despertou o interesse de teóricos,


pesquisadores e não profissionais. De acordo com o enfoque teórico e o interesse,
diferentes dimensões, traços ou características são identificadas no indivíduo.
Na Grécia antiga, Hipócrates (século IV - V A.C.), o pai da medicina, elaborou
sua teoria dos Humores Corporais para justificar os estados de saúde e doença. Em
sua dissertação intitulada "On the Nature Man", deduz dos quatro elementos primários
do universo, terra, ar, fogo e água, quatro qualidades:
1. Calor;
2. Frio;
3. Úmido,
4. Seco.
Hipócrates relacionou essas qualidades à quatro humores corporais:
Sangue;
Fleuma;
Bile Branca,
Bile Negra.

20
Em seu entendimento, Hipócrates, afirmou que o “equilíbrio adequado entre
estes humores determinaria a saúde, e o desequilíbrio causaria a doença” (STRELAU,
1998).

3.1 Temperamento de Galeno

Galeno, baseado na teoria de Hipócrates, desenvolveu a primeira Tipologia do


Temperamento descrita em sua monografia "De Temperamentis", onde distinguiu e
apresentou nove temperamentos: quatro temperamentos primários relacionados à
dominância de uma das quatro qualidades descritas por Hipócrates; quatro
temperamentos secundários, derivados do pareamento entre as qualidades, e um
temperamento resultado da mistura estável das quatro qualidades, considerado como
temperamento ideal (STRELAU, 1998).
Os quatro temperamentos primários estabelecidos e descritos por Galeno, são
conhecidos entre teóricos e leigos, sendo nomeados de acordo com os humores
predominantes no corpo, conforme (AIKEN, 1991):
1) Tipo Sanguíneo - caracterizado por indivíduos atléticos e vigorosos, nos
quais o humor corporal predominante era o sangue;
2) Tipo Colérico - indivíduos facilmente irritáveis, nos quais predominava a bile
amarela;
3) Tipo Melancólico - indivíduos tristes e melancólicos que exibiam excesso de
bile negra;
4) Tipo Fleumático - indivíduos cronicamente cansados e lentos em seus
movimentos, que possuíam excesso de fleuma

21
Fonte: meubiz.com.br

Esta Tipologia do Temperamento operou forte influência em teóricos da


Alemanha, Estados Unidos, França, Itália e Polônia, que demandaram desde períodos
tão antigos que as diferenças percebidas no comportamento poderiam ser explicadas
por mecanismos fisiológicos e bioquímicos (ITO & GUZZO, 2002).
De acordo com Ito & Guzzo (2002), nos finais do Século XVIII e meados do
Século XIX, é perceptível influências da tipologia estabelecida pelos antigos gregos,
nas teorias de temperamento de estudiosos alemães como Immanuel Kant e Wilhelm
Wundt:

Immanuel Kant, em 1798, publicou sua "Anthropology", na qual descrevia sua


teoria de temperamento. Considerava este constructo como um fenômeno
psicológico, compreendido por traços psíquicos determinados pela
composição do sangue, que estaria relacionada a facilidade ou dificuldade da
coagulação sanguínea e também sua temperatura (ITO & GUZZO, 2002).

Kant, através da composição sanguínea e empregando critérios de energia de


vida, oscilantes da excitabilidade à sonolência, além de características do
comportamento dominante como emoção versus ação, caracterizou quatro tipos de
temperamento:
1. Sanguíneo, caracterizado pela força, rapidez e emoções superficiais;

