Você está na página 1de 32

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE

Equipe de Elaboração
Grupo ZAYN Educacional

Coordenação Geral
Ana Lúcia Moreira de Jesus

Gerência Administrativa
Marco Antônio Gonçalves

Professor-autor
Diana Pacheco Laia

Coordenação de Design Instrucional do Material Didático


Eliana Antônia de Marques

Diagramação e Projeto Gráfico


Cláudio Henrique Gonçalves

Revisão
Ana Lúcia Moreira de Jesus
Mateus Esteves de Oliveira

GRUPO ZAYN EDUCACIONAL

Rua Joaquim Pinto Lara, N° 87

2ºAndar – Centro

Piracema –MG

CEP: 35.536-000

TEL: (31) 3272-6646

ouvidoria@institutozayn.com.br

pedagogico1@institutozayn.com.br
Boas-vindas

Olá!

É com grande satisfação que o Grupo ZAYN Educacional agradece por


escolhê-lo para realizar e/ou dar continuidade aos seus estudos. Nós do ZAYN
estamos empenhados em oferecer todas as condições para que você alcance
seus objetivos, rumo a uma formação sólida e completa, ao longo do processo
de aprendizagem por meio de uma fecunda relação entre instituição e aluno.
Prezamos por um elenco de valores que colocam o aluno no centro de
nossas atividades profissionais. Temos a convicção de que o educando é o
principal agente de sua formação e que, devido a isso, merece um material
didático atual e completo, que seja capaz de contribuir singularmente em sua
formação profissional e cidadã. Some-se a isso também, o devido respeito e
agilidade de nossa parte para atender à sua necessidade.
Cuidamos para que nosso aluno tenha condições de investir no
processo de formação continuada de modo independente e eficaz, pautado
pela assiduidade e compromisso discente.
Com isso, disponibilizamos uma plataforma moderna capaz de oferecer
a você total assistência e agilidade da condução das tarefas acadêmicas e, em
consonância, a interação com nossa equipe de trabalho. De acordo com a
modalidade de cursos on-line, você terá autonomia para formular seu próprio
horário de estudo, respeitando os prazos de entrega e observando as
informações institucionais presentes no seu espaço de aprendizagem virtual.
Por fim, ao concluir um de nossos cursos de pós-graduação, segunda
licenciatura, complementação pedagógica e capacitação profissional,
esperamos que amplie seus horizontes de oportunidades e que tenha
aprimorado seu conhecimento crítico acerca de temas relevantes ao exercício
no trabalho e na sociedade que atua. Ademais, agradecemos por seu ingresso
ao ZAYN e desejamos que você possa colher bons frutos de todo o esforço
empregado na atualização profissional, além de pleno sucesso na sua
formação ao longo da vida.
“A maioria das pessoas não quer
realmente a liberdade, pois liberdade
envolve responsabilidade, e a
maioria das pessoas tem medo de
responsabilidade”.

Sigmund Freud
INTRODUÇÃO À GRUPO ZAYN
PSICANÁLISE EDUCACIONAL

EMENTA: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

A psicanálise é método terapêutico 1. Introdução


criado por Freud. Assim, na disciplina 2. A história da psicanálise
introdução à psicanálise, serão
3.Principais conceitos da
estudados conteúdos essenciais para
a compressão da psicanálise, o que psicanálise 10
envolve sua história e seus principais 4. O núcleo do método psicanalítico e
conceitos. o setting

5. O tratamento psicanalítico

Curiosidades

Homem dos Lobos - Resumo do Caso

Mito de Narciso em resumo

Referências

Organização do conteúdo:
Prof.ª Diana Pacheco Laia
CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA
Disciplina: INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE

EMENTA

A psicanálise é método terapêutico criado por Freud. Assim, na disciplina


introdução à psicanálise, serão estudados conteúdos essenciais para a
compressão da psicanálise, o que envolve sua história e seus principais
conceitos.

OBJETIVOS

Compreender o que é a psicanálise, seu surgimento e seus principais


conceitos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Introdução

2. A história da psicanálise

3. Principais conceitos da psicanálise 10

4. O núcleo do método psicanalítico e o setting

5. O tratamento psicanalítico

Curiosidades

Homem dos Lobos - Resumo do Caso

Mito de Narciso em resumo

Referências
Sumário

1. Introdução ..................................................................................................... 7

2. A história da psicanálise ............................................................................. 8

3. Principais conceitos da psicanálise ......................................................... 10

3.1 Consciente, Pré-consciente e Inconsciente ....................................... 10

3.2 Desenvolvimento psicosexual...............................................................11

3.3 Complexo de édipo ............................................................................... 12

3.4 O Ego, o Id e o Superego...................................................................... 12

3.5 Associação livre .................................................................................... 13

4. O núcleo do método psicanalítico e o setting ......................................... 14

5. O tratamento psicanalítico ........................................................................ 15

5.2 Métodos de Tratamento Psicanalítico ................................................. 16

5.3 Interpretação dos Sonhos .................................................................... 18

Curiosidades................................................................................................... 22

Homem dos Lobos - Resumo do Caso ......................................................... 22

Mito de Narciso em resumo........................................................................... 29

Referências ..................................................................................................... 31
7

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE

1. Introdução

A Psicanálise é uma teoria que estuda a mente humana e uma prática


terapêutica. Foi fundada por Sigmund Freud entre 1885 e 1939 e continua sendo
desenvolvida por psicanalistas ao redor do mundo. A psicanálise tem quatro áreas
principais de aplicação: como uma teoria de como a mente trabalha, como um
método de tratamento para problemas psíquicos, como um método de pesquisa, e
como uma forma de observar os fenômenos culturais e sociais, como a literatura,
arte, cinema, performances, política e grupos (IPA, 2021).
O objetivo da psicanálise elaborada por Freud buscava tratar desequilíbrios
psíquicos, sendo a descoberta do inconsciente o seu principal incentivo. A partir de
então, Freud passou a investigar esse inconsciente tão desconhecido, na tentativa
de compreender seus mecanismos, originalmente conferindo-lhe uma realidade no
plano psíquico.
O principal inspirador de Freud foi o fisiologista Josef Breuer, o qual
trabalhava com a hipnose, método que marcou profundamente o psicanalista, no
entanto, mais tarde Breuer deixa a hipnose como forma terapêutica e a troca pela
livre associação.
O principal interesse de Freud eram os distúrbios emocionais que, na época,
eram chamados de ‘histeria’. Além disso, Freud colocava como causa de toda
perturbação de ordem emocional, as vivências sexuais marcantes de cada indivíduo,
que por se revelarem perturbadoras, são reprimidas no Inconsciente.
Ao psicanalista, cabe ouvir e interferir apenas quando necessário, assim que
observar um momento de ajudar o analisando a trazer para a consciência seus
desejos reprimidos, deduzidos a partir da livre associação. No geral, o analista deve
se manter imparcial.
8

