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2º Tempo

Modernista
A realidade brasileira se impõe
O segundo tempo modernista (1930-1945)
• Época de conflitos e violência
– Período entre guerras
– Iminência da II Guerra Mundial
– Governo de Getúlio Vargas (Estado Novo)
2º Tempo Modernista
• Após a revolução estética empreendida pelo 1º tempo
modernista alcançar a meta de dar identidade à
literatura, arte e cultura brasileiras, o 2º tempo volta-se
para as realidades sociais, regionais e políticas do
Brasil.
• Diferente do 1º tempo também é a clara divisão entre
os autores que produziram prosa e aqueles que
produziram poesia

Prosa: Graciliano Ramos, Jorge Amado, Erico


Verissimo, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego
Poesia: Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de
Moraes, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Murilo Mendes
poesia
Características

- Crítica social (injustiças sociais, orientação


política, questões raciais, medo, repressão,
guerra)

- Retorno a uma forma mais tradicional (cada


poeta em parte de sua produção, em
momentos diferentes)

- Tendências: poesia metafísica (religiosa)


Autores

Murilo Mendes
Poesia Católica
Social
Revolucionária (1º tempo e concretismo)

Jorge de Lima
Poesia Católica
Social
(quase parnasiano) O acendedor de lampiões
“Poemas negros”
“Invenção de Orfeu” poema que percorre a tradição literária
(metalinguístico)
Cecília Meireles
Poesia neossimbolista
Melancolia e refreamento
Ponto de vista feminino
“Romanceiro da inconfidência” refaz poeticamente o momento
histórico da conjuração mineira

Vinícius de Moraes
Poesia Católica
Poesia social (“Operário em construção”)
Sensual e amorosa (sonetos)
Associação com a criação da Bossa nova
Carlos

Drummond
de Andrade
3 fases (bastante) distintas

1ª Fase: Descoberta da poesia (características muito próximas do 1º


tempo modernista) EU > MUNDO
Alguma Poesia (1930)

2ª Fase: Social (injustiças, medo, repressão) EU < MUNDO


Sentimento do Mundo (1940)
A Rosa do Povo (1945)

3ª Fase: Existencial (universal), reavaliação de vida e obra / retorno às


formas tradicionais (métrica, soneto) EU = MUNDO
Claro Enigma (1951)

EU = lirismo, subjetividade, sentimento, memória pessoal


MUNDO = realidade social, realidade histórica, memória coletiva
1ª Fase
EU > MUNDO
Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto Meu Deus, por que me abandonaste


desses que vivem na sombra se sabias que eu não era Deus
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. se sabias que eu era fraco.

As casas espiam os homens Mundo mundo vasto mundo,


que correm atrás de mulheres. se eu me chamasse Raimundo
A tarde talvez fosse azul, seria uma rima, não seria uma solução.
não houvesse tantos desejos. Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas. Eu não devia te dizer
Para que tanta perna, meu Deus, mas essa lua
[pergunta meu coração. mas esse conhaque
Porém meus olhos botam a gente comovido como o diabo.
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode


é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,
Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras


mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.


Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.


2ª Fase
EU < MUNDO
SENTIMENTO DO MUNDO

Tenho apenas duas mãos


e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu


estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
Quando os corpos passarem,
o pântano sem acordes.
eu ficarei sozinho
Os camaradas não disseram desfiando a recordação
que havia uma guerra do sineiro, da viúva e do microscopista
e era necessário que habitavam a barraca
e não foram encontrados
trazer fogo e alimento.
ao amanhecer
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço esse amanhecer
que me perdoeis. mais noite que a noite.
A noite dissolve os homens

A noite desceu. Que noite! Aurora,


Já não enxergo meus irmãos. entretanto eu te diviso, ainda tímida,
e nem tampouco os rumores inexperiente das luzes que vais acender
que outrora me perturbavam. e dos bens que repartirás com os homens.
A noite desceu. nas casas, Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
nas ruas onde se combate, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
nos campos desfalecidos, O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
a noite espalhou o medo teus dedos frios, que ainda se não modelaram
e a total incompreensão. mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
A noite caiu. tremenda, minha fadiga encontrará em ti o seu ermo,
sem esperança... os suspiros minha carne estremece na certeza de tua vinda.
acusam a presença negra o suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
que paralisa os guerreiros. Os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
e o amor não abre caminho uma inocência, um perdão simples e macio...
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências, Havemos de amanhecer. o mundo
a noite dissolve os homens, se tinge com tintas da antemanhã
diz que é inútil sofrer, e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
a noite dissolve as pátrias, para cobrir tuas pálidas faces, aurora.
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
o mundo não tem remédio...
os suicidas tinham razão.
MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,


não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,


a vida presente.
Mundo Grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.