22
2. Melancólico, designado pelas emoções intensas e vagarosidade das
ações;
3. Colérico, rapidez e impetuosidade no agir;
4. Fleumático, caracterizado pela ausência de reações emocionais e
vagarosidade no agir (STRELAU, 1998).
Já Wilhelm Wundt, ao estudar, em seu laboratório, emoções e tempo de reação
se deparou com a constatação da existência de diferenças individuais nas reações
emocionais, denominadas temperamento. Wundt, as definiu como disposições
aplicadas às direções das emoções. Partindo de dois fatores emocionais, força e
velocidade da mudança, Wundt distinguiu quatro tipos de temperamento:
1) coléricos e melancólicos, caracterizados pela força das emoções;
2) sanguíneos e fleumáticos, designados pela fraca emoção;
3) sanguíneos e coléricos, caracterizados pelas mudanças emocionais rápidas,
4) melancólicos e fleumáticos, caracterizados por mudanças emocionais lentas
(STRELAU, 1998).
No início do Século XX, psicólogos e psiquiatras buscaram desenvolver
estudos mais efetivos sobre temperamento. Na opinião de Ito & Guzzo (2002) autores
como Carl Gustav Jung e Alfred Adler, desenvolveram teorias mais especulativas, já
Gerard Heymans, Ernst Kretschmer e Ivan Pavlov baseados em diferentes
abordagens teóricas e provenientes de diferentes países, conduziram estudos mais
empíricos.

3.2 Teorias Contemporâneas do Temperamento

As formulações teóricas mais especulativas que influenciaram as teorias mais


contemporâneas de personalidade eram as de:

3.2.1 Carl Gustav Jung

Jung afirmou que os indivíduos eram qualificados por dois tipos de atitude, a
extroversão e a introversão. Essas sendo de origem biológica, refletindo a direção em
que a energia psíquica era expressa.

23
A extroversão, segundo o autor, era direcionada por expectativas e
necessidades sociais, orientada para a adaptação e reações exteriores, enquanto a
introversão teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos
psíquicos.

Fonte: avipae.org.br

Esses dois tipos de atitudes tornaram-se populares e as dimensões de


personalidade e temperamento, foram incorporadas em teorias de personalidade,
como as de Cattell, Guilford e Hans J. Eysenck e pesquisas de temperamento, como
as de Kagan e seu temperamento inibido e desinibido (STRELAU, 1998).

3.2.2 Adler

Em suas postulações, Adler, defendia a existência de quatro tipos de


temperamento, baseados na tipologia de Galeno, e definidos de acordo com o
interesse social e nível de energia manifesto pelos indivíduos:
a) tipo governante (ruling type) - caracterizado por indivíduos com certo nível
de agressividade, tiranos, enérgicos e dominantes, estando os mesmos relacionados
ao tipo colérico por apresentarem características temperamentais semelhantes às
encontradas neste tipo;
24
b) tipo dependente (leaning type) - pessoas sensíveis, que desenvolvem em
torno de si uma concha para protegerem-se dos eventos externos, possuem baixos
níveis de energia e são caracterizados como dependentes, constituindo o tipo
fleumático, exemplificado por indivíduos cronicamente cansados e pouco dispostos;
c) tipo de evitação (avoiding type) - indivíduos que apresentam como padrão
de vida o afastamento do contato direto com pessoas e circunstâncias, mantêm baixos
níveis de energia, e são caracterizados pelo tipo melancólico, predominantemente
tristes;
d) tipo socialmente útil (socially useful type) - pessoas saudáveis, que
apresentam interesse social e energia, estando relacionadas ao tipo sanguíneo,
caracterizando indivíduos atléticos e vigorosos (BOEREE, 1998b).

3.3 Temperamento na Visão Empírica

Entre os pesquisadores empiricistas do início do século, é possível destacar


Heymans, Kretschmer e Pavlov:

3.3.1 Gerard Heymans

Gerard Heymans foi o primeiro autor que trabalhou em uma pesquisa


sistemática de temperamento usando a abordagem experimental, psicométrica e
biográfica. Sua pesquisa objetivou descrever as dimensões básicas do temperamento
e determinar em que grau, hereditariedade e ambiente contribuem para o
desenvolvimento dos traços temperamentais.

Essa pesquisa de Heymans, que fora realizada em 1905 contou com a


colaboração de Wiersma. Consistiu na distribuição de um questionário de 90
itens para mais de 3000 médicos, no qual lhes era solicitado que avaliassem
o comportamento e características psíquicas de famílias (incluindo pais, mães
e filhos) que conhecessem bem. Retornaram os questionários de mais de 400
médicos, totalizando dados de 437 famílias, somando 2415 sujeitos (437 pais,
437 mães e 1541 crianças). Heymans distinguiu três dimensões de
temperamento baseando-se nas considerações teóricas de Kant, Gross e
Wundt, além de dados de seu estudo empírico sobre percepção sensorial
(ITO & GUZZO, 2002).

