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Políticas Públicas

de Saúde
Material Teórico
As Políticas Públicas no Brasil

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Jacqueline Mazzoni e
Profa. Esp. Isabel Souza Lima
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
As Políticas Públicas no Brasil

• As Políticas Públicas de Saúde no Brasil: História e Evolução


• Reforma Sanitária
• Exemplos de Políticas Públicas de Saúde no Brasil

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Proporcionar ao aluno o conhecimento sobre como se desenvolveram
as políticas públicas de saúde no Brasil.
· Entender a importância das políticas públicas no Brasil.
· Conhecer as principais políticas públicas de saúde no Brasil.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
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Procure manter indicações
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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Contextualização
Iniciaremos esta unidade refletindo sobre o que representam as Políticas
Públicas de Saúde em nossa sociedade. Hoje temos o atendimento gratuito à saúde
fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), porém nem sempre foi assim. O
SUS foi implantado somente em 1986, imagine como era difícil para a população
que trabalhava de modo informal (sem carteira assinada) pagar por tratamentos
e atendimentos.

O conceito do SUS, de acordo com Rordrigues Neto (1994, p.9), é que:


[...] o SUS propunha ao lado da democratização geral da sociedade,
a universalização do direito à saúde, um sistema de saúde racional,
de natureza pública, descentralizado, integrando as ações curativas e
preventivas e democrático, com participação popular.

Convidamos você a conhecer essa história.

RODRIGUEZ Neto, E. A Reforma Sanitária e o Sistema Único de Saúde: suas origens, suas
Explor

propostas, sua implantação, suas dificuldades e suas perspectivas. In: BRASIL. Textos
Técnicos para Conselheiros de Saúde – Incentivo à Participação Popular e Controle Social
no SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 1994. p. 9. Disponível em: https://goo.gl/k9RPzc

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As Políticas Públicas de Saúde no Brasil:
História e Evolução
A história da saúde pública teve início no Brasil Colônia, momento no qual o
acesso à saúde era privado. Somente tinham acesso à assistência à saúde a parcela
da população mais abastada, ou seja, que poderia pagar por esse atendimento
e para fazer o tratamento. As primeiras ações foram feitas pela fiscalização de
higiene pública. Os doentes eram afastados do restante da população para que não
contaminassem os demais. Nesse período, a Igreja Católica era a única instituição
que possuía hospitais – as Santas Casas de Misericórdia –, o foco era a caridade e
não a preocupação com a saúde. Existiam também alguns poucos hospitais militares.

Figura 1 – Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro em 1780


Fonte: 4e20enfermarias.org.br

Você Sabia? Importante!

O Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, 427 anos a serviço da
comunidade, foi fundado pelo jesuíta José de Anchieta, em 24 de março de 1582. No pátio
da Santa Casa de Misericórdia, encontra-se a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, a
mais antiga do Rio de Janeiro, edificada em 1567. Sua forma atual, porém, corresponde
ao ano de 1780, quando foi reconstruída.

Fonte: http://www.4e20enfermarias.org.br/pt/the-institution

Com a chegada da família real ao Brasil, houve uma melhora na questão sanitária
nos portos e a fundação de universidades de medicina.

Nessa época, era muito comum as famílias terem os chamados “médicos


de família”. O médico de família consistia em um profissional que geralmente
acompanhava todo o ciclo de vida de uma determinada família por várias gerações.
Esse médico estava sempre disponível para atender a essa família. Em geral, o
atendimento era residencial e para toda a família, isso quer dizer que o mesmo
médico atendia o recém-nascido, os pais, avós, tios, cunhados, etc.

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Já a população que não tinha recursos financeiros para ter os médicos de família
era atendida por leigos, por casas de caridade e curandeiros. Vale lembrar que
nessa época a assistência médica não tinha qualquer vínculo ou custeio pelo Estado.
Tal situação permaneceu imutável até o final do século XIX e início do século XX
(momento no qual o Brasil passou a ter as Políticas Públicas implementadas).

No início do século XX, houve uma implantação do chamado “Estado Liberal” ou


Liberalismo. O Liberalismo foi um movimento que tentou limitar o poder político,
defendendo e apoiando os interesses individuais. Um dos pontos amplamente
apoiados por esse movimento foi a instauração de medidas que melhorassem a
questão da Assistência à Saúde no país.