2. A história da psicanálise

Freud inaugurou seu consultório em 1886, em Viena, com o objetivo de


atender pacientes com distúrbios nervosos. Sigmund Schlomo Freud nasceu no dia
6 de maio de 1856, na cidade de Freiberg, na Morávia. Desde criança, os pais de
Freud dedicavam-lhe tratamento especial em relação aos irmãos. Freud sempre foi
muito estudioso, tirava notas altas e estudava línguas estrangeiras por conta própria.
Na adolescência, ele começou a escrever um diário dos seus sonhos.
Entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena em 1873. Depois
de formar-se, em 1881, queria trabalhar com pesquisa, mas, para juntar dinheiro
para o seu casamento, escolheu atender em um consultório situado na capital (hoje,
o Museu Freud de Viena).
Sigmund Freud morreu em 23 de setembro 1939, na sua casa, em Londres,
onde hoje funciona o Museu Freud de Londres. Relatos apontam que ele faleceu
depois que seu médico aplicou-lhe três doses de morfina.

Sigmund Freud

Fonte: Revista Galileu


9

Inicialmente, Freud recorreu à hipnose como forma terapêutica, mas acabou


desenvolvendo outra técnica importante para tratar seus pacientes: a chamada
talking cure, que significa a cura pela fala, que se tornou a base da psicoterapia.
Com diversos estudos e aplicações sobre a “cura pela palavra”, Freud
desenvolveu a teoria da psicanálise, em que o objetivo era a compreensão da mente
da mente humana, em especial daqueles que tinham sofrimento mental.
Inicialmente, Freud tratava as “histéricas”, ou seja, mulheres que apresentavam
vários sintomas, como ansiedade, falta de ar, desmaios, nervosismo, insônia,
irritabilidade, perda de apetite e uma tendência a causar problemas para a
sociedade.
Freud observou, então, que as pessoas que não expressavam seus
sentimentos ficavam com a mente doente e, ao aplicar técnicas da psicanálise,
como a livre associação e a interpretação dos sonhos, por exemplo, os pacientes
eram estimulados a externar seus pensamentos e memórias que causavam as
neuroses (TANCREDI, 2021).
Os pacientes ofereciam a Freud livre associações que os levavam de volta a
experiências infantis reprimidas, desejos e fantasias que haviam resultado em
conflitos inconscientes; uma vez trazidos à consciência, esses conflitos poderiam ser
analisados e os sintomas, então, dissolvidos. Freud atendia os pacientes seis vezes
por semana, ouvindo e respondendo ao que eles lhe diziam enquanto estavam
deitados em um divã (IPA, 2021).
10

3. Principais conceitos da psicanálise

3.1 Consciente, Pré-consciente e Inconsciente

Consciente:
O consciente é tudo aquilo que estamos conscientes no momento, no agora.
Ele corresponde à menor parte da mente humana. Nele está tudo o que podemos
perceber e acessar de forma intencional.
O consciente funciona de acordo com as regras sociais, respeitando tempo e
espaço, ou seja, por meio dele que se dá a nossa relação com o mundo externo. O
consciente é a nossa capacidade de perceber e controlar o nosso conteúdo mental
presente que pode ser percebida e controlada por nós.
Em resumo, o Consciente responde pelo aspecto racional, por aquilo que
estamos pensando, pela nossa mente atenta e por nossa relação com o mundo
exterior a nós. É uma pequena parte da nossa mente, embora acreditemos que seja
a maior.

Pré-consciente:

O pré-consciente se refere àqueles conteúdos que podem chegar ao


consciente, mas que não permanecem lá o tempo todo. Os conteúdos são
informações sobre as quais não pensamos, mas que são necessárias para que o
consciente faça suas funções. Nosso endereço, telefone, nome dos amigos, idade e
data de nascimento são exemplos.
É importante lembrar ainda que, apesar de se chamar Pré-consciente, esse
nível mental pertence ao inconsciente. Podemos pensar no pré-consciente como
algo que fica entre o inconsciente e o consciente, filtrando as informações que
passarão de um nível ao outro.
O pré-consciente não está em um nível recalcado ou interditado, como
costumam ser os fatos do inconsciente que interessam à psicanálise. Comparando
com os outros níveis (consciente e inconsciente), o pré-consciente é o menos
abordado por Freud.
11

Inconsciente:

Inconsciente se refere a todo aquele conteúdo mental que não está disponível
para a pessoa em todo momento. Ele é a maior fatia de nossa mente e, para Freud,
a mais importante. Quase todas as memórias que acreditamos estarem perdidas
para sempre, como os sentimentos que ignoramos, estão em nosso inconsciente.
Esse acesso ao inconsciente acontece, muitas vezes, através dos sonhos, dos atos
falhos e da terapia psicanalítica.
Para Freud, a reflexão que mais interessa quanto ao inconsciente é vê-lo com
uma porção de nossa mente que não está acessível de forma clara. O inconsciente
tem uma linguagem própria. É possível dizer que o inconsciente é baseado na
pulsão e, em certo sentido, na agressividade e na realização imediata do desejo.
No nível individual a mente pode criar barreiras e interdições, chamadas
de recalques ou recalcamentos, para evitar que o desejo se realize ou, no nível
social, criar leis e regras morais, bem como converter esta energia para atividades
“úteis” à sociedade, como o trabalho e a arte, processo que Freud chamará
de sublimação.

