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ARARAQUARA – SP
2018
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ARARAQUARA – SP
2018
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RESUMO
O Iluminismo consistiu num movimento histórico, político e filosófico que abalou as relações
sociais entre os seres humanos, sustentando a ideia de que a resolução de inúmeros problemas
entretanto, como questionam os pensadores da Teoria Crítica, o uso da racionalidade não foi
suficiente para impedir que a humanidade mantivesse ideais bárbaros. Esses teóricos refletem
ambiente escolar, havendo concepções divergentes, desde as pouco críticas – que defendem o
uso da tecnologia indiscriminadamente, sem qualquer reflexão acerca dos aspectos essenciais
essa temática sob o prisma da Teoria Crítica, visto que embora ela não se constitua de uma
teoria pedagógica em si, subsidia reflexões fundamentais sobre educação. Esse trabalho visa
principais universidades paulistas nos últimos dez anos, em torno da temática da tecnologia,
verificando de que modo a literatura científica tem se apropriado desse conceito nas vertentes
propostas por Marcuse e Habermas. Trata-se de uma pesquisa de revisão documental, para a
qual será utilizado como instrumento um roteiro de análise, cujo crivo servirá de base para
INTRODUÇÃO
de agir da humanidade, tendo como base a tese de que o homem seria capaz de dominar a
natureza por meio do saber, sendo que o dogmatismo religioso careceria de ser abandonado.
realidade.
principais problemas enfrentados pela sociedade, conceito que ainda é sustentado pelos
que analisam criticamente tanto o alcance quanto a limitação que esses avanços
proporcionam.
argumentando que por detrás do otimismo em torno do chamado progresso (nas mais variadas
dominados. Iniciam a Teoria Crítica, partindo de premissas defendidas por autores marxistas
clássicos e a eles contemporâneos, porém, não de forma restrita. Buscam ampliar suas fontes
Psicologia e de outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, Immanuel Kant, Max
ao transitarem por autores tão diversos em suas propostas e visões, não se permitindo o
uma constante na reflexão crítica: talvez uma tentativa de expurgar os elementos românticos
Faz-se mister entender o momento histórico em que tais constructos teóricos foram
dialética para um público pós-holocausto, ou seja, para um planeta que havia experienciado
e verdadeiro”. (2000, p. 116). Portanto, tornou-se evidente o fato de que a Razão, por si só,
não havia sido suficiente para a emancipação da espécie humana, visto que os regimes
nas organizações nazistas e fascistas não foram extirpados do ideário capitalista com a
controle ideológico, a qual se expressa de maneira cada vez mais sutil, sugerindo que ainda há
das formas pelas quais as massas são manipuladas. As expressões artísticas e culturais, que
outros termos, a arte e a cultura se tornaram meras mercadorias, estando submetidas às leis de
mercado.
Ampliando esse debate, é possível compreender que não apenas a arte e a cultura se
mercantilizaram, mas também outros pontos essenciais da existência humana, como é o caso
desde os seus primórdios, denuncia as políticas formais de enquadramento dos sujeitos para
vigente. Obviamente, sempre houve contra-movimentos, ou seja, a história nos prova que a
indivíduos, tema muito pertinente, o qual Pucci (2003) resgata de maneira contundente no
seguinte excerto:
conduzir à irracionalidade, além disso, destaca que a irracionalidade bruta e fria também é um
mesmo essa apropriação seria contraditória, visto que a própria cultura contém a barbárie.
seja mais vantajoso – para a manutenção do sistema no qual estamos inseridos – que um aluno
saiba manipular com destreza absoluta um tablet, do que reflita sobre sua inserção no mundo,
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o qual deveria ser pensado não como uma entidade constituída naturalmente, mas sim
historicamente.
que o avanço tecnológico se impõe não como uma alternativa, mas como um processo
inexorável, faz-se necessário refletir sobre dois pontos nodais em nossa temática: a questão da
Adorno e Horkheimer (1985) fazem inúmeras ressalvas quanto à necessidade real desse
avanço desenfreado, entendendo que esse fenômeno representa, na verdade, uma forma de
aprisionamento, visto que as pessoas passam a considerar a técnica como algo em si mesmo.
