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AS SETE MÁSCARAS

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Copyright © Rose Daise Nascimento, 2021
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diagramação
Resumo Editorial

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À Aruana,
o amor da minha vida.

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APRESENTAÇÃO

“AS SETE MÁSCARAS” é um trabalho que tem


por objetivo abordar de forma profunda o processo
de formação e desenvolvimento de sete perfis de
personalidade, suas características, mecanismos
de defesa predominantes, conflitos emocionais
típicos e padrões de relacionamento. Trata-se da
descrição e compreensão dos seguintes perfis de
caráter: esquizoide, paranoide, narcisista, borderline,
histérico, obsessivo e masoquista, sob o enfoque da
teoria psicanalítica, das referências teóricas sobre
desenvolvimento da personalidade e dos manuais
de classificação em saúde mental.

Com base na experiência de mais de dez anos de


pesquisa e atendimento clínico na área de saúde
mental e desenvolvimento infantil, além da expe-
riência de docência em curso de graduação em
psicologia, organizei o presente material exclusivo
como apoio às aulas online, o qual contém uma
síntese didática dos principais pontos abordados.

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AS SETE MÁSCARAS

Como psicóloga, pesquisadora e professora, meu


estilo sempre foi associar a teoria à prática. Para
isso, procuro utilizar linguagem acessível, traduzindo
teorias complexas, articulando vários saberes que se
complementam e favorecendo uma compreensão
integral de um determinado fenômeno, no caso do
presente curso, os perfis de personalidade.

Sendo assim, minha proposta é capacitá-los a


identificar seu próprio perfil psicodinâmico de
personalidade predominante, bem como obter
informações e conhecimento necessário à com-
preensão de outras dinâmicas que são expressas
pelas pessoas que os cercam em suas relações
cotidianas.

Compreender a si e aos outros é um passo pro-


fundo em direção ao autoconhecimento, bem
como possibilita a harmonização dos nossos rela-
cionamentos.

Por Rose Daise Nascimento

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SUMÁRIO

Para ler um capítulo específico, clique no título para acessar.

QUAL A RELEVÂNCIA DE SE ESTUDAR PERFIS DE


PERSONALIDADE? 7

CAPÍTULO 1 | CONCEITOS BÁSICOS  9

CAPÍTULO 2 | PERSONALIDADE ESQUIZOIDE 38

CAPÍTULO 3 | PERSONALIDADE PARANOIDE 51

CAPÍTULO 4 | PERSONALIDADE NARCISISTA 63

CAPÍTULO 5 | PERSONALIDADE BORDERLINE 83

CAPÍTULO 6 | PERSONALIDADE HISTÉRICA 100

CAPÍTULO 7 | PERSONALIDADE OBSESSIVA 124

CAPÍTULO 8 | PERSONALIDADE MASOQUISTA 138

CONSIDERAÇÕES FINAIS158

REFERÊNCIAS162

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QUAL A RELEVÂNCIA DE
SE ESTUDAR PERFIS DE
PERSONALIDADE?

A formação da personalidade depende de com-


ponentes biológicos, psicológicos e sociais. Sob o
ponto de vista psicológico, seguimos um roteiro de
desenvolvimento das emoções, da experimenta-
ção e defesa contra angústias que moldam nossas
“máscaras”, ou seja, que fortalecem e tornam rígidos
certos traços de personalidade que vão originar os
perfis psicodinâmicos. Sendo assim, ao conhecer
dados desses roteiros, podemos ter informações
sobre a dinâmica da personalidade de um indi-
víduo e isso sugere fortes indicadores de sua vida
emocional, da maneira como vê o mundo e como
tende a estabelecer padrões de relações.

Assim, conhecer a personalidade ajuda no processo


de autoconhecimento e contribui para a inteligência
emocional, que permite maior consciência e domínio

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sobre suas emoções e utilização de defesas adapta-


tivas que tornam as relações mais harmônicas.

Nesse processo é importante rever fases deter-


minantes no desenvolvimento das emoções, bem
como traumas e condições que favorecem padrões
de repetição inconscientes que se reproduzem
automaticamente nos relacionamentos.

A maioria das pessoas se encontra perdida e


imersa em uma cegueira, seguindo padrões que
jamais vão se encaixar na sua maneira pessoal de
ver e encarar a vida. Cada um de nós carrega uma
máscara que sintoniza (ou entra em conflito) com
outras máscaras.

Nesse contexto, entender como você se formou,


quais são seus medos, como é sua maneira de ver
e lidar com a realidade, como você ama, como
odeia, como reprime ou se defende de angústias,
tudo isso é fundamental para a saúde mental e
harmonia de suas relações.

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CAPÍTULO 1
CONCEITOS BÁSICOS

O QUE É PERSONALIDADE?
Personalidade é o conjunto de características psi-
cológicas que determinam os padrões de pensar,
sentir, agir, expressar e regular emoções, estabe-
lecer os padrões de relações e os valores morais
de alguém, ou seja, sua individualidade pessoal e
social (Hall, Lindzey & Campbell, 2000).

A formação da personalidade é um processo


gradual, complexo e único para cada indivíduo. De-
senvolvemos uma estrutura de personalidade, cuja
base se fortalece na primeira infância, com traços
específicos, sendo que esses traços são passíveis de
mudanças e adaptações, conforme as experiências
vividas, como a busca de transformação através de
tratamento psicológico (McWilliams, 2014).

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Ninguém muda voluntariamente a estrutura da


personalidade, pois é a identidade do indivíduo,
inclusive isso acontece somente nos casos pato-
lógicos de transtornos dissociativos de identidade
(múltiplas personalidades), algo raro e que sabe-
mos que, mudando a estrutura, temos pessoas
totalmente diferentes dividindo o mesmo corpo
e, dependendo da personalidade que assume o
ego do indivíduo, até a maneira de adoecer muda.

A PARTIR DE QUE MOMENTO A


PERSONALIDADE SE DESENVOLVE?
No exercício da clínica de psicologia, quando
queremos investigar sobre as origens da persona-
lidade de um indivíduo, é feito um levantamento
da história anterior ao nascimento dessa pessoa,
através da análise da dinâmica familiar, dos pais
do indivíduo, das circunstâncias em que se deu a
gravidez e do que chamamos de fatores transge-
racionais (Fraiberg, 1975).

Essas informações são necessárias porque o am-


biente determina ou reforça traços de comporta-
mento. Imagine a história de gêmeos adotados,
sendo que um vai morar com um casal budista
no Japão e o outro numa família de traficantes
na Colômbia. Esses ambientes divergentes certa-
mente demandam um tipo de conduta adaptati-

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va específica, e possivelmente apresentam níveis


de estresse, modelos de relações, cultura, valores
e rotinas diferenciadas que moldam padrões de
reação e autorregulação emocional que somarão à
constituição do perfil de caráter de cada um deles.

Em saúde mental e desenvolvimento da perso-


nalidade, o fator biológico e genético é um aspecto
bastante relevante que, aliado ao ambiente, fatores
psicológicos e relacionais, contribuem de forma
significativa para a definição da estrutura de per-
sonalidade do indivíduo.

É nesse contexto que os fatores transgeracionais,


ou seja, as heranças de roteiros de vida, repetição
de traumas que passam de geração em geração,
são fundamentais. Eles entram na parcela dos
fatores psicológicos que somam à formação da
personalidade.

Vejamos como isso se dá na prática com o seguinte


caso fictício:

Ísis, uma adolescente de 15 anos engravidou


de um ‘ficante’. Revendo sua história, consta-
ta-se que a mãe de Ísis também engravidou
na adolescência e, sem condições de criá-la,
entregou-a para uma adoção clandestina.
Ísis foi abandonada pela mãe. Imagine que
agora Ísis está grávida de uma menina e a
história tende a se repetir. Essa reencenação

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da história da mãe gera uma tensão interna,


inconsciente, acompanhada de ansiedade,
angústia que predispõe a jovem a repetir a
sua própria história através da filha. Ísis, es-
tando grávida, sem apoio do pai da criança,
pensa diariamente em entregar a filha à
adoção. A propósito, a adolescente se entre-
gou ao rapaz num impulso de amor e euforia
porque sofre de carência afetiva crônica, uma
vez que o abandono que sofreu na infância
favoreceu esse traço de personalidade. Sendo
assim, com base nessa “herança transgera-
cional”, qual vocês acham que será o futuro
da filha de Ísis? Em termos de probabilidade,
ela tem grandes chances de repetir a história
da sua mãe de abandono e carência afetiva.

Com base nessa ilustração, muito antes de você


nascer, seu caminho e sua personalidade já estão
parcialmente traçados pelas heranças e traumas
da sua família. Por esse motivo, para você entender
a dinâmica de personalidade de alguém, é funda-
mental a exploração e conhecimento dessa história
anterior ao nascimento.

Essa pesquisa é fundamental também para se


ter uma previsão de como uma pessoa provavel-
mente vai se comportar diante da paternidade
ou maternidade. Esses padrões de repetição são
inconscientes e potentes.

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TRAÇOS DE PERSONALIDADE SÃO


HERDADOS?
O temperamento é considerado o componente
biológico da personalidade. Trata-se de um conjun-
to típico de reações emocionais e capacidade de
autorregulação que é geneticamente determinado.

Traços temperamentais podem ser identificados


desde cedo na criança, através de características
individuais como nível de ansiedade, extroversão,
introversão e busca de estimulação, capacidade
para se acalmar diante do estresse, tolerância aos
estímulos do ambiente, entre outras reações. Bebês
recém-nascidos na maternidade diante do baru-
lho, ou olham em busca do ruído ou buscam um
local longe do som desagradável, sendo que esse
fato ilustra diferenças individuais geneticamente
determinadas que podem influenciar nas intera-
ções iniciais.

Historicamente havia a crença de uma passividade


inata em bebês, como se eles nascessem tal qual
uma “página em branco” e as primeiras interações
estimulassem seu comportamento “do zero”, po-
rém pesquisas em desenvolvimento infantil sobre
temperamento revelam o potencial herdado das
crianças para atrair ou para se isolar do contato. Em
casos extremos, por exemplo, na interação com uma
mãe deprimida e apática, se o bebê possui uma
conduta mais ativa, se chora e busca o contato, isso

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favorece as trocas necessárias nessa fase. Por sua


vez, no caso de um bebê introspectivo, que pouco
busca contato, juntamente com a falta de estímu-
los decorrente da depressão materna, haverá uma
tendência a reforçar maior introversão na criança.
Dessa forma, observamos a relevância do tempe-
ramento na formação de traços de personalidade.

QUAIS SÃO AS FASES DO


DESENVOLVIMENTO DA
PERSONALIDADE?
Sob o ponto de vista psicológico, a personalidade
passa por estágios de amadurecimento ao longo da
vida, sendo que esse processo é muito mais dinâmi-
co, intenso e determinante ao longo dos primeiros
anos da infância (McWilliams, 2014; Hall, Lindzey &
Campbell, 2000). Esses estágios serão abordados a
seguir, a partir do enfoque das teorias psicanalíticas
sobre o desenvolvimento infantil primitivo.

A transgeracionalidade e período gestacional são


situações fundamentais que estruturam um campo
de interações e ambiente de cuidados em que a
criança estabelecerá suas relações, que servirão de
base para sustentar as emoções e primeiros traços
de personalidade do indivíduo (Fraiberg, 1975).

Ao nascer a criança é retirada de um estado físico

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intrauterino que transmite segurança e é lançada a


uma realidade totalmente diferente, carregada de
situações que, para um bebê imaturo, são vividas
como uma verdadeira AMEAÇA à sua vida.

O mundo é sentido como ameaçador, marcado


por estímulos desagradáveis: luz, frio, medo de cair
devido à sensação de gravidade, sensação de “estar
solto”, de não estar integrado como quando o ventre
materno dava essa sustentação. Além disso, pela
primeira vez o bebê sente medo decorrente da dor
de fome e desconforto físico. A cada exposição a
essas ameaças, o bebê sente pânico, pavor e deses-
pero, cuja reação é chorar e berrar copiosamente.

Esse estágio inicial do desenvolvimento psíquico


foi classificado pela psicanalista Melanie Klein (1952)
como POSIÇÃO ESQUIZOPARANOIDE, o qual se
estende até o quarto mês de vida do bebê.

Nesse período a criança pequena não tem cons-


ciência de que ela e o ambiente são separados,
por isso dizemos que ela possui um “EU NÃO-IN-
TEGRADO”, ela nem ao menos sabe onde começa
e termina os limites de seu próprio corpo, nem
possui consciência sobre espaço e tempo. O que
uma criança busca nesse momento é ter de volta
a paz e segurança que outrora vivera na barriga
de sua mãe, por isso quando a mãe se aproxima e
traz consigo referências da vida intrauterina como
sua voz, batimento cardíaco, essa paz novamen-

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te é sentida. Aos poucos a criança associa essas


referências ao rosto materno, seu seio, alimento,
colo e, assim, mãe e filho se unem numa fase que
Margareth Mahler (1975) chama de SIMBIOSE, que
consiste em estar “grudado” como se a sensação de
unidade vivida na barriga se estendesse também
ao ambiente externo.

Nessa fase tudo é sentido no corpo, pois se o bebê


sente privação, dor e sofrimento, ele acredita que
está sendo atacado, morrendo, se despedaçando
e isso ativa um potencial agressivo gigantesco no
intuito de se proteger dessas ameaças, conheci-
das como ANGÚSTIA DE ANIQUILAMENTO. Se ele
é acalentado e alimentado, ele experimenta os
sentimentos positivos mais intensos, mágicos que
trazem de volta a sensação de “voltar à vida”, daí
vem nossas primeiras referências sobre o amor e
sentimentos positivos e sobre agressão e sentimen-
tos hostis (Klein, 1952).

E assim, o mundo é dividido entre bom e amado


- quando gratifica; e se torna mau e odiado - quan-
do ameaça. Todas as emoções são muito intensas.
O bebê não consegue integrar as partes, ou seja,
reconhecer que a mãe boa e amada que cuida é a
mesma pessoa que fica distante e que o deixa solto
às ameaças. Então, na mente primitiva do bebê ele
ao mesmo tempo ama e quer destruir seu objeto
de amor - a mãe, como se ela fosse duas pessoas
diferentes em momentos diferentes (Klein, 1952).

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O contato permanente com a mãe favorece aos


poucos a INTEGRAÇÃO DO EU, ou seja, o amadu-
recimento da consciência de que o bebê é uma
pessoa e que as pessoas externas são outras, das
quais ele depende. Imagine se nessa fase a criança
por algum motivo perde esse contato? Lógico que
ela vai sentir o mundo como extremamente mau
e ameaçador e terá a tendência a se isolar no seu
mundo interno. Aqui estão as bases para o fun-
cionamento psicótico, especialmente os perfis e
dinâmicas paranoides e esquizoides (Klein, 1952).

Nessa fase inicial do desenvolvimento emocional, o


psicanalista inglês Donald Winnicott (1945) destaca
que o corpo da mãe é o ambiente do bebê, sendo
que o filho é impactado por tudo o que ela sente.
Winnicott (1945) classifica esse período como um
estado de DEPENDÊNCIA ABSOLUTA, em que o papel
do cuidador é crucial para as bases da sensação de
segurança e boa autoestima que acompanharão o
indivíduo pelo resto da sua vida.

Na classificação freudiana do desenvolvimento, essa


fase inicial é nomeada como FASE ORAL, em que,
diante do estado de imaturidade, a criança possui
poucos recursos para se expressar, centrando na
oralidade as sensações de prazer e alívio de angús-
tias (Freud, 1905). Sendo assim, na mente infantil,
se ela ama alguém, quer “engolir” o objeto de seu
amor; se ela odeia, quer “devorar, mastigar” o objeto
de seu ódio. As defesas nessa fase se dão pela orali-

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dade, pela INCORPORAÇÃO e favorece um registro


das experiências positivas e negativas associadas a
condutas orais e relacionadas à alimentação.

Nesse contexto de desenvolvimento emocional, as


crianças, que passam por muito estresse e ameaças
excessivas, podem usar exageradamente as con-
dutas orais para se acalmar e isso se torna uma
defesa somática eficaz que pode ser reproduzida
ao longo da vida. Por isso algumas pessoas que
passam por traumas na fase oral desenvolvem pro-
blemas como transtornos alimentares, compulsão
alimentar, dependência emocional, dependência
química, tabagismo, gastrite nervosa, refluxo, entre
outras somatizações que envolvem a oralidade e a
alimentação, que chamamos de FIXAÇÃO NA FASE
ORAL (McWilliams, 2014).

Nesse período inicial, em que a criança não perce-


be com clareza a existência de um mundo separado
de si mesma, vivemos naturalmente uma fase de
NARCISISMO normal, que funciona com base nessa
sensação de ser o centro do mundo e de realmente
não conseguir enxergar os outros como separado
de si mesmo. Nessa visão tipicamente narcisista,
tudo gira em torno do EU. Se a criança sente fome,
ela acredita que o seu desejo trouxe magicamente
a comida e não sua mãe. Isso gera um senso de
poder e onipotência, bem como anula o papel e
relevância do outro. Essa visão de mundo é normal
nesse contexto imaturo de desenvolvimento dos

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bebês, porém aí também está a base da dinâmica


das patologias narcisistas e antissociais, as quais
anulam a percepção do outro. Podemos inferir que
os narcisistas apresentam fixação parcial nesse
estágio ou foram muito influenciados por essa di-
nâmica. Por isso, todos temos e devemos ter traços
narcisistas, mas algumas pessoas terão esses traços
de forma mais acentuada, atingindo um nível pa-
tológico (McWilliams, 2014; Gabbard, 2016).

A partir do sexto mês de vida, o bebê passa por


significativas mudanças psíquicas, associadas a
mudanças na rotina, alimentação, desenvolvimento
motor e cognitivo. Acontece a introdução de outros
alimentos na dieta, paralelamente muitas mães
retomam a rotina de trabalho, pois finda a licença
à maternidade. A criança também começa a ter
interesse por atirar objetos e sentir prazer quando
alguém os traz de volta, esse singelo movimento
lúdico, assim como a euforia contida na brinca-
deira de “esconde-achou”, indicam que a criança
está percebendo que as coisas vêm e vão, que há
separação entre ela e o resto do mundo. Muitas
crianças acabam tendo reações de luto normal ao
desmame ou à introdução de alimentação pastosa.
Todas essas mudanças despertam aos poucos um
pavor chamado de ANGÚSTIA DE SEPARAÇÃO.

Se antes a criança vivia protegida pelo narcisismo


que lhe conferia certo poder mágico de “conseguir
tudo sozinha”, agora ela sente que não tem poder

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algum, que é dependente e frágil. Neste momento,


o poder é delegado ao outro, ao cuidador, principal-
mente à figura materna. Essa fase é o que considero
“ponte para o amor”, pois a partir desse novo nível
de consciência e percepção da realidade, que rompe
o egoísmo e narcisismo normal, a criança percebe
que precisa cultivar e desejar o bem dessa pessoa
que cuida, e percebe também que não pode ficar
solta aos seus impulsos destrutivos, pois num gesto
de raiva impulsiva, é capaz de destruir quem ela
ama e, no fim, destruir a si mesma.

Nessa transição, Klein (1952) considera que a


criança passa ao processo de INTEGRAÇÃO, ou
seja, juntar as partes boas e ruins de um objeto
(pessoa) e essa consciência desperta o sentimento
de CULPA, pois “cai a ficha” de que outrora, você
não sabia, mas queria destruir a quem amava, por
desconhecimento, pela incapacidade de entender
que a mesma pessoa que frustra, também é a pes-
soa que cuida.

Daí surge também a aceitação de que TODAS


AS NOSSAS RELAÇÕES SÃO AMBIVALENTES e por
mais que nossa mãe seja boa e cuidadosa, haverá
momentos em que ela pode estar ausente e isso
gera frustração. Temos que aprender a amar e a
aceitar que o outro nos provoca também senti-
mentos hostis (raiva, ciúmes, inveja) e que é sinal
de maturidade conseguir administrar todas essas
emoções nas nossas relações.

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A essa nova fase, Klein (1952) chamou de POSI-


ÇÃO DEPRESSIVA, justamente pelo despertar do
sentimento de culpa, que é uma emoção essencial
para frear nossos impulsos destrutivos e valorizar
e ter empatia pelo outro. Assim, quando apren-
demos a amar, também aprendemos a conviver
com a culpa pelos momentos que desejamos mal
àqueles que amamos. Os indivíduos com transtor-
nos de personalidade como o TP Antissocial e o
Narcisista Patológico, infelizmente não cruzaram
essa ponte para o amor, não despertaram para o
sentimento de culpa que preserva os vínculos e
contém impulsos agressivos.

É importante salientar que é o amor de uma mãe


suficientemente boa, que cuida e se dedica, que
ajuda a criança a sair do narcisismo, pois se nos é
dado algo bom, vamos naturalmente proteger e
zelar por isso. Por essa razão, na história de vida de
indivíduos que não sabem amar, observa-se rela-
tos de maus tratos nessa fase, cuidados precários,
muitas vezes marcado por violência, negligência
ou abandono.

A fase de angústia de separação acompanha a


criança até em média dois a três anos de idade. Para-
lela e gradualmente a criança abandona a condição
de dependência extrema e passividade e consegue
andar, falar algumas palavras e essa sensação de
independência, mesmo que seja limitada, desperta
um estado de rebeldia, confrontação e lutas com os

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pais. Teóricos do desenvolvimento infantil chamam


esse período de “Terríveis dois anos” ou “Adolescência
do bebê” (Brazelton, 1994). Nessa fase, juntamente
com todas essas mudanças, a criança amadurece a
capacidade de controle dos esfíncteres, em termos
somáticos, não estará mais restrita à expressão de
prazeres e angústias somente pela via da oralidade.
Assim, toda essa rebeldia e sensação de poder, sen-
tida com a independência gradual, fica associada
às memórias somáticas dos esfíncteres e dinâmicas
dessa fase que Freud (1905) chamou de FASE ANAL.

Como a criança é imatura e parcialmente depen-


dente na Fase Anal, ela apresenta frágil controle
de impulsos agressivos. Sendo assim, quando é
frustrada se descontrola de tanta raiva, morde,
bate, se joga no chão, quer tudo na hora e do seu
jeito, não tolera esperar, tem um verdadeiro ataque
de birra que é incontrolável e super potente. Por
outro lado, após esses ataques de raiva surge o
choro, a culpa e necessidade de colo, pois ainda
é um bebê que precisa de cuidados. Essa insta-
bilidade entre querer ser independente e depen-
der, querer destruir e depois voltar correndo com
medo de ser abandonado é a base da dinâmica
borderline. Assim, toda vez que houver conflito
entre dependência e desejo de independência,
vontade de ir embora e necessidade de ficar, a
nossa mente vai ser tomada por impulsividade e
instabilidade emocional.

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Nessa fase, como a criança ainda é muito so-


matizadora, normalmente suas angústias serão
deslocadas para reações corporais. Assim, a raiva
é lançada ao corpo e o local privilegiado para as
somatizações desse período é o intestino e os es-
fíncteres. Emoções ternas como o amor e cuidado
também podem ficar simbolizados por esse com-
plexo somático dos esfíncteres e excrementos.

Na Fase Anal a criança não sente nojo do cocô, ao


contrário, se sente poderosa, pois não é mais “inútil
e passiva” como na fase oral, porque agora percebe
que seu corpo produz algo que é sentido como
“mágico” e poderoso, como se fosse uma extensão
sua. Ora, se você produz algo valioso, você não vai
entregar isso para qualquer pessoa ou em qualquer
lugar, muito menos vai querer que isso se afaste de
você. Esse apego às fezes justifica muitas fobias de
crianças ao vaso sanitário, pois “se a descarga leva
essa parte preciosa de mim, pode me levar tam-
bém!”. Assim, como o ambiente familiar passa a ser
tomado por condutas e regras de higiene, limpeza,
ordem, esses valores ficam fortemente registrados
na mente e no corpo do indivíduo.

A Fase Anal é crucial para a perpetuação de uma


dinâmica obsessiva de necessidade de controle (“tudo
deve estar limpo e organizado”). O cuidado que os
pais dispensam e como conduzem essa situação
em casa é fundamental também para a criativida-
de, inteligência e autoestima da criança, pois o que

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ele produz, o que sai de dentro da criança, deve ser


valorizado, caso contrário ela associa sua “produção”
a algo negativo, sujo, digno de crítica e desprezo.
Ou pior, imagine que toda vez que a criança quer
fazer cocô, ouve a indignação ou reação de nojo dos
pais, ou a mãe bate, pune e se descontrola, a criança
pode associar que o que ela faz causa sofrimento
aos outros. O perfeccionismo típico do obsessivo, do
TOC, tem como base essas referências emocionais.

