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Literatura

Romantismo: Poesia (2ª Geração)

Teoria

2ª Geração Romântica
“Se na década de 40 amadureceu a tradição literária nacionalista, nos anos que lhe seguiram, ditos da
“segunda geração romântica”, a poesia brasileira percorrerá os meandros do extremo subjetivismo, à
Byron e à Musset. A lguns poetas adolescentes, mortos antes de tocarem a plena juventurde, darão
exemplo de toda uma temática emotiva de amor e morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio”.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Ed Cultrix 52º Edição, 2018.

Com inspiração nas obras dos poetas Lord Byron e Goethe, a Segunda Fase do Romantismo,
conhecida também como “mal do século” é caracterizada pelo alto sentimentalismo. Algumas
décadas depois da independência do Brasil, os poetas começaram a se desvincular do compromisso
com a nacionalidade, exaltado na geração anterior e, com isso, há uma expressão maior de seus
sentimentos, numa posição egocêntrica de desinteresse ao contexto histórico.
Os ideais da Revolução Francesa - grande marco para o início do Romantismo na Europa -, “liberdade,
igualdade e fraternidade” já não eram mais propagados com a mesma força e, nesse período, o
homem passa a desacreditar nesses valores. Há um enorme sentimento de insatisfação com o
mundo, um “desencaixe” do ser humano com a vida, uma sensação de falta de conexão com a
realidade. Tudo isso provoca um pessimismo no eu-lírico, causando uma aproximação com a morte
e atração pelo elemento noturno/obscuro.

Características principais:
● Pessimismo;
● Atração pela noite/noturno;
● Sentimentalismo;
● Fuga à realidade;
● Idealização amorosa;
● A amada/musa inatingível;
● Figura feminina representando a pureza – anjo, criança, virgem;
● Idealização do amor x medo de amar.

Dentre os principais autores da época, podemos citar: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu,
Fagundes Varela e Junqueira Freire.

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Representação de Álvares de Azevedo.

Textos de apoio
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho Em vez das mágoas de agora,
Da aurora da minha vida, Eu tinha nessas delícias
Da minha infância querida De minha mãe as carícias
Que os anos não trazem mais! E beijos de minha irmã!
Que amor, que sonhos, que flores, Livre filho das montanhas,
Naquelas tardes fagueiras Eu ia bem satisfeito,
À sombra das bananeiras, Da camisa aberto o peito,
Debaixo dos laranjais! – Pés descalços, braços nus –
Como são belos os dias Correndo pelas campinas
De despontar da existência! À roda das cachoeiras,
– Respira a alma inocência Atrás das asas ligeiras
Como perfumes a flor; Das borboletas azuis!
O mar é – lago sereno, Naqueles tempos ditosos
O céu – um manto azulado, Ia colher as pitangas,
O mundo – um sonho dourado, Trepava a tirar as mangas,
A vida – um hino d’amor! Brincava à beira do mar;
Que auroras, que sol, que vida, Rezava às Ave-Marias,
Que noites de melodia Achava o céu sempre lindo,
Naquela doce alegria, Adormecia sorrindo
Naquele ingênuo folgar! E despertava a cantar!
O céu bordado d´estrelas, […]
A terra de aromas cheia, Oh! que saudades que tenho
As ondas beijando a areia Da aurora da minha vida,
E a lua beijando o mar! Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Oh! dias de minha infância!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Oh! meu céu de primavera! Naquelas tardes fagueiras
Que doce a vida não era À sombra das bananeiras,
Nessa risonha manhã! Debaixo dos laranjais!
Casimiro de Abreu

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Morte (hora de delírio)

Pensamento gentil de paz eterna,


Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.

Pensamento gentil de paz eterna,


Amiga morte, vem. Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada.
(...)
Amei-te sempre: — e pertencer-te quero
Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra — esse elemento;
Que não se sente dos vaivéns da sorte.
(...)
Também desta vida à campa
Não transporto uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.

E como um autômato infante


Que ainda não sabe mentir,
o pé da morte querida
ei de insensato sorrir.

Por minha face sinistra


Meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
Terrores ninguém lerá.

Não achei na terra amores


Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu - adeus.

GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva
Ramos. São Paulo. LEP, 1959. v.2, p.62-6

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Exercícios

1. Leia atentamente os versos seguintes:


Eu deixo a vida com deixa o tédio
Do deserto o poeta caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um mineiro.

Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:


a) revolta diante da morte.
b) aceitação da vida como um longo pesadelo.
c) aceitação da morte como a solução.
d) tristeza pelas condições de vida.
e) alegria pela vida longa que teve.

2. Se uma lágrima as pálpebras me inunda,


Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Álvares de Azevedo
A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:
a) o espiritualismo
b) o pessimismo
c) a idealização da mulher
d) o confessionalismo
e) a presença do sonho

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3. Nos versos, evidenciam-se as seguintes características românticas:

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(Casimiro de Abreu)

a) nacionalismo e religiosidade.
b) sentimentalismo e saudosismo.
c) subjetivismo e condoreirismo.
d) egocentrismo e medievalismo.
e) byronismo e idealização do amor

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4. Leia o fragmento e observe a imagem para responder à questão


É ela! é ela! — murmurei tremendo, Esta noite eu ousei mais atrevido, n
e o eco ao longe murmurou — é ela! as telhas que estalavam nos meus passos,
Eu a vi... minha fada aérea e pura ir espiar seu venturoso sono,
— a minha lavadeira na janela. vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Dessas águas furtadas onde eu moro Como dormia! que profundo sono!...
eu a vejo estendendo no telhado Tinha na mão o ferro do engomado...
os vestidos de chita, as saias brancas; Como roncava maviosa e pura!...
eu a vejo e suspiro enamorado! Quase caí na rua desmaiado!

AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela. In: Álvares de Azevedo. São Paulo:
Abril Educação, 1982. p. 44. MARTIN-KAVEL, François. Sem título. Disponível em: . Acesso em: 14. mar. 2016.

Tanto a pintura quanto o excerto apresentados pertencem ao Romantismo. A diferença entre


ambos, porém, diz respeito ao fato de que
a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado, ao passo que no quadro tem-se
uma figura retratada de modo pejorativo.
b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições austeras, ao passo que no poema
nota-se a descrição de uma mulher sofisticada.
c) no excerto tem-se a descrição realista e não idealizada de uma mulher, ao passo que na
pintura retratase uma mulher pertencente à burguesia.
d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é abstrata, ao passo que no poema
tem-se uma mulher cujo aspecto é burguês e requintado.
e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, ao passo que no poema nota-
se a caracterização de uma donzela de vida airada.

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5. Soneto

Oh! Páginas da vida que eu amava,


Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui!como eu pensava


Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora — é meu destino. Em treva densa


Dentro do peito a existência finda
Pressinto a morte na fatal doença!

A mim a solidão da noite infinda


Possa dormir o trovador sem crença.
Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura


brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação
romântica identifica-se com a(o)
a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.
b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã.
c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.
d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.
e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.

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Gabarito

1. C
A morte é tema recorrente na segunda geração romântica, vista muitas vezes como a única
saída para as desilusões e limitações da vida.

2. C
No poema, podemos ver que a mulher amada pelo eu lírico é caracterizada como virgem e de
face lida. Isso demonstra uma idealização feminina, característica marcante dessa época.

3. B
No poema de Casimiro de Abreu, conseguimos perceber a apresentação de sentimentos do eu
lírico e um sentimento de saudosismo à infância. No Romantismo, era muito comum os autores
produzirem uma fuga imaginária frente à realidade de suas vidas, com isso, a infância era um
dos momentos mais retomados, que relembrava a pureza e inocência da época.

4. C
As demais alternativas estão incorretas porque não há tom pejorativo na descrição da mulher,
ela é idealizada; em relação à pintura, a mulher é delicada e de feições leves, no poema, ela é
descrita como uma lavadeira na lida, além de não ser abstrata, contém um certo realismo por
ser um retrato;

5. E
Entre as principais características Românticas da Segunda Geração, encontram-se destacados
o culto à noite e a valorização da morte no poema de Álvares de Azevedo. Na última estrofe,
percebemos que o eu lírico se despede da mãe, como se a morte o fosse certeira e próxima.

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Exercícios sobre Romantismo: Poesia (3ª Geração)

Exercícios

1. (PUC) Para compreender o verdadeiro milagre literário que foi a poesia negra de Castro Alves,
lembremos, mais uma vez, o que se disse do indianismo – sentimento de compensação para um povo
mestiço, de história curta, graças à glorificação do autóctene, já celebrado por escritores europeus e
bastante afastado da vida corrente para suportar a deformação do ideal. O negro, pelo contrário, era a
realidade degradante, sem categoria de arte, sem lenda heroica. Admitir a ancestralidade indígena foi
orgulho bem cedo vigoroso, graças à possibilidade de escamotear, por meio dela, a origem africana de
uma cor bronzeada – origem que ninguém acusava, podendo-a disfarçar. Trazer o negro à literatura,
como herói, foi portanto um feito apenas compreensível à luz da vocação retórica daquele tempo,
facilmente predisposto à generosidade humanitária.
(...)
A idealização, porém, agindo no terreno lírico, permitiu impor o escravo à sensibilidade burguesa, não
como espoliado ou mártir, mas, o que é mais difícil, como ser igual aos demais no amor, no pranto, na
maternidade, na cólera, na ternura. Essa mesma idealização que já havia dado um penacho
medievalesco ao bugre, conseguiu impor a dignidade humana do negro graças à poetização de sua
vida afetiva. Castro Alves se tornou um poeta por excelência do escravo ao lhe dar não só um brado de
revolta, mas uma atmosfera de dignidade lírica, em que os seus sentimentos podiam encontrar amparo;
ao garantir à sua dor, ao seu amor, a categoria reservada aos do branco, ou do índio literário.
(...)
(Antonio Candido. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1971. 2.v, p. 275)
O crítico considera que a poesia negra de Castro Alves constituiu um verdadeiro milagre literário porque
a) a figura do índio já havia atendido à exigência de se considerar a mestiçagem como um fator
positivo para a cultura nacional.
b) a figura do escravo não estava associada a idealizações e a convenções literárias que a tornassem
heroica.
c) a figura do mestiço não se representara, em outras literaturas, com um prestígio equivalente ao do
índio.
d) a figura do escravo já fora amplamente celebrada em outras literaturas, sobretudo as europeias.
e) os tipos populares, sobretudo os das camadas sociais mais baixas, já haviam sido representados
à exaustão no início do século XIX.

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2. A Cruz da Estrada
Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
(...)
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.
(...)
Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
(Alves, Castro. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro: MEC. P. 247-8, 1947)
O texto acima explora de forma bem significativa a temática da escravidão. Transcreva do texto a
expressão figurada que melhor representa o sofrimento do escravo durante este período de opressão
social.

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3. O Livro e a América
Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir
– Estatuário de colossos –
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
Da minha eterna oficina ...
Tira a América de lá"
.......................................................
Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro – esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo ...
Eólo de pensamentos
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou! ...
.......................................................
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto –
As almas buscam beber ...
Oh! Bendito o que semeia
Livros ... livros à mão cheia ...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.
.......................................................
(ALVES, Castro. Obra Completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1986. p. 76-78.)
Uma característica marcante dos poetas da última fase do Romantismo, especialmente presente no
poema de Castro Alves, é:
a) ao tom declamatório e engajado
b) o uso de versos brancos e livres
c) o escapismo como temática e proposta
d) a citação dos poetas barrocos e árcades

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4. Contrariamente aos primeiros românticos, Castro Alves, em seu sentimentalismo amoroso, “percorre a
gama completa da carne e do espírito”, segundo o crítico literário Antônio Cândido.
(A formação da literatura brasileira. 7 ed., v. 2. Belo Horizonte; Rio de Janeiro: Itatiaia, 1993.)

Os versos de Alves, abaixo, que melhor caracterizam a afirmativa de Candido são:


a) “Queres voltar a este pais maldito
Onde a alegria e o riso te deixaram?
Eu não sei tua história... mas que importa?”
b) “Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço no tapete rente.”
c) “Deus! Ó Deus! onde estas que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embucado nos céus?”
d) “Stamos em pleno mar...
Doudo no espaco
Brinca o luar — doirada borboleta —
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.”
e) “No ceu dos trópicos
P’ra sempre brilha,
Ó noite esplêndida,
Que as ondas trilha.”

5. Texto 1
Vinte anos! derramei-os gota a gota Texto 2
Num abismo de dor e esquecimento... Boa noite, Maria! E eu vou-me embora,
De fogosas visões nutri meu peito... A lua nas janelas bate em cheio.
Vinte anos!... não vivi um só momento! Boa noite, Maria! É tarde... é tarde...
Eu sonhei tanto amor, tantas venturas, Não me apertes assim contra teu seio.
Tantas noites de febre e d’esperança Boa noite!... E tu me dizes – Boa noite.
Mas hoje o coração desbota, esfria, Mas não digas assim por entre beijos...
E do peito no túmulo descansa! Mas não me digas descobrindo o peito,
(Álvares de Azevedo) Mar de amor onde vagam meus desejos.
(Castro Alves)

Embora os fragmentos acima sejam de autores que pertencem ao mesmo estilo literário, a concepção
da mulher amada e a abordagem do sentimento de amor divergem. Explique a afirmativa anterior.

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Gabarito

1. B
A figura do negro não foi idealizada e nem heroificada por Castro Alves, e, sim, exibida em sua literatura
de maneira humana.

2. “Insônia atroz”, expressão que representa o estado permanente de tensão que perseguia a condição de
vida do escravizado.

3. A
O tom declamatório se manifesta no poema por meio da expressividade garantida pelas pontuações,
além de versos que mostram essa declamação, como em “Oh! Bendito o que semeia/ Livros ... livros à
mão cheia ...”. Quanto ao caráter engajado, nota-se a importância das questões sociais no poema em
questão. Logo, a alternativa correta é a letra a).

4. B
Na 2ª geração poética romântica, a expressão amorosa não é realizada, diferentemente da lírica de
Castro Alves que apresenta um caráter mais carnal e erótico. Assim, os versos que mais trazem essa
aproximação física são os presentes na afirmativa b), por meio da apresentação sensual da figura
feminina, como no trecho “Quase aberto o roupão...”.

