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Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ

Flávia Aparecida Jaques

RESUMO DO TEXTO: O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO

Freud (ano) inicia seu texto referindo-se aos padrões de avaliação das
pessoas, ao valor cada pessoa dá a sua vida. Porém, ao formular um juízo geral,
esquece-se de quão variado é o mundo humano e sua vida mental. algumas pessoas, por
exemplo, tem juízos totalmente diferentes da multidão. Existem discrepâncias entre os
pensamentos das pessoas e as suas ações, e também com à diversidade de seus impulsos
plenos de desejo, as coisas possivelmente não são tão simples assim.
Numa carta à um amigo Freud aborda o sentimento de religiosidade,
onde seu amigo expõe que este é um sentimento muito peculiar, e presente em milhões
de pessoas. Este está designado como “sensação de eternidade”; algo oceânico, presente
independente da religião. Trata-se de um fato puramente subjetivo, e não um artigo de
fé.
Freud (ano) não percebe em si este sentimento oceânico, trazido por seu amigo.
Para Freud não é fácil lidar cientificamente com sentimentos. O que se pode é tentar
descrever os seus sinais fisiológicos, mas há o risco de cair no conteúdo ideacional.
Freud compreendeu as palavras de seu amigo e o que ele queria dizer referindo-se a
estes sentimento como um vínculo indissolúvel de ser uno com o mundo externo.
Não há para Freud uma explicação psicanalítica que explique a i´deia de
vinculação dos homens com o mundo por meio de um sentimento imediato. A partir
disto coloca então sua linha de pensamento sobre o assunto.
Há, segundo Freud (ano eu sentimento de eu, do nosso próprio ego. Este é algo
que aparece como autônomo e unitário, distinto de tudo. Apesar que o ego seja
continuado para dentro, não tem uma delimitação nítida e serve como uma espécie de
fachada a uma entidade mental denominada id. No sentido do exterior, o ego parece
manter linhas demarcadas nitidamente. Porém tratando-se do sentimento de amor ele, o
ego, não parece bem assim.
No auge do sentimento de amor, os limites entre ego e objeto ameaça
desaparecer. As pessoas apaixonadas, normalmente declaram que ‘eu’ e ‘tu’ é um só.
Processos patológicos, também nos mostram que não existem linhas que demarcam a
relação entre com o mundo externo.
O sentimento do ego do adulto foi o mesmo desde o início,. Deve, segundo
Freud (ano) ter passado por um processo de desenvolvimento. Como exemplo uma
criança recém-nascida, ainda não distingue o seu ego do mundo externo como fonte das
sensações que fluem sobre ela. Ocorre um aprendizado de forma gradativa, reagindo a
estímulos. Com o contato com o seio da mãe, a criança, o ego é contrastado por um
‘objeto’, algo exterior, forçado a surgir através de uma ação especial.
O reconhecimento de um ‘exterior’, de um mundo externo é proporcionado pelas
múltiplas sensações de sofrimento e desprazer. O afastamento do ego deste exterior são
impostos pelo princípio do prazer. Há uma tendência a afastar do ego tudo que pode se
tornar fonte de desprazer, criando um puro ego que busca prazer, que sofre o confronto
de um ‘exterior’ estranho e ameaçador.
Algumas coisas difíceis de serem abandonadas, pelo fato de proporcionarem
prazer são objeto e certos sofrimentos que se procura extirpar mostram-se inseparáveis
do ego, por causa de sua origem interna. Dessa forma introduz-se o princípio da
realidade. Essa diferenciação tem como propósito de nos defender contra o desprazer,
quando por ele nos vemos ameaçados. Quando isso acontece o ego não pode utilizar
senão os métodos que utiliza contra o desprazer oriundo do exterior, e este é o ponto de
partida de importantes distúrbios patológicos. Desse modo, então, o ego se separa do
mundo externo.
O ego possui um elemento primitivo que permanece preservado. Porque na vida
mental nada que uma vez se formou pode perecer e que de alguma maneira pode vir à
luz. Como exemplo da cidade de Roma, onde a Roma antiga ainda se faz presente e traz
seus elementos para a Roma atual.
A partir daí, Freud começa a fazer comparações entre o ego e a cidade de Roma,
uma entidade onde nada do que outrora surgiu desapareceu e onde todas as fases
anteriores de desenvolvimento continuam a existir, paralelamente à última. Mas afirma
que em uma entidade psíquica o mesmo espaço não pode ter dois conteúdos diferentes.
Outra objeção é supor que na vida mental tudo continua intacto, isto é
impossível, porque teria que desconsiderar possíveis alterações nos tecidos cerebrais.
Exemplo para se entender isto são as fases do desenvolvimento, onde as primeiras já
não se acham preservadas; foram absorvidas pelas posteriores, às quais forneceram o
material. Na mente é possível a preservação de todas as etapas anteriores. A partir desta