Nesse contexto, muitas crianças quando se sen-


tem inseguras, acabam tendo reações somáticas de
prisão de ventre (“não posso soltar o meu tesouro
aqui, pois vou ser atacado ou não vai ser valoriza-
do!”). Há relatos de adultos que quando viajam não
conseguem fazer cocô, pois só se sentem seguros
no banheiro de casa. Assim, na Fase Anal usamos
a RETENÇÃO: “Guardo minha intimidade pra mim,
pra minha casa, se soltar ou vai fazer mal às pessoas,
ou vão me punir por isso”. Essa é uma das razões
porque os obsessivos costumam apresentar difi-
culdades para expressar sentimentos, são racionais
demais, retém afeto. Essa dinâmica explica também
a associação entre afeto e dinheiro, pois pessoas
obsessivas costumam ser acumuladoras (retentivas)
e avarentas, pois o dinheiro é um resultado do seu
trabalho, do que produz e, assim como as emoções,
é também retido. O descontrole emocional, a ex-
pressão espontânea de afeto pode ser associada a
descontrole dos esfíncteres e pode gerar angústia.

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Freud (1905) afirmava que, como nessa fase há


imaturidade nos impulsos agressivos, a criança não
possui um bom controle de sua maldade e é enfático
ao dizer que todo sadismo tem como base as fases
oral e anal. Inclusive observamos esses ecos do sa-
dismo em aspectos culturais, pois se usa expressões
com referência a elementos anais quando se preten-
de ofender alguém: “Você só faz merda!”, “Fiz uma
cagada!”, “Vai tomar no c*!”, “Caguei pra você!”, entre
outros tantos exemplos. Por que quando queremos
agredir usamos palavras e referências a fezes, ânus,
genitália? Porque aprendemos a expressar nossas
maiores expressões de raiva por essas vias corporais
nos períodos imaturos do desenvolvimento e isso
fica registrado no nosso imaginário.

Na sexualidade existem patologias em que as


pessoas se excitam somente na presença de fezes
ou xixi, comem, não sentem nojo, como se regre-
dissem à dinâmica da fase anal. Muitas pessoas não
se importam se durante o sexo anal ficarem sujos
de fezes ou urina, pois valorizam isso como algo
íntimo do outro, sem a conotação de nojo. Esses
exemplos servem para que tomemos consciência
de que as fases precoces do desenvolvimento são
fundamentais para a personalidade e para a ma-
turação de áreas corporais associadas a prazer que
irão compor a sexualidade na vida adulta.

Por volta de 04 anos, com o crescimento e ama-


durecimento das crianças, elas transitam para uma

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nova fase, a qual Freud (1905) chamou de FASE


FÁLICA, que coincide com o despertar das crian-
ças para a genitalidade. Elas ficam naturalmente
curiosas e voltadas para seus genitais, se exibem,
sentem prazer nessa região e surge uma breve ten-
dência à masturbação infantil que é normal devido
à descoberta dessa nova zona de prazer corporal. É
comum os meninos perguntarem para suas mães:
“Mãe, onde está seu pintinho?”. Isso acontece porque
nem os meninos nem as meninas têm consciência
de que são diferentes, eles não têm consciência de
diferença de gênero e de sexo.

Por essa razão, surge o que Freud (1905) chama de


ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO, que é um medo infantil
que os meninos sentem ao descobrir que existem
pessoas “sem pinto”. Ora, “se existem pessoas sem
pênis, preciso me cuidar senão o meu vai ser corta-
do!”. Não é incomum nessa fase os meninos também
perguntarem: “Mãe, quem cortou seu pintinho?”. Isso
parece engraçado, mas pra criança é um pavor e, como
os adultos não entendem essa maneira das crianças
encararem o mundo, elas tendem a fazer sozinhas
associações do tipo: “se eu não for um bom menino,
vou ser punido (castrado)!”. As meninas, por sua vez,
sentem o que Freud (1905) chama de falta, sensação
de “inveja”, por serem privadas de um falo e buscam
meios de compensar essa falta.

Paralelamente, se dá o que Freud chama de Com-


plexo de Édipo, que é quando as crianças, movidas

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por impulsos eróticos típicos dessa fase e pouca ma-


turidade e incapacidade de discernir o que é certo do
que é errado, não possuem freios para seus desejos
eróticos. Tendem a viver suas primeiras paixões com
as pessoas mais encantadoras e próximas em seu dia
a dia, geralmente o pai ou a mãe. Num determinado
momento, ao perceber que isso é proibido, errado,
ou impossível, sentem-se culpadas e com medo de
punição. As crianças necessitam se sentir amadas e
acolhidas nessa fase, mas com equilíbrio, pois sedução
demais por parte dos pais alimenta a paixão e poten-
cializa verdadeiras culpas que ecoam na sexualidade
adulta. A histeria tem suas bases nessa dinâmica.

Essa explosão de impulsos eróticos cessa por volta


dos sete anos, quando novamente muitas mudan-
ças acontecem, uma delas é um amadurecimento
cerebral, maior controle dos impulsos agressivos e
eróticos, maior interesse pela socialização fora de
casa, no ambiente escolar e melhor capacidade de
racionalizar e sublimar os afetos. Esse período foi
classificado por Freud (1905) como LATÊNCIA, que
seria um período de natural repressão e controle
das emoções e da sexualidade que viriam à tona
mais adiante, com as mudanças da puberdade, na
Fase que ele chamou de FASE GENITAL, momento
em que o corpo, enfim, estaria pronto para a sexua-
lidade propriamente dita, para o ato sexual maduro.

Todas essas fases moldam nossas emoções, rela-


ções, defesas, sexualidade e tudo isso junto forma
quem somos: nossa personalidade!
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Agora é possível entender porque não consegui-


mos mudanças rápidas quando se trata de proble-
mas nas relações e na personalidade, pois é um
trabalho delicado e demorado, uma construção
que vai se solidificando ao longo da vida.

O QUE SÃO MECANISMOS DE


DEFESA?
Para compreender sobre mecanismos de defe-
sa é necessário previamente entender que existe
uma estrutura dinâmica da nossa mente em que
três instâncias interagem e filtram nossas reações,
emoções, memórias, impulsos, desejos, etc. Na
psicanálise, essas estruturas são chamadas de ID,
EGO e SUPEREGO (Hall, Lindzey & Campbell, 2000).

Id - é o sistema primário da personalidade, é a


base da qual se originam o ego e o superego. Quan-
do nascemos somos muito impulsivos, instintivos,
imediatistas, totalmente dominados pelos impulsos
do Id, sem um filtro para nossos desejos, a não ser
os limites impostos pelo próprio corpo imaturo de
um bebê, que pode estar voraz de fome, mas que
não tem autonomia para buscar ou preparar sua
própria comida. O id é movido pelo princípio do
prazer e sua força busca a todo custo alívio das ten-
sões. Esse sistema opera no inconsciente e ignora
totalmente a realidade (Hall, Lindzey & Campbell,
2000). Alguns perfis de personalidade são muito

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impulsivos e imaturos, sendo que são bastante


mobilizados pelo Id.

Ego - o ego passa a existir porque as necessidades


do organismo requerem transações apropriadas com
o mundo objetivo da realidade. A pessoa faminta
tem de buscar, encontrar e comer o alimento para
que a tensão da fome seja eliminada. Isso exige
planejamento e organização, um trabalho da cons-
ciência que faz uma diferenciação entre o que é uma
imagem mnemônica da comida e a comida real e
palpável, ou seja, diferencia fantasia de realidade. O
ego é uma ponte para a realidade, o filtro para os
impulsos do ID. Ele organiza nossos instintos, desejos
e “deixa passar” as coisas permitidas de forma mais
racional e compreensiva, pois obedece o princípio da
realidade e, para desempenhar seu papel de forma
eficiente, o ego precisa ter controle sobre todas as
funções cognitivas e intelectuais. Seu principal papel
é ser mediador entre as exigências instintuais do
organismo e as condições do ambiente circundante
(Hall, Lindzey & Campbell, 2000; Zimerman, 2004).

Superego - o terceiro e último sistema da per-


sonalidade a se desenvolver é o superego, que é
o representante interno dos valores tradicionais e
dos ideais da sociedade. O superego é, portanto,
a força moral da personalidade. Ele representa o
ideal mais do que o real e busca a perfeição mais
do que o prazer. Sua principal preocupação é de-
cidir se alguma atitude está certa ou errada, para

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poder agir de acordo com os padrões morais da


sociedade ou da cultura do sujeito. As principais
funções do superego são: inibir os impulsos do id,
especialmente aqueles de natureza sexual e agres-
siva; persuadir o ego a substituir objetivos realistas
por objetivos moralistas; buscar a perfeição (Hall,
Lindzey & Campbell, 2000; Zimerman, 2004).

Essas três instâncias psíquicas que compõem a


mente deveriam viver em equilíbrio, porém alguns
tipos de personalidade podem ter um ego fragili-
zado, em que o princípio do prazer impera, bem
como existem aqueles que são escravos dos ideais
do superego ou dos impulsos do id.

Nesse contexto, mediante situações geradoras de


angústia, como um impulso agressivo do id que
quer vir à tona, o ego desenvolve defesas para filtrar
e contemplar de forma disfarçada esses impulsos.
Os mecanismos de defesa são uma função do ego
que amadurecem ao longo do desenvolvimento.

Todos nós temos mecanismos de defesa que reve-


lam muito sobre nossa personalidade. Com frequên-
cia, elas são classificadas segundo uma hierarquia
que vai da mais imatura, ou patológica, até a mais
madura, ou saudável e um perfil dos mecanismos
de defesa de um indivíduo é um bom indicador de
sua personalidade, do seu nível de maturidade ou
imaturidade. É importante salientar que todos te-
mos a tendência a usar uma variedade de defesas,

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algumas de categoria primitiva, quando estamos sob


intenso estresse (McWilliams, 2014). Os mecanismos
de defesa mais comuns estão listados abaixo, de
acordo com sua hierarquia (Gabbard, 2016).

DEFESAS PRIMITIVAS
Compartimentalização de experiên-
cias do self e do outro, de modo que
a integração não é possível. Quando
o indivíduo é confrontado com as
contradições no comportamento, no
pensamento ou no afeto, ele encara
as diferenças com suave negação ou
indiferença. Essa defesa impede que
Cisão
o conflito surja da incompatibilidade
dos dois aspectos polarizados do self
ou do outro. Um exemplo é quando
você vê uma pessoa como boa, não
tolera a frustração e não consegue
manter o amor e transforma esse sen-
timento em ódio. Esse mecanismo
justifica as polarizações das emoções.

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É considerado tanto um mecanis-


mo de defesa intrapsíquico quanto
uma comunicação interpessoal, esse
fenômeno envolve se comportar de
Identifi- tal modo que uma pressão interna
cação sutil é colocada sobre outra pessoa
para que essa adquira caracterís-
projetiva
ticas de um aspecto do self ou de
um objeto interno que é projetado
naquela pessoa. A pessoa que é o
alvo da projeção começa, então, a se
comportar, pensar e sentir de acordo
com aquilo que foi projetado nela.
A percepção e a reação a impulsos
internos inaceitáveis e seus deriva-
dos como se eles estivessem fora do
Projeção
self. Difere da identificação projetiva
pelo fato de o alvo da projeção não
ser mudado.
A evitação da consciência de aspec-
tos da realidade exterior que sejam
Negação
difíceis de encarar pela desconside-
ração de dados sensoriais.

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A perturbação do sentido de conti-


nuidade do indivíduo nas áreas da
identidade, da memória, da cons-
ciência ou da percepção, como for-
ma de reter uma ilusão de controle
Dissocia- psicológico diante do desamparo e
ção da perda de controle. Apesar de se
parecer com a cisão, a dissociação
pode, em casos extremos, envolver
a alteração da memória de eventos
em decorrência da desconexão entre
o self e o evento.
A atribuição de qualidades perfeitas
ou quase perfeitas a outras pessoas,
Idealiza-
como forma de evitar a ansiedade
ção
ou os sentimentos negativos, como
desprezo, inveja ou raiva.
A encenação impulsiva de uma fan-
Atuação tasia ou um desejo inconsciente,
como forma de evitar afeto doloroso.
A conversão de dor emocional ou de
outros estados afetivos em sintomas
Somatiza-
físicos, bem como o foco da atenção
ção
do indivíduo em preocupações so-
máticas (em vez de intrapsíquicas).

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O retorno a uma fase anterior do


desenvolvimento ou do funciona-
Regres-
mento para evitar conflitos e tensões
são
associados ao nível atual de desen-
volvimento do indivíduo.
A busca pelo refúgio no mundo in-
Fantasia terno privado do indivíduo a fim de
esquizoide evitar a ansiedade relacionada às
situações interpessoais.

DEFESAS NEURÓTICAS “DE NÍVEL MAIS ELEVADO”

A internalização de aspectos de uma


pessoa significativa, como forma de
lidar com a perda dessa pessoa. Tam-
bém pode ser introjetado um objeto
Introjeção mau ou hostil, como forma de obter
a ilusão de controle sobre o objeto.
A introjeção ocorre de maneiras não
defensivas, como parte normal do
desenvolvimento.
A internalização das qualidades de outra
pessoa, tornando-se parecida a essa.
Identifica- Enquanto a introjeção leva a uma repre-
ção sentação internalizada que é vivenciada
como um “outro”, a identificação é vi-
venciada como parte do self. Isso tam-
bém pode desempenhar funções não
defensivas no desenvolvimento normal.

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A transferência de sentimentos as-


Desloca- sociados a uma ideia ou um objeto
mento para outro que se parece, de alguma
forma, com o original.
Intelec- O uso de ideação excessiva e abstrata
tualização para evitar sentimentos difíceis.
A separação de uma ideia de seu
Isolamento
estado afetivo associado, a fim de
afetivo
evitar turbulência emocional.
A justificação de atitudes, crenças ou
Racionali-
comportamentos inaceitáveis para
zação
torná-las aceitáveis para si mesmo.
A concessão de significado sexual a
um objeto ou comportamento para
Sexualiza- transformar uma experiência negati-
ção va em uma outra que seja excitante
e estimulante ou para debelar ansie-
dades associadas ao objeto.
Formação A transformação de um impulso ou
reativa desejo inaceitável em seu oposto.
A expulsão de impulsos ou ideias ina-
ceitáveis, ou o impedimento de que
esses entrem na consciência. Esta
Repressão defesa difere da negação uma vez
que a última está associada a dados
sensoriais externos, enquanto a repres-
são está associada a estados internos.

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A tentativa de negar implicações se-


xuais, agressivas ou vergonhosas de
Anulação um comentário ou comportamento
anterior elaborando, esclarecendo
ou fazendo o oposto.

DEFESAS MADURAS
A descoberta de elementos cômicos
e/ou irônicos em situações difíceis, a
fim de reduzir afetos desagradáveis
e desconforto pessoal.
Humor Este mecanismo também permite
alguma distância e objetividade dos
eventos, de modo que um indivíduo
pode refletir sobre o que está acon-
tecendo.
A tentativa de eliminar aspectos
prazerosos da experiência por cau-
sa de conflitos produzidos por esse
Ascetismo
prazer. Este mecanismo pode estar
a serviço de metas transcendentais
ou espirituais, como no celibato.

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AS SETE MÁSCARAS

O comprometimento do indivíduo
com as necessidades dos outros mais
do que com as próprias. O compor-
tamento altruísta pode ser usado a
Altruísmo
serviço de conflitos narcisistas, mas
pode, também, ser a fonte de grandes
realizações e contribuições construti-
vas à sociedade.
A transformação de objetivos social-
Sublima- mente reprováveis ou internamente
ção inaceitáveis em outros socialmente
aceitáveis.

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CAPÍTULO 2
PERSONALIDADE ESQUIZOIDE

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
As pessoas esquizoides variam em uma faixa
que vai desde o tipo de paciente catatônico hos-
pitalizado até o gênio criativo. Costumam viver à
margem da sociedade, comumente taxados como
“estranhos” ou “esquisitos”. Essas pessoas são um
conjunto de contradições, pois apresentam iden-
tidade difusa: não estão certos de quem são e se
sentem invadidos por pensamentos, sentimentos,
desejos e impulsos altamente conflitantes. Essa
difusão de identidade faz da relação com outras
pessoas algo problemático.

Pessoas com dinâmica esquizoide parecem frias,


indiferentes, distantes e demonstram falta de envol-
vimento com atividades diárias e com as preocupa-

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ções das pessoas à sua volta. São caladas, isoladas


e insociáveis. Podem viver suas vidas com pouca
necessidade ou vontade de formar laços afetivos.

Apresentam timidez, sensibilidade excessiva, es-


quiva de relacionamentos íntimos ou competitivos,
excentricidade, devaneios e dificuldade de expres-
sar hostilidade e agressividade. Embora pareçam
pensar apenas em si mesmas e estar perdidas em
devaneios, apresentam capacidade normal de re-
conhecer a realidade.

Eles podem investir quantidades enormes de


energia afetiva a interesses não humanos, como
matemática e astronomia, e podem ser muito liga-
dos a animais. Modismos de saúde e alimentação,
correntes filosóficas e esquemas de melhora social,
em especial os que não exigem envolvimento pes-
soal, costumam absorver sua atenção. Costumam
ter vocações para a investigação filosófica, a disci-
plina espiritual, a ciência teórica e as artes criativas.

O conceito psicanalítico da pessoa esquizoide tem


muito a ver com o conceito junguiano de introversão,
sobretudo o tipo de indivíduo rotulado como intro-
vertido, sentimental, intuitivo, que são reconhecidos
como admiráveis “místicos” ou “confidentes”.

De uma forma geral, a história de vida revela interes-


ses solitários e sucesso em empregos solitários e não
competitivos que outras pessoas acham difícil de tolerar.

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AS SETE MÁSCARAS

HISTÓRIA DE VIDA
Bebês calmos, dóceis, “que não dão trabalho”,
que “vão com todo mundo sem estranhar”, que
dormem demais, que pouco choram ou quase não
demonstram irritabilidade podem ter um tempe-
ramento favorável à dinâmica esquizoide.

A pesquisadora Ainsworth e colaboradores (1978)


observou que crianças esquizoides apresentavam na
sua história de vida um tipo de apego esquivo, um
estilo de apego inseguro, ou seja, costumam reagir
com indiferença diante da presença ou ausência
da mãe quando pequenas. As mães dessas crian-
ças costumam rejeitar os estados de dependência
normal do bebê e seriam indiferentes à reação de
tristeza dos filhos, sendo bruscas, emocionalmente
não expressivas, avessas ao contato físico com seus
filhos, ou seja, mães frias e distantes.

Um pai ou uma mãe que é esquivo ou indiferen-


te em relação às necessidades do filho pode sem
dúvidas gerar uma sensação de autossuficiência
defensiva nessa criança. Indivíduos com histórico
de negligência e isolamento em momentos iniciais
da vida podem aprender a se fechar em seu mundo
como forma de defesa, aprendendo a não confiar ou
esperar nada do mundo externo (McWilliams, 2014).

Outro tipo de cuidado também colabora para o


fortalecimento de traços esquizoides, trata-se dos

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casos de crianças que tiveram uma experiência


com pais muito invasivos, ansiosos, que superes-
timulam o filho. Imagine uma criança querendo
dormir e sentir sua mãe balançando-a de forma
frenética, falando alto e agitando a criança. Esse é
um exemplo de cuidado invasivo, geralmente com
pais eufóricos e ansiosos, sendo que os estímulos
intrusivos podem favorecer com que a criança bus-
que quietude em si mesma e interprete a realidade
externa como perturbadora.

Outro tipo de cuidado que favorece a dinâmica


esquizoide é viver num ambiente com comunica-
ções confusas e contraditórias, por exemplo, ter
um pai que pede para a criança ser pacífica, mas
a agride. Essas são mensagens de duplo vínculo e
desonestas que fazem a criança sentir o mundo
como confuso e dividido e, para se proteger, se
recolhe ao isolamento.

Todas essas informações sobre o desenvolvimento


de uma pessoa são fundamentais na identificação
de seu perfil de personalidade.

EMOÇÕES E DEFESAS
Na dinâmica esquizoide existe a constante amea-
ça de abandono, perseguição e desintegração.
Aproximar-se de alguém é um risco para o desen-
cadeamento de anseios intensos de dependência
e fusão. Por isso, pessoas esquizoides tendem a se

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descrever mais como sufocadas de afeto do que


como carentes de afeto. Para eles, o abandono é
melhor que o sufocamento.

Podem se debater com questões de nível oral, que


envolvem angústias e evitar perigo de ser sufocado,
absorvido, deformado, tomado, devorado. O mun-
do externo parece cheio de ameaças distorcidas e
sufocantes contra a segurança e a individualidade.
Duas ansiedades são predominantes: se estão muito
próximos, eles podem se preocupar quanto à união
e fusão com as pessoas, mas se eles estão muito
distantes, temem a perda e o colapso. Temem “de-
vorar e serem devorados”. Ficam entre o medo de
afastar as pessoas por sua necessidade e seu medo
de que os outros irão sufocá-lo e consumi-lo. Como
resultado, as relações, na maioria das vezes, são
experienciadas como perigosas e como algo a ser
evitado (Fairbairn, 1952).

Sua dinâmica consiste em isolar-se, procurar sa-


tisfação na fantasia (na imaginação, pensamentos,
Netflix, Youtube, Podcasts, artes, etc.) e tendem a
rejeitar o mundo corpóreo. As pessoas esquizoides
tendem até mesmo a ser fisicamente magras, de
tão distantes que estão do contato emocional com
sua própria voracidade (McWilliams, 2014).

Pessoas com caráter esquizoide costumam reve-


lar limitação vitalícia de expressar diretamente a
raiva. Uma vez que atos agressivos raras vezes são

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incluídos em seu repertório de reações habituais,


elas lidam com a maioria das ameaças, reais ou
imaginadas, por meio de fantasias de onipotência
ou resignação. Por isso, não chamam atenção por
serem altamente agressivas, apesar do conteúdo
violento de algumas de suas fantasias. A família e
os amigos em geral as descrevem como calmas e
gentis. Essas pessoas “suaves” podem ter o con-
teúdo agressivo sublimado no apego a filmes de
terror, livros sobre crimes reais e visões ou sonhos
apocalípticos de destruição do mundo. Cobrem sua
voracidade e sua agressão com um pesado manto
de defesas (fairbairn, 1952; McWilliams, 2014).

A defesa patognomônica - típica dessa dinâmica -


na organização de personalidade esquizoide é o ISO-
LACIONISMO EXTREMO. Entre as defesas maduras, a
INTELECTUALIZAÇÃO é a preferida. No isolacionismo, a
pessoa não distorce ou altera a percepção da realidade,
ela apenas se recolhe ao seu mundo interior e ignora
o mundo à sua volta. A intelectualização é uma defesa
racional bastante usada para “explicar” as emoções
e isso impede suas expressões, por exemplo, podem
explicar um estado de tristeza, mas dificilmente irão
chorar para expressar essa emoção.

Sob estresse, indivíduos esquizoides podem se


isolar de seus próprios afetos ou das estimulações
externas, dando a impressão de serem monóto-
nos ou inconvenientes, apesar de apresentarem
evidências de uma alta ligação com mensagens

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AS SETE MÁSCARAS

afetivas provenientes de outros. Quando se sentem


sobrecarregados, eles se escondem - tanto literal-
mente, em uma reclusão eremita, como se isolando
em sua própria imaginação. A pessoa esquizoide
é, acima de tudo, um outsider, um observador da
condição humana.

A capacidade mais excitante da pessoa esqui-


zoide é a criatividade. Assim, em sua versão mais
saudável direcionam suas habilidades para obras
de arte, descobertas científicas, inovações teóricas
ou empreendimentos espirituais; enquanto as mais
perturbadas dessa categoria vivem em um inferno
particular, no qual suas contribuições em potencial
são ofuscadas por um terror e estranhamento. A
transformação do isolamento e atividade criativa
é o principal objetivo da terapia com pacientes
esquizoides (Gabbard, 2016).

