Você está na página 1de 30

Profa.

Simone Biangolino
A Psicanálise

Psicanálise Psicanálise

Sigmund Freud (1856-1939)


Sua teoria foi sendo escrita
pari passo com a sua prática
clínica no atendimento a
pessoas com problemas
emocionais, e assim ele foi
construindo sua teoria, que é
na verdade uma construção do
funcionamento do aparelho
mental.
A Teoria Psicanalítica é
de extrema importância
para o estudo de certos
mecanismos presentes no
funcionamento mental
humano.
 Ao longo da história estava, por definição ligada
de forma indissociável ao feminino e com o
sexual.
HISTÓRICO

A palavra histeria está em circulação há mais de dois


mil anos.

Desde a antiguidade e em particular com Hipócrates


a histeria já era usada para designar transtornos
nervosos em mulheres que não haviam tido gravidez.

Em manuscritos egípcio muitos séculos mais antigos


que a acepção de Hipócrates, aparece uma doença
identificável correspondente ao termo.
Histeros  que em grego = quer dizer útero

 A causa da histeria era atribuída ao útero, que


teria o poder de se movimentar dentro da mulher,
por ser um ser vivo autônomo, podendo ocorrer
então a sufocação da matriz, do útero – origem da
palavra histeria (Ávila & Terra, 2010; Leite, 2012).
 Os escritos de Hipócrates sobre a histeria
mantiveram a crença da Antiguidade de que o
útero teria a capacidade de se deslocar e causar
a sufocação.

 Ele acrescentou ainda a ideia de que as mulheres


que não faziam sexo tornavam-se mais
suscetíveis à sufocação, pois seu útero ficaria
mais leve e, portanto, teria mais facilidade para
se movimentar.
 Platão, nessa mesma época, traz a
ideia de que o útero teria o desejo de
conceber crianças e que, portanto, os
úteros de mulheres estéreis ficariam
irritados, agitando-se e causando a
obstrução das passagens de ar e
doenças de todas as espécies. (Ávila &
Terra, 2010; Leite, 2012).
 Essa concepção de histeria permaneceu durante
mais de 600 anos, sofrendo mudanças apenas
na época romana, em que houve movimentos de
libertação das mulheres e dos escravos, o que
possibilitou mudanças no tratamento para a
histeria nessa época, que era marcado pela
brutalidade – como não deixou de ser durante
muitos séculos.
 Entre as técnicas utilizadas
estavam a extirpação do útero,
as internações forçadas e a
camisa de força (Leite, 2012).

“Já nessa primeira “fase” da histeria na história da


humanidade é possível refletir sobre o papel da
mulher na mesma. As responsabilidades da mulher
estavam estritamente ligadas à reprodução e ao
cuidado dos filhos, fazendo com que uma mulher
sem filhos não cumprisse suas tarefas sociais,
ficando à margem da sociedade, morando com os
pais, ajudando-os e cuidando da casa.”
 Pode-se pensar, portanto, que os sintomas
atribuídos a sufocação da matriz estivessem
relacionados a esse estilo de vida que as
mulheres eram obrigadas a ter.

“Essa forma de viver


das mulheres da
época justificaria a
supressão das suas
emoções para cumprir
com seus deveres
morais na sociedade e
que estão dirigidos a
outras pessoas.”
 É interessante observar que além de a histeria
ser considerada uma doença manifesta apenas
em mulheres, eram também elas (as mulheres,
em muitos contextos sociais e épocas,
representadas pelas figuras das parteiras) as
responsáveis pelo tratamento e pelo diagnóstico,
afastadas dos homens.
 Na Idade Média a Histeria passou a ser definida
como possessão pelo demônio.

 Charcot no século XIX soube distinguir a histeria


de epilepsia, ainda classificava a Histeria como
transtorno fisiopático do sistema nervoso 
Charcot investigava a Histeria através da hipnose.
 Foi durante as aulas de Charcot que Freud ficou
intrigado com o fato de que a Histeria, embora não
demonstrasse nenhuma perturbação neurológica
orgânica, não se caracterizava como fingimento e
ainda o fato da Histeria não se apresentar somente
em mulheres.
 O encontro de Freud com a Histeria e com a
histérica está na origem da Psicanálise.

 Freud, em um mundo patriarcal, ousou ouvir a


histérica, e ele via na histeria uma manifestação
psíquica, como uma forma de significar o corpo e o
mundo.

 Ele pôde perceber o “valor do sintoma” e estuda-los


sob uma nova óptica.
 Segundo Freud, os sintomas histéricos significam
a moção afetiva suprimida que é projetada para
fora do corpo, através dos ataques histéricos,
atribuídos na Antiguidade à sufocação da matriz.

