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SANGUE

Da costa e silva
DA COSTA E
SILVA
(1885-1950)
Antônio Francisco da Costa e Silva nasceu
em Amarante, Estado do Piauí, Brasil.
Advogado, trabalhou em muitas cidades por
todo o Brasil. Sangue é seu livro de estréia na
poesia, em 1908.
DA COSTA E
SILVA
• Sua obra de estreia foi publicada em
1908,em Recife, ainda estudante do
curso de Direito.
• Os seus primeiros poemas modernistas
foram publicados no Norte – Amazonas e
Acre.
• Da Costa e Silva é o maior e mais
popular poeta do Piauí e um dos
grandes poetas brasileiros da primeira
metade do século XX. É
reconhecidamente o “Príncipe dos
Poetas Piauienses”.
• Um grande poeta que conquistou
diversos públicos com seu jeito
harmonioso, e seus poemas de sua
cidade natal Amarante-PI.
Começou a compor versos por volta de
1896, tendo seus primeiros poemas
publicados em 1901. Todavia, seu primeiro
livro de poesia, Sangue, somente foi
lançado em 1908.
É o autor da letra do hino do Piauí.
Pertenceu à Academia Piauiense de Letras,
Cadeira nº 21.
Em Teresina foi construída a Praça Da
Costa e Silva, e a Biblioteca Pública
Municipal Da Costa e Silva; Em Floriano a
Biblioteca Municipal Costa e Silva; Em
Geminiano a Biblioteca Municipal Antonio
Francisco da Costa e Silva.

Estátua do poeta na praça da Central de


Artesanato Mestre Dezinho, em Teresina.
Sua obra extraordinária oscilou entre o parnasianismo e o
simbolismo, mas sempre com um estilo próprio e inconfundível.
Sangue, livro de estreia de da Costa e Silva, e sua obra mais
emblemática, revela um poeta de dicção própria,
personalíssima.
Um dos dois livros de poesia mais marcantes do ano, um grande
título da poesia simbolista brasileira.
Uma obra de evidente ortodoxia simbolista, por conta das
extravagâncias gráficas e experiências visuais do livro, uma
linguagem luminosa, arrebatadora e forte de um poeta que não
esconde a sua sensualidade nem o sentimento diante da vida.
• O “Cântico do Sangue”, que abre o livro,
cumpre um papel arquitetônico.
• É considerado como o seu livro mais
icônico principalmente pela força do título
de “Saudade”.
• Escrito sob a ascendência do pensamento
monista e fenomenista que agitava o
ambiente cultural do Recife que tanto
marcou Da Costa e Silva e também poetas
da época.
OBRA
Sua obra de Da Costa e Silva, desde o seu preâmbulo, “Sangue”
(1908), se nos mostra como um rigoroso exercício melopoético
(música e palavra). Isso porque, em grande parte de sua poesia, os
aspectos fanopaicos e cognitivos parecem estar sobrepujados pelos
aspectos musicais. Em outros termos: a literatura dacostiana –
inegavelmente influenciada por vertentes simbolistas – procura se
pautar em uma estética na qual os sons são a base material do fazer
artístico. As palavras, desse modo, ligam-se umas às outras mais pela
questão da afinidade fônica do que mesmo pelo sentido que procuram
expressar. As construções frasais do texto são pensadas
predominantemente com intuito de se atingir a precisão horizontal da
música tonal: um arco melódico narrativo no qual se observa a
alternância entre momentos de tensão e repouso.
fonte:https://youtu.be/HE2H3oY4GQc?si=96-dI5QTirycmU2w
SAUDADE
A MOENDA
Saudade! Olhar de minha mãe rezando Na remansosa paz da rústica fazenda,
E o pranto lento deslizando em fio... à luz quente do sol e à fria luz do luar,
Saudade! Amor da minha terra... O rio vive, como a expiar uma culpa tremenda,
cantigas de águas claras soluçando. o engenho de madeira a gemer e a chorar.
Noites de junho... O caburé com frio, Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
e, ringindo e rangendo, a cana a triturar,
ao luar, sobre o arvoredo, piando, parece que tem alma, advinha e desvenda
piando... a ruína, a dor, o mal que vai, talvez, causar...
E, ao vento, as folhas lívidas cantando Movida pelos bois tardos e sonolentos
a saudade imortal de um sol de estio. geme, como a exprimir, em doridos
Saudade! Asa de Dor do Pensamento lamentos,
que as desgraças por vir, sabe-as todas de
Gemidos vãos de canaviais ao vento... cor.
As mortalhas de névoa sobre a serra. Ai, dos teus tristes ais, ai, moenda
Saudade! O Parnaíba - velho monge arrependida
as barbas brancas alongando... - Álcool! para esquecer os tormentos da vida
- e cavar, sabe Deus, um tormento maior!
E ao longe,o mugido dos bois da minha
terra...
CARACTERÍSTICAS DA OBRA

