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Esenfc 21/22

Sebenta de

Psicologia do

Desenvolvimento

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Desenvolvimento
Para Mazel e Houzel (1975) o desenvolvimento é um processo que faz passar a criança ao
estado adulto. O desenvolvimento é um processo que não é contínuo.
Touchpoint: ponto do acontecimento que rompeu o normal dos nossos dias.
A maturação (Bee, 1997) é o conjunto de mudanças físicas determinadas pelas informações
contínuas do código genético e comum a todos os membros duma mesma espécie.
Para Piaget o desenvolvimento é uma construção.

Evolução e desenvolvimento de uma criança


O ser humano constrói-se adulto a partir da criança que era. No início do séc. XX as crianças
eram vistas como “mini-adultos” e tratados como tal. Antigamente, nenhuma criança era vista
como centro educativo e de atenção de família, todas as crianças eram escravizadas até à
década de 80.
Piaget defendia que:
• A existência de estádios de desenvolvimento seriam específicos de tal forma que o
estádio seguinte incorporava o anterior.
• A existência de uma transformação do padrão de pensamento anterior.
• Nunca se retorna ao estádio anterior.
Fase vs Estádio
• A fase era defendida por Freud e era permitido retornos a estádios anteriores em
situações críticas.
• O estádio é a integração e é impossível voltar atrás.
• Para Freud, a diferença entre estádio e fase é que o estádio tem marcha irredutível,
não se volta a um estádio passado quando já se passou para um estádio superior,
enquanto na fase pode haver regressão. Há progresso e integração do estádio anterior
para o seguinte. A regressão e/ou fixação acontecem quando existe um desvio ao
desenvolvimento.

Paradigma psicanalítico
Freud define pulsão como:
➢ Um conceito limite entre o psíquico e o somático
➢ Um lugar de articulação do corpo e da psiché
Freud propõe um modelo onde os processos mentais teriam a sua génese no inconsciente,
dando importância maior aos aspetos pulsionais. Os processos mentais são inconscientes e
que em toda a vida mental “apenas determinados atos e partes isoladas são conscientes”.
Pulsões sexuais:
o São necessidades sexuais no Homem e nos animais movidos pela “libido” como a
pulsão de nutrição é movida pela “fome”.
o Desempenham-se por causa das doenças nervosas e mentais – papel extra importante.
o A civilização foi criada à custa de satisfação das pulsões.

Metapsicologia de Freud (2 tópicas):


1. Na primeira tópica Freudiana existem 3 sistemas:
o O consciente (Cs)
o O pré-consciente (Pcs)
o Inconsciente (Ics)
▪ Rege grande parte do nosso funcionamento mental juntamente com o
Pcs-Cs.
▪ Divisão entre Ics e Pcs: descritivamente podemos considerar os
processos inconscientes como não conscientes.

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▪Muitos desses processos não conscientes encontram-se no sistema


pré-consciente, uma área de armazenamento de lembranças,
necessária para a consciência, uma vez que não podemos manter
todas as lembranças no consciente ao mesmo tempo.
▪ Estas lembranças, pré-conscientes, facilmente se tornam conscientes.
▪ Mas os processos inconscientes podem não se tornar conscientes
mesmo após um esforço se o seu conteúdo estiver recalcado.
▪ Podemos considerar que os processos inconscientes que facilmente
assomam ao consciente pertencem ao sistema Pcs, enquanto os
processos inconscientes sobre os quais atua a censura, pertencem ao
sistema Ics e podem estar sujeitos ao recalcamento.
▪ A censura impede que as pulsões se manifestem ao bel-prazer do
indivíduo sendo por isso que Freud declara que “a civilização foi criada
(…) à custa da satisfação as pulsões”.
2. Na segunda tópica de Freud existe:
o O id (reservatório de energia psíquica, governa no início da vida. Este
funciona por descarga de acúmulos de tensão, ou seja, sempre que o
desconforto se instale o bebé procede à sua descarga de tensão através
da motilidade.)
o O ego (segundo Freud é “uma organização coerente de processos
mentais”. É assim a parte do id que foi modificada pela influência direta do
mundo externo, por intermédio do sistema perceção consciência (pcpt-
Cs).)
o O superego (moral e regras; a construção do superego tem como base o
inter-jogo entre: os investimentos objetais, o seu destino e o papel da
identificação. A diferenciação do superego a partir do ego representa a
característica mais importante do desenvolvimento, tanto do indivíduo
como da espécie, por conter em si a expressão permanente da influência
dos pais e os aspetos da natureza mais elevada)

