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ANTOLOGIA POÉTICA - 02
A Rosa Depois quiz te esquecer! mas, inda agora,
Debruçada um dia a rosa Banhe-me a fronte o dia, a noite, a aurora.
Sobre a corrente do rio, Repouse no meu crâneo a ideia em flor,
As estrelas refletidas
No fundo das águas viu. Vejo tua imagem em sonhos arrastada
E sinto ir a minh’alma, alucinada,
Enamorou-se de todas; Unir-se à tua nas regiões do Amor!...
Mas somente de vaidosas, JAVROT, Múcio (Joaquim Francisco de Mendonça Junior).
Fingiram também amá-la Depois da partida. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Antologia
Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora Pinto
As estrelinhas formosas. Barbosa, 1904. p. 56.
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Hoje segues de novo... Na partida CARVALHO, Pádua de. Meu Céu. In: AZEVEDO, J.
Nem o pranto os teus olhos umedece, Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém:
Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 75.
Nem te comove a dor da despedida.
Ashaverus
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Uma noite seguia o desgraçado
Vendo o teu vulto que desaparece
pela encosta do monte, e tristemente
Na extrema curva do caminho extremo.
BILAC, Olavo. Nel mezzo del camin. In. Poesias (Sarça de
escutava o sussurro da corrente
fogo). Rio de Janeiro: Garnier, 1902. p. 126. d'um regato em luar gentil banhado.
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Ahasverus e o gênio Fogem pasmas de si.
Sabes quem foi Ahasverus?...— o precito, E o mísero de glória em glória corre...
O mísero Judeu, que tinha escrito Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Na fronte o selo atroz! Responde o desgraçado: — "Eu não vivi!..."
Eterno viajor de eterna senda... São Paulo, Outubro de 1868
Espantado a fugir de tenda em tenda, ALVES, Castro. Ahasverus e o Gênio. In: Obras Completas de
Castro Alves (Espumas Flutuantes). Vol. I. Rio de Janeiro:
Fugindo embalde à vingadora voz!
Livraria Francisco Alves, 1921. [1870]. p. 134-135.
Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro Ave, América!
Não teve onde... pousar. Alvas e pandas as latinas velas
Co'a mão vazia — viu a terra cheia. Como as asas das brancas mariposas,
O deserto negou-lhe — o grão de areia, Deixando pela Glória mães e esposas,
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar. Partem Colombo e os seus nas caravelas,
D'Ásia as florestas — lhe negaram sombra
A savana sem fim — negou-lhe alfombra. Que entre bonanças, raios e procelas
O chão negou-lhe o pó!... Sulcam do mar as ondas marulhosas
Tabas, serralhos, tendas e solares... E do Atlântico as vagas tormentosas,
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares Embalando-as vencidas são por elas.
E o triste seguiu só.
Abre o marujo às índias, ao Nascente,
Viu povos de mil climas, viu mil raças, A larga, a azul, a Ocidental estrada;
E não pôde entre tantas populaças Mas, qual num berço, em flóreo continente,
Beijar uma só mão ...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas, Separando-o da terra desejada
Desde a inglesa à crioula das Antilhas Que aos olhos lacrimosos crê presente,
Não teve um coração! ... Surge no mar a América deitada!
E caminhou!... E as tribos se afastavam CARVALHO, António de. Ave, América! In: AZEVEDO,
E as mulheres tremendo murmuravam J. Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses).
Com respeito e pavor. Belém: Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 104.
Ai! Fazia tremer do vale à serra... Phriné
Ele que só pedia sobre a terra Entra na sala... a multidão recua
— Silêncio, paz e amor! — Passagem dando ao anjo maculado...
No entanto à noite, se o Hebreu passava, E ante beleza tal, entusiasmado,
Um murmúrio de inveja se elevava, O coração d’aquele povo estua!
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia... - “Vêde-a, o advogado diz, que sorte a sua!
E o precito consigo respondia: Morrer um anjo assim, tão bem formado!...
— "Ai! mas nunca vivi!" — E, tal dizendo, rasga-lhe o enfeitado
_________ Vestido redolente, e a mostra nua.
O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário Phriné baixou os olhos confundida...
Sem termo do existir. Aquela gente inculta, embevecida,
Invejado! a invejar os invejosos. Murmurara um – Perdão! – vendo-lhe as formas!
Vendo a sombra dos álamos frondosos... Ao recordar teus feitos não vulgares,
E sempre a caminhar... sempre a seguir... Ó Carne, eu pasmo ao ver que, sem falares,
Pede u'a mão de amigo — dão-lhe palmas: Em mansidão a cólera transformas.
Pede um beijo de amor — e as outras almas AZEVEDO, J. Eustáquio. Phriné. Sílvio Romero,
publicação mensal crítica e noticiosa, Belém, ano 02, n.
04, p. 05, 28 jul. 1890.
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O julgamento de Frineia Sós
Mnezarete, a divina, a pálida Frineia, Nós dois somente, ninguém mais! relendo
Comparece ante a austera e rígida assembleia Nossas cartas de amor imaculado...
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira Longe do mundo, num chalet doirado.
