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FASE 2 – LIÇÃO 1

1.1 Primeira e Segunda Tópica em Freud


É importante frisarmos sempre que, em seu surgimento, a psicanálise tem como
grande inovação a elaboração do conceito de inconsciente, tomado como seu objeto de
estudo, e a descoberta das relações efetivadas a partir da sexualidade humana. Desse
modo, rompe com a tradição da Psicologia, até então definida como a ciência da
consciência e da razão. A base para compreender a nossa estrutura mental é apresentada
por Freud em duas Tópicas.
Sigmund Freud nos apresenta, na primeira tópica (lugar), a mente dividida em 3
partes: consciente, pré-consciente e inconsciente. Essas estruturas nos ajudam a manter
a sanidade e a percepção do certo e errado:
- O consciente, a menor porção, a mais insignificante e superficial de
toda a personalidade:
- O pré-consciente, uma instância próxima da consciência e acessível a
esta, quando necessário;
- O inconsciente, a maior e mais significativa parte da personalidade,
sede das forças ocultas responsáveis por todo o impulso do
comportamento humano.
A psicanálise assim como outras teorias centram sua investigação e explicação
nas causas do comportamento humano, reconhecendo como causa as forças
inconscientes, subjacentes e motivadoras do comportamento individual humano.
Para Freud, o ego (eu) estava totalmente situado no consciente e no pré-
consciente, afinal no inconsciente estariam apenas aquelas representações mentais que o
ego teria recalcado. Em outras palavras, naquele momento Freud considerava que o
conflito psíquico, que levaria ao adoecimento psicológico, seria travado entre um ego
consciente que não quer admitir determinados pensamentos e o conjunto inconsciente
desses pensamentos recalcados, ou seja, um conflito “ego versus inconsciente”.
Portanto, na consciência (no estado consciente), estariam incluídos tudo
aquilo de que estamos cientes num determinado momento. Ela receberia ao mesmo
tempo informações do mundo exterior e do mundo interior.

1.2 O consciente
A experiência clínica mostrou a Freud que uma parte considerável do ego
também era inconsciente. Durante uma análise, o sinal clínico que evidencia que
determinados pensamentos e recordações estão no inconsciente -- ou seja, de que foram
recalcados --, é a dificuldade do paciente de se lembrar deles ou de falar sobre o
assunto.
Freud compreendia essa situação considerando que haveria uma resistência do
ego bloqueando o acesso das representações mentais recalcadas. O curioso, contudo, é
que o próprio paciente não teria consciência de que estava empregando essa resistência.
A resistência, portanto, não seria um fenômeno consciente, embora fosse uma função do
ego. Conclusão: o ego não é totalmente consciente. Além disso, as resistências se
comportariam de modo semelhante às representações recalcadas, isto é, demandariam
certa dose de trabalho para que fossem tornadas conscientes.
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Entenda, aqui, o que é recalque
A noção de recalque (ou recalcamento e/ou recalcado) para Freud foi caracterizada
como "uma instância psíquica" que separa a consciência do inconsciente. Também pode ser
compreendida em um sentido mais estrito: o recalque (propriamente dito) é a operação por meio
da qual um representante ideativo (uma ideia) ligado a uma pulsão é conduzido ao inconsciente
ou lá mantido, com o propósito de evitar o desprazer que seria ocasionado pela presença desse
representante no sistema pré-consciente/consciente.
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Vamos assistir a um vídeo que nos mostra um pouco do que é o inconsciente. E


assim, nos ater especificamente ao inconsciente psicanalítico, que é o foco de nosso
estudo, e o material principal da psicanálise.

https://www.youtube.com/watch?v=aJRW2LoJWT0

1.3 O pré-consciente
Esta é a instância mais próxima da consciência e ambas consistem no processo
secundário. Se constitui nas memórias que podem se tornar acessíveis a qualquer
momento, como por exemplo, o que você fez ontem, o teorema de Pitágoras, o seu
endereço anterior etc. É uma espécie de “depósito” de lembranças, à disposição quando
necessárias.
Quando a sua consciência está pesada, por exemplo, é porque seu pré-
consciente informa que tem algo em mente que você reluta em deixar sair.
Como já pensou (e trouxe à consciência “o que não deveria”), ou colocou
pra fora esse pensamento, fica aquele incômodo reflexo (do Iceberg do vídeo), no qual a
consciência é dominante, pois recebe influências do mundo externo; assim o pré-
consciente apenas armazena essa influência, deixando algumas coisas mais
profundas no inconsciente.

1.4 O inconsciente
No inconsciente estão os elementos instintivos e o material reprimido,
inacessíveis à consciência e que podem vir à tona num sonho, num ato falho ou pelo
método da associação livre. Os processos mentais inconscientes desempenham papel
importante no funcionamento psicológico, na saúde mental e na determinação do
comportamento. (falaremos muito do inconsciente ao longo de nossas aulas, pois ele é
nosso objeto de análise)

Enfim, a primeira tópica se mostrou bastante útil para Freud enquanto a


psicanálise estava direcionada primordialmente à compreensão das formações do
inconsciente e da natureza das representações mentais que causavam angústia e eram
recalcadas. Todavia, quando o foco da pesquisa psicanalítica começou a ser orientado
para o ego – a instância do psiquismo que, por não suportar a angústia gerada por
determinadas representações mentais, as mandava para o inconsciente – essa divisão do
aparelho psíquico em consciente, pré-consciente e inconsciente começou a se mostrar
insuficiente.

Portanto, não devemos nos esquecer, na Primeira Tópica os níveis de


consciência da personalidade, para Freud, são: consciente, pré-consciente e
inconsciente. A partir deles surge a Segunda Tópica.

1.4 A Segunda Tópica


A teoria freudiana foi sendo escrita em consonância com a sua prática clínica
(no atendimento a pessoas com problemas emocionais). Fundado nesse processo
contínuo, Freud chega a uma outra instância através da qual atualiza o aparelho
psíquico: a Segunda Tópica, ou seja, uma reconstrução do funcionamento do aparelho
mental (ou aparelho psíquico), agora concebido em outras três instâncias: Id - Isso, ego
–Eu, e superego - SuperEu.
O interessante é que apesar da evolução do pensamento de Freud, não se afirma
que a tópica mais recente suprime as anteriores, mas apenas que a partir dali a
psicanálise passou a enfocar as relações entre as três instâncias psíquicas em vez de
apenas classificar um conteúdo mental como consciente ou inconsciente. A ênfase,
portanto, está na busca contínua de, através de décadas de estudos, aprimorar a tópica
do aparelho psíquico. E mais, essa teoria se intitula psicossexual, porque para Freud a
energia psíquica que move o ser humano originalmente é inata e sexual, e aparece no Id,
e é dela que derivam as duas outras instâncias da personalidade, o ego e o superego.

