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O sujeito e o laço social:

uma introdução aos escritos de Sigmund


Freud sobre a cultura

Mediador do curso: Gabriel Crespo Soares Elias


Psicólogo formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Mestre em Psicologia social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Psicoterapêuta e supervisão de clínica de orientação psicanalítica freudiana.

Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/9053045000272885


Sigmund Freud (1856-1939) – criador da Psicanálise
Na vida psíquica do indivíduo, o outro é, via
de regra, considerado como modelo, como
objeto, como auxiliar e como adversário, e
por isso, a psicologia individual é, de início,
simultaneamente psicologia social, nesse
sentido ampliado, mas inteiramente
legítimo.

(FREUD, 1921/2020, p. 137).


Introdução
TÓPICOS:
I. A relação entre moralidade social, repressão e neurose;
II. A constituição do laço social e o mito da horda primeva;
III. Estudos sobre a psicologia das massas;
IV. A visão psicanalítica sobre o papel social da religião;
V. A noção de mal-estar na cultura; a especificidade da noção de cultura (Kultur)
em Freud;
VI. A importância da reflexão sobre a cultura e a atualidade com a prática da
clínica
TÓPICO I -A relação entre moralidade social, repressão e neurose;

➔ O “problema” da histeria para a Medicina do séc. XIX - baseada na


anatomo-fisiologia.
➔ Estudos com J. M. Charcot em La Salpetrière (Paris)
➔ Estudos sobre a histeria (1893) com Josef Breuer.
➔ Método catártico (Ab-reação)
➔ Teoria da sedução sexual infantil.
➔ Teoria da fantasia.
➔ 1904: Conferência Vienense de Médicos: Primeira constatação da relação entre
Educação e Moralidade e Adoecimento Neurótico (neurose).
A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico

Registros fotográficos de pacientes histéricas feitas pela equipe de Charcot.

Jovem Dr. Freud. (Fonte: JONES, 1989).


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico
“Eles [os médicos] pareciam ter medo de advogar
para a vida anímica uma certa autonomia, como se
com isso eles abandonassem o solo da cientificidade”

(FREUD, 1890/2017, p. 21).


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico

Fotografia do Dr. J. M. Charcot. Ao lado registro fotográfico de uma histérica interna em la Salpêtrière.
A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico

Dr. Josef Breuer Estudos sobre a Histeria (1893-1895)


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico
Quando não há nenhuma reação a um trauma psíquico, a
lembrança dele preserva o afeto que lhe coube
originalmente. Assim, quando alguém que foi insultado
não pode vingar o insulto com um golpe retaliatório ou
uma ofensa verbal, surge a possibilidade de que a
lembrança desse evento torno a evocar nele o afeto
originalmente presente.

FREUD (1893/1996, p. 45).


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico
Com bastante frequência havia identificado a angústia, em moças mais jovens, como
consequência do pavor que acomete uma mente virgem, quando pela primeira vez depara
com o mundo da sexualidade.

FREUD ((1895/1996, p. 96).


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico
As experiências sexuais infantis constituem a precondição fundamental da
histeria, que são, por assim dizer, a predisposição para esta, e que são elas que
criam os sintomas histéricos – mas não o fazem de imediato, permanecendo
inicialmente sem efeito e só exercendo uma ação patogênica depois, ao serem
despertadas, após a puberdade, sob a forma de lembranças inconscientes.

(FREUD, 1896/1996, p. 210).

➔ TEORIA DA SEDUÇÃO SEXUAL INFANTIL


Freud apresenta suas teses sobre a sexualidade infantil para a comunidade médica de Viena. Cena do filme
“Freud além da alma” de John Houston (1962).
A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico

“quando se pôde reconhecer o papel extraordinário da atividade


da fantasia na vida psíquica dos neuróticos, que claramente tinha
peso maior, para a neurose, que a realidade externa”

(FREUD, 1924/2012, p. 257).