Diante de toda essa dificuldade de aproximação


e de não se sentir ameaçado, para aqueles que
desejam estabelecer uma boa comunicação com
uma pessoa com caráter esquizoide, sugiro que use
o mecanismo de defesa chamado de PROJEÇÃO,
estimulando a pessoa a falar de algo que ela goste
(um filme, um cantor, um personagem, um livro,
uma música, etc.) e observar os elementos com
o qual se identifica nesse relato, pois falando de
algo externo espontaneamente, essa pessoa acaba
também falando de si e do seu mundo. A projeção
oferece segurança, bem melhor do que investir

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em perguntas diretas e invasivas. Um exemplo,


ao invés de perguntar: “que tipo de mulher você
gosta?” (que vai gerar ansiedade, dúvidas sobre se
será assertivo ou julgado), é melhor perguntar “qual
casal dos filmes você considera ideal?” (falando de
um personagem, pela projeção, a pessoa também
estará falando de suas preferências, mas sem tanta
ansiedade).

RELACIONAMENTOS
Pessoas esquizoides tendem a evitar encontros
mais íntimos, na verdade, quando tratadas com
consideração, respeito e no seu ritmo, passam a
cooperar e apreciar uma relação. Uma pessoa pode
enfrentar longos silêncios e certa frieza antes que a
pessoa esquizoide internalize que se sente seguro
e que pode confiar.

Essas pessoas são muito perceptivas de suas rea-


ções internas e gostam de estar em um ambiente
em que a autoexpressão honesta não cause alarme,
espanto, desdém ou escárnio.

O desafio para quem deseja se relacionar com


uma pessoa com esse tipo de personalidade é en-
contrar um modo de entrar no mundo subjetivo
desse indivíduo sem causar ansiedade excessiva
ou intrusão. Isso demanda certo nível de paciência,
tolerância e compreensão.

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AS SETE MÁSCARAS

Nas relações, as pessoas esquizoides temem


sentir o abandono e desinteresse da parte do ou-
tro, temem que o outro se isole emocionalmente
diante de sua falta de habilidades para socializar
e, pior, que o classifique como uma pessoa “es-
tranha”, “bizarra” ou um “maluco”. Eles querem
ser compreendidos por inteiro pelas pessoas com
as quais se importam, mas temem que, se forem
muito abertos com relação a suas vidas internas,
serão expostos como “esquisitões”.

Deve-se ter em mente que a indiferença do es-


quizoide é uma defesa que deve ser compreendi-
da, não uma barreira intransponível para conexão.
Não se deve fazer pressão para que a pessoa fale
ou seja obrigada a demonstrar afeto no início de
uma relação. A posição de escuta sem julgamento
é a mais aconselhável.

É importante lembrar que o indivíduo esquizoi-


de possui sentimentos e vontade de manter uma
relação, mas estes desejos ficam ofuscados pelo
medo da fusão de se sentirem invadidos. Assim,
eles precisam de um tempo e de um ritmo para
se vincularem. Como essa dinâmica é típica do
funcionamento psicótico, é fácil pensar que quan-
do, enfim, eles se sentem seguros, a fusão de fato
ocorre e o vínculo é muito forte.

Devido a essa divisão entre querer se relacionar


e ter medo, vamos observar nas relações aproxi-

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AS SETE MÁSCARAS

mações e afastamentos, comum nos discursos: “eu


gosto de você, mas precisa ir com calma!”, “eu pre-
ciso ficar um tempo sozinho!”, “ainda é cedo para
você ir na minha casa!”, bem como ficar evitando
um contato real e se manter no contato virtual,
ou mesmo nem corresponder ao contato virtual,
eventualmente podem “sumir”. Algumas dessas
pessoas se limitam até mesmo a não usar emojis
na comunicação digital via redes sociais. Alguns,
inclusive, nem ao menos possuem redes sociais.

A vida sexual da pessoa com caráter esquizoide


tem uma forte tendência a se manter no campo da
fantasia e podem adiar indefinidamente o amadu-
recimento da sexualidade. Homens podem não se
casar porque são incapazes de atingir intimidade;
mulheres podem concordar de forma passiva a se
casar com um homem com perfil mais ativo ou
dominador que deseje o casamento.

Pessoas com personalidade esquizoide podem se


identificar com orientações sexuais como assexuali-
dade e demissexualidade, bem como a dificuldade
de manter o contato físico, por senti-lo invasivo,
pode explicar o comportamento hoje classificado
como Ghosting e Orbiting, uma vez que os rela-
cionamentos virtuais se tornam confortáveis para
esses indivíduos, já que eles podem se manter numa
segura distância física atrás das telas.

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AS SETE MÁSCARAS

Algumas pessoas esquizoides chegam a ser bas-


tante apáticas, apesar de sexualmente funcionais
e orgásticas. Quanto mais próximo está o outro,
maior a precocupação de que o sexo signifique um
enredamento. Muitas mulheres heterossexuais que
se apaixonaram por músicos passionais acabaram
aprendendo que seu amante reservava sua intensi-
dade sensual apenas para seu instrumento. De modo
semelhante, alguns indivíduos esquizoides suspiram
por objetos inatingíveis, enquanto sentem uma vaga
indiferença pelos que estão disponíveis. Amantes
de pessoas esquizoides às vezes reclamam que elas
estão distantes ou mecânicas na hora de fazer amor.

Como foi dito anteriormente, devido à fixação


parcial em fases primitivas do desenvolvimento, o
medo de fusão quando não se sente seguro, pode
dar espaço à necessidade de “viver grudado” quan-
do se sentem seguros. Por isso, alguns indivíduos
esquizoides, depois de transpor as barreiras iniciais,
podem ser bastante ativos sexualmente, bastante
flexíveis quanto às preferências sexuais, possuem
interesse com a incorporação de fluídos, com ele-
mentos que simbolizem essa fusão (se misturar
com o outro) de forma segura e prazerosa.

Como se pode perceber, devido à dificuldade de


se vincular e manter intimidade, esses indivíduos
não costumam ser promíscuos se comparados a
outros perfis de personalidade, pois cada aproxi-
mação é muito ameaçadora.

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AS SETE MÁSCARAS

Os indivíduos esquizoides tendem a atrair (e a


serem atraídos por) pessoas calorosas, expressivas e
sociáveis, como aquelas de personalidade histérica
ou borderline, pois essas pessoas compensam sua
apatia e frieza.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
ESQUIZOIDE
Nos casos graves, a dinâmica esquizoide pode se
tornar mais rígida e inflexível, com maiores queixas
associadas aos padrões de relacionamento, que
causam extrema angústia tanto para o paciente
quanto para as pessoas com quem convive. Na
tabela abaixo constam os critérios diagnósticos do
DSM-5 para o transtorno da personalidade esqui-
zoide, ou seja, a versão patológica dessa dinâmica:

A. Um padrão difuso de distanciamento das rela-


ções sociais e uma faixa restrita de expressão de
emoções em contextos interpessoais que surgem
no início da vida adulta e estão presentes em vários
contextos, conforme indicado por quatro (ou mais)
dos seguintes critérios:

1. Não deseja nem desfruta de relações ínti-


mas, inclusive ser parte de uma família.

2. Quase sempre opta por atividades solitárias.

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AS SETE MÁSCARAS

3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em


ter experiências sexuais com outra pessoa.

4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes


em nenhuma.

5. Não tem amigos próximos ou confidentes


que não sejam os familiares de primeiro grau.

6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica


de outros.

7. Demonstra frieza emocional, distanciamento


ou embotamento afetivo.

B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de


esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com
sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou
transtorno do espectro autista e não é atribuível
aos efeitos psicológicos de outra condição médica.

(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright © 2013). American
Psychiatric Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan e
Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 3
PERSONALIDADE
PARANOIDE

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
A dinâmica da paranoia existe em uma linha
contínua de gravidade que vai do normal ao nível
patológico psicótico.

Os atributos inconfundíveis da dinâmica paranoide


são suspeita e desconfiança constantes e excessivas
em relação a outras pessoas expressas como uma
tendência a interpretar os atos dos outros como
ameaçadores, malévolos, exploradores ou enga-
nadores. Esperam ser lesados, traídos de alguma
forma e, por isso, com frequência questionam, sem
qualquer justificativa, a lealdade de alguém próxi-
mo. São pessoas que sofrem bastante com ciúmes
e desconfiança.

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AS SETE MÁSCARAS

Exteriorizam suas emoções negativas, usando o


mecanismo de defesa da PROJEÇÃO, que faz com
que atribuam aos outros os impulsos e pensamentos
que não podem aceitar em si mesmos.

Essas pessoas apresentam afeto restrito e parecem


frias, sem emoção. Orgulham-se da racionalidade
e objetividade, mas isso não corresponde à reali-
dade. Demonstram ausência de afeição e impres-
sionam-se e prestam bastante atenção a poder e
nível hierárquico.

Expressam desdém a indivíduos que percebem


como fracos, doentios, debilitados ou deficientes
de alguma forma. Por isso, tendem a ser preconcei-
tuosos e ter ideias e até delírios de grandeza. Em
situações sociais, essas pessoas podem transmitir
uma ideia de profissionalismo e eficiência, mas
costumam gerar medo e conflito em outras pessoas.

HISTÓRIA DE VIDA
Nancy McWilliams (2014) sugere que pessoas
que cresceram e se tornaram paranoides sofreram
sérios ataques ao seu senso de eficácia; elas repe-
tidamente se sentiam dominadas e humilhadas
pelos seus pais. Além disso, as crianças podem ter
observado atitudes desconfiadas e condenatórias
dos genitores.

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Indivíduos paranoides costumam vir de lares onde


a crítica e o sentimento de ridículo dominavam as
relações familiares, ou nos quais uma criança, que
no futuro se tornará paranoide, era o bode expia-
tório, alvo de atributos odiados e projetados (em
especial aqueles na categoria geral de “fraqueza”)
pelos membros da família.

A presença de um genitor assustador e a falta de


pessoas que poderiam ajudar a processar os sen-
timentos resultantes desse medo é um contexto
comum que favorece o desenvolvimento da para-
noia. A criança que sempre espera ser humilhada
ou apanhar, acaba agredindo antes de esperar ser
agredida. Vivendo nesse sistema, mais tarde, o in-
divíduo aprende que vive esperando um ataque a
qualquer momento.

EMOÇÕES E DEFESAS
Visto que percebem as fontes de seu sofrimento
como externas a eles, os indivíduos de nível paranoide
mais perturbado tendem a ser mais perigosos para
os outros do que para eles mesmos.

As qualidades raivosas e ameaçadoras de muitas


pessoas paranoides incentivaram especulações de
que um contribuinte do funcionamento psicoló-
gico paranoide seria o alto grau de agressividade
ou irritabilidade inata, apesar da ausência de pes-

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AS SETE MÁSCARAS

quisas recentes sobre paranoia e temperamento


(McWilliams, 2014; Gabbard, 2016).

Indivíduos paranoides não se debatem apenas


contra a raiva, o ressentimento, a vingança e outros
sentimentos claramente hostis, também sofrem
com um medo exagerado associado à angústia
de aniquilação, isto é, um pavor de ser excluído,
destruído e desaparecer do mundo. As reações a
esse medo são as atitudes explosivas e agressivas.

A ansiedade paranoide tende a não ser reprimida


pelos medicamentos inibidores de absorção de
serotonina, mas responde ou melhora com uso
de benzodiazepínicos, álcool e outras drogas “cal-
mantes”, o que pode explicar por que os pacientes
paranoides com frequência lutam contra a adição
de agentes químicos (McWilliams, 2014).

Outro sentimento contra o qual os paranoides


usam muitas defesas é a vergonha, contra a qual
são capazes de usar a NEGAÇÃO e a PROJEÇÃO de
modo tão intenso e poderoso que nenhum resquí-
cio dessa vergonha fica associado ao seu eu. Assim,
depois que projetam sua vergonha nos outros, suas
energias e pensamentos são dedicados a lutar e frus-
trar todas as pessoas que os cercam que estariam
sempre prontas a humilhá-los e envergonhá-los.

Ressentimento e ciúmes, às vezes em proporções


delirantes, obscurecem suas vidas. Esse sentimen-

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to pode ser projetado também, e a pessoa tem a


convicção de que “os outros querem ferrar comigo
por causa das coisas que eu tenho e eles invejam”
(quando na verdade o indivíduo paranoide é que
sente ciúme e inveja). Tudo vira projeção.

Por fim, as pessoas paranoides são profundamente


perturbadas pela culpa, um sentimento que pode
ser irreconhecível e projetado da mesma forma que
a vergonha. Temem que ao assumir a culpa sejam
severamente punidos, julgados ou humilhados.

Pessoas com caráter paranoide possuem signifi-


cativa baixa autoestima que leva esses indivíduos
a desenvolverem um senso aguçado de sintonia
com questões de posição e poder. Eles ficam in-
tensamente preocupados com a possibilidade de
que pessoas em posição de autoridade venham a
humilhá-los ou que elas esperem que eles fiquem
submissos. Eles percebem as ameaças à sua auto-
nomia como algo onipresente.

Exteriormente, os indivíduos paranoides são exi-


gentes, arrogantes, desconfiados, impulsivos, não ro-
mânticos, moralistas e aguçadamente observadores
do ambiente externo. Internamente, entretanto, eles
são assustados, tímidos, inseguros, ingênuos, sem
consideração, suscetíveis à erotomania (a convicção
delirante que um indivíduo pode desenvolver de
estar sendo amado por alguém de posição social
muito proeminente) e cognitivamente incapazes

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de compreender a totalidade dos eventos reais.

RELACIONAMENTO
Você percebe que está envolvido com uma pessoa
de caráter paranoide quando passa a viver provando
inocência, sob tensão e cobranças infindáveis que
comumente culminam em palavras ou atitudes vio-
lentas, em decorrência de DESCONFIANÇA e CIÚME
EXCESSIVO, o que geralmente se torna um vínculo
tóxico e abusivo, que é bastante comum nesse tipo de
caráter ou em sua versão mais doentia: o Transtorno
de Personalidade Paranoide, que, por sua vez, é um
problema de saúde mental marcado pela dificuldade
de estabelecer relações saudáveis ao longo da vida.
Em síntese, nas relações amorosas são pessoas exces-
sivamente ciumentas, agressivas e mal-humoradas.

Independente do que você faça, a pessoa dificil-


mente muda e envolve a relação em sentimentos
desagradáveis, repetitivos e previsíveis, com um
padrão de suspeita constante. Pelo fato de acre-
ditar que está sempre sendo perseguido, a pessoa
paranoide, quando inicia uma nova relação, tende
a se posicionar como vítima e não poupa esforços
para falar mal de ex parceiros, amigos ou colegas
de trabalho. Sendo assim, a VITIMIZAÇÃO constan-
te é um forte traço nesse tipo de personalidade.

Indivíduos paranoides esperam ser explorados


ou lesados pelos outros de alguma forma, por isso

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AS SETE MÁSCARAS

estão sempre atacando ou se certificando de que


não serão atacados. Essa necessidade de manter
o controle das pessoas com quem convive é outra
marca das relações com pessoas desse tipo de
personalidade. Não se trata da necessidade de
estar perto por amor e sim por medo excessivo de
ser traído. Assim, ao iniciar um relacionamento é
comum um elevado nível de sedução, no sentido
de manter a pessoa sob controle, para se certificar
de que não será enganado. Ao invés de curtir os
momentos bons, infelizmente na mente de uma
pessoa paranoide, um momento bom é sempre
algo que vai provocar a inveja de alguém que pode
atacar e tomar isso de si. Por esse motivo, é comum
evitar exposição em redes sociais ou exigir que o
parceiro não se exponha.

Muitas pessoas acreditam que relacionamentos


abusivos são produto de relações com narcisistas
e ignoram o potencial “tóxico” de um vínculo com
uma pessoa de caráter paranoide. Esse medo de
ser traído e a necessidade de controle são somados
a uma desconfiança e ciúme que chega a níveis
patológicos e torna a relação um eterno martírio.

Como é comum o abuso álcool e drogas, caso haja


vícios envolvidos, a impulsividade e agressividade
ficam muito mais intensas. Vale lembrar que toda
essa desconfiança vem do próprio potencial para o
mal que essas pessoas carregam em si e que negam,
por isso é necessário desenvolver todo um sistema

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de crenças que torne o outro um “vilão” para que


justifique a expressão da agressão e alivie a culpa.

Imagine um homem casado, a mulher é submissa


e atende todas as necessidades do marido, mas
ele precisa encontrar uma justificativa para traí-la.
Então ele diz que está sofrendo muito porque ELA
NÃO SE CUIDA, por isso ele não sente desejo por
ela, se torna uma vítima e busca uma mulher de-
sejável. O paranoide raramente se enxerga como
culpado, sempre encontra uma maneira de tornar
o outro um vilão e o depósito de tudo de ruim que
não assume em si - o depósito de suas projeções.

Se, por outro lado, o relacionamento não deu


certo, é comum o paranoide acusar os amigos que
“tiveram inveja” e até mesmo forças sobrenaturais:
“a presença de uma energia ruim”, “o efeito de ma-
gia negra”... mas não vai assumir seus erros, porque
isso gera extrema angústia.

Por sua conduta desconfiada e hostil, conviver com


uma pessoa paranoide desperta no outro sentimen-
tos de medo, de tentar provar que é fiel e confiável
o tempo todo sem ter reconhecimento, com isso
algumas pessoas se sentem numa eterna obrigação
de agradar, tornando um fardo esse tipo de relação.

Com maior frequência se sustentam na negação


e na projeção de outros afetos e impulsos, como,
por exemplo, o marido paranoide que, incons-

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ciente de suas próprias FANTASIAS NORMAIS DE


INFIDELIDADE, se convence de que a mulher sente
perigosa atração por outros homens. É comum que,
nesse tipo de ciúmes, esteja envolvida uma ânsia
inconsciente por intimidade com uma pessoa do
mesmo sexo (McWilliams, 2014).

Nesse contexto, vale a reflexão sobre até que pon-


to alguém que acusa você de trair ou sente muito
ciúme sem evidências, está na verdade projetando
seus próprios impulsos de infidelidade ou de ho-
mossexualidade reprimida?

A literatura aponta que pessoas com dinâmica


paranoide carregam angustiantes IMPULSOS HO-
MOSSEXUAIS LATENTES REPRIMIDOS que causam
verdadeiro pavor, sendo abominados e negados
e podem aparecer, por exemplo, em um homem
ciumento que acusa a mulher de desejar o amigo,
quando na verdade ele o deseja e nega e projeta
esse impulso na mulher (Gabbard, 2016).

Outro medo recorrente em relação aos seus rela-


cionamentos é a possibilidade de estarem sujeitos
a um controle externo, pois temem que qualquer
pessoa que procure estar próxima a eles esteja
tentando assumir o controle. Essa preocupação
está associada inclusive ao medo de ser tomado
por impulsos homossexuais que os coloquem em
posição de passividade. Assim, eles se preocupam
com todas as entregas passivas, a todos os impulsos
e a todas as pessoas (McWilliams, 2014).

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Nesse contexto, fica claro que pessoas com dinâ-


mica paranoide sintonizam melhor com pessoas
passivas, masoquistas e dependentes, com as quais
se sintam no controle e menos ameaçadas.

No início de uma relação com uma pessoa com


dinâmica paranoide, pouco vai adiantar confrontar
suas ideias distorcidas da realidade, escutar é a
melhor conduta, isso ajuda a construir uma aliança
de confiança. Aos poucos, no ritmo da pessoa, você
pode ajudar a identificar o que é possível daquilo
que é raro ou improvável de acontecer, mas evite
sempre fazer piadas ou confrontar diretamente a
ideia delirante ou projetiva da pessoa, pois além de
não adiantar, não vai provocar mudanças, bem como
favorece reações agressivas e mais desconfiança.

Evite alimentar as projeções ou levantar mais suspei-


tas, se não tem como ajudar diante de uma ideia deli-
rante, silencie, mas não alimente mais desconfianças.

Não entre em disputas por controle, não se deses-


pere, respeite a autonomia do sujeito. Se você não
tolera, saia da relação, mas não use argumentos
para que a pessoa ceda ao controle, pois não irá
funcionar. Entre nas relações de forma consciente.

Sempre encoraje a pessoa a verbalizar a raiva


em vez de chegar aos níveis de impulsividade em
que a raiva passa a ser atuada (expressa em atos:
violência, gritos, acusações). Evite discutir no calor

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AS SETE MÁSCARAS

da raiva e busque um outro momento para tratar


essas questões.

Sempre dê um espaço para a pessoa paranoide respi-


rar, pois caso não tenham seu espaço para se recolher.

Cuide-se para que consiga entender racional-


mente o funcionamento mental de um indivíduo
paranoide e consiga lidar com o sentimento de
medo e raiva que eles despertam.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
PARANOIDE
Nos casos graves, a dinâmica paranoide pode se
tornar mais rígida e inflexível, com maiores queixas
associadas aos padrões de relacionamento, que
causam extrema angústia tanto para o paciente
quanto para as pessoas com quem convive. Na
tabela abaixo constam os critérios diagnósticos do
DSM-5 para o transtorno da personalidade para-
noide, ou seja, a versão patológica dessa dinâmica:

A. Um padrão de desconfiança e suspeita difusa


dos outros, de modo que suas motivações são in-
terpretadas como malévolas, que surge no início
da vida adulta e está presente em vários contex-
tos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos
seguintes comportamentos:

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AS SETE MÁSCARAS

1. Suspeita, sem embasamento suficiente, de


estar sendo explorado, maltratado ou enga-
nado por outros.

2. Preocupa-se com dúvidas injustificadas


acerca da lealdade ou da confiabilidade de
amigos e sócios.

3. Reluta em confiar nos outros devido a medo


infundado de que as informações serão usadas
maldosamente contra si.

4. Percebe significados ocultos humilhantes


ou ameaçadores em comentários ou eventos
benignos.

5. Guarda rancores de forma persistente (i.e.,


não perdoa insultos, injúrias ou desprezo).

6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação


que não são percebidos pelos outros e reage
com raiva ou contra-ataca rapidamente.

7. Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acer-


ca da fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual.

B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de


esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com
sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico
e não é atribuível aos efeitos fisiológicos de outra
condição médica.
(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright © 2013).

American Psychiatric Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan e Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 4
PERSONALIDADE
NARCISISTA

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
Retomando o conceito das etapas do desenvolvi-
mento da personalidade, sabemos que o narcisis-
mo é uma etapa do desenvolvimento normal das
emoções, da constituição do ego e das relações
com as pessoas. É um composto que integra di-
versas tendências: a de fazer convergir sobre si as
satisfações sem levar em conta as exigências da
realidade e dos outros, a busca de autonomia e
autossuficiência com relação aos outros, o intento
ativo de dominar e negar a alteridade. Isso tudo
acontece porque a criança vive num estado de
egocentrismo normal em que não consegue de
fato perceber a existência de um outro separado.

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AS SETE MÁSCARAS

Entender que o narcisismo é um processo normal


e fundamental para a autoestima é muito impor-
tante para que não incorremos no erro de usar esse
termo sempre associado a algo bizarro ou doentio.
O ponto do continuum entre o narcisismo normal
e o narcisismo patológico não é fácil de identifi-
car, devido ao fato de que todos nós lutamos com
questões narcísicas, devemos sempre estar atentos
ao potencial hipócrita de rotular outras pessoas
como narcisistas.

Vivemos em uma cultura narcisista. Em 2013, na


Capa da Revista Time, os millenials foram caracteri-
zados como a “Geração eu, eu, eu”, pois muitos dos
jovens adultos dessa geração cresceram com um
senso de direito de que eles merecem ser famosos
ou bem-pagos sem fazer muito esforço para realizar
seus sonhos. Eles cresceram com uma audiência
de colegas em redes sociais que ofereceram gratifi-
cação instantânea e valorização da autoestima em
bases contínuas ao longo do dia e mesmo durante
altas horas da noite (McWilliams, 2014; Gabbard,
2016). Assim, o contexto social atual favorece com-
portamentos narcisistas.

Na sua versão patológica, o narcisismo não con-


siste em excesso de amor próprio, mas sim em sua
falta crônica, o que leva o indivíduo a realizar esfor-
ços insaciáveis para substituir o amor próprio pela
admiração externa. O déficit narcisista produz assim
um ego ameaçado pela desintegração e por uma

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AS SETE MÁSCARAS

sensação de vazio interior. Em meio a um estado


de indiferenciação, essas pessoas apresentam uma
falha relativa ao reconhecimento de um inevitável
estado de incompletude e a aceitação de óbvias
diferenças que separam as singularidades de cada
indivíduo com quem convivem (Zimerman, 2004). É
como se o outro fosse uma extensão de si mesmo.