1.5 Conceitos
Para nós, em um primeiro momento, o Id é a parte mais primitiva da
personalidade, corresponde mais ou menos à noção de inconsciente, ou a um lugar no
qual o inconsciente se abriga. O Id busca a satisfação imediata dos impulsos, agindo de
acordo com o princípio do prazer. É constituído por forças e impulsos, inclusive os
sexuais.
Id – (Isso) É a fonte da energia psíquica (a libido). Tem origem orgânica e
hereditária. Apresenta a forma de impulsos do organismo. Está relacionado a todos
os impulsos não civilizados, de tipo animal, que o indivíduo experimenta. Não tolera
tensão. Seu o nível de tensão é elevado, ele age no sentido de descarregá-la. É regido
pelo princípio do prazer. Sua função é procurar o prazer e evitar o sofrimento. Localiza-
se na zona inconsciente da mente. O Id não conhece a realidade objetiva, a lei, a ética e
a moral social, que nos repreende perante a determinadas situações devido as
conclusões da interpretação alheia. Por isso temos o Ego.
Ego – (Eu) É o lugar em que se reconhece o eu de cada um. O ego desenvolve-
se a partir do Id desde a mais tenra idade: na medida que o bebê vai tomando
consciência de sua própria identidade. Isso faz com que seus impulsos sejam mais
eficientes e passem a levar em conta o mundo externo: este é o chamado princípio da
realidade.
É esse princípio que introduz a razão, o planejamento e a espera
no comportamento humano. A satisfação das pulsões é retardada, até o momento em
que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de
consequências negativas.
O ego é lógico e racional. Sempre cumpre a função de dialogar com a realidade
externa (faz um meio campo entre o mundo interno e externo), lidando com a
estimulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior. Assim, o ego
atua como mediador entre o Id e o mundo exterior, tendo que lidar também com o
superego, com as memórias de todo tipo e com as necessidades físicas do corpo. A sua
energia é extraída do Id.
Superego – (Supereu) Atua como censor do Ego. É o representante interno das
normas e valores sociais que foram transmitidos pelos pais através do sistema de
castigos e recompensas impostos à criança. São nossos conceitos do que é certo e do
que é errado. O Superego nos controla e nos pune (através do remorso, do sentimento de
culpa) quando fazemos algo errado; mas também nos recompensa (sentimos satisfação,
orgulho) quando fazemos algo meritório. O Superego procura inibir os impulsos do Id,
uma vez que este não conhece a moralidade. É o componente social da personalidade.
As principais funções do Superego são: inibir os impulsos do id (principalmente os de
natureza agressiva e sexual) e lutar pela perfeição.

Na prática:
• Pelo Id você deixaria de realizar suas “obrigações” num belo dia
ensolarado, trocando-as por uma atividade de lazer prazerosa: uma piscina,
pescaria, um cinema, ou até sair com namorado(a) etc.
• No entanto, o ego aconselharia prudência e buscaria uma
oportunidade adequada para essas atividades/momentos.
• Já o superego diria ser inaceitável faltar a um compromisso
assumido, por exemplo, com o supervisor ou colegas de trabalho, ou ao próprio
trabalho.
Atenção:
Os três sistemas não devem ser considerados como fatores independentes que
governam a personalidade. Cada um deles têm suas funções próprias, seus princípios,
seus dinamismos, mas atuam um sobre o outro de forma tão estreita que é impossível
separar os seus efeitos.
Lição 2

2.1 Sexualidade: Uma grande descoberta de Freud


Uma das grandes descobertas de Sigmund Freud foi que a grande maioria de
pensamentos e desejos reprimidos referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados
nos primeiros anos de vida dos indivíduos. Mas, afinal, o que é sexual? Explica Freud
que,
não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de “sexual”. Talvez a única
definição acertada fosse “tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois
sexos”. [...] Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez
definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito
ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e
que, em última instância, visa à união dos genitais e à realização do ato sexual.
[...] Se, por outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da
sexualidade, correm o risco de excluir toda uma série de coisas que não visam à
reprodução, mas certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o
beijo (FREUD, 2006, p. 309).

E é justamente na vida infantil que encontramos as experiências de caráter


traumático, pois são experiências constantemente reprimidas, e que, de algum modo, se
configuram como origem dos sintomas atuais (quando adultos). Dessa forma, as
ocorrências deste período da vida deixam marcas profundas na estruturação da
personalidade. Com ênfase nas ocorrências relacionadas à sexualidade.

