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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA/CAMPUS TOMÉ-AÇU


CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
LITERATURA DA AMAZÔNIA I
Prof. Dr. José Francisco da Silva Queiroz

ANTOLOGIA POÉTICA - 02
A Rosa Depois quiz te esquecer! mas, inda agora,
Debruçada um dia a rosa Banhe-me a fronte o dia, a noite, a aurora.
Sobre a corrente do rio, Repouse no meu crâneo a ideia em flor,
As estrelas refletidas
No fundo das águas viu. Vejo tua imagem em sonhos arrastada
E sinto ir a minh’alma, alucinada,
Enamorou-se de todas; Unir-se à tua nas regiões do Amor!...
Mas somente de vaidosas, JAVROT, Múcio (Joaquim Francisco de Mendonça Junior).
Fingiram também amá-la Depois da partida. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Antologia
Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora Pinto
As estrelinhas formosas. Barbosa, 1904. p. 56.

Um lírio, perto, votava-lhe Soneto


Amor constante e leal: Perdi... perdi já tudo! Nem já sinto
Desprezou-o, seduzida Sorrir-me dentro d'alma uma esperança!
Pela miragem fatal. Enlevos de mancebo... amor, bonança!
Ai! tudo se finou! por Deus, não minto!
E disse à brisa: - “levai-me,
Levai-me ao fundo do rio”. Tirai-me o coração! - De mágoa tinto -
Sacudiu-lhe a brisa a haste, Sequer nele achareis uma lembrança
E a rosa n’água caiu. Dos gozos que fruí quando, em criança.
Do riso e do prazer cingia-me o cinto!
Ai, pobrezinha! A corrente
E assim hei eu de morrer? Meu Deus, que sina!
Tragou-a num breve instante!
Morrer... morrer sem nunca haver ditoso
- Perdeu-se a flor, no delírio
Do amor gozado, em vida, a luz divina!
De um amor tão inconstante!
Fevereiro de 1871. Morrer... morrer vergado ao peso iroso
ALVES, Francisco F. de Vilhena. Enlevos poéticos: D’acérrima desgraça vil, ferina,
coleção de versos. Pará: Carlos Seidl & Cia, 1871. p. É triste, é triste, ó Deus! muito horroroso!
69-70. SOUSA, Marcelino. Soneto. In: AZEVEDO, J. Eustáquio.
Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora
Depois da partida Pinto Barbosa, 1904. p. 66.
Quando voltei depois do addio supremo.
Nel mezzo del camin
Do addio supremo e cru da despedida,
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
Depois de te lançar naquele extremo,
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Co'a luz do olhar, a luz da minha vida;
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
Banhou-me a alma esse clarão verano
Da mais atroz e pálida saudade,
E paramos de súbito na estrada
E eu que sempre zombei do pranto humano,
Da vida: longos anos, presa à minha
Chorei por ti!... Amarga e atroz verdade!
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

1
Hoje segues de novo... Na partida CARVALHO, Pádua de. Meu Céu. In: AZEVEDO, J.
Nem o pranto os teus olhos umedece, Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém:
Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 75.
Nem te comove a dor da despedida.
Ashaverus
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Uma noite seguia o desgraçado
Vendo o teu vulto que desaparece
pela encosta do monte, e tristemente
Na extrema curva do caminho extremo.
BILAC, Olavo. Nel mezzo del camin. In. Poesias (Sarça de
escutava o sussurro da corrente
fogo). Rio de Janeiro: Garnier, 1902. p. 126. d'um regato em luar gentil banhado.