➔ TEORIA DA FANTASIA E DA REALIDADE PSÍQUICA


A repressão sexual “observada” na investigação clínica sobre a
histeria - período pré-psicanalítico
[a experiência] evidencia que os mecanismos psíquicos que produzem os sintomas da
doença também se acham presentes na vida psíquica normal, que as mesmas leis
envolvem o normal e o anormal, e que os resultados da pesquisa com neuróticos e
doentes mentais podem não ser irrelevantes para a compreensão da mente sadia.

(FREUD, 1924/2012, p. 254-255)

Reflexão: que condições tornam uma pessoa ser considerada normal e outra anormal?
COLÉGIO VIENENSE DE MÉDICOS (1904)
Freud destaca o quanto a repressão da cultura e da educação causam os prejuízos à
vida sexual que estão relacionados à etiologia da neurose. Pela primeira vez Freud
critica diretamente a coerção excessiva da educação e moralidade cultural à satisfação
sexual. De acordo com o autor,

“em nenhum outro lugar a cultura e a educação fizeram estragos


maiores do que justamente aqui [na vida sexual], e é aqui também que
– como lhes mostrará a experiência – se encontram as etiologias
domináveis das neuroses”

(FREUD, 1905[1904]/2017, p. 75-76).


TÓPICO I - A moral sexual “cultural” e a doença nervosa moderna
(1908)
TÓPICO I - A moral sexual “cultural” e a doença nervosa moderna
(1908)
TÓPICO I - A moral sexual “cultural” e a doença nervosa moderna
(1908)

A educação [das mulheres] impede-lhes o


desenvolvimento intelectual com os problemas
sexuais, a respeito dos quais, no entanto, elas trazem
consigo maior sede de saber, assusta-as julgando essa
sede de saber como antifeminina, além de ser signo
de uma predisposição pecaminosa

(FREUD, 1908/2020, p. 86).

OBS: Influência do pensamento de John Stuart Mill


TÓPICO I - A moral sexual “cultural” e a doença nervosa moderna
(1908)

Quais as razões da histeria (neurose) incidir mais > A DUPLA MORAL!


em homens do que em mulheres?
TÓPICO I - A moral sexual “cultural” e a doença nervosa moderna
(1908)

A educação rigorosa, que não tolera


qualquer tipo de atividade dessa vida
sexual despertada tão precocemente,
coloca à disposição a força repressiva, e
esse conflito, nessa idade, contém tudo o
que é necessário para causar a doença
nervosa para toda a vida.
(FREUD, 1908/2020, p. 90).
TÓPICO I - RECAPITULAÇÃO

● 1º escrito em que Freud dedicou ao exclusivamente ao tema da cultural.

● Relação causal entre adoecimento nervoso (neurótico) e a repressão sexual exigida

pela sociedade.

● 1º escrito em que Freud afirma claramente sobre a “dupla moral”, ou seja, a existência

de uma permissividade maior para a satisfação sexual do homem na sociedade do que

para a mulher.
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)

Alguns Pontos de Concordância entre


a Vida Mental dos Selvagens e dos
Neuróticos
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)
SELVAGENS E NEURÓTICOS

COMPARTILHAM 2 TABUS ENTRE SI

TABU DE INCESTO

TABU DE PARRICÍDIO
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)
TÓPICO II - Totem e tabu (1912-1913)

HIPÓTESE DA HORDA PRIMEVA


TÓPICO II - RECAPITULAÇÃO
Qual a utilidade do

MITO DA HORDA PRIMEVA

para a Psicanálise?

Qual estatuto científico das hipóteses de


Freud?

RESPONDE A UM PROBLEMA
Caso do Pequeno Hans…
CLÍNICO!
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● Diálogos de Freud com a Psicologia social
(de sua época). Tais quais: Gustave Le Bon,
William McDougall, Gabriel Tarde, Wilhelm
Wundt.
● Formação de massas.
● Líderes carismáticos na cultura.
● Franco crescimento do antissemitismo e do
fanatismo das massas na Itália e Alemanha
em torno de líderes como Benito Mussolini.
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
Gustave Le Bon.
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● O que é uma massa?
○ Massas sem líderes
○ Massas com líderes
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
Gustave Le Bon Características da massa:

“Alma Coletiva”

“Sentimento de onipotência”

“prevalência dos estímulos bárbaros”

“não é assim tão estranho ver o indivíduo na massa fazer ou


aprovar coisas das quais ele teria se afastado em suas
condições habituais de vida”.