O Ego
• Elemento mediador entre o id e o superego
• Considerado como “uma organização coerente de processos mentais”
• É aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo, por
intermédio do pcpt-Cs
• Esforça-se por substituir o princípio do prazer, que reina irrestritamente o id, pelo
princípio da realidade.
• É também inconsciente
• Comporta-se como o reprimido
• Deriva das sensações corporais
• Projeção mental da superfície do corpo
A formação do ego deve-se ao:
• Sistema perceção consciência
• Corpo
• A superfície do corpo constitui um lugar de onde podem originar sensações (externas e
internas)
• A dor porque através dela chegamos à ideia do nosso corpo
O ego tem as seguintes funções:
• Controlar as abordagens de motilidade, instalando progressivamente a capacidade
de diferir no tempo o desejo da satisfação dos impulso emergentes
• Supervisionar todos os processos constituintes mesmo quando se vai dormir à
noite, pois ainda exerce censura sobre os sonhos

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• Procede às repressões necessárias à exclusão de certas tendências da mente

O superego
Código de conduta; estrutura externa; resíduo das primitivas escolhas objetais do id.
A identificação:
o É a mais remota expressão de um laço emocional com outra pessoa
o Permite tomar a pessoas a quem se identifica como modelo
o Pode surgir como qualquer nova perceção de uma qualidade comum partilhada com
alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual.
O superego não é somente um resíduo das primitivas escolhas objetais do id, também
representa uma formação reativa energética contra essas escolhas. O superego tem uma
dupla origem:
➢ Natureza biológica (prolongado desamparo e dependência na infância)
➢ Natureza histórica (herança do desenvolvimento cultural após a época glaciar)

O superego representa a mais alta natureza do Homem:


• A crescente consciência e a causa moral
• A religião
• A capacidade de autojulgamento
O superego aparece:
o Elemento internalizável na relação significativa com os objetos investidos na relação
primária
o A internalização do superego decorre na resolução do complexo de Édipo através da
assunção da conduta moral – sublimação (defesa mais evoluída do ser humano – sentir
prazer em coisas simples da vida)

➢ Freud estabelece relação entre o inconsciente, a sexualidade infantil e o adoecer


neurótico adulto, propondo um modelo onde os processos mentais teriam a sua
génese no inconsciente.
➢ Importância maior aos aspetos pulsionais, considerando que os processos mentais são
inconscientes
➢ É comum observarmos pessoas que embora manifestem ações específicas, uma vez
confrontados com os seus atos, podem não os entender e /ou mesmo negarem a sua
autoria como quando alguém face a um comportamento diz “isto não sou eu”,
mostrando como consciente e inconsciente se desencontram e tornam o
comportamento individual desarmonioso.
➢ A sexualidade pode esconder o sofrimento e ter um papel no adoecer neurótico

As 3 teorias da pulsão
A pulsão é um processo dinâmico que se define através de 4 elementos principais: a fonte
(sexual ou agressivo), o objeto, uma carga energética (poussé-força) ou impulso e um fim.

1ª teoria – satisfação da necessidade


➢ Diferencia-se posteriormente da autoconservação
➢ A não realização da pulsão está na origem da ansiedade
2ª teoria – teoria do narcisismo
➢ O narcisismo alcança a autoestima:
o Uma parte da autoestima é primária, é o resíduo do narcisismo primário
o Decorre da omnipotência corroborada pela experiência (realização do ideal do
eu)

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o Provém da satisfação da líbido objetal (líbido = consiste numa energia psíquica


que resulta maioritariamente do instinto sexual e que determina o
comportamento da vida do Homem)
3ª teoria – conceito de pulsão de vida e pulsão de morte
➢ Pulsão de vida:
o Conjuga as pulsões sexuais, as pulsões de autoconservação e o narcisismo
➢ Pulsão de morte:
o De forma simples tudo aquilo que desliga o sujeito de si e do mundo, embora
aparente estar virada para dentro e tenda à autodestruição
o Seria secundariamente virada para o exterior sob a forma de pulsões de
agressão
o A pulsão de morte age silenciosamente e visa retornar ao nível zero de
excitação