3.2 Desenvolvimento psicossexual

Freud reconheceu que a maturação progressiva das funções corporais


centrada nas zonas erógenas (boca, ânus e genitais) ocorre junto com prazeres e
temores experimentados na relação com os objetos cuidadores, e estes estruturam
o desenvolvimento da mente da criança (IPA, 2021).
Para Freud as fases do desenvolvimento são divididas em cinco:
 Fase oral (nascimento a 1 ano): Zona erógena é a boca. Durante a fase oral,
a principal fonte de interação da criança ocorre através da boca, de modo que o
reflexo de enraizamento e sucção é especialmente importante. A boca é vital para a
alimentação, e o bebê recebe prazer da estimulação oral por meio de atividades
gratificantes como degustação e sucção;
 Fase Anal (1 a 3 anos): Zona erógena é o ânus. Durante o estágio anal,
Freud acreditava que o foco principal da libido era controlar os movimentos da
bexiga e do intestino. O principal conflito neste estágio é o treinamento de ir ao
12

banheiro, em que a criança precisa aprender a controlar suas necessidades


corporais. Desenvolver esse controle leva a um sentimento de realização e
independência;
 Fase fálica (3 a 6 anos): Zona erógena são os genitais. Freud sugeriu que
durante o estágio fálico, o foco primário da libido está nos genitais. Nesta idade, as
crianças também começam a descobrir as diferenças entre homens e mulheres.
Freud também acreditava que os meninos começavam a ver seus pais como um
rival pelos afetos da mãe, nessa fase também ocorre o complexo de édipo;
 Fase de latência (6 anos até a puberdade). Não há zona erógena. O período
latente é um período de exploração no qual a energia sexual é reprimida ou
adormecida. Essa energia ainda está presente, mas é sublimada em outras áreas,
como atividades intelectuais e interações sociais. Esta etapa é importante no
desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação e autoconfiança;
 Fase genital (puberdade em diante). Zona erógena: genital e as demais,
secundárias. O início da puberdade faz com que a libido se torne ativa novamente.
Durante o estágio final do desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um
forte interesse sexual pelo sexo oposto. Este estágio começa durante a puberdade,
mas dura todo o resto da vida de uma pessoa (OPAS, 2018).

3.3 Complexo de édipo

A criança na idade de quatro a seis anos passa a tomar consciência da


natureza sexual da relação de seus pais, em que ela é excluída. Nesse momento,
surgem sentimentos de ciúmes e rivalidade que tem que ser resolvidos, junto a
questões de quem é homem e quem é mulher, quem pode amar e casar com quem,
como são feitos e nascem os bebês, e o que uma criança pode ou não fazer,
comparada com um adulto. A resolução dessas questões desafiadoras moldará o
caráter da mente adulta e o Superego (IPA, 2021).

3.4 O Ego, o Id e o Superego


13

 Ego: é o principal lugar da consciência, o agente da mente que exerce as


repressões e integra e consolida vários impulsos e tendências antes que elas sejam
postas em ação;
 Id é a parte inconsciente da mente, o lugar dos traços de memória
reprimidos e incognoscíveis da mente inicial;
 Superego é o guia e consciência da mente, um detentor das proibições a
aderir, e ideais a perseguir (IPA, 2021).

3.5 Associação livre

Descreve o surgimento de pensamentos, sentimentos e fantasias quando elas


não estão inibidas pelas restrições do medo, culpa e vergonha.
Na primeira sessão de psicanálise, o analista apresenta uma regra ao
analisando, que deverá guiar o processo terapêutico, como Freud anunciava aos
seus próprios pacientes: “Diga, pois, tudo que lhe passa pela mente. Comporte-se
como faria, por exemplo, um passageiro sentado no trem ao lado da janela que
descreve para seu vizinho de passeio como cambia a paisagem em sua vista. Por
último, nunca se esqueça que prometeu sinceridade absoluta, e nunca omita algo
alegando que, por algum motivo, você ache desagradável comunicá-lo” (Freud,
“Sobre o Início do Tratamento”, 1913, p.136).

Em “A Interpretação dos Sonhos” Freud reconhece que muitos sonhos


desafiavam a compreensão simples e eram desprovidos de sentido lógico,
mas tinham sua própria lógica. Da mesma forma que, quando acordados, a
associação livre é uma maneira de driblar as defesas do ego e acessar o
inconsciente, quando estamos dormindo os sonhos reportam medos e
desejos inconscientes. O sonho o faz de uma maneira figurada, não literal
(PSICANÁLISE CLÍNICA, 2018).

A escuta, assim como a fala, tem um lugar central na psicanálise. Assim como
a fala se baseia na associação livre, a escuta do psicanalista precisa sempre estar
atenta para realizar conexões. Essas conexões podem trazer insights para o
paciente compreender a sua condição.
14

4. O núcleo do método psicanalítico e o setting

O método utilizado na Psicanálise é a cura pela fala, que é baseado no


método da livre associação. Na associação livre paciente é convidado a dizer
qualquer coisa que venha a sua mente, sem restrições do tipo considerações de
contexto, sentimentos de vergonha ou culpa e outras objeções. Ao aderir a esta
regra os processos de pensamento do paciente farão ligações surpreendentes,
revelarão conexões conscientemente indisponíveis com desejos e defesas, e
levarão às raízes inconscientes de conflitos até então não resolvidos que moldam as
situações transferenciais (IPA, 2021).
Com as associações livres dos pacientes, os analistas irão adentrar a um
processo mental similar chamado atenção livremente flutuante, pelo qual seguirão
as comunicações do paciente assim como perceberão - as vezes como se em um
sonhar acordado - suas próprias associações que emergirão na contratransferência.
A integração destas várias espécies de informação é um trabalho principalmente
interno para o analista moldar uma visão das situações transferênciais-
contratransferenciais que finalmente se agrupam em uma gestalt emergente (uma
fantasia inconsciente), que pode ser experimentada por ambos, analista e paciente
(IPA, 2021).

Transferência é a tendência ubíqua da mente humana a ver e identificar


novas situações dentro dos moldes das experiências iniciais. Em
psicanálise a transferência ocorre quando um paciente vê o analista como
uma figura parental, com quem ele pode re-experimentar os principais
conflitos ou traumas infantis como se dentro da relação pais-filho original
(IPA, 2021, p. 4).

Com o auxílio das intervenções do analista - frequentemente interpretações


transferenciais do que transpira no aqui e agora da sessão - uma nova compreensão
do sofrimento do paciente emergirá. A aplicação repetida destes novos insights em
muitas situações similares, nas quais o mesmo tipo de conflito surge, é o processo
de elaboração, que torna o paciente cada vez mais capaz de reconhecer os
processos de pensamento que movimentam seus conflitos. Resolver estes conflitos
e colocálos em perspectiva, ou em repouso liberará a mente do paciente de velhas
inibições e abrirá espaço para novas escolhas (IPA, 2021).
O método descrito anteriormente é melhor aplicado no setting clássico:
15

O paciente está confortavelmente deitado no divã, dizendo o que lhe vier à


mente, sem ser distraído por ver o analista, que usualmente está sentado
atrás do divã. Isto permite, a ambos parceiros do empreendimento analítico,
ouvir e refletir completamente acerca do que transpira na sessão: o paciente
se sentirá imerso em seu mundo interno, reviverá memórias, revisitará
experiências importantes, falará acerca dos sonhos e criará fantasias, tudo
isto que, fazendo parte da jornada analítica, lançará novas luzes na vida,
história e elaborações da mente do paciente. A sessão de análise
comumente dura de 45 a 50 minutos. Com o objetivo de continuamente
aprofundar o processo analítico, as sessões de psicanálise preferentemente
ocorrem em três, quatro ou cinco dias por semana. Uma menor frequência
de sessões semanais ou o uso da poltrona em lugar do divã poderão às
vezes ser necessários. Todos os acordos acerca do setting (incluindo os
horários, o valor da sessão e a política de cancelamentos) serão
contratados por ambos, paciente e analista, e terão que ser renegociados
se mudanças forem necessárias. A duração de uma análise é difícil de
predizer; uma média de três a cinco anos pode ser esperada, embora
qualquer caso individual possa necessitar de mais ou de menos tempo para
o encerramento (IPA, 2021, p. 8).

