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A Personalidade para a

Psicanálise
Neste texto, escrevo sobre a personalidade na psicanálise. A psicanálise, que
surgiu a partir da obra de Sigmund Freud, é bastante complexa e difícil de ser
explicada em poucas palavras. Mas tentarei, na medida do possível, explicar
os diferentes tipos de pessoas que encontramos por aí através do conceito de
estrutura e mecanismos de defesa.

Poderíamos definir a personalidade, na psicanálise, de várias formas. Aqui,


vou dizer sobre as diferenças individuais, principalmente com as contribuições
feitas pelo psicanalista francês Jacques Lacan.

A partir do Complexo de Édipo, a psique é estruturada de determinado modo.


Cada estrutura exclui a possibilidade de outra. Ou seja, um sujeito que se
encontra em uma estrutura nunca pulará para outra estrutura nessa vida.

Temos, então, a partir do Édipo, 3 grandes estruturas:

No pensamento da psicanálise, qualquer um de nós pode ser classificado em


um destes três tipos de personalidade. Cada um está dentro de uma
determinada estrutura e sempre estará dentro desta estrutura.

O sofrimento que leva as pessoas a buscarem a psicologia clínica ou a


psicanálise é a base para este sistema de pensamento. Como se vê, as três
estruturas são muito ligadas à ideia de doença psíquica. E qual é a diferença
entre a doença e a normalidade? Para Freud, a única diferença é de grau. Uns
apresentarão mais sintomas, e, com isso, mais sofrimento. Mas, em última
análise, pode-ser classificar cada pessoa em uma determina estrutura.

Cada estrutura apresenta subdivisões:


A psicose se divide em: Esquizofrenia, Autismo e Paranóia.

A neurose se divide em: Neurose Obsessiva e Histeria.

A perversão engloba algumas formas de manifestação, mas é não é dividida.


Entre estas formas, nota-se como exemplo o fetichismo.

Repito, a noção de que cada indivíduo “pertence” à uma estrutura – a partir


do Complexo de Édipo – é fundamental para a compreensão da psicanálise, em
geral, e da teoria lacaniana de sujeito, em particular.

Se um sujeito é neurótico ele nunca surtará (terá um surto psicótico), assim


como é praticamente impossível que um perverso tenha a culpa de um
obsessivo.

Cada estrutura exclui a possibilidade da existência da outra. A psique é do


jeito que é. E mesmo com a análise, não é possível modificar a nossa
estrutura.

Veja no quadro abaixo as 3 estruturas e o mecanismo de defesa de cada uma


delas:

Em outras palavras, em cada estrutura há um modo – inconsciente – de lidar


com o sofrimento provocado pelo Complexo de Édipo. Este “modo de lidar” é
o que se chama mecanismo de defesa.

Na psicose entramos três sub-divisões: paranoia, autismo e esquizofrenia.


O mecanismo de defesa é a foraclusão.
O psicótico encontra fora o que exclui dentro, ele fora-inclui, inclui fora o
que, na neurose representa a dinâmica do recalque. Em outras palavras, na
psicose o problema é encontrado fora, o problema está sempre fora, nas
outras pessoas.

Na paranoia é o outro que persegue. No autismo é o outro que (quase) não


existe. Na esquizofrenia, como é o outro? O outro pode aparecer como um
surto, estranho-bizarro como um monstro, um ET ou Napoleão Bonaparte. Na
esquizofrenia a dissociação psíquica é o mais evidente.

Uma das características da paranóia consiste no fato de que nesta estrutura os


próprios pacientes possuem, de acordo com Freud, a peculiaridade de revelar
(de forma distorcida) exatamente aquelas coisas que outros neuróticos
mantêm escondidas como um segredo.

A neurose possui duas sub-divisões: a histeria e a neurose obsessiva. O


mecanismo de defesa é o recalque ou repressão.

Na neurose, a manutenção do conteúdo problemático como segredo é o que


chamamos recalque ou repressão. O paciente neurótico esconde de si mesmo
o problema, o sintoma ou a dificuldade que o psicótico encontra fora de si.

Ou seja, na neurose há uma cisão da psique. Alguns conteúdos ficam


recalcados, escondidos, em segredo e causa sofrimento nos sintomas dos quais
a pessoa reclama.

Na histeria, a reclamação dá voltas e voltas sobre o problema. É como se


pessoa nunca conseguisse chegar ao ponto sobre o qual quer falar mesmo. O
seu desejo é sempre insatisfeito, como se a pessoa procurasse alguma coisa
(seja um objeto, seja uma relação amorosa) para a satisfazer – mas nunca a
satisfação aparece. A reclamação é sem fim.

Na neurose obsessiva, há também voltas e voltas ao redor do problema. Mas


na neurose obsessiva o que notamos mais frequentemente é a tentativa de
organização, de organizar as coisas ao redor para tentar não pensar no que é,
realmente, o problema principal.

E, finalmente, na estrutura perversa, há o mecanismo de defesa da


denegação.

Podemos entender a perversão e a denegação com a seguinte citação do texto


de Sigmund Freud, intitulado “Fetichismo”:

“Nos últimos anos tive oportunidade de estudar analiticamente certo número


de homens cuja escolha objetal era dominada por um fetiche. Não é preciso
esperar que essas pessoas venham à análise por causa de seu fetiche, pois,
embora sem dúvida ele seja reconhecido por seus adeptos como uma
anormalidade, raramente é sentido por eles como o sintoma de uma doença
que se faça acompanhar por sofrimento. Via de regra, mostram-se
inteiramente satisfeitos com ele, ou até mesmo louvam o modo pelo qual lhes
facilita a vida erótica. Via de regra, portanto, o fetiche aparece na análise
como uma descoberta subsidiária”.

O trecho em itálico descreve a relação entre a ideia de anormalidade (de um


fetiche) e a sensação por parte do sujeito perverso de que esta anormalidade
não é uma doença que traz sofrimento. Ou seja, o sujeito denega, o que, por
exemplo, para um neurótico seria motivo de muito sofrimento.

Temos outra forma de entender as estruturas.

Pode-se também dividir as estruturas através da angústia de fundo em cada


uma delas. Inclui-se aqui a Depressão por estar relacionada com a Psicose (no
que diz respeito ao sintoma, por exemplo, da chamada Psicose maníaco
depressiva – hoje transtorno bipolar):

Psicose – Angústia da entrega

Depressão – Angústia da realização

Neurose obsessiva – Angústia da mudança

Histeria – Angústia de permanência

Na psicose, o problema, o sintoma retorna de fora (foraclusão). Por isso, é


pouco comum que um psicótico busque análise pois o “inferno são os outros” –
não o eu. A angústia é da entrega ao outro.

Na depressão, a questão é com a auto-realização. Há uma ferida narcísica –


que não há na psicose – de que o eu não é bom o bastante, nunca bom o
bastante…

Na histeria, o desejo nunca permanece, está sempre a mudar…a mudar… A


angústia, então, seria de permanecer fixo em um lugar ou em um desejo.

Na neurose obsessiva, seria o contrário: o desejo está sempre morto (como a


questão insolúvel do Hamlet – ser ou não ser…), ou seja, não está em
movimento, está parado-morto… A angústia seria a angústia de mudar.

A perversão não aparece neste quadro didático. Do mesmo modo que a


psicose, a perversão dificilmente aparece no divã. Poder-se-ia dizer que a
perversão também denega a angústia… (a angústia, nesse sentido, não existe
para o perverso)…

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