Além da pressão instaurada pelo Estado Liberal, o País estava passando por
várias epidemias, tais como a de Malária (doença parasitária que causa febre alta,
calafrios e sintomas similares aos da gripe transmitida por mosquitos), a Febre
Amarela (doença infecciosa causa por vírus, também transmitida por mosquitos,
que causa náusea, dor de cabeça, olhos e pele amarelada) e a Gripe Espanholada
(chegou ao Brasil em 1918, transmitida por vírus, e causou mais de 90 milhões de
mortes mundialmente).

Esses fatos fizeram com que o Governo investisse em campanhas de vacinação


coletiva, conhecido como Modelo Sanitarismo Campanhista (ou modelo das
campanhas sanitárias). Esse modelo foi idealizado e criado por Oswaldo Cruz em
1903 e coordenado pelo departamento nacional de saúde publica. Tinha como
principal objetivo o combate a doenças que prejudicavam a exportação do café.
Oswaldo Cruz dividiu o Brasil em 10 distritos sanitários (seguindo moldes militares),
cada qual chefiado por um delegado de saúde.

Esse modelo promoveu uma enorme vacinação contra as principais epidemias


que circulavam no país, mas essa vacinação foi imposta por meios abusivos e
repressivos. O episódio mais marcante desse modelo foi a Revolta da Vacina, no
qual foram utilizados meios repressivos por parte do Estado para realizar meios de
combater essa epidemia com a vacinação em massa da população.
Explor

Veja a figura ilustrativa da Revolta da Vacina no link a seguir: https://goo.gl/vsvDVz

A população foi obrigada a se vacinar, ou seja, não houve uma conscientização


da importância da vacina, do motivo da campanha de vacinação ser necessária,
o que acarretaria ao país caso as pessoas não aderissem a ela, o que poderia
acontecer; simplesmente houve a imposição abusiva.

Ao mesmo tempo, a vacinação era necessária. Um grande exemplo é que em


cerca de 5 anos a Febre Amarela matou mais de 4 mil pessoas no Brasil. Uma
verdadeira força tarefa foi organizada por Oswaldo Cruz: casas eram analisadas e,
caso fossem detectados focos dos mosquitos ou indícios de que alguém era portador
do vírus, os moradores eram colocados em quarentenas ou movidos para hospitais.

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Calhas foram limpas, entulhos retirados, em casas com foco do mosquito multas
eram aplicadas, entre outras medidas. Não se sabia muito da doença e acreditava-
se ainda que grande parte das epidemias e das doenças eram transmitidas pelo ar.

Lei Eloy Chaves – Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP)


Além da desigualdade imposta pelo capitalismo, ainda existia a precariedade
das relações de trabalho. Não existia estabelecimento de jornada de trabalho, piso
salarial, salário mínimo ou licença maternidade. Por esses motivos, as indústrias
de carvão e de minério de ferro começaram a se organizar e criar movimentos
sindicais de trabalhadores.

A resposta a essa demanda veio em 1923 com a criação da Lei Eloy Chaves,
que instaurou a criação das CAPs (Caixa de Aposentadoria e Pensões)

Figura 2 – Eloy Chaves, deputado responsável pelo projeto de lei que previa a criação das CAPs
Fonte: jundiai.sp.gov.br

Até 1923 não existia aposentadoria ou pensão. Os trabalhadores formais e


informais eram obrigados a pagar impostos e tributos sem que houvesse nenhum
tipo de retorno sobre esse valor arrecadado. Não havia assistência à saúde,
aposentadoria, pensão, ou seja, não existia qualquer benefício.