É muito menor. Meu coração não sabe.
Nele não cabem nem as minhas dores. Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Por isso gosto tanto de me contar. Só agora descubro
Por isso me dispo, como é triste ignorar certas coisas.
por isso me grito, (Na solidão de indivíduo
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: desaprendi a linguagem
preciso de todos. com que homens se comunicam.)

Sim, meu coração é muito pequeno. Outrora escutei os anjos,


Só agora vejo que nele não cabem os homens. as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Os homens estão cá fora, estão na rua. Nunca escutei voz de gente.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. Em verdade sou muito pobre.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo. Outrora viajei
O mundo é grande. países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Meus amigos foram às ilhas.
Viste as diferentes cores dos homens, Ilhas perdem o homem.
as diferentes dores dos homens, Entretanto alguns se salvaram e
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso trouxeram a notícia
num só peito de homem... sem que ele estale. de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros, Então, meu coração também pode crescer.
tão calma, não anuncia nada. Entre o amor e o fogo,
Entretanto escorre nas mãos, entre a vida e o fogo,
tão calma! Vai inundando tudo... meu coração cresce dez metros e explode.
Renascerão as cidades submersas? – Ó vida futura! Nós te criaremos.
Os homens submersos – voltarão?
3ª Fase
EU = MUNDO
DISSOLUÇÃO

Escurece, e não me seduz E aquele agressivo espírito


tatear sequer uma lâmpada. que o dia carreia consigo,
Pois que aprouve ao dia findar, já não oprime. Assim a paz,
aceito a noite. destroçada.

E com ela aceito que brote Vai durar mil anos, ou


uma ordem outra de seres extinguir-se na cor do galo?
e coisas não figuradas. Esta rosa é definitiva,
Braços cruzados. ainda que pobre.

Vazio de quanto amávamos, Imaginação, falsa demente,


mais vasto é o céu. Povoações já te desprezo. E tu, palavra.
surgem do vácuo. No mundo, perene trânsito,
Habito alguma? calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.
OFICINA IRRITADA

Eu quero compor um soneto duro


como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,


não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuro


há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,


cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
prosa
Características
- Volta-se para questões sociais do Brasil
(neorrealismo).
- Volta-se para regiões específicas em que
cada autor vive. (REGIONALISMO)
- A linguagem não tem mais o interesse
revolucionário, mas mantém os registros
coloquiais e regionais.
- Adesão dos autores às ideias marxistas.
Autores
Erico Verissimo Rio Grande do Sul
Caminhos cruzados – romance urbano de crítica social
O Tempo e o vento – formação cultural e política do RS

Raquel de Queiroz Ceará


O Quinze - Conta a seca histórica de 1915. Relata de vida de
emigrantes: êxodo rural.

José Lins do Rego Paraíba


Fogo Morto - Ciclo da cana-de-açúcar
Jorge Amado Bahia
- Ciclo do cacau – Terras do Sem-fim, Cacau, Suor
- Romances urbanos – Capitães da Areia
- Romances de costumes: cultura da Bahia, sincretismo religioso,
sensualidade – Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois
maridos; Tiêta
Graciliano Ramos Alagoas
VIDAS SECAS
- Narração em 3ª pessoa
- Caráter Circular
- Capítulos desmontáveis
- Opressão: natureza (seca); sociedade (patrão); governo (soldado
amarelo)
- Zoomorfização: Fabiano, Sinha Vitoria, Menino mais velho, Menino mais
novo
- Antropomorfização da Baleia

ANGÚSTIA
- Narração em 1ª pessoa: Luís da Silva
- Fluxo de consciência
-Personagem oprimido pelo passado, pela culpa e inconformado com a
vida que leva
- Rememoração do último ano: paixão por Marina, assassinato de Julião
Tavares
- Rememoração dos seus 35 anos: educação severa da pai e do avô,
perda gradual dos bens, por estes, que deixam Luís na pobreza.

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