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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

DISCIPLINA: OFICINA DE TEXTOS

PROF. MS. ANDRÉ CAVALCANTE E PROFA. THAÍS PEDRETTI

TURMA: SOCIOLOGIA 2019.2


ALUNO: FERNANDA PIERUCINI GOUVEA

FREUD, Sigmund. O mal-estar na cultura.

RESENHA DO PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO “O MAL-ESTAR NA


CULTURA”

Resenhado por
Fernanda Pierucini Gouvea
(Graduando em Sociologia - UFF)

O primeiro capítulo da obra “O Mal-estar na cultura” de Sigmund Freud,


aborda o descompasso na cultura, utilizando o Ego do ser humano e o mundo
exterior como ponto principal de seu estudo. Freud era médico neurologista, com
descendência judaica, e um importante psicólogo austríaco, sendo considerado “O
Pai da Psicanálise”, posto isso, faz o uso de um vocabulário bastante complexo em
sua obra, empregando diversos conceitos psicanalíticos. Ele introduz o texto
dialogando com seu amigo escritor Romain Rolland, acerca de um “sentimento
oceânico” que a religião é capaz de produzir nos seres humanos, do qual relaciona o
ser humano do ponto de vista do seu Ego ao mundo exterior, que ele já fazia parte
desde que era um bebê recém nascido.
O autor prossegue fazendo uma lógica de construção de ideias e
comparações para explicar a origem desse “sentimento oceânico”. Tal sentimento,
para Freud, faz parte do ego primitivo, que surge a partir da interação do ser
humano com mundo exterior e a sua realidade, adequando seus instintos primitivos
com o ambiente que vive. Desta forma, ele utiliza como exemplo um bebê recém
nascido que ainda não distingue o seu eu do mundo exterior, entretanto, é capaz de
reconhecer que suas determinadas ações resultam em determinadas sensações,
como o choro que pode trazer o alimento, neste caso o leite materno. Nesse âmbito,
o sujeito constata que há a falta de algo que outrora tinha. Aqui entra o “Princípio do
Prazer”, quando o sujeito compreende que é impossível ter o prazer sem
intermediação, surgindo a predisposição de segregar tudo do eu que possa se tornar
análogo ao desprazer, lançando-o para fora, e formando um eu de prazer.
Neste viés, surge o “Princípio da Realidade”, onde o autor cita que por meio
das atividades sensoriais e das ações musculares apropriadas, aprende-se como
distinguir o mundo interior do exterior. Deste modo, o eu se separa do mundo
externo, e o Ego se torna apenas um resíduo de um “sentimento oceânico”.
Entretanto, Freud segue seu pensamento dizendo que esse sentimento continua em
nosso psiquismo e pode ser estimulado, de tal modo que a religião procura
aproximar o sujeito a esse sentimento de completude e eternidade, com a promessa
de que um dia será recompensado. Com essa promessa de uma vida posterior
eterna em um paraíso, o Ego pode associar-se novamente ao mundo externo.
Finalizando o capítulo, Freud elabora uma metáfora para aludir a mente
humana a partir da história e geografia da cidade de Roma. Para descrever o estado
e funcionamento do inconsciente, poderíamos então imaginar a Cidade Eterna, com
todas as suas construções existentes ao longo de sua história, presentes no mesmo
solo revirando de tempos em tempos, e ainda sim, sua arqueologia encontra-se de
certo modo eternizada, assim como as memórias do inconsciente. Nessa conjuntura,
a memória conserva o sujeito juntamente com o que nasceu deste por
transformação, assim com o “sentimento oceânico” deriva de uma fase inicial do
sentimento do eu.
O primeiro capítulo do livro apresenta um estudo sobre o desenvolvimento
cultural do ser humano do ponto de vista de seu Ego, apresentando o processo o
cultural necessário para que as pessoas possam conviver em sociedade. Entretanto,
Freud faz uso de um vocabulário extremamente complexo, com diversos termos de
psicanálise, que não só dificultam o entendimento, como tornam a leitura menos
acessível. De acordo com o sociólogo americano Howard S. BECKER (2015, p.24)
A forma final de qualquer obra resulta de todas as escolhas feitas por todas
as pessoas envolvidas em sua produção. Quando escrevemos, fazemos
escolhas constantes como, por exemplo, qual ideia tomaremos, e quando;
que palavras usaremos para expressá-la, e em que ordem; quais exemplos
daremos para deixar o significado mais claro
Sendo assim, convém analisar esse pensamento na obra do Freud, uma vez que ele
utiliza muitos termos científicos e jargões da psicanálise, tornando a leitura não
muito acessível aos estudantes que não possuem alguma base freudiana.

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