5. No primeiro fragmento, pertencente à segunda geração romântica, temos o sentimento amoroso


apresentado como causador de sofrimento. O eu lírico mostra-se agonizante, infeliz, graças às ilusões
amorosas que teve. O amor e a mulher amada pertencem ao domínio do sonho, do delírio. No segundo
fragmento, pertencente à terceira geração, o amor é realizado, e a figura feminina possui existência
concreta: o eu lírico encontra-se no leito de sua amante, que o aperta contra seu seio, pedindo-lhe para
ficar. O amor, aqui erotizado, é mais real que no primeiro fragmento.

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Exercícios sobre Romantismo: Poesia (2ª Geração)

Exercícios

1. A segunda geração romântica, também conhecida como ultrarromântica, é caracterizada por cultivar o
“mal do século”: uma onda de pessimismo que se traduzia em atitudes e valores considerados
decadentes na época. Além disso, os poemas ultrarromânticos costumavam apresentar uma visão
dualista do amor, que envolve atração e medo. Assim, o amante, embora ame, teme a realização
amorosa. Os versos que evidenciam essa visão dualista romântica do amor são:
a) “Oh! Que saudades que tenho/ da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida/ Que os anos
não trazem mais!” (Casimiro de Abreu)
b) “Se de ti fujo é que te adoro e muito,/ És bela; eu moço – tens amor, eu – medo!...” (Casimiro de
Abreu)
c) “São uns olhos verdes, verdes/ Uns olhos de verde-mar,/ Quando o tempo vai bonança;/ Uns olhos
cor de esperança,/ Uns olhos por que morri;/ Que ai de mi!” (Gonçalves Dias)
d) “Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça/ Que rege minha vida malfadada,/ Pôs lá no fim da rua do
Catete/ A minha Dulcineia namorada” (Álvares de Azevedo)
e) “Boa noite, Maria! Eu vou-me embora./ A lua nas janelas bate em cheio./ Boa noite, Maria! É tarde...
É tarde.../ Não me apertes assim contra teu seio.” (Castro Alves)

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2. Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto


Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!
(AZEVEDO, Álvares de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2000)
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo
que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é:
a) A angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte.
b) A melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda.
c) O descontrole das emoções provocado pela autopiedade.
d) O desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa.
e) O gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.

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3. Despedidas à...
Se entrares, ó meu anjo, alguma vez Quando a noite vier saudosa e pura,
Na solidão onde eu sonhava em ti, Contempla a estrela do pastor nos céus,
Ah! vota uma saudade aos belos dias Quando a ela eu volver o olhar em prantos
Que a teus joelhos pálido vivi! Verei os olhos teus!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou Mas antes de partir, antes que a vida
chorando… Se afogue numa lágrima de dor,
Sinto o peito doer na despedida… Consente que em teus lábios num só beijo
Sem ti o mundo é um deserto escuro Eu suspire de amor!
E tu és minha vida…
Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Só por teus olhos eu viver podia Tua boca beijar eu o primeiro!
E por teu coração amar e crer, A ventura negou-me… até mesmo
Em teus braços minh’alma unir à tua O beijo derradeiro!
E em teu seio morrer!
Só contigo eu podia ser ditoso,
Mas se o fado me afasta da ventura, Em teus olhos sentir os lábios meus!
Levo no coração a tua imagem… Eu morro de ciúme e de saudade;
De noite mandarei-te os meus suspiros Adeus, meu anjo, adeus!
No murmúrio da aragem!

(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Grandes poetas românticos do Brasil.
São Paulo: LEP, Tomo 1,MCMLIX, p. 273)

A poética de Álvares de Azevedo filia-se a uma das fases mais representativas da literatura romântica
no Brasil, o “mal-do-século” ou ultrarromantismo. Destaque duas características dessa fase presentes
no poema, exemplificando a sua resposta com versos retirados do texto.

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4. TEXTO I
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e bem vês que eu morro
Respirando esse ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu de meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja já!
Eu quero ouvir cantar na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
ABREU, C. Poetas românticos brasileiros.São Paulo: Scipione, 1993.

TEXTO II
A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX,
introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o
sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia
sua aparição nessa época).
MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos.São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento).

De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, o Texto I centra-se


a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem,
já que o país sufoca o eu lírico.
b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à paisagem
agradável onde o eu lírico vivera a infância.
c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica rigorosa e na temática
voltada para o nacionalismo.
d) no anarquismo, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas opções
formais, seja pelos temas.
e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em oposição à infância,
marcada pela tristeza.

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5. Leia o poema apresentado a seguir.


Minha desgraça

Minha desgraça, não, não é ser poeta,


Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco...

Não é andar de cotovelos rotos,


Ter duro como pedra o travesseiro...
Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro...

Minha desgraça, ó cândida donzela,


O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.

AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p.
245-246.

No poema transcrito, a reflexão de caráter metalinguístico, expressa de forma satírica pelo eu lírico,
desconstrói a
a) figura idealizada das heroínas românticas.
b) ideia de supremacia da temática amorosa.
c) valoração da literatura para os artistas burgueses.
d) imagem sublimada da produção de um texto poético.
e) representação do poeta como ser questionador.

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Gabarito

1. B
Há, nos versos da alternativa b, a dualidade marcada pelas oposições apresentadas pelo sentimento do
eu lírico: “adoro” e “fujo”, “amor” e “medo”. O sujeito poético foge da figura feminina devido aos
sentimentos amorosos que possui por ela.

2. B
A ausência de reação causada pela melancolia do eu lírico, diante do sofrimento da perda, é algo que
extrapola o Romantismo da 2ª geração. Assim, trata-se de um lirismo melancólico que se aplica a
diferentes cenários, ou seja, não se limita a esta etapa literária.

3. Dentre as inúmeras características do “mal-do-século” presentes no poema, destacam-se as seguintes:


o sentimentalismo exagerado (“Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando…”, “Mas antes de partir, antes
que a vida, / Se afogue numa lágrima de dor”); o subjetivismo (“Só contigo eu podia ser ditoso, / Em teus
olhos sentir os lábios meus!”); o clima onírico (“Na solidão onde eu sonhava em ti” , “Sonhei muito! sonhei
noites ardentes”); o culto do sofrimento e da morte (“Sinto o peito doer na despedida” , “Eu morro de
ciúme e de saudade…”).

4. B
A característica que sustenta o texto de Casimiro de Abreu é o nacionalismo, ainda que seja um poema
da 2ª geração poética, visto que há um sentimento de saudosismo relacionado à pátria e sua paisagem
é descrita de forma positiva para o eu lírico.

5. B
O eu lírico em questão, diferentemente do romântico tradicional, que prioriza as discussões voltadas ao
sentimento e amor, se mostra apegado à questão financeira e material. Assim, há uma desconstrução
da relevância do amor na poesia, que, na obra, é colocado em segundo plano, inferior à importância do
dinheiro.

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Exercícios sobre Romantismo: Prosa (Parte 2)

Exercícios

Texto para as questões 1 e 2.

Iracema (fragmento)
Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais
longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava
sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde
pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
(José de Alencar)

1. (UECE) Ao caracterizar Iracema, José de Alencar relaciona-a a elementos da natureza, pondo


aquela em relação a esta em uma posição de
a) Equilíbrio
b) Dependência
c) Complementaridade
d) Vantagem

2. (UECE) Para descrever Iracema, Alencar emprega palavras que apelam principalmente
a) À razão
b) Aos sentidos
c) Aos sentimentos
d) À fantasia

1
Literatura

3. (PUC) Beijei na areia os sinais de teus passos, beijei os meus braços que tu havias apertado, beijei a
mão que te ultrajara num momento de loucura, e os meus próprios lábios que roçaram tua face num
beijo de perdão. Abençoei este sofrimento!... Era alguma coisa de ti, um ímpeto de tua alma, a tua cólera
e indignação, que tinham ficado em minha pessoa e entravam em mim para tomar posse do que te
pertencia. Pedi a Deus que tornasse indelével esse vestígio de tua ira, eu me santificara como uma
cousa tua! (...) Quero guardar-me toda só para ti. Vem, Augusto: eu te espero. A minha vida terminou;
começo agora a viver em ti.
(José de Alencar, Diva. Rio de Janeiro, Ediouro, 1996, p. 121)

O texto citado é um trecho do último capítulo de Diva, romance de Alencar que, ao lado de Senhora e
Lucíola, forma a trilogia de perfis femininos. Trata-se de uma carta escrita por Emília, protagonista da
estória, ao jovem médico Augusto. A partir da leitura do texto, indique as características românticas
presentes no fragmento, justificando com exemplos.

2
Literatura

Inocência

Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro mais despreocupado.
— Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha.
— Com muito gosto, concordou Cirino.
E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas cercas e rodear a casa toda, antes
de tomar a porta do fundo, fronteira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado das brancas
e olorosas flores.
— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de
graúnas1, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser
debaixo do arvoredo. É uma menina esquisita...
Parando no limiar da porta, continuou com expansão:
— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem
embatucar... Aqui, havia um livro de horas2 da minha defunta avó... Pois não é que um belo dia ela me
pediu que lhe ensinasse a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido
princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou3 ela com toda a clareza
é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados4
no pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio tonto. E se o Sr. visse os modos que tem com os
bichinhos?! ... Parece que está falando com eles e que os entende... (...)
Quando Cirino penetrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de maneira que, no primeiro olhar
que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar5 , além de diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas
camas, muito em uso no interior; altas e largas, feitas de tiras de couro engradadas. (...)
Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproximaram-se ambos do leito da enferma
que, achegando ao corpo e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se
encolheu toda, e voltou-se para os que entravam.
— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez.
— Boas noites, dona, saudou Cirino.
Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num
escabelo6 junto à cama e tomava o pulso à doente. Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe
o rosto, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca.
Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.
Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar
sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a
ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.
Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado. Ao
erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia,
deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.
Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo7 para sentir a mão fria e um tanto incerta, e não
poder atinar com o pulso de tão gentil cliente.
VISCONDE DE TAUNAY Inocência. São Paulo: Ática, 2011.

3
Literatura

Vocabulário
1 graúna - pássaro de plumagem negra, canto melodioso e hábitos eminentemente sociais
2 livro de horas - livro de preces
3 secundou - respondeu
4 lavrados - na província de Mato Grosso, colares de contas de ouro e adornos de ouro e prata
5 lobrigar - enxergar
6 escabelo - assento
7 facultativo - médico

4. (UERJ) A caracterização de Inocência confirma só parcialmente a idealização da heroína romântica.


Indique uma característica que Inocência apresenta em comum com as heroínas românticas e outra
que a torna diferente dessas heroínas. (3 linhas)

5. (UERJ)
— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar...
Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é que um belo dia ela me pediu que lhe
ensinasse a ler?... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe
retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça muito
boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço

O trecho acima faz referência a crenças e valores de Inocência e de seu pai, Pereira.
Apresente dois traços do comportamento de cada um desses personagens que revelam a diferença de
valores entre eles. Em seguida, indique a modalidade de romance em que tais personagens se inserem.

4
Literatura

6. (ENEM) O sertão e o sertanejo


“Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim
crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o
incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.
Minando à surda na touceira, queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, por débil
que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e vacilante
os espaços imensos que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com
mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal
da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda a parte
melancolia; de todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e parece
que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas jardins encantados
e nunca vistos. Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade.”
TAUNAY, Visconde de. Inocência.

O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia de nação. Considerando o


trecho acima, é possível reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições do
Romantismo para construção da identidade da nação é a:
a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza nacional, marcada pelo
subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de renovação.
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe dominante local, o que coibiu
a exploração desenfreada das riquezas naturais do país.
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia ou exaltação, de uma
imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza brasileira.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o sentimento de unidade do território
nacional e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros.
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do Brasil, formulando um
conceito de nação centrado nos modelos da nascente burguesia brasileira.

5
Literatura

Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe¹ em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se
porém do negócio, e viera ao Brasil. aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o
emprego de que o vemos empossado, o que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas
viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria de hortaliça, quitandeira das praças
de Lisboa, saloia² rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de
sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão³. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada
à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-
lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como
envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremando beliscão nas costas da
mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de
namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de
serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e
familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

Vocabulário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.

7. (FUVEST) Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre
Leonardo e Maria:
a) manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em
oposição ao refinamento dos brasileiros.
b) revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares,
mas de maneiras respeitosa a aristocracia e o clero.
c) reduz as relações amorosas a seus aspetos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do
Naturalismo.
d) opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante do
Romantismo.
e) evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial escravista.

6
Literatura

O garimpeiro

Lúcia tinha dezoito anos, seus cabelos eram da cor do jacarandá brunido, seus olhos também eram
assim, castanhos bem escuros. Este tipo, que não é muito comum, dá uma graça e suavidade indefinível
à fisionomia.
Sua tez era o meio termo entre o alvo e o moreno, que é, a meu ver, a mais amável de todas as cores.
Suas feições, ainda que não eram de irrepreensível regularidade, eram indicadas por linhas suaves e
harmoniosas. Era bem feita, e de alta e garbosa estatura.
Retirada na solidão da fazenda paterna, desde que saíra da escola, Lúcia crescera como o arbusto do
deserto, desenvolvendo em plena liberdade todas as suas graças naturais, e conservando ao lado dos
encantos da puberdade toda a singeleza e inocência da infância.
Lúcia não tinha uma dessas cinturas tão estreitas que se possam abranger entre os dedos das mãos;
mas era fina e flexível. Suas mãos e pés não eram dessa pequenez e delicadeza hiperbólica, de que os
romancistas fazem um dos principais méritos das suas heroínas; mas eram bem feitos e proporcionados.
Lúcia não era uma dessas fadas de formas aéreas e vaporosas, uma sílfide ou uma bayadère*, dessas
que fazem o encanto dos salões do luxo. Tomá-la-íeis antes por uma das companheiras de Diana a
caçadora, de formas esbeltas, mas vigorosas, de singelo mas gracioso gesto.
Todavia era dotada de certa elegância natural, e de uma delicadeza de sentimentos que não se
esperaria encontrar em uma roceira.

(Bernardo Guimarães. O garimpeiro — romance. Rio de Janeiro: B.L. Garnier Livreiro-Editor do Instituto, 1872, p. 14-16.)

