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2 Objetivos
2.1 Apresentar uma visão panorâmica dos mecanismos básicos da sintaxe da língua latina.
3 Competências
Espera-se que os alunos, após a aula, desenvolvam a habilidade de compreender os mecanismos
particulares da sintaxe da língua latina.
4 Duração da aula
4 horas – teoria (3 horas, em ambiente virtual) e prática (1 horas).
5 Estratégias e recursos
Aula expositiva e interativa. Uso de material didático preparado pelo professor.
7 Bibliografia
ORBERG, Hans. Lingua Latina per se illustrata I: Familia Romana. Special Trykkeriet Viborg,
2003.
REZENDE, Antônio Martinez de. Latina Essentia. 4a ed. Belo Horizonte: UFMG, 2009.
JONES, P.V.; SIDWELL, K.C. Aprendendo latim. São Paulo: Odysseus, 2012.
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática latina. 30a ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
ERNOUT, Alfred; THOMAS, François. Syntaxe latine. Paris Klincksieck, 2002.
MECANISMOS BÁSICOS DA LÍNGUA LATINA
Gilson Santos (ILEEL-UFU)
1. o sermo urbanus: língua falada pelas classes cultas de Roma, correta gramaticalmente, mas
sem a estilização convencional da variedade artística e escrita, o sermo classicus.
2. o sermo classicus ou litterarius: expressão escrita (literária), artística, estável e aristocrática
do sermo urbanus. Essa variedade encarna o ideal romano da urbanitas (civilidade),
evitando arcaísmos, provincianismos e formas expressivas populares (da plebe). Ela é uma
língua artística (sermo urbanus estilizado), criada por escritores e gramáticos, que atinge a
fase de maior esplendor, na prosa e na poesia, entre 81 a.C. e 68 d.C. Essa fase pode ser
dividida em três épocas: (a) época de Cícero (81-43 a.C.), que se inicia em 81 a.C., quando
Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) pronuncia seu primeiro discurso, Pro Quinctio, e termina
em 43 a.C., quando é assassinado; (b) época de Augusto (43 a.C.-14 d.C.), quando a poesia,
sobretudo com Virgílio e Horácio, atinge seu apogeu artístico, colocando-se a serviço da
política, isto é, da promoção do regime de Augusto; e (c) época dos imperadores júlio-
claudianos (14 d.C-68 d.C), quando a língua latina já apresenta sinais de decadência, mas
ainda preservam o antigo esplendor.
3. o sermo plebeius: variedade eminentemente falada, aberta a estrangeirismos e inovações,
praticada pelas classes subalternas e analfabetas, apresentando, segundo a origem e
ocupação dos falantes três subdivisões: sermo rusticus, castrensis e peregrinus. Enquanto
houve administração central, o sermo plebeius (latim vulgar) apresentava relativa coesão
interna, porque era regulado pela norma urbana culta. Com a queda do Império (476 d.C.) e
o consequente desaparecimento dessa norma urbana, o latim vulgar intensifica o processo de
dialetação que conduz à formação de romances, que, por sua vez, desenvolvem-se nas
línguas românicas.
PRONÚNCIA
Adotaremos a pronúncia restaurada. Tal pronúncia apresenta as seguintes
particularidades:
1. “i” e “u” soam sempre como vogais: Iulius, uua.
2. Ditongos “ae” e “oe” soam: “ai” e “oi”: maestus (triste) e Phoebus (Febo).
3. “c”: soa como um “k”: doceo (ensino), Cicero.
4. “g”: soa como “guê”: genus (raça), gigno (produzir).
5. “s”: soa como “ss”: casa (cabana).
6. “x”: soa como “ks”: pax (paz).
7. “ph”: soa como “f”: Phaedrus (Fedro)
8. “o” ou “e” (longo): soa “ô” e “ê”; “o” e “e” (breve): soa: “ó” e “é”, respectivamente: sōlum (só) e
sŏlum (solo), argēntěus (prateado).
APVD AGRICOLAM
Siluanum, amicum rusticum, uisitat Aemilius, poeta urbanus. Vita rustica ualde Aemilium delectat,
sed “uita urbana ardua minus est”, ita censet Siluanus. Poeta amicum laudat, quia laboriosus est
agricola. Laudat etiam fundum, ubi umbrosas siluas ferae periculosae habitant et molestam faciunt
uitam muscae innumerae. Nocte mirificae stellae lunaque plena caelum illuminant; mane Phoebus
terram calidam facit, itaque uita undique trepidat.