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Características das CAPs:


·· A primeira categoria de empresa a implementar a CAP foi a de minério
de ferro. Funcionava da seguinte maneira: empregadores e empregados
contribuíam com uma quantia para essas caixas de aposentadoria e,
quando um trabalhador precisasse – seja por aposentadoria ou pensão –,
aquele dinheiro seria retornado a essa pessoa;
·· A quantia era arrecada mensalmente e era estipulada e baseada no valor
da remuneração mensal de cada trabalhador. Esse valor seria revertido
no futuro em forma de aposentadoria, pensões e assistência médica;
·· A CAP era bilateral, ou seja, financiada pelo empregado e empregador;
·· Era opcional. O trabalhador não era obrigado a contribuir no pagamento.
Porém, somente receberiam esse benefício quem contribuísse mensalmente
com a CAP (a obrigatoriedade de pagamento de tributos independia da
adesão ou não a CAP);
·· A CAP funcionava apenas para trabalhadores do mercado formal;
·· As CAPs não tinham vínculo nenhum com o orçamento da União, eram
totalmente independentes e com uma única finalidade: a concessão de
benefícios (aposentadoria, pensões, assistência médica, farmacêutica)
aos empregados e seus dependentes;
·· Eram desenvolvidas por empresas, ou seja, cada empresa tinha a sua
CAP independente. Não existia uma lei ou política que regulasse as CAPs.

Segunda Asensi (2010, p.35),


[...] a utilização dos serviços de saúde se encontrou vinculada à situação
empregatícia, ocasionando a exclusão de uma parcela relevante
da população desempregada, seja por deficiências físicas, seja por
insuficiências na educação ou, mesmo, por inacessibilidade estrutural ao
mercado de trabalho formal.

Ou seja, fica bem claro nessa explicação do autor que somente tinham direito
a se vincular ao CAP trabalhadores contratados pelo regime da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT).

Em 1930, durante o Governo de Getúlio Vargas, a economia brasileira ainda


era focada na Indústria do Café e nessa mesma época aconteceu a Quebra da Bolsa
de Valores de Nova Iorque, que impactou em muitos países, inclusive no Brasil.
Um dos motivos para esse grande impacto na economia brasileira era o de que os
Estados Unidos era o país que mais comprava o nosso café nacional.

A produção de café nacional entrou em crise, essa consequentemente gerou


um deslocamento do Polo Industrial da Zona Rural para a Zona Urbana. Esse
deslocamento fez com que a cidade se desenvolvesse, havendo um grande avanço
na economia urbana e também na sociedade urbana.

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Figura 3 - A Crise de 1929
Fonte: Acervo do Conteudista

Você Sabia? Importante!

Também conhecida como Grande Depressão, a crise de 1929 foi uma das piores do sécu-
lo XX, e foi um dos motivos que desencadeou a Segunda Guerra Mundial. Sua causa foi
uma grande baixa da Bolsa de Valores de Nova York, o que levou à falência um grande
número de pessoas e empresas e instaurou o caos econômico em grande parte dos país-
es que tinham relações comerciais com os EUA.
https://goo.gl/51KL99

Em 1933, as CAPs passaram a ter uma nova nomenclatura e passaram a ser


chamadas de IAPs (Institutos de Aposentadoria e Pensão). Com essa mudança,
as características das CAPs, agora como IAPs também sofreram modificações:

» Tornaram-se trilaterais: além da contribuição feita pelos empregados e em-


pregadores, nesse novo modelo, o Estado também passou a contribuir;

» Ganhou elevada importância, ou seja, passaram a serem vistas como um be-


nefício necessário e que deveria ser ampliado para todo o país, para todas as
empresas e que, consequentemente, dariam lucro e retorno para a Nação.
Por isso, o Estado passou a intervir nas IAPs;

» O Estado unificou as IAPs. O que antes era por empresa, nesse momento
passou a ser por categorias profissionais, ou seja, cada categoria profissional
tinha uma base de benefícios para seus assegurados;

» Os tributos continuavam a ser obrigatórios tanto no mercado formal quanto


no mercado informal, independente da pessoa ser ou não filiada ao IAPs.
Esses tributos não geravam retorno nenhum para o trabalhador;

» O Estado passou a administrar os IAPs e a forma de contribuição era feita


através do pagamento desses tributos arrecadados. Por tanto, conclui-se que
o Estado contribuía com os IAPs através dos tributos arrecadados obrigato-
riamente por trabalhadores do mercado formal e informal. No entanto, os

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

trabalhadores do mercado informal não tinham direito a usufruir desse be-


nefício e os trabalhadores do mercado formal acabavam contribuindo duas
vezes: eles contribuíam todos os meses diretamente para os IAPs e faziam
também o pagamento dos tributos que o Estado usava para contribuir;
· A contribuição continuava a ser feita apenas por trabalhadores do
mercado formal;
· As taxas de contribuição das IAPs passaram a ser mais altas do que
nas antigas CAPs.