De posse dessa compreensão evolutiva do desen-


volvimento do narcisismo, observa-se que pessoas
com caráter narcisista têm um sentimento de au-
toimportância grandioso, consideram-se especiais e
esperam tratamento diferenciado. Seu sentimento
de merecimento é impressionante. Indivíduos narci-
sistas lidam mal com críticas, podem ficar com raiva
quando alguém ousa criticá-los, ou podem parecer
completamente indiferente a críticas. Querem que
as coisas sejam do seu jeito e com frequência têm
ambição de obter fama e fortuna. Seus relaciona-
mentos são pouco importantes e podem deixar
os outros furiosos por sua recusa em obedecer às
regras convencionais de comportamento. A explo-
ração interpessoal é frequente. Não conseguem
demonstrar empatia e fingem simpatia apenas
para atingir seus próprios objetivos egoístas.

Devido à sua frágil autoestima, são suscetíveis à


depressão. Dificuldades interpessoais, problemas
profissionais, rejeição e perda estão entre os es-
tresses que os narcisistas normalmente produzem
com seu comportamento - estresses com os quais

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AS SETE MÁSCARAS

são as pessoas menos capazes de lidar. No âmbito


profissional, alguns indivíduos narcisistas altamente
perturbados podem ter um sucesso extraordinário
em certas profissões, como o meio executivo, as ar-
tes, a política, a indústria do entretenimento, o meio
esportivo e o evangelismo televisivo (Gabbard, 2016).

Alguns autores referem existir dois tipos de nar-


cisistas, aqueles mais exibidos e os mais introspec-
tivos (Gabbard, 2016). A caracterização clássica do
narcisista marcado por traços de arrogância, agres-
sividade, presunção, com um senso de grandiosi-
dade é classificado como NARCISISTA DISTRAÍDO.
Enquanto o narcisista tímido, apagado, inibido,
discretamente grandioso, que evita desprezos e
críticas, extremamente sensível às reações de ou-
tras pessoas, que é facilmente magoado e se sente
humilhado, cuja extrema sensibilidade ao desprezo
leva a uma fuga assídua dos holofotes, esse tipo é
chamado de NARCISISTA HIPERVIGILANTE.

Embora esses dois tipos possam ocorrer de forma


pura, muitos indivíduos apresentam uma combi-
nação de características de ambos os tipos. Entre
esses dois extremos do continuum, haverá muitos
indivíduos narcisistas que são bem mais suaves
socialmente e que possuem uma grande dose de
charme interpessoal.

Um estudo realizado em 2008 (Russ et al, 2008


apud Gabbard, 2016), no qual foram avaliados 225

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AS SETE MÁSCARAS

indivíduos que preencheram os critérios diagnósticos


para Transtorno de Personalidade Narcisista, identifi-
cou três subtipos de narcisista: 1. Grandioso/Maligno,
2. Frágil e 3. De alto funcionamento/Exibicionista. O
tipo 1 alinhado de forma próxima com o Narcisista
Distraído, foi caracterizado por sentimento exagerado
da própria importância, falta de remorso, manipula-
ção interpessoal, raiva acumulada, busca de poder
nas relações e sentimentos de privilégio. A categoria
Frágil, muito parecida com o narcisista Hipervigilante,
repeliu sentimentos dolorosos de inadequação com
uma grandiosidade utilizada defensivamente e apre-
sentou uma poderosa subcorrente de sentimentos
inadequados, estados afetivos negativos e solidão.
Por fim, a variante de alto funcionamento tinha um
senso de importância própria exagerado, mas esses
indivíduos também eram extrovertidos, cheios de
energia e articulados; aparentemente eles utilizam
o narcisismo como uma forte motivação para serem
bem sucedidos (Gabbard, 2016).

O que as pessoas narcisistas de todos os tipos


têm em comum é um senso interno e/ou um pa-
vor da insuficiência, da vergonha, da fraqueza e da
inferioridade.

HISTÓRIA DE VIDA
Sobre as causas do narcisismo, existe carência de
pesquisas sobre a contribuição do temperamento e
das características inatas à organização de persona-

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lidade narcisista na vida adulta (McWilliams, 2014).


O que temos são hipóteses geradas clinicamente
e ainda não testadas. Uma delas seria a de que as
pessoas com risco de desenvolver uma estrutura
de caráter narcisista seriam, de forma inata, mais
sensíveis a mensagens emocionais não verbaliza-
das. De maneira específica, o narcisismo tem sido
associado com o tipo de criança naturalmente
sintonizada com a percepção de afetos, atitudes e
expectativas não ditas aos outros.

Conforme aponta Zimerman (2004), na história


de vida dessas pessoas houve um precoce fracasso
ambiental em relação às necessidades de apego
enquanto criança, por mães que foram indiferentes
ou então intrusivas, com uma falha na empatia, na
continência materna e na capacidade de frustrar
adequadamente.

O sentimento de si requer um intercâmbio con-


tínuo com os outros, porém, em pacientes com
patologias narcísicas o que se observa é a não dis-
criminação entre o que é desejado e o que é real.
O narcisista, como vê o outro como uma extensão
de si, busca que essa pessoa o trate e o ame de
forma extrema, no entanto, vai encarar frustrações
nesse processo, em todas as situações em que não
é correspondido em suas idealizações extremas,
o que remete à reativação de suas experiências
traumáticas quando o outro não cumpre funções
protetoras (Zimerman, 2004).

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Todas essas teorias indicam que indivíduos com


fortes traços narcisistas estão aprisionados, sob o
ponto de vista do desenvolvimento, a um estágio
no qual eles necessitam de respostas específicas
das pessoas em seu ambiente de forma a mante-
rem seu senso de eu coeso. Quando essas respostas
não aparecem, esses indivíduos ficam propensos
à fragmentação do seu eu, o que gera extrema
angústia. Sendo assim, alguns autores consideram
que, na infância, esses indivíduos tiveram pais que
falharam na empatia com as necessidades de seus
filhos. Mais especificamente, os pais não responde-
ram com validação e admiração às demonstrações
exibicionistas da criança apropriadas às fases do
desenvolvimento, não ofereceram modelos dig-
nos de idealização. Essas falhas se manifestam na
tendência a idealizar o outro, exigir que seja como
um espelho que reflete sua imagem ou que o ou-
tro tenha a obrigação de ser e agir como ele age
(Gabbard, 2016).

Assim, os conflitos inconscientes podem ter sua


origem rastreada até a patologia primitiva do re-
lacionamento mãe-bebê. A agressão oral provo-
cada, desencadeada e reforçada por mães frias e
rejeitadoras; ou mães ambivalentes: rejeitadoras e
superestimuladoras; ou por uma negligência gra-
ve e crônica; ou ainda a exploração por parte de
uma mãe narcisista, que ignora as necessidades
emocionais e a vida interna de seu bebê, mais o

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reforço secundário de conflitos com o pai - ou a


ausência da disponibilidade compensadora de um
pai - podem levar a uma intensa inveja e ódio da
mãe, que pode gerar inveja do casal edípico.

Nos homens, cuja relação inicial com a mãe


continua a colorir suas relações com as mulheres
por toda a vida, o ódio patológico e a inveja das
mulheres podem tornar-se uma poderosa força
inconsciente que intensifica seus conflitos edípi-
cos. Esses homens vivenciam o desejo sexual por
uma mulher como uma repetição das provocações
primitivas por parte da mãe, o que ativa o ódio in-
consciente em relação à mulher desejada. O ódio
pode destruir a capacidade para a excitação sexual
e levar à inibição sexual.

Em casos menos graves leva a uma idealização


intensa e defensiva das mulheres, seguida por uma
rápida desvalorização delas como objetos sexuais,
que pode resultar em promiscuidade sexual.

Em síntese, podemos dizer que o narcisista possui


um self arcaico “normal” que está simplesmente
congelado sob o ponto de vista do desenvolvimen-
to - em outras palavras, o paciente é uma criança
em um corpo de adulto.

EMOÇÕES E DEFESAS
A VERGONHA e a INVEJA são recorrentemente

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destacadas na literatura clínica como as principais


emoções associadas com organização de persona-
lidade narcisista. Sentimentos de vergonha ou de
medo de sentir vergonha estão incorporados na
experiência subjetiva dessas pessoas. A vergonha
é a sensação de ser visto como mau ou incorreto,
é uma crítica sentida como vinda de fora e tem
conotações de desamparo, feiúra, senso de defeito
inerente e impotência (McWilliams, 2014).

A vulnerabilidade à inveja foi bastante discutida


por Klein (1952) e consiste na convicção interna
de que algo falta em mim e de que minhas ina-
dequações estão em constante risco de exposição,
ficarei com inveja daqueles que parecem satisfeitos
ou daqueles que têm qualidades que parecem me
faltarem.

A inveja parece ser o cerne da muito citada ten-


dência ao julgamento em pessoas organizadas
narcisisticamente, julgamento tanto dos outros
quanto de si mesmas. Por exemplo, se me sen-
tir deficiente e perceber você como aquele que
“tem tudo”, posso tentar destruir o que você tem
deplorando, desprezando e ridicularizando essas
qualidades ou posses.

O sentimento de ser humilhado ou dolorosamente


exposto quando confrontado com deficiências em
suas capacidades ou o reconhecimento de necessida-
des não satisfeitas é central para a psicopatologia de

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indivíduos narcisistas, sendo que muitas das defesas


que essas pessoas desenvolvem são manifestadas para
prevenir a consciência dos sentimentos associados a
essas experiências.

A questão da inveja no narcisista potencializa rea-


ções de RAIVA e AGRESSÃO em reação ao fato de
não ter suas necessidades de espelhamento e idea-
lização gratificadas. Uma manifestação da agressão
do indivíduo narcisista é a inveja crônica intensa que
faz ele querer arruinar e destruir as coisas boas de
outras pessoas. Comparam-se constantemente com
os outros, de modo que se vêem atormentados com
sentimentos de inferioridade e anseios intensos de
possuir o que as outras pessoas possuem.

A desvalorização dos outros como forma de lidar


com a inveja deles é associada a um esvaziamento
do mundo interno de representações objetais e dei-
xa o indivíduo com um senso de vazio interior. Esse
vazio pode ser compensado apenas pela admiração
e pela aclamação constantes de outras pessoas e
por meio de um controle onipotente sobre elas, de
modo que seu prazer e seu funcionamento livre e
autônomo não criem ainda mais inveja.

Kernberg (2009) enfatiza a síndrome do narcisis-


mo maligno, envolvendo patologias mais graves do
superego, um certo comportamento antissocial e
agressão egossintônica, ou seja, que a pessoa não
sente como algo estranho ou doentio.

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Se comparado a indivíduos borderline, o ego de


pessoas narcisistas é muito mais forte e coeso e
podem usar um grande número de defesas, mas
aquelas das quais dependem de modo mais funda-
mental são a IDEALIZAÇÃO e a DESVALORIZAÇÃO
EXTREMAS, pois primeiramente tendem a IDEALI-
ZAR o objeto invejado, apropriar-se pela sedução,
tomar posse e domínio, e o medo da dependência
o impulsionam a desvalorizar e destruir essa amea-
ça. Assim, a inveja também inibe a capacidade de
sentir gratidão por aquilo que recebem do outro,
o que impede o fortalecimento da capacidade de
apreciar, amorosamente o amor recebido.

Esta raivosa e voraz apropriação do que é negado


e invejado não conduz à satisfação, porque o ódio
inconsciente “estraga” tudo o que for incorporado:
o sujeito termina sentindo-se vazio e frustrado.

Pessoas organizadas narcisisticamente também


são incapazes de mentalizar o estado do outro.
Sendo que a função mais importante de uma
relação narcisista é manter a experiência ilusória
de que não há separação entre o sujeito e o objeto
(invejado). Por isso, Indivíduos narcisistas negam
sua dependência e se comportam como se fossem
autossuficientes de forma onipotente.

Outra posição defensiva comum de pessoas mo-


tivadas pelo narcisismo é o PERFECCIONISMO. A
demanda por perfeição é expressa por meio de

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uma crítica constante e crônica de si mesmas e dos


outros (dependendo de onde o self desvalorizado
for projetado) e de uma inabilidade em encontrar
alegria e prazer nas ambiguidades da existência
humana.

Algumas vezes indivíduos narcisistas lidam com


seu problema de autoestima considerando outra
pessoa - um amor, um mentor, um herói - como
perfeito, e assim se sentem engrandecidos pela
identificação com aquela pessoa (“Eu sou uma ex-
tensão do Fulano, aquele que nunca erra”).

RELACIONAMENTO
Pessoas com fortes traços narcisistas podem tratar
outros indivíduos como objetos a serem usados e
descartados de acordo com suas necessidades, sem
levar em consideração quaisquer sentimentos. As
pessoas não são vistas como tendo uma existência
separada ou como possuindo necessidades próprias.
Negam as características inaceitáveis da própria
autoimagem ao projetá-las sobre as outras pessoas.

Transmitem mensagens confusas para seus ami-


gos e familiares: a necessidade que têm dos outros
é profunda, mas seu amor é superficial. No entanto,
ver e ser visto são ações centrais para as pessoas
narcisistas e elas lutam com uma autoconsciência
acentuada sobre como estão se comportando em
relação aos outros, pois temem ser humilhados.

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As relações podem ser preventivas para essa vul-


nerabilidade à humilhação, mas no contexto de
perda dessa proteção, uma pessoa pode se sentir
extremamente visível e exposta ao olhar dos outros
de uma maneira bastante devastadora.

O pavor da rejeição os torna extremamente sedu-


tores em busca de novas relações que contemplem
seu ideal inalcançável de perfeição. Sendo assim,
no intuito de evitar a rejeição ou humilhação, os
narcisistas irão se apresentar como a pessoa perfeita
e ideal, têm um feeling muito elevado para seduzir,
para falar o que você quer ouvir, inclusive podem
parecer extremamente preocupados e carinhosos,
demonstrar afeto, tesão extremo. Todo esse arsenal
de comportamentos sedutores são investidos não
por amor, mas como estratégia, às vezes incons-
cientes, de evitar ser desprezado. Sendo assim, é
normal que uma pessoa se veja extremamente en-
cantada pelo indivíduo narcisista, especialmente as
pessoas que estiverem passando por um momento
de baixa autoestima e insegurança.

Esse encanto geralmente tem um futuro breve,


pois narcisistas reproduzem padrões de relação
de curta duração e insatisfatórias, que tendem ao
tédio, agressão, traições e inibição sexual. Geralmen-
te terminam uma relação depois de um período
breve, em geral quando a outra pessoa começa
a fazer exigências decorrentes de suas próprias
necessidades.

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Após o esplendor inicial da relação se desgastar,


a idealização do parceiro vira desvalorização ou
tédio, e eles desistem da relação e procuram novos
parceiros que podem preencher suas necessidades
de admiração, afirmação, amor incondicional, bem
como harmonização perfeita. Mantém esse padrão
de sugar e descartar as pessoas.

Nas manobras defensivas é de central importância


nos conflitos inconscientes a inveja pré-edipica-
mente determinada, isto é, uma forma específica
de raiva e ressentimento contra um objeto neces-
sário que é vivenciado como frustrante e alienado:
o que é desejado se torna, também, uma fonte de
sofrimento. Como reação a esse sofrimento, de-
senvolvem um desejo consciente ou inconsciente
de destruir, de estragar, de se apropriar pela força,
daquilo que esteja sendo sonegado. A tragédia da
personalidade narcisista é que esta raivosa e voraz
apropriação do que é negado e invejado não conduz
à satisfação, porque o ódio inconsciente daquilo
que se quer “estraga” tudo o que for incorporado.

A dependência em relação a um objeto amado


se torna angustiante e precisa ser negada; a perso-
nalidade narcisista precisa ser admirada ao invés
de amada. Narcisistas precisam ser admirados
como uma defesa ao seu medo de dependência.
Não toleram que seu parceiro dependa deles e
vivenciam a reciprocidade habitual das relações
humanas como uma exploração invasiva.

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A inveja inconsciente inibe a capacidade de sentir


gratidão por aquilo que recebem do outro, cuja
própria capacidade de dar livremente eles também
invejam. A ausência de gratidão impede o fortaleci-
mento da capacidade de apreciar, amorosamente,
o amor recebido.

Devido à dificuldade de manter vínculos, geral-


mente os narcisistas se casam na faixa de 30 a 40
anos e colecionam queixas no casamento. Tendem
a procurar parceiros mais jovens, pois temem a ve-
lhice e lutam contra as limitações da vida. Uma das
queixas comuns nas relações com narcisistas é a
PROMISCUIDADE e tendência à TRAIÇÃO. São pes-
soas que podem desenvolver o DONJUANISMO, ou
seja, a necessidade de seduzir e descartar pessoas
compulsivamente. Esse comportamento acomete
homens e mulheres. Na prática, isso é observado
naquelas pessoas que flertam mesmo estando com
o parceiro ao lado, que traem de forma recorrente.

No Donjuanismo, alguns homens que parecem


ser hipersexuais, segundo manifestado por sua ne-
cessidade de ter muitos encontros ou conquistas
sexuais, usam suas atividades sexuais para mascarar
sentimentos profundos de inferioridade. Alguns têm
impulsos homossexuais inconscientes, os quais negam
por meio de contatos sexuais compulsivos com mu-
lheres. Depois de fazer sexo, a maioria dos Don Juans
não se sente mais interessada na mulher. A condição
é às vezes referida como satiríase ou adição sexual.

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AS SETE MÁSCARAS

O que move um narcisista a buscar novos vínculos


é a inveja e não o amor. Imagine que um narcisista
tem uma namorada fixa, mas aparece uma outra
mulher super atraente pela beleza física, que se
destaca profissionalmente, ou seja, apresenta quali-
dades que ele inveja. Diante dessa “provocação”, na
mente do narcisista é como se a outra pessoa o es-
tivesse humilhando por ter tudo isso e exibir, assim
ele começa um projeto de idealização e sedução e
uma busca de incorporação dessas qualidades. Ele
seduz, domina e depois, com raiva e inveja destru-
tiva, desvaloriza essa pessoa, destrói o que inveja.
Para quem está de fora, isso pode ser interpretado
como maldade, mas na visão do narcisista ele está
se protegendo da inveja que não tolera.

Caso o narcisista se mantenha em um casamento,


é muito provável que a relação seja tomada por
traições e inibição sexual, pois essa inibição é um
reflexo da desvalorização do outro. Sendo assim,
narcisistas nunca conseguem ter uma relação está-
vel? Podem sim, mas isso não quer dizer que será
uma relação plena e feliz.

A ligação que pode favorecer o vínculo mais


duradouro com o narcisista pode estar associada
a pessoas com personalidade passivo-dependen-
tes, masoquistas, depressivas e até com pessoas
também narcisistas. O narcisismo acaba exigindo
que o outro seja como se fosse um espelho, que
reflete somente os desejos de si mesmo, por isso

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a passividade do parceiro pode sustentar essa de-


manda. Além disso, o narcisista pode se dar bem
com um parceiro que pareça um “gêmeo idêntico”,
ou seja, outro narcisista, pois juntos acabam se
voltando contra terceiras pessoas. Na literatura,
essas dinâmicas são conhecidas como TRANSFE-
RÊNCIA FUSIONAL, TRANSFERÊNCIA GEMELAR e
TRANSFERÊNCIA ESPECULAR (Zimerman, 2004).

Transferência fusional: imaginar que o outro não


é mais do que uma, indiferenciada, extensão sua e,
portanto, deve estar totalmente à sua disposição,
nunca frustrá-lo, deve adivinhar seus pensamentos
e necessidades, atender suas demandas, etc.

Transferência gemelar: na qual já existe algum


grau de diferenciação, porém o indivíduo narcisista
crê que o outro tem a obrigação de ser exatamente
como ele é. Logo, sempre deve confirmar suas te-
ses, sob o risco de despertar fúria e agressividade.

Transferência especular: o indivíduo narcisista


necessita que o outro espelhe o eu grandioso que
ele exibe. É como se olhar no espelho.

As formas patológicas de narcisismo são mais


facilmente identificadas pela qualidade da relação
desses indivíduos. Uma das tragédias que afeta
essas pessoas é a incapacidade de amar. Sendo
assim, sempre atente para o padrão de relações
anteriores de uma pessoa com a qual você começa

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AS SETE MÁSCARAS

a se envolver, para saber identificar sinais de um


possível relacionamento com alguém doente que
pode destruir sua autoestima, bem como envolver
sua vida nos riscos de uma relação abusiva. Em
síntese, atente para os seguintes sinais:

• Necessidade de admiração e de afirmação do


outro;

• Idealização do outro;

• Propensão a se sentir envergonhado e humi-


lhado pelo outro;

• Desprezo e desvalorização frequentemente


relacionado à inveja;

• Negação da autonomia do outro;

• Controle onipotente do outro;

• Insistência sobre a relação diádica exclusiva


que não permite um terceiro;

• Negação da dependência em relação ao outro;

• Incapacidade de aceitar ajuda do outro.

O narcisismo impede que a pessoa reconheça


em si os problemas de uma relação. O desafio ao
lidar com pessoas narcisistas consiste em fazê-los

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AS SETE MÁSCARAS

pensar em como seria aceitar uma pessoa sem jul-


gá-la e sem explorá-la, amar os outros pelo que são,
sem idealizá-los, e expressar sentimentos genuínos
sem ter vergonha. O narcisista suga e descarta as
pessoas, pois o ideal que busca vorazmente ficou
preso no passado, na ausência de uma ponte para
experimentar o amor.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
NARCISISTA
Nos casos graves, a dinâmica narcisista pode se
tornar mais rígida e inflexível, com maiores queixas
associadas aos padrões de relacionamento, que
causam extrema angústia tanto para o paciente
quanto para as pessoas com quem convive. Na
tabela a seguir constam os critérios diagnósticos
do DSM-5 para o transtorno da personalidade nar-
cisista, ou seja, o narcisismo patológico:

Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou


comportamento), necessidade de admiração e falta
de empatia que surge no início da vida adulta e está
presente em vários contextos, conforme indicado
por cinco (ou mais) dos seguintes comportamentos:

1. Tem uma sensação grandiosa da própria im-


portância (p.ex. exagera conquistas e talentos,

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AS SETE MÁSCARAS

espera ser reconhecido como superior sem


que tenha as conquistas correspondentes).

2. É preocupado com fantasias de sucesso


ilimitado, poder, brilho, beleza e amor ideal.

3. Acredita ser “especial” e único e que pode


ser somente compreendido por, ou associado
a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou
com condição elevada.

4. Demanda admiração excessiva.

5. Apresenta sentimentos de possuir direitos


(i.e., expectativas irracionais de tratamento
especialmente favorável ou que estejam au-
tomaticamente de acordo com suas próprias
expectativas).

6. É explorador em relações interpessoais


(i.e., tira vantagens de outros para atingir os
próprios fins).

7. Carece de empatia: reluta em reconhecer


ou identificar-se com os sentimentos e as
necessidades dos outros.

8. É frequentemente invejoso em relação aos


outros ou acredita que os outros o invejam.

9. Demonstra comportamentos ou atitudes


arrogantes e insolentes.
(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth
Edition (Copyright © 2013). American Psychiatric Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan
e Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 5
PERSONALIDADE BORDERLINE

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
Durante muito tempo, o termo borderline desig-
nava um estado de psiquismo da pessoa que, cli-
nicamente, estivesse na fronteira, no limite entre a
neurose e a psicose. Sendo assim, nesses indivíduos
vamos observar características psicóticas, como
“estranheza”, despersonalização (não se reconhecer,
não lembrar quem é), comportamentos associados
ao que chamamos de transtorno do sentimento de
identidade, pois não é sentida a integração e segu-
rança de ter seu self (eu) unido e essa sensação de
não saber, ou não estar seguro do que se é, deixa os
outros confusos. Apesar de apresentar características
psicóticas, esses indivíduos conservam o juízo crítico
e o senso da realidade.

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AS SETE MÁSCARAS

Indivíduos com fortes traços borderline quase


sempre parecem estar em crise. Mudanças de humor
são comuns. A pessoa pode estar inclinada a dis-
cussões em um momento, deprimida no momento
seguinte e, mais tarde, queixar-se de certa apatia.

