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2ª Fase Modernista (1930 – 1945)

A POESIA SOCIAL -
Neossimbolista

1930 – “Alguma Poesia” de


Carlos Drummond de
Guerra de Lasar Segal
Andrade

Página 137
O amadurecimento do modernismo;
Abordagem mais séria
A liberdade artística (inovações modernista) convive com
versos tradicionais (temas clássicos e o resgate sonetos)
A linguagem é mais elaborada
A preocupação política e social (visão socialista)
O engajamento e o envolvimento da arte modernista
As questões existenciais e intimistas
O Grupo dos Poetas Católicos (vertente espiritualista,
intenção de resgatar a fé em cristo através da poesia)
Cecília Meireles
A liberdade da forma (vincula-se às propostas modernistas,
mas resgata formas tradicionais, linguagem mais elevada)
A espiritualidade (intimismo – existencialista, sensível e delicada)
Neossimbolista (resgata características do simbolismo)
A atmosfera de sonho e fantasia (cheia de imaginação, próxima do vago e do
etéreo)
A musicalidade (aliteração, assonância e reiteração, a sonoridade dos versos)
O uso de metáforas e sinestesias (poesia sensorial)
Os temas universais (amor, morte, saudade, dor, velhice)
A poesia melancólica – sentimento de ausência e solidão (tom triste dos
versos, a dor humana)
Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,


tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,


tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Pistoia - Cemitério Militar Brasileiro

Eles vieram felizes, como Este cemitério tão puro


para grandes jogos atléticos: é um dormitório de meninos:
com um largo sorriso no rosto, e as mães de muito longe chamam,
com forte esperança no peito, entre as mil cortinas do tempo,
- porque eram jovens e eram belos. cheias de lágrimas, seus filhos. (...)

Marte, porém, soprava fogo E as mães esperam que ainda acordem,


por estes campos e estes ares. como foram, fortes e belos,
E agora estão na calma terra, depois deste rude exercício,
sob estas cruzes e estas flores, desta metralha e deste sangue,
cercados por montanhas suaves. destes falsos jogos atléticos.

São como um grupo de meninos Entretanto, céu, terra, flores,


num dormitório sossegado, é tudo horizontal silêncio.
com lençóis de nuvens imensas, O que foi chaga, é seiva e aroma,
e um longo sono sem suspiros, - do que foi sonho, não se sabe -
de profundíssimo cansaço. (...) e a dor anda longe, no vento...
Romanceiro da Inconfidência
- Romances: poemas populares
- Ambientado no Brasil colônia do séc. XVIII
- O cenário é Vila Rica (Minas Gerais)
- A descrição da natureza (rios, lagos, montes, pastos)
- Período da Inconfidência Mineira
- Mistura personagens fictícias com vultos históricos;
- Uma análise crítica do passado histórico e social para compreender
o presente
- Temas: ouro, traição e amor
ROMANCE XXI OU DAS IDÉIAS

Doces invenções da Arcádia!


Delicada primavera:
pastoras, sonetos, liras,
- entre as ameaças austeras
de mais impostos e taxas
que uns protelam e outros negam.
Casamentos impossíveis.
Calúnias. Sátiras. Essa
paixão da mediocridade
que na sombra se exaspera.
E os versos de asas douradas,
que amor trazem e amor levam...
Anarda. Nise. Marília...
As verdades e as quimeras.
Outras leis, outras pessoas.
Novo mundo que começa.
Nova raça. Outro destino.
Planos de melhores eras.
E os inimigos atentos,
que, de olhos sinistros, velam.
E os aleives. E as denúncias.
E as ideias.
Vinícius de Moraes
- Recupera o uso das formas fixas: sonetos
- (a métrica, a forma, a rima, as estrofes, o ritmo, os versos)
- (uma estrutura tradicional para tratar de temas populares)

PRIMEIRA FASE: (linguagem mais elevada, culta e formal)


A poesia mística e transcendental (neossimbolismo)
Valorização do momento (o transbordamento emocional)
Presença da religiosidade (a fé, influência do grupo dos poetas católicos)
Sensualidade (apelos do corpo e os apelos da alma).
Poema de Natal
Não há muito o que dizer:
Para isso fomos feitos:
Uma canção sobre um berço
Para lembrar e ser lembrados
Um verso, talvez de amor
Para chorar e fazer chorar
Uma prece por quem se vai —
Para enterrar os nossos mortos —
Mas que essa hora não esqueça
Por isso temos braços longos para os adeuses
E por ela os nossos corações
Mãos para colher o que foi dado
Se deixem, graves e simples.
Dedos para cavar a terra.
Pois para isso fomos feitos:
Assim será nossa vida:
Para a esperança no milagre
Uma tarde sempre a esquecer
Para a participação da poesia
Uma estrela a se apagar na treva
Para ver a face da morte —
Um caminho entre dois túmulos —
De repente nunca mais esperaremos...
Por isso precisamos velar
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Falar baixo, pisar leve, ver
Nascemos, imensamente.
A noite dormir em silêncio.
SEGUNDA FASE: (linguagem mais simples e coloquial)
a) A poesia que retrata o amor (diversas formas de representar o
amor)
b) A reflexão a cerca do amor (a mulher: a amada, a amante, a
esposa, a prostituta, a filha...)
c) O cotidiano (vida no Rio de Janeiro, a boemia, a vida em família,
os bares, a praia)
d) Os problemas sociais (consciência da realidade do brasil e do
mundo, tom socialista).
Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante


O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,


E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,


De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,


É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima


Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:


Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria


De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão
feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha! (...)
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem


Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
(...)
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."

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