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O Mal-Estar na

Cultura
Felicidade versus Civilização

Dr. Pedro Carlos Primo


Considerações gerais
 Esta palestra usa como referência o texto: O
Mal-Estar na cultura, escrito por Sigmund
Freud, em 1930
 O Mal-Estar na cultura é uma obra de
natureza ampla, envolvendo as ciências
humanas, sociais e a própria cultura em geral.

 O mal-estar a que se refere Freud é inerente à


própria cultura e nos acompanha “ab initio”,
desde a origem do que conhecemos como
cultura
Considerações gerais
 Qual a causa desse mal-estar?
 Freud pôde transmitir neste escrito dois
aspectos fundamentais:
 Uma espécie diferente, nova, de mal-estar, que
poderíamos denominar de inerente à cultura ou de
estrutura. O idioma inglês tem uma expressão para
isto:”built in”, isto é, que é feito com a coisa mesma

 Este tipo de mal-estar presente na cultura não tem


uma causa externa e por isso não se resolve com mais
cultura
Considerações gerais
 O Mal-Estar na Cultura foi escrito após O Futuro de
uma Ilusão, texto que trata especificamente a
respeito do papel da religião na vida e na sociedade,
do ponto de vista da psicanálise.

 O Futuro de uma Ilusão recebeu críticas de amigos


de Freud, de alguns simpatizantes da psicanálise e
principalmente do amigo Romain Rolland, para o qual
a tomada de posição de Freud sobre a religião lhe
pareceu excessivamente dura.
Considerações gerais
 O Mal-Estar na Cultura é uma obra que
aparentemente tem um caráter muito menos
específico, pois se trata da cultura em geral, e
não somente de um aspecto dela como a
religião.
 No entanto, isto é só a primeira vista, pois o
assunto do qual se ocupa é muito preciso, pois
à medida que se aprofunda na leitura da obra
se vai aclarando mais e mais a sua precisão.
O mal-Estar– a palavra
chave
 Trata-se de um "Mal-estar" (esta é a palavra chave)
que acompanha a cultura desde suas origens. Há que
se destacar que a posição de Freud é muito clara, não
existe neste trabalho nenhuma nostalgia de algum
tempo passado ou época nos quais as coisas teriam
sido melhores

 Este Mal-estar a que se refere Freud é inerente à


própria cultura e nos acompanha desde o início, desde
a origem do que conhecemos como cultura. A questão
central é: o que no texto se entende como Mal-
Estar?
Sentimento oceânico de
união com o “Todo”
 Freud inicia seu ensaio, O Mal-Estar na
Cultura, a partir de uma reflexão sobre
o sentimento oceânico de união com o
“Todo” que existe em todo ser humano,
segundo crê seu amigo Romain Rolland,
com quem Freud manteve uma regular
correspondência e onde este tema foi
enfocado
Fonte da religião
 Para Rolland a fonte da religião pode
remontar-se a um sentimento muito particular,
ao qual denominou de sentimento oceânico,
não vinculado diretamente à fé religiosa.

 Rolland define este sentimento de estar unido


ao Todo, como prova que há uma energia que
os sistemas religiosos captam e aproveitam.
Porém, para Freud a fonte da religião é outra,
trata-se do desamparo infantil e da nostalgia
pelo pai.
Estado de desamparo
infantil
 É nesse estado de desamparo profundo diz
Freud que se remonta a origem da religião e
não no sentimento de união com o Todo,
como defendia seu amigo Roland.

 No entanto, Freud chama atenção para este


sentimento oceânico como chave para a
demarcação do nosso Eu.
Desamparo e a angústia
da solidão

 O ser humano tenta fazer de tudo para


fugir do desamparo e da angústia da
solidão, daí sua necessidade constante
de construir e elaborar sistemas
religiosos e ideologias salvadoras, como
uma “Weltanschauung”
Fuga do desamparo e da
angústia da solidão
 Por isso leva a cabo diversos procedimentos,
tais como:
 distrair-se em alguma atividade,
 procurar satisfações substitutivas,
 sublimar a pulsão ou canalizá-la para satisfações
artísticas e científicas.
 ou se narcotizar com drogas, etc.,

Tudo isso a fim de fugir do desamparo, conquistar a


felicidade e afastar o sofrimento.
Felicidade versus
civilização
 A resposta de Freud relacionada ao Mal-estar na cultura
e a felicidade versus civilização se fez esperar bastante,
pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi sendo
publicado paulatinamente.

 Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona


uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise
conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno,
esse cavalo de Tróia que vem com a cultura.

 Não somente as armas que conta, senão também as


que a psicanálise recomenda e as que contra-indica
Felicidade versus
civilização
 A resposta de Freud relacionada ao Mal-Estar na
cultura e a felicidade versus civilização se fez esperar
bastante, pois este texto O Mal-Estar na Cultura foi
sendo publicado paulatinamente.

 Somente aparece no penúltimo capítulo e proporciona


uma idéia de quais são as armas com que a psicanálise
conta para lutar contra esta espécie de inimigo interno,
esse cavalo de Tróia que vem com a cultura.

 Não somente as armas que conta, senão também as


que a psicanálise recomenda e as que contra-indica
Felicidade versus
civilização
 Para análise desse mal-estar na cultura Freud
parte do tema da felicidade, ou seja, o
problema do fim e propósito da vida humana,
no qual a religião tem um papel importante.

 A via que segue para chegar ao tema da


felicidade é a clássica: o livro IV da "Ética a
Nicómaco" de Aristóteles, que parte
precisamente do mesmo ponto: "o bem
supremo de nossas atividades é, segundo
consentimento geral, a felicidade."
A procura da felicidade

 Os métodos mais comuns que as


pessoas, geralmente, usam para fugir do
desprazer e conquistar a felicidade são:
 Meio químico para anular o desprazer: a
droga.

 Evitar o desprazer dominando as


necessidades: o yoga, o budismo.

 Transladar as metas da pulsão, evitando o


"não" da realidade exterior: a arte.
A procura da felicidade

 Romper, simplesmente, com a realidade: o


eremita.
 Romper com a realidade e substituí-la por
uma outra nova: a psicose.
 Afiançar a decisão do cumprimento da
felicidade, sem afastar-se da realidade e
sem evitar o desprazer, mas deslocando a
meta da libido: o amor
A procura da felicidade
 Freud em suas reflexões sobre os destinos e
caminhos particulares que cada indivíduo
procura para encontrar a felicidade faz sua a
frase de Frederico, o Grande: "Em meu
domínio cada homem pode atingir a bem-
aventurança a sua maneira.“

 Freud também recorda o que diz Kant: os


piores tiranos são aqueles que querem obrigar
ao povo a ser feliz, segundo a maneira que
eles, os tiranos, indiquem-lhes
Programa do Princípio do Prazer
Ser Feliz
 Segundo Freud é irrealizável, e, por sua
vez, é impossível também abandoná-lo.
 Cada um ensaia seu próprio caminho,
segundo três tipos de eleição:
 vínculos sentimentais.
 satisfações narcisistas.
 realizar-se mediante a ação.
O caminho da neurose
 O caminho da neurose, não é isento de criação, pois os sintomas
são satisfações substitutivas, sendo que também indicam o
caminho a sua maneira, pois cada qual inventa um pouco
os seus próprios sintomas

 A neurose é uma resposta às exigências culturais, pois a cultura


exige respeito a seus ideais. O neurótico é aquele que diz
"basta!", e o diz com seus sintomas.

 O neurótico não pode suportar a frustração que a cultura exige


em lugar de seus ideais.
Sublimação
 A sublimação é um dos destinos da pulsão e
por sua vez, exerce um grande papel na
economia psíquica individual e na própria
civilização, pois sem a sublimação pulsional
não teríamos civilização e nem cultura,
conforme afirmou Freud, ao longo de sua obra

 Sobre esta questão lembrar a importância que tem o


supereu (ideal do eu) nessa operação de sublimação
dos impulsos que geralmente são de natureza sexual e
agressiva
O supereu (superego)
 O supereu (superego), além de exercer, as
funções de auto-observação e de consciência
moral (voz da consciência), contém nossos
níveis de aspiração mais elevados, na
condição de ideal do eu.

