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SUTILEZAS DA

TÉCNICA PSICANALÍTICA
Andréa Virgínia Nicolete
Sérgio G. Nicolete
ANDRÉA VIRGÍNIA DE
CARVALHO NICOLETE
Psicóloga CRP 11/13443
Psicanalista
Professora em cursos de
formação e pós-graduação
em psicanálise

Coordenadora de grupo de
Estudos sobre Sándor Ferenczi

Especialista em autismo

Formação em Transtornos
Alimentares
Atende crianças,
adolescentes e adultos
SÉRGIO G. NICOLETE
Psicanalista

Professor em cursos de
formação e pós-graduação
em psicanálise

Coordenador de grupos de
estudos

Idealizador do Psicanálise
dos Mundos Possíveis
O QUE IREMOS
ESTUDAR?
Dia 08 – INÍCIO DO PROCESSO ANALÍTICO

Dia 15 – DIAGNÓSTICO PSICOANALÍTICO

Dia 22 – MANEJO CLÍNICO

Dia 29 – INTERPRETAÇÃO PSICANALÍTICA


DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO

• Como iniciar uma sessão


• O que observar?
• Formas de Escuta
• Diagnóstico
• Término da sessão
• Registro das sessões
COMO INICIAR A SESSÃO?

• Tendo estabelecido as condições do


tratamento, surge a questão: em que
ponto e com que material deve-se iniciar
o tratamento?
• Deixamos o paciente escolher:
• História de vida
• História da doença
• Lembrança de infância etc.
REGRA FUNDAMENTAL

• Diga tudo o que lhe passa pela mente


• Por mais desagradável que seja
• Sem seleção prévia
• Com sinceridade
• Desaconselha-se ao paciente:
• Fazer anotações (ou gravações)
• Ficar pensando no que falar antes das
sessões
REGRA FUNDAMENTAL

• Alguns abusos da associação livre:


• Pacientes que apresentam apenas material
absurdo
• Sons e melodias
• Paciente silencioso
• Pacientes alega que os pensamentos são pouco
claros ou excessivos
• Frases incompletas
• Agir ao invés de falar
• As palavras obscenas
REGRA FUNDAMENTAL

• Na técnica kleiniana, o brincar da criança


foi considerado o equivalente das
associações livres do adulto. Assim,
observa-se também:
• O conteúdo das brincadeiras
• A maneira como se brinca
• Os meios que se utiliza para brincar
• As mudanças de brincadeira
• Os diferentes papéis que se atribui as
brincadeiras
• O que a criança fala ao brincar
REGRA FUNDAMENTAL

• A associação livre é um ideal a ser alcançado


• Deve-se incluir na associação livre também o direito à privacidade e
ao silêncio
ATENÇÃO FLUTUANTE

• Contrapartida à regra fundamental


• Consiste em não querer memorizar
nada específico
• A atenção está dispersa à totalidade
do discurso
• Ouvir sem entender
• Não selecionar o que ouvir
• Evitar anotações
ATENÇÃO FLUTUANTE

• Um exercício para treinar a atenção


flutuante:
• Ouvir locutores de rádio ou televisão e
tentar perceber os lapsos e deslizes de
suas falas ao invés de ouvir o conteúdo
(de preferência sem o recurso visual)
A CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• Existem atributos que são inerentes aos


profissionais que atendem crianças:
• Importante que o analista tenha “analisado
seus aspectos infantis”
• Buscar formação específica
• O analista precisa ter maior disponibilidade
psíquica, emocional e física
• Preparar o consultório para receber o
paciente
SALA NA CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• A sala precisa ter:


• Chão e paredes laváveis
• Água corrente
• Mesa e cadeiras
• Sofá
• Almofadas
• Móveis com gavetas
• Evitar material cortante ou que possa
quebrar com facilidade
SALA NA CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• Materiais que podem compor a “caixa lúdica”:


• Bonecos e acessórios (mamadeira, chupetas etc.)
• Casinha de bonecas e acessórios (família, móveis,
brinquedos de cozinha etc.)
• Blocos de encaixe e construção
• Soldadinhos e acessórios
• Animais de plástico
• Fantoches
• Recursos artísticos
SALA NA CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• Outros materiais:
• Papel
• Tesoura sem ponta
• Lápis
• Giz de cera
• Tinta
• Cola
• Bola
• Massa de modelar etc.
A CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• Atender crianças e adolescentes exige do


analista:
• Comunicação acessível sem infantilizá-los
• Criatividade para lidar com as situações
• Capacidade de tolerar a agressividade (técnica do
joão-bobo)
• Considerar a participação dos pais
• Às vezes, é necessário entrar em contato com a escola,
com professores, médicos etc.
• Muitos sintomas podem estar relacionados à questões
orgânicas, fisiológicas e/ou hormonais
A CLÍNICA INFANTIL E COM ADOLESCENTES

• Na clínica infantil, à semelhança da clínica com


adultos, deve-se deixar a criança decidir com o
que brincar
• Algumas atitudes:
• Não repreender a criança (mesmo quebrando o
brinquedo)
• Estabelecer regras
• Observar a brincadeira como um todo
• Organizar a sala entre um e outro atendimento
• O ideal é que cada criança tenha sua própria “caixa
lúdica”
TIPOS DE ESCUTA

ESCUTA OBJETIVA Discurso


Escuta
paternal
ESCUTA SUBJETIVA Contratransferência
Escuta Escuta
Incrédula crédula
ESCUTA EMPÁTICA (Pré)consciente
Escuta
ESCUTA INTERSUBJETIVA Relação maternal
ESCUTA OBJETIVA

• Foco no discurso do paciente


• Continuidades e rupturas
• Lapsos, repetições
• O que falta?
• Atitude de desconfiança no que o paciente fala
(discurso manifesta/latente)
• Confia pouco na intuição do analista e mais em
sua capacidade intelectual
ESCUTA OBJETIVA
• Atenção para as metáforas, metonímias, negações,
meias-palavras, repetições, pleonasmos, digressões
do paciente
• Alguns analistas incluem:
• Imagens visuais
• Movimentos corporais do paciente
• Mudanças na postura do paciente
• Analistas kleinianos tendem a considerar todas as
associações como estando relacionados à
transferência
• O que causou a mudança no fluxo das associações ou da
brincadeira?
ESCUTA SUBJETIVA

• Foco na contratransferência (o que ocorre no


analista ante o diálogo do paciente)
• Confia na intuição do analista
• “Sem memória, sem desejo” (Bion)
• Leva em conta:
• Rêveries
• O estado emocional ao ouvir o paciente
• A mudança de postura e movimentos ao escutar
• Gestos
ESCUTA EMPÁTICA

• Busca ativa de entrar em sintonia com a


experiência do paciente
• Foco nos sentimentos
• Capacidade do analista em fazer regressões
controladas
• Leva em conta o modelo da relação mãe-
bebê
ESCUTA INTERSUBJETIVA

• O trabalho clínico é um interjogo


• Todo material clínico é co-construído
• A escuta é um processo compartilhado
• Terceiro Analítico (Ogden)
• Campo Analítico (Baranger e Ferro)
ESCUTA ANALÍTICA

Ao escutar o paciente, devemos levar em


consideração:
• Contextualidade
• História do paciente
• História do tratamento
• Realidade atual
• A escuta analítica varia de acordo com:
• Nível estrutural do paciente
• Organização psíquica do paciente
• Tom e direção das associações
ESCUTA ANALÍTICA

O que evitar?
• Apenas descrever sintomas
• Fanatismo da interpretação (correta)
• Supervalorização dos detalhes
• Esquematizações e mecanicismos
• Analisar apenas um aspecto (sintomas,
sexualidade, personalidade etc.)
• Evitar negligenciar o presente
OBSERVAÇÃO

Como o paciente usa os objetos na sessão?

