Sua teoria foi sendo escrita pari passo com a sua prática clínica no atendimento a pessoas com problemas emocionais, e assim ele foi construindo sua teoria, que é na verdade uma construção do funcionamento do aparelho mental. A Teoria Psicanalítica é de extrema importância para o estudo de certos mecanismos presentes no funcionamento mental humano. Ao longo da história estava, por definição ligada de forma indissociável ao feminino e com o sexual. HISTÓRICO
A palavra histeria está em circulação há mais de dois
mil anos.
Desde a antiguidade e em particular com Hipócrates
a histeria já era usada para designar transtornos nervosos em mulheres que não haviam tido gravidez.
Em manuscritos egípcio muitos séculos mais antigos
que a acepção de Hipócrates, aparece uma doença identificável correspondente ao termo. Histeros que em grego = quer dizer útero
A causa da histeria era atribuída ao útero, que
teria o poder de se movimentar dentro da mulher, por ser um ser vivo autônomo, podendo ocorrer então a sufocação da matriz, do útero – origem da palavra histeria (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012). Os escritos de Hipócrates sobre a histeria mantiveram a crença da Antiguidade de que o útero teria a capacidade de se deslocar e causar a sufocação.
Ele acrescentou ainda a ideia de que as mulheres
que não faziam sexo tornavam-se mais suscetíveis à sufocação, pois seu útero ficaria mais leve e, portanto, teria mais facilidade para se movimentar. Platão, nessa mesma época, traz a ideia de que o útero teria o desejo de conceber crianças e que, portanto, os úteros de mulheres estéreis ficariam irritados, agitando-se e causando a obstrução das passagens de ar e doenças de todas as espécies. (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012). Essa concepção de histeria permaneceu durante mais de 600 anos, sofrendo mudanças apenas na época romana, em que houve movimentos de libertação das mulheres e dos escravos, o que possibilitou mudanças no tratamento para a histeria nessa época, que era marcado pela brutalidade – como não deixou de ser durante muitos séculos. Entre as técnicas utilizadas estavam a extirpação do útero, as internações forçadas e a camisa de força (Leite, 2012).
“Já nessa primeira “fase” da histeria na história da
humanidade é possível refletir sobre o papel da mulher na mesma. As responsabilidades da mulher estavam estritamente ligadas à reprodução e ao cuidado dos filhos, fazendo com que uma mulher sem filhos não cumprisse suas tarefas sociais, ficando à margem da sociedade, morando com os pais, ajudando-os e cuidando da casa.” Pode-se pensar, portanto, que os sintomas atribuídos a sufocação da matriz estivessem relacionados a esse estilo de vida que as mulheres eram obrigadas a ter.
“Essa forma de viver
das mulheres da época justificaria a supressão das suas emoções para cumprir com seus deveres morais na sociedade e que estão dirigidos a outras pessoas.” É interessante observar que além de a histeria ser considerada uma doença manifesta apenas em mulheres, eram também elas (as mulheres, em muitos contextos sociais e épocas, representadas pelas figuras das parteiras) as responsáveis pelo tratamento e pelo diagnóstico, afastadas dos homens. Na Idade Média a Histeria passou a ser definida como possessão pelo demônio.
Charcot no século XIX soube distinguir a histeria
de epilepsia, ainda classificava a Histeria como transtorno fisiopático do sistema nervoso Charcot investigava a Histeria através da hipnose. Foi durante as aulas de Charcot que Freud ficou intrigado com o fato de que a Histeria, embora não demonstrasse nenhuma perturbação neurológica orgânica, não se caracterizava como fingimento e ainda o fato da Histeria não se apresentar somente em mulheres. O encontro de Freud com a Histeria e com a histérica está na origem da Psicanálise.
Freud, em um mundo patriarcal, ousou ouvir a
histérica, e ele via na histeria uma manifestação psíquica, como uma forma de significar o corpo e o mundo.
Ele pôde perceber o “valor do sintoma” e estuda-los
sob uma nova óptica. Segundo Freud, os sintomas histéricos significam a moção afetiva suprimida que é projetada para fora do corpo, através dos ataques histéricos, atribuídos na Antiguidade à sufocação da matriz.
