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O LATIM VULGAR E A LÍNGUA

PORTUGUESA

OSVALDO HAMILTON TAVARES


Procurador de Justiça aposentado e Crítico Literário

Dedico este trabalho ao Dr. Paulo Penteado Teixeira Junior, ao Dr. João Batista Tavares de Almeida
(Advogado e empresário), ao Dr. Túlio Tadeu Tavares, ao Dr. Omar Tavares de Almeida, a Dra. Maria
da Gloria Villaça Borin Gavião de Almeida e a Dra. Iussara Brandao de Almeida.

Chama-se Latim Vulgar o latim falado pela grande massa do povo


romano, principalmente pelas classes médias e populares.
É costume opor latim vulgar a latim clássico e a latim literário. Latim
clássico é o latim literário do período clássico, ou seja, do período que
compreende a maior parte do século I a. C. e se estende até à morte de
Augusto (14 d. C.). É, pois, uma fração do latim literário, o qual se prolonga
até o fim da época imperial, pelo menos (120 d. C.).
É na fase clássica que a língua latina adquire a sua feição literária
definitiva, com a nítida consciência de que havia uma linguagem dos cultos
e outra das classes populares. A primeira oposição que surge é entre a fala
da capital — urbanitas — e a fala das populações campesinas — rusticitas,
distinção que timbram em fazer um mestre de retórica do porte de
Quintiliano e um orador consumado da altura de Cícero. Os latinos usavam
certas expressões para distinguir essas duas modalidades; para a fala culta
era o sermo urbanus ou eruditus, para a fala popular o sermo vulgaris ou
plebeius ou ainda rusticus.
Os caracteres dessa fala vulgar encontramo-los na pronúncia, na
gramática e no vocabulário, mas foi principalmente a maneira de pronunciar
que chamou a atenção dos homens cultos da cidade. A fala rústica parecia-
lhes pesada e malsoante, em contraste com a subtilitas, a suavitas, a lenitas
vocis de que fala Cícero, a respeito da bona consuetudo. Em que consistiria,
aos ouvidos dos cidadãos de Roma, tal rudeza dialetal? Para Devoto (Storia
della Lingua di Roma, pág. 148) não podia tratar-se de outra cousa senão do
acento. Ao passo que, na idade ciceroniana, ainda vigorava plenamente o
acento musical, nas campanhas romanas com certeza já apontava nítido o
acento de intensidade que haveria de comandar as alterações fonéticas do
latim em neolatim.
A seguir passaremos a enumerar sucintamente os principais caracteres
do sermo vulgaris.
Na fonética.
A distinção quantitativa entre longas e breves cedo desaparece. As
primeiras confusões datam do século II e começaram nas átonas. No século
IV, provavelmente, já se havia perdido a oposição quantitativa. Surge, então,
uma nova quantidade: passam a ser longas tôdas as vogais tônicas em sílaba
aberta, isto é, em sílaba não terminada por consoante. Daí a distinção entre
vêndo e venit. Mas, " como observa Grandgent, na Espanha e em algumas
partes da Gália, tôdas as vogais acentuadas eram longas.
A perda da antiga quantidade trouxe como conseqüência um novo tipo
de oposição fonética, a de timbre: as vogais longas passaram a distinguir-se
como fechadas e as breves como abertas; não houve, pois, substituição de
quantidade pela qualidade, conforme observou Meillet, mas perda da
quantidade e sobrevivência da qualidade ou timbre.
O acento latino também sofreu uma alteração substancial. De musical
(1)
que era passou a intensivo. É certo que não se pode afirmar de forma
absoluta que o acento latino fosse musical, mas, ainda que já fôsse intensivo,
o era de maneira mais atenuada do que passou a ser na fala vulgar. A
conseqüência da intensificação do acento foi a manutenção da sílaba tónica
e o desaparecimento da postônica e da protônica. Assim viride passa a verde
(queda da postônica) e bonitate a bondade (queda da protônica).