Paciente e analista são, contudo, livres para a qualquer momento decidir


interromper ou terminar a análise.

5. O tratamento psicanalítico

A psicanálise e a psicoterapia psicanalítica são voltadas para quem se sente


aprisionado em problemas psíquicos recorrentes que o impedem de experimentar a
felicidade com seus parceiros, famílias e amigos, assim como sucesso e satisfação
em seu trabalho e tarefas normais da vida diária.
Ansiedades, inibições e depressões tendem a ser sinais de conflitos internos,
que levam a dificuldades nas tarefas comuns o dia a dia do sujeito e, se não
tratados, podem ter um impacto considerável nas escolhas pessoais e profissionais.
As causas dos problemas são mais profundas do que a consciência pode alcançar,
que é o motivo pelo qual não podem ser resolvidos sem psicoterapia.
Com o auxílio de um analista capacitado o paciente pode obter novos
conhecimentos (insights) sobre as partes inconscientes destes distúrbios. Conversar
com um psicanalista levará o paciente a tornar seus conflitos internos cada vez mais
conscientes (pensamentos e sentimentos, memórias e sonhos), aliviando a dor
psíquica e promovendo o desenvolvimento da personalidade, além de oferecer uma
auto-consciência que fortalecerá a confiança do paciente para prosseguir com seus
16

objetivos na vida. Estes efeitos positivos da psicanálise deverão durar e levar a


novos desenvolvimentos mesmo após a análise ter terminado (IPA, 2021).

Freud em seu consultório

Fonte: Cultura Genial.

5.2 Métodos de Tratamento Psicanalítico

 Psicanálise é aplicada de várias maneiras. O tratamento psicanalítico


clássico (ver acima) foi desenhado para melhor acomodar as capacidades de um
paciente adulto neurótico que está razoavelmente bem adaptado às demandas da
vida e trabalho. Entretanto, tratamento psicanalítico de alta frequência também é
utilizado para uma gama maior de psicopatologias (escopo ampliado), como por
exemplo, transtornos de personalidade borderline e narcisista severa;
 Psicoterapia psicanalítica ou psicodinâmica com adultos é usualmente
utilizada com frequência menor (uma ou duas sessões por semana) e em uma
disposição sentada, face a face. Frequentemente seus objetivos são mais focados
na resolução de um tipo particular de problema (por ex., dificuldades nos
relacionamentos ou no trabalho), depressão ou transtornos de ansiedade. Embora
17

transferências e contratransferências ocorram, como na psicanálise, elas


frequentemente ficam no background e permanecem não interpretadas, dando
espaço para dirigir-se a e resolver mais diretamente os problemas da vida do
paciente. Algumas vezes, ambos participantes em uma psicoterapia psicanalítica
decidem aprofundar seu trabalho, em um momento posterior do tratamento, e
embarcam em psicanálise de alta frequência;
 Crianças (da infância em diante) e adolescentes podem experimentar
problemas duradouros (depressão, ansiedade, insônia, agressão extrema e
crueldade, pensamento obsessivo, comportamento compulsivo, dificuldades de
aprendizado, distúrbios alimentares, etc.) que podem pôr em perigo seu
desenvolvimento psíquico e causar preocupações em seus pais, professores e
amigos. Para eles, têm sido desenvolvidos métodos de tratamento psicanalítico
modificados de acordo com a idade (incluindo brincar com bonecos, brinquedos e
desenhar) que permitem à criança ou adolescente expressar o que os está
incomodando. Analistas de crianças são especialistas em perceber as porções
inconscientes das comunicações de seus pacientes e responder a elas de forma
apropriada, assim ajudando a criança a resolver conflitos e problemas emocionais
que repousam sob seus sintomas manifestos e interferem com seu posterior
desenvolvimento emocional;
 Psicodrama psicanalítico foi desenvolvido (principalmente nos EUA e na
França) para pacientes com inibições massivas, que precisam suporte para
representar, expressar e elaborar suas dificuldades no sentido de estruturar seu
mundo interno. O setting inclui um líder ou diretor da representação, que auxilia o
paciente a sugerir, entrar e desenvolver uma cena (por ex., uma lembrança, um
sentimento, uma situação ocorrida), que é o material para o trabalho terapêutico. O
paciente encena com vários co-terapeutas ou atores que assumem papéis atribuídos
a eles pelo paciente. A função dos co-terapeutas é compreender empaticamente
estes papéis como partes do paciente (por ex., diferentes lados de um conflito) ou
seus objetos significativos, e traduzir o significado latente destes papéis
representando seus processos (principalmente defensivos) inconscientes
subjacentes. O líder da peça pode interromper e interpretar a cena em qualquer
ponto. A peça permite o desdobramento de questões anteriormente difíceis para o
paciente e facilita sua integração e internalização. O objetivo é desenvolver o insight
18

do paciente em sua vida interna (pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos e


conflitos), e estimular sua ativação, assim expandindo o espaço (teatro interno)
psíquico (intermediário), em que seus vários componentes podem ser considerados
e compreendidos;
 Psicoterapia psicanalítica de Casais e Família aplica os insights da
psicanálise para a dinâmica encontrada entre os parceiros de casais e famílias, que
estão presos em conflitos recorrentes. Com o auxílio de um psicanalista, aspectos
de posições e transferências incompatíveis, projeções mútuas, e as encenações
repetidas de fantasias inconscientes, podem ser interpretadas e analisadas,
considerando as ideias inconscientes que prevalecem a respeito do que o
casamento e a vida familiar podem ou deve significar, assim aliviando tensões e
abrindo caminhos para novas escolhas auto-determinadas;
 Grupos psicanalíticos (usualmente com 6 a 9 membros) utilizam-se da
tendência universal que encontros não estruturados de indivíduos em pequenos ou
grandes grupos, sem uma tarefa definida, têm de experimentar regressões a níveis
primitivos de funcionamento psíquico, p. ex., dependência e submissão de um líder
idealizado ou frustrador, reações agressivas de luta-fuga, pareamentos e cisões em
subgrupos, assim como defesas contra esses processos. Enquanto alguns grupos
focam na participação e interação individual, no aqui e agora da dinâmica de grupo,
outros se dirigem aos processos globais do grupo e à cultura particular que emerge
através das discussões livremente-flutuantes (equivalente da livre associação). O
trabalho de grupo psicanalítico pode servir a vários propósitos: há grupos
psicoterapêuticos, grupos que estimulam o desenvolvimento pessoal, grupos de
discussão clínica para médicos (Grupos Balint, Conferências-Tavistock), assim como
grupos que encorajam auto-reflexão e resolução de problemas em organizações
maiores (IPA, 2021).