São essas as dimensões de temperamentos distinguidas através da pesquisa


de Heymans:
a) emocionalidade, relacionada a sensibilidade ou excitabilidade das emoções;
25
b) atividade, diz respeito ao comportamento operante;
c) funcionamento primário e secundário, que se refere ao aspecto temporal do
comportamento e do processo psíquico.
Segundo Strelau (1994, 1998) estas dimensões, consideradas também em
seus polos opostos, deram origem à tipologia de temperamento de Heymans,
composta por oito tipos de temperamento:
1- Amorfo;
2- Apático;
3- Nervoso;
4- Sentimental;
5- Sanguíneo;
6- Fleumático;
7- Colérico,
8- Apaixonado,

Heymans é considerado um teórico importante na área de temperamento,


pois além de desenvolver o primeiro estudo empírico, suas dimensões de
temperamento, principalmente atividade e emocionalidade, ganharam alta
popularidade e estão incluídas na estrutura de temperamento de muitos
teóricos contemporâneos, embora com significados diferentes. Sua
notoriedade também é devida, ao envolvimento de famílias (pai, mãe e filhos)
inteiras em sua pesquisa, que possibilitaram informações sobre a
hereditariedade do temperamento (ITO & GUZZO, 2002).

Seu estudo é considerado precursor das pesquisas em genética


comportamental, na área do temperamento e personalidade (Strelau, 1998).

3.3.2 Ernst Kretschmer

Kretschmer, foi um Psiquiatra alemão, que desenvolveu sua teoria de


temperamento baseado em estudos e pesquisas, onde correlacionou o biotipo físico
a propensão a certo tipo de doença e temperamento.

26
Fonte: maestrovirtuale.com

A partir de seus dados, distinguiu três tipos temperamentais:


a) esquizotímico, caracterizado por indivíduos astênicos, reservados,
apresentando emoções que oscilam da irritabilidade à indiferença, rígidos nos hábitos
e atitudes, com dificuldades de adaptação e propensos à esquizofrenia;
b) ciclotímico, caracterizado por indivíduos rotundos, com emoções que
variavam da alegria a tristeza, facilidade de estabelecer contato com o ambiente,
realísticos em suas visões e propensos ao distúrbio maníaco depressivo;
c) isotímico, indivíduos atléticos, tranquilos, com pouca sensibilidade,
modestos nos gestos e imitações, com dificuldade de adaptação ao seu ambiente,
propensos à epilepsia.
Esta tipologia constitucional ficou conhecida na Europa, principalmente na
década 30 (STRELAU, 1998).

3.3.3 Ivan P. Pavlov

Pavlov iniciou seus estudos no início do século XX. Foi o primeiro teórico a
realizar estudos sobre o temperamento em laboratório e a propor uma tipologia do
sistema nervoso, explicando as diferenças individuais como respostas de processos
de condicionamento (ITO & GUZZO, 2002). Este autor, através dos seus estudos
experimentais com cães, distinguiu quatro tipos de sistema nervoso
27
a) Sistema nervoso forte, equilibrado e móvel;
b) Forte equilibrado e inerte;
c) Forte e não equilibrado
d) Sistema nervoso fraco,
Estes sistemas são resultantes de diferentes configurações das quatro
propriedades fundamentais do sistema nervoso central: força de excitação, força de
inibição, equilíbrio e mobilidade do processo nervoso (STRELAU, 1997; STRELAU,
ANGLEITNER & NEWBERRY, 1999).
Pavlov (apud STRELAU, 1998) acreditava que o tipo de sistema nervoso era
uma característica inata e relativamente imune às influências ambientais, e que os
quatro tipos de sistema nervoso poderiam ser relacionados aos tipos clássicos de
temperamento propostos na tipologia de Hipócrates-Galeno, conforme esquema
abaixo:

Fonte: Ito e Guzzo (2002)

Apesar da tipologia de sistema nervoso de Pavlov ter sido estabelecida em


experimentos e observações de cachorros, ou autor acreditava que estes tipos
poderiam ser estendidos ao homem. Para o autor, os tipos de sistema nervoso
estabelecido em animais, quando referentes ao homem, são chamados de
temperamento (STRELAU, 1998, STRELAU, ANGLEITNER & NEWBERRY, 1999).