2.2 Freud e o desenvolvimento psicossexual na infância


Para Freud, o ser humano ao nascer é totalmente dependente e essa dependência
é longa, se comparada a outros mamíferos. O bebê humano necessita ser nutrido,
protegido e cuidado pelo adulto. Durante todo esse tempo, transformações ocorrem em
seu corpo e em sua afetividade, e em paralelo na sua maturação psíquica o que
chamamos em psicanálise de formação da personalidade.
Desse modo, o homem que a criança se tornará terá traços de sua infância.
Assim sendo, a educação recebida é de suma importância para o desenvolvimento. A
disciplina é fator de constituição do homem enquanto ser social e cultural. Educar seria
uma forma de disciplinar as pulsões humanas.
Como na civilização ocidental deve haver um limite para a satisfação dos
impulsos básicos, Freud considerava a educação uma matriz repressora, sendo, então, a
causa das neuroses. Portanto uma boa educação deveria ser resultado de um equilíbrio
entre a permissividade e a proibição (repressão). Para ele, “somente alguém que possa
sondar as mentes das crianças será capaz de educá-las e nós, pessoas adultas, não
podemos entender as crianças porque não mais entendemos a nossa própria infância”
(Freud, 1915 p. 190).
Com isso, ele sugere que os educadores necessitam, para exercer suas funções,
se reconciliar com certas fases do desenvolvimento infantil. Isso significa voltar à sua
própria infância, através da memória, compreendendo as origens de sua própria neurose.
Um grande descoberta de Sigmund Freud foi, que a grande maioria de
pensamentos e desejos reprimidos no adulto referiam-se a conflitos de ordem sexual,
localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos.
Portanto, não esqueça: na vida infantil estão as experiências de caráter
traumático, reprimidas, que se configuram como origem dos sintomas atuais, e as
ocorrências deste período da vida deixam marcas profundas na estruturação da
personalidade.
Para entender a sexualidade infantil torna-se importante, primeiramente,
compreender a diferença existente entre “sexo” e “sexualidade”. O sexo, grosso modo,
pode ser entendido a partir do biológico, e nos remete à ideia de gênero (algo que nos
distingue entre feminino e masculino); a sexualidade vai além das partes do corpo,
constituindo-se como uma característica estabelecida, presente na cultura e na história
do homem; por essa presença, a psicanálise freudiana aponta a sexualidade como centro
da vida psíquica. A sexualidade transcende à consideração meramente biológica,
centrada na reprodução e nas capacidades instintivas, e mais,
a sexualidade forma parte integral da personalidade de cada um. É uma
necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado dos
outros aspectos da vida. Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à
presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso, é a energia
que motiva a encontrar o amor, o contato e a intimidade e se expressa na forma
de sentir, na forma de as pessoas tocarem e serem tocadas. A sexualidade
influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e tanto a saúde física
como a mental. Se a saúde é um direito sexual também deveria ser considerada
como um direito humano básico. (PARDIM, Maria Isabel. Sexualidade na
escola minha visão de sexualidade no âmbito escolar. Unicamp. Campinas, SP :
[s.n.], 2008)

Alguns teóricos, como Zornig (2008, p. 73), defendem que a sexualidade não
pode ser vista como instintiva, pois a todo o momento o ser humano busca satisfazer
seus desejos:
A concepção clássica de instinto tem como modelo um comportamento que se
caracteriza por sua finalidade fixa e pré-formada, com um objeto e objetivos
determinados, enquanto a noção freudiana de sexualidade defende a ideia de
que a sexualidade humana não é instintiva, pois o homem busca o prazer e a
satisfação através de diversas modalidades, baseadas em sua história individual
e ultrapassando as necessidades fisiológicas fundamentais. Assim, se a
sexualidade se inicia com anatomia (no nascimento), sua conquista depende de
um longo percurso durante a construção da subjetividade da criança (ZORNIG,
2008, p. 73).

Para Freud (2006), na sua época, o descaso que os estudiosos mostravam em


relação ao desenvolvimento sexual da criança, acabaria por prejudicar a formação dela.
Para ele, é durante a infância que ocorre o surgimento de transtornos emocionais, que ao
serem internalizados evoluem trazendo à tona diversos tipos de neuroses que surgem,
normalmente na fase adulta. Desta forma, para Freud (2006), o grande erro dos
estudiosos da teoria clássica é que não buscam compreender os problemas que o
indivíduo carrega em seu ser, tendo como ponto de partida a infância, mas conduzem
suas investigações tendo por base a hereditariedade.
Fonte: (A sexualidade segundo a teoria psicanalítica freudiana e o papel dos pais neste processo.
COSTA, Elis Regina da, elisreginacosta@yahoo.com.br - Universidade Federal de Goiás; OLIVEIRA,
Kênia Eliane de, keniaeo@hotmail.com - Universidade Federal de Goiás, 2011)

2.3 Existência da sexualidade infantil


Os principais aspectos das descobertas apresentadas no item anterior são: a)
a função sexual existe desde o princípio da vida, logo após o nascimento, e não só a
partir da puberdade. b) O período de desenvolvimento da sexualidade é longo e
complexo até chegar a sexualidade adulta, onde as funções de reprodução e de prazer
podem estar associadas, tanto no homem como na mulher.
Portanto, seguindo essa perspectiva Freud desenvolveu e escreveu a sua teoria
dividindo em períodos chamados de “Fases do desenvolvimento sexual ou/e
psicossexual”: Fase oral, anal, fálica, de latência e genital.

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Atenção: Para Freud a libido é a energia dos instintos sexuais: energia de natureza sexual,
componente do Id, presente no ser humano desde o nascimento, que impulsiona a pessoa em
busca de satisfação. a libido É a força motriz por trás do comportamento. Esta é uma forma de
energia que faz parte do id e é criada pelos instintos de sobrevivência e sexuais. De acordo com
Freud, essa energia libidinal é o que motiva todo o comportamento.

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Todas as crianças passam por esses cinco estágios de desenvolvimento
psicossexual, nos quais o instinto sexual é focado em diferentes zonas erógenas do
corpo.

De modo simples, podemos dizer que zonas erógenas são partes do corpo que
podem funcionar como “gatilhos” para o prazer e a excitação sexual. Todas elas são
extremamente ricas em terminações nervosas, que podem gerar uma quantidade de
sensações variadas e intensas quando submetidas a um estímulo. As zonas erógenas
mais conhecidas, claro, estão na região genital e são comuns a quase todo mundo: no
caso das mulheres, são o clitóris e o polêmico ponto G; nos homens, a glande (a cabeça
do pênis) e o saco escrotal. Mas, na verdade, o grande integrador das emoções vividas,
das fantasias e dos estímulos é o cérebro, que talvez seja o maior de todos os órgãos
sexuais. É ele, em última instância, que consegue aumentar ou diminuir o prazer
causado por um estímulo e definir as suas zonas erógenas.
(fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-sao-zonas-erogenas-todo-mundo-tem-
as-
mesmas/#:~:text=Zonas%20er%C3%B3genas%20s%C3%A3o%20partes%20do,quando%20submetidas
%20a%20um%20est%C3%ADmulo)