Na morfologia.
Aqui atua poderosamente a tendência para o analitismo.
Na declinação verifica-se a progressiva redução das desinências
casuais e o paralelo incremento do uso das preposições. Já no latim clássico
o emprêgo de formas como Romam, Roma, Romae, que por si sós
exprimiam circunstâncias de lugar, era excepcional e representava
sobrevivência de um estado de coisas que tendia a desaparecer. As
declinações passam de cinco a três; os casos de seis a dois e, depois, a um.
As formas sintéticas de comparativo (tipo dulcior) desaparecem quase
que completamente. Em seu lugar surgem formas analíticas constituídas com
o advérbio magis (Península Ibérica, Rumânia) e plus (Gália, Itália), isto é,
em vez de dulcior passou-se a dizer magis dulce e plug dulce.
No que diz respeito à flexão verbal, é de notar o desaparecimento da
passiva sintética. Assim em vez de amatur passou-se a dizer amatus est. Em
conseqüência, a forma amatus est, que era de perfectum, teve de ser
substituída e, em seu lugar, entrou amatus juit .
Na sintaxe.
S 26. Os fatos sintáticos não são independentes, porque estão
orgânicamente presos às vicissitudes da morfologia. Em certos casos, a
própria fonética intervém, de modo que se estabelece verdadeira cadeia: a
alteração fonética repercute na morfologia e está na sintaxe.
Sabe-se, por exemplo, que a ordem das palavras em latim é muito
diversa da ordem das palavras em português e demais línguas românicas.
Deve-se isso, em grande parte, à perda da declinação. A existência de uma
flexão casual dá maior independência à palavra, que pode ocupar na frase,
sem prejuízo do sentido, várias posições. Uma oração como Petrus laudat
Paulum admite outras construções, como: Paulum laudat Petrus ou Paulum
Petrus laudat ou Laudat Petrus Paulum e ainda são possíveis mais
combinações. Já em português não é lícita tamanha liberdade de construir,
porque a palavra não leva em si própria a marca da sua função. O fator
posição (o sujeito antes e o complemento depois do verbo, por ex.) tem nas
línguas neolatinas um ofício de natureza gramatical desconhecido do latim,
pelo menos com o rigor que lhe emprestamos.
Além da menor freqüência de inversões, a frase românica se
caracteriza por uma extensão maior no uso das preposições, quer para
denotar relaç0es concretas, quer para exprimir relações gramaticais; e
também pela brevidade dos períodos, mais curtos que os da grande prosa
latina.
No vocabulário.
Sendo o latim vulgar Língua usual da conversação, nele haveriam de
predominar os têrmos afetivos e os termos populares. Foi o que realmente se
deu. Alguns exemplos o comprovarão.
Ignis, que significava propriamente jogo, foi substituído por focus,
cujo sentido era o de lareira, lar. Daí o português jogo, o espanhol fuego, o
francês leu, o italiano fuoco.
Para designar o cavalo, a palavra corrente no latim clássico era equus.
Ora, êsse têrmo foi posto de lado e, em seu lugar, se empregou caballus, que
designava animal de trabalho e tinha um certo cunho pejorativo. Esse o
vocabulo que está na base do português cavalo, do espanhol caballo, do
francês cheval, do italiano cavallo, do rumeno cal.
O latim relinquere cedeu ante a forma lazare, cujo sentido próprio era
o de afrouxar, desapertar. É a laxare que se prende o francês laisser, e o
italiano lasciare. O português deixar e o espanhol deixar postulam uma
forma *daxare, que talvez resulte de um cruzamento de laxare com dare.
O verbo anômalo ferre não penetrou nas camadas populares. Em vez
de ferre passou-se a dizer levare (português levar, espanhol Ilevar), •ou
portare (francês porter, italiano portare).
Se de edere ficou na Península Ibérica o composto comedere
(português e espanhol comer), na Gália e na Itália o verbo que se usou foi
manducare, palavra que significava propriamente maetigar. Daí o francês
manger e o italiano mangiare.
Em latim testa significava vaso de argila. Essa palavra e não caput é
que está na base do francês tête e do italiano testa, cabeça. Por uma
comparação jocosa se fêz a mudança de significado; não há necessidade de
apelar para o hábito de beberem os bárbaros em crânios humanos, como
sugeriram Ernout-Mei11et. O português cabeça e o espanhol cabeza provêm
de um derivado capitia.
O depoente inexpressivo loqui foi substituído numa parte da România
(Gália, Itália) pelo têrmo de origem cristã para bolare (francês parler, italiano
parlare) e em outra parte (Ibéria) pelo têrmo mais sugestivo fabulare
(português falar, espanhol hablar).
No latim vulgar houve também predileção pelos diminutivos,
formações normalmente de cunho afetivo. Em vez de auris temos auricula
que, através da forma rústica oricla deu o português orelha. Do mesmo modo,
ao invés de apis empregou-se apicula, fonte do português abelha. De
genuculu por genu tivemos o arcaico geolho e o moderno joelho. Se de agnu
provém ó português anho é de agnellu que promana o francês agneau.
Foi dêsse latim vulgar, cujos caracteres acabamos de esboçar, que
saíram as línguas româniêas ou neolatinas, dentre as quais a portuguêsa.