Pavlov apresentou o vínculo entre características temperamentais e tipos de


sistema nervoso. Utilizando o paradigma do condicionamento reflexo,
introduziu medidas objetivas e psicofisiológicas em estudos experimentais de
temperamento, proporcionando a primeira evidência de que as diferenças
individuais na velocidade e na estabilidade dos condicionamentos reflexos
estariam relacionadas ao temperamento. Ito e Guzzo (2002)

28
Pavlov admitiu a significância funcional do temperamento e o papel das
propriedades do sistema nervoso central na adaptação do indivíduo ao ambiente.
Suas observações influenciaram as teorias de personalidade e os estudos sobre
temperamento mais contemporâneos (STRELAU, 1997).

3.4 Estudos Contemporâneos

Em meados aos anos de 1950, houve um crescente interesse pelo


temperamento, surgindo assim, os estudos contemporâneos, cujos principais
representantes são Hans J. Eysenck do Maudsley Hospital, Universidade de Londres;
Boris M. Teplov do Instituto de Psicologia, da Academia de Ciências Pedagógicas em
Moscou; e Alexander Thomas e Stella Chess, psiquiatras do New York University
Medical Center (STRELAU, 1998).

3.4.1 Eysenck

Eysenck, foi um distinto estudioso no campo da personalidade. Considerou as


diferenças individuais como sendo produzidas pela herança genética e seu principal
foco de interesse era o temperamento (BOEREE, 1998a).
Para este teórico, o temperamento tem origem biológica, e seus traços são
universais. A partir de exaustivos estudos de análise fatorial conduzidos durante várias
décadas, com várias populações, assim como resultados de técnicas psicométricas e
experimentações de laboratório, concluiu que a estrutura de temperamento consistia
de três fatores básicos, que ficaram conhecidos entre teóricos da personalidade como
PEN (STRELAU, 1998), que são:
A. Psicoticismo (P),
B. Extroversão (E)
C. Neuroticismo (N),

29
Fonte: google.com

3.4.2 Teplov

Teplov juntamente com os seus colaboradores, influenciados pelas ideias de


Pavlov, consideravam que o temperamento era a expressão comportamental e
psicológica das propriedades do sistema nervoso central, sendo relacionado às
características dinâmicas do comportamento expresso nas diferenças individuais na
velocidade e intensidade das reações (ITO & GUZZO, 2002).
Dentro desta perspectiva, Nebylistsyn apresentou uma visão mais elaborada
do temperamento em seu escrito publicado na "Enciclopédia Pedagógica", na qual
este autor descreveu o temperamento como uma característica individual, expressa
em aspectos do comportamento tais como:
Tempo;
Velocidade,
Ritmo.
Consistindo em três componentes maiores:
Atividade;
Movimento,
Emocionalidade.
Conforme descrito por Teplov e Nebylistsyn, os traços de temperamento não
são suscetíveis a mudanças e o fato do temperamento ser considerado inato, mas

30
não necessariamente herdado, era usado por Teplov e seus colaboradores como
principal argumento em favor da estabilidade temperamental (STRELAU, 1998).

3.4.3 Thomas e Chess

Thomas e Chess realizaram um importante estudo longitudinal, e ficaram


reconhecidos como importantes teóricos do temperamento. Os autores influenciaram
diversos estudiosos, eles igualavam este construto à ideia de estilo comportamental.
Segundo Thomas, Chess & Korn (1982):
a) o temperamento é um atributo psicológico que interage com outros atributos,
mas é independente dos mesmos;
b) apesar do temperamento interagir com outros atributos é importante que
cada um deles seja identificado separadamente, devendo-se analisar a situação em
que o comportamento ocorre;
c) o temperamento pode ser considerado um atributo mediador entre influência
do ambiente e a estrutura psicológica do indivíduo.