(FREUD, 1921/2020, p. 156).


TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)

NO INTERIOR DA MASSA:

“Caem por terra todas as inibições individuais, e todos os instintos cruéis, brutais,
destrutivos que permaneceram dormentes no indivíduo como resquícios da pré-história
são despertados para a livre satisfação pulsional.”

(FREUD, 1921/2020, p. 148).


TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)

NO INTERIOR DA MASSA:

● Abdicação dos aspectos individuais em prol de aspectos coletivos/da massa.

● Identificação psíquica (traço específico) - a criança e o pai

● Eu ideal e Ideal do Eu - a constituição do aparelho psíquico

● Pai da horda primeva


TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)

O AMOR AO LÍDER

“O líder da massa continua sendo o temido pai primevo, a massa continua querendo ser
dominada por um poder irrestrito; em grau extremo, ela é ávida por autoridade; tem,
segundo a expressão de Le Bon, sede de submissão. O pai primevo é o ideal da massa que,
no, lugar do Ideal do Eu, domina o Eu.”

(FREUD, 1921/2020, p. 206).


TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
THEODOR ADORNO:

Freud antecipou, sem saber, o fenômeno do


fascismo e nazismo que assolaram a Europa
durante a Segunda Guerra Mundial.
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● RISCOS À CULTURA

● RISCOS AO GOVERNO
ESTABELECIDO

● RISCOS DE EXCESSOS
COMETIDOS

● RISCOS À DEMOCRACIA
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● RISCOS À CULTURA

● RISCOS AO GOVERNO
ESTABELECIDO

● RISCOS DE EXCESSOS
COMETIDOS

● RISCOS À DEMOCRACIA
TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● REFLEXÃO:

○ QUAL É A RESPONSABILIDADE DO INDIVÍDUO NO FENÔMENO DE MASSAS?

● DA CLÍNICA AO SOCIAL:

○ EXISTE SUJEITO NA MASSA?


TÓPICO III - Psicologia das massas e análise do Eu (1921)
● FILME

○ A ONDA (Die Welle) - 2008


TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

Freud apresenta a sua reflexão, a partir da


psicanálise, acerca das origens do
“sentimento religioso”.

Semelhanças com a neurose obsessiva


(rituais e repetições) e paranóia
(intuições, sensibilidades anormais).
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

Sentimento oceânico. Romain Rolland


TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

Para Freud, o desamparo infantil é a condição sine


qua non para a criação das ideias religiosas.
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
Permanência dos anseios infantis de se sentir
amparado/protegido na vida adulta.

Pintura de Rafaello Sanzio (1505).

A Madona e a criança.
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
A crença em Deus, portanto,

tem um modelo infantil e, na verdade, é apenas a continuação daquela


anterior, pois em um desamparo como esse já nos encontramos um dia
quando éramos crianças pequenas diante de um casal parental, de quem
tínhamos motivos para ter medo, especialmente do pai e cuja proteção, no
entanto, também estávamos seguros contra os perigos que conhecíamos na
época.

(FREUD, 1927/2020, p. 247)


TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

Medo do humano pré-histórico da


natureza exterior (hostil).

Filme: A Guerra do Fogo (1982) de


Jean-Jacques Annaud.
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
se em toda parte na natureza temos seres à nossa volta, como aqueles que conhecemos em
nossa própria sociedade, então podemos respirar aliviados, sentir-nos familiarizados em
meio ao que é infamiliar, podemos elaborar psiquicamente nosso medo sem sentido.