 Classicamente, o supereu é o herdeiro do


complexo de Édipo e se forma a partir das
identificações com os pais e da interiorização
das exigências e das interdições parentais.
O conflito
 O conflito que um indivíduo enfrenta na procura da
satisfação para suas necessidades pulsionais pode
não estar diretamente ligado às forças que compõem à
repressão como a moralidade, a vergonha e a
repugnância.

 Mas ao choque entre os ideais elevados de seu


supereu e a gratificação de suas pulsões, pois um
supereu com altos níveis de exigências culturais,
sociais e morais, torna-se crítico e severo com
qualquer desejo que venha desviar a pessoa de seus
ideais e de sua sublimidade.
O amor de meta inibida
 O amor de meta inibida funda laços sociais, enquanto
o amor sexual plenamente realizado não cria laços
sociais fora do casal. Por isso diz Freud que a cultura
ameaça o amor sexual.

 A vida sexual do homem culto tem recebido grave


dano, impressiona-nos às vezes pensar que esta se
encontra em processo involutivo.

 Muitas vezes a gente crê discernir que não é só a


pressão da cultura, senão algo que está na essência
da função sexual mesma, e que nos nega a satisfação
plena e nos leva por outros caminhos.
A Solução da psicose
 Além da solução neurótica, Freud se refere à
solução radical da psicose
 A psicose, essa forma de fuga da realidade com
sua própria solução, visitou as casas de nossos
criadores mais fecundos. E não é por acaso

 O último procedimento para afastar o sofrimento


da vida que é examinado por Freud é o do amor
A solução pelo amor
 O amor nos coloca numa situação paradoxal, pois,
precisamente ao amarmos é quando nos colocamos
mais a mercê do outro e consequentemente, ao
alcance dos infortúnios e das dificuldades da vida

 Há seres humanos que resolveram este problema,


transformando o amor sexual num amor sexual de
meta inibida, e assim se consegue um amor que não é
oscilante, que não sofre as vicissitudes da
contingência, nem desenganos, nem decepções, nem
tormentas e nem desilusões
Destinos e caminhos
 Claro está que todos estes destinos e
caminhos particulares dependem de uma série
de fatores que há de se levar em conta

 Os caminhos para organizar a libido e a vida


sexual do ser de linguagem que somos, e que
dá como resultado nossos modos de gozo e
nossos entraves particulares, esses caminhos
nem sempre são acessíveis e nem sempre são
fáceis, nunca é de mais dizê-lo
O amor sexual pleno
 O amor sexual pleno é mais bem algo anti-social,
e até poderia dizer-se que vive um pouco dessa
anti-socialidade. É disto que este amor respira.
Por isso Freud diz: a cultura ameaça este amor
pleno

 Além do amor de meta inibida há o chamado amor


cortês que foi um invento do século XII, por isso
que José Ortega e Gasset diz (quiçá em seus
"Estudos sobre o Amor") que "o amor é um estilo
literário"
Por que fracassa o programa
do princípio do prazer?
 Se os seres humanos querem a ausência da dor e do
desprazer e almejam vivenciar intensos sentimentos
de prazer é porque o princípio de prazer rege o
psiquismo

 Dominar as paixões, ou psicanaliticamente falando, as


pulsões é menos doloroso do que uma paixão (pulsão)
não dominada

 Freud na segunda tópica postula um algo além do


princípio do prazer que chamou de pulsão de morte e
que, por sua vez, se opõe ao princípio do prazer. É
esse além, o principal responsável pelo fracasso do
programa do princípio do prazer
POR QUE SE JOGA A
CULPA NA CULTURA?
 Jogar a culpa na cultura pelos males da
civilização, não é justo, pois a cultura, como
mesmo afirmava Freud, protege o homem da
natureza e regula suas relações sociais

 O homem primitivo compreendeu muito


cedo que para sobreviver devia viver em
comunidade
A pulsão e sua relação com o
mal-estar na civilização
 Definitivamente há uma relação conflituosa entre
pulsão e civilização que jamais será ultrapassada,
uma vez que ela é da ordem estrutural e por isso
produtora de desarmonia nos laços sociais