(*) Bayadère (francês): dançarina das Índias, dançarina de teatro.

8. (VUNESP) Na descrição da beleza das mulheres, os escritores nem sempre se restringem à realidade,
mesclando aspectos reais e ideais. Uma das características do Romantismo, a esse respeito, era a forte
tendência para a idealização, embora nem todos os ficcionistas a adotassem como regra dominante.
Com base nestas informações, releia atentamente o quarto parágrafo do fragmento de O Garimpeiro e
identifique na descrição da personagem Lúcia uma atitude crítica do narrador ao idealismo romântico.

7
Literatura

Gabarito

1. D
Nessa questão, é preciso observar que os elementos da natureza nunca chegam perto da excelência
de Iracema. A adjetivação da personagem a coloca sempre acima das demais criaturas e elementos.

2. B
Há uma recorrência de apelos aos sentidos físicos, sensoriais. Em “virgem dos lábios de mel”, há a
referência ao paladar quanto ao sabor do “mel”, assim como em “O favo da jati não era doce como o
seu sorriso”. Ocorre, também, a alusão ao sentido do olfato, como em “seu hálito perfumado”. Nota-se,
enfim, a menção à visão, como em “cabelos mais negros que a asa da graúna”.

3. Acentuado subjetivismo, por meio do uso recorrente da 1ª pessoa; idealização da figura feminina, como
a devoção dessa mulher diante dele, em “Quero guardar-me toda só para ti”; culto ao sofrimento em
“Abençoei este sofrimento!...” e, por fim, o apelo religioso em “Pedi a Deus que tornasse indelével esse
vestígio de tua ira”.

4. Fisicamente, Inocência possui uma semelhança com as heroínas tradicionalmente românticas, devido
a seus traços. Somado a isso, ela também se mostra uma pessoa sonhadora, que idealiza o mundo.
Por outro lado, o que destoa da idealização romântica é o fato de ela ser iletrada (apesar de querer
aprender a ler) e morar no campo - traços que a distinguem das figuras femininas românticas
burguesas.

5. O pai de Inocência se mostra como um indivíduo autoritário, repressor e que discorda dos hábitos da
filha. Ela, no entanto, não se submete ao posicionamento do progenitor; logo, traz como característica
a ousadia. A personagem também se mostra uma pessoa curiosa, que busca aprender a ler, conforme
pontuado na questão anterior (4). A modalidade de romance na qual ambos os personagens se inserem
é o romance regionalista.

6. D
Uma das características do romance regional é descrever locais mais afastados da capital,
contribuindo para a expansão e conhecimento de regiões que, até então, não eram exploradas no
âmbito literário, como também para a possibilidade de conhecer e valorizar o cenário brasileiro e suas
enormes diversidades regionais, o que percebe-se no trecho da obra “Inocência”.

7. D
A narração sobre o início do relacionamento de Leonardo e Maria foge da esperada idealização
romântica, afinal, a intimidade do casal surge a partir de pisadelas e beliscões.

8. A descrição da personagem Lúcia não é feita de modo idealizado, perfeito, como ocorre na tradição
romântica; pelo contrário, a mulher é apresentada de forma verossímil, sem possuir mãos e pés que
tivessem uma “pequenez hiperbólica”, ou seja, exageradamente pequenos, como outros autores do
período literário em questão buscavam reforçar. Por meio dessa apresentação, portanto, a crítica ao
movimento é estabelecida.
8
Literatura

Exercícios sobre Romantismo: Prosa (parte 1)

Exercícios

1. (FUVEST – SP)
Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade.
Era rica e formosa.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem,
como o raio de sol no prisma do diamante.
Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da Corte como brilhante
meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor?
(José de Alencar, fragmento de Senhora)

Esse trecho inicia a caracterização de uma das personagens do romance. Trata-se de um tipo de
caracterização romântica? Por quê?

2. (UFV-MG) A ficção romântica é repleta de sentimentalismos, inquietações, amor como única


possibilidade de realização, personagens burgueses idealizados, culminando sempre com o habitual
"... e foram felizes para sempre". Assinale a alternativa que não corresponde à afirmação acima:
a) Amor constitui o objetivo fundamental da existência e o casamento, o fim último da vida.
b) Não há defesa intransigente do casamento e da continência sexual anterior a ele.
c) A frustração amorosa leva, incondicionalmente, à morte.
d) Os protagonistas são retratados como personagens belos, puros e corajosos.
e) A economia burguesa determina os gostos e a maneira de ver o mundo ficcional romântico.

3. (USC) A respeito do Romantismo no Brasil, pode-se afirmar que:


a) sua ação nacionalista deu origem às condições políticas que propiciaram a nossa Independência;
b) coincidiu com o momento decisivo de definição da nacionalidade e colaborou para essa definição;
c) espelhou sempre as influências estrangeiras, em nada aproveitando os costumes e a cor locais;
d) foi decisivo para o amadurecimento dos sentimentos nativistas que culminaram na Inconfidência
Mineira;
e) ganhou relevo apenas na poesia, talvez por falta de talentos no cultivo da ficção.

1
Literatura

Texto para as questões 4, 5 e 6.

Escreverei minhas Memórias, fato mais frequentemente do que se pensa observado no mundo
industrial, artístico, científico e sobretudo no mundo político, onde muita gente boa se faz elogiar e
aplaudir em brilhantes artigos biográficos tão espontâneos, como os ramalhetes e as coroas de flores
que as atrizes compram para que lhos atirem na cena os comparsas comissionados.
Eu reputo esta prática muito justa e muito natural; porque não compreendo amor e ainda amor
apaixonado mais justificável do que aquele que sentimos pela nossa própria pessoa.
O amor do eu é e sempre será a pedra angular da sociedade humana, o regulador dos sentimentos, o
móvel das ações, e o farol do futuro: do amor do eu nasce o amor do lar doméstico, deste o amor do
município, deste o amor da província, deste o amor da nação, anéis de uma cadeia de amores que os
tolos julgam que sentem e tomam ao sério, e que certos maganões envernizam, mistificando a
humanidade para simular abnegação e virtudes que não têm no coração e que eu com a minha
exemplar franqueza simplifico, reduzindo todos à sua expressão original e verdadeira, e dizendo, lar,
município, província, nação, têm a flama dos amores que lhes dispenso nos reflexos do amor em que
me abraso por mim mesmo: todos eles são o amor do eu e nada mais. A diferença está em simples
nuanças determinadas pela maior ou menor proporção dos interesses e das conveniências materiais
do apaixonado adorador de si mesmo.
(MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho de meu tio. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.)

4. (UERJ) No texto, o uso da primeira pessoa na escrita das Memórias tem um efeito de:
a) construir uma narrativa impessoal e neutra
b) seguir o modelo típico do texto jornalístico
c) manifestar no discurso a opinião do destinatário
d) expressar na forma o ponto de vista do narrador

5. (UERJ) O primeiro parágrafo do texto de Joaquim Manuel de Macedo antecipa que o conteúdo das
Memórias será:
a) um brilhante artigo biográfico sobre personalidades mundanas
b) uma visão muito favorável às ações do narrador autobiográfico
c) uma observação sobre o mundo industrial, artístico, científico e político
d) um ressentimento contra os perigos do memorialismo nos meios artísticos

6. (UERJ) No esquema de prioridades estabelecidas pelo narrador do texto, a primazia é:


a) do lirismo sobre a objetividade
b) do romantismo sobre o realismo
c) do amor do eu sobre o amor da nação
d) das conveniências materiais sobre os interesses pessoais

2
Literatura

Texto para as questões 7 e 8.

Como e porque sou romancista


Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas
as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, passava-se à leitura e era eu chamado ao
lugar de honra.
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um
folguedo querido; já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição.
Compensavam esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se
em recriminações contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói
perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, lia com expressão uma das páginas
mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e
poucos momentos depois não puderam conter os soluços que rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o
livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e
suas amigas.
Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já
assustado com o choro que ouvira ao entrar – Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais
perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus
remoques, não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada
homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e
outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a
natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a
tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?
Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das
primeiras impressões.
JOSÉ DE ALENCAR, Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.

3
Literatura

7. (UERJ) A reação do Padre Carlos é muito diferente daquela que apresentam as senhoras diante da
“morte” do personagem, situação que, no texto, é demarcada também pelo emprego de certas palavras.
A diferença entre a reação das senhoras e a do Padre Carlos é indicada pelo uso das seguintes palavras:
a) consolo – riso
b) lágrimas – desgraça
c) homérica – inesgotável
d) comoção – gargalhada

8. (UERJ) - Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto. Compreendeu o Padre
Carlos e soltou uma gargalhada, (l. 21-22)
De acordo com o texto, a compreensão que o padre teve da situação foi possível pela combinação das
palavras do narrador com:
a) um gesto simultâneo à fala
b) um senso apurado de humor
c) uma opinião formada sobre a família
d) um conhecimento prévio do problema

4
Literatura

Gabarito

1. Sim, porque há uma idealização dessa figura feminina, tanto em relação a seus atributos físicos, quanto
à sua posição social. Percebe-se tal abordagem por meio do trecho a seguir, por exemplo: “deusa dos
bailes; a musa dos poemas e o ídolo dos noivos em disponibilidade”.

2. B
Na verdade há, sim, defesa intransigente da instituição do casamento, tendo em vista que este é
considerado, pelos românticos, como o objetivo fundamental da existência (conforme apontado na
alternativa a)). Somado a isso, a virgindade é muito respeitada no Romantismo, contribuindo para a
imagem da pureza da figura feminina.

3. B
A letra a) está incorreta porque a Independência do Brasil surge antes do movimento romântico; a c) não
está certa porque o indianismo e a natureza do Brasil são aproveitados na literatura romântica; a letra d)
não é apropriada, visto que a Inconfidência Mineira surge anteriormente ao movimento literário em
questão; e, por fim, a letra e) está incorreta porque o Romantismo ganhou destaque tanto na poesia,
quanto na prosa. Logo, a afirmativa correta é a letra b).

4. D
A primeira pessoa é utilizada para trazer a perspectiva do narrador, ou seja, uma perspectiva subjetiva.
Logo, a letra a) não está certa, visto que uma narrativa impessoal não pode ser em 1ª pessoa; a b)
também não, porque o texto jornalístico tende a ser impessoal; e a c) é incorreta porque o destinatário é
a 2ª pessoa e não a 1ª.

5. B
No primeiro parágrafo, há um enaltecimento da autobiografia, algo que é reforçado no parágrafo
seguinte, na frase: “porque não compreendo amor e ainda amor apaixonado mais justificável do que
aquele que sentimos pela nossa própria pessoa”. Tal egocentrismo é um traço comum às obras
românticas.

6. C
O amor da nação, na gradação “lar, município, província, nação” está acima de todos os elementos
anteriores; no entanto, o narrador, em seguida, aponta o amor do eu ainda mais relevante.

7. D
As ouvintes mostraram-se comovidas devido à morte do personagem; diferentemente do Padre Carlos
que solta uma gargalhada diante da situação.

8. A
O padre compreende a situação a partir da fala do jovem José de Alencar “Foi o pai de Amanda que
morreu!” e o gesto de exibição do livro, simultaneamente à fala, ao Padre Carlos.

5
Literatura

Exercícios sobre Romantismo: Poesia - Parte 2

Exercícios

Texto para a questão 1


Na minha Terra
Amo o vento da noite sussurrante
A tremer nos pinheiros
E a cantiga do pobre caminhante
No rancho dos tropeiros;
E os monótonos sons de uma viola
No tardio verão,
E a estrada que além se desenrola
No véu da escuridão;
A restinga d’areia onde rebenta
O oceano a bramir
Onde a lua na praia macilenta
Vem pálida luzir;
E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
Do amanhecer na serra,
E o céu azul e o manto nebuloso
Do céu de minha terra;
E o longo vale de florinhas cheio
E a névoa que desceu,
Como véu de donzela em branco seio,
As estrelas do céu.
(Álvares de Azevedo)
Vocabulário: Bramir – produzir estrondo
Macilenta – sem brilho ou viço

1. (UERJ) O texto de Álvares de Azevedo evidencia o tratamento concedido à natureza pelos poetas do
Romantismo. Identifique dois traços que caracterizam esse tratamento e cite um exemplo do texto
para cada um deles.

1
Literatura

Texto para a questão 2

Despedidas à...
Se entrares, ó meu anjo, alguma vez Quando a noite vier saudosa e pura,
Na solidão onde eu sonhava em ti, Contempla a estrela do pastor nos céus,
Ah! vota uma saudade aos belos dias Quando a ela eu volver o olhar em prantos
Que a teus joelhos pálido vivi! Verei os olhos teus!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando... Mas antes de partir, antes que a vida
Sinto o peito doer na despedida... Se afogue numa lágrima de dor,
Sem ti o mundo é um deserto escuro Consente que em teus lábios num só beijo
E tu és minha vida... Eu suspire de amor!

Só por teus olhos eu viver podia Sonhei muito! sonhei noites ardentes
E por teu coração amar e crer, Tua boca beijar eu o primeiro!
Em teus braços minh’alma unir à tua A ventura negou-me... até mesmo
E em teu seio morrer! O beijo derradeiro!

Mas se o fado me afasta da ventura, Só contigo eu podia ser ditoso,


Levo no coração a tua imagem... Em teus olhos sentir os lábios meus!
De noite mandarei-te os meus suspiros Eu morro de ciúme e de saudade;
No murmúrio da aragem! Adeus, meu anjo, adeus!

(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Grandes poetas românticos do Brasil. São Paulo:
LEP, Tomo 1,MCMLIX, p. 273)

2. (PUC) A poética de Álvares de Azevedo filia-se a uma das fases mais representativas da literatura
romântica no Brasil, o “mal-do-século” ou ultrarromantismo. Destaque duas características dessa fase
presentes no poema, exemplificando a sua resposta com versos retirados do texto.

2
Literatura

Estranha forma de vida


Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade,
Que todos os ais são meus
Que é toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida


Tem este meu coração;
Vive de forma perdida
Quem lhe daria o condão,
Que estranha forma de vida!

Coração independente
Coração que não comando,
Vive perdido entre a gente
Teimosamente sangrando,
Coração independente!