2.4 Os estágios psicossexuais e sua implicação no sujeito

1º Estágio – Fase Oral – Este período do desenvolvimento da personalidade é


assim chamado porque a maior parte das necessidades e interesses da criança está
concentrada na porção superior do trato digestivo. Quer dizer, seus impulsos são
satisfeitos principalmente na área da boca, esôfago e estômago, ou melhor, a libido está
intimamente associada ao processo de alimentação. É o período de aproximadamente
um ano que segue ao nascimento.
Os sujeitos fixados à fase oral podem desenvolver problemas como fumar,
comer exageradamente, roer as unhas, ou beber compulsivamente, por exemplo.
2º Estágio – Fase Anal – A criança passa, aos poucos, de uma posição
predominantemente passiva e receptiva para uma posição predominantemente ativa.
Durante o segundo e terceiro ano de vida, a região do ânus adquire uma importância
fundamental na formação da personalidade. Neste período a energia libidinosa está
centrada na porção posterior do trato digestivo e a satisfação anal ocupa uma posição de
destaque. A criança obtém prazer pela estimulação da mucosa retal e das partes
adjacentes. Os estímulos surgidos daí são os precursores do superego. No
desenvolvimento psicossocial percebe-se o surgimento da autonomia, da vergonha e da
dúvida. É o período de transição entre um e três anos de idade.
Freud acreditava que os adultos que se fixaram nesta fase iriam crescer para se
tornar ou extremamente rígidos e tensos ou muito confusos e desorganizados.
3º Estágio – Fase Fálica – Corresponde ao período que vai dos três aos cinco ou
seis anos de idade. O termo fálico, relativo ao pênis, usado para esta fase, provém do
fato da libido concentrar-se nos órgãos genitais que passam a ser a zona erógena
predominante. Surge aí o complexo de Édipo e o complexo de castração. Nesta fase o
desenvolvimento psicossocial está ligado à iniciativa e à culpa.
4º Estágio – Fase de Latência – Período que vai, aproximadamente, dos cinco
aos dez anos. Este período caracteriza-se por uma aparente interrupção do
desenvolvimento sexual, em que os impulsos eróticos exercem menor influência na
conduta, e o ego encontra uma trégua para os conflitos emocionais que vinham se
desenrolando nas fases anteriores. Afastando-se temporariamente dos interesses
sexuais, a criança utiliza a energia psíquica para o fortalecimento do ego.
5oEstágio – Fase Genital (puberdade)

Esta é a última fase da teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud e


começa na puberdade. É um momento de experimentação sexual adolescente, cuja
resolução bem-sucedida efetiva-se ao estabelecer um relacionamento amoroso com
outra pessoa nos nossos 20 anos. O instinto sexual é direcionado ao prazer
heterossexual, ao invés do prazer próprio, como no estágio fálico.

Para Freud, a saída apropriada do instinto sexual em adultos era por meio de
relações heterossexuais. Fixação e conflitos podem impedir isso, tendo como
consequência as perversões sexuais. Por exemplo, a fixação no estágio oral pode
resultar em uma pessoa obtendo prazer sexual principalmente por beijos e sexo oral, em
vez de relações sexuais.

2.5 O Complexo de Édipo


Freud usou o termo Complexo de Édipo para descrever o desejo inconsciente de
uma criança (menino) em substituir o pai e possuir sua mãe (temos também o termo
análogo, Complexo de Electra, criado por Carl Jung - quando ainda na psicanálise --,
usado para descrever o sentimento de desejo das meninas pelo pai e ciúme da mãe).
Essa equação deve ser compreendida ainda no campo abstrato, como uma poderosa
metáfora.
Mas, como resolver o Complexo de Édipo?
A fim de desenvolver um adulto bem-sucedido, com uma identidade saudável, a
criança deve identificar-se com o genitor do mesmo sexo, para resolver o conflito
edipiano.
Freud sugeriu que enquanto o primitivo Id quer eliminar o pai, mais realista, o
ego sabe que o pai é muito mais forte. De acordo com Freud, o menino, então
experimenta o que ele chamou de angústia de castração – um medo literal e figurativo.
Freud acreditava que, como a criança se torna ciente das diferenças físicas entre homens
e mulheres, ela assume que o pênis do sexo feminino foi removido e que seu pai
também vai castrá-lo como um castigo por desejar a sua mãe. A fim de resolver o
conflito, o menino, em seguida, identifica-se com seu pai.
É neste ponto que o superego é formado. O superego torna-se uma espécie de
autoridade moral interna, uma internalização da figura paterna que se esforça para
reprimir os impulsos do id e fazer o ego atuar em cima destas normas idealistas.

Ansiedade de castração é um conceito freudiano em que uma criança tem medo que sua
genitália seja prejudicada pelo genitor do mesmo sexo, como punição pelos desejos sexuais com
o outro progenitor. É tanto literal (medo de realmente perder a genitália) quanto metafórico (o
objeto de prazer). A ansiedade de castração ou complexo de castração surge devido ao
Complexo de Édipo. Isso pode ocorrer em ambos os sexos, masculino e feminino, e se
apresenta durante a fase fálica (que ocorre entre as idades de 3-6/7 anos).

2.6 Homossexualidade
Quanto à homossexualidade, em Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade,
Freud nos traz explicações biológicas sociológicas e antropológicas para as preferências
sexuais. Ao contrário de estudiosos de seu tempo, ele não estava convencido de que a
homossexualidade representasse uma patologia. Freud acreditava que as tentativas de
alterar a sexualidade de uma pessoa eram geralmente fúteis e muitas vezes prejudiciais
ao desenvolvimento da personalidade, algo revolucionário em seu tempo.
Segundo o autor, para a psicanálise “Não existe um sujeito homossexual, assim
como não existe um heterossexual ou um bissexual. Existem moções pulsionais e
movimentos identificatórios que se deslocam, mais ou menos livremente, e que se
manifestam nas escolhas objetais que sustentam as diversas expressões da sexualidade.
(acesso em 06/08/2020 https://ralasfer.medium.com/freud-e-a-homossexualidade-
105540482ada)
E mais, para ele “a homossexualidade não é algo a ser tratado nos tribunais (…).
Eu tenho a firme convicção de que os homossexuais não devem ser tratados como
doentes, pois uma tal orientação não é uma doença. Isto nos obrigaria a qualificar como
doentes um grande número de pensadores que admiramos justamente em razão de sua
saúde mental (…). Os homossexuais não são pessoas doentes. (Freud,
1903 apud Menahen, 2003, p. 14)

Vamos nos aprofundar sobre essa temática e compreende-la quando situada no


enquadramento de perversão. Para isso sugerimos a leitura do texto Homossexualidade
e perversão no campo da psicanálise, que está em anexo, nos materiais, e seu posterior
fichamento. Disponibilizamos também o PDF do texto “Três Teorias da Sexualidade”.
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/sem/v39n1/a04.pdf
3. História da psicanálise II – Personagens e Escolas Psicanalíticas