AS LÍNGUAS ROMÂNICAS
Do latim proveio não apenas o português, mas ainda várias outras
línguas, da maior importância histórica. São as línguas românicas ou
neolatina8, isto é, aquelas que, na Europa, ocupam parte do território
conquistado e colonizado pelos romanos. Ao conjunto dêsse território se
pode denominar România e às suas partes principais ibéria (Portugal e
Espanha), Gália (França do Norte e do Sul), Itália Décia (Rumania).
Com base nessa divisão geográfica, pode-se estabelecer uma
classificação das línguas românicas. Frederico Diez, o fundador da Filologia
Românica, dividiu-as em dois grupos: o oriental compreendia o Italiano e o
Rumeno; ocidental repartia-se em Francês, Provençal, Espanhol e Português.
Seu continuador e notabilíssimo filólogo, o suíço W. Meyer-Lübke,
aperfeiçoou essa classificação, distribuindo as línguas românicas nos
seguintes grupos, ordenados de Oriente para Ocidente: Rumeno, Dalmdtico,
Rético, Italiano, Sardo, Provençal, Francês, espanhol e Português, ao todo
nove idiomas. Desnecessário acrescentar que o domínio românico ainda
compreende numerosos dialetos, não contemplados na lista supra. Mais
precisamente: cada um dos nomes acima representa um conjunto de dialetos,
um dos quais, por motivos políticos ou literários, se tornou a língua nacional
comum. Assim o rumeno compreende três dialetos principais, o daco-
rumeno, o macedo-rumeno e o istro-rumeno, o primeiro dos quais serviu de
base para a língua literária nacional.
Das nove línguas apresentadas por Meyer-Lübke,850 nacionais o
Português, o Espanhol, o Francês, o Italiano e o Rumeno. O Provençal é
língua do Sul da França, que teve muito prestígio nos séculos XII e XIII,
quando a poesia trovadoresca dominava nas cortes da Europa meridional.
Hoje perde cada vez mais terreno em face da penetração irresistível do
Francês do Norte, ou, simplesmente, francês.
O Rético é usado nos territórios alpinos da antiga Récia, isto é, nos
Grisões e, fora dai, no Engadino. Falam-no cerca de quinhentas mil pessoas;
a influência do italiano e do alemão tende a reduzir ainda mais êsse número.
Na região dos Grisoes, cujo dialeto tem o nome particular de romanche, a
Língua ainda possui certa vitalidade. Há alguns anos, como os italianos
tivessem considerado o Rético um dialeto italiano do Norte, em represália, o
govêrno suíço declarou o engadino, um dos dialetos réticos, a quarta língua
nacional da Suíça, ao lado do francês, do italiano e do alemão.
Coube ao lingüista italiano &goli reivindicar para o Rético as honras
de língua, em seu valioso trabalho Saggi Ladini. Ladino é outro nome do
rético ou reto-românico.
O Sardo, língua da Sardenha, é o mais conservador idioma românico,
isto é, aquêle que manteve uma estrutura mais próxima da língua vulgar
latina.
O Dalmático é lingua morta. Falava-se na costa da antiga Dalmácia,
região a que corresponde a lugoslávia de hoje. Em 1898, quando o lingüista
italiano Bartoli recolhia na ilha de Veglia os últimos testemunhos do
dalmático, teve de interromper suas investigações, porque uma impiedosa
mina matou a seu único informante, o pedreiro Udina Burbur. Com Udina
desapareceu o velhoto, último dialeto do Dalmático sobrevivente.
Às nove línguas românicas identificadas por Meyer Lübke é preciso
acrescentar hoje mais uma: o catalão. Para Meyer-Lübke o catalão era um
dialeto galo-românico. O lingüista espanhol Arn Alonso rebateu, porém,
com sólidos de Meyer-Lübke, mostrando que a argumentos, a opinião
colocação do catalão no domínio galo-românico era apenas um equívoco,
porque se supunha que, em determinada ocasião, (século VIII), à medida que
retrocediam os árabes, fôra o provençal transplantado para Catalunha.
Amado Alonso mostra, porém, que é mais correto desligar o provençal da —
a que pertence, todavia, por causa de um Galo-Romania — e aproximá-lo do
catalão, do esca—o substrato céltico aragone e do gascão, constituindo com
êsses quatro falares um grupo pirenaico, muito mais próximo da Ibero-
Romania do que da Galo-Romania. Desligando-se, assim, da Galo România
e situando-se em pé de igualdade face ao provençal, razoável fazer do estalão
também uma língua neolatina.
As línguas neolatinas não fizeram o seu aparecimento na literatura ao
mesmo tempo. De tôdas elas a que apresenta documento escrito mais antigo
é o francês. Trata-se dos famosos "Juramentos de Estrasburgo", espécie de
acordo político concertado em 84 entre Carlos ECalyo e seu irmão, Luís o
Germânico.
O texto espanhol mais antigo é uma epopéia, o "Cantar de Mío Cid",
composto por volta de 1140. Em português, segundo D. Carolina Michaelis
de Vasconcelos o que tem sido ultimamente contestado — o texto literário
mais antigo é a célebre "Canção da Ribeirinha" ou "Cantiga da Garvaia" (V.
adiante entre os textos arcaicos), que aquela sábia filóloga datou de 1189.
MEYER-LÜBKE, Wilhelm (1861-1936) Swiss-born German linguist,
born in Dübendorf, near Zürich.
Professor successively in the universities -of Jena, Vienna, and Bonn, his
studies of. the Romance languages and Vulgar Latin revolutionized
Romance linguistics. Among his most important works are Grammatik der
romanischen Sprachen (1890—1902), Einführung in das Studium der
romanischen Sprach- wissenschaft (1901), and the Romanisches
etymologisches Wõrterbuch (1911—20).