Eu não te acompanho mais.


Pára, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
Porque teimas em correr?
Eu não te acompanho mais!

Se não sabes aonde vais,


Pára, deixa de bater.
Eu não te acompanho mais!
(Amália Rodrigues. Álbum duplo em vinil nº C184-15672), Paris Pathe Marconi – EMI, 1975)

3. (UNESP) Embora tenha-se originado no Brasil, de onde desapareceu, o Fado é poesia-canção


portuguesa, e representa uma das mais fortes expressões populares de identidade nacional. Do ponto
de vista literário, identifica-se em muito com o ideário poético do Romantismo, como, de resto, também
acontece com significativa parcela de gêneros da chamada Música Popular Brasileira. Tendo em vista
estas observações, releia a letra do fado que lhe apresentamos e, a seguir:
a) Identifique duas características da poética romântica.
b) Comprove sua resposta com elementos extraídos do texto.

3
Literatura

A minha resolução Nasce a planta, a planta cresce,


O que fazes, ó minh’alma? Vai contente vegetando,
Coração, por que te agitas? Só por onde vai achando
Coração, por que palpitas? Terra própria a seu viver;
Por que palpitas em vão? Mas, se acaso a terra estéril
Se aquele que tanto adoras As raízes lhe é veneno.
Te despreza, como ingrato, Ela vai noutro terreno
Coração sê mais sensato, As raízes esconder.
Busca outro coração! Segue o exemplo da planta,
Corre o ribeiro suave Coração, por que te agitas?
Pela terra brandamente, Coração, por que palpitas?
Se o plano condescendente Por que palpitas em vão?
Dele se deixa regar; Se aquele que tanto adoras
Mas, se encontra algum tropeço Te despreza, como ingrato,
Que o leve curso lhe prive, Coração, sê mais sensato,
Busca logo outro declive, Busca outro coração!
Vai correr noutro lugar. Saiba a ingrata que punir
Segue o exemplo das águas, Também sei tamanho agravo:
Coração, por que te agitas? Se me trata como escravo,
Coração, por que palpitas? Mostrarei que sou senhor;
Por que palpitas em vão? Como as águas, como a planta,
Se aquele que tanto adoras Fugirei dessa homicida;
Te despreza, como ingrato, Quero dar a um’alma fida
Coração, sê mais sensato, Minha vida e meu amor.
Busca outro coração!
(Rabelo, Laurindo. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966)

4. (UNESP) Tendo em vista a ênfase romântica no “eu”, em consequência da qual as experiências mais
concretas dos artistas tendem a subjetivar-se, examine os textos apresentados, anteriormente, e
responda que semelhanças existem, em ambos os poemas, no emprego do signo “coração”?

4
Literatura

A largatixa
A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo-te como o vinho e como o sono,


Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Posso agora viver: para coroas


Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.

Vale todo um harém a minha bela,


Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
(AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas (ed. crítica de Péricles Eugênio da Silva Ramos/ org. Iumna Maria Simon).
Campinas/SP: UNICAMP; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.)

5. (UFRJ) A poética da segunda geração romântica é frequentemente associada ao melancólico, ao


sombrio, ao fúnebre; a lírica amorosa, por sua vez, costuma ser caracterizada como lamentação de
amores perdidos ou frustrados. Relacione essas duas afirmativas ao texto de Álvares de Azevedo no
que se refere à seleção vocabular relativa aos amantes e a seu tratamento poético.

5
Literatura

Texto para a questão 6

Senhor Deus dos desgraçados!


Dizer-me vós, senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! Por que não apagas
Com a esponja de tuas vagas
De teu manto esse borrão?...
Astros! Noites! Tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
(Castro Alves)

6. (PUC – SP – Adaptada) No Romantismo brasileiro, podemos reconhecer três gerações poéticas, com
traços peculiares a cada uma, mas distintos entre si. Assim sendo: o que torna a obra de Castro Alves
diferente da de poetas como Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo, nesse contexto
romântico?

6
Literatura

Gabarito

1. Um traço comum ao Romantismo é a personificação da natureza, de modo a estabelecer uma relação


entre esta e o eu lírico, conforme visto no verso “Amo o vento da noite sussurrante”. Além disso, o gosto
pelo noturno é outro traço típico deste estilo literário, especialmente a segunda geração, a qual enquadra-
se o poeta Álvares de Azevedo, e pode ser observado no último verso “As estrelas do céu”. É possível
apontar também a visão intimista e subjetiva da natureza, tal qual nos versos “A tremer nos pinheiros/ E
a cantiga do pobre caminhante/ No rancho dos tropeiros”.

2. A referência ao “anjo” logo no primeiro verso do poema marca a idealização feminina, recorrente na 2ª
geração poética romântica, traço este também conferido em outros versos, como “E tu és minha vida.../
Só por teus olhos eu viver podia/ E por teu coração amar e crer,/ Em teus braços minh’alma unir à tua/ E
em teu seio morrer!”. Há também a solidão e o isolamento do eu lírico, como exposto no verso “Na
solidão onde eu sonhava em ti,” e a necessidade de fuga e escape da realidade, recorrendo ao sonho,
conforme apontam os versos “Sonhei muito! sonhei noites ardentes/ Tua boca beijar eu o primeiro!”. No
poema também pode-se perceber a presença de um sentimentalismo exagerado, vistos em “Adeus,
minh’alma, adeus! eu vou chorando.../ Sinto o peito doer na despedida...”, por exemplo. Por fim, a
referência ao pessimismo e até mesmo à morte também se fazem presentes no texto de Álvares de
Azevedo, como em “Sinto o peito doer na despedida...”.

3. a) e b) Algumas características da poética romântica presentes no poema de Amália Rodrigues são: a


religiosidade (“Foi por vontade de Deus”), o sofrimento do eu lírico (como nos versos “Que eu vivo nesta
ansiedade,/ Que todos os ais são meus”), a emoção predominante sobre a razão (“Coração
independente/ Coração que não comando”), o sofrimento amoroso (“Teimosamente sangrando”), a
apelação do eu lírico à morte (“Pára, deixa de bater./Eu não te acompanho mais!”) e subjetivismo
acentuado (recorrência de pronomes em primeira pessoa, ou seja, a função emotiva da linguagem, como
em “Eu não te acompanho mais.”).

4. O coração, no texto de Amália, é uma metonímia ao amor, da mesma forma que o poema de Laurindo
Rabelo parte da representação do órgão para se referir ao sentimento amoroso. Além disso, o coração
representa o emissor (em ambos os textos, em que os dois eu líricos abordam os próprios sentimentos)
e também o receptor (afinal, os dois eu líricos procuram alguém para corresponder a esse sentimento
amoroso).

5. É perceptível que o poema em questão se insere mais na estética irônica de Álvares de Azevedo, afinal,
o eu lírico ultrarromântico (que geralmente é egocêntrico, narcisista), compara-se a uma lagartixa,
quebrando essa expectativa. Além disso, há uma oposição ao esperado à temática noturna da segunda
geração romântica, afinal, no poema é citada a luz solar e o verão. Somado a isso, alguns termos não
comumente encontrados na tradição poética romântica são apresentados no texto, como “lagartixa” e
“travesseiro”. Por fim, o tema do sentimentalismo mórbido e do sofrimento excessivo não é exibido nos
versos.

6. Castro Alves, diferentemente dos poetas da 1ª e 2ª gerações românticas, traz em suas obras a
preocupação social – especialmente em relação à abolição da escravatura. Os poemas de Gonçalves
Dias, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo, por outro lado, não exibem esta temática.

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Literatura

Exercícios sobre Romantismo: Poesia – Parte 1

Exercícios

1. (UFF)
Contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
(Leminski, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, p.12. 1983)

No Romantismo, o sujeito lírico tem a marca do egocentrismo. Verifique se o mesmo acontece no


texto contemporâneo de Paulo Leminski, justificando seus comentários com passagens do
poema.

1
Literatura

2. (UFF) Na literatura, a visão romântica representativa da mulher é a de uma figura idealizada, frágil e
inatingível. Assinale a opção em que a visão da mulher não se enquadra nesta característica:

a) "Ah! Vem, pálida virgem, se tens pena


De quem morre por ti, e morre amando.
Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minha alma à tua!"
(Álvares de Azevedo)
b) "Anjos longiformes
De faces rosadas
E pernas enormes
Quem vos acompanha?"
(Vinícius de Moraes)
c) "Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara."
(Gregório de Matos)
d) "Minha mãe cozinhava exatamente: arroz, feijão-roxinho,
molho de batatinhas.
Mas cantava."
(Adélia Prado)
e) "Baixas do céu num vôo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! ..."
(Castro Alves)

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Literatura

3. (UNIFRA)
“É bela a noite, quando grave se estende
Sobre a terra dormente o negro manto
De brilhantes estrelas recamado;
Mas nessa escuridão, nesse silêncio
Que ele consigo traz, há um quê de horrível
Que espanta e desespera e geme n’alma;
Um quê de triste que nos lembra a morte!”

Os versos acima:
a) ilustram a característica romântica da projeção do estado de espírito do poeta nos elementos da
natureza.
b) exemplificam a característica romântica do pessimismo, mal-do-século, que vê na natureza algo
nefando, capaz de matar o poeta.
c) exploram a característica romântica do sentimentalismo amoroso, que vê em tudo a tragédia do
amor não correspondido.
d) apontam a característica romântica do nacionalismo, que valoriza a paisagem de nossa terra.
e) apresentam a característica romântica do descritivismo, capaz de valorização exagerada da
natureza.

4. Romantismo
Quem tivesse um amor, nesta noite de lua,
para pensar um belo pensamento
e pousá-lo no vento!

Quem tivesse um amor - longe, certo e impossível –


para se ver chorando, e gostar de chorar,
e adormecer de lágrimas e luar!

Quem tivesse um amor, e, entre o mar e as estrelas,


partisse por nuvens, dormente e acordado,
levitando apenas, pelo amor levado...

Quem tivesse um amor, sem dúvida e sem mácula,


sem antes nem depois: verdade e alegoria...
Ah! quem tivesse... (Mas, quem teve? quem teria?)
(Cecília Meireles. Mar Absoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967)
(UFRJ) Justifique o título do poema com base em elementos característicos do estilo romântico
presente no texto.

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Literatura

5. Canção do Tamoio
I III
Não chores, meu filho; O forte, o cobarde
Não chores, que a vida Seus feitos inveja
É luta renhida: De o ver na peleja
Viver é lutar. Garboso e feroz;
A vida é combate, E os tímidos velhos
Que os fracos abate, Nos graves concelhos,
Que os fortes, os bravos, Curvadas as frontes,
Só pode exaltar. Escutam-lhe a voz!
II IV
Um dia vivemos! Domina, se vive;
O homem que é forte Se morre, descansa
Não teme da morte; Dos seus na lembrança,
Só teme fugir; Na voz do porvir.
No arco que entesa Não cures da vida!
Tem certa uma presa, Sê bravo, sê forte!
Quer seja tapuia, Não fujas da morte,
Condor ou tapir. Que a morte há de vir!
(GONÇALVES DIAS, Antônio. Obras Poéticas.Tomo II. São Paulo: Companhia Editora Naci
onal, 1944, p. 42-43.)

(UNESP – Adaptada) Juntamente com outros poemas do autor, como “I-Juca-Pirama” e “Os
Timbiras”, a “Canção do Tamoio” integra uma das linhas mais peculiares de Gonçalves Dias e do
Romantismo brasileiro.
a) Identifique a linha temática do Romantismo brasileiro que o poema de Gonçalves Dias revela
desde o próprio título.
b) Na “Canção do Tamoio”, o eu-poemático sugere ao filho assumir diante dos perigos duas atitudes
básicas do guerreiro. Cite-as.

4
Literatura

6. (PUC / Campinas – SP)


Cantor das selvas, entre bravas matas
Áspero tronco da palmeira escolho,
Unido a ele soltarei meu canto,
Enquanto o vento nos palmares zune,
Rugindo os longos, encontrados leques.

Os versos acima, de Os Timbiras, de Gonçalves Dias, apresentam características da primeira


geração romântica, tais como:
a) Apego ao equilíbrio na forma de expressão; presença do nacionalismo, pela temática indianista e
pela valorização da natureza brasileira.
b) Resistência aos exageros sentimentais e à forma de expressão subordinada às emoções; visão da
poesia a serviço de causas sociais, como a escravidão.
c) Expressão preocupada com o senso de medida; “mal-do-século”; natureza como amiga e
confidente.
d) Transbordamento na forma de expressão; valorização do índio como típico homem nacional;
apresentação da natureza como refúgio dos males do coração.
e) Expressão a serviço da manifestação dos estados de espírito mais exagerados; sentimento
profundo de solidão.

5
Literatura

Texto para as questões 7 e 8.

Minha terra Que nem as sonha um poeta


Minha terra tem palmeiras E nem as canta um mortal!
Onde canta o sabiá É uma terra encantada
(Gonçalves Dias) Mimosa jardim de fada
Todos cantam sua terra, Do mundo todo invejada,
Também vou cantar a minha, Que o mundo não tem igual.
Nas débeis cordas da lira
Hei de fazê-la rainha; Não, não tem, que Deus fadou-a
Dentre todas – a primeira:
Hei de dar-lhe a realeza Deu-lhe esses campos bordados,
Nesse trono de beleza Deu-lhe os leques da palmeira,
Em que a mão da natureza E a borboleta que adeja
Esmerou-se em quanto tinha. Sobre as flores que ela beija,
Quando o vento rumoreja
Correi pr’as bandas do sul: Na folhagem da mangueira.
Debaixo dum céu de anil
Encontrareis o gigante É um país majestoso
Santa Cruz, hoje Brasil; Essa terra de Tupã,
É uma terra de amores Desd’o Amazonas ao Prata,
Do Rio Grande ao Pará!
Alcatifada de flores Tem serranias gigantes
Onde a brisa fala amores E tem bosques verdejantes
Nas belas tardes de Abril. Que repetem incessantes
Os cantos do sabiá.
Tem tantas belezas, tantas, (...)
A minha terra natal,
(Casimiro de Abreu)

7. (UFRJ) O nacionalismo foi uma característica romântica que, no Brasil, ganhou contornos próprios.
Partindo do texto, explique como foi utilizada a natureza, no Romantismo, para marcar a identidade
nacional brasileira.