5.3 Interpretação dos Sonhos

A interpretação dos sonhos foi a obra freudiana utilizada para introduzir o


público aos procedimentos da psicanálise. A partir dela Freud considerada o sonho e
sua interpretação como forma de apresentar de modo detalhado não somente os
fundamentos de sua compreensão da neurose, mas também do que chama
19

“aparelho psíquico” de modo geral, como um aparelho regulado por forças dos
desejos e as oposições que se lhes fazem. É a interpretação dos sonhos a primeira
formulação desse aparelho em seus sentidos tópico, econômico e dinâmico (CELES,
2005).
Interpretar sonhos tem como propósito revelar a fala do paciente no sentido
que lhe é próprio. Freud opõe a especificidade do trabalho da psicanálise de
interpretar sonhos à sua interpretação popular. Essa oposição se baseia no
fundamento de que a psicanálise tem como objetivo revelar o sentido do sonho do
paciente e não lhe emprestar um sentido que lhe seja externo, ou seja, a psicanálise
inscreve a própria pessoa que sonha na interpretação do sentido de seu sonho
(CELES, 2005).
O sentido do sonho é sempre a figuração da realização de um desejo, ou
seja, o desejo de um sujeito singular é que constitui o termo da interpretação de um
sonho. A interpretação tem a finalidade precisa de revelar o desejo individual do
sujeito, o qual é realizado em cada sonho. O sentido do sonho está na própria
história daquele que sonha, não fora dela. É pelo fato do sonho revelar as
intimidades do sonhador que Freud, expondo e interpretando seus próprios sonhos,
reserva-se o direito de não contar todo o sentido de seus sonhos, de não revelar seu
termo (CELES, 2005).
É o analista quem interpreta os sonhos do sujeito. A interpretação do sonho é
resultado do trabalho da associação livre do sonhador, de sua fala, revelando o que
essa realmente quer dizer, mas que o analisando não sabia ou não queria saber. O
trabalho de fala do analista, implicado na interpretação, faz com que o analista
ocupe uma posição de “espelho vazio”, ou seja, o analista “devolve” o que o
paciente fala, para que assim o paciente ouça sua própria fala. É o modo de ouvir do
analista que transforma o discurso do paciente em fala, esta que materializa a falha
– nos termos de Freud – do discurso consciente. O acolhimento do discurso do
paciente “como portador de sua singularidade, segundo a regra da associação livre,
tem por fim fazer o paciente ouvir sua fala; o tratamento psicanalítico pode, então,
ser interpretado como trabalho de fazer ouvir o que se fala” (CELES, 2005, p. 37).
20

6. Escolas de psicanálise

Além de Freud, alguns outros nomes são importantes para a psicanálise.


Sendo assim, de acordo com Pimenta (2019), cita-se:

Lacan: A abordagem lacaniana enfatiza a estrutura linguística. O indivíduo é


formado através da linguagem. O mundo em que vivemos, de acordo com o
psicanalista, é construído de símbolos e de significantes, conceito que define que
um objeto, imagem ou situação pode representar outra coisa. O indivíduo, portanto,
consegue identificar esses símbolos por conta da linguagem. Jacques Lacan (1901-
1981) também era filósofo, por isso, seu modo de pensar a psicanálise tende a se
apoiar em conceitos mais filosóficos. A construção do “eu” é formada no interior. O
que reside no íntimo de cada um tem ligação direta com o exterior. Para
compreender uma pessoa como um todo, é necessário pensar em ambos os
aspectos, e não apenas julgá-la sobre uma única ótica. Caso contrário, a análise do
outro fica incompleta.
Neste contexto, Lacan estabelece a relação entre o “eu” e o outro, sendo a
linguagem o instrumento de mediação entre eles.

Winnicott:

O foco de Donald Winnicott (1896-1971) é a relação entre a criança e a mãe.


Segundo ele, todos nós nascemos indefesos, porém, com grande potencial. Para
que este possa se desenvolver propriamente, o ambiente precisa ser acolhedor e
garantir a satisfação das necessidades básicas.
O ambiente familiar, econômico e social são influência direta na formação do
indivíduo, sendo a mãe o fator principal. O seu relacionamento e interações com o
bebê são essenciais para que ele cresça bem. Assim, nasce o conceito da “mãe
suficientemente boa”, referente à figura que satisfaz todas as necessidades e
carências do bebê.
Consequentemente, os transtornos mentais seriam resultado tanto de um
relacionamento defeituoso com a mãe quanto de um ambiente desfavorável.
21

A criança não desenvolve apropriadamente o seu lado emocional, resultando


em uma série de complicações na vida adulta. O ambiente deficiente exerce
influência até mesmo em bebês recém-nascidos.

Klein

Melanie Klein (1882-1960) dedicou-se a estudar a mente das crianças para


descobrir seus medos, fantasias e angústias.
Ela desenvolveu a análise do comportamento delas por meio da brincadeira
para ter acesso ao inconsciente da criança já que a associação livre de Freud
dificilmente seria usada com indivíduos de pouca idade.
Diferente de Freud, Klein apontou a agressividade como elemento primordial
no desenvolvimento da criança em vez dos aspectos sexuais. Este é resultante de
um ego primitivo existente desde o nascimento.
Além disso, fundou uma teoria da psicanálise referente às fantasias do
inconsciente. Estas são elaboradas pelas crianças sobre suas mães, geralmente
criando uma imagem mais malvada do que a realidade. As fantasias são inatas
porque representam os instintos mais primitivos da criança.
Para ter acesso a essas fantasias, o psicanalista precisa inserir o lúdico no
tratamento com a criança e estimular brincadeiras para encorajar determinados
comportamentos.