DIEZ, Friedrich Christian (1794-1876) German Romance philologist,


born in Giessen, and educated there and at Góttingen. In 1818 he saw Goethe
at Jena, and by him was directed to the study of Provençal. From 1822 he
lived in Bonn, and in 1830 became professor of romance languages there.
His Altspanische Romanzen (1821) was followed by a series of works on
Romance languages, including the Grammatik depromanischen Sprachen
(l836-38).

PARTICULARIDADES SINTÁTICAS
FLEXÃO DO INFINITIVO PESSOAL
É verdadeiramente desconcertante para o professor de português o
problema da flexão do infinitivo pessoal; tropeços enormes encontram-se
para a própria exposição e explanação do assunto, quanto mais para a
fixação, não digo de regras, mas de normas que possam guiar o aluno. Tal a
barafunda de certas gramáticas, que o leitor chega a conclusões
desesperadoras e, muitas vêzes, falsas e nocivas, como esta que aqui traslado:
"Observadas tão somente as exigências da clareza e da eufonia, o emprêgo
do infinitivo é facultativo".
Por mais escabroso, no entanto, êsse lusismo, irei explicá-lo,
procurando ser o mais possível claro e sintético nessa árida e árdua questão.
Há duas espécies de infinitivos: o impessoal e o pessoal. O impessoal
é o infinitivo puro, é a forma nominal essencialmente substantiva do verbo;
é inflexível. O pessoal é o infinitivo empregado com referência a um sujeito
e aqui nasce a dificuldade em português ora é flexionado de acôrdo com a
pessoa do sujeito, ora não é flexionado e se confunde com o impessoal.
Quando flexionado, assim se conjuga:
por ter eu por têrmos nós
por teres tu por terdes vós
por ter êle por terem eles

Foi Soares Barbosa o primeiro gramático que tentou regular o problema da


flexão do infinitivo, formulando os dois seguintes princípios (Gramática
Filosófica —1803):
1-Flexiona-se o infinitivo quando tem êle sujeito próprio, diverso do sujeito
do verbo regente; não se flexiona quando os sujeitos são idênticos.
Em resumo:
Sujeito próprio = flexiona-se
Sujeito idêntico = não se flexiona
EXEMPLOS:
Declaramos (nós) ESTAREM (êles) prontos.
Ouvi (eu) CHAMAREM-me os amigos.
Julgo (eu) PODERES (tu) com isso.
Assinei (eu) o "Estado" para proporcionar (eu) a meus filhos
oportunidade de LEREM (êles) as "Questões Vernáculas".
Solicitamos (nós) não DEIXAREM VV. SS. de comprar
Envio-lhes esta carta, que peço (eu) ASSINAREM E DE-
VOLVEREM (êles).
2 — Continua Soares Barbosa:
Flexiona-se ainda o infinitivo quando empregado como sujeito,
predicado, ou complemento de alguma preposição, em sentido não já
abstrato, isto é, quando o infinitivo é empregado, mas concreto, determinado
gado não em significação geral, universal, mas em referência a determinado,
a especificado sujeito.
Exemplos em que o infinitivo é sujeito:
O louvares-me tu me causa novidade.
Lutarmos é o nosso dever.
Não é necessário pedires-me tu isso.
Santificares-te e fazeres o bem deve ser teu lema.
Os falares dessa maneira prejudicará o negócio.
Sirva-nos de lenitivo à derrota o têrmos resistido com coragem.

Aparece então outra regra, 33 anos depois da de Soares Barbosa,


formulada por Frederico Diez (pronuncie ditz), em sua "Gramatik der
Romanischen Sprachen" (Gramática das Línguas Românicas (1836-1844),
procurando justificar milhares de exemplos de centenas de autores:
"Só se flexiona o infinitivo quando é possível ser substituído por uma
forma modal, sendo indiferente que êsse infinitivo tenha sujeito próprio ou
não".

EXEMPLOS:
Alegram-se por terem visto o pai = Alegram-se porque viram...
Acreditando tu não me teres ofendido = que não me ofendeste(l).
Afirmo terem chegado os navios = ...que chegaram os navios.