8. (UFRJ) Cite uma característica da linguagem romântica presente no poema de Casimiro de Abreu.

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Literatura

Gabarito

1. O poema representa uma oposição ao egocentrismo romântico, visto que Contranarciso, como o próprio
título sugere, denota a oposição ao mito narcísico (aquele que, de acordo com a mitologia, ficou
obcecado pela própria imagem). Nos primeiros versos “em mim/ eu vejo o outro” e em “o outro/ que há
em mim/ é você”, por exemplo, há uma noção de alteridade, ou seja, a compreensão do outro.

2. D
Dentre todas as alternativas, somente a letra d) não apresenta a figura feminina como idealizada, como
a relação entre a figura feminina e um ser angelical nas alternativas b), c) e e) e a imagem de pureza na
alternativa a). O trecho de Adélia Prado, por outro lado, exibe uma mulher comum, que realiza o almoço
da família enquanto canta.

3. A
A natureza, nos versos, não atua somente como plano de fundo, mas é capaz de refletir os sentimentos
melancólicos do eu lírico (especialmente na 2ª geração romântica, por isso a frequência da imagem da
noite, por exemplo).

4. O poema Romantismo, de Cecília Meireles, compartilha de alguns elementos comuns à escola literária
homônima. Observa-se a figura da noite, como no primeiro verso “Quem tivesse um amor, nesta noite de
lua”; o gosto pelo sofrimento, visto no verso “para se ver chorando, e gostar de chorar,”; o exagero em “e
adormecer de lágrimas e luar!”; a idealização amorosa em “Quem tivesse um amor - longe, certo e
impossível” e em “Quem tivesse um amor, sem dúvida e sem mácula”.

5.
a) Gonçalves Dias é um poeta da primeira geração romântica, intitulada nacionalista ou indianista, que
traz como linha temática a representação do indígena para enaltecer a figura da pátria – conforme
exibe o título “Canção do Tamoio”.
b) As duas atitudes básicas do guerreiro, apresentadas no poema, são expressas no verso “Sê bravo,
sê forte!". Logo, força e bravura são características expostas como essenciais ao indígena e,
consequentemente, ao povo brasileiro por este representado.

6. A
O equilíbrio nos versos em questão surge por meio da presença dos versos decassílabos, garantindo um
ritmo poético mais fluido. Percebe-se também a temática nacionalista e indianista, este visto em “cantor
das selvas”, e a referência à natureza brasileira, como em “bravas matas”.

7. A natureza é apresentada de maneira idealizada, a fim de valorizar o território brasileiro. Essa estratégia
surge para cultivar a visão ufanista da pátria, a qual é ilustrada somente por seus traços positivos.

8. Há, no poema, uma linguagem bastante adjetivada, de modo que exalte a pátria brasileira. Além disso,
há expressividade por meio de exclamações.

7
Literatura

Romantismo: prosa

Resumo

O romantismo
O Romantismo é, sem dúvidas, um dos maiores movimentos literários do século XIX. Baseado em
características como a subjetividade, a idealização amorosa, a fuga à realidade e o nacionalismo, suas
influências marcaram não só a arte, como a cultura e os costumes daquele momento, que retratavam os
valores burgueses da época. Diferente da poesia, a prosa é uma modelo de texto escrito em parágrafos,
narrando os acontecimentos de um enredo junto a um grande aspecto descritivo.

Disponível em: http://www.estudofacil.com.br/wp-content/uploads/2015/02/romantismo-caracteristicas-artes-e-como-era-no-


brasil.jpg

A prosa romântica, em especial, se subdivide em quatro tipos de romance: o regionalista, o indianista, o


urbano e o histórico. A valorização da individualidade permitiu que inúmeros autores retratassem as
diferentes características do Brasil, que estava marcado tanto pelas diversidades locais pelo país (língua,
cultura e valores regionais) quanto pelo cenário urbano que atendia às necessidades da burguesia. Além
disso, é importante dizer que, na prosa, não há a divisão entre gerações (como ocorre na poesia), pois muitas
obras eram publicadas quase que, simultaneamente, e, o maior nome da prosa romântica é o escritor José
de Alencar.

1
Literatura

Contexto histórico
Os principais acontecimentos e influências que marcaram esse período são:

• Instalação da Corte Portuguesa no Brasil (1808);


• Independência do Brasil (1822);
• Abertura dos Portos;
• Chegadas das missões estrangeiras (científicas e culturais);
• Surgimento da imprensa nacional;
• Revolução Industrial;
• Era Napoleônica;
• Revolução Francesa.

O romance indianista
No romance indianista, é comum vermos a construção da imagem de índio de forma heróica, como o salvador
da nação a fim de implantar um sentimento de amor à pátria. Sua imagem é aproximada a de um cavaleiro
medieval, ideal propagado na Europa durante a Idade Média. Além disso, a natureza não atua como plano de
fundo e ganha vitalidade, força, fazendo com que muitas das vezes haja uma noção de personificação do
ambiente natural, como também a associação ao meio selvagem.

O choque cultural entre colonizadores e índios sempre será apresentado nas prosas indianistas, tal como a
apresentação de suas diferenças, como costumes, linguagens, hábitos, entre outros. Algumas obras de
destaque são “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”, todas de José de Alencar.

O romance regionalista
O romance regional foi primordial para o incentivo de uma literatura que abordasse acerca das diversidades
locais. Entre suas características, há a valorização de aspectos étnicos, linguísticos, sociais e culturais sobre
várias regiões do país. Ademais, as principais regiões abordadas foram o Rio de Janeiro (que era a capital do
Brasil naquele período) e as regiões Sul, Nordeste e Centro-Oeste.
O contraste de valores e costumes será abordado nos romances, em geral, propagados por personagens que
passam a conviver recentemente em um mesmo ambiente, mostrando determinadas distinções entre o meio
urbano e o meio rural. Entre as principais obras, temos “Inocência”, de Visconde de Tauany, “O gaúcho”, de
José de Alencar, e “O Cabeleira”, de Franklin Távora.

O romance urbano
O romance urbano foi o que melhor atendeu às necessidades da burguesia, pois retratava sobre a vida
cotidiana e seus costumes, pondo em discussão os valores morais vividos na época, entre eles, o casamento
promovido de acordo com a classe social.

2
Literatura

Entre as obras, podemos destacar: “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo, “Memórias de um sargento
de milícias”; de Manuel Antônio de Almeida e “Lucíola” e “Senhora”, de José de Alencar. Além disso, o autor
Álvares de Azevedo também teve papel importantíssimo na prosa, e desenvolveu as obras “O Macário” e
“Noites na Taverna”.

O romance histórico
O romance histórico, como o própria nome já nos ajuda a explicar, marcava em sua narrativa os principais
acontecimentos históricos do século XIX no Brasil. A composição da narrativa é feita a partir de relatos e
documentos informativos sobre uma determinada época ou movimento social.

Há dois romances de destaque: “As Minas de Prata” e “Guerra dos Mascates”, ambos de José de Alencar.

Textos de apoio

TEXTO 1
Senhora (fragmento)
— O senhor não retribuiu meu amor e nem o compreendeu. Supôs que eu lhe dava apenas a preferência entre
outros namorados, e o escolhia para herói dos meus romances, até aparecer algum casamento, que o senhor
moço, honesto, estimaria para colher à sombra o fruto de suas flores poéticas. Bem vê que eu o distingo dos
outros, que ofereciam brutalmente mas com franqueza e sem rebuço, a perdição e a verganha.
Seixas abaixou a cabeça.

— Conheci que não amava-me, como eu desejava e merecia ser amada. Mas não era sua a culpa e só minha
que não soube inspirar-lhe a paixão, que eu sentia. Mais tarde, o senhor retirou-me essa mesma afeição com
que me consolava e transportou-a para outra, em quem não podia encontrar o que eu lhe dera, um coração
virgem e cheio de paixão com que o adorava. Entretanto, ainda tive forças para perdoar-lhe e amá-lo.
A moça agitou então a fronte com uma vibração altiva:

— Mas o senhor não me abandonou pelo amor de Adelaide e sim pelo seu dote, um mesquinho dote de trinta
contos! Eis o que não tinha o direito de fazer, e que jamais lhe podia perdoar! Desprezasse-me embora, mas
não descesse da altura em que o havia colocado dentro de minha alma. Eu tinha um ídolo; o senhor abateu-o
de seu pedestal, e atirou-o no pó. Essa degradação do homem a quem eu adorava, eis o seu crime; a sociedade
não tem leis para puni-lo, mas há um remorso para ele. Não se assassina assim um coração que Deus criou
para amar, incutindo-lhe a descrença e o ódio.
Seixas que tinha curvado a fronte, ergueu-a de novo, e fitou os olhos da moça. Conservava ainda as feições
contraídas e gotas de suor borbulhavam na raiz dos seus belos cabelos negros.

— A riqueza que Deus me consedeu chegou já tarde; nem ao menos permitiu-me o prazer da ilusão, que têm
as mulheres enganadas. Quando a recebi, já conhecia o mundo e suas misérias; já sabia que a moça rica é
um arranjo e não uma esposa; pois bem, disse eu, essa riqueza servirá para dar-me a única satisfação que

3
Literatura

ainda posso ter neste mundo. Mostrar a esse homem que não soube me compreender, que a mulher o amava,
e que alma perdeu. Entretanto ainda eu afagava uma esperança. Se ele recusa nobremente a proposta
aviltante, eu irei lançar-me a seus pés. Suplicar-lhe-ei que aceite a minha riqueza, que a dissipe se quiser;
consinta-me que eu o ame. Esta última consolação, o senhor a arrebatou. Que me restava? Outrora atava-se
o cadáver ao homicida, para expiação da culpa; o senhor matou-me o coração; era justo que o prendesse ao
despojo de sua vítima. Mas não desespere, o suplício não pode ser longo: este constante martírio a que
estamos condenados acabará por extinguir-me o último alento; o senhor ficará livre e rico.
ALENCAR, José de. Senhora. 23 ed. São Paulo: Ática, 1992

TEXTO 2
O Guarani (fragmento)

O braço de Loredano estendeu-se sobre o leito; porém a mão que se adiantava e ia tocar o corpo de
Cecília estacou no meio do movimento, e subitamente impelida foi bater de encontro à parede.
Uma seta, que não se podia saber de onde vinha, atravessara o espaço com a rapidez de um raio, e
antes que se ouvisse o sibilo forte e agudo pregara a mão do italiano ao muro do aposento.
O aventureiro vacilou e abateu-se por detrás da cama; era tempo, porque uma segunda seta, despedida
com a mesma força e a mesma rapidez, cravava-se no lugar onde há pouco se projetava a sombra de sua
cabeça.
Passou se então, ao redor da inocente menina adormecida na isenção de sua alma pura, uma cena
horrível, porem silenciosa.
Loredano nos transes da dor por que passava, compreendera o que sucedia; tinha adivinhado naquela
seta que o ferira a mão de Peri; e sem ver, sentia o índio aproximar se terrível de ódio, de vingança, de cólera
e desespero pela ofensa que acabava de sofrer sua senhora.
Então o réprobo teve medo; erguendo-se sobre os joelhos arrancou convulsivamente com os dentes a
seta que pregava sua mão à parede, e precipitou-se para o jardim, cego, louco e delirante.
Nesse mesmo instante, dois segundos talvez depois que a última flecha caíra no aposento, a folhagem
do óleo que ficava fronteiro à janela de Cecília agitou-se e um vulto embalançando-se sobre o abismo,
suspenso por um frágil galho da árvore, veio cair sobre o peitoril.
Aí agarrando-se à ombreira saltou dentro do aposento com uma agilidade extraordinária; a luz dando
em cheio sobre ele desenhou o seu corpo flexível e as suas formas esbeltas.
Era Peri.
O índio avançou-se para o leito, e vendo sua senhora salva respirou; com efeito a menina, a meio
despertada pelo rumor da fugida de Loredano, voltara-se do outro lado e continuara o sono forte e reparador
como é sempre o sono da juventude e da inocência.
Peri quis seguir o italiano e matá-lo, como já tinha feito aos seus dois cúmplices; mas resolveu não
deixar a menina exposta a um novo insulto, como o que acabava de sofrer, e tratou antes de velar sobre sua
segurança e sossego.

4
Literatura

O primeiro cuidado do índio foi apagar a vela, depois fechando os olhos aproximou-se do leito e com
uma delicadeza extrema puxou a colcha de damasco azul até ao colo da menina.
Parecia-lhe uma profanação que seus olhos admirassem as graças e os encantos que o pudor de
Cecília trazia sempre vendados; pensava que o homem que uma vez tivesse visto tanta beleza, nunca mais
devia ver a luz do dia.
Depois desse primeiro desvelo, o índio restabeleceu a ordem no aposento; deitou a roupa na cômoda,
fechou a gelosia e as abas da janela, lavou as nódoas de sangue que ficaram impressas na parede e no soalho;
e tudo isto com tanta solicitude, tão sutilmente, que não perturbou o sono da menina.
Quando acabou o seu trabalho, aproximou-se de novo do leito, e à luz frouxa da lamparina contemplou
as feições mimosas e encantadoras de Cecília.
Estava tão alegre, tão satisfeito de ter chegado a tempo de salvá-la de uma ofensa e talvez de um crime;
era tão feliz de vê-la tranquila e risonha sem ter sofrido o menor susto, o mais leve abalo, que sentiu a
necessidade de exprimir-lhe por algum modo a sua ventura.
Nisto seus olhos abaixando-se descobriram sobre o tapete da cama dois pantufos mimosos forrados
de cetim e tão pequeninos que pareciam feitos para os pés de uma criança; ajoelhou e beijou-os com respeito,
como se foram relíquia sagrada.
Eram então perto de quatro horas; pouco tardava para amanhecer; as estrelas já iam se apagando a
uma e uma; e a noite começava a perder o silêncio profundo da natureza quando dorme.
O índio fechou por fora a porta do quarto que dava para o jardim, e metendo a chave na cintura, sentou-
se na soleira como cão fiel que guarda a casa de seu senhor, resolvido a não deixar ninguém aproximar-se.
Aí refletiu sobre o que acabava de passar; e acusava-se a si mesmo de ter deixado o italiano penetrar
no aposento de sua senhora: Peri porem caluniava-se, porque só a Providência podia ter feito nessa noite
mais do que ele; porque tudo quanto era possível à inteligência, à coragem, à sagacidade e à força do homem,
o índio havia realizado.
ALENCAR, José de. O guarani. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000135.pdf.