Entre os anos 1945 e 1960, as condições sociais no Brasil se agravavam, havia


um aumento crescente do desemprego e as condições de saúde pioravam. Com
isso, o empenho por parte dos movimentos sociais ganhava cada vez mais força
no país, reivindicavam por melhorias nas políticas de saúde pública, entre essas
reivindicações estava a Reforma Sanitária.

Em 1953, o Ministério da Saúde foi criado. Começou a ser discutido então um


Plano Nacional de Saúde que atingisse as três esferas do Governo: município, es-
tado e união. No entanto, nesse período as suas atividades se resumiam apenas à
promoção de saúde e à prevenção de doenças (vacinas, por exemplo), que eram
realizadas para todos. Já a assistência médico-hospitalar era destinada aos indigen-
tes, ou seja, para quem não tivesse acesso aos IAPs.

Você Sabia? Importante!

Até então, a saúde pública era administrada pelo Ministério da Educação.

Em 1960, foi criada a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS). Ela unificou a
legislação referente aos IAPs, uniformizando também os benefícios dos segurados.
Ou seja, antes da LOPS, cada categoria profissional tinha benefícios distintos para
seus segurados e, com a implantação dessa lei, houve uma uniformização de todos
os IAPs. Com isso, todos passaram a contribuir com o mesmo valor para que todos
os beneficiados e assegurados recebessem também o mesmo valor.

O grande problema dessa unificação foi o “nivelamento para baixo” desses


direitos: foi estipulado o mínimo do valor a ser pago e o mínimo de concessão de
benefícios nessa época.

Em decorrência disso, as pessoas que eram beneficiadas pelo IAP iriam receber
o mesmo valor, independente da sua categoria profissional.

A LOPS também alterou o limite de idade para aposentadoria. Até 1960, o


limite de idade para aposentadoria era de 50 anos; com a lei, passou a ser de
55 anos – foi levada em consideração a expectativa de vida da população, que
estava aumentando.

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Em 1966, foi criado o INPS – Instituto Nacional da Previdência Social. Os
IAPs voltavam a sofrer modificações e intervenções pelo Governo e passaram a
configurar como INPS. Todos os IAPs foram unificados no INPS.

Em 1974, o INPS passou a ser chamado de INAMPS – Instituto Nacional de


Assistência Médica de Previdência Social. O INAMPS tinha a responsabilida-
de de prestar Assistência à Saúde aos seus associados (trabalhadores formais e
seus dependentes).

A arrecadação feita pelo INPS gerou muito lucro ao Estado, por isso, com
a criação do INAMPS, foram construídas grandes unidades de atendimento
ambulatorial, hospitais e realizada a contratação de serviços privados nos grandes
centros urbanos, ou seja, onde tinham mais contribuintes. Outro ponto importante
foi que os trabalhadores rurais também passaram a fazer parte do INAMPS, já que
antes somente os trabalhadores dos centros urbanos tinham direito a esse benefício.

O cenário da saúde pública do Brasil nesse momento era conhecido como


Modelo Médico Assistencial Privatista, era dividido em três categorias:
1. As pessoas que podiam pagar pelos serviços de saúde – era a população mais
abastada financeiramente e que não precisava contribuir com o INAMPS;
2. As pessoas que faziam parte do mercado formal (que eram contratadas pelo
regime da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT) e que contribuíam
com o INAMPS – essa população tinha direito a usufruir dos benefícios da
assistência à saúde, previdência e pensão;
3. As pessoas que não tinham direito algum, sejam porque não contribuíam
com o INAMPS ou porque faziam parte do mercado informal –essas pessoas
simplesmente não tinham assistência à saúde, previdência e pensão.

Esse Modelo Médico Assistencial Privatista, na verdade, foi iniciado em 1923


com a formação da Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP). Ele foi sendo cada
vez mais aperfeiçoado e se tornando mais evidente com o passar das décadas e
com o desenvolvimento da economia no País.