preservação, pode-se dizer que o sentimento oceânico tem suas origens na fase primitiva
do sentimento do ego. Surge então uma questão: que direito tem esse sentimento de ser
considerado como a fonte das necessidades religiosas.
Este direito não é obrigatório, pois um sentimento só será fonte de energia se ele
próprio for expressão de uma necessidade intensa. Segundo Freud (ano) o sentimento
oceânico se tenha vinculado à religião posteriormente, como se configurasse uma outra
maneira de rejeitar o perigo que o ego reconhece a ameaçá-lo a partir do mundo externo.
No segundo capítulo Freud compara sistema de doutrinas e promessas. Para
estes existe uma Providência cuidadosa que cuidará da sua vida e o compensará, numa
existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. Essa
Providência aparece sob a figura de um pai engrandecido.
A vida é árdua demais , sofremos muito, nos decepcionamos e nos impõe tarefas
impossíveis. Para suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas. Freud (ano)
apresenta, então, três medidas paliativas mediante as dificuldades da vida: derivativos
poderosos, que nos fazem extrair luz de nossa desgraça; satisfações substitutivas que a
diminuem; e substâncias tóxicas, que nos tornam insensíveis e ela. Só a religião é capaz
de resolver a questão do propósito da vida.
As pessoas se esforçam para obter felicidade e permanecerem nela. Existem aí
dois aspectos: uma meta positiva e uma meta negativa. Por um lado, visa uma ausência
de sofrimento e de desprazer; por outro, à experiência de sentimentos de prazer. Assim,
percebe-se que o que decide o propósito da vida é o princípio do prazer. Mas é
impossível chegar até um prazer, porque todas as normas do universo lhes são
contrárias. O que chamamos de felicidade provém da satisfação de necessidades
represadas em alto grau, sendo, por sua natureza uma manifestação episódica.
As possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição. É
mais comum experimentar da infelicidade. Freud (ano) acrescenta:
o sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso
próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que
nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como
sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se
contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas;
e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens.
O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja
mais penoso do que qualquer outro. (p. 9)
Diante dessas possibilidades de sofrimento, os se acostumaram a moderar sua
felicidade, da mesma forma, pode-se dizer que sob inflênciado mundo externo o
princípio do prazer se tornou no mais modesto princípio da realidade. O homem
considera ser feliz apenas como escapar à infelicidade, ou ainda sobreviver ao
sofrimento. (FREUD, ano).
Há caminhos diferentes para esta tarefa de encontrar a felicidade. Uma satisfação
ilimitada de todas as necessidades é uma maneira tentadora de conduzir nossas vidas,
porém, colocar o gozo antes da cautela, acarretar seu próprio castigo. Existem os outros
métodos que o intuito é fugir do desprazer. A defesa mais imediata contra o sofrimento
é o isolamento voluntário, e achar que por si só dá conta de resolver o problema
sozinho, porém a única felicidade possível com este método é a felicidade da quietude.
Há outro caminho, que é se tornar membro da sociedade humana, onde se trabalha com
todos e para o bem de todos.
Freud (ano) coloca que todo sofrimento é sensação, e somente existe na medida
que o sentimentos, e só o sentiremos como conseqüência de certos modos pelos quais
nosso organismo está regulado.
Um método usado para se afastar do sofrimento é a intoxicação, pois ela produz
um grau desejado de independência do mundo externo, funciona como um amortecedor
de preocupações, afastando da pressão da realidade e encontrar refúgio no mundo
próprio.
Há inúmeras outras influências. Da mesma maneira que a satisfação do instinto
equivale para nós à felicidade, também um grave sofrimento surge em nós, caso o
mundo externo se recuse a satisfazer nossas necessidades. Podemos ter esperanças de
nos libertarmos de uma parte de nossos sofrimentos, agindo sobre os impulsos
instintivos. Esse tipo de defesa contra o sofrimento está ligado ao aparelho sensorial,
que procura dominar as fontes internas de nossas necessidades.
Outra técnica para afastar o sofrimento reside no emprego dos deslocamentos de
libido. Consiste em reorientar os objetivos instintivos de maneira que elucidam a
frustração do mundo externo. Para isso, ela conta com a sublimação dos instintos. Ex: a
alegria do artista em criar, dar forma as suas fantasias. Mas este método não é
seguramente aplicável e acessível a todos. A arte não faz mais do que ocasionar um
afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficientemente
forte para nos levar a esquecer da aflição real.

