Você está na página 1de 38

FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DA

INFORMAÇÃO

Diferentes visões da
Ciência da
Informação como
uma ciência social

Adriano Pereira da Silva; Danieli Di Mingo; Francilene


Ramos Lourenço Soares; Luísa F. S. Lourenço; Melina
Lacerda Vaz; Pauline Araújo; Rayane Soares Rosário;
Silvia Maria Nascimento Amarante; Webert Fernandes
de Souza.
PRINCIPAIS TÓPICOS
DISCUTIDOS NESTA
APRESENTAÇÃO

Visão social e humana da Ciência da


Informação:
CI e uma análise de seus fundamentos sociais
CI como ciência social
Concepções neutras e normativas
A natureza social da Ciência da Informação
Um saber humano ou social?
Nem ciência social, nem humana, apenas uma
ciência diferente
VISÃO SOCIAL E HUMANA DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO:
COMPREENDER O PASSADO PARA CONSTRUIR O
FUTURO
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

MARIA BEATRIZ MOSCOSO MARQUES LILIANA ISABEL ESTEVES GOMES

Doutorada em Letras pela Universidade de Doutorado em Ciência da Informação. Desde 2006 é


Coimbra, área de Ciências Documentais, Professor Auxiliar Convidado em Ciência da Informação
especialidade de Gestão da Informação e de na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Serviços de Informação. Leciona, desde 1996, na Membro da Comissão Científica do Departamento de
Faculdade de Letras da Universidade de Filosofia, Comunicação e Informação (2019-2021).
Coimbra. Coordenadora do Departamento de Mobilidade de
Ciência da Informação e Coordenadora de Estágios em
Ciência da Informação.

A CI se consolida em Portugal a partir dos cursos de pós-graduação em Ciências Documentais que evoluíram no
sentido da adoção do termo Ciência da Informação, tendo em vista a implementação, em 2001, num esforço
conjunto entre a Faculdade de Engenharia e a Faculdade de Letras da primeira Licenciatura em CI.

Arquivística (A), Biblioteconomia (B), Museologia (M) = ABM: Funções específicas, porém um denominador
Disciplinas subsidiárias da CI. comum (satisfação de informações da
humanidade). Até a idade média, eram
Satisfação das diversas necessidades do ser humano no praticamente a mesma entidade, pois
domínio da compartimentação documentalista da
organizavam e armazenavam todos os tipos de
informação (IF) (áreas específicas).
documentos.

Surgem, em finais do século XIX e inícios do século XX, os


Tal como acontece atualmente em relação à
princípios básicos das três ciências/disciplinas, de natureza
instrumental e operatória, que estão na gênese da CISH ausência de consenso sobre a visão da CI,
(Ciência da Informação Social e Humana). Até então, começam a desenvolver-se duas linhas de
entendidas como ciências/disciplinas auxiliares da história orientação, a designada como cientifica ou
(mas ainda baseadas na prática). técnica e a humanista.

No século XX há o desenvolvimento das TICs que Independentemente das visões e das tendências
agilizaram o acesso à informação, porém sem a nacionais e internacionais no domínio da criação e
participação e satisfação ativa do usuário. Segunda década afirmação da CI, estas organizações culturais
do séc. XXI (Michael Buckland) = Será que a CI de base
encontram-se unidas por três conceitos comuns, a
tecnológica é capaz de satisfazer as necessidades de IF dos
cultura, o patrimônio e a memória.
cidadãos do novo milênio em contextos sociais e culturais
distintos?
Ponte entre o paradigma custodial (suporte) e o pós-custodial (acesso) = atuando como um fator de
sustentabilidade e desenvolvimento em escala global.

Pode considerar-se que a designação Information Science tem as suas origens no conceito de
documentação e no legado teórico-prático dos belgas Henri La Fontaine (1854-1943) e Paul Otlet (1868-
1944).