Bion

Wilfred Bion (1897-1979) desenvolveu a Teoria do Pensar. O ato de pensar


surge como uma forma de lidar com a frustração, criando novas realidades para
satisfazer os desejos não satisfeitos.
Quando o ódio oriundo da frustração é grande demais para a pessoa
suportar, este sentimento encontra alívio na descarga imediata por meio de
agitações motoras.
Segundo ele, o pensar depende de dois fatores: os pensamentos
propriamente ditos e a faculdade de pensar. O pensamento vazio acontece quando
uma preconcepção do indivíduo não é realizada. Consequentemente, a frustração
22

aparece, sendo está definida como uma “ausência”. Logo, a pessoa se abre para um
universo simbólico construído ao longo de sua existência através de pensamentos e
interpretações do mundo, de seus sentimentos e das pessoas.
Neste contexto, o pensamento precede o conhecimento já que o indivíduo cria
o que não existe ou não conhece (preconcepção).
Bion também desenvolveu a Teoria do Conhecimento a qual afirma que a
formação do conhecimento da criança é proporcional à capacidade do ego de tolerar
a frustração. Desse modo, ela pode criar mecanismos para evitá-la.

Curiosidades

Homem dos Lobos - Resumo do Caso


(September 24, 2017 – Hítala Gomes).

Relato do caso
Apresentação

Em fevereiro de 1910, um jovem rico e russo dirige-se a Freud para ser


analisado.
Sua saúde havia se abalado aos 18 anos por uma gonorreia infecciosa, mas
ele só procura o tratamento aos 23 anos quando já está incapacitado e dependente
de outras pessoas. Freud percebe que a vida do homem dos lobos havia sido
marcada por um grave distúrbio neurótico nos primeiros anos de vida, e faz uma
descrição muito cuidadosa desse período.
Antes de chegar à Freud o paciente passou um longo período em sanatórios
alemães, tendo tido o diagnóstico de diversos especialistas de um caso de
“insanidade – maníaca –depressiva”. Freud despreza este diagnóstico, acredita que
seria aplicável ao seu pai, que tinha fortes ataques depressivos, mas não para o filho
com fortes traços de uma neurose obsessiva.
Freud, então, se dedica a descrição da neurose infantil, baseada nas
recordações de um adulto, e isso, em alguns momentos geram algumas dúvidas e
questionamentos dos fatos. Freud defende fielmente a cronologia dos eventos, por
23

ter também tido contado com outros familiares, e de algum modo, tendo assim
comprovado os fatos ocorridos.
Freud aponta para as dificuldades da análise, que durante muitos anos
produziu raras mudanças. O paciente demonstrava-se apático, escutava,
compreendia e permanecia inabordável. Numa tentativa de modificar tal situação
Freud (2006, p.23) relata:
Fui obrigado a esperar até que o seu afeiçoamento a mim se tornasse forte o
suficiente para contrabalancear essa retração, e então jogar um fator contra o outro.
Determinei – mas não antes que houvesse indícios dignos de confiança que me
levassem a julgar que chegara o momento certo – que o tratamento seria concluído
numa determinada data fixa, não importando o quanto houvesse progredido. [...] Sob
a pressão inexorável desse limite fixado, sua resistência e sua fixação na doença
cederam e então, num período desproporcionalmente curto, a análise produziu todo
o material que tornou possível esclarecer as suas inibições e eliminar os seus
sintomas.

Histórico familiar

Os pais casaram jovens e mantinham uma vida casada e feliz até iniciarem as
doenças. A mãe começou a sofrer distúrbios abdominais e o pai teve os primeiros
ataques de depressão, que o levaram a se ausentar de casa.
Tinha uma irmã dois anos mais velha, vivaz, dotada, precocemente maliciosa
e que desempenhará um papel importante de despertar o homem dos lobos para a
sexualidade.
Houve várias rupturas na infância, os pais venderam a granja e se mudaram
para a cidade; durante o verão seus pais se ausentavam e o sujeito ficava com a
babá e uma governanta inglesa. Neste período há uma mudança em seu
comportamento, diziam que ele era doce como uma menina, mas tornou-se inquieto,
irritável e violento.
Sua irmã o atormentava muito, sabia que ele tinha medos, e explorava estes
medos.
Durante muito tempo ele foi devoto, e era obrigado a rezar antes de dormir
por um longo período, e fazia uma série interminável de sinal-da-cruz.
24

O pai mostrava grande preferência pela irmã, ele se sentia muito desprezado,
e mais tarde surgira um medo muito grande do pai.
A irmã quando criança era parecida com um menino, mas teve uma fase
brilhante intelectualmente, seu pai a admirava bastante. Aos 20 anos começou a
ficar deprimida, queixando de que não era muito bonita e se afasta do convívio
social. Numa de suas viagens envenenou-se e morreu bem longe de casa.

A sedução

Sua irmã era uma grande competidora e ele sentia-se muito oprimido diante
dela. Em uma primavera, quando o pai estava fora de casa, a irmã havia pegando
no seu pênis e brincava com ele: “A babá, dizia ela, costumava fazer o mesmo com
toda a espécie de gente – por exemplo, com o jardineiro: ela mantinha-lhe a cabeça
em pé e então pegava-lhe nos genitais” (Freud, 2006, p. 32).
Por não ter afinidade com a irmã, e não vê-la como um objeto de desejo, ele
passa a se esquivar dela, mas aos três anos, ele tenta ganhar a pessoa de quem
gostava: sua babá Nanya. Ao se masturbar na frente dela, foi recriminado por uma
ameaça de surgir uma ferida no lugar do pênis. Surge então a castração enquanto
uma possibilidade.
Com a supressão da masturbação, sua vida sexual assumiu um caráter anal-
sádico, tornou-se um menino irritável, atormentador e gratificava-se ao fazer isso
com os animais e seres humanos, principalmente a Nanya, como forma de se vingar
da recusa que encontrara. Mostra-se também cruel com os pequenos animais:
moscas, besouros e na imaginação fazia também com os grandes animais.
A partir disso, surgem também algumas fantasias masoquistas que para
Freud teriam uma relação com o sentimento de culpa.
Ocorre então uma inversão, da atitude passiva a partir da sedução da irmã, a
identificação com o pai é substituída pela escolha objetal, o pai era agora seu objeto.
Com suas rebeldias, tentava forçar castigos e espancamentos pelo pai.
“Uma criança que se comporta de forma indócil está fazendo uma confissão e
tentando provocar um castigo. Espera por uma surra como um meio de
simultaneamente pacificar seu sentimento de culpa e de satisfazer sua tendência
sexual masoquista”. (Freud, 2006, p.39)
25

Seu quarto aniversário foi marcado por um sonho que gerou um estado
grande de angústia.