Ainda existe um outro processo que aponta a realidade como fonte do


sofrimento, e se quisermos ser felizes temos que romper de alguma forma com ela.
Propõe recriar o mundo, no qual aspectos mais insuportáveis sejam eliminados e
substituídos por outros mais adequados aos nossos próprios desejos. Esse caminho para
a felicidade geralmente não leva a lugar nenhum.
Cada um se comporta de uma maneira para superar o sofrimento e encontrar a
felicidade, e Freud considera as religiões de massa um delírio desse tipo. Para ele a
técnica da arte de viver está em deslocar a libido para os objetos pertencentes ao mundo
e obtem-se felicidade de um relacionamento emocional com eles. O lado fraco desta
técnica estaria em perder este objetivo, assim nos sentimos fracos e desamparados. Esta
técnica é baseada no valor do amor.
Para Freud (ano) a atitude estética em relação ao objetivo da vida oferece pouca
proteção contra o sofrimento, embora possa compensa-lo. Cabe ao homem fazer suas
escolhas e descobrir por si mesmo de que modo ele pode ser salvo, e de sua disposição
para alterar o mundo a fim de adapta-lo a seus desejos. Qualquer escolha levada ao
extremo condena o individuo a ser exposto aos perigos.
O êxito é incerto e depende muito mais da capacidade da constituição psíquica em
adaptar sua função ao meio ambiente e explorar esse ambiente para obter o prazer. Se
uma pessoa nascida com uma constituição instintiva desfavorável e que não tenha
experimentado de maneira correta a transformação e a redisposição dos seus
componentes libidinais necessários às realizações posteriores, será difícil obter a
felicidade em sua situação externa, sobretudo quando aparecer as dificuldades.
(FREUD, ano)
A religião é uma maneira de poupar pessoas uma neurose individual.
Dificilmente, porém, algo mais. Mas nenhum caminho garante a segurança quando se
trata de felicidade.
No capítulo três, Freud começa expondo três fontes para o sofrimentos. Segundo
ele, o sosofrimento vem: do poder superior da natureza, da fragilidade de nossos
próprios corpos e da inadequação das regras que ajustam os relacionamentos mútuos
dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade. As duas primeiras são
inevitáveis. Quanto a fonte social de sofrimento não a admitimos, queremos somente
relações marcadas de proteção e benefício para nós. Quando notamos que fomos
malsucedidos, surge em nós algo que parecer ser de uma natureza inconquistável.
Percebe-se, então que, a civilização é responsável pela nossa desgraça. Ao mesmo
tempo em que ela nos proporciona meios de nos livrar do sofrimento é responsável por
ele. (FREUD, ano).
A hostilidade assumida por algumas pessoas contra a civilização pode ser
resultado de uma insatisfação o o estado de civilização existente e que se construiu uma
condenação dela, causada por alguns acontecimentos históricos específicos.
Um fator hostil à civilização estaria na vitória do cristianismo sobre as religiões
pagãs. Outro fator foi a instauração do progresso das viagens de descobrimento, levando
o contato com povos primitivos. Outra e última ocasião seria a partir do conhecimento
do mecanismo das neuroses, onde o neurótico apresenta intolerância a frustração
imposta pela sociedade. (FREUD, ano).
Temos uma tendência em considerar de maneira objetiva a aflição dos outros, ou
seja, colocamos nossas próprias necessidades e sensibilidades nas condições das outras
pessoas, e assim analisamos as ocasiões nas quais elas experimentariam felicidade ou
infelicidade. Porém essa objetividade ignora as variações na sensibilidade subjetiva, é