Até o momento, nos concentramos em falar sobre as teorias e procedimentos


realizados por Freud. Isso porque, através de seu rigor teórico e prático, ele desenvolveu
a metapsicologia e as técnicas de análise do inconsciente. No entanto, outros
pesquisadores contemporâneos somaram conhecimento e atualizaram o campo da
psicanálise, inclusive reafirmando-a como ciência, bem como aliando-a a outros campos
do conhecimento (desses, sete escolas se destacam: 1. Freudiana; (S. Freud); 2. Teóricos
das Relações Objetais; (M. Klein); 3. Psicologia do Ego (Hartman – M. Mahler); 4.
Psicologia do Self (Kohut) 5. Francesa de Psicanálise (Lacan), 6. Winnicott e 7. Bion) .
Vamos conhecer alguns desses psicanalistas, para que possamos compreender o
percurso da psicanálise até a atualidade. Partimos de Freud, e chegamos no modelo
estadunidense. No entanto, não para por aí.

3.1 Sigmund Freud (1856-1939)


No modelo desenvolvido por ele, a vida psíquica é ativada pela energia de dois
impulsos primitivos (em sua primeira teoria dos impulsos: o sexual e o de
autopreservação; em sua segunda teoria das pulsões, a de vida e a de morte, ou
sexualidade e agressão). Estes impulsos representam demandas do corpo na mente e
tornam-se conhecidos mediante desejos e necessidades que procuram pelo objeto
específico para alcançar satisfação.
Os traços de memória destas interações (incluindo as representações de objetos e
relações importantes) estruturam toda a mente, elaborando formações cada vez mais
complexas, que são por fim divididas em três seções principais. Em seu primeiro
modelo topográfico Freud denominou os sistemas inconsciente, pré-consciente e
consciente; em seu segundo modelo estrutural ele referiu Ego/Eu, Id/Isso e
Superego/Supereu. As estruturas da mente regulam as energias dos impulsos de acordo
com o princípio do prazer. Metapsicologia é a teoria da mente que expressa funções
psíquicas, considerando seus aspectos dinâmico (impulsos), econômico (energias) e
tópico (estrutural).

3.2 Sándor Ferenczi (1873-1933)


A escola de psicanálise de Budapeste ressalta a importância de considerar e
reconhecer traumas reais na infância, os específicos da relação inicial da mãe com o
bebê, e os da “confusão de línguas” (uma confusão entre a ligação afetiva da criança e
as necessidades sexuais do adulto), que impacta severamente no desenvolvimento
psíquico e na psicopatologia posterior. Ferenczi se concentrou nos processos
intersubjetivos entre o paciente e o analista, e no papel da honestidade e trabalho interno
do analista (autoanálise) no encontro analítico.

3.3 Heinz Hartmann (1884-1970)


Focou a atenção no trabalho do ego consciente e inconsciente, seu papel
particular nas defesas inconscientes e seu efeito inibitório nos processos psíquicos.
Hartmann postulou uma área do ego livre de conflito, que desempenha
importantes tarefas como consciência (awareness), controle motor, pensamento lógico,
discurso, percepção sensorial e teste da realidade – todas essas, funções vitais que,
secundariamente, podem ser envolvidas no conflito neurótico. Ao analisar
sistematicamente as defesas do paciente, a psicanálise objetiva fortalecer o ego no
sentido de aumentar o controle de impulsos, a resolução do conflito e a capacidade de
tolerar a frustração e afetos dolorosos. Hartmann adicionou aos quatro pontos de vista
metapsicológicos Freudianos, os aspectos genético e o adaptativo.

3.4 Melanie Klein (1882-1960)


Para ela a infância se inicia com os impulsos primitivos experimentados dentro
de relações objetais. A pulsão de morte dirigida para o interior é experimentada como
uma força que ataca despertando ansiedades persecutórias e o medo de aniquilamento,
que é localizado (projetado) fora do self e leva a impulsos destrutivos em direção ao
objeto frustrador (seio mau), seguido pelo temor de retaliação. Em contraposição, o
objeto que satisfaz (seio bom) é idealizado e de forma protetora extirpando (split off) do
mau objeto. Esta primeira fase é chamada posição esquizo-paranóide, “PS”,
caracterizada por divisão, negação, onipotência e idealização, assim como projeção e
introjeção.
A capacidade crescente do ego para integração levará a ansiedades depressivas
de que os impulsos destrutivos tenham danificado o objeto/seio bom, e despertam o
desejo por reparação. Esta segunda fase é chamada de posição depressiva, “D”.
Kleinianos contemporâneos reconheceram que estas fases não estão limitadas à infância
mas formam uma dinâmica contínua dentro da mente, a alternância.
Voltaremos a Melanie Klein em nossos módulos finais.

3.5 Wilfred Bion (1897-1979)


Relacionado com e partindo de Freud e Klein, Bion desenvolveu uma nova
linguagem para sua teoria do pensar. Ele introduziu a ideia de que a mente do bebê
inicialmente experimenta um ataque violento de impressões sensoriais e emoções cruas,
chamadas elementos beta, que não portam significado e necessitam ser evacuadas. É
essencial que o objeto cuidador (continente) aceite estes elementos beta (conteúdos), os
metabolize e transforme em elementos alfa, e os devolva para o bebê como tais. A
mente do bebê os introjeta junto com a função alfa transformadora, assim construindo
sua própria função alfa, um aparelho capaz de simbolizar, memorizar, sonhar e pensar
pensamentos; isto também desenvolve os conceitos de tempo e espaço e permite a
discriminação entre o consciente e o inconsciente. Distúrbios psíquicos estão
relacionados a perturbações nestas funções básicas deste aparelho para pensar.