O sonho

“Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama. (Meu leito tem o pé
da cama voltado para a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas
nogueiras. Sei que era inverno quando tive o sonho, e de noite.) De repente, a janela
abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos brancos estavam
sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos
eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham
caudas grandes, como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando
prestam atenção a algo. Com grande terror, evidentemente de ser comido pelos
lobos, gritei e acordei” (FREUD, 2006, p. 41).
Ele relaciona seu sonho de ansiedade ao medo que sempre teve na infância
da figura de um lobo presente em um livro de contos de fadas o qual a irmã o
perseguia com esta figura.
Tal sonho tem forte ligação com a castração, que aqui aparece como uma
convicção de realidade, não apenas uma possibilidade. Freud conclui que o lobo
pode ser um substituto do pai, e que teria trazido à tona o temor ao pai, que a partir
dessa época domina sua vida. O medo de castração pode ter se tornado a força
motivadora para a transformação do afeto.
O fato do quadro de ansiedade ter ocorrido à noite durante o sonho o remeteu
a uma cena que viu quando tinha aproximadamente um ano, que foi a cópula dos
pais em circunstâncias não habituais, a mãe estava de quatro e o pai sobre ela. Tal
fato teria ocorrido, pois nesta idade ele sofrera de malária e acordava de madrugada
por conta da febre, provavelmente numa das vezes em que acordou deparou-se
com a cena.
A partir dos 10 anos tinha crises de depressão que se iniciavam sempre à
tarde e atingiam um ponto culminante por volta das 5 horas. Tal sintoma persistia na
época do tratamento.
Freud adotou uma convicção provisória da realidade da cena primária, não
conseguia saber se ela realmente aconteceu ou se seria uma fantasia, ou ainda, se
ele viu um coito entre animais e relacionou aos pais. E esta incerteza permanece ao
26

longo do caso, sem tirar a importância do fato relatado. Em momento algum Freud
exclui este relato.
Nos últimos anos de sua infância, todos os seus tutores e mestres
desempenharam o papel do pai, com influências tanto para o bem quanto para o
mal. Aos 10 anos teve um professor de latim cujo nome era Wolf (lobo). O medo
paralisante em relação a este professor se estendeu a outros. Era, ainda, um medo
do pai.
Tal sonho tem também relação com uma história que seu avô sempre
contava, na qual o lobo sem rabo pediu aos outros para subir em cima dele. “Foi
esse detalhe que evocou a lembrança do quadro da cena primária” (Freud, 2006, p.
53)
E esta cena não desencadeou uma única corrente sexual, mas toda uma
série, toda a sua vida sexual foi fragmentada por ela.
Diz Freud (2006, p.56):
A forma assumida pela ansiedade, o medo de ‘ser devorado pelo lobo’, era
apenas a transposição (como saberemos, regressiva) do desejo de copular com o
pai, isto é, de obter satisfação sexual do mesmo modo que sua mãe. Seu último
objetivo sexual, a atitude passiva em relação ao pai, sucumbiu ao recalque, e em
seu lugar apareceu o medo ao pai, sob a forma de uma fobia ao lobo.

Neurose obsessiva

Aos quatro anos e meio, devido seu estado de irritabilidade e preocupação,


sua mãe o inseriu na religião e o familiarizou com as histórias da Bíblia. Tal fato fez
com que os sintomas da ansiedade fossem substituídos por sintomas obsessivos.
Nesta fase já não há mais traços de fobia de lobos.
Não se convenceu inicialmente da história sagrada, e era capaz de descobrir
os pontos fracos da narrativa. “A essa crítica racionalista, porém, em breve juntaram-
se ruminações e dúvidas, o que nos revela que nele também operavam impulsos
ocultos”. (Freud, 2006, p.73)
Mesmo com a aproximação à religião ele não consegue sublimar a sua
atitude masoquista predominante em relação ao pai. Ele transforma-se em Cristo,
transformando assim também em um homem. Sua impulsão masoquista encontrou
27

um amparo na história da Paixão de Cristo, que por ordem do Pai e em sua honra
deixou-se maltratar e sacrificar. Nota-se uma atitude homossexual reprimida diante
de sua dúvida se Cristo teria ou não um traseiro. Tais ruminações se relacionavam
ao próprio fato dele poder ser usado pelo pai, assim como a mãe na cena primitiva.
Começou a temer Deus, e a criticá-lo. A resistência a Deus tinha a finalidade
de conseguir agarrar-se ao pai.
Por seu pai ter uma doença que o deixava constantemente internado, o
Homem dos lobos começou a transferir para todos os aleijados, mendigos e gente
miserável um sentimento de dó, e a necessidade de sempre expirar ao passar diante
deles.
Uma de suas obsessões era sempre que visse três montinhos de excremento
juntos na estrada, tinha que pensar na Santíssima Trindade.
Aos 10 anos, teve um tutor alemão que exerceu grande influência sobre ele.
Este tutor não dava nenhum valor às verdades religiosas, o que favoreceu à piedade
desaparecer junto com a dependência do pai.
O tutor o desencorajou a fazer maldades com os animais, e de fato ele pôs
fim a isso. Surgiu assim, uma sublimação do sadismo do paciente.

Erotismo anal e complexo de castração

Freud, até então, sempre relacionou o erotismo anal ao tratamento que se dá


ao dinheiro. Aqui ele demonstra que há também outras significações, não se trata
apenas do dinheiro.
O paciente tinha diversas perturbações intestinais, e as fezes haviam tido
para ele o significado de dinheiro. Esses distúrbios começaram muito cedo, na forma
mais frequente e normal nas crianças, ou seja, a incontinência.
Aos quatro anos e meio, durante um período de ansiedade, aconteceu de ter
sujado as calças, diante da sua vergonha, queixou-se que não poderia continuar a
viver daquele jeito. Frase que durante a análise é relacionada à mãe do paciente.
Durante uma ida à estação, com o médico que viera visitá-la ela se lamentou das
dores e hemorragia e proferiu “não posso mais viver deste jeito”. O episódio ocorrido
aos quatro anos, demonstra, assim, sua identificação à mãe. Colocava-se no lugar
da mãe e tinha inveja da sua relação com o pai.
28

Com a morte da irmã, sentiu um grande alívio, pois, agora o pai (que sempre
dava dinheiro e atenção à irmã), teria que amar somente a ele.
Havia no Homem dos lobos duas correntes contrárias, uma que abominava a
ideia de castração e outra que estava preparada para aceitá-la e consolar-se com a
feminilidade, como uma compensação.
Aos 5 anos, ele teve uma alucinação a qual seu dedo estava dependurado,
preso apenas pela pele.
“Quando eu tinha cinco anos, estava brincando no jardim perto da babá,
fazendo cortes com meu canivete na casca de uma das nogueiras que aparecem em
meu sonho também. De repente, para meu inexprimível terror, notei ter cortado fora
o dedo mínimo da mão (direita ou esquerda?), de modo que ele se achava
dependurado, preso apenas pela pele. Não senti dor, mas um grande medo. Não me
atrevi a dizer nada à babá, que se encontrava a apenas alguns passos de distância,
mas deixei-me cair sobre o meu assento mais próximo e lá fiquei sentado, incapaz
de dirigir outro olhar ao meu dedo. Por mim, me acalmei, olhei para ele e vi que
estava inteiramente ileso” (FREUD, 2006, p.93). Apesar das ameaças de castração
que recebeu terem vindo das mulheres, foi a castração de seu pai que ele veio a
temer.