 Em relação ao instinto pode dizer-se que não há


no ser humano este "saber" inscrito no corpo ou
nos genes, que seja utilizável de modo imediato,
como se fosse uma caixa de ferramentas
A pulsão e sua relação com o
mal-estar na civilização
 Para compreender o mal-estar na cultura, é
preciso compreender o limite que esta impõe à
sexualidade humana, pois além de
circunscrever a satisfação sexual, a cultura
exige outros sacrifícios, como pôr entraves à
agressividade dos homens

 Pode se dizer que a pulsão de morte é o


maior obstáculo à cultura, é uma das
causas do Mal-estar na Cultura
Eros e Thánatos e sua
relação com a civilização
 Através da mitologia das pulsões – (Eros e
Thánatos) podemos acompanhar o texto
freudiano - O Mal-estar na Cultura
 Neste texto Freud denuncia em toda extensão
o desamparo humano, retirando qualquer
garantia de superá-lo, seja por meio da arte,
da religião ou da ciência
O Mal-estar e a religião
 Freud no capítulo II faz uma breve observação a respeito da
religião: as vezes, esta consegue poupar a muitos seres humanos
a neurose, mas a um preço elevado

 Qual é este preço?

 Paralisar a inteligência e infantilizar-los psiquicamente

 Ademais a religião deforma o mundo com uma interpretação


delirante, ou seja, uma interpretação louca dos fatos

 Finalmente, leva-os a aceitar o destino, e a fazê-los depender da


vontade divina. "Deus o quis assim", tal é a frase de resignação
do religioso ante a vida que lhe toca viver
A questão de uma
Weltanschauung
 Era, pois inevitável que, no final de sua vida,
Freud voltasse, de maneira mais
sistematizada, seu interesse para os
fenômenos culturais e sociológicos

 É quando escreve O Mal-estar na cultura, O


Futuro de uma ilusão, Por que a Guerra e A
Questão de uma Weltanschauung
A questão de uma
Weltanschauung
 Freud diz que a relação mais problemática entre as
Weltanschauungen
 É a que se estabelece entre a religiosa e a científica

 Por reconhecer que aquilo que a ciência oferece para


a humanidade é muito pouco e muito severo

Comparado com as onipotentes ofertas proporcionadas


pelas ilusões religiosas.
A questão de uma
Weltanschauung
 Frente às dificuldades da condição humana,
com seu desamparo, sua fragilidade, seu
desconhecimento, sua perplexidade frente à
morte, a religião oferece todas as respostas e
reasseguramentos desejados

 A ciência, pelo contrário, faz-nos ter que lidar


com o desconhecido e trabalhar para chegar a
um conhecimento eficaz, não nos poupando a
visão de nossa própria finitude e limitações
O sentimento de culpa e o
mal-estar na cultura
 A cultura está unida indissoluvelmente com
uma exaltação do sentimento de culpa, que
quiçá chegue a atingir um grau dificilmente
suportável para o indivíduo

 Existem duas origens para o sentimento de


culpa: o medo à autoridade e o temor ao
supereu. A união de ambos resulta muito
efetiva para o desenvolvimento da cultura
O sentimento de culpa e o
mal-estar na cultura
 o preço pago pelo progresso da cultura reside na
perda de felicidade por aumento do sentimento de
culpa

 A evolução da sociedade requer o controle dos


instintos sexuais e agressivos do indivíduo, de maneira
que existe uma estreita relação entre civilização,
repressão e neurose

 Quanto mais avança a primeira, mais necessária se


faz a segunda e maior é a frustração gerada
O sentimento de culpa e o
mal-estar na cultura
 Sob a coação do processo civilizatório, a
agressividade se converte em sentimento
de culpa

 Este sentimento de culpa não se percebe


como tal, senão que permanece
inconsciente ou se expressa como um
mal-estar
O sentimento de culpa e o
mal-estar na cultura
 O sentimento de culpa seria o mal-estar da
cultura
 o preço que pagamos por vivermos em
sociedade, reprimindo a sexualidade e a
agressividade
 Sob esta óptica, o mal-estar é estrutural,
próprio do processo civilizatório e da
organização do psiquismo humano
Pulsão destrutiva,
agressiva
 Freud o segue texto do Mal-Estar na Cultura,
no qual afirma:

 Que é na pulsão destrutiva, agressiva, advinda


da pulsão de morte, que se encontra o maior
entrave para cultura

 Em função do ser humano não poder existir


plenamente fora da civilização
Civilização e o mal-estar
 A civilização torna a existência humana
problemática, por não ser mais natural, ou
seja, as leis da natureza são substituídas pelas
leis da cultura

 Em razão de que, se por um lado, a


civilização em si, provoca um mal-estar, por
outro lado, sem civilização não teria
humanidade, seríamos só outros primatas
regidos pela natureza
Desigualdade provocada
pela natureza
 Se buscarmos a igualdade para todos os
homens, existirá uma objeção muito
óbvia a ser feita:
 a de que a natureza, por dotar os
indivíduos com atributos físicos e
capacidades mentais diferentes
introduziu injustiças contra as quais não
há remédio
A Sociedade do
Espetáculo
 O que diria Freud hoje da nossa sociedade atual,
 denominada por Debord de "sociedade do
espetáculo?”

 Sociedade onde o poder - seja qualquer que seja sua


inclinação - para perpetuar-se em sua situação de
privilégio instala o "espetáculo"

 Onde a realidade é totalmente escamoteada pela


manipulação das massas através da midia e da
propaganda, feitas onipresentes e oniscientes, muitas
vezes apenas para vender ilusões e mistificações.
A Sociedade do
Espetáculo
 Nesta sociedade, a midia é pletora da informação

 na verdade desinforma sistematicamente na medida


em que não expõe, ou o faz de forma distorcida,
justamente aquilo que efetivamente interessa saber e
informar

 Ambas – midia e propaganda - se empenham em


fragmentar o raciocínio lógico e destruir a noção de
história, promovendo um eterno e autônomo presente,
Na ignorância ou na negação de um passado
conectado ao futuro
A Sociedade do
Espetáculo
 Nesta sociedade, a irracionalidade a tudo permeia, a
produção econômica é regida por demandas
artificialmente criadas e a única lógica vigente é a de
permanência do poder, que usa de todos os recursos
para perpetuar-se

 “O espetáculo se confunde com a realidade, ao irradiá-


la", diz Debord. Claro que tudo isso está muito longe
dos argumentos sustentados pela Weltanschauung
científica, psicanalítica, em sua luta contra a ilusão
A Sociedade do
Espetáculo
 Por dificultar o acesso à realidade, por
alimentar sistematicamente ilusões, por negar
a castração simbólica, essa "sociedade do
espetáculo" dá margem ao que muitos
chamam de novas formas de subjetivação:

 Como os novos transtornos de caráter, os


transtornos de ordem narcísica, as
personalidades bordelines, e os transtornos
alimentares que são, por sua vez, as novas
edições das histéricas dos tempos de Freud
O campo do mal-estar
contemporâneo

 As “religiosidades do espetáculo” com sua


irracionalidade mortífera

 Presa fácil dos discursos totalizantes ou


hegemônicos

 Alimentam toda sorte de fanatismos políticos e


religiosos, associados à promessa de
felicidade
O mundo das patologias
narcísicas
 A midia, especialmente a toda-poderosa
televisão, bombardeia-nos ininterruptamente
com imagens de sucesso sexual e financeiro,
mostrando um novo Olimpo, onde desfilam os
atuais deuses cheios de beleza, juventude,
dinheiro e fama

 Ela promete o acesso a este Olimpo, desde


que sigamos suas instruções de consumo,
insistentemente propagadas através da
publicidade
As dificuldades da
conciliação
 Como conciliar Eros e Thánatos e os processos de
civilização/cultura, se ambas as forças em seus limites
máximos, representam elementos contra o processo
civilizatório?

 Ora, se o processo de civilização pressupõe e impõe


formações homogêneas em detrimento daquilo que é
heterogêneo, reforçando a massificação que
pressupõe a fascinação amorosa e a identificação
narcísica que leva à indiferenciação e à massificação,
o Mal-estar continua
Civilização e anulação dos
espaços
 O que está em questão é a progressiva
anulação de espaços que acolham o
imprevisto, a paixão, o perturbador, a
singularidade, o estranho e a diferença

 Por outro lado, é impossível não pensar nos


interstícios dessa relação paradoxal (entre
Eros e Thánatos e os processos de
civilização/cultura) através das sutilezas que o
texto: O mal-estar na Cultura nos mostra
A questão que Freud nos
oferece
 É impossível também não deixar de perguntar: por que somos
sempre tão infelizes e desamparados em nossa aventura da
vida?