3.6 Winnicott e a Teoria das Relações de Objeto. Donald Winnicott (1896-


1971) delineou a forma como o ambiente de acolhimento de uma mãe suficientemente
boa capacitará a mente do bebê a criar representações de si e do outro. No espaço
intermediário entre a mãe e o bebê, a criança encontra e cria o que ele chama um objeto
transicional (cheirinho) que é e não é a mãe. É este espaço intermediário ou potencial
entre a realidade interna subjetivamente criada e a realidade externa objetivamente
percebida que permanecerá disponível como um espaço interno para experienciar vida,
criar novas ideias, imagens, fantasias e arte, e formar as muitas apresentações da
cultura.
Se a mãe responder empaticamente ao gesto espontâneo do bebê, esse construirá
a representação de um verdadeiro ego com capacidade para brincar e ser criativo.
Entretanto, se a mãe continuamente traduz mal os gestos do bebê de acordo com as
necessidades dela, o verdadeiro ego da criança permanecerá escondido sob o escudo de
um falso ego que é criado para sobreviver e pode levar, mais tarde na vida, a um
sentimento de não ser capaz de ser verdadeiro.
3.7 Jaques Lacan (1901-1981). A Psicanálise Francesa tem-se desenvolvido
delineada a partir de e em disputa com Jacques Lacan (1901-81) e suas ideias (o
significado da linguagem, o phallus (o falo), desejo e o outro, e seus conceitos do
imaginário, do simbólico e o [inacessível] real).
Seu chamamento por um retorno a Freud iniciou um sério debate e elaboração
dos conceitos nucleares de Freud e, finalmente, estabeleceu o papel primordial da
metapsicologia Freudiana na compreensão da psique humana. Isto, por sua vez, foi
particularmente frutífero para uma nova concepção da teoria da sedução, a ênfase nas
pulsões de vida e de morte, e a teoria do narcisismo em suas várias apresentações.
O reconhecimento da importância da teoria dos impulsos, em Lacan, pressionou
por uma ênfase na sexualidade, subjetividade, a linguagem do desejo e a função
estrutural do Complexo de Édipo (o Nome do Pai), em particular a respeito da posição
do outro e da alteridade. Isto, então, levou à ideia de um processo terciário, em que os
processos inconscientes (primários) e conscientes (secundários) coexistem e são
criativamente combinados.
Retomaremos Lacan em outro módulo, mais adiante.

3.8 A Psicologia do Self.


Fundada nos Estados Unidos por Heinz Kohut (1913-81), a Psicologia do Self se
concentra no sentido de self (eu) do indivíduo, em particular considerando o
desenvolvimento e regulação do narcisismo. Ele salientou o papel necessário dos pais
cuidadores (e posteriormente do analista) para espelhar de forma empática os estados do
self da criança e permitir a idealização de transferências alter-ego, assim dando suporte
à criança (o paciente posteriormente) como um self-objeto, até que essa tenha
internalizado suas funções reguladoras. Com o passar do tempo, Kohut veio a rejeitar o
modelo estrutural de Ego, Id e Superego, assim como a teoria dos impulsos propostos
por Freud, e sugeriu em lugar destes o seu modelo de self tripartido.

3.8 A Psicanálise Relacional, fundada por Steven Mitchell (1946-2000), nos


Estados Unidos, rejeita a biologicamente enraizada teoria dos impulsos de Freud,
sugerindo em seu lugar uma teoria do conflito relacional, que combina interações reais,
internalizadas e imaginadas com outros significativos. A personalidade deriva de e é
construída a partir de estruturas que refletem interações aprendidas e expectativas com
os cuidadores primários. Uma vez que a motivação primária do indivíduo é estar em
relacionamentos com outros, ele tenderá a recriar e encenar estes padrões relacionais
através da vida. A Psicanálise, então, consiste em explorar estes padrões e confrontá-los
com o que é espontaneamente e autenticamente cocriado no setting psicanalítico entre
analista e paciente.
Vamos ler e fichar o texto: As sete escolas da psicanálise, disponível em
http://pablo.deassis.net.br/wp-content/uploads/PISANDELLI-As-Sete-Escolas-
da-Psican%C3%A1lise.pdf
ESTE FICHAMENTO É CONDIÇÃO PARA A FORMAÇÃO.
4. Metodologias da prática em psicanálise

Quando imaginamos o psicanalista em ação, imediatamente vem à mente a cena


dele sentado em uma confortável poltrona, posicionado levemente atrás do paciente, que
deitado no divã, fala sobre sua vida. Ainda no século 21, essa imagem traz certa
realidade, mas existem outros modos de atendimento, que se intensificaram no período
de pandemia do Coronavírus – COVID19: em especial o atendimento online, que
permitiu a redução dos valores das sessões, permitiu o acesso de inúmeras outras classes
socioeconômicas, e remodelou alguns detalhes do setting. No entanto, sua base, o
método de associação livre, permanece fundamental para que a análise se concretize
eficientemente. Mas o que é afinal o método psicanalítico por associação livre? e ainda,
o que é o setting?

4.1 A livre associação


O método da livre associação é um convite ao analisando para que diga qualquer
coisa que lhe venha à mente, sem restrições, sem levar em consideração o contexto, a
decência, os sentimentos de vergonha ou culpa, nem qualquer outra objeção. É um
convite para que ele se liberte da moral, das condições opressoras estabelecidas pela
cultura. Ao aderir a esta regra, os processos de pensamento do paciente farão ligações
surpreendentes, revelarão conexões conscientemente indisponíveis com desejos e
defesas, e levarão às raízes inconscientes de conflitos até então não resolvidos que
moldam as situações transferenciais. A transferência pode ser descrita como

um conjunto de sentimentos positivos ou negativos que o paciente dirige ao


psicanalista, sentimentos estes que não são justificáveis em sua atitude
profissional, mas que estão fundamentados nas experiências que o paciente teve
em sua vida com seus pais ou criadores. Portanto, a característica da
transferência é repetir padrões infantis num processo pelo qual os desejos
inconscientes se atualizam na pessoa do analista (FREUD, 1916/1976, apud
Transferência e Contratransferência: uma visão comportamental.
https://www.redepsi.com.br/ acesso em 22/08/2020)

Ao interpretar essas associações, os analistas entregam-se a um processo mental


similar chamado atenção livre flutuante, pelo qual seguem as comunicações do
paciente, assim como percebem – às vezes, como em um “sonhar acordado” – suas
próprias associações que emergirão na contratransferência. Para a psicanálise freudiana,
a contratransferência pode ser compreendida como o “conjunto das reações
inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência
deste” (LAPLANCHE & PONTALIS, 2001, p. 102), que, segundo Freud, seria um
obstáculo à analise que deveria ser neutralizado e superado 1 . Cabe lembrar que a
temática relativa à transferência e contratransferência serão temas recorrentes em nosso
curso por sua importância no processo analítico.
Com o auxílio das intervenções do analista – frequentemente interpretações
transferenciais do que emerge no aqui e agora da sessão – uma nova compreensão do
sofrimento do paciente emergirá. A aplicação repetida destes novos insights em muitas
situações similares, nas quais o mesmo tipo de conflito surge, é o processo de
elaboração, que torna o paciente cada vez mais capaz de reconhecer os processos de
pensamento que movimentam seus conflitos. Resolver estes conflitos e colocá-los em
perspectiva, ou em repouso, liberará a mente do paciente de velhas inibições e abrirá
espaço para novas escolhas. Por isso existe a necessidade de um setting eficiente. Mas o
que é setting na clínica psicanalítica?