Em 1956, Thomas e Chess iniciaram importante estudo, que teve


continuidade por mais de 30 anos, sendo conhecido na literatura como "New
York Longitudinal Study" (NYLS), o qual envolvia bebês a partir dos dois ou
três meses de vida. Através deste estudo longitudinal distinguiram nove
categorias de temperamento: ritmicidade de funções biológicas; nível de
atividade; aproximação ou afastamento frente a novos estímulos;
adaptabilidade; limite sensorial; qualidade predominante de humor;
intensidade de expressões de humor; distração e persistência. Análises
qualitativas da significância funcional das nove categorias de temperamento,
apoiadas pela análise fatorial, levaram os autores a distinguir três
constelações temperamentais: crianças de temperamento fácil, de
temperamento difícil e de aquecimento lento (ITO & GUZZO, 2002).

Intrínseco a estas constelações temperamentais, os autores inseriram o


conceito de "goodness of fit" (adaptação excelente), em cuja condição as capacidades
individuais, temperamento e outras características individuais estão de acordo com as
oportunidades, demandas e expectativas do ambiente, especialmente de pais,
professores e pares (CHESS E THOMAS, 1991).
Através da conceitualização de Eysenck, Thomas & Chess e Teplov e
Nebyllitsyn muitos pesquisadores se sentiram estimulados a desenvolverem novas
teorias sobre temperamento, bem como modificar aquelas já existentes.

31
Entre estes novos pesquisadores, é possível destacar as contribuições teóricas
de Goldsmith e colaboradores (1987), Buss & Plomin (Buss, 1995), Rothbart (1986a,
1986b), Strelau (1991, 1994, 1995, 1998) e Lerner e Windle (Lerner, Lerner, Windle,
Hooker, Lerner e East, 1986).

Fonte: alquimiaoperativa.com

3.4.4 Goldsmith

Goldsmith e seus colaboradores, conceituaram o temperamento como


"diferenças individuais na probabilidade de experienciar e expressar as emoções
primárias" (Goldsmith e Col., 1987). Para eles o temperamento é "emocional em sua
natureza, pertence às diferenças individuais e se refere mais as tendências de
comportamento que as ocorrências atuais de comportamento emocional" (Goldsmith
e Col., 1987).
As autoras, Ito e Guzzo, acrescentou sobre a teoria de Goldsmith e seus
colaboradores:

Os autores consideram o temperamento como um fator relativamente estável,


que se apresenta independente de outros fatores, e que as dimensões
temperamentais (representadas pelas emoções primárias: raiva, medo,
alegria, prazer, interesse e atividade motora, esta última refletindo
ativabilidade emocional) formam a base emocional do desenvolvimento da
personalidade, a qual é composta por diversos fatores que interagem com as
características temperamentais (ITO & GUZZO, 2002).

32
Nessa perspectiva, também são considerados complementares ao
temperamento os aspectos receptivos, a habilidade de reconhecer e decodificar as
expressões emocionais de outros.

3.4.5 Buss e Plomin

Buss e Plomin definem temperamento como traços de personalidade herdados


que aparecem durante os primeiros dois anos de vida e permanecem como
componentes básicos, sendo compostos por quatro categorias, conforme afirma
(BUSS, 1995):
A. Emotividade;
B. Atividade;
C. Sociabilidade,
D. Impulsividade.

3.4.6 Rothbart

Rothbart (1986a, 1986b) definiu temperamento como "diferenças individuais


biologicamente baseadas na reatividade e auto - regulação", onde a reatividade está
se referindo à intensidade e a aspectos temporais dos comportamentos ligados ao
sistema nervoso central, autônomo e endócrino; e a autorregulação representa os
processos que modulam as reações, incluindo comportamentos como aproximação,
imitação e atenção.
Para a autora é clara a distinção entre temperamento e personalidade,
conforme explana Ito & Guzzo:

O temperamento seria considerado como a base biológica para a


estruturação da personalidade e um dos fatores que influenciam o
comportamento, enquanto a personalidade seria um termo mais amplo que
inclui outras estruturas importantes além dessas, tais como as estruturas
cognitivas, e autoconceito (ITO & GUZZO, 2002).