Teoria da Sexualidade Infantil - Freud


A sexualidade infantil manifesta-se parcialmente através das zonas erógenas:
• Fase oral
• Fase anal
• Fase fálica
• Latência
• Fase genital/instrumental
A sexualidade infantil pode ser satisfeita através da articulação de duas dimensões que
organizam o conjunto da vida psíquica:
1. Princípio do prazer/desprazer (processo primário): é o tipo de funcionamento mental
existente ao nascer e que funciona por descarga dos acúmulos de energia, sempre
que o bebé sinta um desprazer a incomodá-lo ele intenta um movimento que lhe
reduza a tensão e desconforto. Quando a mãe amamenta, não só amamenta como dá
prazer. Ao mesmo tempo, isto permite que o bebé construa o seu EU nuclear a partir
dos sentimentos primordiais
2. Dinâmica pulsão/objeto: segundo Freud, a pulsão sexual está associada com a
nutrição e satisfação, o ato de alimentar transforma-se de um ato de sobrevivência
para um ato de prazer, de encontro e significado. Satisfaz-se sobre o próprio corpo.

Fase oral (até 9 meses/1 ano, 1º organização do líbido):


Pode ser dividida em 2 fases:
• 0 a 6 meses – caracterização por sucção
• 6 a 12 meses – devido ao crescimento dos dentes a zona de conforto é a boca e
sistema digestivo, o prazer é obtido através dos alimentos.
➢ A fonte pulsional prevalente é a zona bucolabial onde se acrescenta órgãos sensoriais
como a visão e o tocar constituindo-se como zonas erógenas.
➢ Tem como base a alimentação. O desconforto é provocado pela espera da mãe
adequada que lhe permita o alívio de acúmulos de pressão desprazerosos.
➢ Na fase oral, a impressão visual que deriva do tocar é o caminho para a excitação
libidinosa. A partir daqui surge um vínculo mãe-filho, sendo a mãe a primeira sedutora
do bebé.
➢ Quando há um conflito maternal entre o bebé real e o bebé ideal pode haver uma
relação de não desejo – um olhar vazio maternal pode provocar danos ao bebé.
➢ O fim da pulsão sexual consiste no prazer autoerótico e desejo de incorporação.

Freud: relaciona o desenvolvimento intelectual com a vida pulsional originária. Fruição e


significação.

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Fase anal (1 a 3 anos):


➢ Zona de conforto é a anal e uretral
➢ A criança sente prazer na retenção e expulsão da urina e fezes
➢ A criança começa a controlar os esfíncteres e começam a ser-lhe estabelecidos limites
que coincidem com o seu processo de aprendizagem e autonomização.
➢ A criança vai descobrindo o seu poder sobre a mãe e esta depende do comportamento
da criança para a encorajar ou limitar o seu movimento de autonomização.
Freud: defendia a criança com controlo.

Fase fálica (4 a 5 anos):


➢ Zona erógena é a zona genital
➢ Conflito diretamente na criança
➢ Fase da construção da intimidade, na qual a criança começa a diferenciar o homem da
mulher pela curiosidade da diferença entre os pais.
➢ Édipo complexo (uma criança), identifica com a mãe, mas depois, por medo da
castração rejeita o pai. Mais tarde identifica-se com o pai mas com medo de perder a
mãe.
➢ A organização fálica coloca enfase no órgão sexual feminino e é em nosso entender
uma leitura desajustada de Freud pois as meninas manifestam muitas vezes um
grande orgulho em serem meninas e, por isso, esta leitura machista não faz sentido.
Freud: diferença dos sexos, complexo do Édipo e conflito de castração