(FREUD, 1927/2020, p. 247)


TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)
Segundo Beverly Clack (2015), teóloga britânica e autora de um livro sobre Freud, o criador
da psicanálise

classifica a religião como um tipo de psicopatologia. Ela é, por assim


dizer, uma forma de doença mental. Freud é específico em seu
diagnóstico. A religião é uma manifestação da neurose obsessiva, através
da qual o indivíduo procura controlar o mundo, com pouca diferença da
atitude do neurótico, que constrói uma série de rituais e atos repetitivos
para se manter em segurança.

(p. 146-147)
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

Afresco A criação de Adão (Michelangelo) - 1508-1512


TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

“Mundo espiritual” retratado em cena do filme “Nosso Lar” (2010) de Wagner de Assis.
TÓPICO IV - O futuro de uma ilusão (1927)

“Nós deixemos o Céu

Para os anjos e os pardais”

(Heine citado por Freud, 1927/2020, p. 286)


TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)
Jacques Lacan (1959-1960/1988) sobre O mal-estar na cultura:

É uma obra essencial, primeira na compreensão do pensamento freudiano


e somação de sua experiência. Devemos dar-lhe toda a sua importância. Ela
esclarece, acentua, dissipa as ambiguidades de pontos totalmente distintos
da experiência analítica, e do que deve ser nossa posição em relação ao
homem – uma vez que é com o homem, com uma demanda humana de
sempre, que temos, em nossa experiência, cotidianamente relação (p. 16).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

➔ A cultura é edificada sobre a renúncia pulsional;


➔ Erotismo (sexualidade) e agressividade (destruição)
◆ Dois dos mais profundos interesses humanos!
➔ Desvio das metas originais da pulsão para atividades aceitas na
cultura.
◆ artes, esportes, trabalhos intelectuais.
◆ construção civil, trabalhos braçais.
◆ sexo para fins de reprodução (manutenção da sociedade).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

Segundo Freud (1930/2020),

“é impossível não ver em que medida a


cultura é construída sobre a renúncia
pulsional, o quanto ela tem como
pressuposto precisamente a não satisfação”
(p. 347).
Cena do filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço (Kubrick, 1968).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

Três fontes de mal-estar:

I. O próprio corpo - condenado a adoecer, perecer e morrer.


II. O mundo exterior - as forças onipotentes da natureza.
III. Do relacionamento com o outro - marcado pelo conflito e pelas
ambivalências.
○ “Nunca estamos tão desprotegidos contra o sofrimento do que
quando amamos, nunca mais desamparadamente infelizes do
que quando perdemos o objeto amado ou o seu amor”
(FREUD, 1930/2020, p. 329).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

Existe uma impossibilidade de experimentar a felicidade de forma


plena (total).

O programa do princípio de prazer, nas palavras de Freud


(1930/2020),

“é absolutamente irrealizável, todos os dispositivos


do Universo opõem-se a ele; poderíamos dizer que a
intenção de que o ser humano seja “feliz” não está
no plano da “Criação”” (p. 320).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

Três medidas paliativas ao mal-estar:

I. Distrações poderosas,
II. Intoxicação (uso de substâncias entorpecentes e tóxicos)
III. Satisfações substitutivas.
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

I. Distrações poderosas

todo e qualquer trabalho que ocupe o homem, que o distraia


da sua condição marcada pelo mal-estar, tais como a
jardinagem ou o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e
científicos.
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

II. Intoxicação (uso de substâncias entorpecentes e tóxicos)


TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)
A ação das substâncias entorpecentes na luta pela felicidade e no afastamento da
miséria é a tal ponto apreciada como um bem-estar que indivíduos, assim como
povos, reservaram-lhe uma posição sólida em sua economia libidinal. Somos
agradecidos a elas não apenas pelo ganho imediato de prazer, mas também por
uma porção ardentemente almejada de independência em relação ao mundo
exterior. Pois certamente sabemos que, com a ajuda do “destruidor de
preocupações”, podemos nos livrar a qualquer hora da pressão da realidade e
encontrar refúgio em um mundo próprio, que ofereça condições melhores de se
obter sensações (FREUD, 1930/2020, p. 323).
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