FALA PENSAMENTOS SONHOS GESTOS


Como uma verdade/crença que guia sua conduta?
Como uma resistência ou impedimento ao conhecimento?
Como uma forma de rememoração?
Como algo para chamar a atenção?
Como uma explicação/interpretação?
Como uma mera descarga ou ação?
DIGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
• O diagnóstico é uma avaliação subjetiva que se
sustenta no discurso do paciente e na
subjetividade do analista
• Trata-se de um potencial diagnóstico
• Prevalência do dizer do paciente
• Não há relação de causa-efeito única nos
sintomas
• O diagnóstico auxilia na orientação do
tratamento
• O diagnóstico também tem a ver com uma
certa teoria de cura
DIGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
• Devemos ter o cuidado de evitar fazer
diagnósticos de entidades clínicas isoladas
(p.ex., “neurose fóbica” ou “psicose
paranoica”)
• Tais diagnósticos são de pouca validade clínica
como também correm o risco de se
constituírem obstáculos
• Articula as questões fundamentais do sujeito:
• Vida ou morte
• Sexo
• Procriação
• Paternidade
DIGNÓSTICO EM PSICANÁLISE

• Como o sujeito se posiciona ante:


• Complexo de Édipo (Lei)
• Castração
• Falta
• Cultura (Outro)
• Desejo
• Linguagem
DIGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
Três formas de negação do Édipo

RECALQUE Neurose Sintoma Amnésia infantil

Negação das
DESMENTIDO Perversão Fetiche
diferenças sexuais

Exteriorização
FORACLUSÃO Psicose Alucinação
dos pensamentos
DIGNÓSTICO EM PSICANÁLISE
Histeria
Neurose intrapsíquico Eu X Isso
Neurose obsessiva

Fetichismo
Perversão Sadismo
Masoquismo
Paranoia

Psicose externo Eu X Mundo Esquizofrenia


Psicose maníaco-
depressiva
NEUROSE OBSESSIVA

Sofre no pensamento Tenta anular o desejo


Excesso de gozo Reduz o desejo aos pedidos do Outro
Tomado pela culpa “Eu era feliz e não sabia”
Autorrecriminações Não se responsabiliza peles seus atos
Ambivalência Lógica do ter (dinheiro, carro, mulheres etc.)
Defesa contra o afeto Dívida é um tema central
Temas da morte e da castração Superstição, crença, onipotência do pensamento
Deslocamento Supereu tirânico
Tenta driblar a morte através de rituais Caráter anal
HISTERIA

Questionamento da identidade sexual Preocupação com a beleza


Encenações Indecisão permanente
Exibição Institui um mestre para desbanca-lo
Busca revelar a verdade Excesso de cólera resultante de contrariedades
Busca despertar admiração dos outros Desejo de aparecer
Sintomas conversivos Querer agradar
Sintomas de angústia Ostentação
Sente-se como não tendo sido amado Autopunição ante ao sucesso
Vê-se como objeto desvalorizado, frustrado, Supercompensação
incompleto
PSICOSES

PARANOIA ESQUIZOFRENIA
Relativa organização do eu Eu se encontra mais desorganizado
Separação entre eu e o Outro Sente o Outro como invasivo
Perda da conexão entre linguagem e
Relativa clareza discursiva
pensamento
O mundo externo é ameaçador Alteração no mundo interno

Manifesta-se através de
Alucinações
delírios
CONTEÚDO CONTINENTE

♂ ♀
IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA

Necessidades, desejos, demandas e Capacidade de receptividade dos


angústias, protoemoções conteúdos

Impressões
sensoriais e FUNÇÃO α Absorve
experiências Elementos β Elementos α Seleciona
emocionais Desintoxica
arcaicas Transforma
Traduz