ETIMOLOGIA
Etimologia (gr. étymos verdadeiro + logia = estudo) vem a ser o
estudo dos étimos, isto é, das fontes de nossos vocábulos. Nosso idioma, na
quase totalidade, originou-se lenta, progressiva e ininterruptamente do latim;
aqui dou, na ordem de semelhança com o latim, a relação das línguas
neolatinas ou românicas (de Roma), assim denominadas por provirem do
latim, que se diz língua mãe ou língua matriz; aproveitando a oportunidade,
cito as línguas indo-europeias.
DERIVADOS GREGOS
Para finalizar esta parte --apresento uma lista de elementos gregos que
entram na composição de várias palavras modernas, usadas nas ciências e
nas artes:
adámas indomável: diamante (houve hipértese do a inicial; especificava
antigamente o aço mais duro), adamantino.
acron = ponta, tôpo: acrópole, acrotério, acróstico.
Ánemos = vento: anemômetro, anemoscópio.
ánthropos = homem: antropologia, antropófago, misantropo (paroxítono).
autós = próprio, mesmo: autônomo, autocrata, autógrafo.
báros = pêso: barômetro, barologia, baroscópio.
biblion = livro: biblioteca, bibliografia.
bíos = vida.' biografia, biologia, biotaxia (kcía).
cacós = mau: cacófato, cacofonia, cacografia.
calós belo: caligrafia, calipedia, calidoscópio.
cephalé = cabeça: cefalalgia, cefalóide, acéfalo.

cheir = mão: quiromancia, quiromante, quirografia, cirurgia (chiro + urgia)


christós = ungido, sagrado: Cristo, cristandade.
chróma, chromatos = côr: insocromia, cromatismo, cromático, cromo
chrónos = tempo: cronômetro, cronologia, cronograma.
chrysós = ouro: crisófilo, crisogênio, crisogastro, Crisóstomo.
cólon = parte do intestino: colon, cólica (dor localizada no intestino).
cósmos = universo: cosmografia, cosmopolita.
cryptós = oculto: criptógamo, criptópodo.
cyanos= azul: cianidrico, cianogênio, cianose.
cýclos = círculo: ciclone, ciclótomo, enciclopédia (1),
cyon, cynós = cão: cínico (originariamente canino, próprio de cão).
cinegética, cinocéfalo, cinoglossa.
cýstis = bexiga: cistalgia, cistotomia, cistorragia.
dáctylos = dedo: datilografia, datílico.
daimon = divindade. Nas religiões que precederam ao cristianismo, demônio
significava gênio bom ou génio mau.
O cristianismo é que restringiu o significado para espirito maligno.
dêmos = povo: democracia, demagogia.
derma = pele: derme, epiderme, paquiderme.
diábolos = caluniador: diabólico. Contrai-se em diabo; permuta o lem
1 em diab-r-ura, diab-r-ete. Reduz-se a di em di-acho e di-anho.
dýnamis = fôrça: dinamo, dinamite, dinâmico.
dynástes = soberano, poderoso : dinasta, dinastia.
eicôn = imagem: iconoclasta, iconografia.
eídolon = imagem: idólatra, idolatria.
électron = âmbar, eletricidade: eletroscópio, eletrólise, eletrodinâmico.