III. Satisfações substitutivas.

dizem respeito aos prazeres que o ser humano


encontra pelas ilusões, pelo papel da fantasia na
vida anímica, tais como os prazeres oferecidos pela
arte e pela literatura.
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

DUALISMO PULSIONAL (Pulsão de vida e pulsão de morte)

Os dois princípios fundamentais de Empédocles – philia e neikos –, a


partir de seu nome e de sua função, são a mesma coisa que nossas duas
pulsões primevas, Eros e Destruição, um se esforçando em reunir o
existente em unidades cada vez maiores, o outro em dissolver essas
junções e destruir as formas assim produzidas.

Pulsão de vida → FUSÃO/ UNIÃO/ MULTIPLICAÇÃO

Pulsão de morte → DESFUSÃO/DESUNIÃO/REDUÇÃO


Duas representações de Eros (Cupido) e Thanatos (Morte)
TÓPICO V - O mal-estar na cultura (1930)

A meu ver, a questão decisiva para a espécie humana é saber se, e em que medida,
a sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas à vida em
comum pelos instintos humanos de agressão e autodestruição. Precisamente
quanto a isso a época de hoje merecerá talvez um interesse especial. Atualmente os
seres humanos atingiram um tal controle das forças da natureza, que não lhes é
difícil recorrerem a elas para se exterminarem até o último homem. Eles sabem
disso; daí, em boa parte, o seu atual desassossego, sua infelicidade, seu medo. Cabe
agora esperar que a outra das duas “potências celestiais”, o eterno Eros, empreenda
um esforço para afirmar-se na luta contra o adversário igualmente imortal. Mas
quem pode prever o sucesso e o desenlace?
TÓPICO VI - A importância da reflexão sobre
a cultura e a atualidade com a prática da
clínica
TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural

A indissociabilidade entre as dimensões ps´quico/individual e


cultural/social.

Na vida psíquica do indivíduo, o outro é, via de regra, considerado como modelo,


como objeto, como auxiliar e como adversário, e por isso, a psicologia individual é, de
início, simultaneamente psicologia social, nesse sentido ampliado, mas inteiramente
legítimo.

(FREUD, 1921/2020, p. 137).


TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural

No movimento pós-Freud se criou a seguinte separação:

ESTUDOS CLÍNICOS (TEXTOS TÉCNICOS DE FREUD)

ESTUDOS CULTURAIS (TEXTOS CULTURAIS DE FREUD)

➔ Neutralidade política.
➔ Tendência oculta em tornar a psicanálise (uma ciência do icte) em uma
psicologia (voltada ao Ego e à consciência)
TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural

➔ Escola de Frankfurt;
➔ Leitura da teoria freudiana;
➔ Teoria social crítica;
➔ Inseparabilidade entre
teoria psicanalítica e crítica
social;
TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural
Os revisionistas concebem de forma acrítica a separação entre indivíduo e
sociedade, segundo a espécie de uma teoria cognitiva primitivamente realista.
Enquanto falam incessantemente sobre a influência da sociedade sobre o indivíduo,
eles esquecem que não apenas o indivíduo, mas a própria categoria da
individualidade são um produto da sociedade

(ADORNO, 1952/2015, p. 52).

➔ CRÍTICA AO MODELO ADOTADO PELA IPA


➔ CRÍTICA À PSICANÁLISE FEITA NOS EUA E NA INGLATERRA
➔ ERROS NA TRADUÇÃO E NO SENTIDO DA LETRA FREUDIANA!
TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural

A grandeza de Freud, tal como a de todos os pensadores burgueses radicais,


consiste em que ele deixa tais contradições irresolvidas e recusa a pretensão a uma
harmonia sistemática onde a própria coisa encontra-se cindida em si mesma. Ele
torna evidente o caráter antagônico da realidade social, até onde é possível à sua
teoria e à sua práxis no interior de uma divisão de trabalho predeterminada

(ADORNO, 1952/2015, p. 68)

➔ FREUD É UM EXÍMIO AUTOR GERMÂNICO - NÃO EXPLICA!