Para Bellotto, os “Arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus têm corresponsabilidade no


processo de recuperação da informação, em benefício da divulgação científica, tecnológica, cultural e
social, bem como do testemunho jurídico e histórico" (1991).

No século XXI, são vários os autores como Dias (2000), Ortega (2004), Oliveira (2005), Souza; Almeida
(2009), que defendem uma CI aplicada, virada para o modelo tecnológico norte-americano, de onde
deve estar alheia qualquer variável de natureza social.

Todavia, a par desta orientação, começam a surgir desde 1970 algumas vozes críticas, e daí que a CI,
por influência da UNESCO, comece a abrir a sua abordagem a outras visões e tendências.
Tal como afirma Silva (2005: 28) "se não soubermos o que é a informação a
Ciência da Informação não passará nunca de um mero equívoco acadêmico e de
um artifício corporativo".

Para as autoras, considera-se também que o objeto de estudo da CI é a IF


enquanto fenômeno social e humano.

Ora, o imperativo categórico que se impõe à CI no século XXI, é o de deslocar o


foco dos meios de acesso, organização e representação da IF, para os efeitos que
essa IF possa ter no ser humano, o qual é designado por Toffler e Toffler (2006)
como Prossumidor (produtor e consumidor, respectivamente).

Assim, reafirmamos a ideia de que não pode existir um documento se não existir
IF, mas também não pode existir IF se não existir um ser humano capaz e
interessado em produzi-la e consumi-la.
O RETRATO DA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO:
UMA ANÁLISE DE SEUS
FUNDAMENTOS SOCIAIS
RENAULT, L. V., & MARTINS, R. (2007). O retrato da ciência da
informação: uma análise de seus fundamentos sociais. Encontros Bibli:
Revista eletrônica De Biblioteconomia E Ciência Da informação, 12(23), 133-
150.
Apresenta a fundamentação social da ciência da informação
através de três autores da área: Capurro, Shera e Wersig.

O que caracteriza uma ciência como da


ordem do social?

“O retratado de Dorian Gray”


A epistemologia social de Shera

A hermenêutica de Capurro

Wersing e a compreensão do outro


face ao conhecimento

Uma última imagem


A C.I. COMO UMA CIÊNCIA SOCIAL
ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. A ciência da informação como ciência social. Ciência da
Informação, Brasília, v. 32, n. 3, p. 21­‐27, set./dez. 2003.

Discute-se a natureza da ciência da informação como uma ciência social.

Inserção da ciência da informação nas ciências sociais, percebendo com


quais ramos destas ela travou diálogo em diferentes momentos.

A ciência da informação em termos institucionais é definida como uma



“ciência social aplicada” Se em termos institucionais ou terminológicos
parece indiscutível a natureza social da ciência da informação, em termos
propriamente teórico-epistemológicos essa inserção não é exatamente óbvia.
É consenso entre os autores da área que a ciência da informação surge em meados
do século XX
Data de 1959 o primeiro uso do termo e “é na década de 60 que são elaborados os primeiros
conceitos e definições e se inicia o debate sobre a origem e os fundamentos teóricos da nova área”
(Pinheiro & Loureiro, 1995, p. 42).

A ciência da informação nasce em um período histórico em que já se observam as


primeiras críticas ao fracasso do projeto da modernidade e ao modelo científico
resultante desse projeto

⇓ essa crise não está claramente delineada ainda

A C.I, constitui-se exatamente nos moldes das ciências modernas, sobretudo a partir
do modelo das ciências exatas, buscando atingir um conhecimento exato – de
inspiração matemática e quantitativa, à medida que o movimento da modernidade
buscou “impor um finalismo matemático a todas as outras ciências” (Bronowski, 1977,
p. 47) –, utilizando-se da máxima objetividade, buscando formular leis universais de
“comportamento” da informação.
Na década de 70 , entra em cena um personagem que redireciona o enfoque
da ciência da informação: o usuário

Com a presença dos usuários, as ciências humanas e sociais passam a


contribuir também, com seus métodos e práticas , para a composição dessa
ciência emergente”. (Cardoso, 1996 : 73-74)