• Os temas presentes na obra são: O amor


materno, a terra natal, o rio Parnaíba, a
tristeza e a saudade. Na obra é notável a
agonia causada pela saudade.

• Confessar essa saudade o autor se utiliza


de símbolos: Terra, água, ar, sol e luz. O
intimismo e a subjetividade são traços
marcantes da obra.
• O motivo extraliterário é uma tentativa de
compensação psicológica; o poeta idealiza sua
terra como forma de reagir contra os estereótipos
que produziram uma imagem parcial e negativa
de seu estado

• A lírica dacostiana é, em sua quase totalidade,


idealista, metafísica. Tudo nela tende a tornar-se
arquétipo
MEMÓRIA E POESIA
uma análise da poética de Da Costa e Silva
MARIA DAÍSE DE OLIVEIRA CARDOSO

• Saudade é um texto que está pautado por um conjunto de imagens e sons


presentes na memória do eu lírico. Esses aspectos estão dispostos como uma série
de fotografias que se passa ― escorrem como águas do rio – na mente do sujeito (o olhar
da mãe rezando; o caburé com frio; o mugido dos bois; a cantiga de águas
claras do rio Parnaíba; as mortalhas de névoas sobre a serra). O sistema imagético
constituído na mente do leitor é reforçado pela exploração intensa dos recursos
sonoros. Há sempre uma preocupação do poeta em intercalar os sons das palavras
(mescla de aliterações e assonâncias). As pausas atuam como aspectos musicais e
auxiliam a engendrar o ritmo arrastado, lento – o que intensifica a sensação de
melancolia e firma o sentimento de saudade, matéria principal do texto.

• Para compreender a poesia intimista de Da Costa e Silva, é importante


retomarmos os conceitos de Staiger (1997) sobre poética. Na visão do autor alemão
a lírica ―deve mostrar o reflexo das coisas e dos acontecimentos na consciência
individual (p 57). É por meio deste que o poeta amarantino nos proporciona uma
viagem à pequena cidade de Amarante, que nos remete ao universo do sertão
piauiense. Este percurso de leitura enfatiza a relação direta entre a memória de um
tempo vivido e o texto poético. Esse caráter telúrico serviu de impulso para os
pesquisadores que, sempre ao fazerem menção à obra poética de Da Costa e Silva,
destacaram o poema Saudade.
Mater: imagem de piedade