➔ FREUD ENSINA!
TÓPICO VI - A indissociabilidade entre psíquico e cultural

➔ Eros e civilização: A tendência oculta na psicanálise;


➔ Redução da criação freudiana a uma leitura mecanicista e apática ao social;
➔ Aspectos dinâmicos do dualismo pulsional freudiano;
➔ A proximidade entre a teoria das pulsões (a metapsicologia freudiana) e a
teoria social crítica;

“A Psicologia Individual, de Freud, é em sua própria


essência uma Psicologia Social” (MARCUSE, 1981, p. 36).
TÓPICO VI - A importância da reflexão sobre a
cultura e a atualidade com a prática da clínica
O psicanalista é um sujeito na pólis. Não precisa se eximir de
seus posicionamentos políticos e/ou ideológicos quanto ao laço
social. Todavia, a clínica é apartidária e, portanto, cabe ao
analista o manejo dos sinais e sintomas, sem julgamento ou a
intenção de convencer o outro de suas ideais.
Fiquemos cientes de que Freud, o pai da Psicanálise, dispôs as
coordenadas clínicas para a compreensão do que ocorre no
âmbito anímico e possibilita as guerras, os conflitos, o ódio a
determinado(s) povo(s) e/ou populações, os riscos da busca
desenfreada por prazer a todo instante e a todo custo.
TÓPICO VI - A importância da reflexão sobre a
cultura e a atualidade com a prática da clínica
Refletir sobre os textos de Freud em torno do tema da cultura,
nos possibilita a refletir junto à psicanálise e a sua articulação
com os demais saberes como as ciências sociais e humanas
sobre o momento presente.
Freud continua sendo contemporâneo, mesmo tendo
transcorrido mais de 90 anos de sua morte. Mas as suas
considerações sobre a clínica e a indissociabilidade desta com a
cultura, testemunhada pelas obras que dedicou ao tema (e que
neste curso estudamos), nos habilitam a tomar parte na
discussão cultura-política-social.
TÓPICO VI - A importância da reflexão sobre a
cultura e a atualidade com a prática da clínica
Seja no CRAS, no CREAS, no ambulatório de saúde mental, nos
CAPS, nos CAPSi, nos CAPSad, no pronto-socorro, no hospital, nas
escolas, no consultório privado, na academia – a escuta orientada pela
Psicanálise (e Psicanálise é Freud) – nos auxiliará a lidar com diversas
problemáticas.
E a experiência clínica, seja no formato do consultório privado, seja no
formato ampliado da atuação como psicólogo em serviços de saúde
públicos, será o material para quem sabe contribuirmos efetivamente
com o sujeito. Sem ofertar a este qualquer promessa de felicidade,
bem-estar pleno ou ausência de conflitos.
TÓPICO VI - A importância da reflexão sobre a
cultura e a atualidade com a prática da clínica
Podemos escutar e acolher o outro, com a orientação do Psicanalista vienense,
em sua precariedade psíquica, em seus sintomas, em seus sonhos perturbadores,
em suas angústias, em suas fobias, em suas dificuldades no ambiente de trabalho,
de aprendizagem, de relações interpessoais.
Que este curso possa ter te auxiliado a compreender a relação entre sujeito e laço
social, entre o indivíduo e a sociedade, a partir dos escritos “ditos” culturais de
Freud. E que com isso você, que porventura tenha aspirações clínicas, possa
reconhecer o vigor, a importância e a atualidade dos escritos de Freud. E, ao
acolher um sujeito, o reconheça como determinado pelo inconsciente,
responsável por este, mas como um ser em desamparo, que precisa de uma escuta
sem julgamento e um tratamento bem conduzido.
Muito obrigado
pela confiança e
atenção!
Contato: (22) 99940-5989
Endereço profissional
Rua da Jaqueira, 223, Boca da Barra, Rio das
Ostras (RJ)
CEP 28893-012
gabrielcrespopsicologo@hotmail.com

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9053045000272885
Referências bibliográficas
Filmes e documentários

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