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“ALÉM DE ESTAR”

HELENA PARENTE CUNHA


Características
 Linguagem fragmentada

 Poesia experimental

 Influência da poesia concreta (uso de recursos gráficos)

 Linguagem marcada por associações de ideias e


pela síntese.
PARTES DO LIVRO
1ª Parte – CORPO NO CERCO

 Um eu aprisionado, emparedado.
 Sentimento de frustração e de impotência.
CORPO NO CERCO
“os quatro pontos do globo
os quatro cantos do céu
as quatro esquinas do
quarto
o corpo todo travado
no olhar cicatrizado

nas mãos a chave


oxi (sol) dadas
onde as portas
(de sair aonde?)
onde o norte
só desnorte
mais o leste sem
oeste
os meus membros quatro ausentes
quatro minhas as paredes
cerco do corpo no quarto
meu corpo cortado em quatro”
“JOSÉ” – Carlos Drummond de
Andrade

E agora, José? Com a chave na mão


Sua doce palavra, quer abrir a porta,
seu instante de febre, não existe porta;
sua gula e jejum, quer morrer no mar,
sua biblioteca, mas o mar secou;
sua lavra de ouro, quer ir para Minas,
seu terno de vidro, Minas não há mais.
sua incoerência, José, e agora?
seu ódio — e
agora?
“HORIZONTE”
Espelhos quebrados em “MEU ROSTO”
2ª Parte - MARAMAR

 O encontro da autora com o mar e suas reflexões sobre


o que ele representa

 O mar é uma metáfora dos acontecimentos da vida


“VANGOGHIANA”
“Impressionista”
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa
toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo
moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente
amanhecendo.
Adélia
Prado
Um barqueiro nos leva a um mar de
interrogações sem respostas aparentes, a
um mar que nos diz aquilo que se cala em
“MARAMAR”
MARAMAR

de mar a mar onde o mar


vamos de amar
rumo ao porto amar?
onde aportar
haveremos
muitos mares de aportar
muito às portas
amares de Maramar
amargares
desamares
3ª Parte – O outro lado do dia

 Experiências da autora a partir de uma viagem feita ao


Japão.
 Reflexões sobre o vazio e o silêncio percebidos nessa
viagem
“O CULTO DOS ANTEPASSADOS”
“PROFUNDAMENTE” – MANUEL
BANDEIRA
Quando ontem adormeci Onde estavam os que há
Na noite de São João pouco
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Dançavam
Ao pé das fogueiras acesas. Cantavam
No meio da noite despertei E riam
Não ouvi mais vozes nem risos Ao pé das
Apenas balões fogueiras
Passavam errantes
Silenciosamente
acesas?
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde — Estavam todos dormindo
Cortava o silêncio Estavam todos deitados
Como um túnel. Dormindo
Profundamente.
4ª Parte – Moderna poesia Bahiana

 Poemas interrogativos sobre o próprio eu


Quem

Quem me habita provisória


Nesta paisagem súbita
Onde estou?

Quem chora pranto antigo


Nos meus olhos contemporâneos
Desta viagem?

Quem fui quando passei


Aqui tão longe
De onde sou agora?
5ª Parte – Inéditos (Em tempo de fim de
mundo)

 Poemas sobre a guerra atômica


Tempo do fim
Agora
Estamos somente nus
Entre a fumaça e o sangue

Nus no arrepio do brilho


Que ainda treme
No ondular da tochas
E dos punhais

Chegar
Ao tempo nosso
“FLOR
ATÔMICA”
“A ROSA DE HIROSHIMA” – VINÍCIUS DE
MORAES

Pensem nas crianças Da rosa de Hiroshima


Mudas telepáticas A rosa hereditária
Pensem nas meninas A rosa radioativa
Cegas inexatas Estúpida e inválida
Pensem nas mulheres A rosa com cirrose
Rotas alteradas A antirrosa atômica
Pensem nas feridas Sem cor sem perfume
Como rosas cálidas Sem rosa sem nada.
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Depois
Mas virá o tempo da cicatriz
E da cura das fraturas
E das células renascidas

Saberemos recompor
As quatro estações do ano
E os prazos do
zodíaco

Nos limites do chão


O no ilimitado de além
Estaremos
ressurgidos Para o
afinal começo
“CANÇÃO” – CECÍLIA
MEIRELES
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas


do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,


a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;


praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos
quebradas.

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