como colocar nossosa próprios estados mentais no lugar de outros. A felicidade é algo
subjetivo. (FREUD, ano).
Freud (ano) coloca a beleza, a ordem e a limpeza como fatores que a civilização
considera como fundamental. Porém nenhum outro aspecto pode caracterizar melhor a
civilização do que sua estima e seu incentivo em relação as suas realizações intelectuais,
científicas e artísticas. Todas essas atividades são importantes e corresponde a
necessidade humana. Onde há realizações do espírito humano, mesmo que haja
aberrações em determinados lugares (religião, sistema filosófico, ou qualquer ideal), é
ali que se acha implícito um alto nível de civilização.
O último dos aspectos constitutivos da civilização é a maneira de como os
relacionamentos mútuos dos homens são regulados. Se essa tentativa de regular os
relaciomentos não fosse feita, estes estariam sujeitos à vontade arbitrária do indivíduo,
onde o homem fisicamente mais forte decidiria sobre os outros. Aparece aí a
comunidade, onde esta seria mais forte do que qualquer individuo isolado. (FREUD,
ano).
A partir deste aspecto surge a necessidade de justiça, ou seja, a garantia de uma
lei, uma vez criada, não será violada em favor de um indivíduo. O desenvolvimento da
civilização põe restrições à liberdade do indivíduo, e a justiça exige que ninguém fuja a
essas restrições. (FREUD, ano).
Freud (ano) expõe que a civilização nem sempre é sinônimo de aperfeiçoamento,
mas de modificação das disposições instintivas. Há uma semelhança entre os processos
civilizatórios e o desenvolvimento libidinal no indivíduo.
Freud (ano) traz a questão de até que ponto a civilização é construída sobre uma
renúncia ao instinto, seja pela opressão, repressão, ou outro instinto poderoso. A
frustração cultural está presente nos relacionamentos sociais. É difícil privar um
instinto. Se a perda não for economicamente compensada, pode ocorrer distúrbios.
No capítulo quatro, Freud (ano) faz o caminho de desenvolvimento da
civilização para compreender o que determinou o seu curso. Começa expondo a
descoberta do homem primevo que, pela presença de um companheiro, poderia ter
auxilio para melhorar seu trabalho. A convivência com o outro era útil. E a família era o
primeiro auxialiar do homem. Supõe-se que a formação da família se deu a partir da
necessidade de satisfação genital. Assim, o homem conservava a fêmea para perto de si,
e a fêmea se viu obrigada a permanecer do lado do macho mais forte. A vida
comunitária foi fundamentada duplamente: pela compulsão para o trabalho,uma
necessidade externa, e o poder do amor. (FREUD, ano).
Como o amor é um fundamento forte para a civilização e para a felicidade, a
busca por esse objeto a ser amado ficou mais intensa, as consequências disso são a
exposição ao sofrimento caso fosse rejeitado ou perdesse esse objeto. Há pessoas que se
tornam independente do objeto amado e protegem-se contra a perda, elas voltam seu
amor não para objetos isolados, mas para todos os homens, assim evitam as incertezas e
as decepções do amor genital desviando-se de seus objetivos sexuais e transformando o
instinto num impulso com uma finalidade inibida. (FREUD, ano).
O amor que constituiu a família continua na civilização realizando sua função de
reunir pessoas. Freud (ano) critica a maneira com que a palavra amor foi utilizada. As
pessoas nomeiam amor como relacionamento entre um homem e uma mulher ligados
por necessidades genitais a estabelecerem uma família, mas também esse nome é dado
aos sentimentos positivos existentes entre pais e filhos, embora esse seja amor inibido
em sua finalidade.