Aquela formosura original, que inspira Nós dois somente e Deus do céu nos vendo...
E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles,
De Hiperides à voz e à palheta de Apeles. Sós! e mais tarde um anjo a nosso lado,
- Fructo de nosso amor - também vivendo.
Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
Nós a embalá-lo quando o sol morrendo
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Fosse - e a vê-lo dormir acalentado...
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Aconchegar-te ao peito meu, contar-te
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
O que o verso não diz, anjo! Adorar-te
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.
haurindo o olor que teu cabelo encerra...
Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis... - É tudo quanto aspiro nesta vida!
Basta um rápido olhar provocante e lascivo: E a minha esperança estremecida...
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo... - A que me faz viver inda na terra!
Nada iguala o poder de suas mios pequenas: AZEVEDO, José Eustáquio de. Sós. In. Sonetos Brasileiros
(Século XVII-XX). Coletânea organizada por Laudelino Freire.
Basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas... Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1913. p. 231.
Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela, Cittá Dolente
Mal a nudez oculta e sensual disfarça. Para! Detém teus fatigados passos,
cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa... peregrino do amor, que o amor procuras,
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala, outros, aqui pisando iguais agruras,
E incita o tribunal severo a condená-la: deixaram da ilusão rotos pedaços.
"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta, Fita bem estes céus, de luz escassos,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta! estas paisagens plenas de amarguras;
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente como soturno é tudo! As vozes puras
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...) do amor não vibram nunca nos espaços.
"Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliostes! condenai-a!" Nestas remotas solidões, a prece
da eterna dor o espírito enternece,
Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma... e, enternecendo, o coração invade.
Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede, O amor que buscas, insensato, habita
Suplica, ordena, exige... O Areópago não cede. outros céus de uma luz calma e bendita,
"Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca aqui só vive o espectro da saudade!
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca... MIRANDA, Guilherme de. Cittá dolente. In: AZEVEDO, J.
Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém:
Pasmam subitamente os juízes deslumbrados, Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 122.
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia Clarisse
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia Ao ver-te o vulto airoso, e pequenino e leve,
Diante da multidão atônita e surpresa, Co'a “pose”, senhoril das filhas d'Alemanha,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza. Pulsa-me o coração, o sangue meu referve,
BILAC, Olavo. O julgamento de Frineia. In. Poesias (Sarça de E sinto dentro em mim deslumbração tamanha
fogo). Rio de Janeiro: Garnier, 1902. p. 77-78. Ao ver-te o vulto airoso, e pequenino e leve.
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Envolvo-te co'a vista em êxtases profundo, Pensar em mim? Eu lhe volvi sorrindo...
Seguindo deslumbrado os teus meneios todos. E ao longo espaço transparente e infindo
Nada mais vejo, nada; esqueço-me do mundo, Erguera os olhos úmidos e azuis
E para ver se acalmo os meus instintos doudos
E da formosa pálpebra dorida,
Envolvo-te coa vista em êxtases profundo.
Eu vi tombar minha ilusão querida
Nas gotas duma lágrima sem luz!
Se banhas-me co'a luz dos olhos teus, formosa, DO REGO, João de Deus. Dolor suprema. O Gládio:
Sublime d’um fulgor, mas d'um fulgor divino, propriedade de uma Associação, Belém, ano 1, n. 3, p. 03, 17
Minh'alma ruge e salta, indómita, nervosa fev. 1890.
Meu ser, para contê-la, eu sinto pequenino
Se banhas-me co'a luz dos olhos teus, formosa. Do riso
A Eustáquio de Azevedo
Tua fala, o andar, teus mínimos meneios Riso, meiga expressão da lágrima e do Pranto,
Causam-me sensações horríveis de contar. . . Riso, foco de luz, no semblante da vida,
Em ti tudo arrebata: os pés, as mãos, os seios, Filho bastardo e só, de um Soluço, ou de um canto,
As curvas de teu eólio, a luz de teu olhar. Entre o espasmo do gozo e a dor de uma ferida.
Tua fala, o andar, teus mínimos meneios.
NUNES, Olavo de. Clarisse. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Quem nos dirá que foi morfoseado Acanto
Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora Por um riso talvez na face dolorida?
Pinto Barbosa, 1904. p. 152-153. Pobre ave a voar na tristeza do encanto
Pelo manso arrebol de perenal partida.
Ceticismo
Pelos caminhos infinitos, ermos, Quem me dera possuir a volição suprema,
alvos, direitos, sem um pio de ave, De rir, somente quando a ventura sentisse
sob um Azul puríssimo e suave, Minha fronte envolver como áureo diadema!
busco da Paz os merencórios termos. Pois, contrista-me ver, com os olhos transbordando,
Na tortura que encampa a sutil garridice,
Vago da Dor pelo ferino entrave, Tanta gente a sorrir com o coração chorando.
onde soluçam corações enfermos. . . (Das Nevroses)
Erro no claro-escuro de outros ermos, GUIMARÃES, Paula. Do riso. Athena, Belém, ano 1, n.
buscando alívio que esta Mágoa lave. 1, p. 03, fev. 1913.