1
Vogal longa (indica-se com um traço sobre a vogal, o mácron) e breve (com sinal semelhante à parêntese na
horizontal, com a abertura para cima, a braquia).Exemplo: lāētītǐă (a vogal longa corresponde a duas breves: ā = ăă.)
Latim Classico Latim vulgar
anterior posterior anterior posterior
īǐ ūŭ > i u
ēě ōŏ ê ô
é ó
āă a
Além disso, a diferença de quantidade pode distinguir funções sintáticas dos nomes,
como: seruă, “escrava” (nominativo): sujeito e predicativo; seruā (ablativo): adjunto adverbial.
Exemplo:
a) Se a penúltima sílaba é longa, a tonicidade recai sobre ela, e a palavra é paroxítona: otiōsus,
Dāuus.
b) Se a penúltima sílaba é breve, a tonicidade recua para a sílaba anterior, e a palavra é
proparoxítona: facĕre, ualĭdus.
c) Palavras dissílabas são paroxítonas: lŭpŭs, rānă.
Note-se que a forma lŭpŭs apresenta as duas vogais breves, o que demonstra que não há
relação direta entre quantidade (longa ou breve) e tonicidade (tônica ou átona). Há dúvidas, entre os
especialistas, a respeito da natureza da ‘tonicidade’ das sílabas em latim. Alguns autores dizem que
seria um acento de intensidade (sílabas tônicas e átonas); outros, que seria melódico (algumas
sílabas seriam pronunciadas em um tom mais elevado).
No latim, o acento de intensidade se fixou por volta do século II a.C. Daí, ganhou peso e
importância com o tempo, passando a conviver com a quantidade, pois não se excluem. No latim
clássico, o acento de quantidade predominou, enquanto no vulgar o intensivo foi lentamente
substituindo o quantitativo.
O latim clássico manteve esse quadro de acentos quantitativos e qualitativos
interrelacionados. Mesmo nos versos esses dois aspectos eram levados em consideração. Vários
autores estudaram a coincidência do ictus (incidência do acento de intensidade) com a tônica nos
dois últimos pés do hexâmetro: em Catulo, essa coincidência chega a 98,6%; em Lucrécio, a 97,7%;
em Horácio, a 95%; em Ovídio, a 99,6%; em Virgílio, a 99,5%. Esses dados mostram que os dois
sistemas (acento quantitativo e de intensidade) se integravam em latim. A métrica latina clássica,
imitação consciente da métrica grega, é baseada na alternância de sílabas longas e breves, isto é,
apresenta ritmo essencialmente quantitativo. Mas essa adaptação da métrica grega, os poetas latinos
procuraram coincidir nos dois últimos pés do hexâmetro o acento quantitativo e o de intensidade,
para harmonizar a métrica grega à cultura latina.
A complexidade da questão acarretava dificuldades. Cícero observa que a plateia vaiava
os atores nos teatros, quando se enganavam na emissão da quantidade: In versu quidem theatra tota
exclamant, si fit una syllaba aut breuior aut longior (De Oratore, LI, 173); “No verso, então, todo o
teatro reclama se uma única sílaba for (pronunciada) mais breve ou mais longa”.
Infere-se que a quantidade vocálica fizesse parte do sistema fonológico do latim vulgar,
pois a plateia dos teatros, sobretudo das comédias, era formada por muitos falantes do sermo
plebeius. Considerando que as línguas românicas perderam essa característica vocálica, entende-se
que o latim vulgar substituiu o acento quantitativo pelo acento de intensidade, tornando as vogais
longas fechadas (/ō/ > /ô/; /ē/ > /ê/) e as breves abertas (/ŏ/ > /ó/; /ě/ > /é/). As vogais a, i e u não
tiveram alterações na abertura ou fechamento. Quanto à época em que tal mudança teria ocorrido,
divergem os romanistas, mas pode-se tomar como ponto de referência uma passagem de Santo
Agostinho (354-430 d.C.):
Cur pietatis doctorem pigeat imperitis loquentem, ossum potius quam os
dicere, ne ista syllaba eo quod sunt ossa, uel eo quod sunt ora intelligatur,
ubi Afrae aures de correptione uocalium uel productione non iudicant (De
Doctrina Christiana IV 24)
Pois o doutor da piedade (padre) que ensina aos ignorantes hesita em dizer
ossum (“osso”) de preferência a os, para que esta palavra não seja entendida
ossa (“ossos”), mas com o de ora (“bocas”), porque os ouvidos africanos
não distinguem vogais breves ou longas.