Surge um novo material

O paciente lembra-se que em um momento quando tentava apanhar uma


grande e bonita borboleta com listrar amarelas e enormes asas, foi tomado por um
grande medo da criatura e fugiu aos gritos.
Recordou-se então de uma babá que teve chamada Groucha (que em alemão
significa pera, na granja havia peras grandes com listras amarelas), ficando claro
que sua lembrança encobridora da caça a borboleta, ocultava outra lembrança com
a babá.
A cena que viu, aos dois anos e meio, era da Groucha esfregando o chão, de
quatro, na mesma postura que a mãe na cena primária. A moça teria se
transformado em sua mãe, fato que causou uma excitação sexual, em virtude da
lembrança da imagem dos pais. Diante disso, urinou no chão numa tentativa de
sedução, e o que aconteceu em seguida, foi uma ameaça de castração.
29

Pareceu, então, que seu medo da borboleta era, em todos os aspectos,


análogo ao medo do lobo; em ambos os casos era um medo de castração, que se
referia, para começar, à pessoa que primeiro proferiu a ameaça de castração, mas
depois foi transposta para outra pessoa[...] (Freud, 2006, p.103)
O desejo de nascer do pai, de ser sexualmente satisfeito pelo pai e de
presenteá-lo com uma criança completam o círculo da fixação nos pais.
A todo o momento para o Homem dos Lobos há um conflito entre as
tendências masculina e feminina. Ao desenvolver a ansiedade na sua infância, o ego
estaria se protegendo contra a satisfação homossexual, a qual considerava um
perigo esmagador. E o que se torna consciente é o medo do lobo, não do pai.
Diz Freud (2006, p.119) “De fato, pode-se dizer que ansiedade que estava
envolvida na formação dessas fobias era um medo da castração”.
Freud percebeu, ainda, que uma parte do impulso homossexual foi mantido
pelo órgão a que estava ligado, isto é, seu intestino, que teria se comportado como
um órgão histericamente afetado. “O homossexualismo recalcado e inconsciente
refugiou-se nos intestinos” (FREUD, 2006, p. 119).
Durante a puberdade surge no paciente uma corrente masculina,
marcadamente sensual, que se relacionava com a cena de Groucha: uma paixão
compulsiva que surgia e desaparecia, em acessos repentinos. Houve uma mudança
em relação as mulheres, conservando-as como seu objeto sexual. Há neste período
um esforço pela masculinidade. Para Freud, ele adoeceu em consequência de uma
frustração narcísica.

Mito de Narciso em resumo

Há muito tempo, na floresta, passeava Narciso, o filho do sagrado rio


Kiphissos. Era lindo, porém tinha um modo frio e egoísta de ser. Era muito
convencido de sua beleza e sabia que não havia no mundo ninguém mais bonito
que ele.
Vaidoso, a todos dizia que seu coração jamais seria ferido pelas flechas de
Eros, filho de Afrodite, pois não se apaixonava por ninguém. As coisas foram assim
até o dia em que a ninfa Eco o viu e imediatamente se apaixonou por ele. Ela era
30

linda, mas não falava; o máximo que conseguia era repetir as últimas sílabas das
palavras que ouvia.
Narciso, fingindo-se de desentendido, perguntou:
– Quem está se escondendo aqui perto de mim?
– de mim – repetiu a ninfa assustada.
– Vamos, apareça! – Ordenou. – Quero ver você!
– ver você! – Repetiu a mesma voz em tom alegre.
Assim, Eco aproximou-se do rapaz. Mas nem a beleza e nem o misterioso
brilho nos olhos da ninfa conseguiram amolecer o coração de Narciso.
– Dê o fora! – Gritou, de repente. – Por acaso pensa que eu nasci para ser
um da sua espécie? Sua tola!
– Tola! – Repetiu Eco, fugindo de vergonha.
A deusa do amor não poderia deixar Narciso impune depois de fazer uma
coisa daquelas. Resolveu, pois, que ele deveria ser castigado pelo mal que havia
feito.
Um dia, quando estava passeando pela floresta, Narciso sentiu sede e quis
tomar água.

Imagem: Reprodução
31

Ao debruçar-se num lago, viu seu próprio rosto refletido na água. Foi naquele
momento que Eros atirou uma flecha direto em seu coração. Sem saber que o
reflexo era de seu próprio rosto, Narciso imediatamente se apaixonou pela imagem.
Quando se abaixou para beijá-la, seus lábios se encostaram na água e a
imagem se desfez. A cada nova tentativa, Narciso ia ficando cada vez mais
desapontado e recusando-se a sair de perto da lagoa. Passou dias e dias sem
comer nem beber, ficando cada vez mais fraco. Assim, acabou morrendo ali mesmo,
com o rosto pálido voltado para as águas serenas do lago.
Esse foi o castigo do belo Narciso, cujo destino foi amar a si próprio.
Eco ficou chorando ao lado do corpo dele, até que a noite a envolveu. Ao
despertar, Eco viu que Narciso não estava mais ali, mas em seu lugar havia uma
bela flor perfumada. Hoje, ela é conhecida pelo nome de “narciso”, a flor da noite.

Referências

CELES, Luiz Augusto. Psicanálise é trabalho de fazer falar, e fazer ouvir. São Paulo,
2005.

IPA. Sobre a psicanálise. 2021.

OPAS. As 5 Fases do Desenvolvimento Psicossexual Segundo Freud. 2018.

PIMENTA, Tatiana. O que é psicanálise: entenda os conceitos e abordagens


básicas. 2019.

PSICANÁLISE CLÍNICA. Método da Associação Livre em Psicanálise. 2018.

TANCREDI, Silvia. Sigmund Freud. Brasil Escola. 2021.

Você também pode gostar