eleemosyne = piedade, compaixão: esmola, esmoler.
entomos = inseto: entomologia, entomozoário, entomostráceos.
éros, érotos = amor: erótico, erotomania, erotopégnio.
éthnos = raça, povo: etnografia, etnologia, etnogenia, étnica, etnarca.
ethos = costume, hábito, moral: ética, etopéia, etocracia, etologia.
alactorréia, galactômetro,
gála, gálactos = leite: galactose, galacturia,
galactoforo
gastér = ventre: gástrico, gastrônomo, gastralgia.
ge = terra: geografia, geologia, geodésia, geofagia, georama.
glaucos = côr pálida entre o verde e o azul: glauco (côr do mar).
glossa = lingua: glossário, glossologia. Reveste a forma glos em glosa.
glosar; há ainda a forma grega com dois tt:
glôtta = lingua: glote, glático, glotologia.
gloutós = nádega: glúteo (relativo às nádegas).
gnosis = conhecimento: diagnóstico, prognóstico.
gonia = ângulo: trigonometria, pentágono,
grámma = lêtra: anagrama, programa, monograma; gramática
(originàriamente estudo das letras) ; significa também pêso infimo: grama
(unidade de pêso).
Gymnás = nu: ginásio (originàriamente, escola de educação física
exercitada com o corpo seminu), ginástica.
gyné, gynaicos = mulher: ginandria, ginecocracia, gineceu, ginecônomo,
ginecologia.
hélios = sol: helioscópio, heliografia, heliometria.
haíma, haimatos = sangue: hemorragia, hemoptise, hemagogo, hematose.
hépar, hépatos = figado: hepático, hepatocele, hepatorréia, hepatoscopia.
héteros = outro: heterogêneo, heterodoxo, heteróptero.
hierós = sagrado: hierofante, hieroglifo, hieródulo; a aspiração grega
abranda-se em jer em jerarquia, Jerônimo (por Hierônimo, donde
hieronimitas, professos da congregação de São Jerônimo).
Hippos =cavalo: hipódromo, hipopótamo, hipófago.
homos semelhante: homogêneo, homófono, homógrafo, homopatia.
horizon = o que limita: horizonte.
hybris = injúria, violência, ultraje: híbrido.
hydor = água: hidrogênio, hidrostática, hidromel, hídrico.
hygiés = são: higiene, higiologia.
hyalos = vidro: hialino, hialite, hialotecnia.
hygros = úmido: higrômetro, higroscópio.
hýmen = membrana: hímen.
hypnos = sono: hipnotismo, hipnotizar, hipnal, hipnose.
Hystéra = útero: histerismo, histérico, histerômetro.
ichthys = peixe: ictiófago, ictiologia.
Idea = idéia: ideograma, ideografia, ideologia.
Ídio = próprio: idiossincrasia, idiomorfo, idioma (lingua própria de um
povo).
Leucós = branco: leucite, leucócito, leucina.
lampás, lampádos = facho, archote: lâmpada, lampascópio,
relâmpago.pirilampo, lampião, lamparina.
lógos = razão: lógica, silogismo, catálogo. écloga. Significa também
discurso, tratado: antologia, biologia, teologia. Reveste as formas:
a) lex em léxico;
b) let (lect) em eclético, dialeto, dialética.