Ignotus E passava raivoso, concentrado,


Eu não te vejo, ó sombra resplendente, na maldição do Cristo-Onipotente
Dos meus dias nos lúcidos momentos; Sofria: blasfemava... De repente
Mas oiço a tua voz na voz dos ventos estremeceu de gozo, enamorado.
E sinto-te, translúcida, na mente!
É que vira na linfa cristalina
Quem é que não te crê? Quem não te sente do regato, a figura d'uma ondina,
No doce vaguear dos pensamentos, Unia corpo de mulher, que fascinava-o.
Quando à alma cansada de tormentos
Repoisa no Ideal, inda mais crente? Quis abraçar o vulto, dar-lhe um beijo,
que traduzisse um férvido desejo,
Quem não faz do sofrer uma ventura mas não pode: fugiu... Deus fulminava-o!
Ao sonhar esses olhos de ternura CARVALHO, J. Marques de. Ahasverus. In: AZEVEDO,
E da paz do perdão que nos assombra? J. Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses).
Belém: Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 92-93.
Tu me enlevas num sonho de piedade,
Cheio de tanta luz e suavidade, Othelo
Que, embora sem te ver, te adoro, sombra! Era um grande oceano de ternura
CARVALHO, Pádua de. Ignotus. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Aquele coração apaixonado.
Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Palpitava contente, alucinado.
Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 75. Nos ímpetos febris d'alma ventura,

Meu Céu Se Desdêmona, o anjo de candura,


Quando minh'alma altiva, palpitante, Ocultava-lhe o seio bafejado
Ébria de luz, de amor, de primavera. Pelos beijos do gozo perfumado.
Procura o azul divino dessa esfera Pelas auras do amor de uma alma pura.
Que envolve os olhos teus, ó minha amante, Pela paixão perdeu-se... O vil ciúme
Extinguiu-lhe no peito esse perfume
Bem qual procura astrónomo distante Volitante de amor vesano, intenso...
Bela Órion de estrelas que venera,
E cuja luz sublime considera Procurando vingar a honra, o nome,
Como num sonho célico de Dante; Imola a casta esposa e se consome
Nas fúrias do remorso triste, imenso!..
Penso que fez o Deus a imensidade CARVALHO, J. Marques de. Ahasverus. In: AZEVEDO,
E o teu olhar do mesmo azul infindo, J. Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses).
Deu-lhes a mesma luz e majestade! Belém: Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 93.

É esse olhar febril que vai sentindo


Minh’alma junto a ti, na claridade,
- O bom céu que ela adora e a vai nutrindo.

2
Ahasverus e o gênio Fogem pasmas de si.
Sabes quem foi Ahasverus?...— o precito, E o mísero de glória em glória corre...
O mísero Judeu, que tinha escrito Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Na fronte o selo atroz! Responde o desgraçado: — "Eu não vivi!..."
Eterno viajor de eterna senda... São Paulo, Outubro de 1868
Espantado a fugir de tenda em tenda, ALVES, Castro. Ahasverus e o Gênio. In: Obras Completas de
Castro Alves (Espumas Flutuantes). Vol. I. Rio de Janeiro:
Fugindo embalde à vingadora voz!
Livraria Francisco Alves, 1921. [1870]. p. 134-135.
Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro Ave, América!
Não teve onde... pousar. Alvas e pandas as latinas velas
Co'a mão vazia — viu a terra cheia. Como as asas das brancas mariposas,
O deserto negou-lhe — o grão de areia, Deixando pela Glória mães e esposas,
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar. Partem Colombo e os seus nas caravelas,
D'Ásia as florestas — lhe negaram sombra
A savana sem fim — negou-lhe alfombra. Que entre bonanças, raios e procelas
O chão negou-lhe o pó!... Sulcam do mar as ondas marulhosas
Tabas, serralhos, tendas e solares... E do Atlântico as vagas tormentosas,
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares Embalando-as vencidas são por elas.
E o triste seguiu só.
Abre o marujo às índias, ao Nascente,
Viu povos de mil climas, viu mil raças, A larga, a azul, a Ocidental estrada;
E não pôde entre tantas populaças Mas, qual num berço, em flóreo continente,
Beijar uma só mão ...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas, Separando-o da terra desejada
Desde a inglesa à crioula das Antilhas Que aos olhos lacrimosos crê presente,
Não teve um coração! ... Surge no mar a América deitada!
E caminhou!... E as tribos se afastavam CARVALHO, António de. Ave, América! In: AZEVEDO,
E as mulheres tremendo murmuravam J. Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses).
Com respeito e pavor. Belém: Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 104.
Ai! Fazia tremer do vale à serra... Phriné
Ele que só pedia sobre a terra Entra na sala... a multidão recua
— Silêncio, paz e amor! — Passagem dando ao anjo maculado...
No entanto à noite, se o Hebreu passava, E ante beleza tal, entusiasmado,
Um murmúrio de inveja se elevava, O coração d’aquele povo estua!
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia... - “Vêde-a, o advogado diz, que sorte a sua!
E o precito consigo respondia: Morrer um anjo assim, tão bem formado!...
— "Ai! mas nunca vivi!" — E, tal dizendo, rasga-lhe o enfeitado
_________ Vestido redolente, e a mostra nua.
O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário Phriné baixou os olhos confundida...
Sem termo do existir. Aquela gente inculta, embevecida,
Invejado! a invejar os invejosos. Murmurara um – Perdão! – vendo-lhe as formas!
Vendo a sombra dos álamos frondosos... Ao recordar teus feitos não vulgares,
E sempre a caminhar... sempre a seguir... Ó Carne, eu pasmo ao ver que, sem falares,
Pede u'a mão de amigo — dão-lhe palmas: Em mansidão a cólera transformas.
Pede um beijo de amor — e as outras almas AZEVEDO, J. Eustáquio. Phriné. Sílvio Romero,
publicação mensal crítica e noticiosa, Belém, ano 02, n.
04, p. 05, 28 jul. 1890.