Características principais desse modelo são:


» Prática médica curativa individual assistencialista e especializada;
» Avanço tecnológico e compra de equipamentos de última geração;
» Maior eficácia no diagnóstico e tratamento;
» Foco no tratamento imediato da doença do paciente. O histórico de doenças do
paciente e as causas eram colocados em segundo plano, ou seja, não eram im-
portantes para o diagnóstico. O foco mesmo era resolver a doença e não a causa;
» Crescimento do complexo médico e hospitalar voltado para geração de lucro;
» Não se trabalhava com prevenção e conscientização.

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Em 1974, teve o surgimento da Atenção Primária à Saúde (APS). Começou-


se a discutir a necessidade das pessoas que eram trabalhadores informais, e que
não podiam pagar pela assistência à saúde, a terem também direito à assistência
médica, aposentadoria e pensão.

Em 1976, foi instaurado o Programa Interiorização das Ações de Saúde e


Saneamento (PIASS). A finalidade era implementar uma estrutura básica de
política pública de saúde e, com isso, disponibilizar uma unidade de tratamento em
comunidades de até 20.000 habitantes.

Era então o início de uma interiorização da assistência à saúde, que possibilitou


a construção de hospitais, centros de saúde, postos de saúde, rede ambulatorial e
a contratação de médicos e técnicos de saúde de ordem geral para o atendimento
dessa população, que até então ficava a margem da assistência à saúde.

Reforma Sanitária
A Reforma Sanitária foi gerada a partir de uma crise no sistema de saúde e
previdenciário, que foi mediada pela participação popular e que levou a iniciativas
de extensão da cobertura à assistência à saúde para todo o Brasil.

De acordo com PAIM (1992, p. 31), “o projeto da Reforma Sanitária foi gerado
na luta contra o autoritarismo e pela ampliação dos direitos sociais”. Vale lembrar
que o Brasil ainda passava pelo militarismo durante o período da Reforma Sanitária;
entretanto, a população passou a lutar pelos seus direitos de cidadãos e a focar em
uma melhor da qualidade de vida.

Um dos marcos foi a Crise dos 4 Is. Em 1980, a população já possuía uma visão
bastante crítica sobre a questão da saúde no país. Os 4 Is são:
1. Ineficiência – decorrente do modelo médico privatista que existia, no qual
havia um enorme investimento em procedimentos custosos e tinham baixo
impacto para a população de uma maneira geral;
2. Ineficácia – decorrente da desproporção entre o que era gasto e o impacto
real dessa despesa na saúde da população; ou seja, se gastava muito para
pouco resultado;
3. Inequidade – não havia um tratamento especial para pessoas com neces-
sidades especiais, ou seja, todos eram tratados com os mesmos recursos e
com os mesmos modelos de tratamento;
4. Insatisfação popular – era o resultado do descontentamento da população
em relação à assistência de saúde brasileira.

Para essa crise, houver 3 correntes explicativas:


1. Incrementalista: essa corrente afirmava que o Brasil vivia em crise porque
os recursos financeiros eram escassos e porque havia pouco investimento
na saúde;

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2. Racionalista: essa corrente afirmava que a crise era resultado de má
administração. Segundo essa corrente, havia gastos desnecessários e serviços
de pouca utilidade para a sociedade – ou seja, ela reconhecia que o Brasil tinha
dinheiro para investir na saúde, porém era administrado de forma errada;
3. Estruturalista: defendia que a crise acontecia devido ao modelo privatista
de saúde brasileiro, focado na medicação, no tratamento e não na prevenção
– ou seja, gerava custos altos que poderiam ser evitados com conscientização
e prevenção de doenças.

Na década de oitenta, foram definidos ainda os conceitos de Acumulação


Epidemiológica e Transição Epidemiológica:
· Acumulação Epidemiológica consistia no surgimento e nas descobertas
de novas doenças, que se somavam com as doenças que já existiam no
passado e que ainda não haviam sido erradicadas. Por isso, os profissionais
de saúde precisavam estar capacitados para tratar as doenças recém-
descobertas e as ainda não erradicadas;
· Transição Epidemiológica foi marcada pela expansão territorial brasi-
leira e com as novas tecnologias de diagnóstico, observou-se que existiam
doenças específicas para cada região, ou seja, doenças mais prevalentes
para cada região.

