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Conceitos base da primeira e segunda tópica freudiana e a vida mental.

(Por Fernanda Amaral)

Acerca da teoria da personalidade pode-se dizer que a maior


contribuição deixada por Freud se trata da exploração do conceito de
inconsciente e principalmente sobre sua fiel ideia de que, nós seres humanos,
somos fundamentalmente motivados por impulsos. Impulsos esses sobre os
quais temos pouca ou nenhuma ciência. A primeira tópica Freudiana que
aborda dentro de sua nomenclatura o Inconsciente, o Consciente e o Pré-
consciente, foi durante quase duas décadas o único modelo de mente de
Freud. Porém ele se tornou insuficiente para seu próprio criador, um modelo
mais atual se fazia necessário e nesse momento a segunda tópica Freudiana
teve sua fundação com conceitos nomeados de: Id, Ego e Superego.

Diante dos conceitos de Consciente e Inconsciente, esse segundo tem


uma subdivisão, o Inconsciente propriamente dito e o Pré-consciente. O
Inconsciente é detentor de todos nossos impulsos, necessidades ou instintos
mais urgentes. Instintos esses que vão muito além da nossa percepção. Um
exemplo de quando os processos inconscientes entram na consciência, ou
seja, se tornam perceptíveis, (após alguns disfarces é claro) são os sonhos e
os lapsos de linguagem, os atos falhos, todos por via normal ou através de
sintomas, por via patológica. O Inconsciente não é inativo ou adormecido, mas
sim possui forças lutando constantemente para se tornarem conscientes
através, por exemplo, dos inúmeros mecanismos de defesa. Em uma
explicação simplista o Inconsciente é uma espécie de banco de dados
atemporal, sem noção de passado e presente, de conteúdos reprimidos por
censuras internas.

No nível Pré-consciente estão todos os elementos que não são


conscientes, mas que podem de uma forma ou outra, vir a ser. Ou seja, são
conteúdos que nesse momento não estão conscientes, mas podem num
momento seguinte vir a estar. Números de telefone, nomes de pessoas
conhecidas, números de documentos são exemplos de conteúdos que não
precisamos ter em nível consciente o tempo todo, mas quando necessários
podemos acessar. Já o Consciente é o sistema que recebe as informações do
mundo exterior e interior ao mesmo tempo. Sendo, portanto dos três, o que
representa menor papel na teoria psicanalítica visto que é contemplado pelo
“agora”, pelo “já”, pelos atos, ações, percepções, raciocínio e atenção neste
exato momento

Sobre a segunda tópica freudiana que lança mão de conceitos como Id,
Ego e Superego, pode-se dizer que uma criança recém-nascida é a própria
personificação do Id. Essa criança é pura busca de satisfação de suas
demandas independentemente do que é ou não possível. Ou seja, de maneira
bem resumida o Id tem um único propósito: como uma instância primitiva que
é, ele busca o prazer sem qualquer preocupação se isso é certo ou não,
adequado ou não. Seria a parte mais irracional, caótica e sem julgamentos de
valor entre bem e mal que temos. Como uma instância primitiva o Id opera
através de um processo primário e visando somente a busca pela satisfação do
prazer, sua sobrevivência depende de um processo secundário para colocá-lo
em contato com o mundo externo. Esse processo secundário opera através do
Ego.

O Ego é a única instância que opera em contato com a realidade, com o


mundo externo e, portanto ele é quem toma as decisões ou realiza o que a
personalidade quer. Ele basicamente é governado pelo princípio da realidade,
que tenta substituir o princípio do prazer do Id. O Ego age como um mediador
entre o Id e o Superego, tenta resolver o conflito constante que há entre estes.
Ele serve ao Id (com suas exigências irracionais), ao Superego (com suas
demandas moralistas e idealistas como as do mundo externo) e quando
cercado o Ego lança mão dos mecanismos de defesa contra a ansiedade
gerada no cerco.

O Superego é regido pelos princípios moralistas e idealistas em direta


oposição ao princípio do prazer do Id e ao princípio da realidade do Ego. Um
bom desenvolvimento do Superego controla os impulsos sexuais e agressivos
(do Id) através do processo de repressão, e vigia atentamente o Ego com
julgamento de suas ações e intenções. Quando o Ego age de forma contrária
aos padrões do Superego surge a culpa e quando ele não atende os padrões
de perfeição do Superego nascem sentimentos de inferioridade. Superego são
forças adquiridas paulatinamente por influência da nossa vida em sociedade,
influências que recebemos desse grupo e vamos absorvendo. Essas
influências podem ser morais, religiosas, regras de conduta em sociedade,
etiqueta, etc.

O Id e o Superego estão em constante oposição, os conflitos gerados


por essa oposição são geralmente resolvidos pelo Ego. Em indivíduos
saudáveis o Id e o Superego estão integrados em um Ego que trabalha com o
mínimo de conflito, vivendo em harmonia. Todavia quando o Ego e o Superego
revezam-se no controle da personalidade pode haver ciclos alternados de
autoconfiança e autodepreciação resultando em flutuações extremas de humor.

Diante da exposição dos conceitos dessas pedras fundamentais da


Psicanálise pode-se postular que a Psicanálise trabalha com a realidade
psíquica do sujeito e não com a realidade real ou material dele. A Psicanálise
lida com a realidade do paciente, o que não é necessariamente a verdadeira
realidade, mas sim a realidade que ele vê. A teoria psicanalítica visa o
Inconsciente, o Id, o Ego e o Superego muito mais que o conteúdo pré-
consciente ou mesmo consciente.

SHULTZ, D. História da Psicologia Moderna. São Paulo, Cultrix, 1981.

TALLAFERRO, A., Curso Básico de Psicanálise. São Paulo, Martins


Fontes, 1996.

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