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5
Literatura

Exercícios

1. O sertão e o sertanejo
“Ali começa o sertão chamado bruto. Nesses campos, tão diversos pelo matiz das cores, o capim
crescido e ressecado pelo ardor do sol transforma-se em vicejante tapete de relva, quando lavra o
incêndio que algum tropeiro, por acaso ou mero desenfado, ateia com uma faúlha do seu isqueiro.
Minando à surda na touceira, queda a vívida centelha. Corra daí a instantes qualquer aragem, por débil
que seja, e levanta-se a língua de fogo esguia e trêmula, como que a contemplar medrosa e vacilante
os espaços imensos que se alongam diante dela. O fogo, detido em pontos, aqui, ali, a consumir com
mais lentidão algum estorvo, vai aos poucos morrendo até se extinguir de todo, deixando como sinal
da avassaladora passagem o alvacento lençol, que lhe foi seguindo os velozes passos. Por toda a parte
melancolia; de todos os lados tétricas perspectivas. É cair, porém, daí a dias copiosa chuva, e parece
que uma varinha de fada andou por aqueles sombrios recantos a traçar às pressas jardins encantados
e nunca vistos. Entra tudo num trabalho íntimo de espantosa atividade.”
TAUNAY, Visconde de. Inocência.

O romance romântico teve fundamental importância na formação da ideia de nação. Considerando o


trecho acima, é possível reconhecer que uma das principais e permanentes contribuições do
Romantismo para construção da identidade da nação é a:
a) possibilidade de apresentar uma dimensão desconhecida da natureza nacional, marcada pelo
subdesenvolvimento e pela falta de perspectiva de renovação.
b) consciência da exploração da terra pelos colonizadores e pela classe dominante local, o que
coibiu a exploração desenfreada das riquezas naturais do país.
c) construção, em linguagem simples, realista e documental, sem fantasia ou exaltação, de uma
imagem da terra que revelou o quanto é grandiosa a natureza brasileira.
d) expansão dos limites geográficos da terra, que promoveu o sentimento de unidade do território
nacional e deu a conhecer os lugares mais distantes do Brasil aos brasileiros.
e) valorização da vida urbana e do progresso, em detrimento do interior do Brasil, formulando um
conceito de nação centrado nos modelos da nascente burguesia brasileira.

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Literatura

2. Assinale a alternativa correta sobre a prosa romântica no Brasil.


a) Retrata uma série de transformações econômicas, científicas e ideológicas, decorrentes de uma
nova revolução industrial.
b) Tem como principais características o racionalismo, a imitação dos clássicos, o bucolismo e o
pastoralismo.
c) Iniciou em meados do século XVI e caracteriza-se pela fluidez do tempo, que coloca o homem
diante de um dilema: viver a vida ou preparar-se para a morte?
d) Há o predomínio da objetividade, da observação, da verossimilhança e, principalmente, de uma
visão cientificista da existência.
e) Tem em José de Alencar um dos seus autores mais expressivos e também nomes como Joaquim
Manoel de Macedo e Bernardo Guimarães, entre outros.

3. “Vocês mulheres têm isso de comum com as flores, que umas são filhas da sombra e abrem com a
noite, e outras são filhas da luz e carecem do Sol. Aurélia é como estas; nasceu para a riqueza. Quando
admirava a sua formosura naquela salinha térrea de Santa Tereza, parecia-me que ela vivia ali exilada.
Faltava o diadema, o trono, as galas, a multidão submissa; mas a rainha ali estava em todo o seu
esplendor. Deus a destinara à opulência.”

Do texto depreende-se que:

a) romances românticos regionalistas, como Senhora, exaltam a beleza natural feminina.


b) os romances realistas de Aluísio Azevedo denunciam o artificialismo da beleza feminina.
c) as obras modernistas têm, entre outros, o objetivo de criticar a submissão da mulher à riqueza
material.
d) a linguagem descritiva dos escritores naturalistas caracteriza a sensualidade e a espiritualidade
da mulher.
e) a personagem feminina foi caracterizada sob a perspectiva idealizadora típica dos autores
românticos.

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Literatura

4. “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “ um romancista que
colecionava desafetos azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era JOSÉ DE Alencar
(1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de
criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também
folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da
Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de
seu acervo inédito será digitalizada.
História Viva, n.99,2011.

Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra,
depreende-se que
a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances.
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária
com temática atemporal.
c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância
para a história do Brasil imperial.
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória
linguística e da identidade nacional.
e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista.

5. Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas
praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso
resvale à flor das águas.

Esse trecho é o início do romance Iracema, de José de Alencar. Dele, como um todo, é possível afirmar
que:

a) Iracema é uma lenda criada por Alencar para explicar poeticamente as origens das raças indígenas
da América.
b) as personagens Iracema, Martim e Moacir participam da luta fratricida entre os Tabajaras e os
Potiguaras.
c) o romance, elaborado com recursos de linguagem figurada, é considerado o exemplar mais
perfeito da prosa poética na ficção romântica brasileira.
d) o nome da personagem-título é anagrama de América e essa relação caracteriza a obra como um
romance histórico.
e) a palavra Iracema é o resultado da aglutinação de duas outras da língua guarani e significa “lábios
de fel”.

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Literatura

6. Examine as proposições a seguir e assinale a alternativa INCORRETA.


a) A relevância da obra de José de Alencar no contexto romântico decorre, em grande parte, da
idealização dos elementos considerados como genuinamente brasileiros, notadamente a natureza
e o índio. Essa atitude impulsionou o nacionalismo nascente, por ser uma forma de reação política,
social e literária contra Portugal.
b) Ao lado de O guarani e Ubirajara, Iracema representa um mito de fundação do Brasil. Nessas obras,
a descrição da natureza brasileira possui inúmeras funções, com destaque para a "cor local", isto
é, o elemento particular que o escritor imprimia à literatura, acreditando contribuir para a sua
nacionalização.
c) Embora tendo sido escrito no período romântico, Iracema apresenta traços da ficção naturalista
tanto na criação das personagens quanto na tematização dos problemas do país.
d) A leitura de Iracema revela a importância do índio na literatura romântica. Entretanto, sabe-se que
a presença do índio não se restringiu a esse contexto literário, tendo desembocado inclusive no
Modernismo, por intermédio de escritores como Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
e) O contraponto poético da prosa indianista de Alencar é constituído pela lírica de Gonçalves Dias.
Indiscutivelmente, em "O canto do guerreiro" e em "O canto do piaga", dentre outros poemas, o
índio é apresentado de maneira idealizada, numa perpetuação da imagem heróica e sublime
adequada aos ideais românticos.

7. "Então passou-se sobre este vasto deserto d'água e céu uma cena estupenda, heroica, sobre-humana;
um espetáculo grandioso, uma sublime loucura.
Peri alucinado suspendeu-se aos cipós que se entrelaçavam pelos ramos das árvores já cobertas
d'água, e com esforço desesperado cingindo o tronco da palmeira nos seus braços hirtos, abalou-os
até as raízes."
O Guarani – José de Alencar
O texto acima exemplifica uma característica romântica de José de Alencar, que é a:
a) imaginação criadora.
b) consciência da solidão.
c) ânsia de glória.
d) idealização do personagem.
e) valorização da natureza

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8. Nos romances “Senhora” e “Lucíola”, José de Alencar dá um passo em relação à crítica dos valores da
sociedade burguesa, na medida em que coloca como protagonistas personagens que se deixam
corromper por dinheiro.
Entretanto, essa crítica se dilui e ele se reafirma como escritor romântico, nessas obras, porque:

a) pune os protagonistas no final, levando-os a um casamento infeliz.


b) justifica o conflito dos protagonistas com a sociedade pela diferença de raça: uns, índios
idealizados; outros, brasileiros com maneiras europeias.
c) confirma os valores burgueses, condenando os protagonistas à morte.
d) resolve a contradição entre o dinheiro e valores morais tornando os protagonistas ricos e
poderosos.
e) permite aos protagonistas recuperarem sua dignidade pela força do amor.

9. Iracema
“Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos
lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de
palmeira. O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu
hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava
sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde
pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”
José de Alencar
Ao caracterizar Iracema, José de Alencar relaciona-a a elementos da natureza, pondo aquela em
relação a esta em uma posição de:
a) equilíbrio
b) dependência
c) complementaridade
d) vantagem

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10. Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas
praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso
resvale à flor das águas.
O trecho acima integra o romance Iracema, sobre o qual Machado de Assis se referiu como um
verdadeiro poema em prosa. Indique, nas alternativas abaixo, aquela que se mostra ERRADA quanto ao
texto em pauta.
a) Evidencia um proposital trabalho de linguagem, marcada por significativo uso de figuras de estilo,
entre as quais se põe a comparação.
b) Apresenta musicalidade, ritmo e cadência que o aproximam da poesia metrificada de extração
popular.
c) Faz aflorar no tecido poético a força da função conativa como apelo para abrandar os elementos
e as forças da natureza.
d) Utiliza apenas a construção anafórica para dar força ao texto, não se valendo de outras figuras
que poderiam potencializar sua dimensão poética.

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Gabarito

1. D
Uma das características do romance regional é a descrever locais mais afastados da capital,
contribuindo para a expansão e conhecimento de regiões que até então, não eram exploradas no âmbito
literário, como também a possibilidade de conhecer e valorizar o cenário brasileiro e suas enormes
diversidades regionais, como percebe-se no trecho da obra “Inocência”.

2. E
A alternativa se sustenta como correta, porque é a única a falar somente sobre o Romantismo. As demais
misturam características de outros movimentos literários.

3. E
A idealização da mulher é uma característica dos românticos. O texto da questão elucida esse aspecto
marcante desse estilo literário.

4. D
O texto defende eu a ideia de que “para ajudar na descoberta das múltiplas facetas” de José de Alencar,
sua obra será digitalizada. Por isso a alternativa D, ao defender a importância do ato, é a resposta correta.

5. C
Iracema foi classificada como poema em prosa por Machado de Assis devido a sua grande
expressividade e presença de recursos de estilo, como as figuras de linguagem.

6. C
Não há traços da ficção naturalista, porque não temos a questão das patologias e animalização ou
retorno ao primitivo dos personagens.

7. D
Peri é descrito com características sobre-humanas. Logo, há uma idealização e exaltação exagerada do
personagem.

8. E
É comum nos romances de Alencar que os personagens sejam salvos, sublimados pelo amor. Ao final
das duas narrativas, as personagens encontram suas redenções em sacrifícios em nome do amor.

9. D
Nessa questão, é preciso observar que os elementos da natureza nunca chegam perto da excelência de
Iracema. A adjetivação da personagem a coloca sempre acima das demais criaturas e elementos da
natureza.

10. A
Por ser um movimento de caráter subjetivo, o conteúdo se sobrepõe a forma.

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Romantismo: poesia da 2ª e 3ª geração

Resumo

Entender o contexto do Romantismo a cada geração é fundamental, a fim de observar como ocorreu uma
transformação de ideias e sentimentos por parte do eu lírico. A linguagem subjetiva e o sentimentalismo
prevalecem. Entretanto, a geração Ultrarromântica desvincula-se dos acontecimentos de mundo e focaliza
em suas emoções, enquanto que posteriormente, na geração Condoreira, a poesia carrega um valor mais
social.

2ª Geração Romântica
Com inspiração nas obras dos poetas Lord Byron e Goethe, a Segunda Fase do Romantismo, conhecida
também como “mal do século” é caracterizada pelo alto sentimentalismo. Algumas décadas depois da
independência do Brasil, os poetas começaram a se desvincular do compromisso com a nacionalidade,
exaltado na geração anterior e, com isso, há uma expressão maior de seus sentimentos, numa posição
egocêntrica de desinteresse ao contexto histórico.
Os ideais da Revolução Francesa - grande marco para o início do Romantismo na Europa -, “liberdade,
igualdade e fraternidade” já não eram mais propagados com a mesma força e, nesse período, o homem passa
a desacreditar nesses valores. Há um enorme sentimento de insatisfação com o mundo, um “desencaixe” do
ser humano com a vida, uma sensação de falta de conexão com a realidade. Tudo isso provoca um
pessimismo no eu-lírico, causando uma aproximação com a morte e atração pelo elemento noturno/obscuro.

Características principais:
● pessimismo
● atração pela noite/noturno
● sentimentalismo
● fuga à realidade
● idealização amorosa
● a amada/musa inatingível
● figura feminina representando a pureza - anjo, criança, virgem
● idealização do amor x medo de amar

Dentre os principais autores da época, podemos citar: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes
Varela e Junqueira Freire.

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Literatura

Meus oito anos


Oh! que saudades que tenho Eu tinha nessas delícias
Da aurora da minha vida, De minha mãe as carícias
Da minha infância querida E beijos de minha irmã!
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores, Livre filho das montanhas,
Naquelas tardes fagueiras Eu ia bem satisfeito,
À sombra das bananeiras, Da camisa aberto o peito,
Debaixo dos laranjais! – Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
Como são belos os dias À roda das cachoeiras,
De despontar da existência! Atrás das asas ligeiras
– Respira a alma inocência Das borboletas azuis!
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno, Naqueles tempos ditosos
O céu – um manto azulado, Ia colher as pitangas,
O mundo – um sonho dourado, Trepava a tirar as mangas,
A vida – um hino d’amor! Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Que auroras, que sol, que vida, Achava o céu sempre lindo,
Que noites de melodia Adormecia sorrindo
Naquela doce alegria, E despertava a cantar!
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d´estrelas, […]
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia Oh! que saudades que tenho
E a lua beijando o mar! Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Oh! dias de minha infância! Que os anos não trazem mais!
Oh! meu céu de primavera! – Que amor, que sonhos, que flores,
Que doce a vida não era Naquelas tardes fagueiras
Nessa risonha manhã! À sombra das bananeiras,
Em vez das mágoas de agora, Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu

2
Literatura

Morte (hora de delírio)


Pensamento gentil de paz eterna, Cerro meus olhos contente
Amiga morte, vem. Tu és o termo Sem um ai de ansiedade.
De dois fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo. E como um autômato infante
Que ainda não sabe mentir,
Pensamento gentil de paz eterna, o pé da morte querida
Amiga morte, vem. Tu és o nada, ei de insensato sorrir.
Tu és a ausência das moções da vida,
Do prazer que nos custa a dor passada. Por minha face sinistra

(...) Meu pranto não correrá.