A autora propõe algumas dimensões que podem sofrer alterações ao longo do


tempo, e são consideradas como elementos de temperamento:
a) reatividade negativa (aversão à aproximação e expressão de sentimentos
negativos);
b) reatividade positiva (aproximação e expressão de sentimentos positivos);
33
c) inibição comportamental para estímulos novos e intensos;
d) capacidade de fixar a atenção.

3.4.7 Windle e Lerner

De acordo com Windle e Lerner (1984 apud LERNER, LERNER, WINDLE,


HOOKER, LERNER E EAST, 1986) os autores consideraram que as características
temperamentais podem influenciar o tipo de interação que será estabelecido entre a
pessoa e seu ambiente. Estes autores (Windle e Lerner, 1984) sugerem em suas
investigações que a avaliação do temperamento pode ser realizada através das
dimensões:
a. Aproximação - retração;
b. Flexibilidade - rigidez,
c. Nível de atividade no sono,
d. Ritmicidade,
e. Humor
f. Persistência.

3.4.8 Strelau

Strelau (1991, 1994, 1998) desenvolveu seus pressupostos teóricos sobre


temperamento embasados nas concepções de funcionamento do sistema nervoso de
Pavlov, bem como pesquisas e teorias desenvolvidas no período de 1950 e 1960 na
Europa Ocidental e nos Estados Unidos, as quais deram origem à Teoria Regulativa
do Temperamento - RTT. O autor considera que:

"o temperamento se refere a traços básicos, relativamente estáveis,


expressos principalmente nas características formais de reações e
comportamento. Estes traços estariam presentes desde o início da vida na
criança. Primariamente determinado por mecanismos de origem biológica, o
temperamento estaria sujeito a mudanças causadas pela maturação e pela
interação indivíduo - genótipo específico - ambiente" (STRELAU, 1998).

Nesta perspectiva, a estrutura do temperamento seria descrita a partir de seis


traços:
I. Ativação;
II. Perseveração;

34
III. Sensibilidade Sensorial;
IV. Reatividade Emocional;
V. Resistência,
VI. Atividade.

Como é possível perceber, os estudos sobre temperamento têm sido


realizados desde há muito tempo, desenvolvidos por estudiosos de diferentes
abordagens e envolvendo os mais diferentes métodos de investigação. Ainda
assim, um consenso sobre sua definição e dimensões parece estar longe de
acontecer (ITO & GUZZO, 2002).

Embora vários estudiosos foram influenciados pela tipologia de Galeno, os


pesquisadores contemporâneos fundamentaram suas teorias em diferentes
abordagens com ênfase em diferentes aspectos.

Fonte: psicologaportoalegre.com.br

Dessa forma, de acordo com a abordagem teórica adotado pelo autor, a


conceituação do temperamento e suas dimensões variam, bem como seus
instrumentos de medida deste fenômeno ou construto.
Na busca de alcançar um consenso sobre a conceituação do temperamento,
Goldsmith e Rieser-Danner (1986) destacaram os principais pontos de divergência e
acordo entre as principais teorias.
35
As contestações teóricas estão relacionadas a:
1) número diferenciado de dimensões do temperamento;
2) diferentes ênfases dadas ao fator biológico;
3) função da motivação no temperamento;
4) definições de temperamento, que em alguns casos dizem respeito ao
aspecto comportamental, mas em outros se referem ao aspecto psicofisiológico;
5) alguns teóricos enfatizam a regulação e o controle de componentes do
comportamento como aspecto do temperamento, enquanto outros se referem a estilos
de comportamento;
6) diferentes concepções relacionadas às influências do contexto e das
relações interpessoais no temperamento;
7) diferentes limites são estabelecidos entre personalidade e temperamento
Os pontos em conformidade entre os diversos teóricos atribuem-se a:
1) temperamento como dimensões gerais de comportamento, as quais
caracterizam diferenças individuais, representando padrões universais de
desenvolvimento;
2) características temperamentais aparecem durante a infância e representam
parte da fundamentação da personalidade posterior;
3) as dimensões temperamentais são relativamente estáveis ao longo do
tempo;
4) os traços temperamentais apresentam substrato biológico;
5) a expressão das características temperamentais podem sofrer influências de
fatores do contexto (Goldsmith e Rieser-Danner, 1986).
Ito & Guzzo (2002) mencionaram que existe ainda um outro aspecto
controverso relacionado ao temperamento, está relacionado a sua diferenciação de
personalidade.
Teiglasi escreveu a esse respeito:

O contraste entre estes conceitos é obscuro, pois eles apresentam um


vocabulário descritivo comum, chegando a ocorrer em alguns casos a
superposição de conceitos, uma outra dificuldade está relacionada a carência
de dados empíricos capazes de diferenciar estes conceitos com base nos
fatores biológicos (TEIGLASI, 1995).

