Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Comunicação
ISSN: 1809-5844
intercom@usp.br
Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação
Brasil
Resumo
As novas tecnologias de lnfurrnacáo e a cornunlcacüo mediada por
computador tém produzido mudan gas profundas nas condicñes de
subjetividade epossibilidades de experiencia humana. Curiosamente,
pesquisado res e artistas que se dedicam a questáo convergem para
temáticas de ficgao cientifica. A pro posta deste artigo é tentar
compreender como a ñccño científica, de genero literário menor,
restrito a fas, conquistou a vanquarda artística e académica,
tornando-se a ficfao da atualidade.
Palavras-chave: novas tecnologias de comunicacño: subjetividad e;
ficgao científica.
Resumen
Las nuevas tecnologías de información y la comunicación mediada
por la computadora han producido profundos cambios en las
condiciones de subjetividad y en las posibilidades de la experiencia
humana. Es interesante como investigadores y artistas que se
dedican al tema han tenido como punto de convergencia la ficción
científica. El presente artículo intenta comprender como la ficción
científica, como genero literario menor, restringido a sus aficionados,
ha conquistado a la vanguardia artística y académica, tornandose la
ficción de la realidad.
Palabras-clave: nuevas tecnologías de comunicación; subjetividad;
ficción científica. ¡-
i
103
!
Abstract
The new informational technologies and the computer mediated
communication have been producing deep changes in subjectivities'
conditions and the possibilities for human experiences. Curiously,
researchers and artists dedicated to this question tend toward
science fiction themes. This article aims to understand how science
fiction, a minor literary genre, conquered artistic and academic
vanguard, becoming the fiction of contemporary reality.
Keywords: new communication technologies; subjectivity; science
fiction.
Introducao
104
Sao PauJo - VoJume XXVIII. n! 1, Iutho/dezembrc de2005
105
REVISTA BRASILEIRA OE CIENCIAS OA COMUNICAl;AD
por pertencer a
indústria cultural, a fic~ao cíentífica era
estigmatizada pelo público geral como literatura infantil e escapista.
As décadas de 1930 e 40 assistiram ao crescimento de um
genero Iiterário popular que produziu seu universo próprio,
envolvendo escritores, editores, leitores e críticos. As histórias
compartilhavam temáticas, estilo de linguagem e um imaginário
particular. O genero parecía manter-se isolado do mundo externo,
para o qual seuscódigos eram quase indecifráveis. "Toda essa matriz l·
viva, nao apenas ostextos ficcionais que a ocasionaram inicialmente,
passou a ser chamada 'fic~ao científica"'(CLUTE e NICHOLLS, 1995,
p.312).
Otermo science ñction foi utilizado pela primeira vez em junho
de 1929, no número um da revista Science Wonder Staries. Foi urna
tentativa do editor Hugo Gernsback em definir o tipo de histórias
fantásticas ou futuristas que fascinavam os jovens da época.
Anterionnente, no editorial da primeira edi~ao da Revista Amazing
Storiesem abril de 1926, Gernsback havia se referido aogenero como
scientifiction e o descreveu assim:
106
Sao Paulo - vclumeXXVIII, ng 2,julho/dezembro da2005
107
REVISTA BRASlLEIRA DE CIENCIAS DA COMUNICA~Ao
108
Sao Paute - Volume XXVIIl, nR 2,julho/dezembro de200'5
109
REVISTA BRASlLEIRA DE CIf:NCIAS DA COMUNICA~ÁO
110
SaoPaulo - VoJume XXVIII, nV 2,julho/dezembro de2005
112
Sao Paulo - Volume XXVIII, ng 2,julho/dezembro de2005
113
REVISTA aRA81LElRA DE CIENCIAS DACOMUNICACAD
114
Sao Paulo - Volume XXVIII, n1l2. julho/dezembro de2005
aos povos bárbaros e aos troianos, Hoje descrita como fábula, talvez
a Odisséia tenha sido uma "ficcño científica" em sua época. Otitulo
de prímeira obra de Fe - quase um consenso entre autores,
pesquisadores e leitores do género - cabe a Frankenstein (1817), de
Mary Shelley. Éa primeira história em que matéria inerte é animada
por meio de procedimentos científicos. Envoltos em um campo de
fronteiras esmaecidas só é possível delinear urna díterenca muito
sutil entre ficvao científica, fantasia e horror. Na ficvao científica as
lnterroqacñes do humano e das conñquracóes espaco-ternpo sao
feitas a partir de rnudancas fictícias no saber tecnocientltico,
enquanto na fantasia e no horror os elementos dominantes sao o
saber mágico, religioso ou sobrenatural. Urna ressalva é importante:
várias obras de ficvao científica utilizam elementos mágicos,
religiosos ou sobrenaturais - um dos motivos pelos quais o género é
considerado impuro. No entanto, na ficvao científica há sempre pelo
menos um elemento (enredo, personagem, contexto, entre outros)
que se apóia naimaginavao tecnocientífica. Nao é casual que a data
e o local de nascimento da ficvao científica seja o alvorecer da
Hevolucño Industrial, na Inglaterra.