Amei-te sempre: — e pertencer-te quero Em meus olhos moribundos

Para sempre também, amiga morte. Terrores ninguém lerá.

Quero o chão, quero a terra — esse elemento;


Que não se sente dos vaivéns da sorte. Não achei na terra amores
Que merecessem os meus.
(...)
Não tenho um ente no mundo
Também desta vida à campa A quem diga o meu - adeus.
Não transporto uma saudade.

GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos.
São Paulo. LEP, 1959. v.2, p.62-6

3ª Geração Romântica
Enquanto a Primeira Fase Romântica apresentava uma preocupação com a construção da identidade
nacional, e a Segunda Fase se voltava para o egocentrismo e pessimismo do indivíduo, a Terceira Fase do
Romantismo - conhecida como Geração Condoreira - exibia um desejo de renovação da sociedade brasileira.
Questionadora dos ideais da primeira geração, o condoreirismo teve muito engajamento político-social,
denunciando as condições dos escravos. Os poetas dessa geração reivindicavam uma poesia social com
valores de igualdade, justiça e liberdade.
Principais características:

• poesia social e libertária


• geração “hugoana/hugoniana”
• identidade nacional
• abolicionismo
• identidade africana como parte da identidade brasileira
• negação ao amor platônico
• erotismo e pecado

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Literatura

Dentre os principais autores da época, podemos citar: Castro Alves (o poeta dos escravos) e Sousândrade.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Navio_negreiro_-_Rugendas_1830.jpg

Canto IV
Era um sonho dantesco... O tombadilho Presa nos elos de uma só cadeia,
Que das luzernas avermelha o brilho, A multidão faminta cambaleia,
Em sangue a se banhar. E chora e dança ali!
Tinir de ferros... estalar do açoite... Um de raiva delira, outro enlouquece...
Legiões de homens negros como a noite, Outro, que de martírios embrutece,
Horrendos a dançar... Cantando, geme e ri!

Negras mulheres, suspendendo às tetas No entanto o capitão manda a manobra


Magras crianças, cujas bocas pretas E após, fitando o céu que se desdobra
Rega o sangue das mães: Tão puro sobre o mar,
Outras, moças... mas nuas, espantadas, Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
No turbilhão de espectros arrastadas, "Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Em ânsia e mágoa vãs. Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra, irônica, estridente... E ri-se a orquestra irônica, estridente...


E da ronda fantástica a serpente E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais... Faz doudas espirais!
Se o velho arqueja... se no chão resvala, Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Ouvem-se gritos... o chicote estala. Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E voam mais e mais... E ri-se Satanás!...

Castro Alves

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Literatura

O adeus de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...


E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos... sec'los de delírio


Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei! ... descansa! ..."
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei... era o palácio em festa! ...


E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! ... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa! ...

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

Castro Alves

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Literatura

Exercícios

1. Leia atentamente os versos seguintes:


Eu deixo a vida com deixa o tédio
Do deserto o poeta caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um mineiro.

Esses versos de Álvares de Azevedo significam a:

a) revolta diante da morte.


b) aceitação da vida como um longo pesadelo.
c) aceitação da morte como a solução.
d) tristeza pelas condições de vida.
e) alegria pela vida longa que teve.

2. Se uma lágrima as pálpebras me inunda,


Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Álvares de Azevedo
A característica do Romantismo mais evidente nesta quadra é:

a) o espiritualismo
b) o pessimismo
c) a idealização da mulher
d) o confessionalismo
e) a presença do sonho

3. Minh’alma é triste como a rola aflita


Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

A estrofe apresentada revela uma situação caracteristicamente romântica. Aponte-a.

a) A natureza agride o poeta: neste mundo, não há amparo para os desenganos morosos.
b) A beleza do mundo não é suficiente para migrar a solidão do poeta.
c) O poeta atribui ao mundo exterior estados de espírito que o envolvem.
d) A morte, impregnando todos os seres e coisas, tira do poeta a alegria de viver.
e) O poeta recusa valer-se da natureza, que só lhe traz a sensação da morte.

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Literatura

4. Leia o fragmento e observe a imagem para responder à questão


Esta noite eu ousei mais atrevido, n
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
as telhas que estalavam nos meus passos,
e o eco ao longe murmurou — é ela!
ir espiar seu venturoso sono,
Eu a vi... minha fada aérea e pura
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
— a minha lavadeira na janela.

Como dormia! que profundo sono!...


Dessas águas furtadas onde eu moro
Tinha na mão o ferro do engomado...
eu a vejo estendendo no telhado
Como roncava maviosa e pura!...
os vestidos de chita, as saias brancas;
Quase caí na rua desmaiado!
eu a vejo e suspiro enamorado!

AZEVEDO, Álvares de. É ela! É ela! É ela! É ela. In: Álvares de Azevedo. São Paulo:
Abril Educação, 1982. p. 44. MARTIN-KAVEL, François. Sem título. Disponível em: . Acesso em: 14. mar. 2016.

Tanto a pintura quanto o excerto apresentados pertencem ao Romantismo. A diferença entre ambos,
porém, diz respeito ao fato de que
a) no fragmento verifica-se o retrato de um ser idealizado, ao passo que no quadro tem-se uma figura
retratada de modo pejorativo.
b) na pintura tem-se o retrato de uma mulher de feições austeras, ao passo que no poema nota-se a
descrição de uma mulher sofisticada.
c) no excerto tem-se a descrição realista e não idealizada de uma mulher, ao passo que na pintura
retratase uma mulher pertencente à burguesia.
d) na imagem tem-se uma moça cuja caracterização é abstrata, ao passo que no poema tem-se uma
mulher cujo aspecto é burguês e requintado.
e) no quadro constata-se a imagem de uma moça simplória, ao passo que no poema nota-se a
caracterização de uma donzela de vida airada.

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Literatura

5. Soneto

Oh! Páginas da vida que eu amava,


Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!...
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui!como eu pensava


Em mãe, amor de irmã! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lábios que eu tímido beijava!

Embora — é meu destino. Em treva densa


Dentro do peito a existência finda
Pressinto a morte na fatal doença!

A mim a solidão da noite infinda


Possa dormir o trovador sem crença.
Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura


brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica
identifica-se com a(o)
a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico.
b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã.
c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica.
d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir.
e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.

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6. O trecho a seguir é parte do poema “Mocidade e morte”, do poeta romântico Castro Alves:
Oh! eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
– Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.

Esse poema, como o próprio título sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão da morte
prematura, ainda na juventude.
A imagem da morte aparece na palavra
a) embalsama.
b) infinito.
c) amplidão.
d) dormir.
e) sono.

7. A São Paulo
Terra da liberdade! Cujas estátuas, – cada vez mais belas,
Pátria de heróis, berço de guerreiros, Dormem nos templos da Brasília história!
Tu és o louro mais brilhante e puro,
O mais belo florão dos Brasileiros! Eu te saúdo, ó majestosa plaga.
Fila dileta, – estrela da nação,
Foi no teu solo, em borbotões de sangue Que em brios santos carregastes os círios
Que a fronte ergueram destemidos bravos, À voz cruenta de feroz Bretão!
Gritando altivos ao quebrar dos ferros:
Antes a morte que um viver de escravos! Pejaste os ares de sagrados cantos,
Ergueste os braços e sorriste à guerra,
Foi nos teus campos de mimosas flores, Mostrando ousada ao murmurar das turbas
À voz das aves, ao soprar do norte, Bandeira imensa da Cabrália terra!
Que um rei potente às multidões curvadas
Bradou soberbo – Independência ou morte! Eia! – Caminha o Partenon da glória
Te guarda o louro que premia os bravos!
Foi de teu seio que surgiu, sublime, Voa ao combate repetindo a lenda:
Trindade eterna de heroísmo e glória, – Morrer mil vezes que viver escravos!
Fagundes Varela, O estandarte auriverde

A escolha do tema e o gosto da eloquência e da oratória aproximam esse texto da poesia romântica
de:
a) Gonçalves Dias
b) Castro Alves
c) Álvares de Azevedo
d) Casimiro de Abreu

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e) Sousândrade.
8. Sobre a literatura produzida por Castro Alves, assinale as alternativas corretas:
I. Representa, na evolução da poesia romântica brasileira, um momento de maturidade e transição,
substituindo temáticas ufanistas e de idealização do amor por temáticas mais críticas e realistas;
II. Sua produção literária estava voltada ao projeto de construção da cultura brasileira, dando
destaque ao romance indianista;
III. Desprezou o rigor das regras gramaticais, aproximando a linguagem literária da linguagem falada
pelo povo brasileiro;
IV. A ironia era um traço constante em sua obra, representando uma forma não passiva de ver a
realidade, tecendo uma fina crítica à noção de ordem e às convenções do mundo burguês;
V. Apresenta uma linguagem voltada para a defesa de seus ideais liberais e, por isso, é grandiosa e
hiperbólica, prenunciando a perspectiva crítica e objetiva do Realismo.

a) Todas as alternativas estão corretas.


b) Apenas I está correta.
c) Apenas III e V estão corretas.
d) Apenas I e V estão corretas.
e) Apenas V está correta.

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9. Navio negreiro-framentos
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados


Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
(...)
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

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Literatura

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,


Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1960. pp. 281-283

O texto I é um fragmento do poema “Navio negreiro”, de 1868, sobre o tráfico de escravos no Brasil. Por
meio desse poema, o autor faz uma crítica à sociedade brasileira e à política do Império, responsáveis
pela manutenção de um regime escravista. A figura que sustenta metaforicamente essa crítica é:
a) a bandeira nacional.
b) a providência divina.
c) a força da natureza.
d) a inspiração da musa.
e) a nobreza dos selvagens.

1
Literatura

10. Poeticamente, o sal metaforiza o mar, as lágrimas, a força de viver. Castro Alves, em sua obra poética,
lança mão desse recurso para unir arte e crítica social. Observe os fragmentos:

Fragmento 1 – “A Canção do Africano”


Lá, na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
CASTRO ALVES, 1995, p. 100.

Fragmento 2 - “O Navio Negreiro”


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se e verdade
Tanto horror perante os céus...
O mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...
CASTRO ALVES, 1995, p. 137.

Em relação a esses versos, é possível AFIRMAR:


I. O canto, as saudades e o pranto do escravo, no primeiro fragmento, são decorrentes do cativeiro
resultante da escravidão, situação aviltante ao ser humano.
II. O “horror perante os céus” a que se refere o eu lírico, no segundo fragmento, corresponde ao tráfico
de escravos, mácula sociomoral que envergonha o Brasil.
III. Em ambos os fragmentos, a crueldade da escravidão se faz presente.

Está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s)


a) I apenas.
b) II apenas.
c) I e II apenas.
d) I, II e III.

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Literatura

Gabarito

1. C
A morte é tema recorrente na segunda geração romântica, vista muitas vezes como a única saída para as
desilusões e limitações da vida.

2. C
No poema, podemos ver que a mulher amada pelo eu lírico é caracterizada como virgem e de face lida.
Isso demonstra uma idealização feminina, característica marcante dessa época.

3. C
A exteriorização dos sentimentos do eu lírico se materializa em elementos da natureza que atuam como
representações, complementos e/ou extensões destes.

4. C
As demais alternativas estão incorretas porque:
a) não há tom pejorativo na descrição da mulher, ela é idealizada;
b) na pintura, a mulher é delicada e de feições leves, no poema, ela é descrita como uma lavadeira na
lida;
d) a pintura, apesar de idealizada, não é abstrata, contém um certo realismo por ser um retrato;
e) o retrato parece ser de alguém que não faz trabalhos manuais ou braçais, já a lavadeira tem um
ofício árduo.

5. E
Entre as principais características Românticas da Segunda Geração, encontram-se destacados o culto à
noite e a valorização da morte no poema de Álvares de Azevedo. Na última estrofe, percebemos que o
eu lírico se despede da mãe, como se a morte o fosse certeira e próxima.

6. E
“lájea fria” representa a sepultura, por isso o sono é igual a morte.

7. B
Lembra Castro Alves porque ele foi um autor da 3ªGeração romântica que, em seus textos, apresentava
forte engajamento político, temática da escravidão e possuía recursos estilísticos de oratória bem
aprimorados.

8. D
A literatura de Castro Alves representou uma ruptura com o ultrarromantismo e denunciou mazelas
sociais como, principalmente, a escravidão.

9. A
A bandeira nacional é evocada por representar a nação e o povo brasileiro responsável pela manutenção
da escravidão.

10. D
No primeiro fragmento, a condição do escravo é humilhante ao ser retratado chorando com saudade de
suas terras. Além disso, todos os fragmentos tratam sobre a escravidão.

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Literatura

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Literatura

Romantismo: poesia da 1ª geração

Resumo

O romantismo
A primeira geração romântica é caracterizada como Nacionalista ou Indianista e tinha o intuito de despertar
o sentimento de amor à pátria, uma vez que, após tantos anos de Brasil-Colônia, era necessário implantar um
apego à terra tupiniquim e valorizar as belezas e os valores da região, ainda que de forma idealizada. Além
disso, a imagem do índio é resgatada como a representação do herói nacional.

Contexto histórico
O contexto histórico da primeira geração é marcado pela transição do Brasil-Colônia para o Brasil-Império.
Em 1822, com a Independência do Brasil, após tantos anos de o país vivendo como colônia, fez-se necessário
criar uma arte vinculada às nossas raízes nacionais. Os principais acontecimentos e influências que marcam
esse período são:
• Instalação da Corte Portuguesa no Brasil (1808);
• Abertura dos Portos;
• Chegadas das missões estrangeiras (científicas e culturais);
• Revolução Industrial;
• Era Napoleônica;
• Revolução Francesa.