A natureza dolorosa de sua vida reflete-se em


atos autodestrutivos repetidos. Essas pessoas po-
dem cortar os pulsos e executar outras formas de
automutilação para obter ajuda ou atenção dos
outros, para exprimir raiva ou para se anestesiar do
afeto que o consome. Para se prevenir de ficarem
sozinhos, pessoas com fortes traços borderline ou
aquelas que têm o Transtorno de Personalidade
Borderline, podem recorrer a cortar os pulsos ou a
outros gestos autolesivos, esperando ser resgatados
pela pessoa a quem estão apegados.

Os episódios de automutilação são apenas um


exemplo de como essas pessoas usam o corpo
como um local privilegiado para comunicar ou
expressar suas emoções, pois seus conflitos geral-
mente estão associados à dinâmica da fase oral e
anal, ou seja, período anterior à linguagem, e isso
favorece somatizações. Nesse sentido, é comum
observar pinturas marcantes no cabelo, excesso
de tatuagens, compulsão alimentar, oscilações de
peso, problemas com autoimagem, maquiagem
exagerada, etc. O corpo da pessoa com dinâmica
borderline sempre fala sobre suas emoções.

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AS SETE MÁSCARAS

É comum a queixa de sensação crônica de va-


zio que acaba sendo preenchido de forma voraz
pelas relações e geralmente existe uma angústia
de separação perturbadora que favorece quadros
de DEPENDÊNCIA EMOCIONAL. Apresentam ins-
tabilidade afetiva, irritabilidade, raiva, ansiedade
intensa e sentimentos crônicos de vazio que são
desesperadores.

Apresentam instabilidades nas suas relações, au-


toimagem, afeto e impulsividade acentuada. Fazem
esforços para evitar o abandono real ou imaginado.
Nas relações costumam apresentar alternância
entre os extremos de idealizar (e amar) demais
uma pessoa e, diante de frustrações, transformam
o amor em ódio e desvalorizam o vínculo de forma
extrema, pois apresentam dificuldade em tolerar
a ambivalência das relações. Acreditam e buscam
algo totalmente e constantemente bom.

Essas pessoas têm dificuldade de percepção de


si mesmos e dos seus estados emocionais internos.
Projetam e buscam no outro coisas que não tole-
ram em si, como raiva. Fazem isso usando de forma
recorrente um mecanismo de defesa chamado
Identificação Projetiva. Por isso, quando estão com
raiva, por exemplo, costumam culpar alguém, se
vitimizar, e acusar o outro de ser mau e instigam a
raiva do outro, provocam, até vê-la sendo expressa
longe de seu self, fora de si. A convivência se torna
um tormento.

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AS SETE MÁSCARAS

Os comportamentos impulsivos ou autodestrutivos


são manifestos por excessos com gasto, sexo, abuso
de substâncias, direção irresponsável, compulsão
alimentar ou recorrência de gestos, ameaças ou
comportamento suicida ou automutilante.

O indivíduo borderline encontra dificuldade em


integrar visões positivas e negativas de si mesmo e
dos outros, levando a uma dissociação entre afetos
positivos e negativos. Assim, se as pessoas fazem
coisas boas, eles amam e idealizam demais; caso
sejam minimamente frustrados, desconsideram
todo amor prévio e odeiam fortemente.

Pessoas borderline vivem em um constante caos


interior que necessita de compreensão profunda e
de psicoterapia para reconhecimento e organização
constante de suas emoções.

HISTÓRIA DE VIDA
Imagine um bebê por volta dos dois anos de ida-
de, ele é rebelde, confronta, diz “não!”, sai correndo,
cai, chora e corre desesperado em busca do colo da
mãe. É uma vontade enorme de ser independente
e negar que precisa de ajuda e, logo em seguida,
um desespero por se ver sozinho e vulnerável.
Quando esse bebê está com raiva ele grita, chora,
morde, se joga no chão, bate em si mesmo, pois
a raiva é intensa e incontrolável. O amor também
ainda é imaturo e pautado em forte dependência. É
nessa fase da vida, numa luta pela independência,

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AS SETE MÁSCARAS

que experimentamos o auge de instabilidade, de


vivências de amor e ódio, típicas de uma dinâmica
borderline normal.

Algumas pessoas nessa fase da vida acabam vi-


venciando traumas como abandono, negligência e
violência física e sexual que piora muito essa insta-
bilidade natural. Uma coisa é você experimentar o
abandono por um tempo tolerável, outra coisa é você
ser de fato abandonado e não ter pra quem voltar ou
como reparar essa experiência traumática. No caso de
violência sexual, a criança vive entre amar e depender
de alguém de dia e de noite odiar porque essa mes-
ma pessoa abusa dela, ou seja, é um tipo de vínculo
que favorece instabilidade, dissociações, confusão
emocional. Na fase da vida em que somos instáveis,
impulsivos e vulneráveis, se o ambiente piorar esses
estados, temos uma grande chance de fortalecer traços
borderline ao ponto de desenvolver um transtorno da
personalidade, nada acontece por acaso.

A ausência de uma relação segura na infância faz


com que seja difícil ter um senso de eu integrado.
Um ambiente violento e desprovido de amparo
adequado eleva os níveis de desconfiança e de
agressividade, como se você vivesse sempre pronto
a atacar.

Por se tratar de uma dinâmica típica de uma


fase primitiva do desenvolvimento emocional, al-
guns teóricos destacam como contribuição para o

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fortalecimento desses comportamentos, o envolvi-


mento excessivo de figuras maternais que estavam
em conflito em relação a permitir que a criança se
separasse, levando a ansiedades com respeito à
separação e ao abandono na criança, que crescia
com traços borderline. Outros focavam a carência de
afeto materna (Gabbard, 2016; McWilliams, 2014).

Pesquisas recentes demonstram que: 1) pessoas


com personalidade borderline em geral vêem suas
relações maternais como distantes, altamente
conflituosas ou sem envolvimento; 2) a falha do
pai em estar presente é um aspecto ainda mais
discriminador nas famílias de origem do que a
relação com a mãe; e 3) as relações perturbadas
com ambos os pais podem ser mais patogênicas,
bem como mais específicas para o Transtorno de
Personalidade Borderline, do que aquelas com
um dos pais em separado. Esses achados sugerem
que a NEGLIGÊNCIA pode ser um fator etiológico
mais significativo do que o envolvimento excessivo
(Gabbard, 2016).

Teorias psicodinâmicas enfatizando a importância


da SEPARAÇÃO e do ABANDONO receberam algu-
ma confirmação a partir de estudos que medem
a prevalência de separações e perdas precoces na
história de infância pessoas com transtorno de
personalidade borderline (Gabbard, 2016).

O ABUSO SEXUAL INFANTIL é considerado um

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fator etiológico importante em cerca de 60% dos


pacientes borderline. Cerca de 25% dos pacientes
com TP Borderline apresentam uma história de
incesto genitor-filho. Além desse trauma, outras
experiências precoces, como negligência por parte
de cuidadores de ambos os gêneros e ambientes
domésticos caóticos ou inconsistente, também
parecem ser fatores de risco significativos para a
dinâmica borderline (Gabbard, 2016).

As experiências de abuso e negligência estão


conectadas com padrões de apego problemáticos.
Na ausência de apego seguro, as crianças têm difi-
culdades para discernir os próprios estados men-
tais ou os de outras pessoas, ou seja, apresentam
prejuízos na capacidade de mentalização.

EMOÇÕES E DEFESAS
A dificuldade de sentir seu eu integrado sugere
que indivíduos com caráter borderline fazem uso
excessivo da defesa de CLIVAGEM (DISSOCIAÇÃO)
dos distintos aspectos de seu psiquismo, que per-
manecem contraditórios ou em oposição entre si,
de modo que eles se organizam como pessoas am-
bíguas, instáveis e exageradamente compartimen-
tada: ora está amorosa, ora tem ataques de raiva.

Sofrem com uma ansiedade difusa e uma sensa-


ção de VAZIO CRÔNICO, que favorece somatizações,
fobias, estados de angústia extrema e actings, ou

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seja, quando você não expressa um sentimento


pela fala e usa atos, ações.

Fazem uso excessivo de um mecanismo de defesa


chamado IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA, através do
qual aspectos intoleráveis do self são projetados
no outro; a outra pessoa é induzida a desempe-
nhar o papel projetado, e as duas pessoas agem
em uníssono. A identificação projetiva é um tipo
de comunicação, em que o processo não acaba na
projeção, pois a pessoa borderline provoca o outro
até este assumir os aspectos projetados. O uso des-
se mecanismo torna as relações sobrecarregadas
e conflituosas.

Como estratégia de defesa, as pessoas com dinâ-


mica borderline da personalidade costumam ver
e transformar a realidade à sua maneira, por isso:

• Trocam o pensamento conceitual pelo uso da


ONIPOTÊNCIA: “Se eu posso tudo, para que
pensar?”.

• O aprendizado com as experiências cede lugar à


ONISCIÊNCIA: “Se eu sei tudo, pra que aprender
com as experiências?”.

• O reconhecimento da parte frágil da perso-


nalidade é substituído pela PREPOTÊNCIA:
“Não é verdade que eu seja uma criança frágil
e desamparada; pelo contrário, quem é assim

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AS SETE MÁSCARAS

são aqueles que tremem de medo de mim”.

• A capacidade de discriminação é trocada por


um estado de CONFUSÃO e AMBIGUIDADE.

• No lugar de uma curiosidade sadia fica uma


curiosidade INTRUSIVA e INVASIVA;

• A inteligência é substituída por uma ESTUPI-


DEZ; o orgulho sadio se transforma em AR-
ROGÂNCIA;

• O juízo crítico adquire uma dimensão psicótica


de um supra-ego, isto é, essa pessoa crê que
pode ditar as próprias leis, mesmo que elas
atentem contra a natureza, tendo crises de
raiva quando os demais não a seguem.

Do ponto de vista psicanalítico, Kernberg (1989)


destacou as seguintes características psicodinâmicas
da personalidade borderline: I. Manifestações ines-
pecíficas de fragilidade do ego: falta de tolerância à
ansiedade, falta de controle dos impulsos e ausência
de canais subliminares desenvolvidos; II. Mudança
em direção ou regressão ao processo de pensamen-
to primário; III. Operações defensivas específicas:
cisão, idealização primitiva, formas incipientes de
projeção, especialmente a identificação projetiva,
negação, onipotência e desvalorização; relações
objetais internalizadas patológicas (Gabbard, 2016;
Kernberg, 1989).

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1. Manifestações inespecíficas de fragilidade do


ego: um aspecto do funcionamento do ego é a
capacidade de retardar a descarga de impulsos e
de modular afetos, como a ansiedade. Os pacien-
tes borderline, na visão de Kernberg (1989), são
incapazes de aglutinar forças do ego para realizar
essas funções, por causa das fragilidades inerentes
inespecíficas. De forma semelhante, eles têm difi-
culdade para sublimar impulsos poderosos e utilizar
sua consciência para orientar o comportamento.

2. Mudança em direção ou regressão ao processo


de pensamento primário: tendem a regredir para
um pensamento similar ao psicótico na ausência
de estrutura ou sob a pressão de afetos intensos.
Contudo, essas mudanças ocorrem, principalmente,
em um contexto em que o teste de realidade está
geralmente intacto.

3. Operações defensivas específicas: a primeira


dessas defesas foi a cisão, a qual Kernberg (1989)
viu como um processo ativo de separação de intro-
jeções e afetos contraditórios entre si. As operações
de cisão na pessoa com organização borderline
da personalidade manifestam-se clinicamente
conforme o seguinte: a) uma expressão alternan-
te de atitudes e comportamentos contraditórios,
com a qual a pessoa não se preocupa e nega; b)
uma compartimentalização de todas as pessoas
do ambiente em grupos de “totalmente boas” e
“totalmente más”, com oscilações frequentes de

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determinado indivíduo entre os grupos; e c) visões


e imagens contraditórias de si mesmo coexistentes
(representações do self) que se alternam, em ter-
mos de predominância, de uma hora para outra e
de um dia para o outro.

4. Relações objetais internalizadas patológicas:


como resultado da cisão, a pessoa com organização
borderline da personalidade não vê os outros como
possuidores de um misto de qualidades positivas
e negativas. Ao contrário, os outros são divididos
em polos extremos e são considerados, nas pala-
vras de um indivíduo borderline, como “deuses ou
demônios”. Essas pessoas não conseguem integrar
os aspectos libidinais e agressivos dos outros, o
que inibe sua capacidade de reconhecer verda-
deiramente as experiências internas dos outros.
Essas percepções dos outros podem se alternar
diariamente entre a idealização e a desvalorização,
o que pode ser muito perturbador para qualquer
um que se relacione com uma pessoa assim. De
forma semelhante, a incapacidade deles de inte-
grar representações positivas e negativas do self
resulta em uma profunda difusão da identidade
(Kernberg, 1989).

RELACIONAMENTO
Uma vez que se sentem tanto dependentes quan-
to hostis, as pessoas com dinâmica borderline de
personalidade têm relacionamentos interpessoais

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tumultuosos. Elas podem ser dependentes das


pessoas com quem têm intimidade e, quando se
frustram, expressam uma grande raiva dirigida às
pessoas mais íntimas. Não conseguem tolerar a
ideia de ficar sozinhas e preferem uma busca fre-
nética por companhia, sem importar o quanto ela
lhe seja insatisfatória.

Para mitigar a solidão, mesmo que por breves


períodos, aceitam um estranho como amigo ou
podem se comportar de forma promíscua. Costu-
mam se queixar de sentimentos crônicos de vazio e
tédio e da falta de um senso de identidade coerente
(difusão de identidade); quando pressionadas, fre-
quentemente reclamam de como se sentem sempre
deprimidas, apesar do turbilhão de outros afetos.

Do ponto de vista funcional, as pessoas com ca-


ráter borderline distorcem seus relacionamentos
tendendo a caracterizar cada parceiro como to-
talmente bom ou totalmente mau. Eles enxergam
as pessoas ou como figuras de ligação afetuosas,
ou como figuras sádicas odiosas que os privam
de suas necessidades de segurança e ameaçam
abandoná-los sempre que se sentem dependentes.

Como resultado dessa cisão, a pessoa boa é ideali-


zada, e a pessoa má, desvalorizada. Deslocamentos
de fidelidade de uma pessoa ou um grupo para
outros são frequentes. Nesse sentido, o primeiro
contato com uma pessoa borderline pode fazer

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você sentir emoções extremas de amor ou ódio,


pois se ela gostar de você tenderá a te idealizar
extremamente; porém se não houver sintonia, ela
não fará esforços para agradar.

Assim, as pessoas com dinâmica borderline de


personalidade ficam totalmente absorvidas no
estabelecimento de relações individuais exclusivas,
sem qualquer risco de abandono. Elas podem exigir
demais dessas relações como se tivessem o direito
de fazê-lo, o que sobrecarrega e aliena os parceiros.

Quando se aproximam de uma pessoa, é ativado


um conjunto de ansiedades duplas. Por um lado,
começam a se preocupar em serem engolfados pela
outra pessoa e perder a própria identidade nessa
fantasia primitiva de fusão. Por outro, experienciam
uma ansiedade que beira o pânico e que está re-
lacionada à convicção de que estão prestes a ser
rejeitados ou abandonados a qualquer momento.

As distorções cognitivas, como o pensamento


quase psicótico também podem ocorrer no contexto
das relações interpessoais. São comuns as percep-
ções de abandono por parte de pessoas amadas
que beiram um delírio, e regressões transferenciais
psicóticas podem surgir quando se apegam demais
aos parceiros. Isso também se processa no contex-
to de psicoterapia e os clínicos que testemunham
essa demonstração caleidoscópica de mudanças
de estados de ego tendem a uma série de reações

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contratransferenciais, incluindo fantasias de resga-


te, sentimentos de culpa, transgressões de limites
profissionais, raiva e ódio, ansiedade e terror, bem
como sentimentos profundos de desamparo (Ga-
bbard, 2016).

Nesse contexto, a sexualidade se torna um lu-


gar de investimento na luta contra o vazio e pode
assumir características extremas, com tendências
sadomasoquistas. É como se a sexualidade com
suas conotações de fusão, penetração, submissão
ou controle não estivesse à disposição do prazer
sexual exclusivamente, mas estaria sendo usado
inconscientemente para preencher a sensação
crônica de vazio.

É incontestável o fato de que, mesmo que haja


uma florida aparência edípica nas atuações de
uma incontida sexualidade, a raiz do estado psicó-
tico borderline reside nas falhas e faltas, ocorridas
durante o desenvolvimento emocional primitivo,
com a consequente formação de vazios, verdadei-
ros “buracos negros”, que estão à espera de serem
preenchidos nas suas relações amorosas e sexuais.

Diante de tamanha instabilidade e intensidade nas


relações, cabe àqueles que convivem com pessoas
com caráter borderline compreender essa comple-
xa dinâmica e auxiliá-los das seguintes maneiras:

- Sempre destacar as partes boas e más de tudo,

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isso ajuda a pessoa borderline a ter uma visão inte-


gral das pessoas, dos fatos e melhora a instabilidade
e impulsividade.

- Para lidar com a angústia de separação e o medo


de abandono, é importante estabelecer regras rí-
gidas de contato, criando uma rotina com regras
rigorosas de tempo, limites do relacionamento,
ritmo de contato via redes sociais, etc. Esses li-
mites devem ser explícitos e claros, pois se forem
seguidos com rigor aliviam o medo de se separar.

- Não supervalorizar a emoção, tanto nos casos


de amor quanto de ódio.

- Usar a razão em situações de extrema emoção,


pois isso ajuda na capacidade de racionalizar.

- Evitar sintonizar com a dinâmica da identifica-


ção projetiva.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
BORDERLINE
Nos casos graves, a dinâmica borderline pode se
tornar patológica, com maior rigidez e inflexibilida-
de, somadas a expressivas queixas associadas aos
padrões de relacionamento instáveis, que causam
extrema angústia tanto para o paciente quanto para
as pessoas com quem convive. Na tabela abaixo
constam os critérios diagnósticos do DSM-5 para

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o transtorno da personalidade borderline:

Um padrão difuso de instabilidade das relações


interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de im-
pulsividade acentuada que surge no início da vida
adulta e está presente em vários contextos, con-
forme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:

1. Esforços desesperados para evitar abandono


real ou imaginado. (Nota: Não incluir comporta-
mento suicida ou de automutilação coberto pelo
Critério 5.)

2. Um padrão de relacionamentos interpessoais


instáveis e intensos caracterizado pela alternância
entre extremos de idealização e desvalorização.

3. Perturbação da identidade: instabilidade acen-


tuada e persistente da autoimagem ou da percep-
ção de si mesmo.

4. Impulsividade em pelo menos duas áreas poten-


cialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso
de substância, direção irresponsável, compulsão ali-
mentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida
ou de automutilação coberto pelo Critério 5.)

5. Recorrência de comportamento, gestos ou amea-


ças suicidas ou de comportamento automutilante.

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6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada


reatividade de humor (p. ex., disforia episódica,
irritabilidade ou ansiedade intensa com duração
geralmente de poucas horas e apenas raramente
de mais de alguns dias).

7. Sentimentos crônicos de vazio.

8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em


controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação,
raiva constante, brigas físicas recorrentes).

9. Ideação paranoide transitória associada a es-


tresse ou sintomas dissociativos intensos.Um padrão
difuso de emocionalidade e busca de atenção em
excesso que surge no início da vida adulta e está
presente em vários contextos, conforme indicado
por cinco (ou mais) dos seguintes:

(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual of


Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright © 2013). American Psychiatric
Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan e Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 6
PERSONALIDADE HISTÉRICA

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
O objetivo do histérico é ser objeto de desejo de
outras pessoas. Sentem desconforto onde não são
o centro das atenções, usando comportamento
sexualmente sedutor para atrair, por isso investem
exageradamente na aparência física e têm pavor
do envelhecimento.

A interação é marcada por dramatização, teatra-


lidade e expressão exagerada das emoções, com
discurso excessivamente impressionista do tipo
que se você pergunta como está seu dia, tende a
responder: “Simplesmente ótimo!”, “Realmente in-
crível!”. Fazem tudo soar mais importante ou mais
grandioso do que realmente é. Exibem reações
de raiva, tristeza ou acusações quando não são o
centro das atenções.

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No histérico, o traço prevalente e mais unanime-


mente reconhecido entre diversos investigadores
é o HISTRIONISMO. Essa palavra, que significa
teatralidade, surgiu na Roma antiga para designar
como histrião o comediante que representava pa-
péis. Portanto, o histrionismo do histérico clássico
é representado por seu caráter afetado, exagerado,
exuberante, como se estivesse fingindo. Sua repre-
sentação sempre varia de acordo com as expecta-
tivas da platéia.

Existem diferenças entre uma pessoa histriôni-


ca e uma histérica, que tem a ver com o nível de
amadurecimento da personalidade. O continuum
que vai do histriônico ao histérico envolve uma va-
riedade de expressões de caráter com uma ordem
de forças e de fraquezas em pessoas situadas ao
longo desse continuum. Sendo assim, a pessoa
histriônica fica situada no pólo mais imaturo (psi-
cótico) do espectro, enquanto a pessoa histérica
ficaria no pólo mais maduro (neurótico).

As pessoas histriônicas tendem a exagerar seus


pensamentos e sentimentos, apresentam acessos
de mau humor, lágrimas e acusações sempre que
percebem não serem o centro das atenções ou
quando não recebem elogios e aprovações. De iní-
cio elas costumam encantar as pessoas com quem
travam conhecimento, principalmente devido ao
seu entusiasmo, à aparente franqueza e fragilidade
ou, simplesmente, devido à exímia capacidade de

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sedução. Tais qualidades, contudo, perdem sua for-


ça à medida que esses indivíduos passam a exigir
continuamente o papel de protagonista.

Representar papéis é a especialidade mais efi-


ciente na histeria, assim, com muita propriedade
representam aquilo que mais impressiona os espec-
tadores. Vem daí a ideia de que, entre tais papéis,
essas pessoas costumam ser pseudo-hiper-sexuais,
retrato superficial de sua pseudo-hiperfeminilidade
ou pseudo-hipermasculinidade.

No histórico dessas pessoas observa-se privação


de cuidados maternos durante a fase oral e dificul-
dade de resolver a situação edípica e desenvolver a
sexualidade de forma madura. Assim, são pessoas
altamente sexualizadas e sensuais que ficam num
jogo de sedução eterno, não com o objetivo final
de atingir o ato sexual e sim para obter atenção.
Assim, o histérico é como uma criança pequena,
medrosa, carente, tentando lidar, da melhor maneira
possível, com um mundo dominado por pessoas
que julgam estranhas e poderosas.

As mulheres histéricas acabam associando poder


à figura masculina e se posicionam como “a eterna
menininha do pai”, pois nesse contexto, apesar da
sensualidade sedutora, as pessoas histéricas apre-
sentam problemas comuns com a sexualidade. Em
casos mais graves, nas mulheres é comum anor-
gasmia, inibição sexual e nos homens, impotência.

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Historicamente, a personalidade histérica tem


sido associada ao gênero feminino. Essa tendên-
cia a pensar o diagnóstico apenas em relação às
mulheres, provavelmente se relaciona mais com
estereótipos culturais acerca do papel sexual do
que à psicodinâmica. Outro contribuinte evidente
para a tendência esmagadora de ver a persona-
lidade histérica como uma questão exclusiva de
mulheres é o fato de que, a literatura sobre esse
transtorno foi escrita em sua maioria por homens
(Chodoff e Lyons, 1958; Luisada et al., 1974 apud
Gabbard, 2016).

Apesar da associação predominante entre per-


sonalidade histérica e feminilidade, essa dinâmica
foi extensamente documentada em homens. As
descrições de homens histéricos caem em dois
subtipos gerais: o hipermasculino e o passivo/
efeminado. Aqueles que se incluem no subtipo
hipermasculino são diretamente análogos à his-
térica clássica naquilo que os torna caricaturas da
masculinidade: homens fortes, másculos, “pega-
dores”, etc. Eles podem ser “Don Juans” que agem
sedutoramente em relação a todas as mulheres.
O subtipo de homens passivos/efeminados pode
incluir heterossexuais passivos e impotentes que
temem ou evitam as mulheres.

Em um estudo com 27 homens com transtorno


da personalidade histérica, Luisada e colabora-
dores (1974 apud Gabbard, 2016) constataram

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que a maioria era heterossexual, mas que todos


tinham alguma forma de relacionamento sexual
perturbado.