Latência (6 a 12 anos):
➢ Período de calma
➢ Criança concentra-se em outras coisas (escola, amigos, todos os seus interesses) a
criança investe na escola e na aprendizagem tentando imitar o comportamentos dos
adultos que admira.
➢ A criança começa a desinteressar-se pelos problemas sexuais e passa a interessar-se
pelo conhecimento. Surge então o conceito de sublimação que Freud afirmava que
era uma das nossas maiores defesas
➢ rapaz – rapaz; rapariga – rapariga; as crianças começam amizades com pessoas do
mesmo sexo e desvalorizam o sexo oposto, pondo-lhe defeitos
➢ Afigura-se vergonha e embaraço

Fase genital (puberdade: +12 anos):


➢ Retorna o interesse dos órgãos genitais
➢ Indivíduos podem satisfazer relações sexuais e viver uma vida plena
➢ Não há fixação
➢ Capacidade instrumental para ser pai ou mãe
Freud: primaria genital, interação das zonas erógenas parciais, finalidade genital.

Aplicações práticas do paradigma psicanalítico


A aplicação prática acontece sempre na relação com a pessoa, apelando a atenção aos quatro
pontos seguintes:
1. Ao inconsciente como reservatório mental, acessível ou não à mente consciente que
se manifesta em comportamentos, inibições e/ou sintomas ou lapsus linguae que a
pessoa não compreende, nem consegue integrar;
2. À problemática psicossexual infantil que se apresenta no centro da ação adulta, dos
seus desvirtuamentos funcionais e das expressões sintomáticas;
3. À necessidade - vista como pulsão ou como falta dela que apela a uma relação que a
satisfaça – elemento central da relação humana, exigindo que os profissionais de

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saúde sejam capazes de perceberem e distinguirem necessidades emergentes na


pessoa a cuidar;
4. Ao sintoma que se apresenta como sinal ou como solução de compromisso que
desvela conteúdos que têm dificuldade de ser expressos verbalmente pela pessoa
necessitada de cuidados.

A díade mãe-bebé no centro do desenvolvimento


A mãe tem um papel importante na abertura ao mundo progressivo da criança, pois ajuda-a a
suportar os estímulos internos, permitindo-lhe uma descarga de tensão.
Ser mãe exige:
▪ Luto da criança imaginária
▪ Novo arranjo das ligações com a sua própria mãe
▪ “Preocupação maternal primária” (comportamento que mãe exibe nos últimos meses
de gravidez)
▪ Conciliação com a sua parentela durante a gravidez
▪ Um movimento identificatório e de reconciliação
▪ Apelo ao progenitores (pais da grávida) de proteção à criança em gestação
Durante a gravidez pode acontecer:
▪ Movimentos regressivos inconscientes (intenso movimento identificatório onde se
pode confundir a relação atual com o que viveu com a sua mãe)
▪ Vivência do espelho

Fases do desenvolvimento da grávida


1. Integração: interiorização da nova realidade física; reelaboração da relação com as
figuras paternais da infância;
2. Diferenciação: aceitação de 1 feto autónomo com regras próprias; momento de
reorganização do relacionamento conjugal;
3. Separação: separação física e psicológica do bebé que vai nascer; momento de
reelaboração relativo ao bebé que já comunica, mais ainda não nasceu.

Estádio anobjetal – defendido por Spitz


➢ No mundo do recém-nascido não há objeto nem relação de objeto. Isto é, a perceção
que tem está extremamente protegido pelo sistema interocetivo e piropriocetivo onde
“o sentir toma um sentido extensivo principalmente visceral, centrado no sistema
nervoso autónomo e manifesta-se sob a forma de perceção emocional”.

Organizadores do psiquismo humano e fase pré-objetal:


1º organizador – estádio pré-objeto: por volta do 3º mês o recém-nascido ainda não se
encontra “organizado” em diversas dimensões, tais como: perceção e atividade, o
funcionamento psíquico e somático ainda não estão separados e o meio circundante não é
percebido. O bebé começa a ter como objeto intermediário a face, onde a perceção por
contato dá lugar à perceção à distância. O sorriso é o primeiro organizador e é caraterizado
pela compreensão de estímulos provenientes do exterior, que ajuda a interagir com a
realidade. O bebé já é capaz de sintetizar e integrar-se, sendo que o sorriso estabelece o início
das relações sociais no ser humano. Assim, a reposta de sorriso é um indicador de que um
amplo processo de organização aconteceu na psique do bebé: o consciente separou-se do
inconsciente, já que o reconhecimento, expresso no ato de sorrir, é um sinal de consciência
que dirige intencionalmente os seus atos.