Principais características do romantismo


Veja abaixo os principais aspectos sobre a escola romântica:

• Amor platônico por parte do eu lírico pela amada;


• Idealização amorosa;
• Sentimento nacionalista, culto à pátria;
• Fuga à realidade;
• Índio abordado de forma superficial, salvador da pátria;
• Linguagem subjetiva;
• Maior liberdade formal;
• Vocabulário mais simples;
• Natureza mais real, deixa de ser plano de fundo e interage com o eu lírico.

Na poesia, os nomes que mais se destacam são Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.

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Literatura

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Textos de apoio

Prólogo de “Suspiros poéticos e saudades”, obra inaugural do Romantismo no Brasil

É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga
Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como
um átomo no espaço, ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo;
ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Pátria,
sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas
da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se
ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser
julgadas.

Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com o
bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no
silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela
injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem
providencial que reina na história da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará
um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu
suspiro.

(...)
Uma vez determinado e conhecido o fim, o gênero se apresenta naturalmente. Até aqui, como só se procurava
fazer uma obra segundo a Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a inspiração, e artificial o entusiasmo.
Desprezavam os poetas a consideração se a Mitologia podia, ou não, influir sobre nós. Contanto que
dissessem que as Musas do Hélicon os inspiravam, que Febo guiava seu carro puxado pela quadriga, que a
Aurora abria as portas do Oriente com seus dedos de rosas, e outras tais e quejandas imagens tão usadas,
cuidavam que tudo tinham feito, e que com Homero emparelhavam; como se pudesse parecer belo quem
achasse algum velho manto grego, e com ele se cobrisse. Antigos e safados ornamentos, de que todos se
servem, a ninguém honram!

Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular,
nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da
inspiração; além de que, a igualdade dos versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estâncias produz
uma tal monotonia, e dá certa feição de concertado artificio que jamais podem agradar. Ora, não se compõe
uma orquestra só com sons doces e flautados; cada paixão requer sua linguagem própria, seus sons
imitativos, e períodos explicativos.

(Gonçalves de Magalhães)

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Literatura

MARABA
Eu vivo sozinha; ninguém me procura! — Como hástea pendente do cáctus em flor;
Acaso feitura — Mimosa, indolente, resvalo no prado,
Não sou de Tupá? — Como um soluçado suspiro de amor! —
Se algum dentre os homens de mim não se
esconde, "Eu amo a estatura flexível, ligeira,
— Tu és, me responde, "Qual duma palmeira,
— Tu és Marabá! Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
— Meus olhos são garços, são cor das safiras, "Que pisa vaidosa,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; "Que as flóreas campinas governa, onde está."
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar! — Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: — As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
"Teus olhos são garços, — De os ver tão formosos como um beija-flor!
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"Uns olhos fulgentes, "São loiros, são belos,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!" "Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
— É alvo meu rosto da alvura dos lírios, "Cabelos compridos,
— Da cor das areias batidas do mar; "Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. — E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
Se ainda me escuta meus agros delírios: O ramo d'acácia na fronte de um homem
"És alva de lírios", Jamais cingirei:
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado, Jamais um guerreiro da minha arazóia
"Um rosto crestado Me desprenderá:
"Do sol do deserto, não flor de cajá." Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
— Meu colo de leve se encurva engraçado,
(Gonçalves Dias)

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Literatura

DEPRECAÇÃO
Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto E hoje em que apenas a enchente do rio
Com denso velâmen de penas gentis; Cem vezes hei visto crescer e baixar...
E jazem teus filhos clamando vingança Já restam bem poucos dos teus, qu'inda possam
Dos bens que lhes deste da perda infeliz! Dos seus, que já dormem, os ossos levar.

Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobre: Teus filhos valentes causavam terror,
Bastante sofremos com tua vingança! Teus filhos enchiam as bordas do mar,
Já lágrimas tristes choraram teus filhos, As ondas coalhavam de estreitas igaras,
Teus filhos que choram tão grande mudança. De frechas cobrindo os espaços do ar.

Anhangá impiedoso nos trouxe de longe Já hoje não caçam nas matas frondosas
Os homens que o raio manejam cruentos, A corça ligeira, o trombudo coati...
Que vivem sem pátria, que vagam sem tino A morte pousava nas plumas da frecha,
Trás do ouro correndo, voraces, sedentos. No gume da maça, no arco tupi!

E a terra em que pisam, e os campos e os rios O Piaga nos disse que breve seria,
Que assaltam, são nossos; tu és nosso Deus: A que nos infliges cruel punição;
Por que lhes concedes tão alta pujança, E os teus inda vagam por serras, por vales,
Se os raios de morte, que vibram, são teus? Buscando um asilo por ínvio sertão!

Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rosto Tupã, ó Deus grande! descobre o teu rosto:
Com denso velâmen de penas gentis; Bastante sofremos com tua vingança!
E jazem teus filhos clamando vingança Já lágrimas tristes choraram teus filhos,
Dos bens que lhes deste da perda infeliz. Teus filhos que choram tão grande tardança.

Teus filhos valentes, temidos na guerra, Descobre o teu rosto, ressurjam os bravos,
No albor da manhã quão fortes que os vi! Que eu vi combatendo no albor da manhã;
A morte pousava nas plumas da frecha, Conheçam-te os feros, confessem vencidos
No gume da maça, no arco tupi! Que és grande e te vingas, qu'és Deus, ó Tupã!

(Gonçalves Dias)

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Literatura

Exercícios

1. "O indianismo dos românticos [...] denota tendência para particularizar os grandes temas, as grandes
atitudes de que se nutria a literatura ocidental, inserindo-as na realidade local, tratando-as como
próprias de uma tradição brasileira."
Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira

Considerando-se o texto acima, pode-se dizer que o indianismo, na literatura romântica brasileira:

a) procurou ser uma cópia dos modelos europeus.

b) adaptou a realidade brasileira aos modelos europeus.

c) ignorou a literatura ocidental para valorizar a tradição brasileira.

d) deformou a tradição brasileira para adaptá-la à literatura ocidental.

e) procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.

2. A natureza, nessa estrofe:


“Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.”
Gonçalves Dias

Obs.: tamarindo = árvore frutífera; o fruto dessa mesma planta


bogari = arbusto de flores brancas

a) é concebida como uma força indomável que submete o eu lírico a uma experiência erótica
instintiva.
b) expressa sentimentos amorosos.
c) é representada por divindade mítica da tradição clássica.
d) funciona apenas como quadro cenográfico para o idílio amoroso.
e) é recriada objetivamente, com base em elementos da fauna e da flora nacionais.

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Literatura

3. Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998.

Gonçalves Dias consolidou o romantismo no Brasil. Sua “Canção do exílio” pode ser considerada
tipicamente romântica porque:

a) apoia-se nos cânones formais da poesia clássica greco-romana; emprega figuras de ornamento,
até com certo exagero; evidencia a musicalidade do verso pelo uso de aliterações.
b) exalta terra natal; é nostálgica e saudosista; o tema é tratado de modo sentimental, emotivo.
c) utiliza-se do verso livre, como ideal de liberdade criativa; sua linguagem é hermética, erudita;
glorifica o canto dos pássaros e a vida selvagem.
d) poesia e música se confundem, como artifício simbólico; a natureza e o tema bucólico são
tratados com objetividade; usa com parcimônia as formas pronominais de primeira pessoa.
e) refere-se à vida com descrença e tristeza; expõe o tema na ordem sucessiva, cronológica; utiliza-
se do exílio como o meio adequado de referir-se à evasão da realidade.

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Literatura

4. Releia “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias (exercício 3) e em seguida leia o texto abaixo.

TEXTO II
Canto de regresso à Pátria

Minha terra tem palmares


Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas


E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas


Eu quero tudo de lá
Não permita
Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra


Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo
ANDRADE, O. Cadernos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Círculo do Livro. s/d.

Os textos escritos em contextos históricos e culturais diversos, enfocam o mesmo motivo poético: a
paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que:
a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha excessivamente do país em que nasceu, e o tom de que
se revestem os dois textos.
b) a exaltação da natureza é a principal característica do texto B, que valoriza a paisagem tropical
realçada no texto A.
c) o texto B aborda o tema da nação, como o texto A, mas sem perder a visão crítica da realidade
brasileira.
d) o texto B, em oposição ao texto A, revela distanciamento geográfico do poeta em relação à pátria.
e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira.

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Literatura

5. O homem de todas as épocas se preocupa com a natureza. Cada período a vê de modo particular. No
Romantismo, a natureza aparece como:
a) um cenário cientificamente estudado pelo homem; a natureza é mais importante que o elemento
humano.
b) um cenário estático, indiferente; só o homem se projeta em busca de sua realização.
c) um cenário sem importância nenhuma; é apenas pano de fundo para as emoções humanas.
d) confidente do poeta, que compartilha seus sentimentos com a paisagem; a natureza se modifica
de acordo com o estado emocional do poeta.
e) um cenário idealizado, onde todos são felizes e os poetas são pastores.

6. "Cantor das selvas, entre bravas matas


Áspero tronco da palmeira escolho,
Unido a ele soltarei meu canto,
Enquanto o vento nos palmares zune,
Rugindo os longos, encontrados leques."

Os versos acima, de Os Timbiras, de Gonçalves Dias, apresentam características da primeira geração


romântica:
a) apego ao equilíbrio na forma de expressão; presença do nacionalismo, pela temática indianista e
pela valorização da natureza brasileira.
b) resistência aos exageros sentimentais e à forma de expressão subordinada às emoções; visão da
poesia a serviço de causas sociais, como a escravidão.
c) expressão preocupada com o senso de medida; "mal do século"; natureza como amiga e
confidente.
d) transbordamento na forma de expressão; valorização do índio como típico homem nacional;
apresentação da natureza como refúgio dos males do coração.
e) expressão a serviço da manifestação dos estados de espírito mais exagerados; sentimento
profundo de solidão.

7. O indianismo de nossos poetas românticos é:


a) uma forma de apresentar o índio em toda a sua realidade objetiva; o índio como elemento étnico
da futura raça brasileira.
b) um meio de reconstruir o grave perigo que o índio representava durante a instalação da capitania
de São Vicente.
c) um modelo francês seguido no Brasil; uma necessidade de exotismo que em nada difere do
modelo europeu.
d) um meio de eternizar liricamente a aceitação, pelo índio, da nova civilização que se instalava.
e) uma forma de apresentar o índio como motivo estético; idealização com simpatia e piedade;
exaltação da bravura, do heroísmo e de todas as qualidades morais superiores.

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Literatura

8. Sabiá
Vou voltar E algum amor talvez possa espantar
Sei que ainda vou voltar As noites que eu não queria
Para o meu lugar E anunciar o dia
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir Vou voltar
Uma sabiá Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Vou voltar Que fiz tantos planos de me enganar
Sei que ainda vou voltar Como fiz enganos de me encontrar
Vou deitar à sombra de uma palmeira Como fiz estradas de me perder
Que já não há Fiz de tudo e nada de te esquecer (...)
Colher a flor que já não dá
Tom Jobim e Chico Buarque
A canção “Sabiá” é apenas uma das inúmeras releituras e citações que o poema de Gonçalves Dias,
“Canção do Exílio” recebeu a partir do Modernismo. Esse poeta pertenceu à 1ª geração do Romantismo
Brasileiro. Nas opções abaixo, assinale a única que não apresenta características desse estilo de época.
a) Nacionalismo, onde a exaltação da pátria somente enaltece as qualidades
b) Exaltação da natureza
c) Sentimentalismo e religiosidade
d) Indianismo
e) Conceptismo (jogo de ideias) e cultismo (jogo de palavras)

9. Contemporâneo de Manuel Antônio de Almeida, Gonçalves Dias escreveu, em um de seus poemas:

No meio das tabas de amenos verdores,


Cercada de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação (...)

Assinale a afirmação correta sobre o poeta.

a) Sua poesia indianista expressa concepção lírica e épica das nossas origens, reafirmando, no Brasil,
os propósitos nacionalistas do Romantismo.
b) O embate entre o bem e o mal, típico tema romântico, assume para ele a forma da luta do oprimido
contra o opressor, o que lhe permitiu uma visão ampla e humana do escravo.
c) Sua poesia confessional, ao gosto do público médio de seu tempo, alia, de maneira singela, a
natureza e os sentimentos, como se vê nos versos citados.
d) Sua concepção de arte deu origem a poemas em que a linguagem verbal busca reproduzir objetiva
e realisticamente objetos decorativos, como um vaso chinês ou uma estátua grega.
e) Em seus poemas, perde-se o rigor parnasiano, e o intenso trabalho com a sonoridade busca a
liberação dos sentidos, “cárcere das almas”, que impede o acesso ao Nirvana.

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Literatura

10. São características da primeira geração do Romantismo brasileiro, exceto:


a) Exaltação da natureza e da liberdade.
b) Indianismo.
c) Nacionalismo ufanista.
d) Brasileirismo (linguagem).
e) Egocentrismo e individualismo.

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Gabarito

1. E
Apesar de ser um movimento que tinha tendências nacionalistas e de valorização à pátria, o indianismo
romântico europeizava o índio brasileiro, porque a arte daquela época ainda era moldada pelas vertentes
europeias.

2. B
Característica típica dos românticos era utilizar a natureza como elemento expressivo dos sentimentos
do eu-lírico.

3. B
A alternativa B expressa as características românticas contidas na música. Há um forte sentimento de
saudade e uma ânsia por voltar para a terra natal que é hiperbolicamente melhor do que as terras de
exílio.

4. C
O texto de Gonçalves Dias é idealizado e romântico. O texto 2, de Oswald de Andrade, é modernista e
apresenta uma visão mais crua da realidade brasileira.

5. D
A natureza era elemento recorrente nas poesias românticas, porque os poetas a modificavam de acordo
com seus estados emocionais.

6. A
A própria alternativa se justifica, por apresentar as características da primeira fase romântica.

7. E
A própria alternativa se justifica ao apresentar como e por qual razão o índio tornou-se símbolo para a
primeira geração romântica.

8. E
São características da arte barroca.

9. A
A alternativa se justifica, mostrando característica indianista-nacionalista marcante da primeira geração
romântica.

10. E
A primeira geração estava com a ideia de exaltar a pátria e a identidade nacional, logo seria incoerente
apresentar característica egocêntrica e individualista (que são características da 2ª geração).

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