Na virada do século XVIII para o XIX, a Europa vive mudence«
acentuadas nas esferas sociais, politicas e económicas engendradas
pelas Revoluvoes Francesa e Industrial. Estas mudancas tiveram
como base a racionalidade científica e as inven~oes tecnológicas
aplicadas producáo, ao comércio e iÍ economia no decorrer do
á
115
REVISTA BRASILEIRA DECIENCIAS DACOMUNICACÁO
relagao com O tempo que con cebe o futuro como produto das
rnudancas realizadas no presente. Estes tres acontecimentos
inseparáveis - o desenvolvimento tecnocientifico como desencade-
ador de rnudancas, o sujeito como modo de ser do homem, e a
mudanca como possibilidade de sonhar com o futuro - forneceram o
terreno fértil para a narrativa de ficcáo científica.
Nao é fortuito que as definicñes do genero oscilem entre
mudanca. novas reíacñes entresujeito e ciencia e tecnologia, e nova
postura em relacáo ao futuro. A ficgao científica permanece fiel ao
evento que Ihe deu origem e cada urna de suas obras é urna
atualizacáo e añrrnacño do modo de interroqacéo da cultura
moderna. Entretanto, enquanto a Modernidade adotou a "flecha do
tempo" e as separacñes ontológicas e epistemológicas, a ficgao
científica, optou pela dissolucño das fronteiras entre homens,
animais e máquinas e esmaecimento dos limites entre ciencias
humanas, sociais e naturais, doando a suas narrativas o caráter
múltiploda experiencia.
A Modernidade forneceu as condicües de nascimento daficgao
científica, mas nao pode pensé-la. Aa erigir fronteiras entre homens,
animais e máquinas, o pensamento moderno tratou a tecnologia
como instrumento de ailenacño ou libartacáo do individuo, mas
nunca como algo que se imbrica com os modos de subjetivacáo e faz
repensar os limitesdo humano. A Modernidade nao apenas propicia
as condíeñes de aparecimento da ficgao científica quanto ela mesma
é urna narrativa: uma metanarrativa. O pensamento esclarecido
também sonhou com um outro ser- o sujeito civilizado e emancipado
- e um outro mundo - a sociedad e democrática nofuturo. O ailleurs
moderno é um espaco a ser construido num tempo futuro. As
mudancas sonhadas pela Modernidade - a emancípacño do homem
pela razáo, a construcño de orqanizacñas sociais democráticas e o
controle da natureza pela ciencia - eram a narrativa única e linear
pretendida pelos modernos. Enquanto pensadores e cientistas
buscam as condicñes de concratizacáo da Utopía Moderna por meio
da antecipacño dofuturo, osescritores deficgao científica narrarn as
outras utoplas, distopias e heterotopias possibilitadas pelo
entrelagamento entre subjetividade, tacnociéncia e outras
confiquracñes deespaco etempo. Surgem histórias sobre viagens no
ternpo, aventuras em planetas distantes, novas tecnologias de
116
Sao Peulc- Volumo XXVI\I, nQ 2. ju\hll/delambro de2Q05
117
REVISTA BRASILEIRA DECI~NCIAS DACDMUNICAl;AD
118
Sao Paulo - Volume XXVIII. nll 2,julho/dezembro de. 2005
Notas
120
Sao Peulc - Volume XXVIII, n~ 2,julho/dezembro de2005
Referencias Bibliográficas
KUHN, Anette (ed.], Alien Zone 1/: the spaces of science fiction
cínema. Nova York: Verso, 1999.
121
REVISTA BRA51LElRA DE CIENCIAS DA CDMUNICACAD
122
A sua op.;ao em revista científica
de Ciencias da Comunica.;ao