RÊVERIE Elementos que


Elementos α predominantemente
adquirem a forma de
imagens visuais
Sonhos
Pensamentos
DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO
A função-alfa atua sobre as impressões sensíveis, quais quer que
sejam, e sobre as emoções que o paciente percebe. À medida que a
função-alfa atua, produzem-se elementos-alfa passíveis de se
armazenar e corresponder aos requisitos de pensamentos oníricos
Impressões Função α Pensamentos
Elementos α
sensíveis atuante oníricos
Se a função-alfa se perturba e, por isso, não atua, as impressões sensíveis que o
paciente percebe e as emoções que experimenta permanecem inalteradas. Dou-
lhes o nome de elementos-beta
Impressões Função α não Pensamentos
atuante Elementos α
sensíveis oníricos

Elementos β
DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO
FUNÇÃO α
Elementos β Elementos α

Toda patologia é uma patologia por...


INSUFICIÊNCIA DA EXCESSO DE ELEMENTOS
INSUFICIÊNCIA DO ♀
FUNÇÃO α β
Temos a formação de São as situações
Existe uma deficiência
elementos α, mas são “traumáticas”, derivam do
originária da formação
defeituosos os aparelhos acúmulo de elementos β em
do pictograma visual, até
com os quais se possa quantidade maior do que se
a ausência da formação
trabalhar esses é capaz de transformar em
da própria “mente”
elementos elementos α, e depois em
emoções e pensamentos
DIAGNÓSTICO PSICANALÍTICO
Fatores de cura...
 Desenvolvimento do “Continente” (♀)
 Desenvolvimento da função-α/ dreaming ensemble
(“conjunto dos sonhos”)
 Desenvolvimento onírico
 “Alfabetização” das protoemoções:
• Externo (paranoia, esquizofrenia, autismo);
• No corpo (somatizações);
EVACUAÇÃO • Na sociedade (delinquência);
• Na mente (evitamento = fobia; controle= obsessão);
Elementos β
• Narcisismo;
EVITAR • Funcionamentos autísticos (fixação nos detalhes, repetições,
EMOÇÕES miniaturirização das emoções);
• Fanatismos, dogmatismos;
ATIVIDADES
RUMINAÇÃO Uma forma de entrar
BÁSICAS DA • Escolhas profissionais;
novamente em contato com as
MENTE Elementos β • Escolhas amorosas;
emoções

Para que as emoções possam ser vividas é necessário um • Figurabilidade;


VIVER
• Criação de cenários;
EMOÇÕES intenso trabalho prévio que pressupõe a integridade de
alguns aparatos para torna-las passíveis de serem • Reunir partes cindidas;
assimiladas, administradas, contidas • Narrabilidade
Elementos α
COMO TERMINAR UMA SESSÃO?

• Encerrar a sessão pode ser uma


intervenção analítica
• Ao seguir rigorosamente o critério
cronológico, o analista se resguarda
contratransferência
• Entretanto, o uso de tempo variável
pode pontuar a fala do paciente
COMO TERMINAR UMA SESSÃO?
• É importante deixar uma margem entre as
sessões para que se tenha tempo para lidar
com situações em que se precise estender
• Sinalizar para o paciente que a sessão está
terminando
• Pacientes que querem prolongar a sessão
• Pacientes que contam o mais importante
no final
• Pacientes com fixação no tempo
• Pacientes que chegam ao final da sessão
abalados emocionalmente
REGISTRO DAS SESSÕES

• Evitar fazer anotações na frente do paciente


• Exceções: nomes, datas, medicamentos etc.
• O registro deve ser feito após a sessão
• O que registrar?
• Dados gerais do paciente
• Situações relevantes narradas na sessão
• Suas impressões (hipóteses, progressos etc.)
REGISTRO DAS SESSÕES

• O registro não precisa ser minucioso, apenas


o essencial para ser lembrado pelo analista
• Você pode utilizá-los para revisão das sessões
(do caso clínico) e de forma ativa retomar
pontos que ficaram em aberto
• Os registros devem ser guardados e mantidos
sob sigilo

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