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2º organizador – estádio precursor do objeto, fase objetal: por volta do 7º/8º mês o bebé
consegue distinguir-se do “outro”, consegue perceber que ele é uma pessoa e a mãe é outra.
O bebé chora pelo objeto do amor (o rosto materno) que só reconhece na sua ausência. Com
o facto do bebé ver o outro como um objeto distinto de si, deixa-o vulnerável, pois adquiriu
uma capacidade de distinção e tudo o que é estranho aos seus olhos, assusta-o deixando de
sorrir indistintamente a qualquer figura humana. Aqui Spitz junta-se a Freud. No mundo de
vivência do bebé, só há espaço para o que está presente, não há ideia de outro lugar, por
exemplo se o bebé está na sala e a mãe no jardim , o bebé não consegue perceber que a mãe
está no jardim.

3º organizador – estádio do objeto libidinal: do 15º ao 18º mês o bebé adquire a capacidade
de dizer “não” e sente-se autónomo e capaz de tudo. O “não” do outro impede a criança de se
aproximar de objetos que deseja. Se executar ações comandadas pelo seu interesse tem medo
de perder o amor da pessoa que diz que não.

Finalidade:
1º organizador – o primeiro dos organizadores da psique estrutura a perceção e estabelece os
rudimentos do ego; para que exista psiquismo é preciso que o vazio do bebé surja.
2º organizador – integras as relações de objeto com os impulsos e estabelece o ego como uma
estrutura psíquica organizada com uma variedade de sistemas, mecanismos e funções; para o
sujeito existir na sua individualidade é preciso que se distancie da dependência da mãe.
3º organizador – abre caminho para o desenvolvimento de relações objetais segundo o padrão
humano da comunicação semântica; para o sujeito se identificar com o seu nome próprio.

Paradigma construtivista - Piaget


Desenvolvimento: é a marcha de conquistas onde os esquemas precedentes se integram em
esquemas mais complexos e flexíveis, tendo por base o organismo que lhes dá suporte, por um
lado, e procura a satisfação da necessidade por outro.

Psicologia Genética
• Tem como propósito estudar o desenvolvimento mental, isto é, as “funções mentais
pelo seu método de formação e, portanto, pelo seu desenvolvimento na criança”.
• Estuda a génese e o desenvolvimento das funções. E para além da inteligência, estuda
também a perceção, a afetividade, a memória, a representação, a emoção ou mesmo
a moral.

Psicologia da criança
• Propõe estudar o crescimento mental, ou seja, o desenvolvimento das condutas onde
se incluem os comportamentos e a consciência, como resultado final, considerando o
comportamento como algo completo em padrões ou esquemas apresentados e não
como um processo de construção gradual e progressivo.
• Tem a sua origem no estudo pré-natal, na embriologia dos reflexos e da motricidade
apresentada pelo feto, embora o seu estudo radique sobre o comportamento final
manifesto e não tenha em conta cada processo, a sua génese e a sua evolução.

Diferença entre a Psicologia da Criança e a Psicologia Genética


o A primeira centrava-se na criança e nas suas condutas, permitindo a proposta de
Piaget estudar a equilibração, a desequilibração e as compensações das estruturas e as
suas especificidades funcionais, os seus processos de progressão ao longo do
desenvolvimento humano.

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o A perspetiva genética do desenvolvimento afasta a criança duma perspetiva que


pudesse pensá-la como um adulto em miniatura.

Piaget considera que existem duas circunstâncias para considerar o ato de sucção como uma
organização psíquica: a existência de uma significação e uma busca dirigida.