3
O julgamento de Frineia Sós
Mnezarete, a divina, a pálida Frineia, Nós dois somente, ninguém mais! relendo
Comparece ante a austera e rígida assembleia Nossas cartas de amor imaculado...
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira Longe do mundo, num chalet doirado.
Aquela formosura original, que inspira Nós dois somente e Deus do céu nos vendo...
E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles,
De Hiperides à voz e à palheta de Apeles. Sós! e mais tarde um anjo a nosso lado,
- Fructo de nosso amor - também vivendo.
Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
Nós a embalá-lo quando o sol morrendo
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Fosse - e a vê-lo dormir acalentado...
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Aconchegar-te ao peito meu, contar-te
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
O que o verso não diz, anjo! Adorar-te
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.
haurindo o olor que teu cabelo encerra...
Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis... - É tudo quanto aspiro nesta vida!
Basta um rápido olhar provocante e lascivo: E a minha esperança estremecida...
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo... - A que me faz viver inda na terra!
Nada iguala o poder de suas mios pequenas: AZEVEDO, José Eustáquio de. Sós. In. Sonetos Brasileiros
(Século XVII-XX). Coletânea organizada por Laudelino Freire.
Basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas... Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1913. p. 231.
Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela, Cittá Dolente
Mal a nudez oculta e sensual disfarça. Para! Detém teus fatigados passos,
cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa... peregrino do amor, que o amor procuras,
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala, outros, aqui pisando iguais agruras,
E incita o tribunal severo a condená-la: deixaram da ilusão rotos pedaços.

"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta, Fita bem estes céus, de luz escassos,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta! estas paisagens plenas de amarguras;
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente como soturno é tudo! As vozes puras
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...) do amor não vibram nunca nos espaços.
"Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliostes! condenai-a!" Nestas remotas solidões, a prece
da eterna dor o espírito enternece,
Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma... e, enternecendo, o coração invade.
Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede, O amor que buscas, insensato, habita
Suplica, ordena, exige... O Areópago não cede. outros céus de uma luz calma e bendita,
"Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca aqui só vive o espectro da saudade!
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca... MIRANDA, Guilherme de. Cittá dolente. In: AZEVEDO, J.
Eustáquio. Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém:
Pasmam subitamente os juízes deslumbrados, Casa Editora Pinto Barbosa, 1904. p. 122.
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia Clarisse
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia Ao ver-te o vulto airoso, e pequenino e leve,
Diante da multidão atônita e surpresa, Co'a “pose”, senhoril das filhas d'Alemanha,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza. Pulsa-me o coração, o sangue meu referve,
BILAC, Olavo. O julgamento de Frineia. In. Poesias (Sarça de E sinto dentro em mim deslumbração tamanha
fogo). Rio de Janeiro: Garnier, 1902. p. 77-78. Ao ver-te o vulto airoso, e pequenino e leve.