“Assim, a sociedade e seus valores morais sobre a
mulher podem ser pensados como causadores dos sintomas histéricos, o que tornaria mais claro o motivo da ocorrência maior em mulheres, uma vez que se sabe que o útero não se move de forma autônoma.” “Além disso, a própria relação que fazem Hipócrates e Platão dos sintomas com a ausência de sexo e/ou de filhos revela a visão que se tem da mulher, pois torna evidente a ideia de que uma mulher que não cumpre com os seus deveres pode sofrer dos mais variados tipos de doenças e, ainda, que o corpo feminino que não reproduz, que não cumpre sua função fundamental pode adoecer. Ou seja, não cumprir os seus deveres morais como mulher é perigoso.” Em Estudos sobre Histeria (1905), Freud e Breuer apresentaram três pontos fundamentais da Histeria: 1.os sintomas histéricos faziam sentido; 2.existia um trauma que causara a doença, que tinha ligação com impulsos libidinais que haviam sido reprimidos; 3.a lembrança desse trauma e sua catarse era o caminho para a cura. Com a lembrança das histórias que estavam por trás dos sintomas estes seriam eliminados através da sugestão.
No final do livro “Estudos sobre Histeria”, no caso
de Elizabeth Von R., Freud chega a noção de um conflito entre dois impulsos contrários, o que acarreta nos sintomas histéricos e traz junto a ideia de recalque já que aquelas ideias não são lembradas. Vem depois a ideia de uma sexualidade problemática, onde o desejo entra em contradição com a incapacidade de realização. “Os sintomas da Histeria eram manifestações físicas de queixas que não tinham expressão” (Borossa, 2005) Depois de Charcot, Babinsky, com quem Freud também estudou, sublinhando a sugestibilidade e cunhando o termo “pitiatismo”, permitiu separar o que pertence à Psiquiatria e o que concerne à neurologia. Conjunto de perturbações nervosas ou histéricas suscetíveis de cura pela sugestão Pierre Janet concebia a Histeria como tratando-se essencialmente de uma diminuição da tensão psíquica que pode ser provocada por choques emocionais e recordações traumáticas. HISTERIA E PSICANÁLISE
“A Psicanálise de certa forma, surgiu como uma
consequência lógica de perguntas sobre sexo, conflito e poder que a Histeria apresenta ao longo dos séculos, e ela tem uma maneira própria de colocá-las em prosa, em histórias próprias”. (Borossa, 2005). Na Europa do século XIX a Histeria viria a ser a doença do momento, coincidindo com as profundas mudanças que afetaram a estrutura familiar sob a pressão da industrialização, quando os papéis de homens e mulheres se polarizaram como nunca.
No século XIX, em um mundo predominantemente
patriarcal, “a Histeria passou a incorporar a própria feminilidade como problema e enigma” (Borossa, 2005, p. 5) Devido a isso, os sintomas histéricos já tiveram diferentes interpretações, de acordo com a época e com os valores vigentes, assim como foram tratados de maneiras diversas e tiveram significados variados ao longo da história. Pensar as mudanças pelas quais o diagnóstico e o tratamento, da histeria passaram permite pensar sobre os valores a cerca da doença em diferentes momentos históricos e, ainda, devido ao caráter feminino atribuído a histeria, permite refletir sobre o papel das mulheres nessas sociedades. É evidente que o diagnóstico da histeria não é o único que acompanha a humanidade há tanto tempo, porém, seu potencial em contar através da sua história, a história da visão de sujeito e de mulher em diferentes épocas não está em ser único ou no longo período em que se manifesta, mas está em sua capacidade de mobilizar diferentes poderes, estados e disciplinas. Além disso, ao lhe ser atribuída a característica de transtorno mental, a histeria carrega consigo de forma ainda mais evidente os significados das relações humanas, a visão de sujeito da sociedade e da medicina. Nesse momento da história da histeria é possível mais uma vez pensar sobre a mulher na sociedade.
Pode-se manter o mesmo raciocínio anterior em
relação à supressão das emoções próprias em favor de deveres morais, visto que a figura feminina segue tendo as mesmas funções na sociedade, porém, a concepção que a Idade Média dá a histeria permite pensar na dificuldade que a própria sociedade tem para absorver o discurso histérico.
Nação tarja preta: O que há por trás da conduta dos médicos, da dependência dos pacientes e da atuação da indústria farmacêutica (leia também Nação dopamina)