Independente do gênero, a pessoa com fortes


traços histéricos vive envolvida numa atmosfera
dinâmica que inclui sedução, promiscuidade, ciú-
me sexual, anseio pelo amor ideal, excentricidade
e problemas relacionados à sexualidade.

HISTÓRIA DE VIDA
Na dinâmica da histeria, em ambos os gêneros,
observa-se que pessoas com esse tipo de caráter
tendem a encontrar dificuldades em duas das
clássicas fases psicossexuais de desenvolvimen-
to: elas experimentam relativa privação maternal
durante a fase oral e têm dificuldade em resolver
a situação edípica e desenvolver uma identidade
sexual definida.

A tendência à fixação nessas fases auxilia na di-


ferenciação entre o perfil histérico e o histriônico,
sendo que este último encontra maior dificuldade
nas fases mais precoces, por isso é mais imaturo
e impulsivo; enquanto o histérico neurótico está
fixado, primariamente, na fase edípica e dispõe de
defesas mais maduras.

No caso da pessoa organizada de forma mais


primitiva, a falta de cuidado maternal a leva a se

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AS SETE MÁSCARAS

voltar para o pai, de modo a obter gratificação das


necessidades de dependência. Ela logo aprende
que a sedução e as manifestações exibicionistas e
dramáticas das emoções são necessárias para ganhar
a atenção do pai. Conforme amadurece, ela apren-
de que deve reprimir sua sexualidade genital para
permanecer a “garotinha do papai”. Muitas vezes se
engajam em um comportamento sexual promíscuo
que é, no fim, insatisfatório, pois a fantasia sexual
serve apenas como um substituto para o acolhimento
e segurança equivalente à função do seio materno,
que a pessoa inconscientemente anseia e do qual
sentiu muita falta na infância.

A pessoa com a variante mais neurótica (madura)


“negociou” a fase oral de desenvolvimento com um
grau razoável de sucesso. Ela também está desa-
pontada com a mãe, mas o desapontamento ocorre
em uma fase mais avançada do desenvolvimento:
a fase fálica, imediatamente anterior à situação
edípica integral, a criança deve chegar a um acordo
com o fato de que ela não pode possuir fisicamente
sua mãe como seu pai pode. O objetivo do indi-
víduo histérico é ser o objeto de desejo de outras
pessoas. No caso da garotinha, ela pode sentir que
perdeu para a mãe e fará qualquer coisa para se
tornar o objeto de desejo do pai. Muitas vezes, isso
pode levar a uma falsa adaptação do self, na qual
ela suspende sua verdadeira natureza para tentar
se tornar o que os outros querem (Gabbard, 2016;

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AS SETE MÁSCARAS

Kernberg, 1995; McWilliams, 2014).

O típico comportamento teatral exagerado das


pessoas histéricas muitas vezes se relaciona a uma
experiência central no início da infância que envol-
veu o fato de não serem reconhecidas. Em outras
palavras, pais que eram muito absorvidos em si
mesmos, muito deprimidos ou muito ressentidos
em relação às suas necessidades de desenvolvimen-
to infantil podem ter deixado a criança de lado e
não ter reconhecido a experiência afetiva interna
dela. A esse respeito, os cuidadores podem não ter
fornecido a função continente necessária para aju-
dar a criança a processar e a metabolizar estados
de afeto opressivos e assustadores (Gabbard, 2016;
Kernberg, 1995; McWilliams, 2014).

Muito da dinâmica de desenvolvimento que se


aplica a pessoas do sexo feminino se aplica de
forma semelhante a pessoas do sexo masculino.
Enquanto as mulheres histéricas são frequente-
mente “a menina do papai”, muitos homens histé-
ricos foram “os meninos da mamãe”. Eles podem
reagir a temas de separação-individuação em sua
infância erotizando o objeto ausente (Bollas, 2000
apud Gabbard, 2016).

Tão logo o objeto maternal esteja distante, eles


imaginam suas mães com outro homem que é
preferido em relação a eles. Por essa razão, muitos
homens histéricos do tipo “Don Juan” são atormen-

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tados por uma combinação de medos de separação


e de exclusão (Lubbe, 2003). Isso pode levá-los a
comportamentos hipermasculinos, nos quais eles
se sentem triunfantes sobre seus rivais sexuais ao
seduzirem mulheres sistematicamente, muitas
das quais já estão envolvidas com outros homens.
Como sua contraparte feminina, o homem histérico
deseja ser o objeto do desejo e pode ir de relação
em relação procurando a substituta perfeita para
sua mãe, descobrindo apenas que nenhuma delas
fornece a afirmação especial de que ele precisa
(Lubbe, 2003; McWilliams, 2014). É uma busca
sem fim, pois o objeto de desejo está aprisionado
no passado, na paixão e desejo infantil pela mãe,
que é proibido.

Outras adaptações também são possíveis. Alguns


homens com configuração histérica escolhem um
estilo de vida celibatário, como o sacerdócio, de
maneira a manter, inconscientemente, uma leal-
dade inabalável à mãe. Outros garotos lidam com
a percepção da sua adequação genital, ao se entre-
garem a atividades hipermasculinas solitárias, como
o fisiculturismo. Assim, eles podem se reassegurar
em relação ao fato de serem “homens reais”, não
tendo de se sentir inferiores em qualquer aspecto
(Gabbard, 2016).

Os homens histéricos homossexuais podem ter


experienciado uma situação edípica negativa, na
qual suas mães foram percebidas como rivais na

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busca da atenção do pai; eles podem procurar


homens mais velhos para preencher seus anseios
por um pai a quem podem se sentir próximos (Ga-
bbard, 2016; Kernberg, 1995). De fato, Isay (2009)
apontou como meninos que se sentem atraídos
por outros garotos podem experienciar seus pais
se distanciando deles por não corresponderem às
suas expectativas.

Nenhuma discussão sobre histeria estaria com-


pleta sem referência ao histórico de fantasias de
INCESTO e à SEDUÇÃO INFANTIL. Freud original-
mente acreditava que muitos dos indivíduos histé-
ricos haviam sido seduzidos por seus pais, porque
ele ouvia com muita frequência relatos como esses
de seus pacientes. Mais tarde, ele se convenceu de
que muitos desses relatos eram fantasias decorren-
tes de desejos edípicos. Em meio ao furor sobre
se a visão de Freud estaria correta, muitos clínicos
adotaram uma posição “ou isso/ou aquilo”. Ou as
meninas são realmente seduzidas ou elas apenas
fantasiam a sedução. Essa dicotomia é ainda mais
complicada pelo fato de que muitas mulheres que
foram vitimizadas pelo incesto, ainda assim têm
fantasias poderosas e anseios em relação àquele
que perpetrou o incesto. Mesmo mulheres que
jamais foram violadas pelo pai podem continuar
a ter desejos sexuais poderosos conscientes ou in-
conscientes em relação a ele, à imagem idealizada
que ele representa e que inunda suas fantasias

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AS SETE MÁSCARAS

sexuais na vida adulta. Por fim, há um meio termo


considerável em que interações erotizadas ocorrem
e que não resultam em incesto explícito, mas que
realmente encorajam fantasias (Gabbard, 2016;
Kernberg, 1995; Nasio, 2007).

Sobre a questão do incesto, uma história de in-


cesto real é muito mais provável de ser encontrada
nas pessoas com perfil histriônico. Essas pessoas
podem passar a vida adulta repetindo o trauma
original ao buscar homens que são proibidos de
uma forma ou de outra, como terapeutas, homens
casados, professores ou chefes. Elas podem tentar,
inconscientemente, dominar de forma ativa um
trauma passado experienciado de forma passiva
ao ser a pessoa que o inicia, em vez da pessoa que
se submete de forma passiva (Gabbard, 2016; Ker-
nberg, 1995).

A pessoa histérica de nível mais alto é muito


menos propensa a apresentar uma história de in-
cesto explícito, mas pode ter experienciado algo
ao qual ela percebeu como uma relação especial
com o pai. As mulheres histéricas, por exemplo,
frequentemente têm um pai que era infeliz com
sua esposa e que se voltou para a filha para obter
o preenchimento e a gratificação que não era pos-
sível no casamento. Essa pessoa pode receber uma
mensagem implícita de que ela deve permanecer
leal ao pai para sempre, de forma a resgatá-lo de um
casamento infeliz. Pais nessa situação podem dar

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sinais sutis ou mesmo explícitos de desaprovação


toda vez que suas filhas demonstram interesse em
outros homens. Nesse cenário, a mulher histérica
se encontra rodeada por uma dinâmica similar ao
incesto, só que de uma forma atenuada. Pessoas
histéricas com essas dinâmicas e configurações
familiares podem se ver incapazes de abandonar
sua dependência do pai e de seguir a própria vida
(Nasio, 2007).

Como exemplo, ilustro uma vinheta clínica, ba-


seada em fatos reais adaptados, em que uma
paciente atendida com quadro de depressão
em decorrência da morte de sua mãe relatou
que, em sua história de vida, sempre foi a
“princesa do seu pai”. Sua mãe era passiva e
inexpressiva, com o humor cronicamente de-
primido. A paixão entre pai e filha era explícita
e verbalizada a todos que quisessem ouvir.
Tudo mudou quando a paciente menstruou
e sofreu as mudanças típicas da puberdade,
pois abruptamente e, sem uma explicação,
seu pai passou a tratá-la com frieza e inicia-
ram um ciclo de brigas constantes. Paralela-
mente, a paciente começou a desenvolver um
quadro de compulsão alimentar e aos poucos
tornou-se obesa. Ela alegava que, caso tivesse
interesse, ela conseguiria emagrecer, mas a
ideia de ser magra e atraente lhe causava

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AS SETE MÁSCARAS

muita angústia. A interpretação para essa


dinâmica sugere que a “paixão entre pai e
filha” causou muita perturbação quando a
filha tornou-se uma mulher. As fantasias de
incesto poderiam vir à tona com toda força
e ambos decidiram inconscientemente se
afastar (no caso do pai); e se tornar “menos
desejável e atraente” (no caso da filha). A
paciente se envolveu como amante em vá-
rias relações, ficou anos sem falar com seu
pai e tudo piorou com a perda da mãe, que
provocou sua culpa por ter assumido seu
papel ao longo da vida. Essa paciente tinha
fortes características histéricas, exibia uma
felicidade radiante mesmo com depressão
grave, extremamente vaidosa, sedutora e
com uma necessidade extrema de agradar a
todos. Esse caso demonstra como as “paixões
infantis”, comuns na fase do Complexo de
Édipo, podem determinar muitos traços de
personalidade, bem como os padrões de re-
lações, além de envolver conflitos que podem
provocar culpas crônicas que potencializam
quadros depressivos.

EMOÇÕES E DEFESAS
O estilo cognitivo é uma característica do funcio-
namento intrapsíquico que liga os transtornos da
personalidade histérica e histriônica. Shapiro (1965)

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AS SETE MÁSCARAS

identificou o estilo cognitivo típico de pacientes


com esses transtornos da personalidade como ge-
ralmente “global, relativamente difusos e carentes
de nitidez, sobretudo em detalhes significativos’’.
Em uma palavra, é impressionista” (p.111). Quando
um terapeuta pergunta a um paciente com esse
estilo cognitivo: “Como foi seu fim de semana?”, a
resposta provavelmente seguirá a linha: “Simples-
mente ótimo” ou “Realmente terrível”, sem qualquer
detalhe que apoie a resposta. O mesmo tipo de
resposta provavelmente se aplicará a figuras signi-
ficativas na vida do paciente. Quando foi solicitado
a uma paciente histérica para que descrevesse seu
pai, ela respondeu: “Ele é simplesmente demais!”.

Esse estilo cognitivo global e impressionista está


intimamente associado ao uso de mecanismos de
defesa por pessoas histéricas e histriônicas (Horowitz,
2001; McWilliams, 2014). Esses indivíduos inibem o
processamento de informações de modo a mitigar
emoções fortes. REPRESSÃO, NEGAÇÃO, DISSOCIA-
ÇÃO e SUPRESSÃO são estratégias defensivas que
também reduzem a excitação emocional. Essas
pessoas podem dizer “não sei” quando o que real-
mente pensam é “não devo saber” (Horowitz, 2001).

Nos primeiros textos sobre histeria, esse embota-


mento da conexão emocional era frequentemente
descrito como la belle indifférence (a bela indiferen-
ça), referindo-se à aparente falta de preocupação
das pacientes do sexo feminino em relação aos

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sintomas conversivos delas (Gabbard, 2016). O estilo


cognitivo histérico ou histriônico pode contribuir
para a falência em integrar ou reconhecer impli-
cações, consequências e detalhes da experiência.

Em contrapartida, essa inibição da excitação


emocional geralmente oscila com demonstrações
emocionais exageradas, elaboradas para suscitar
respostas de outras pessoas. Os histéricos/histriô-
nicos empregam sua atenção globalmente e de
forma difusa, mas muito de seu foco é sobre se
outras pessoas estão dando atenção a eles ou não.

Os ESTADOS DISSOCIATIVOS, como SINTOMAS


CONVERSIVOS, foram frequentemente classifica-
dos como fenômenos histéricos, embora sejam
encontrados em pacientes com uma variedade de
diagnósticos. A manifestação mais extrema de dis-
sociação é o transtorno dissociativo de identidade,
o qual envolve tanto a CISÃO – no sentido em que
diferentes representações do self são mantidas de
forma separada – quanto a REPRESSÃO – no sentido
em que a personalidade primária normalmente não
tem memória dos outros perfis de personalidade
(McWilliams, 2014)..

As reações das pessoas histriônicas a suas explo-


sões emocionais se parecem com a dissociação e o
transtorno dissociativo de identidade, ainda que de
uma forma atenuada. Esses indivíduos muitas vezes
têm poucas recordações de suas ações, as quais

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AS SETE MÁSCARAS

dizem parecer como que de “outra pessoa”. Uma


paciente histriônica que também tinha sintomas
dissociativos descobriu cortes em seu seio esquer-
do, mas ela não conseguia explicar como isso havia
acontecido. Logo após essa descoberta, seu marido
a encontrou no banheiro às 3h da madrugada; ela
estava em um estado dissociado, cortando seu seio
esquerdo suavemente com uma lâmina de barbear.
Nesses estados repetia: “Devo sofrer como minha
mãe sofreu”. Recentemente, a mãe dela havia se
submetido a uma cirurgia decorrente de um câncer
de mama. Essa paciente também ilustra o meca-
nismo de defesa de IDENTIFICAÇÃO, outra defesa
histérica comum (Gabbard, 2016).

Um mecanismo de defesa final que pode ser


encontrado tanto em pessoas histéricas como nas
histriônicas é a própria EMOCIONALIDADE. Tornar-se
intensamente emocional, ainda que de forma rasa
e superficial, pode gerar uma defesa contra afetos
mais profundos e sinceros que a pessoa deseja
evitar (MacKinnon et al., 2006). A emocionalidade
automática, com o estilo cognitivo impressionista
e global, serve para evitar que a pessoa fique em
contato com quaisquer estados de afeto genuínos
ou atitudes em relação ao self e aos outros.

Como fora dito anteriormente, a histeria se en-


contra na faixa neurótica do desenvolvimento da
personalidade. Sendo que essa classificação deman-
da uso de defesas maduras, como a REPRESSÃO.

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Além disso, possuem outra característica marcante


na dinâmica neurótica que é a presença de um
superego rigoroso e crítico.

Essas pessoas buscam satisfações orais, atenção


e proximidade amorosa e erótica. Se movem mais
em direção às pessoas do que para longe delas.
As mulheres costumam ver homens como fortes
e excitantes, e vêem a si próprias como fracas e
insignificantes, uma vez que consideram o poder
um atributo inerentemente masculino, admira os
homens, mas também - em geral de modo incons-
ciente - os odeia e inveja. Essas mulheres teriam
aprendido a realizar uma equivalência entre falta
de poder - delas mesmas e de suas mães - e falta
de pênis - uma angústia comum na Fase Fálica.

No campo afetivo, são conhecidos pelos altos


níveis de ansiedade e pela vulnerabilidade tanto à
culpa quanto à vergonha. Sua autoestima é em geral
dependente da obtenção repetitiva da sensação de
que têm status e poder quanto às pessoas das quais
têm medo (aqueles do sexo oposto, ou, no caso de
indivíduos homossexuais, aqueles do próprio gênero,
que são vistos como poderosos). “Quando me sinto
forte, me sinto como um homem e não como uma
mulher forte” - essa seria a sensação vista do ponto
de vista feminino (McWilliams, 2014).

Assim, vêem como única potência na feminili-


dade a capacidade de ser sexualmente atraentes.

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AS SETE MÁSCARAS

Investem exageradamente na própria aparência


e têm pavor do envelhecimento bem acima do
comum. O comportamento de “buscar atenção”
dessas pessoas tem o significado inconsciente de
buscar uma garantia de que são aceitáveis - em
particular uma reafirmação de que o corpo de seu
próprio gênero é apreciado, ao contrário do que
aconteceu na sua infância.

RELACIONAMENTOS
Um encontro marcado por sedução extrema, um
certo nível de euforia e desejo é o que uma pessoa
com caráter histérico desperta nas pessoas com
quem se envolve. Quando esse estado de atração
culmina num encontro íntimo sexual, a frustração
é quase inevitável, pois na histeria o foco do prazer
está na sedução e não na sexualidade genital, isso
é coisa de “adulto” e quando é feito, torna-se car-
regado de culpas, inibições e outros comprometi-
mentos da sexualidade. A sensação é de que você
foi enganado, literalmente uma bela e encenada
“propaganda enganosa”.

Muitas mulheres histéricas abordam os homens


tentando se tornar o que pensam que um homem
mais desejaria que elas fossem, e os homens acabam
desapontados porque sentem que foram enganados
pela apresentação falsa que a mulher fez de si mesma.

Bollas (2000) observou que pessoas histéricas

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AS SETE MÁSCARAS

tendem a erotizar uma narrativa de vida na qual


elas são o objeto erótico de alguém. A ocorrência
de múltiplos parceiros amorosos, típico dos trans-
tornos da personalidade histérica e histriônica, com
frequência se desvela em um padrão fixo: o parceiro
amoroso escolhido jamais será o certo e é, por isso,
dispensável. Dessa forma, as mulheres se guardam
para a figura internalizada do pai, pois enquanto
garotinhas, elas frequentemente idealizaram a
figura paterna, talvez como o único homem que
valha a pena ser possuído. Esse apego intenso levou
a sentimentos de rivalidade em relação à mãe e a
um desejo ativo de substituí-la.

Nas relações amorosas, essa rivalidade com a fi-


gura feminina ou masculina pode se tornar o foco
motivacional que impulsiona a pessoa histérica a
buscar parceiros comprometidos, pois parte do
prazer está em se sentir triunfando sobre essa figura
materna/paterna. Esse conflito também é respon-
sável pela atração por relações triangulares. Assim
reitera Gabbard (2016) que as evidências de uma
dinâmica neurótica no paciente histérico podem
advir, alternativamente, de padrões persistentes
de relação triangular, como se apaixonar por ho-
mens casados, como rivalidade intensa com outras
mulheres, etc.

No decurso da terapia ou da análise, muitas pa-


cientes histéricas recordam fantasias dessa nature-
za. Se elas percebem que se atribui a seus irmãos
um status especial em relação ao pai por serem
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AS SETE MÁSCARAS

do gênero masculino, elas também podem desen-


volver um ressentimento profundo e tornarem-se
altamente competitivas em relação aos homens
(McWilliams, 2014; GABBARD, 2016).

Toda a sexualidade pode ser matizada com signi-


ficados incestuosos por causa do apego edípico à fi-
gura paterna. As mulheres também podem escolher
parceiros inapropriados como uma defesa adicional
contra a desistência de um anseio edípico. Essas
dinâmicas são muitas vezes encobertas, entretanto,
e com frequência apenas se tornam claras depois
de uma avaliação cuidadosa (McWilliams, 2014).

Embora algumas pacientes histéricas possam


ter apegos conscientes e explícitos em relação ao
pai, outras reprimem essa dimensão do desen-
volvimento. A experiência consciente em relação
ao pai, pode ser matizada com a raiva como uma
defesa contra seu anseio subjacente. De modo
semelhante, elas podem ser desconhecedoras de
seus sentimentos de rivalidade em relação à mãe,
a quem conscientemente amam.

Em mulheres homossexuais, pode haver uma


situação de Édipo negativa – em outras palavras,
elas sentem apego intenso por suas mães, enquanto
desprezam seus pais como um rival que sempre
pareceu vencer a disputa pela afeição da mãe. Como
resultado, elas podem ter uma série de amantes
do sexo feminino às quais são diferentemente

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AS SETE MÁSCARAS

apegadas e, por essa razão, não estão disponíveis


de fato (Gabbard, 2016).

Embora a anorgasmia tenha sido classicamen-


te associada à histeria, a sintomatologia sexual,
na realidade, é muito mais variada em pacientes
com transtorno da personalidade histriônica ou
histérica. Alguns podem ter funcionamento sexual
relativamente assintomático, mas são privados de
qualquer experiência externa autêntica de amor
ou de intimidade durante as relações sexuais. São
aquelas pessoas que alegam fazer sexo pelo outro,
que não sentem tanto interesse, ou que usam a
sexualidade com a intenção de manter a atenção
que recebem (Gabbard, 2016; McWilliams, 2014).

As partes sexuais do corpo podem ser exibidas por


meio de formas provocativas de se vestir, mesmo se
houver pouca excitação erótica associada ao com-
portamento provocativo. De fato, uma ocorrência
comum nas pessoas histriônicas e histéricas é a
surpresa quando outros respondem a elas como
se fossem sedutoras ou sexualmente provocativas.
Em outras palavras, há uma dissociação entre o
comportamento sexualizado explícito inconsciente-
mente elaborado para atrair a atenção e a sintonia
empática sobre como isso afeta os outros (Gabbard,
2016; McWilliams, 2014). Algumas motivações para
essas pessoas se exibirem de forma provocativa e
recorrente nas redes sociais pode ser justificada
por uma dinâmica histérica, por ser um ambiente

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AS SETE MÁSCARAS

ideal de admiração e de obtenção de atenção com


base na sua imagem provocativa.

As pessoas histéricas normalmente apresentam


problemas que giram em torno da sexualidade genital
em si mesma ou das dificuldades com as relações
sexuais em suas vidas. Embora a mulher histérica
classicamente tenha sido descrita como “frígida” ou
não orgásmica, ela pode também ser promíscua ou
orgásmica por inteiro, mas basicamente insatisfeita
com suas relações sexuais. Ela pode ser incapaz de
ter um compromisso amoroso ou sexual com um
homem que é apropriado para ela e, em vez disso,
apaixonar-se desesperadamente por um homem
que não está disponível. Outro problema recorrente
para a pessoa histérica é que os homens muitas vezes
interpretam mal as suas ações como investidas se-
xuais, e ela é continuamente surpreendida com essa
má compreensão – um fato que reflete a natureza
inconsciente de sua sedução (McWilliams, 2014).

A sexualidade é marcada por relações triangulares,


há incidência muito grande de interesse por pes-
soas “impossíveis”, como pessoas casadas. Além de
ser comum relações e fantasias com triangulação
que remetem à situação edípica. Assim, podem ter
vários parceiros, nenhum suficientemente bom,
pois existe um «pacto» inconsciente de amor e
fidelidade à imagem do pai/mãe, mantendo-se
fixados num amor infantil e impossível, carregado
de culpa e vergonha.

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AS SETE MÁSCARAS

Em síntese, seus relacionamentos tendem a ser


superficiais, pois raramente estão cientes de seu ver-
dadeiro sentimento e não conseguem explicar suas
motivações para um relacionamento. O resultado
disso é uma eterna dúvida sobre os seus sentimentos
em relação ao parceiro(a), bem como cultivam uma
eterna insatisfação. Existe uma probabilidade gran-
de da relação evoluir para a promiscuidade, devido
às fantasias triangulares, bem como para sustentar
essa eterna busca da “pessoa perfeita”.

As pessoas interessadas em se envolver com


uma pessoa com dinâmica histérica devem ser
sensíveis à ferida narcísica inerente a essa crise do
desenvolvimento e ajudá-los a ver que eles têm
profundidade para além da aparência física e do
aspecto sexualmente desejável, valorizar outras po-
tencialidades que também podem garantir atenção
e amor, além da sexualidade.