36
Para Strelau (apud HOFSTEE, 1991) há três modos pelos quais temperamento
e personalidade relacionam-se nas diferentes abordagens teóricas:
1) temperamento pode ser considerado um dos elementos da personalidade,
2) pode ser considerado sinônimo de personalidade,
3) um fenômeno não pertencente a personalidade.
O mesmo autor constitui ainda cinco divergências entre temperamento e
personalidade, e dizem respeito à:
1) o temperamento é biologicamente determinado, e a personalidade é um
produto do ambiente social;
2) os traços temperamentais podem ser identificados desde cedo na criança, e
a personalidade é compartilhada em períodos posteriores do desenvolvimento;
3) diferenças individuais nos traços de temperamento, como ansiedade,
extroversão - introversão e busca de estimulação, são também observadas em
animais, enquanto a personalidade é prerrogativa do humano;
4) o temperamento apresenta aspectos estilísticos, se referindo a
características formais de comportamento, já a personalidade contém aspectos
relativos a conteúdos do comportamento;
5) ao contrário de temperamento, que se refere principalmente a traços ou
mecanismos, a personalidade está relacionada ao funcionamento integrativo do
comportamento humano (STRELAU, 1998).
Para Strelau (1991, 1994, 1998) a personalidade consiste em um conceito mais
amplo que temperamento, incluindo o próprio temperamento e outras características
que são comumente determinadas pelo ambiente social, moldadas pelos estágios de
desenvolvimento do indivíduo e envolve ainda fenômenos como motivação, valores e
interesses.
As autoras Ito & Guzzo comentou sobre a discussão que surgiu em torno desse
assunto:

A este respeito, na última década, ganhou destaque a discussão realizada


sobre a relação dos fatores de personalidade do "Big Five", considerado a
taxonomia das características de personalidade, e o temperamento. Vários
fatores relacionados pelo "Big Five" (extroversão, agradabilidade,
conscienciosidade, estabilidade emocional e cultura) são também
relacionados pelos teóricos como dimensões ou traços de temperamento. O
primeiro estágio de pesquisas relacionadas a este aspecto, consiste
principalmente em especulações e hipóteses (ITO & GUZZO, 2002).

37
Os teóricos do desenvolvimento ponderam que as características
temperamentais infantis podem ser precursoras dos fatores do "Big Five" encontrados
em adolescentes e adultos, porém há a necessidade de maiores estudos para
comprovação deste fato (STRELAU, 1998; STRELAU & ANGLEITNER, 1991).
O temperamento tem atraído interesse e é disso que Ito & Guzzo expuseram:

Tópicos relacionados ao temperamento têm recebido especial atenção no


meio científico internacional. Um aspecto importante a ser considerado no
estudo deste construto é o de que seja adotada uma abordagem teórica
consistente e que fundamente instrumentos com reconhecidas qualidades
psicométricas, para que estes possam ser utilizados na avaliação de
indivíduos (ITO & GUZZO).

Fonte: ibccoaching.com.br

Esse cuidado na busca de uma abordagem teórica e reconhecimento de


qualidade psicométricas, bem como esse aumento de interesse está relacionado ao
fato de que o temperamento influencia o desenvolvimento psicológico, ele é o
resultado de interações entre temperamento, outras características do indivíduo e o
ambiente social.