Da Costa e Silva, desde seus primeiros registros poéticos, deixa em evidência a


figura da mãe, ou mater, como o autor prefere denominar. Trata-se de um sujeito
objetual que está sempre presente nas reminiscências do eu lírico. Ao lembrar-se
da imagem da mãe, a persona recorda com saudosismo de um ser que sempre
clama pelo filho (Saudade, olhar de minha mãe rezando). Essa imagem está, na
maioria das vezes, associada à figura da Virgem Maria, mãe de Jesus. Em
―Rosa Mística, ―Consolatris afflictoorum, ―Símbolos (três poemas que
antecedem ―Mater) o poeta já expunha em sua camada objetual a temática
religiosa da consoladora dos aflitos. Desde o título (Consolatris afflictoorum), a
mãe dos desgraçados é evocada pelo sujeito lírico. Torna-se perceptível o jogo
simbólico que permeia os elementos expostos nos poemas citados, como o manto,
o céu, o mês de maio, e outras figuras representativas do universo católico cristão.
Estas figuras vão, a cada verso, compondo um cenário de religiosidade e devoção.
Ao lançarmos um olhar sobre a obra Sangue, além do rio e da cidade de
Amarante, a representação da figura da mãe é algo que surge com frequência,
como já mencionamos anteriormente. Vale ressaltar que nos versos de ―Mater é
que a alternância entre mãe sagrada e mãe biológica se expõe. Essa junção
provoca no eu lírico um misto de sentimentos que resulta em saudade, ou seja, em
memória.
Temas abordados na obra
A poesia dacostiana se posiciona literariamente num período de transição
de sincretismos de estilos de época diferentes: Simbolismo, Parnasianismo e,
no caso de Da Costa e Silva, podemos dizer que nele se evidenciam
inegavelmente alguns traços românticos, abeirando-se – o que é de muita
relevância para a obra do poeta - até para sinalizações de duas outras
vertentes: o Modernismo e o Concretismo.

O que diferencia a elaboração do estilo poético em Sangue não é a novidade


temática, mas a reelaboração lírica seguindo e mesmo renovando as
características retóricas do Simbolismo, o nível sintático-estilístico será o fator
determinante dos poemas. Se o poeta recorre aos recursos próprios desse estilo
literario, ele passa a compartilhar o que é comum entre os seus pares
simbolistas. Esta circunstância aponta um traço de maior significação para que o
poeta consiga o seu lugar de relevo entre os melhores líricos do seu tempo: a
originalidade.
Sangue é um livro acentuadamente subjetivista de temas variados que vão das
origens amarantinas ao sombrio e devaneio da alma; a imagem da mulher e a
representação do desejo ­ a mulher estátua/esfinge, a sublimação do amor, a
morte, o rio Parnaíba, Amarante, a mãe. É um livro luminoso; rico de intuições
muito finas que revelam a força do sonho e a transfiguração da existência. É
uma obra de admirável capacidade poética e de sensibilidade de artista
cuidadoso.

Parte da poesia de Sangue oscila entre o entusiasmo e a melancolia, o silêncio e a


exuberância, a solidão e o sonho, a desgraça e a contemplação. O poeta carrega em
seus versos “a exaltação luminosa, um inebriamento, uma virtuosidade harmoniosa
e forte, um belo ímpeto arrebatado”.
Se mapearmos a gama de variações em torno do amor, teremos as
seguintes situações amorosas:

a antinomia amorosa
o amor de mistura com o ciúme
o amor dividido entre a tranqüilidade, o suplício e a mágoa
o amor-dúvida
a dor amorosa indecifrada
o amor erótico e inconcluso
o amor incerto
o amor não correspondido
o amor na vida e na eternidade
o amor contrafeito.
CARACTERISTICAS DA OBRA/ ESTILO
A obra “SANGUE“, possui em sua poética, de maneira
predominante, traços de correntes literárias como o
Parnasianismo e o Simbolismo. A habilidade com os
versos, como destacam os críticos, torrnou-o
conhecido na cena da literatura, sendo identificado
como o ―príncipe dos poetas do Piauí.
Verificamos a existência de um eu lírico que narra
suas recordações por sua perspectiva. Nutre seus
sentimentos, deslocando-se do presente para o
passado como forma de reviver e eternizar o que
COMPREENDER O PAPEL DA passou. Dessa forma, o sujeito lírico reconstrói os
MEMÓRIA INDIVIDUAL NA distintos momentos vividos e, em um discurso
CONSTRUÇÃO POÉTICA poeticamente elaborado, e por vezes fragmentado,
eterniza na escrita suas recordações.
Segundo José Guilherme Merquior: “Da Costa e Silva é um dos maiores mestres da
nossa poesia, no que se refere a deixar o verso em suspenso, continuando-­lhe o
sentido e a sintaxe nos versos seguintes, tirando daí alguns dos seus maiores
efeitos poéticos”.