Uma metáfora interessante diz respeito ao fato de que os construtores de uma linha férrea se
sentem tão entusiasmados com a capacidade de conduzir pessoas numa velocidade altíssima,
de Auschwitz (ADORNO apud PUCCI, 2003, p. 13). Podemos nos aprofundar um pouco mais
Um mundo em que a técnica ocupa uma posição tão decisiva como acontece
atualmente, gera pessoas tecnológicas, afinadas com a técnica. Isto tem a sua
racionalidade boa: em seu plano mais restrito elas serão menos influenciáveis, com
as correspondentes conseqüências no plano geral. Por outro lado, na relação atual
com a técnica existe algo de exagerado, irracional, patogênico. Isto se vincula ao
"véu tecnológico". Os homens inclinam-se a considerar a técnica como sendo algo
em si mesma, um fim em si mesmo, uma força própria, esquecendo que ela é a
extensão do braço dos homens. Os meios — e a técnica é um conceito de meios
dirigidos à autoconservação da espécie humana — são fetichizados, porque os fins
— uma vida humana digna — encontram-se encobertos e desconectados da
consciência das pessoas (p. 132-133).
Interessante destacar o aforismo Não bater à porta em que Adorno (1993), de maneira
literária, fala sobre a violência presente no uso dos instrumentos modernos, como as portas
dos carros e das geladeiras. Segundo o autor, elas foram feitas para serem batidas, assim como
os carros nos provocam o desejo de passar, literalmente, por cima de transeuntes que nos
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incomodam. A técnica é alienada e alienante; faz com que os indivíduos se pensem como
tecnologia e suas implicações sociais. De acordo com Feenberg (1996), Heidegger e Jacques
Ellui, podem ser considerados críticos radicais por condenarem a tecnologia de modo
contundente e indiscriminado, tanto que muitas vezes são chamados rudemente de tecnófobos.
Para o autor, esse tipo de crítica é pouco convincente, no entanto, é importante no sentido de
de reflexão.
Dois pensadores com percurso distinto na história da teoria crítica são Marcuse e
Habermas. A contenda de ambos com relação à técnica é bastante estudada e discutida ainda
nos dias atuais, sendo de grande valia para a nossa proposta compreender a essência dessa
divergência.
contribuições, o autor é considerado um dos precursores da visão ecológica atual, que visa
conciliar a tecnologia com formas menos destrutivas tanto em relação à natureza, quanto ao
alguns de seus princípios, Habermas (1968) sustenta a noção de que a tecnologia é não-social,
tendo como objetivo a relação com a natureza, visando o seu controle e o êxito da espécie
humana. Isso posto, postula ser inviável a possibilidade de restauração da harmonia entre o
homem e a natureza. Pejorativamente menciona que Marcuse busca uma “relação fraternal
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O filósofo acrescenta, ainda, que a tecnologia é neutra em sua própria esfera, porém,
fora dessa, causa todas as patologias sociais que representam os principais problemas da
sociedade moderna. Tal concepção é uma herança do instrumentalismo ingênuo e foi bastante
críticos com relação à sua crítica à tecnologia. Formula a noção de razão comunicativa,
que busca, antes de tudo, o domínio e a perpetuação da ordem vigente. Para tanto, utiliza-se
intersubjetivas, em outros termos, sua filosofia procura o consenso entre os sujeitos no mundo
prático. Nesse sentido, impinge uma grande ênfase ao fator comunicacional e cognitivo,
acreditando que, por meio desse, é possível criar redes em que os indivíduos – agrupados em
(SILVA, 2001).
que se alinha com a abordagem marcusiana, embora tenha incorporado ideias de fontes
diversas. Para ele, a exemplo de Marcuse, a técnica e a ciência podem ser utilizadas tanto para
fins emancipadores quanto de dominação. Uma das metas da sociedade moderna seria
planejar esse uso, de modo a permitir a libertação e a não-alienação. De certo modo, o filósofo
proezas que os gadgets podem promover numa sala de aula. Mais do que tudo, deve-se
analisar, do modo mais crítico possível, qual a função política do educador, trazendo à baila a
realidade já estabelecida. Sobre essa questão, Adorno (2000) menciona que: “Provavelmente
um professor que diz: ‘sim, eu sou injusto, eu sou uma pessoa como vocês, a quem algo
agrada e algo desagrada’ será mais convincente do que um outro apoiado ideologicamente na
justiça, mas que acaba inevitavelmente cometendo injustiças reprimidas” (p. 113).