No campo da sexualidade, conhecendo as profundas


fantasias edípicas dos histéricos, é importante usar
esse ambiente para contemplar fantasias edípicas,
sem críticas ou sentimentos de culpa.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
HISTRIÔNICA
Nos casos graves e patológicos, a dinâmica his-
triônica pode se tornar mais rígida e inflexível, com

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AS SETE MÁSCARAS

maiores queixas associadas emocionalidade e busca


de atenção em excesso, que causam extrema an-
gústia tanto para o paciente quanto para as pessoas
com quem convive. Na tabela abaixo constam os
critérios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno
da personalidade histriônica:

Um padrão difuso de emocionalidade e busca de


atenção em excesso que surge no início da vida
adulta e está presente em vários contextos, con-
forme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:

1. Desconforto em situações em que não é o


centro das atenções.

2. A interação com os outros é frequentemente


caracterizada por comportamento sexualmen-
te sedutor inadequado ou provocativo.

3. Exibe mudanças rápidas e expressão super-


ficial das emoções.

4. Usa reiteradamente a aparência física para


atrair a atenção para si.

5. Tem um estilo de discurso que é excessiva-


mente impressionista e carente de detalhes.

6. Mostra autodramatização, teatralidade e


expressão exagerada das emoções.

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AS SETE MÁSCARAS

7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado


pelos outros ou pelas circunstâncias).

8. Considera as relações pessoais mais íntimas


do que na realidade são.

(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright © 2013). American
Psychiatric Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan e
Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 7
PERSONALIDADE
OBSESSIVA

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
Pessoas obsessivas costumam isolar o afeto e
conduzir sua vida racionalmente, pois têm certa
fobia em demonstrar sentimentos. Procuram seguir
um roteiro “correto”, perseguidos por um ideal de
perfeição que os atormenta. Por mais que dêem
sempre o melhor de si, nunca estão satisfeitos.

É comum a preocupação com detalhes, regras,


listas, organização ou horários a ponto de o objetivo
principal da atividade ser perdido. O perfeccionismo
pode interferir na conclusão de tarefas, pelo apego
a detalhes ou ideia de que não fizeram o suficiente.
Se autossabotam e procrastinam para não encarar
um possível fracasso de fazer algo “imperfeito”. Na

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AS SETE MÁSCARAS

busca pela perfeição, o obsessivo costuma seguir


roteiros idealizados e isso acaba limitando sua
criatividade.

São dedicados ao trabalho e à produtividade


em detrimento de atividades de lazer e amizade.
Relutam a delegar tarefas ou trabalhar com outras
pessoas a menos que elas se submetam à sua for-
ma exata de fazer as coisas. Isso revela uma dra-
mática necessidade de controle de tudo e todos,
nada pode dar errado, estão sempre prevendo ou
antecipando “catástrofes” e aparentemente vivem
mais num futuro ameaçador que no presente.
Assim, ansiedade, insônias e medo da morte são
dramas comuns.

Tendem a ser apegados ao dinheiro e têm dificul-


dade em descartar objetos usados e sem valor. O
apego se estende a pensamentos inflexíveis, por isso
são teimosos e têm pavor de depender de alguém.
Procuram desempenhar suas atividades sozinhos
e resistem a delegar tarefas, o que denota uma
necessidade crônica de centralização e controle
na vida profissional e íntima.

Na história dessas pessoas há relatos de cuida-


dos rígidos, extremamente moralistas, cobranças
ou cuidados precários quando eram dependentes,
especialmente na Fase Anal, em que naturalmente
ideias de ordem e controle são fortemente moldadas.

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AS SETE MÁSCARAS

Assim, o obsessivo faz tudo certinho para evitar


ser criticado, prioriza autopuniçäo e autocobrança
para não ser punido por alguém externo, controla o
ambiente externo para buscar um controle interno,
pois vive em vigilância para não deixar escapar ne-
nhum sentimento; reluta em pedir ajuda para não se
expor nem se tornar dependente, pois demonstrar
qualquer descontrole emocional é sinal de fraqueza.

Viver em função da perfeição é um estado cons-


tante de escravidão, pois perfeição é a ilusão pre-
ferida daqueles que não aceitam que faz parte da
natureza humana ter limitações.

HISTÓRIA DE VIDA
A história de vida de pessoas com funcionamento
psicológico obsessivo e compulsivo envolve a convi-
vência com pais que estabeleceram altos padrões
de comportamento e esperaram que os filhos se
conformassem com tais exigências. Esses cuidado-
res tendem a ser rígidos e consistentes quanto a
recompensar um comportamento e punir uma má
conduta. Quando são pais amorosos, criam crianças
em vantagem emocional, cujas defesas as levam a
uma conduta crônica de devoção e obediência aos
pais e sua moral internalizada. Em termos culturais,
esse é o estilo de criação na cultura americana, que
criam pessoas que exigem muito de si mesmas e
têm uma boa história de realização de metas (Mc-
Clelland, 1961; McWilliams, 2014).

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AS SETE MÁSCARAS

Quando os cuidadores são exageradamente exi-


gentes, demandam demais de forma precoce ou
são muito condenatórios, não só de um comporta-
mento inaceitável, mas também de fantasias, pen-
samentos e sentimentos associados, as adaptações
obsessivas e compulsivas de suas crianças podem
fortalecer traços obsessivos rígidos e determinantes
na formação da personalidade.

O que é notável em relação à história de vida de


pessoas obsessivas e compulsivas é que os assuntos
ligados ao CONTROLE são centrais em suas famílias
de origem. Nesse sentido, é provável que tenha
havido durante o período da fase anal um padrão
de educação rígido quanto a hábitos de higiene,
bem como desqualificação de seus fluidos corporais,
com uma atmosfera de nojo e reprovação que exige
extremo controle. Logicamente que essa conduta
moralista dos pais não estaria circunscrita à fase
anal, mas seria persistente, e o ambiente familiar
provavelmente manteve-se rígido e moralista em
fases anteriores e posteriores. Assim, como des-
creve McWilliams (2014) é provável, por exemplo,
que a mãe tenha sido rígida quanto aos hábitos
alimentares da criança em horários rigidamente
programados (alimento rigidamente dado a cada
03 horas, por exemplo), que tenha condenado e
proibido a masturbação ou qualquer conversa sobre
sexualidade, insistindo em falar sobre o comporta-
mento sexual-padrão e convencional, puniu a con-

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AS SETE MÁSCARAS

versa livre, a criatividade de seu filho, entre outras


condutas. Nesse contexto, o pai seria aquela figura
rígida com o bebê e autoritário na idade escolar.

No que se refere à angústia de separação, expe-


rienciada tanto na fase oral quanto na fase anal,
observa-se que pais superprotetores atrapalham
a criança nessa etapa, porque elas necessitam
experimentar certos riscos necessários a fim de
desenvolver um senso de limite do self, de forma
que tais pais têm um papel importante no pensa-
mento mágico e onipotente observado em pessoas
obsessivas e compulsivas, já que eles não possuem
esse limite (Meares, 2001).

A cultura familiar muda a cada época e depen-


dendo de um conjunto de valores vigentes. Sendo
assim, McWilliams (2014) descreve um modelo
mais conservador de família, da época dos obses-
sivos freudianos, que criavam seus filhos dentro
de um sistema obsessivo-compulsivo, em que o
controle podia ser expresso em termos moralizan-
tes e indutores de CULPA, como no caso de “Estou
decepcionado por você não ter sido responsável o
bastante para alimentar o cachorro na hora certa”
ou “esperava um comportamento mais maduro
de uma garota da sua idade”. Nesses modelos de
criação, os pais explicam com as próprias bases do
que é certo (“Não gosto de castigar você, mas é para
o seu próprio bem”). O comportamento produtivo
é em geral associado à virtude; autocontrole e re-

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cusa de gratificação são idealizados. Nos casos de


padrões onde a culpa impera, observa-se a presença
de uma figura paterna rígida que coopera para a
formação de um superego controlador e punitivo.

Por outro lado, muitas famílias contemporâneas


que igualmente enfatizam o controle, criam padrões
obsessivos e compulsivos por meio do envergonhar
mais do que pela indução de culpa. Mensagens
como: “O que as pessoas pensarão de você se estiver
fora do peso?”, “As outras crianças não vão querer
brincar se você se comportar desse jeito” ou “Você
nunca vai conseguir sucesso na sua vida se não
estudar como deve!”.

Observa-se também crianças que desenvolvem


caráter obsessivo-compulsivo em contexto familiar
com pais que não têm tempo para elas. Muitos ana-
listas chegaram à conclusão de que seus pacientes,
com superegos mais rígidos, haviam tido pais mais
descuidados. Eles concluíram que ter que modelar
a si mesmos de acordo com uma imagem parental
forjada, especialmente se a pessoa tiver um tempe-
ramento intenso e agressivo que é projetado nessa
imagem, pode colaborar para dinâmicas obsessivo-
-compulsivas. É como se a criança interagisse com a
imagem idealizada de um pai inalcançável e punitivo
e talvez vivenciasse o afastamento como abandono,
por no íntimo de sua fantasia, acreditarem que fizeram
algo errado para não ter atenção e tempo suficiente
de seus pais (McWilliams, 2014; Gabbard, 2016).

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EMOÇÕES E DEFESAS
Indivíduos obsessivos-compulsivos idealizam a
cognição, a razão e os processos mentais. Tendem
a relegar a maioria dos sentimentos a uma rea-
lidade desvalorizada, associada com fragilidade,
infantilidade, perda de controle, desorganização e
sujeira e, às vezes até feminina, pois homens com
esse perfil de personalidade podem sentir pavor
que a expressão de suas emoções ternas os façam
regressar a uma identificação precoce, repudiada
e pré-masculina com a figura materna.

As defesas organizadoras predominantes nas pes-


soas obsessivas e compulsivas são o ISOLAMENTO
DO AFETO e a ANULAÇÃO (Fenichel, 1928). Pessoas
obsessivas altamente funcionais não costumam usar
o isolamento em suas formas mais extremas; em vez
disso, preferem versões mais maduras da separação
do afeto da cognição, por isso usam mecanismos
intelectualizados como a RACIONALIZAÇÃO, MO-
RALIZAÇÃO E COMPARTIMENTALIZAÇÃO. Também
utilizam com frequência a defesa conhecida como
FORMAÇÃO REATIVA, bem como é comum o uso
de DESLOCAMENTO, especialmente da raiva, em
circunstâncias nas quais, por meio do desvio da
raiva de sua fonte original para um alvo “legitima-
do”, elas podem expressar esse sentimento sem
experimentar vergonha (McWilliams, 2014).

A anulação é um mecanismo de defesa definidor

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do tipo de compulsividade que caracteriza a es-


trutura de personalidade desse indivíduo. Pessoas
compulsivas anulam seus afetos por meio de AÇÕES
que têm o significado inconsciente de punição ou
proteção mágica. Por exemplo, a chefe workaholic
que anula seu cansaço com sobrecarga de trabalho.
Ações compulsivas com frequência têm o significa-
do inconsciente de “anular um crime” que a pessoa
carrega na sua fantasia. O comportamento obsessivo
também revela fantasias inconscientes de controle
onipotente, que se expressa, por exemplo, na grávida
que acredita que arrumando sistematicamente a
pequena maleta para levar ao hospital pensa, em
algum nível, que pode controlar o incontrolável
apenas se fizer a coisa certa, o que desperta uma
espécie de obediência e poder (McWilliams, 2014;
Gabbard, 2016).

Pessoas obsessivas e compulsivas temem seus


próprios sentimentos hostis e sofrem de uma au-
tocrítica desordenada em relação a agressões reais
ou puramente mentais. Dependendo do conteúdo
das mensagens familiares que receberam, essas
pessoas podem ficar nervosas em se permitir sen-
timentos de luxúria, avareza, vaidade, preguiça ou
inveja. E em vez de aceitar tais atitudes e basear seu
autorrespeito ou sua autopunição apenas no modo
como se comportam, elas normalmente consideram
o fato de sentir tais impulsos algo condenável. Eles
valorizam o autocontrole acima de quase todas as

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outras virtudes e enfatizam atributos como disci-


plina, ordem, confiabilidade, lealdade, integridade
e perseverança. Suas dificuldades em suspender
o controle diminuem suas capacidades em áreas
como sexualidade, lazer, humor e espontaneidade
(McWilliams, 2014).

A necessidade de controle é uma herança da


fase anal, o momento em que a criança deve re-
nunciar ao que é natural pelo que é socialmente
aceitável. O adulto responsável e a criança que
está sendo treinada de forma precoce, rígida, ou
em uma atmosfera de muita preocupação dos
pais, entram em uma disputa por poder na qual
a criança está condenada ao fracasso. A experiên-
cia de ser controlada, julgada e requerida a agir
de acordo com os horários determinados gera
sentimentos de RAIVA e FANTASIAS AGRESSI-
VAS, com frequência relacionada à defecação, e
que a criança pode sentir como uma parte ruim,
sádica, suja e vergonhosa do self. A necessidade
de sentir-se no controle, pontual, limpa e racional
(em vez de descontrolada, errática, bagunçada e
soterrada por emoções como raiva e vergonha)
torna-se importante para a manutenção da iden-
tidade e da autoestima. O superego rígido, do tipo
“ou tudo ou nada”, criado por tais experiências, se
manifesta por meio de uma sensibilidade ética
dura que Ferenczi (1925) ironicamente chamou
de “moralidade esfincteriana”.

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AS SETE MÁSCARAS

Assim, o conflito afetivo básico em pessoas obses-


sivas e compulsivas é RAIVA (por serem controladas)
versus MEDO (de serem condenadas ou punidas),
mas o que realmente impressiona aqueles que tra-
balham com essas pessoas é que o afeto é mal for-
mulado, metamorfoseado, suprimido, indisponível
ou racionalizado e moralizado. Em suma, pessoas
obsessivas usam palavras para conciliar sentimentos,
explicá-los e não conseguem expressá-los.

A VERGONHA é outra exceção no panorama da


falta de afetividade dos indivíduos obsessivos-
-compulsivos. É um sentimento que costuma ser
consciente, uma vez que eles têm altas expectativas
em relação a si mesmos e sentem-se desapontados
quando acreditam que não foram bons o suficiente
em uma tarefa, por exemplo.

RELACIONAMENTOS
Costumam ser eficazes em papéis públicos e
formais, mas não têm tanta profundidade em
suas relações íntimas e domésticas. São pessoas
geralmente disciplinadas, corretas, moralistas, “que
fazem tudo certinho” e que, se marcarem um en-
contro, dificilmente irão desmarcar ou se atrasar.
Inspiram confiança, porém são muito econômicas
na expressão de afetos ou fragilidades.

Apesar de serem capazes de apegos amorosos,


podem não ser capazes de expressar suas incli-

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nações mais doces sem ansiedade ou vergonha;


consequentemente podem transformar interações
de tom emocional em interações cognitivas chatas
e opressoras, pois intelectualizam e racionalizam
suas emoções, como se as relações pudessem seguir
um “manual de instruções”.

No contexto relacional, pessoas obsessivas e com-


pulsivas tendem a ser controladoras, tanto no âm-
bito interacional quanto no campo da sexualidade.
Elas necessitam estar no controle para se sentirem
seguras e possuem um “radar” especializado para
qualquer crítica da parte do parceiro, sendo que
vivem isso como se fosse uma dura condenação.
Assim, no campo da intimidade deve-se ter certos
cuidados para que uma “brincadeira” não soe como
crítica e acabe inibindo mais ainda a capacidade
de uma pessoa com esse tipo de caráter conseguir
expressar suas emoções e ceder a intimidades.

Por trás de toda a aparente frieza e racionalida-


de de uma pessoa obsessiva, existe alguém que
deseja ser amado, mas que teme a dependência.
É bastante provável que o superego rígido dessas
pessoas seja enfraquecido pela potência do ato
sexual e elas demonstrem suas emoções com mais
ênfase nesse contexto íntimo.

Um problema comum nas relações de pessoas


obsessivas e compulsivas é sua extrema necessidade
de controlar o parceiro, sendo que alguns acabam

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AS SETE MÁSCARAS

temendo situações catastróficas, como traições do


parceiro, que culminaria na perda do vínculo. Assim,
cobranças e ciúme excessivo são frequentes. Essas
pessoas tendem a ser fiéis e fazer tudo conforme
manda o “roteiro” para que não sejam surpreendi-
dos ou punidos com alguma frustração. Acreditam
que se atingirem um estado mágico de perfeição
vão experimentar o amor como prêmio e, como se
dedicam demais, acabam se tornando exigentes e
controladores (Kernberg, 1995).

Nesse contexto, pessoas com esse perfil sintoni-


zam com pessoas mais passivas, que permitem e
sentem certo prazer em ser controladas e condu-
zidas. Essa posição de domínio pode evoluir pro
campo da sexualidade e, algumas pessoas com
esse tipo de caráter podem simpatizar com práticas
sexuais sádicas.

Assumir o controle de uma relação pode induzir


certo prazer, mas também gera culpa diante de
qualquer sinal de fracasso. Sendo assim, o parceiro
de uma pessoa obsessiva pode ajudá-lo a aceitar
sua própria humanidade e as suas limitações, pois
os sentimentos devem ser tomados como parte da
condição humana.

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AS SETE MÁSCARAS

TRANSTORNO DA PERSONALIDADE
OBSESSIVO-COMPULSIVA
Nos casos patológicos, a dinâmica obsessiva pode
se tornar mais rígida e inflexível, com maiores
queixas associadas preocupações com ordem e
perfeccionismo, que causam extrema angústia
tanto para o paciente quanto para as pessoas com
quem convive. Na tabela abaixo constam os crité-
rios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno da
personalidade obsessivo-compulsiva:

Um padrão difuso de preocupação com ordem,


perfeccionismo e controle mental e interpessoal
à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que
surge no início da vida adulta e está presente em
vários contextos, conforme indicado por quatro (ou
mais) dos seguintes:

1. É preocupado com detalhes, regras, listas,


ordem, organização ou horários a ponto de
o objetivo principal da atividade ser perdido.

2. Demonstra perfeccionismo que interfere


na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue
completar um projeto porque seus padrões
próprios demasiadamente rígidos não são
atingidos).

3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à

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produtividade em detrimento de atividades


de lazer e amizades (não explicado por uma
óbvia necessidade financeira).

4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso


e inflexível quanto a assuntos de moralidade,
ética ou valores (não explicado por identifica-
ção cultural ou religiosa).

5. É incapaz de descartar objetos usados ou


sem valor mesmo quando não tem valor sen-
timental.

6. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com


outras pessoas a menos que elas se submetam
à sua forma exata de fazer as coisas.

7. Adota um estilo miserável de gastos em


relação a si e a outros; o dinheiro é visto como
algo a ser acumulado para futuras catástrofes.

8. Exibe rigidez e teimosia.

(Reimpressa, com permissão, de Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright © 2013). American
Psychiatric Association. Todos os direitos reservados.) (Kaplan e
Sadock, 2017).

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CAPÍTULO 8
PERSONALIDADE
MASOQUISTA

CARACTERÍSTICAS E TRAÇOS DE
PERSONALIDADE
Masoquismo não é algo restrito à sexualidade.
Para distinguir um padrão geral de sofrimento do
significado estritamente sexual do masoquismo,
Freud (1924) cunhou o termo “masoquismo moral”
que está associado a características de personalida-
de marcadas por padrões de sofrimento, queixas,
atitudes autodestrutivas e autodepreciativas e para
um desejo inconsciente de torturar os outros com
a própria dor.

O Masoquismo Moral consiste na renúncia do prazer


em favor do próprio sacrifício como uma forma de
viver, levando ao sofrimento emocional junto com
um senso de superioridade moral. Muitos psicanalis-

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AS SETE MÁSCARAS

tas acreditam que as fantasias sexuais masoquistas


estão invariavelmente presentes na vida sexual das
pessoas com características masoquistas, mesmo
que parafilias masoquistas evidentes não estejam
presentes (McWilliams, 2014).

Pessoas com estrutura de personalidade masoquis-


ta moral com frequência impressionam os outros
se apresentando como grandiosas e desdenhosas,
ressaltando o próprio sofrimento e desprezando
aqueles mortais menores que não conseguem en-
frentar uma tribulação semelhante com tanta gra-
ça. Embora tal atitude faça os masoquistas morais
aparentarem estar desfrutando de seu sofrimento,
uma formulação melhor seria a de que eles teriam
encontrado uma base de compensação nisso a fim
de apoiar a própria autoestima (Mackinnon, 2008;
McWilliams, 2014).

Uma hipótese é que a dor não é induzida por sua


própria finalidade, mas sim porque todas as outras
opções são consideradas muito mais angustiantes.
A busca da dor mental ou mesmo física também
poderá ser considerada como derivada do esforço
da criança de manter uma conexão emocional
com um cuidador abusivo na sua história de vida
(Mackinnon, 2008; McWilliams, 2014).

Para ser considerada masoquista, a pessoa de-


verá ter consciência da experiência subjetiva do
desgosto ao mesmo tempo que obtém gratificação

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AS SETE MÁSCARAS

no nível inconsciente. Nesse exemplo, a satisfação


inconsciente poderá originar-se da própria visão
como dedicado, sábio e vitorioso.

Pessoas masoquistas sentem-se sem valor, culpa-


das, rejeitadas e merecedoras de punição. Além disso,
pode ocorrer um senso sutil, e às vezes consciente,
de ser incompleta em vez de simplesmente aban-
donada, além de uma crença de que se é destinado
à má compreensão, não apreciação e maus-tratos.

Ao invés de considerar que essas pessoas sentem


prazer com o sofrimento, é mais viável pensar que
elas na verdade alcançam algum ganho secundário
com as soluções de “apego pelo sofrimento” apli-
cadas a seus dilemas interpessoais. Aqueles que
são inclinados ao masoquismo moral acreditam
estar lutando para não reagir, expondo seus abu-
sadores como moralmente inferiores ao falarem
sobre agressões e saboreando a vitória moral que
tal estratégia propicia (McWilliams, 2014).

Ao contrário das pessoas organizadas de forma


depressiva, que tendem a se isolar na solidão, os
indivíduos masoquistas podem lidar com a mal-
dade que sentem em si mesmos projetando-a nos
outros e se comportando de um jeito que explicite
que a maldade está fora e não dentro.

O comportamento masoquista não é necessaria-


mente patológico, apesar de ser autoabnegação.

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AS SETE MÁSCARAS

Às vezes a moral dita que soframos por algo mais


importante do que nosso conforto individual a curto
prazo. Alguns autores consideram que a maternidade
é inerentemente masoquista, já que os mamíferos
colocam o bem-estar de seus filhotes acima de sua
própria sobrevivência.

Muitas justificativas encontram-se latentes nas


práticas aparentemente insanas de autodestruição
como a propensão a acidentes e automutilação.
Indivíduos que se cortam de propósito, por exem-
plo, irão normalmente explicar que a visão de seu
próprio sangue os faz se sentirem mais vivos e
reais e que a angústia de não sentirem a própria
existência ou de se sentirem alienados de qualquer
sensação é muito pior do que o desconforto físico
temporário. Portanto, o masoquismo existe em
níveis e escalas variáveis.

Um modus operandi de triunfo moral por meio do


sofrimento autoimposto pode se tornar tão habitual
para uma pessoa que ela pode ser considerada com
legitimidade possuidora de um caráter masoquista.

É importante enfatizar que o termo “masoquismo”


do modo como é usado pelos psicanalistas, não tem
conotação de um amor pela dor e pelo sofrimento.
A pessoa que se comporta de forma masoquista
enfrenta dor e sofrimento na esperança, consciente
ou inconsciente, de alcançar algum bem maior.

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AS SETE MÁSCARAS

Embora aparente ser autodestrutivo, o maso-


quismo pode ser experimentado como algo que
restaura o senso de identidade: “a dor física é me-
lhor que a morte espiritual”. A dor é sentida como
uma conexão. Pessoas masoquistas frequente-
mente organizam sua vida de modo a satisfazer
as necessidades de seus pais. Como resultado, sua
própria experiência afetiva interna se torna remota
e indisponível, pois ela foi sacrificada para atender
aos pais (McWilliams, 2014; Gabbard, 2016).

É relativamente fácil reconhecer o indivíduo ma-


soquista. Em seu trabalho, ele tipicamente aceita
uma tarefa em que é explorado ou mal remunerado,
ou ambos, e em que não há perspectiva de ganho
futuro. Aprendizado ou estágios não lhe servem
porque o potencial futuro constitui uma gratifi-
cação. Os empregos que oferecem imenso prazer
interior também não lhe servem. A pessoa deverá
realizar o trabalho apesar de opções melhores e
de se sentir explorada. A gratificação está no nível
inconsciente (Mackinnon, 2008)..