“Assim, a sociedade e seus valores morais sobre a


mulher podem ser pensados como causadores dos
sintomas histéricos, o que tornaria mais claro o
motivo da ocorrência maior em mulheres, uma vez
que se sabe que o útero não se move de forma
autônoma.”
“Além disso, a própria relação que fazem Hipócrates e
Platão dos sintomas com a ausência de sexo e/ou de
filhos revela a visão que se tem da mulher, pois torna
evidente a ideia de que uma mulher que não cumpre
com os seus deveres pode sofrer dos mais variados
tipos de doenças e, ainda, que o corpo feminino que
não reproduz, que não cumpre sua função fundamental
pode adoecer. Ou seja, não cumprir os seus deveres
morais como mulher é perigoso.”
 Em Estudos sobre Histeria (1905), Freud e Breuer
apresentaram três pontos fundamentais da
Histeria: 1.os sintomas histéricos faziam sentido;
2.existia um trauma que causara a doença, que
tinha ligação com impulsos libidinais que haviam
sido reprimidos; 3.a lembrança desse trauma e
sua catarse era o caminho para a cura.
 Com a lembrança das histórias que estavam por
trás dos sintomas estes seriam eliminados através
da sugestão.

 No final do livro “Estudos sobre Histeria”, no caso


de Elizabeth Von R., Freud chega a noção de um
conflito entre dois impulsos contrários, o que
acarreta nos sintomas histéricos e traz junto a ideia
de recalque já que aquelas ideias não são
lembradas.
 Vem depois a ideia de uma sexualidade
problemática, onde o desejo entra em contradição
com a incapacidade de realização. “Os sintomas da
Histeria eram manifestações físicas de queixas que
não tinham expressão” (Borossa, 2005)
 Depois de Charcot, Babinsky, com quem Freud
também estudou, sublinhando a sugestibilidade e
cunhando o termo “pitiatismo”, permitiu separar o
que pertence à Psiquiatria e o que concerne à
neurologia. Conjunto de perturbações
nervosas ou histéricas suscetíveis
de cura pela sugestão
 Pierre Janet concebia a Histeria como tratando-se
essencialmente de uma diminuição da tensão
psíquica que pode ser provocada por choques
emocionais e recordações traumáticas.
HISTERIA
E
PSICANÁLISE

 “A Psicanálise de certa forma, surgiu como uma


consequência lógica de perguntas sobre sexo,
conflito e poder que a Histeria apresenta ao longo
dos séculos, e ela tem uma maneira própria de
colocá-las em prosa, em histórias próprias”.
(Borossa, 2005).
 Na Europa do século XIX a Histeria viria a ser a
doença do momento, coincidindo com as
profundas mudanças que afetaram a estrutura
familiar sob a pressão da industrialização, quando
os papéis de homens e mulheres se polarizaram
como nunca.

 No século XIX, em um mundo predominantemente


patriarcal, “a Histeria passou a incorporar a
própria feminilidade como problema e enigma”
(Borossa, 2005, p. 5)
 Devido a isso, os sintomas histéricos já tiveram
diferentes interpretações, de acordo com a época
e com os valores vigentes, assim como foram
tratados de maneiras diversas e tiveram
significados variados ao longo da história.
 Pensar as mudanças pelas quais o diagnóstico e
o tratamento, da histeria passaram permite
pensar sobre os valores a cerca da doença em
diferentes momentos históricos e, ainda, devido
ao caráter feminino atribuído a histeria, permite
refletir sobre o papel das mulheres nessas
sociedades.
 É evidente que o diagnóstico da histeria não é o
único que acompanha a humanidade há tanto
tempo, porém, seu potencial em contar através
da sua história, a história da visão de sujeito e de
mulher em diferentes épocas não está em ser
único ou no longo período em que se manifesta,
mas está em sua capacidade de mobilizar
diferentes poderes, estados e disciplinas.
 Além disso, ao lhe ser atribuída a característica
de transtorno mental, a histeria carrega consigo
de forma ainda mais evidente os significados
das relações humanas, a visão de sujeito da
sociedade e da medicina.
 Nesse momento da história da histeria é possível
mais uma vez pensar sobre a mulher na sociedade.

 Pode-se manter o mesmo raciocínio anterior em


relação à supressão das emoções próprias em
favor de deveres morais, visto que a figura
feminina segue tendo as mesmas funções na
sociedade, porém, a concepção que a Idade Média
dá a histeria permite pensar na dificuldade que a
própria sociedade tem para absorver o discurso
histérico.

Você também pode gostar