4
Envolvo-te co'a vista em êxtases profundo, Pensar em mim? Eu lhe volvi sorrindo...
Seguindo deslumbrado os teus meneios todos. E ao longo espaço transparente e infindo
Nada mais vejo, nada; esqueço-me do mundo, Erguera os olhos úmidos e azuis
E para ver se acalmo os meus instintos doudos
E da formosa pálpebra dorida,
Envolvo-te coa vista em êxtases profundo.
Eu vi tombar minha ilusão querida
Nas gotas duma lágrima sem luz!
Se banhas-me co'a luz dos olhos teus, formosa, DO REGO, João de Deus. Dolor suprema. O Gládio:
Sublime d’um fulgor, mas d'um fulgor divino, propriedade de uma Associação, Belém, ano 1, n. 3, p. 03, 17
Minh'alma ruge e salta, indómita, nervosa fev. 1890.
Meu ser, para contê-la, eu sinto pequenino
Se banhas-me co'a luz dos olhos teus, formosa. Do riso
A Eustáquio de Azevedo
Tua fala, o andar, teus mínimos meneios Riso, meiga expressão da lágrima e do Pranto,
Causam-me sensações horríveis de contar. . . Riso, foco de luz, no semblante da vida,
Em ti tudo arrebata: os pés, as mãos, os seios, Filho bastardo e só, de um Soluço, ou de um canto,
As curvas de teu eólio, a luz de teu olhar. Entre o espasmo do gozo e a dor de uma ferida.
Tua fala, o andar, teus mínimos meneios.
NUNES, Olavo de. Clarisse. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Quem nos dirá que foi morfoseado Acanto
Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora Por um riso talvez na face dolorida?
Pinto Barbosa, 1904. p. 152-153. Pobre ave a voar na tristeza do encanto
Pelo manso arrebol de perenal partida.
Ceticismo
Pelos caminhos infinitos, ermos, Quem me dera possuir a volição suprema,
alvos, direitos, sem um pio de ave, De rir, somente quando a ventura sentisse
sob um Azul puríssimo e suave, Minha fronte envolver como áureo diadema!
busco da Paz os merencórios termos. Pois, contrista-me ver, com os olhos transbordando,
Na tortura que encampa a sutil garridice,
Vago da Dor pelo ferino entrave, Tanta gente a sorrir com o coração chorando.
onde soluçam corações enfermos. . . (Das Nevroses)
Erro no claro-escuro de outros ermos, GUIMARÃES, Paula. Do riso. Athena, Belém, ano 1, n.
buscando alívio que esta Mágoa lave. 1, p. 03, fev. 1913.

Passa por mim das Ilusões o Marne... O ambiente


Vejo que o mundo é tedioso espasmo, Chegas à margem da caudal do rio
em que floresce a rubra flor da Carne. . . E logo paras atônito. Em frente,
Tudo é mentira! o Gozo é uma quimera! Espesso, verde, impenetrável, rente
Vida - és mifistofélico sarcasmo; Às águas vês o matagal sombrio.
Morte - és o Abrigo que minha alma espera! Meio-dia. Modorra. Calma... Estio
RIBEIRO, Flexa. Ceticismo. In: AZEVEDO, J. Eustáquio. Perpétuo... Lassidão... Luxúria ardente...
Antologia Amazônica (poetas paraenses). Belém: Casa Editora
Escalda, do alto, o luminoso ambiente;
Pinto Barbosa, 1904. p. 152-153.
Estua no ar um frêmito bravio.
Dolor suprema
Quando eu voltei de longe, inda na mente Aves estranhas, gárrulas, bizarras,
Trazia as sombras fúnebres da ausência; Recortam, a voar, o claro espaço,
Ela tremera ao ver-me, e amargamente Estridulam os cantos das cigarras.
Turbou-se-lhe do olhar a transparência.
E um bafo irrespirável de fornalha
Os derradeiros raios do poente Tomba do céu, convexo espelho d’aço,
Expiravam. Na cerúlea eminência E sobre a terra lúbrica se espalha.
Sorria a Estrela Vésper. Que inocência FERNANDES, Remígio. Sol de Outono. Belém: Livraria
Naquele rosto lírico e dormente! Clássica, 1922. p. 75.

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