No decurso do desenvolvimento a incompatibilidade entre amor e civilização


parece inevitável. A princípio aparece como um conflito entre a família e a comunidade
maior a que o indivíduo pertence. Quanto mais estão ligados os membros de uma
família, mais tendem a se apartarem dos outros e mais difícil lhes é entrar no círculo
mais amplo.
O trabalho de civilização tornou-se cada vez mais um assunto masculino. O
homem se tornou o centro, concentrando nele as atividades que as mulheres não são
capazes. Já que os homens não dispõem de quantidades ilimitadas de energia psíquica,
tem de realizar suas tarefas efetuando uma distribuição conveniente de sua libido.
Aquilo que emprega para finalidades culturais em grande parte o extrai da mulher e da
vida sexual. Assim a mulher se descobre relegada a segundo plano pelas exigências da
civilização e adota um atitude hostil para com ela. (FREUD, ano).

Freud, no capítulo cinco, expõe que a civilização exige sacrifícios que é natural no
desenvolvimento. As frustrações da vida sexual são aquelas que as pessoas neuróticas
não podem tolerar.
“O neurótico cria em seus sintomas satisfações substitutivas para si, e estas
ou lhe causam sofrimento em si próprias, ou se lhe tornam fontes de
sofrimento pela criação de dificuldades em seus relacionamentos com o meio
ambiente e a sociedade a que pertence.” (p. 26)

Além da questão sobre a satisfação sexual, a dificuldade do desenvolvimento


cultural está presente, sua origem está ligada à falta de inclinação para abandonar a
situação antiga e adotar uma posição nova. A civilização não se contenta apenas com as
ligações libidinais ligadas a satisfação sexual. Além do vínculo do amor, há o vínculo
nas relações de amizade, mas ainda não se conseguiu entender qual a necessidade força
a civilização a tomar esse caminho, necessidade que provoca o seu antagonismo à
sexualidade. (FREUD, ano).
Ainda a respeito desta questão do amor, Freud (ano) traz o mandamento cristão
“amaras o teu próximo como a ti mesmo”. Ao expor este mandamento aponta a
dificuldade que há nas pessoas em abandonar si em prol do outro. Este mandamento
impõe deveres cujo cumprimento envolve sacrifícios.

A dificuldade em seguir este tipo de mandamento está ligada a inclinação à


agressão presente em nós. Isto é um dos fatores que perturba nossos relacionamentos.
Em consequência dessa hostilidade a sociedade se vê ameaçada. E com o intuito de
evitar a desintegração é que surgem os mandamentos e leis. Mas ainda assim a lei não é
suficiente nas manifestações mais refinadas da agressividadae humana. Em algum
momento cada um de nós tem que abandonar as esperanças, que um dia depositou em
seus semelhantes e com isso sofrem e vêem quanta dificuldade foram acrescentados em
suas vidas pela má vontade deles. (FREUD, ano)
Traz o exemplo dos comunistas, onde eles acreditam que o homem é
inteiramente bom e bem disposto como seu próximo, mas que a instituição da
propriedade privada corrompeu-lhe a natureza. Fala que o comunismo é uma ilusão
insustentável. Que a agressividade não foi criada pela propriedade e que mesmo que se
remova os fatores que envolvem o sistema, mesmo que se permita liberdade completa
da vida sexual, da família, não se pode prever os rumos da civilização, mas a
característica da agressividade seguirá a civilização.
“Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à sexualidade do
homem, mas também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque é tão
difícil ser feliz nessa civilização” (p.31). O homem civilizado trocou uma parcela de
suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança.
No capítulo seis, Freud (ano), faz referência a sua teoria dos instintos tomando
como ponto de partida a expressão do poeta-filósofo Schiller: “são a fome e o amor que
movem o mundo”. A fome podia ser vista como representando os instintos que visam a
preservar o indivíduo, ao passo que o amor se esforça na busca de objetos, e sua
principal função, favorecida de todos os modos pela natureza, é a preservação da
espécie. Assim de início, os instintos do ego e os objetais se confrontam mutuamente.
Foi para denotar a energia deles que Freud introduziu o termo libido.
A neurose era o resultado de um combate entre a autopreservação e as
exigências da libido. Neste luta o ego foi o vitorioso, ainda que tenha passado por
sofrimentos e renúncias. (FREUD, ano).
Adiante, expõe o conceito de narcisismo, isto é, a descoberta de que o próprio
ego está catexizado pela libido, de que o ego é reduto original dela. Essa libido
narcísica na medida em que se volta para os objetos, se torna libido objetal.
O conceito do narcisismo possibilitou a obtenção de uma compreensão das
neuroses traumáticas, das várias afecções fronteiriças às psicoses. Para Freud (ano) os
fenômenos da vida poderiam ser explicados pela ação concorrente ou mutuamente
oposta de dois internos: um lado de preservar a substância viva e outro contrário a ele,
buscando dissolver essas unidades em seu estado primevo e inorgânico, ligado a uma
tendência destrutiva. Os dois tipos de instinto raramente ou nunca aparecem isolados
um do outro, mas estão mesclados.
Freud (ano) retoma a questão da inclinação humana a agressão, dizendo que há
