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MODERNISMO SEGUNDA GERAÇÃO

MISTICISMO E CONSCIÊNCIA SOCIAL


UM MUNDO ÀS AVESSAS: GUERRA E
AUTORITARISMO

• O CRACK DA BOLSA DE VALORES, EM 1929.


• A REVOLUÇÃO DE 1930.
• A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA, EM
1932.
• A ASCENSÃO DO NAZI-FASCISMO.
• O ESTADO NOVO DE VARGAS.
• A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
• AS BOMBAS ATÔMICAS EM HIROSHIMA E
NAGASAKI.
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“Meus olhos são pequenos para ver
O mundo que se esvai em sujo e sangue”

Carlos Drummond de Andrade, 1944.


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A consolidação de uma estética

• 1930: publicação de “Alguma


poesia”, de Drummond. • Os agentes do discurso: condições de
produção e circulação.
• Projeto literário: • A segunda geração modernista e o
público.
→ reflexão sobre o sentido de estar no
mundo; • Tendências diversas na linguagem.
→ preocupação com a renovação da • Carlos Drummond de Andrade.
linguagem;
• Vinícius de Moraes.
→ espiritualidade manifestada na
dificuldade de se compreender Deus; • Cecília Meireles.
→ Análise do ser humano e de suas • Murilo Mendes.
angústias; • Jorge de Lima.
→ Foco no contexto sociopolítico.

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“E agora, josé?”

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Carlos Drummond de andrade
• A estreia: “No meio do caminho”.
• Poeta do finito e da matéria: “Poema
de sete faces”.
• Viagem na memória: “Infância”.
• O engajamento social: “Mãos dadas”;
“Os inocentes do Leblon”.
• O exercício incansável da reflexão:
“Um boi vê os homens”.
• Fazer poético como ação e
transformação: “Consideração do
poema”.
• A concha vazia do amor: “Amar”.
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No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento


Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

7
O bonde passa cheio de
pernas:
Quando nasci, um anjo pernas brancas pretas Mundo mundo vasto
torto amarelas. mundo,
desses que vivem na Para que tanta perna, meu se eu me chamasse
sombra Deus, Raimundo
disse: Vai, Carlos! ser pergunta meu coração. seria uma rima, não seria
gauche na vida. Porém meus olhos uma solução.
não perguntam nada. Mundo mundo vasto
As casas espiam os mundo,
homens O homem atrás do bigode mais vasto é meu
que correm atrás de é sério, simples e forte. coração.
mulheres. Quase não conversa.
A tarde talvez fosse Tem poucos, raros amigos Eu não devia te dizer
azul, o homem atrás dos óculos e mas essa lua
não houvesse tantos do bigode, mas esse conhaque
desejos. Meu Deus, por que me botam a gente comovido
abandonaste como o diabo.
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
8
Meu pai montava a cavalo,
ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada
cosendo. Minha mãe ficava sentada
Meu irmão pequeno dormia. cosendo
Eu sozinho menino entre olhando para mim:
mangueiras — Psiu... Não acorde o menino.
lia a história de Robinson Para o berço onde pousou um
Crusoé, mosquito.
comprida história que não E dava um suspiro... que
acaba mais. fundo!
No meio-dia branco de luz Lá longe meu pai campeava
uma voz que aprendeu no mato sem fim da fazenda.
a ninar nos longes da E eu não sabia que minha
senzala – e nunca se história
esqueceu era mais bonita que a de
chamava para o café. Robinson Crusoé.
Café preto que nem a preta
velha
café gostoso
café bom.
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Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,


não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes,
a vida presente.

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Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo
ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.

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e comum a cada um de nós, Têm, talvez,
Tão delicados (mais que no espaço. E ficam tristes certa graça melancólica
um arbusto) e correm e no rasto da tristeza (um minuto) e com isto se
e correm de um para chegam à crueldade. fazem
outro lado, sempre Toda a expressão deles perdoar a agitação
esquecidos mora nos olhos — e perde- incômoda e o translúcido
de alguma coisa. se vazio interior que os
Certamente, falta-lhes a um simples baixar de torna tão pobres e
não sei que atributo cílios, a uma sombra. carecidos
essencial, posto se de emitir sons absurdos e
Nada nos pelos, nos
agônicos: desejo, amor,
apresentem nobres extremos de inconcebível
ciúme
e graves, por vezes. Ah, fragilidade, (que sabemos nós?), sons
espantosamente graves, e como neles há pouca que se despedaçam e
até sinistros. Coitados, montanha, tombam no campo
dir-se-ia não escutam e que secura e que como pedras aflitas e
nem o canto do ar nem os reentrâncias e que queimam a erva e a água,
segredos do feno, impossibilidade de se e difícil, depois disto, é
como também parecem organizarem em formas ruminarmos nossa
não enxergar o que é calmas, verdade.
visível permanentes12e necessárias.
Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
- Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?

Poeta do finito e da matéria,


cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.

Saber que há tudo. E mover-se em meio


a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí o meu canto.

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Amar solenemente as
Que pode uma criatura palmas do deserto,
senão, o que é entrega ou
entre criaturas, amar? adoração expectante,
amar e esquecer, e amar o inóspito, o áspero,
amar e malamar, um vaso sem flor, um chão
amar, desamar, amar? de ferro, Amar a nossa falta
sempre, e até de olhos e o peito inerte, e a rua mesma de amor, e na
vidrados, amar? vista em sonho, e uma ave secura nossa
de rapina. amar a água implícita, e
Que pode, pergunto, o ser o beijo tácito, e a sede
amoroso, Este o nosso destino: amor infinita.
sozinho, em rotação sem conta,
universal, senão distribuído pelas coisas
rodar também, e amar? pérfidas ou nulas,
amar o que o mar traz à doação ilimitada a uma
praia, completa ingratidão,
e o que ele sepulta, e o e na concha vazia do amor
que, na brisa marinha, a procura medrosa,
é sal, ou precisão de paciente, de mais e mais
amor, ou simples ânsia? amor. 14

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