 Em Mal-estar na cultura, Freud afirma que as causas do
sofrimento psíquico são três:

 O poder superior da natureza

 A fragilidade de nossos próprios corpos

 Inadequação das regras que procuram ajustar as relações


mútuas dos seres humanos na família, no estado e na
sociedade
A questão que Freud nos
oferece
 Em Totem e Tabu Freud já tinha defendido a
tese

que ele retoma no Mal-estar na Cultura, de que


a civilização só pode existir

porque o poder do grupo submete os indivíduos


que abrem mão de seu poder pessoal em prol
da convivência com seus semelhantes
A essa tese já fora
defendida por Hobbles
 Em 1651, no Leviatã, Hobbes descreve a
natureza humana assim:

 “Ao homem é impossível viver quando seus
desejos chegam ao fim, tal como quando seus
sentidos e imaginação ficam paralisados

 A felicidade é um contínuo progresso do
desejo, de um objeto para outro, não sendo a
obtenção do primeiro outra coisa que o
caminho para conseguir o segundo
As novas formas de
subjetividade da atualidade
 Estas novas formas estão circunscrevendo o
campo do mal-estar contemporâneo

 ao traçar um paralelo entre o mal-estar na


atualidade e o mal-estar na psicanálise

 e coloca de um modo surpreendente e


interessante, dois "emblemas da
modernidade": Marx e Freud
As novas formas de
subjetividade da atualidade
 Pondera-se que a modernidade foi construída em torno
do ideário da revolução, a ser promovida pelo sujeito
coletivo que tem em Marx o representante da
materialização teórica dessa utopia, que marcou de
forma indelével os séculos XIX e XX

 Na medida em que se acreditou na revolução como


modelo, através do qual o sujeito coletivo sempre
poderia reinventar um elemento radical e básico da
psicologia humana, o mundo marxista se fez a
representação teórica e política da potência desejante
do sujeito coletivo
As novas formas de
subjetividade da atualidade
 Freud é enunciado como o catalisador
possível das transformações da
individualidade ou seja,

 o desejo se faz o único meio através do


qual o sujeito pode reinventar seu eu e
traçar uma outra história
Os herdeiros destes ilustres
emblemas da modernidade
 sabemos que os herdeiros de Marx transformaram seu
pensamento numa ordem mecanicista e econômica

 Os de Freud transformaram, de maneira paradoxal,

 O discurso freudiano numa modalidade de


pensamento fundado na exaltação da individualidade e
no registro do desejo, sendo que tal individualismo é a
marca registrada da sociedade moderna, denominada
por Debord de "sociedade do espetáculo” e por
Verdú de "capitalismo de ficção"
Conclusão
 Para Freud a cultura exige o sacrifício da
satisfação sexual. No mundo ocidental a
exigência cultural é seguir o preceito bíblico:
"amarás a teu próximo como a ti mesmo",
porém este quase nunca é seguido, ademais é
um amor de meta inibida

 Freud se pergunta de que meios se vale a


cultura para controlar a agressão que se opõe
à ela? Trata-se de uma formação psíquica que
Freud denominou de supereu (superego)
Conclusão
 O Mal-Estar na Cultura reexamina considerações a
respeito do sentimento de culpa, sua relação com o
supereu, as relações de ambos com a cultura e com
uma clínica possível da cultura: uma "patologia das
comunidades culturais“

 Quando Freud pesquisa psicanaliticamente a origem do


supereu, e de que se alimenta este, de que se
"engorda", resulta quiçá que este “remédio de controle
é “pior do que a doença”“. Porém é um remédio que, no
entanto, tem-se que ingerir. Melhor dito: que já foi
ingerido. Como vimos em todo este texto
O Mal-Estar na Cultura
Felicidade versus Civilização

 Pedro Carlos Primo

Psiquiatra/psicanalista, mestre em saúde mental


pela universidade de León – Espanha.
Pós-graduado em tecnologia da informação pela Unesp.

E-mail pcprimo@telepsi.med.br
Site: www.institutotelepsi.med.br

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