Sua vida pessoal não é diferente; escolhe amigos


e namorados inadequados. Seus relacionamen-
tos terminam em mágoas, desapontamentos e
ressentimentos. O indivíduo responde ao sucesso
pessoal com sentimento de subserviência e culpa.
Esse sentimento poderá ser expresso na ação por
meio de algum acidente, como deixar sua pasta no
táxi. Seu auto-retrato como vítima poderá induzir

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aborrecimento e desgosto nas outras pessoas, que


poderão descobrir que sua queixa não passa de
arrogância. Normalmente, seus sentimentos são
sombrios. Mesmo quando não reclama, as pessoas
sabem que ele sofre e consideram-no uma pessoa
“sem graça”. Na sua tentativa de ganhar a aceita-
ção de um amigo, o masoquista o ajudará em seus
trabalhos acadêmicos e, depois, se atrasará para
concluir os seus próprios, um fato que contará ao
amigo depois, fazendo com que ele sinta culpa.
Esse é um componente sádico do comportamento
masoquista, um aspecto de que a pessoa não tem
consciência (Mackinnon, 2008).

Algumas características são fundamentais para


classificar uma personalidade fortemente orien-
tada por traços masoquistas (Mackinnon, 2008;
McWilliams, 2014):

1. Autossacrifício, adaptação aos outros e, em se-


guida, queixa de não estar sendo apreciado. Aceita
a exploração e escolhe situações em que é explo-
rado, mas depois tenta fazer com que os outros se
sintam pesarosos por ele ou que sintam culpa, em
vez de expressar a assertividade apropriada.

2. Em resposta à evidente agressão dos outros,


tenta dar a outra face, mas geralmente fica ressen-
tido; explora o papel de parte injuriada, fazendo a
outra pessoa se sentir culpada.

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3. Sentimento sombrio, raramente está feliz ou


exuberante – como se fosse uma pessoa sem graça
para conviver.

4. Autorretraído, recusa educadamente os au-


tênticos esforços dos outros em satisfazer as suas
necessidades: “Oh, não, obrigado. Posso resolver
sozinho”.

5. Confiável, excessivamente detalhista, com pou-


co tempo para as atividades prazerosas; assume
obrigações e responsabilidades.

6. Recusa oportunidades de promoção, mas de-


pois se sente magoado por não ter sido escolhido.
Reage a uma promoção com medo de falhar ou
com culpa em relação ao rival derrotado.

7. Suas Fantasias sexuais envolvem temas de


humilhação, rejeição, abusos, domínio e submissão.

Seu constante autossacrifício leva ao sentimento


de superioridade moral, um traço que poderá ser
evidente para os outros, mas não para ele mesmo.
Seu comportamento faz com que as pessoas ao
seu redor se sintam culpadas. Quando percebe isso,
pede desculpas e oferece mais sacrifícios.

Segundo McWilliams (2014), a excitação sexual


dessas pessoas geralmente ocorre em resposta a
fantasias, quadros ou histórias que representam
temas de humilhação, punição, rejeição, deprecia-

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ção ou coerção, em que a “vítima” poderá negar


toda a responsabilidade. Apesar do termo de Freud
“masoquismo feminino”, é comum o interesse dos
homens pelos cenários sexuais masoquistas.

Para alguns, a dor se torna um pré-requisito neces-


sário ao prazer. O superego é atenuado, e a culpa,
reparada tanto para as ofensas passadas quanto
para pagar adiantado pelo futuro prazer. Na expe-
riência infantil da pessoa masoquista, abusos, dor
ou sacrifícios foram, em geral, seguidos de amor,
exatamente como os jejuns sociais são seguidos
de festas (McWilliams, 2014).

Em síntese, o masoquista é uma pessoa depres-


siva que ainda tem esperanças de sentir prazer,
porém paga por isso com sofrimento e cobra do
outro provocando culpa. Indivíduos com caráter
masoquista são pessoas cujo pior inimigo parece
ser elas mesmas.

HISTÓRIA DE VIDA
Poucas hipóteses foram levantadas a respeito do
temperamento inato ao masoquismo, por isso a
questão sobre uma vulnerabilidade constitucional
ao masoquismo continua sem resposta.

Um tópico que tem chamado mais atenção dos


profissionais diz respeito ao gênero. Muitos pes-
quisadores acadêmicos avaliam que o trauma e

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AS SETE MÁSCARAS

maus-tratos na infância causam efeitos diferentes


em crianças de gêneros diferentes: meninas abusa-
das tendem a desenvolver um padrão masoquista,
enquanto meninos na mesma situação tendem a se
identificar com o agressor e a se desenvolver em uma
direção mais sádica. Como todas as generalizações,
essa tem muitas exceções, pois homens masoquistas
e mulheres sádicas não são raros (McWilliams, 2014).

Normalmente, a pessoa com caráter masoquista


cresce em um lar onde um dos pais é masoquista,
deprimido ou ambos. Quando criança, o futuro
masoquista superenfatiza a passividade e a sub-
missão, esperando que isso leve à aprovação e à
afeição dos demais, bem como à proteção contra
a cólera destes. Quando sua submissão falha em
conquistar a afeição e o amor dos pais, a criança
se sente ressentida e apresenta mau humor como
uma expressão de insatisfação. Normalmente, os
pais oferecem algum conforto e afeição quando
a “pobre criança está infeliz”, reforçando, dessa
maneira, o desenvolvimento do comportamento
dependente da dor. Essa pessoa desenvolve um
modelo de sofrimento pessoal como forma de obter
atenção e afeto. Um abuso real de um dos pais ou
substituto parental é traduzido pela criança como:
“Essa é a manifestação de amor e atenção”. Isso
passa a ser o modelo para suas futuras relações. A
doença, a atenção e o cuidado que a criança traz
dos pais, distantes e sem afeição, de outro modo,

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AS SETE MÁSCARAS

também podem reforçar o paradigma “dor é prazer”


(McWilliams, 2014; Kernberg, 1995).

Observa-se que há contexto de privações afetivas


e perdas traumáticas que não foi tão devastadora a
ponto de a criança simplesmente desistir da ideia de
ser amada. Muitos pais com um mínimo de funcio-
nalidade podem ser impelidos a agir quando suas
crianças são machucadas ou estão em perigo. Os
filhos desses pais aprendem que, embora sintam-se
abandonados e sem valor, se sofrerem o bastante
talvez consigam alguma ajuda. Para uma criança,
qualquer atenção dos pais é mais segura do que
um ato de negligência ou abandono (Mackinnon,
2008; McWilliams, 2014; Kernberg, 1995).

É comum que a história de uma pessoa masoquis-


ta se pareça com a de uma depressiva, com perdas
não lamentadas, cuidadores críticos e indutores
de culpa, reversão de papéis (quando a criança se
sente responsável pelos pais), contexto de traumas
e abuso e a convivência com pessoas depressivas.
Enquanto as pessoas depressivas sentem que não
há alguém lá fora para ajudá-las, as masoquistas
podem sentir que, a não ser que demonstrem su-
ficientemente sua necessidade de compaixão ou
cuidado, terão de enfrentar um completo abandono
emocional (McWilliams, 2014).

As origens do masoquismo podem estar em ques-


tões de dependência e de medo de ficar sozinho:

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AS SETE MÁSCARAS

“Por favor não me deixe, vou me ferir em sua ausên-


cia”. Essa dinâmica explica porque muitas mulheres
que repetidas vezes foram gravemente espancadas
por seus parceiros, essas pessoas que se encontram
em real e grave perigo, muitas vezes relatam que
temem mais o abandono do que a dor ou mesmo
a morte (McWilliams, 2014; Kernberg, 1995).

Não é incomum que se observe na história de


vida de pessoas masoquistas que os únicos mo-
mentos em que um pai ou uma mãe investiram
neles emocionalmente ocorreram quando o objetivo
era puni-los. Uma associação entre apego e dor é
inevitável sob tais circunstâncias. A provocação,
uma combinação peculiar de afeto e crueldade,
também pode semear masoquismo. Em especial
quando a punição foi excessiva, abusiva ou sádica,
a criança aprende que o sofrimento é o preço do
relacionamento. E as crianças buscam mais pelos
relacionamentos do que segurança física. Vítimas
de abuso infantil geralmente internalizam a racio-
nalização de seus pais a respeito dos maus-tratos,
porque é melhor apanhar do que se sentir negli-
genciado (Stoller, 1991) .

Outro aspecto da história da maioria das pessoas


cuja personalidade se tornou estruturada em um
esquema masoquista é que foram bastante recom-
pensadas por terem enfrentado as adversidades com
elegância. O efeito de receber elogios excessivos
por autossacrifício pode criar uma configuração de

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vida baseada no masoquismo (McWilliams, 2014;


Gabbard, 2016).

EMOÇÕES E DEFESAS
As pessoas masoquistas empregam as defe-
sas de INTROJEÇÃO, VIRAR-SE CONTRA O SELF
e IDEALIZAÇÃO. Além disso, usam bastante o
ACTING OUT, ou seja, falam por atos, no caso,
expressam suas emoções através de ações des-
trutivas. Masoquistas morais também usam a
MORALIZAÇÃO para lidar com as experiências
internas (McWilliams, 2014).

A principal marca da personalidade masoquista


é o uso do ACTING OUT defensivo de maneira a
criar ameaças nocivas. A maioria das ações auto-
defensivas impulsionadas de forma inconsciente
inclui o esforço de dominar uma esperada situação
de dor. Se alguém estiver convencido de que, por
exemplo, todas as figuras de autoridade irão cedo
ou tarde punir aqueles que dependem delas, então
provocar a punição esperada aliviará a ansiedade
e promoverá a segurança do indivíduo em relação
ao próprio poder: pelo menos o tempo e o lugar do
sofrimento puderam ser escolhidos pelo self, essa
dinâmica pode ser considerada como uma “trans-
formação do passivo em ativo” (McWilliams, 2014).

Freud (1920) ficou a princípio impressionado com


o poder do que chamava de compulsão à repeti-

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ção em casos desse tipo. A vida é injusta: aqueles


que mais sofrem na infância são em geral os que
mais sofrem na vida adulta, e em cenários que de
forma estranha refletem as circunstâncias da sua
infância. De insultos a injúrias, as situações adultas
parecem, aos pesquisadores, ser provocadas pelo
próprio sofredor, embora raramente essa seja sua
experiência consciente.

Reik (1941) explorou as várias dimensões do ac-


ting out masoquista, incluindo (1) Provocação, (2)
Apaziguamento (“já estou sofrendo, por favor não
me castigue mais”), (3) exibicionismo (“Preste aten-
ção; eu estou sofrendo”) e (4) Redirecionamento da
culpa (“Veja o que você fez comigo”).

O comportamento autodestrutivo no masoquismo


relacional pode ser entendido como uma defesa con-
tra a ansiedade de separação. Ele tem uma maneira
de engajar e envolver os outros no processo maso-
quista. Nesse contexto, é como se houvesse uma voz
continuamente afirmando: “Prefiro apanhar a não
ser tocado de jeito nenhum” (McWilliams, 2014).

Aqueles cujo o masoquismo é mais introjetivo,


a moralização pode ser uma defesa desesperada.
Com frequência, esses masoquistas estão mais in-
teressados em uma vitória moral do que em resol-
ver algum problema prático. Acabam se tornando
queixosos, lamentadores, buscando um senso de
justiça e conformismo, do tipo “eu mereci”, do que

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resolver uma dor ou angústia. Parte da dinâmica


nesse contexto parece envolver um jeito especial
de lidar com a convicção depressiva introjetiva
da própria pessoa de que é má. A necessidade de
cativar ouvintes que validem que os outros é que
são culpados pode ser o bastante para subjugar os
objetivos práticos aos quais a maioria das pessoas
dá prioridade (McWilliams, 2014).

Assim, uma razão pela qual uma criança que tem


um padrasto ou madrasta - mesmo do tipo bem
intencionado - tende a se comportar de forma
masoquista (agindo de modo ressentido ou pro-
vocante, incitando reações punitivas) pode estar
na culpa inconsciente. Crianças que perderam
precocemente o pai ou a mãe têm propensão a
acreditar que sua própria maldade é que fez com
que este fosse embora.

Outra defesa frequente é a NEGAÇÃO. Pessoas


com organização masoquista da personalidade
comumente demonstram com suas palavras e
atitudes que estão sofrendo, ou que alguém está
abusando delas, de modo que possam negar que
estejam sofrendo qualquer desconforto ou protesto
particular em relação às boas intenções do abusa-
dor (McWilliams, 2014; Stoller, 1991).

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RELACIONAMENTOS
As pessoas que necessitam de fantasias ou de
ações sádicas para obterem gratificação sexual
estão, com frequência, tentando inconscientemen-
te reverter cenários infantis nos quais elas foram
vítimas de abuso físico ou sexual. Ao infligir aos
outros aquilo que ocorreu com elas quando eram
crianças, essas pessoas obtêm ao mesmo tempo
vingança e um senso de domínio sobre o trauma
infantil (McWilliams, 2014; Kernberg, 1995).

Stoller (1991) descobriu que uma porcentagem


bastante grande de membros de clubes sado-
masoquistas que praticavam perfuração corporal
tinham sido hospitalizados quando eram crianças e
submetidas a procedimentos invasivos e dolorosos
de forma contínua a fim de tratar as suas doenças.

Por sua vez, as pessoas masoquistas que neces-


sitam de humilhação e mesmo de dor para obter
prazer sexual podem também estar repetindo
experiências de abuso na infância. Fenichel (1945)
acreditava que os indivíduos masoquistas estavam
fazendo um sacrifício - aceitando um “mal menor”
no lugar de uma punição maior. Eles também po-
dem estar firmemente convencidos de que mere-
cem punição por seus desejos sádicos conflitantes.
Em alguns casos, essas pessoas se defendem contra
a ansiedade de separação ao se submeterem ao
abuso. Muitas vezes, estão convencidos de que uma

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relação sadomasoquista é a única forma disponível


de relação objetal: uma relação abusiva é melhor
do que nenhuma relação. O vazio e a solidão são
piores do que a dor.

O sadismo e o masoquismo são singulares por


serem as únicas perversões clássicas reconhecidas
como de ocorrência regular em ambos os sexos.
Embora o masoquismo tenha sido ligado, de forma
estereotipada, às mulheres, formas suaves de fantasias
sádicas e masoquistas são encontradas regularmente
em praticamente todas as pessoas (Gabbard, 2016)

Nos relacionamentos diários, as pessoas autodes-


trutivas tendem a se apegar a amigos do tipo “com-
panheiros de amor e sofrimento” e, se são da varie-
dade masoquista moral de sofredores, gravitam em
torno daqueles que possam validar seu sentimento
de injustiça.

Alguns apegos sadomasoquistas parecem ser


o resultado de uma pessoa autodestrutiva ter es-
colhido um parceiro com uma tendência preexis-
tente ao abuso; em outros contextos, parece que
a pessoa sofrendo maus-tratos se conectou com
um tipo adequado de parceiro, mas deu um jeito
de despertar o que havia de pior nele (McWilliams,
2014; Mackinnon, 2008).

As dinâmicas masoquistas podem permear a vida


sexual de alguém com uma personalidade autodes-

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trutiva, mas muitas pessoas de caráter masoquista


não são sexualmente masoquistas.

Sobre o masoquismo no campo da sexualidade,


encontra-se suas expressões num nível consciente e
explícito, bem como no nível inconsciente. Queixas
como: “Meu namorado não sente ciúmes de mim.”,
“meu marido quer me ver com outro homem...”,
“minha parceira me pede para bater nela na hora
de transar...” estão diretamente relacionadas à di-
nâmica do masoquismo sexual.

Otto Kernberg (1995) afirma que há diferenças e


semelhanças entre as fantasias sexuais masoquistas
entre homens e mulheres. As fantasias e atividades
sexuais dos homens, expressando o desejo de ser
dominado, provocado, excitado e forçado a subme-
ter-se a uma mulher poderosa e cruel como uma
exigência para o orgasmo. Por sua vez, observa-se
no masoquismo feminino fantasias e desejo de ser
humilhada ao exibir-se para outros, e ser violentada
por um homem que julga ser poderoso, perigoso
ou desconhecido.

O masoquismo masculino normalmente envolve


uma dor maior, uma ênfase mais acentuada na
humilhação, na infidelidade do parceiro sexual,
na participação da audiência (assistir à traição, as-
sistir à parceira num ménage, etc.). Quando essas
fantasias estão conscientes é comum o parceiro
sugerir essas práticas sexuais, o que soa estranho

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para a parceira, pois é comum questionar sobre a


ausência de ciúmes em expô-la a outros homens,
sendo que o foco do prazer está na humilhação.
No nível inconsciente, esse desejo de ver a parceira
com outro, por exemplo, pode ser confuso e distor-
cido a ponto do parceiro projetar esse desejo na
parceira, acusando-a de trair ou de desejar alguém
de forma recorrente sem motivos, por exemplo
(Kernberg, 1995).

O masoquismo feminino, em contraste, envolve


dor mais frequente, mas de menor intensidade,
punição no contexto de um relacionamento íntimo,
exposição sexual como humilhação e não parti-
cipação da audiência. O masoquismo masculino
normalmente culmina no orgasmo, excluindo o
intercurso sexual, ao passo que o masoquismo
feminino normalmente culmina no sexo genital,
embora menos consistentemente, no orgasmo
(kernberg, 1995).

Para Kernberg (1995) as origens dessas diferenças


se encontram nos conflitos edípicos da Fase Fáli-
ca do desenvolvimento psicossexual. No caso dos
homens, a dominação por uma mulher poderosa
reproduz as fantasias do envolvimento do garotinho
com a mãe poderosa e esmagadora, juntamente
com a reparação da culpa pela transgressão edí-
pica e a fantasia narcísica de ter certo poder de
sedução sobre a mãe. Nas mulheres, as fantasias
inconscientes de ser objeto sexual preferido de um

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pai poderoso, distante e potencialmente amea-


çador, mas também sedutor, se condensa com a
reparação da culpa ao ser forçada a submeter-se,
ser sexualmente humilhada e abandonada.

No dia a dia da relação com pessoas que têm


fortes traços masoquistas observa-se às seguintes
características transferenciais:

• Costumam reencenar o drama da criança


que precisa de cuidados, mas só os recebe se
demonstra sofrimento. Nesse sentido é im-
portante atentar para uma postura que não
gratifique esse tipo de conduta que se torna
um ciclo voraz, demandando cada vez mais
sofrimento.

• Pessoas masoquistas com frequência tentam


convencer o outro de que precisam e merecem
ser salvos. Coexistindo com essas metas está o
medo de que o outro seja negligente, distraído,
egoísta, crítico ou uma autoridade abusiva que
irá expor a falta de valor da pessoa, culpar a
vítima por ser vitimizada e abandonar.

• A pessoa autodestrutiva vive em um estado


de pavor, quase sempre inconsciente, de que
um observador distingue suas deficiências e
as rejeite por seus pecados. Para combater tais
medos, tentam deixar óbvio tanto o próprio
desamparo quanto as próprias tentativas de
serem boas.

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• Pessoas masoquistas podem despertar no


outro, tanto reações muito generosas, quanto
sadismo devido sua vulnerabilidade.

Nesse contexto, na interação com indivíduos ma-


soquistas deve-se tomar cuidado para potencializar
relações mais funcionais. Sendo assim, ser extre-
mamente generoso nesse contexto é contraindi-
cado, pois favorece a regressão e a pessoa aprende
que práticas de autodestruição levam a ganhos
secundários. Pessoas que valorizam o autossacri-
fício não podem ser tratadas com autossacrifício
da sua parte, pois isso os faz se sentirem culpados
e não merecedores de apoio. Essas pessoas não
precisam aprender que são toleradas quando
sorriem bravamente; elas precisam descobrir que
são aceitas mesmo quando perdem a paciência,
precisam aprender que a raiva é natural quando
não conseguimos o que desejamos e pode ser en-
tendida exatamente dessa maneira pelos outros.
Ela não precisa ser fortificada por um moralismo
autorrigoroso e por exibicionismos de sofrimento.
Em vez de usar “Coitadinho de você!” prefira usar
“Como você foi se envolver em tal situação?”. A
ênfase deve ser sempre na capacidade da pessoa
de melhorar as coisas. Por fim, jamais se deve agir
no sentido de salvar a pessoa, pois isso fortalece
a gratificação do sofrimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegando ao final dessa jornada, cuja proposta


consistiu em explorar e conhecer a dinâmica de
sete perfis de personalidade, espera-se que o leitor
desperte para uma compreensão mais profunda
sobre a maneira como as pessoas aprenderam ao
longo de suas histórias de vida a se posicionar e
interagir nas suas relações, a expressar emoções e
seus conflitos centrais.

No âmbito de estudos sobre personalidade, di-


ficilmente vamos encontrar perfis prontos e rígi-
dos, mesmo em suas versões patológicas é difícil
diagnosticar com precisão. Essa questão somente
reitera a beleza e singularidade da natureza hu-
mana que é única. Costumo usar o exemplo de
gêmeos idênticos, que compartilharam a mesma
experiência intrauterina, roteiros semelhantes de
desenvolvimento e possuem carga genética idênti-
cas, e possuem perfis de personalidade totalmente

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opostos na maioria das vezes. Isso acontece devido


à capacidade individual de simbolizar cada evento
experienciado, à maneira pessoal como são atribuí-
dos significados a fatos compartilhados por uma
família inteira.

Assim, o enfoque do presente estudo não se ateve


a “diagnósticos de personalidade”, mas a compreen-
der DINÂMICAS de personalidade. Apesar de todos
termos traços variados, predomina um conjunto
marcante de características que se sobressaem e
que nos dão um direcionamento para compreen-
der a dinâmica central de um indivíduo. Em outras
palavras, existe um emaranhado de traços, mas
existe um “fio central”, uma estrutura onde tudo
se apoia, podemos entender e sentir essa estrutura
nos afetando nas nossas relações.

Os conceitos de regressão e fixação fortalecem


mais ainda a ideia do dinamismo dentro da per-
sonalidade. Você pode ser um neurótico obsessivo
que abusa de racionalizações, mas diante de um
trauma, pode regredir e momentaneamente, como
uma defesa, se tornar um “bebê impulsivo” com
uma dinâmica reativa tipicamente borderline.
Essa questão reforça a relevância do ambiente na
estabilidade, ou não, de determinados traços de
personalidade. Nada está totalmente acabado,
pois podemos ajustar traços não-adaptativos, uma
vez que existem relações e contextos reparadores
que mostram que, mesmo situações clinicamente

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rígidas, podem ser submetidas a mudanças sutis. A


psicoterapia é por excelência um exemplo desses
ambientes relacionais corretivos.

Nesse contexto de adaptações e mudanças, a ca-


pacidade de sublimar auxilia bastante em processos
adaptativos, afinal quem não conhece a clássica
história do assassino “psicopata” irreparável que
se tornou um pastor que lidera uma comunidade
evangélica? No ambiente da violência ele pôde sen-
tir o poder de ter a vida de alguém em suas mãos
e, em um contexto de sublimação no enquadre
da religião, ele experimenta esse mesmo poder
sobre a vida do outro, porém expresso de uma
maneira socialmente aceita. Esse é um exemplo
incontestável de ajustamento de uma dinâmica
de personalidade.

Alguns autores são pessimistas quanto a mudan-


ças de personalidades muito rígidas e inflexíveis,
mas entram em cena o conjunto de teorias e pes-
quisas sobre processos de intervenção que foram
expostos ao longo desse trabalho, mostrando que
o primeiro passo para qualquer adaptação é se tor-
nar consciente dessas dinâmicas, do perfil central
da personalidade do indivíduo, bem como daquilo
que vai funcionar ou não para essa pessoa, o que
pode ser terapêutico e o que piora a dinâmica de seu
caráter. As intervenções que favorecem mudanças
consistem, essencialmente, em posturas conscientes
e corretivas que se dão no íntimo das relações.

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AS SETE MÁSCARAS

Lembrem-se que antes de voltar seu olhar diag-


nóstico para o outro, busque voltar-se para si, para
conhecer sua história de vida, defesas, sua maneira
de fazer transferências nas relações e como expressa
suas emoções. Conhecer a si mesmo é o primeiro
passo rumo a relações mais harmônicas.

Diante de toda essa discussão, cabe a reflexão:


qual é a sua máscara?

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