38
4 REFERÊNCIAS

AIKEN, L.R. Psychological testing and assessment. (7th ed). Massachusetts: Allyn
and Bacon. 1991

BAPTISTA, N. J. M. Teorias da Personalidade. Trabalho realizado no âmbito do 3º


ano da licenciatura em Aconselhamento Psicossocial no ISMAI (Portugal). 2008

Bernaud, J. Métodos de avaliação da personalidade. Lisboa: Climepsi. 1998

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: Uma Introdução


ao Estudo de Psicologia: Saraiva, 2001

BOEREE, C.G. Hans Eysenck and other temperament theorists. [S.l] 1998a

BOEREE, C.G. Personality theories: Alfred Adler. [S.l] 1998b

BUSS, A.H. Personality - temperament, social behavior, and the self.


Massachusets: Allyn and Bacon. 1995

CHESS, S., & THOMAS, A. Temperament and the concept of goodness of fit. In J.
Strelau, & A. Angleitner (Eds), Explorations in Temperament (pp. 15-28). New York:
Plenum Press. 1991

GOLDSMITH, H.H., & RIESER-DANNER, L.A. Variation among temperament


theories and validation studies of temperament assessment. In G.A. Kohnstamm
(Ed.), Temperament discussed - temperament and development in infancy and
childhood, (pp. 1-10). Lisse: Swets & Zeitlinger. 1986

GOLDSMITH, H.H., BUSS, A.H., PLOMIN, R., ROTHBART, M.K., CHESS, S.


THOMAS, A., HINDE, R.A., & MCCALL, R.B. Rountdtable: What is temperament?
Four approaches. Child Development, 58. 1987

HANSENNE, M. Psicologia da Personalidade. Lisboa: Climepsi. 2003

HOFSTEE, W.K.B. The conceptsof personality and temperament. In J. Strelau, &


A. Angleitner (Eds), Explorations in temperament - international perspective on theory
and measurement. New York: Plenum Press. 1991

39
ITO, P. do C. & GUZZO, R. S. L. Diferenças individuais: temperamento e
personalidade; importância da teoria. Estud. psicol. (Campinas) vol.19 no.1
Campinas. 2002

LERNER, R.M., LERNER, J.V., WINDLE, M., HOOKER, K., LERNER, K. & EAST, P.L.
Children and adolescents in their contexts: tests of a goodness of fit model. In
R. PLOMIN, & J. DUNN (Eds), The study of temperament: changes, continuities and
challenges. Erlbaum: Hillsdale. 1986

ROTHBART, M.K. A psychobiological approach to the study of temperament. In


G.A. Kohnstamm (Ed.), Temperament discussed - temperament and development in
infancy and childhood (pp. 63-72). Lisse: Swets & Zeitlinger. 1986a

ROTHBART, M.K. Longitudinal observation of infant temperament. Development


Psychology, 22 (3). 1986 b

STRELAU, J. & ANGLEITNER, A. Temperament research: some divergences and


similarities. In J. Strelau, & A. Angleitner (Eds), Explorations in temperament -
international perspective on theory and measurement (pp. 1-12). New York: Plenum.
1991

STRELAU, J. Temperament and Giftedness in Children and Adolescents.


Conferência apresentada na "Ninth world conference on gifted and talented children"
- Hage Netherlands. 1991

STRELAU, J. The concepts of arousal and arousability as used in temperament


Studies. In J.E. Bates, & T.D. Wachs, (Eds.), Temperament individual differences at
the interface of biology and behavior (pp. 117-141). Washington: American
Psychological Association. 1994

STRELAU, J. The regulative theory of temperament: current status. Paper


presented at the 7th Meeting of International Society for the Study of Individual
Differences, Warsaw, Poland. 1995

STRELAU, J. The contribution of Pavlov's typology of CNS properties to


personality research. European Psychologist, 2 (2).1997

40
STRELAU, J. Temperament: A Psychological Perspective. New York: Plenum.
1998

STRELAU, J., ANGLEITNER, A., & NEWBERRY, B.H. The Pavlovian Temperament
Survey (PTS): An International Handbook. Seattle: Hogrefe & Huber Publishers.
1999

TEIGLASI, H. Assessment of temperament. Eric Digest. 1995

THOMAS, A., CHESS, S., E KORN, S.J. The reality of diffcult temperament. Merril
Palmer Quartely, 28 (1). 1982

WINDLE, M. & LERNER, R.M. The role of temperament in dating relationships


among young adults. Merril - Palmer Quarterly, 30 (2). 1984

41

Você também pode gostar