4.2 O setting
Quando relaxado confortavelmente no divã, verbalizando por livre associação,
em segurança com a presença do analista, ambos (analisando e analista) estão
concretizando parte de um setting clássico. Isto permite, a eles um eficaz
empreendimento analítico, que permite ouvir e refletir completamente acerca do que é
posto na sessão. O analisando, imerso em seu mundo interno, revive memórias, revisita
experiências importantes, fala acerca dos sonhos e cria fantasias, tudo o que, faz parte
da jornada analítica, e assim lançará novas luzes na vida, em sua história e nas
elaborações da mente dele.
Uma sessão de análise, normalmente, dura entre 45 e 50 minutos e para que o
processo analítico seja aprofundado, estas sessões de psicanálise preferencialmente
ocorrem em três, quatro ou cinco dias por semana. Uma menor frequência de sessões
semanais, ou o uso da poltrona em lugar do divã, podem ser necessários em alguns
casos.

1 Fonte: https://www.redepsi.com.br/2007/02/22/transfer-ncia-e-contratransfer-ncia-uma-vis-o-
comportamental/#:~:text=A%20contratransfer%C3%AAncia%2C%20na%20psican%C3%A1lise%20fre
udiana,deveria%20ser%20neutralizado%20e%20superado.
Todos os acordos acerca do setting (incluindo os horários, o valor da sessão e a
política de cancelamentos) serão contratados por ambos, paciente e analista, e terão que
ser renegociados se mudanças forem necessárias. A duração de uma análise é difícil de
predizer; uma média de três a cinco anos pode ser esperada, embora qualquer caso
individual possa necessitar de mais ou de menos tempo para o encerramento. Paciente e
analista são, contudo, livres para a qualquer momento decidir interromper ou terminar a
análise.
O setting, portanto, envolve o conjunto de ações que antecedem o momento da
análise (contratos, acordos, periodicidade das sessões), as sessões em sua organização
(sofás, divã, poltronas, ambiente), e a sucede (como a decisão de encerramento da
sessão de análise).

4.3 Metodologia científica e pesquisa em psicanálise


Metodologia científica é o estudo dos métodos ou dos instrumentos
necessários para a elaboração de um trabalho científico. É o conjunto de técnicas e
processos empregados para a pesquisa e a formulação de uma produção científica. A
metodologia é o estudo dos métodos, especialmente dos métodos das ciências. É um
processo utilizado para dirigir uma investigação da verdade, no estudo de uma ciência
ou para alcançar um fim determinado. A psicanálise traz, desde seu início, a
preocupação com o rigor em seus métodos e afirmações. Esse rigor permitiu à
psicanálise dialogar com inúmeras outras ciências que se estabeleceram entre os séculos
19 e 20, como a medicina, a antropologia e a sociologia, que se utilizaram das
metodologias dela.
Assim, a metodologia científica aborda as principais regras para uma produção
científica, fornecendo as técnicas, os instrumentos e os objetivos para um melhor
desempenho e qualidade de um trabalho científico. Nesse contexto, a pesquisa é uma
das atividades primordiais para a elaboração dos trabalhos realizados com base na
metodologia científica. É a fase da investigação e da coleta de dados sobre o tema a ser
estudado.
4.3.1 Pesquisa
A palavra pesquisa deriva do latim perquirere, que significa “procurar com
perseverança”. Pesquisa é um conjunto de ações que visam a descoberta de novos
conhecimentos em uma determinada área. Academicamente, a pesquisa é um dos pilares
da atividade universitária, e mesmo das formações livres - como a de psicanálise. Nelas,
os pesquisadores têm como objetivo produzir conhecimento para uma disciplina
acadêmica, contribuindo para o avanço científico (racional) e para o desenvolvimento
social. Uma parte importante de qualquer pesquisa é a coleta de dados, e por isso um
pesquisador deve buscar por informações com diligência.

4.4 A metodologia científica em psicanálise


Para os psicanalistas cabe lembrar que para Freud a psicanálise é,
simultaneamente:
1. um procedimento para a investigação de processos
mentais inconscientes (inacessíveis a outras formas de pesquisa);
2. um procedimento terapêutico e;
3. um conjunto de conhecimentos em contínua expansão e
reformulação sobre seu objeto.
Portanto devemos reconhecer a importância do estudos e da pesquisas contínua
em psicanálise. Nossa formação livre é um curso que lhe habilitará como psicanalista
clínico, mas o que lhe tornará um psicanalista de verdade é sua dedicação em se
aprofundar na área. Devemos nos ater ainda, à preocupação freudiana em não
subordinar as atividades clínicas terapêuticas a metas especificamente científicas — ou
seja, subordina-la à procura obstinada de conhecimento —, embora tais processos
necessitem estar articulados.
É muito importante que se entenda que o experimento é uma construção ideal de
investigação, de pesquisa. Em muitas ocasiões devemos compreender que a ciência do
comportamento e da mente são ciências baseadas no experimento, principalmente nos
experimentos com animais, tomando-os como base do nosso comportamento.
A metodologia científica em psicanálise confunde-se com a própria pesquisa, ou
seja, a psicanálise exige também muita pesquisa. Segundo Mezêncio,
do primeiro momento, o da pesquisa propriamente clínica em situação de
análise, e que envolve analista e analisando, deriva o método clínico de
pesquisa. Parte-se do método comum de fazer pesquisa científica, a pesquisa
empírica, e utiliza-se do referencial da psicanálise e da escuta. Sobre o material
produzido nesse primeiro momento, um segundo incide, o momento da
pesquisa teórica. Momento em que se teoriza sobre os dados escutados. A
psicanálise é, então, o “suporte teórico necessário à sua própria análise,
enquanto produção teórica/verbal e a transferência modelo e instrumento de
trabalho criativo da produção da verdade” (PINTO, 1999b).
Para a autora,
um obstáculo, um impasse ou um tropeço coloca o pesquisador em trabalho de
transferência ao texto escutado ou lido. As lacunas do texto levam às perguntas,
e o método psicanalítico ensina que a verdade está aí e não na resposta. Assim,
para “manter a vocação científica da psicanálise”, é necessário adotar a
estratégia de “aprimorar a delimitação de um problema de pesquisa ou uma
indagação que questiona afirmações tomadas como verdades”. Busca-se evitar
a citação e o dogma, a repetição doutrinária ou exibição de sabedoria. Ao
referir-se ao seu método de ensino, no Seminário sobre a Angústia, Lacan
revela suas reticências quanto às próprias excursões eruditas. Para ele a
transmissão da psicanálise e seu método advêm de uma necessidade: “a verdade
da psicanálise, pelo menos em parte, somente é acessível na experiência do
psicanalista.” Ainda assim, e dadas as dificuldades de comunicação dessa
experiência particular, o rigor do ensino e o da investigação são aí convocados,
“porque a experiência psicanalítica deve ser ela mesma orientada, sem o que ela
se extravia”. [(LACAN, 2004/1962-1963, p. 282; tradução da autora)
MEZÊNCIO, Márcia de Souza. Metodologia e pesquisa em psicanálise: uma questão.
Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 10, n. 15, p. 104-113, jun. 2004)