Essa passagem esclarece que a distinção entre vogais longas e breves tinha desaparecido
no início do século V. Sabe-se que o norte da África era profundamente romanizada e abrigava
importantes centros culturais, assim a população deveria falar razoavelmente latim. Então, a
substituição do acento quantitativo pelo de intensidade deve ter ocorrido entre o testemunho de
Cícero (106-43 a.C.) e o de Santo Agostinho (354-430 d.C.), um período de quatro séculos.
Sintaxe latina
Em Latim (língua flexiva), a função sintática de um termo é marcada por sua terminação
(que chamamos desinência casual), e não por sua posição na frase, como em Português. Vejamos
um exemplo:
A desinência -us indica que Petrus é sujeito da frase, concordando, no singular, com o verbo
narrat (narra); a desinência -am indica que fabulam é objeto direto; e -o que Lucio é objeto
indireto.
Como a função sintática dos termos é indicada pela desinência casual, a posição das
palavras na frase é mais livre, isto é: a ordem dos termos pode variar sem modificar o sentido básico
da frase. Vejamos:
O sentido básico das três frases latinas é o mesmo – “Pedro narra uma fábula a Lúcio.” –,
apesar de a ordem das palavras ser diferente em cada uma delas. Como já foi dito, isso ocorre
porque a desinência -us indica que Petrus é sujeito; a desinência -am, que fabulam é objeto direto;
e a desinência -o, que Lucio é objeto indireto, independentemente da posição que ocupem na frase.
O latim exprime a função do nome na frase por meio de casos, e cada um deles representa
um conjunto de noções ou de relações semânticas, associadas a características morfológicas.
Estas, encontrando-se em final de palavra, receberam o nome de desinências (lat. desinere “cessar,
acabar”). As mudanças de forma que o nome sofre, assim, constituem sua flexão: lat. flectere
“curvar, dobrar, desviar de uma direção”, donde, “mudar”.2
Acreditamos que todos já tenham entendido que o latim é uma língua de casos, e que as
funções gramaticais dos nomes são determinadas morfologicamente por suas terminações, que
chamamos desinências casuais. Essas desinências, associadas a um certo número de funções
gramaticais, chamam-se casos.
Durante o curso, aprenderemos progressivamente a identificar os diferentes casos por meio
de suas desinências casuais. O importante, neste momento, é conhecer os mecanismos básicos da
língua.
Casos latinos
Sabemos que as funções sintáticas dos nomes são representadas por casos e indicam-se
pelas desinências casuais.
Os casos são seis, e cada um deles representa um certo número de funções:
2
ERNOUT, Alfred; THOMAS, François. Syntaxe latine. Paris Klincksieck, 2002, p. 7.
O latim possui um total de seis casos. O instrumental e o locativo, que subsistem em
sânscrito, em lituano e no eslavo, foram – exceto por alguns restos fragmentários do segundo (belli,
domi, etc.) – fundidos com o ablativo propriamente dito. A fusão (ou sincretismo) dos casos é um
traço geral das línguas indo-europeias. O grego, de fato, eliminou qualquer ablativo.
Nesta aula, estudaremos apenas dois casos – o nominativo e o acusativo, nos temas em -A-
e -O-, mas, ao longo do curso, todos os demais casos e temas serão vistos.
Tema
As palavras latinas sujeitas à flexão de caso estão distribuídas em cinco temas:
As palavras latinas vêm indicadas nos dicionários da seguinte forma: o nominativo singular
(em sua forma plena), seguido da desinência do genitivo singular.
DESINÊNCIAS CAUSAIS
-A- (1a) -O- (2a) -U- (4a) -E- (5a) -I-/cons. (3a)
sg. pl. sg. pl. sg. pl. sg. pl. sg. pl.
m./f. m./f. m./f. n. m./f. n. m./f. n. m./f. n. m./f. m./f. m./f. n. m./f. n.
Nominativo -us, -er,
-ir
-a -ae - um -i -a -us -u -us -ua -es -es ? -es -(i)a
-us,-e,
Vocativo
-er
Acusativo -am - as -um -os -a -um -u -us -ua -em -es -em ? -es -(i)a
Genitivo -ae - arum -i - orum -us -uum -ei -erum -is -(i)um
Dativo -ae -is -o -is -ui -u -ibus -ei -ebus -i -ibus