O autor possui técnica refinada com o decassílabo, o alexandrino e o verso livre. Em


todos esses casos, ele se revela um virtuoso do verso. Sua poesia é dotada de uma
intensa plasticidade (descritivismo parnasiano), em decorrência da utilização das
metáforas. Musicalidade e plasticidade estão em perfeita harmonia em sua poética. As
duas vertentes se cruzam: de um lado, a parnasiana; de outro lado, a simbolista. É na
vertente simbolista que Da Costa e Silva se insere de modo consagrador

Obra estruturada em 48 poemas, sem dedicatória. A abertura é feita com 10 quartetos de


“Cântico do sangue” e o fechamento com o soneto “Depois da luta”. A primeira palavra dos
poemas nessa obra é sangue e a última também, repetida três vezes, também é sangue. O
centro do livro é o 24º poema “Saudade”. A simbologia do três é notada em três poemas que
compõem as Virtudes Teologais: “Fé”, “Esperança” e “Caridade”.
Parte da poesia de Sangue oscila entre o entusiasmo e a melancolia, o silêncio e a
exuberância, a solidão e o sonho, a desgraça e a contemplação.
LITERATURA
PIAUIENSE
Refere-se à literatura piauiense, a produção de obras que
desde o século XIX, vêm refletindo, com maior ou menor
intensidade, as raízes locais, as nossas tradições, os nossos
costumes, as nossas conquistas históricas, os nossos
problemas políticos, sociais e econômicos.

Nesse viés, o poeta piauiense Antônio Francisco da Costa e


Silva (Da Costa e Silva), no seu livro de estréia, Sangue,
datado de 1908, encontramos poemas inspirados em motivos
da terra natal, com destaque para o rio Parnaíba:
“Saudade! Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto lento deslizando em fio…
Saudade! Amor da minha terra… O rio
Cantigas de águas claras soluçando.
Noites de junho… O caburé com frio,
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando…
E, ao vento, as folhas lívidas cantando
A saudade imortal de um sol de estio.
Saudade! Asa de dor do Pensamento!
Gemidos vãos de canaviais ao vento…
As mortalhas de névoa sobre a serra…
Saudade! O Parnaíba – velho monge
As barbas brancas alongando… E, ao longe,
O mugido dos bois da minha terra…”
DA Minha terra tem palmeiras,
• Ainda nesse mesmo viés o poeta brasileiro Gonçalves Onde canta o Sabiá;
Dias, natural de Caxias-Maranhão, pertencente à As aves, que aqui gorjeiam,
primeira geração do movimento modernista brasileiro, Não gorjeiam como lá.
no seu poema criado quando o autor encontrava-se Nosso céu tem mais estrelas,
estudando direito na universidade de Coimbra, Portugal, Nossas várzeas têm mais flores,
intitulado “Canção do exílio”, exprime assim como Da Nossos bosques têm mais vida,
Costa e Silva, na obra à cima citada “Saudade” a imensa Nossa vida mais amores.
falta e o saudosismo à sua origem: Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
CORDEL
REFERENCIAS

HTTP://WWW.ANTONIOMIRANDA.COM.BR/IBEROAMERICA/BRASIL/DA_COSTA_SILV
A.HTML
HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/ANT%C3%B4NIO_FRANCISCO_DA_COSTA_E_SILV
A HTTPS://WWW.ARTESANATOPIAUIENSE.PI.GOV.BR/2022/05/24/ANTONIO-
FRANCISCO-DA-COSTA-E-SILVA/
HTTPS://ALEXEIBUENO.BLOGSPOT.COM/2018/09/OS-110-ANOS-DE-SANGUE-DE-DA-
COSTA-E.HTML
HTTPS://WWW.PASSEIWEB.COM/SANGUE/
HTTP://ADRIANOLOBAO.BLOGSPOT.COM/2009/06/BREVE-ANTOLOGIA-DE-DA-
COSTA-E-SILVA.HTML
HTTP://ADRIANOLOBAO.BLOGSPOT.COM/2010/11/O-ENGENHO-MUSICAL-DE-DA-
COSTA-E-SILVA.HTML
HTTP://WWW.HORIZONTE.UNAM.MX/BRASIL/GDIAS.HTML

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