uma disposição instintiva original e auto-susbsistente, é ela é o maior impedimento à
civilização. Há uma luta entre Eros e a Morte, entre o instinto de vida e o instinto de
destruição, onde a evolução da civilização pode ser descrita como a luta da espécie
humana pela vida.
No capítulo 7, Freud (ano) traz o questinamento sobre a questão da luta cultural,
existe entre os humanos e não presente nos animais. Ele coloca que pode ser que os
animais tenham alcançado um equilíbrio temporário entre as influências de seu meio
ambiente e os instintos reciprocamente conflitantes, e no homem primitivo um
acréscimo de libido tenha provocado um surto renovado de atividade do instinto
destrutivo.
Freud (ano) coloca o questionamento sobre os meios que a civilização usa para
inibir a agressividade. Existe uma tensão entre o superego e o ego, que culmina no
sentimento de culpa, que é expressada como uma espécie de punição. Assim a
civillização consegue dominar seu desejo de agressão, desarmando-o e estabelecendo
no seu interior um cuidador dele.
Há duas origens no sentimento de culpa: uma proveniente do medo de uma
autoridade e outra do medo do superego. A primeira insiste em renunciar as satisfações
instintivas; a segunda, faz isso, mas exige punição.
A sequência cronológica quanto ao sentimento de culpa se dá na seguinte
ordem: em primeiro lugar vem a renuncia ao instinto devido ao medo da agressão por
parte da autoridade externa. Depois vem a organização de uma autoridade interna e a
renúncia ao instinto devido ao medo dela, aqui as más intenções são igualadas as más
ações e surge então o sentimento de culpa e a necessidade de punição.
O sentimento de culpa depois de uma má ação deveria ser denominado de
remorso. Porém este se refere apenas a um ato cometido, e implica que uma consciência
( que é se sentir culpado) exista antes mesmo do ato praticado. Esse tipo de remorso
não ajuda na descoberta da origem da consciência e nem do sentimento de culpa.
(FREUD, ano).
No pai primevo o remorso foi o resultado da ambivalência  de sentimentos para
com o pai.  Ao mesmo tempo em que havia odio, seus filhos o amavam. Satisfeito o
odio através da agressão vinha o amor, no remorso pelo ato. Pela identificação com o
pai se deu o superego, como uma punição pela agressão que houvera acontecido e criou
as restrições para repetir a ocorrencia do fato novamente. O sentimento de culpa
persistiu fortalecido pela agressividade que era reprimida e transferida para o superego.
(FREUD,ano).
Este conflito também existe na açao dos homens ao viverem juntos. E enquanto
a comunidade viver em família este conflito aparecerá. Enquanto a civilização tiver este
aspecto de conviver em grupos, essa ambivalência e o sentimento de culpa estarão
presentes, podendo aumentar até que o indivíduo não aguente mais tolerar. Para
encontrar o caminho de salvação é preciso encontrar o caminho por meio de uma
incerteza atormentadora e através do tatear. (FREUD, ano).
No capítulo oito, Freud (ano) expõe que sua intenção de representar o sentimento de
culpa como um problema muito importante no desenvolvimento da civilização, e de
demonstrar que o preço pago pelo avanço na civilização é uma perda de felicidade
através do aumento do sentimento de culpa.
Algumas pessoas não se dão conta de seu sentimento de culpa, ou o sente como
um mal-estar atormentador, como um tipo de ansiedade que o impede de praticar certas
ações. Esse sentimento é consideradado segundo Freud (ano) como uma  variedade
topográfica da ansiedade; relacionado também como  medo do superego. A ansiedade
está sempre por trás de todo sintoma. (FREUD, ano).
O sentimento de culpa está presente como uma espécie de mal-estar, fazendo
com que as pessoas busquem outras motivações. Para as religiões este sentimento de
culpa é denominado pecado.

O sentimento de culpa existe antes do superego, e, portanto, antes da


consciência. Ele é expressão do medo da autoridade externa, um reconhecimento da
tensão que existe entre o ego e essa autoridade. É o derivado do conflito entre a
necessidade do amor da autoridade e o impulso no sentido da satisfação instintiva cuja
inibição produz a inclinação para a agressão. O termo remorso é usado para designar a
reação do ego num caso de sentimento de culpa. (FREUD, ano).
Freud (ano) conclui dizendo sobre o processo de desenvolvimento do indivíduo,
que é produto da interação entre duas premências, a premência no sentido da felicidade,
que geralmente chamamos de egoísta e outra no sentido da união com a comunidade,
chamamos de altruísta. No processo civilizatório, o que mais importa é o objetivo de
criar uma unidade a partir dos seres humanos individuais. Assim o desenvolvimento
individual e o cultural do grupo estão sempre interligados. É na medida em que está em
união com a comunidade como seu objetivo, que o primeiro desses processos precisa
coincidir com o segundo.O problema está em saber lidar com a inclinação natural
humana à agressividade mútua, por isso estamos interessados na mais recente das
ordens culturais do superego, o mandamento de amar o próximo como a si mesmo.

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