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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA

AULA INTERDISCIPLINAR

DISCIPLINAS ENVOLVIDAS: Filosofia e História

TEMA: Ciência: usos e abusos HORÁRIO: DATA:


CURSOS: Informática e Edificações TURMAS: 3ª anos
PROFESSORES: Thiago dos Anjos Noleto ATIVIDADE: Análise crítica do conceito de
Barros e Rodrigo Otávio da Silva ciência em textos de vulgarização científica

CIÊNCIA NO MUNDO GLOBALIZADO


Desde o séc. XVII, com a Revolução Científica, a ciência moderna no Ocidente se definiu como um
saber empírico e experimental, vazado na linguagem matemática. Abandonava, daí em diante, sua
configuração contemplativa própria dos “antigos”, que entendiam a ciência como um saber
essencialmente teorético, de busca das essências e qualidades do mundo. Passava, então, com essa
guinada moderna, a uma forma de conhecimento centrada (mais recentemente, é claro) nos
procedimentos, nas técnicas, métodos e instrumentos. A verdade, dessa feita, não estava mais no
mundo (Aristóteles) nem na estrutura da subjetividade (Kant), mas no seu caráter procedimental.

Esta breve caracterização da ciência, com suas óbvias limitações, marcou o ingresso do
pensamento científico na Modernidade. O caminho que ela percorreu até os nossos dias é cheio de
descaminhos, contornos, linhas narrativas diversas. Não pretendemos contar aqui a história de tal
percurso. Nossa descrição é meramente tipológica, oferecendo um modelo de compreensão e
inteligibilidade para seu estado no séc. XX.

Sendo um saber de manipulação, de intervenção na realidade - isto é, a ciência descreve o


mundo, mas tem compromisso fundamental em recriá-lo -, a ciência de nosso tempo aliou-se à
tecnologia e às demandas infinitas por inovação, estrutura que marca o desenvolvimento econômico
e social no capitalismo tardio. Na Guerra Fria, seu maior impulso esteve nas mãos do setor militar, da
Defesa. Posteriormente, a partir dos anos 1970, abriu-se ao capital das empresas, revolucionando as
relações econômicas profundamente. Tornou-se fator de produção, internacionalizou-se. Cada país,
especialmente as fábricas-núcleo, passou a organizar sua configuração produtiva segundo os
parâmetros da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (C, T & I). O desenvolvimento tornou-se
inseparável da Pesquisa (P &D), universalizando-se como modelo. A Revolução Digital, centrada na
comunicação e na informação, globalizou a produção e as relações socias, comprimindo o espaço e o
tempo das sociedades contemporâneas numa grande “aldeia global”.

Desse modo, a ciência-tecnologia de nossa epocalidade histórica, com seu saber empírico e
experimental, sua vocação transformadora e produtiva, se apresenta como motor de nosso mundo,
oráculo do capitalismo neoliberal, quando não, Deus ex machina para muitos. Sua proposta
transformadora e utópica, todavia, parece ter ficado para trás. No séc. XXI, padecemos com legiões
de miseráveis no orbe, enquanto poucos desfrutam desse “progresso científico”. O planeta mesmo,
considerado na sua ecologia, vê-se me colapso iminente, exaurido pelas atividades predatórias e
selvagens de um capitalismo voraz, que têm exatamente na ciência e na técnica seus maiores
aliados. Nunca se produziu tanto; nunca se matou tantos. Cabe-nos, a esta altura, distinguir, entre
uma ciência manipulativa, calcada na razão instrumental, e uma ciência emancipadora, fundada nas
normas e regras de uma vida socialmente justa e digna pata todos, uma ciência amestrada na razão
época e solidária.

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