Nos Escritos, uma das principais obras de Jacques Lacan (1958/1998), em A


Direção do Tratamento e os Princípios de seu Poder, encontra-se um texto fundamental
sobre a prática analítica, isto é, sobre a direção da análise, com alguns caminhos para a
pesquisa psicanalítica.
Na obra de Freud nós encontramos a primeira formalização da pesquisa em
psicanálise, através de cinco de seus casos mais emblemáticos:
Anna O. (Bertha Pappenheim) – A paciente de Josef Breuer, teria demonstrado
desejo sexual por ele, que rompeu o tratamento devido às implicações éticas. O episódio
inspirou Freud a formular o conceito de transferência - a projeção de sentimentos
derivados de impulsos infantis para um novo objeto
Homem dos Lobos (Sergueï Pankejeff). O caso do “homem dos lobos” está em
“História de uma Neurose Infantil”. De origem russa, Pankejeff sofria de neurose
obsessiva. Seu pai tinha psicose maníaco-depressiva e a única irmã se suicidara. Freud
descreve a importância, para o caso, de um sonho traumático com lobos que o paciente
teve aos quatro anos.
Katharina (Aurelia Kronich) – Nascida em Viena, seu caso foi descrito em
“Estudos sobre a Histeria”. Sentia-se sufocada. Freud se interessou por ela a partir de
sua experiência em casos nos quais a angústia era conseqüência do terror que jovens
mulheres experimentavam “ao se defrontarem com a primeira revelação do mundo da
sexualidade”.
Dora (Ida Bauer) – Um dos primeiros grandes casos clínicos descritos por Freud,
em que Ida Bauer tinha repetidos desmaios e manifestava o desejo de suicídio. Ele
descreveu o caso como o de uma criança que observara a “cena primitiva” (relações
sexuais entre os pais) e posteriormente teria adoecido em conseqüência das
masturbações que haviam se seguido.
Emmy von N. (Fanny Moser) – Descrita em “Estudos sobre a Histeria”, tinha
alucinações com animais. De família aristocrática, causou escândalo ao casar-se com
um industrial, 42 anos mais velho que ela. Primeiro caso em que se usou o “método
catártico”.
Percebemos, então, a necessidade do analista refletir sobre sua própria
experiência, Conforme Nogueira,
essa foi uma das razões pelas quais Lacan pensou em um dispositivo para
pensar a experiência: o dispositivo que hoje em dia se chama de passe, que é
uma tentativa do próprio analista conceituar sobre sua análise para um grupo de
pessoas, para outros analistas. Uma tese de psicanálise, basicamente, vai fazer
isso: ou construir o caso ou fazer uma construção conceitual distanciada dos
casos, tentando discutir um conceito de Psicanálise, por exemplo, a
transferência. Já existe todo um conjunto de autores que estudaram a
transferência, então um pesquisador da psicanálise pode fazer uma pesquisa
teórica, no sentido do conceito, mas ela não é teórica na medida em que a
Psicanálise não separa a prática da teoria. Se eu estou fazendo uma investigação
dos textos de Freud eu estou implicado nisto. Todo mundo aqui que leu algum
livro de Psicanálise sabe que, quando começa a ler sobre Psicanálise, a pessoa
se sente questionada: e eu como é que fico diante disso? Isso não ocorre quando
nós estudamos Física, Química, Biologia. Biologia ainda até pode ser, porque a
gente também se relaciona com o corpo. Mas na Psicanálise é inevitável. Se eu
estou estudando um caso clínico imediatamente eu relaciono comigo.
(NOGUEIRA, Luiz Carlos. A pesquisa em psicanálise. Psicologia USP, 2004,
15(1/2), 83-106 em https://www.scielo.br/pdf/pusp/v15n1-2/a13v1512.pdf )

Entendemos assim, a pesquisa em psicanálise no sentido amplo como


um conjunto de atividades voltadas para a produção de conhecimento, nas quais ora as
teorias tornam-se “objeto” de estudos sistemáticos, ora de estudos históricos, ora de
reflexões epistemológicas; outras vezes, alguns conceitos psicanalíticos são mobilizados
como instrumentos para a investigação e compreensão de variados fenômenos sociais e
subjetivos.
Não à toa Freud enumera três importantes aspectos do saber psicanalítico:
como tratamento, como pesquisa e como uma teoria psicológica. Esses três aspectos
estão sempre juntos, quer dizer, eu não posso pensar em pesquisa psicanalítica a não ser
na relação analítica. Isso significa afirmar que, se tomarmos a teoria psicanalítica e
tentarmos aplicá-la fora da relação analítica, fora do tratamento analítico, não estaremos
fazendo psicanálise, mas sim pesquisa experimental.
Agora, vamos ler e resumir o texto A pesquisa em psicanálise, de Luiz Carlos
Nogueira. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/pusp/v15n1-2/a13v1512.pdf

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