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JUSTIFICATIVA
esclarecimento, que previa que a Razão seria capaz de libertar o ser humano de todas as suas
mazelas, medos e precariedades. O que vivenciaram, em sua época, foi o uso dessa mesma
Razão para a dominação absoluta do homem pelo próprio homem, expressos por regimes
O próprio Adorno (2000) nos legou textos póstumos, que foram traduzidos e reunidos
pelo professor Wolfgang Leo Maar, tratando especificamente sobre um dos temas de nosso
interesse: a educação e a sua relação com a emancipação das pessoas. Com um estilo mais
fluente e bem menos acadêmico que a maioria de seus textos, o filósofo se arrisca a propor,
inclusive, estratégias práticas que poderiam melhorar o sistema educacional alemão, porém,
abarca aspectos universais da educação, ajudando a todos que se interessam pelo assunto a
Outra contribuição de Adorno (1993) está escrita na forma de aforismos, que embora
auxiliam a pensar. De um lado, temos Marcuse (2007), e de outro Habermas (1968; 2000). O
o segundo considera a técnica, em sua própria esfera, neutra. Elabora o conceito de razão
sociedade: a formação dos indivíduos, ideia que vai muito além da mera transmissão de
conteúdos, seja do modo clássico – como nas escolas tradicionais –, seja por meio de
OBJETIVO
Paulo apreendem o conceito de Tecnologia sob o viés de Herbert Marcuse e o modo como
esta literatura está compreendendo o problema da tecnologia na educação nos últimos dez
anos.
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MÉTODO E FONTES
consistem em dissertações e teses selecionadas a partir das bases de dados das universidades
de obras dos principais autores que tratam o tema da tecnologia na Teoria Crítica. Serão feitas
pelas seguintes bases de dados: Scielo e Google Acadêmico, dos quais os considerados mais
relevantes serão trabalhados e fichados para posterior uso na construção da escrita final.
As buscas nas bases de dados se darão por meio das seguintes palavras-chave: Marcuse
“and” Tecnologia; Habermas “and” Tecnologia; Marcuse “and” Educação; Habermas “and”
Educação; Marcuse “and” Tecnologia “and” Educação; Habermas “and” Tecnologia “and”
Teoria Crítica, bem como sobre características das próprias instituições nas quais essas
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das bibliotecas digitais das mesmas universidades: UFSCar; Unesp; Unicamp; e USP. As
“and” Tecnologia; Marcuse “and” Educação; Habermas “and” Educação; Marcuse “and”
Tecnologia “and” Educação; Habermas “and” Tecnologia “and” Educação. Da mesma forma
filtro de tempo se repetirá: de 2007 a 2017. Serão selecionadas e salvas apenas as dissertações
e teses que versarem sobre o campo educacional e eliminadas as pertencentes a outras áreas
de conhecimento.
será realizada a leitura completa das teses e dissertações selecionadas; posteriormente será
feita a transcrição dos dados dessas obras, uma a uma, para as folhas de protocolo.
referido instrumento.
REFERÊNCIAS
LOUREIRO, I. Breves notas sobre a crítica de Herbert Marcuse à tecnologia. In: PUCCI, B.;
LASTÓRIA, L. A. C. N.; COSTA, B. C. G. (Organizadores). Tecnologia, cultura e
formação... ainda Auschwitz. São Paulo: Cortez, 2003.
PUCCI, B. Tecnologia, cultura e formação... ainda Auschwitz. In: PUCCI, B.; LASTÓRIA, L.
A. C. N.; COSTA, B. C. G. (Organizadores). Tecnologia, cultura e formação... ainda
Auschwitz. São Paulo: Cortez, 2003.
ANEXO
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ROTEIRO DE ANÁLISE
Instituição: ____________________________________________________________
Autor: ______________________________________________________ Ano: 20___