ASCOL15 Graziadio Isaia (1829—1907) Italian philologist, born of


Jewish parentage in Górz (Gorizio, in north Italy). He was appointed
professor of philology in Milan in 1860, and is known mainly for his work
on Italian dialectology, although he also made contributions to the fields of
Indo-European, Celtic and Romance linguistics, in particular the -
'substratum' theory, according to which certain features of the pronunciation
of French, Provençal, and northern Italian dialects are attributable to Celtic
speech habits causing modifications to the Latin spoken, in these regions. He
founded the Archivio glottologico italiano in 1873. He was created a senator
in 1888.
VASCONCELOS, Caroline Michaelis De (1851—1925) Portuguese
scholar and writer, born in Berlin. She studied and wrote on romance,
philology and literature. An honorary professor, of Hamburg University; she
lived, after her marriage in 1876, in Oporto, where she did much scholarly
research on the Portuguese language, its literature, and especially its folk
literature. Most noteworthy is her edition of the late 13th or early 14th
century Cancioneiro da Ajuda. Other writings include Notas Vicentinas
edition of the poetry of Francisco Sá de Miranda, (1485—1558) and essays,:
studies and correspondence with other Portuguese scholars.

Cancioneiros. The earliest Portuguese poetry has come down in three


manuscript song- books: the Cancioneiro da Ajuda (in the Ajuda Library,
Lisbon) ; the Cancioneiro da Vaticana; and the Cancioneiro Colocci-
Brancuti (in the Biblioteca Nacional, Lisbon), which once belonged to the
16th century Italian humanist, Colocci.

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