Em 1981, foi criado o Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previ-


denciária (CONASP). Esse foi desenvolvido devido a uma necessidade de revisão
nas formas de assistência médica e previdenciária que existia no Brasil. Tinha ainda
o objetivo de conter as despesas da previdência social com a assistência médica.
Para isso, foi criado o Plano CONASP.

Os objetivos do Plano CONASP eram:


· Priorizar as Ações Primárias de Saúde. A ênfase era dada para o aten-
dimento ambulatorial e a integralização das instituições federais, munici-
pais e estaduais. Focava em um sistema regionalizado e hierarquizado.
· Racionalizar gastos. Foco nos gastos na área hospitalar.
· Auditorias Técnicas. Foram introduzidos mecanismos de auditorias
técnicas que tinham o intuito de reduzir o superfaturamento dos gastos
com os custos previdenciários.
· Descentralização da Assistência à saúde. Os Estados e os municípios
passaram a ter mais autonomia do planejamento da Assistência à Saúde.

Com o Plano CONASP, surgiram também as Ações Integradas em Saúde (AIS),


que buscavam a reorganização institucional da Assistência à Saúde e tinham como
objetivo principal evitar ações paralelas entre as instituições sanitárias. Era uma
estratégia de integração programática entre as ações de saúde no nível municipal,
estadual e federal. Focavam ainda em desenvolver uma capacidade gerencial dos
serviços em nível local e regional, além de integrar os recursos que vinham de
diversas fontes para as ações de saúde.

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

As AIS resultaram, ainda, no surgimento das Comissões Interinstitucionais


de Saúde (CIS) no nível estadual e posteriormente levaram à constituição dos
Conselhos de Saúde.

O financiamento das Ações Integradas em Saúde era uma parceria entre as


instituições que participavam, como por exemplo: o INAMPS, o Ministério da Edu-
cação, as Secretarias de Estado, as Secretarias Municipais de Saúde, as Instituições
de Ensino, hospitais, entre outros. Houve então pela primeira vez a transferência
dos recursos federais para o Município e para o Estado.

Para recapitular, então, os princípios que norteavam as Ações Integradas em


Saúde eram: universalidade; integralidade; equidade; regionalização; hierarquização;
descentralização; democratização; planejamento; controle pelo setor público.

VIII Conferência Nacional de Saúde no Brasil (1986)


O objetivo desta conferência foi discutir uma pro-
posta de estrutura e de política de saúde no país. Essa
conferência aconteceu em Brasília e foi considerada
um marco dentro do movimento de Reforma Sanitária.
Teve a participação de diversos profissionais da área de
saúde, além de usuários, técnicos, políticos, lideranças
populares, lideranças sindicais. Cerca de 5 mil pesso-
as participaram dessa conferência, que teve propostas
para reestruturação do sistema de saúde brasileiro.

A importância dessa conferência foi tão grande que


Figura 4 – Dr. Sérgio Arouca (médi- parte do texto da Constituição Federal de 1988 foi ela-
co sanitarista) foi um dos principais borado durante ela. O conceito de saúde foi reformula-
idealizadores do SUS no Brasil
Fonte: Wikimedia Commons do, conforme declara Brasil (1986, p.117):

[...] saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação,


educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde.

Entre as proposta discutidas estavam:


·· A ampla mobilização popular para garantir os direitos de saúde na Consti-
tuição Federal;
·· Saúde como interesse coletivo, como dever do Estado a ser contemplado de
forma prioritário através de Políticas Sociais, Políticas Econômicas, entre outras;
·· Garantia da extensão do direito à saúde e acesso igualitário aos serviços e às
ações de proteção, promoção e recuperação de saúde;
·· A caraterização dos serviços de saúde como públicos e essenciais.

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Essa conferência gerou um novo conceito de saúde. A saúde passou a ser vista
como um direito a todos. Essas propostas foram a essência do Sistema Único de
Saúde (SUS).