4 estádios de desenvolvimento (Piaget)


1º estádio – inteligência sensório-motora:
1. Etapa dos reflexos: impulsos instintivos elementares (nutrição) e reflexos afetivos
(emoções primárias); os reflexos de sucção; reação circular (brincar com a língua);
aumento da passividade; coordenação de esquemas heterogéneos
2. Etapa das perceções e hábitos: corresponde a uma série de sentimentos elementares
ou afetos percetivos da própria atividade; o bebé interessa-se essencialmente pelo seu
corpo
3. Etapa das relações circulares primárias: não há ainda intencionalidade do meio, é por
acaso as suas ações e por acaso gosta
4. Etapa da inteligência prática: baseada nas sensações e movimentos
5. Etapa das atividades de suplência: inteligência de sensório-motora para mental
6. Etapa do insight: o bebé já possui inteligência mental; etapa que inaugura o estádio
pré-operatório

2º estádio – inteligência pré-operatória


A função semiótica – do insight à intuição figurativa
✓ Entre o 1 ano e meio e 2 anos a criança passa a representar alguma coisa –
representação
✓ Essa representação poderá ser linguagem, imagem mental, gesto simbólico
✓ A evocação representativa de um objeto ausente envolve a construção ou o emprego
de significantes diferenciados
Distinguem 5 condutas de evocação: a imitação diferida, o jogo simbólico, o desenho, a
imagem mental e a linguagem.
1. A imitação diferida: a imitação é uma prefiguração da representação e é uma espécie
de representação em ato; a imitação inicia-se com uma espécie de contágio ou
ecopraxia; no período sensório-motor é uma espécie de representação em actos
materiais mas ainda não em pensamentos, apenas em movimento; no fim do período
sensório-motor, a criança inicia a imitação diferida que deixa de ser uma cópia
percetiva. O ato desligado do contexto torna-se significante, uma representação em
pensamento.
2. Jogo simbólico: é uma atividade em que a criança promove a assimilação do real ao EU
sem coação nem sanções; transforma o real por assimilação às necessidades do EU. 4
categorias de jogo – jogo do exercício, simbólico, de regras e de construção.
3. O desenho: é uma forma de função semiótica que se inscreve a meio caminho entre o
jogo simbólico e a imagem mental; a criança não faz desenhos, desenha-se a ele. O
que ela desenha representa o que passa internamente com ela.
4. A imagem mental: no período pré-operatório as imagens mentais são quase
exclusivamente estáticas, com dificuldade de reproduzir movimentos ou
transformações, bem como os seus próprios resultados;
5. A linguagem: desenvolve-se por fases: lalação; diferenciação dos fonemas por
imitação; palavras frase; a partir do 2º ano a criança complexifica a sua expressão
verbal através de um progresso evidente nas estruturas gramaticais

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3º estádio – operações concretas


• Acontece quando a criança começa a pensar por via operatória, matematicamente
através de somas e subtrações;
• Uma criança do período pré-operatório funciona por operações
percetivas e, por isso a criança diria que está mais ou menos
água no pote C.
• Uma criança do período das operações concretas matemáticas
diria que por ser a mesma água, a quantidade de água é igual
nos 3 potes.
Existem 3 tipos de crianças:
▪ Não conservadoras (operações percetivas não vendo que é a mesma água)
▪ Semi conservadoras (por vezes operações percetivas, por vezes matemáticas ->
percebe a conservação mas não a reversibilidade)
▪ Conservadoras (operações matemáticas, percebem conceitos de conservação e de
reversibilidade)

4º estádio – operações formais


Aparece, inicia-se, com a aquisição da capacidade hipotético-dedutiva, ou seja a capacidade
de criar hipóteses ou de deduzir hipóteses.

Teoria da vinculação – Bowlby


O autor defende que ao nascer, o bebé já está equipado com sistemas comportamentais que
fornecem as bases para o desenvolvimento ulterior do comportamento de apego
Estes são compostos pelos sistemas primitivos mediadores ou pelas respostas instintivas
componentes.
Ao longo do 1º ano estabelece-se o comportamento de vinculação que tem na sua base as
respostas instintivas componentes e um processo de interação crescente de sentido e
significado.
As fases do processo de vinculação:
1. Orientação e sinais com discriminação limitada da figura de vinculação
• A discriminação limita-se aos estímulos olfativos e auditivos
• Dura até às 8-12 semanas
• Só se prolonga em situações desfavoráveis
2. Orientação e sinais dirigidos para um figura disc

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