O conceito do SUS, de acordo com Rordrigues Neto (1994, p. 9) é que:


[...] o SUS propunha ao lado da democratização geral da sociedade,
a universalização do direito à saúde, um sistema de saúde racional,
de natureza pública, descentralizado, integrando as ações curativas e
preventivas e democrático, com participação popular.

O SUS foi criado em 1988 pela Constituição Federal Brasileira.

Exemplos de Políticas Públicas de Saúde


no Brasil
Sistema Único de Saúde – SUS
O Sistema Único de Saúde – SUS é uma forma de política pública implantada
por meio da Lei nº 8.080/1990, que traz um rol de princípios, objetivos e
garantias inerentes à efetivação da saúde, garantindo assim a aplicação do direito
fundamental de proteção à saúde.

Como dito anteriormente, cabe ao Estado garantir e efetivar o direito e o acesso


à saúde através da implementação de políticas públicas. Como exemplo de política
pública de saúde, pode-se citar o Sistema Único de Saúde – SUS.
Explor

Saiba mais em: https://goo.gl/Nf3dSw

O Programa Nacional de DST e Aids


O Programa Nacional de DST e Aids (PN-DST/AIDS) foi criado a partir da
publicação da Portaria nº 236, em maio de 1985, três anos depois da notificação
do primeiro caso de aids no Brasil, quando o mundo ainda sabia muito pouco sobre
a doença, considerada na época o ‘câncer gay’ ou ‘peste gay’. No final da década
de 80, entretanto, descobriu-se que em 1980 já havia tido um caso de Aids na
cidade de São Paulo.

Hoje o Programa de Tratamento da Aids é considerado um dos melhores


modelos de nível mundial. Em 1991, o Ministério da Saúde começou a distribuir
gratuitamente a medicação, conhecida como coquetel de tratamento contra AIDS.
Explor

Saiba mais em: https://goo.gl/BzeHga

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Programa Nacional de Vacinação


Desde 1965, no âmbito do Programa Nacional de Vacinação, foram vacinadas
mais de 7 milhões de crianças, assim como milhões de adultos, com diversas vacinas
e diversas doses de cada vacina. Milhões e milhões de vacinas foram administradas
com um perfil de segurança e de qualidade demonstrados. A efetividade das vacinas
do PNV está comprovada com o controle ou mesmo eliminação das doenças alvo
de vacinação, como é o caso da poliomielite, difteria, sarampo e tétano neonatal.

Além da mudança no panorama das doenças infeciosas, do contributo para a


redução da mortalidade infantil e para o desenvolvimento do nosso país, o PNV
português contribuiu também para momentos marcantes na história da humanidade:
a erradicação da varíola em 1980 e a eliminação da poliomielite na região europeia
da OMS em 2002, quando a Europa foi declarada “polio free”.
Explor

Saiba mais em: https://goo.gl/uuA57W

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Ministério da Saúde lança campanha de prevenção às DST e aids para carnaval 2015
Assista a campanha de prevenção às DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e
AIDS lançada pelo Ministério da Saúde em 2015.
https://youtu.be/2lVcehqMADc
Caminhos da Vacina
Veja o vídeo que fala sobre os Caminhos da Vacina, promovido pelo programa Médicos
Sem Fronteira.
https://goo.gl/6kbWWh

Leitura
Reflexos sobre Políticas Públicas de Saúde
Reflexos sobre Políticas Públicas de Saúde de Dráuzio Varella, publicado em 24 de
julho de 2011. Revisado em 05 de abril de 2013.
https://goo.gl/gRszM3
Brasil bate recorde de pessoas em tratamento contra HIV e AIDS
Brasil bate recorde de pessoas em tratamento contra HIV e AIDS. Do Portal Brasil.
Publicado em 28 de janeiro de 2016.
https://goo.gl/FR2kAb

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UNIDADE As Políticas Públicas no Brasil

Referências
4E20ENFERMARIAS. Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do
Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.4e20enfermarias.org.br/pt/the-
institution>. Acesso em: 15 jul. 2016.

ASENSI, F. D. Indo além da judicialização: O Ministério Público e a saúde no


Brasil. Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio
Vargas, Centro de Justiça e Sociedade, 2010. p. 35.

BRASIL. 8º CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE – Relatório Final. In:


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