Muito ligada inicialmente à computação (como atesta, por exemplo, a


importância do trabalho de Vannevar Bush) e à recuperação automática da
informação, ela vai, apenas nos anos 70, promover sua inscrição efetiva nas
ciências sociais.
Abordagens e Correntes nas Ciências
Sociais
→ Positivismo/Física Social (Auguste
Comte)
→ Sociologia Funcionalista /Funcionalismo
(Émile Durkheim)
→ Marxismo, materialismo dialético e
materialismo histórico
→ Teoria do Conflito
→ Estruturalismo
A C.I. COMO UMA CIÊNCIA
SOCIAL
Santos, L. G. dos, & Araújo, C. A. Ávila. (2011). Adoção e incorporação de teorias das Ciências
Sociais pela Ciência da Informação na perspectiva dos conceitos trabalhados por Gernot
Wersig. Informação &Amp; Sociedade: Estudos.

Gernot Wersig é um autor que em quatro décadas de trabalho dedicados à


Ciência da Informação (CI) trouxe grandes contribuições ao campo, tratando de
questões ligadas à proposição de uma fundamentação epistemológica para a
área, especialmente ao pensar o campo por uma perspectiva que entende a CI
como uma ciência social, no entendimento de que esta deve auxiliar os indivíduos
no uso do conhecimento na sociedade contemporânea.”
( SANTOS, 2011)
Abordagens e
DESIGN MEMPHISCorrentes nas Ciências 8

Sociais 7

A ciência na
6
contempora
Epistemologi
5 neidade
a da
Sociedade

4 complexidade
pós-moderna.
Rede ( lugar

social e/ou
Credibilidade sociedade
2 do estruturada)
1 O conhecimento

esclarecimento


Conceito de do
Identidade Ação conhecimento

“Ao pensamento complexo, que Wersig caminha por


entre os conceitos, indo e voltando em direção às
teorias sociais para construir seu pensamento
dentro do campo; nesse sentido esta já é uma
forma pós-moderna de se fazer ciência, pautada
pela pluralidade de dimensões teóricas, nas
múltiplas possibilidades de contextualização e
recontextualização do discurso científico
contemporâneo”.
INFORMATION SCIENCE AS
A SOCIAL SCIENCE
CIBANGU, Sylvain Kabongo. Information science as a social science. Information research, [s.l.], v.
15, n. 3, 2010. Disponível em: <http://informationr.net/ir/15-3/paper434.html>. Acesso em: 03 de
maio de 2022.

Sylvain K. Cibangu, em 2010, quando saiu esse artigo, era estudante de PhD na Escola de
Informação da University of Washington, em Seattle, WA, USA. Por um lado, suas áreas de
interesse residem nas tecnologias de comunicação e informação e desenvolvimento internacional.
Por outro lado, Sylvain nunca perde de vista as metodologias e teorias fundamentais das ciências
da informação.
Ciência da Informação, subdividida
“The role of information science as a
em três aspectos: social science is not to resolve or
repress disagreement, but to expose
the social world in its fullness or
(a) engenharia ou disciplina crudeness or diversity.”
técnica,
(O papel da Ciência da Informação,
(b) disciplina humana ou como ciência social, não é resolver ou
cognitiva e reprimir a discordância, mas expor o
mundo social em sua plenitude e
(c) disciplina ciência social. diversidade.)
Na seção do artigo, "As ciências sociais", o autor apresenta os vários jargões
utilizados pela Ciência da Informação, muitos dos quais são termos sociais, como,
constatando que a Ciência da Informação tem um forte laço com o social.

Na seção "Explicação científica para a Ciência da Informação como ciência


social", Cibangu trata como a Ciência da Informação pode englobar pesquisa
empírica e científica, abrangendo "o mundo físico e social". Conclui que, a Ciência
da Informação se constitui um fórum pluralista de métodos e paradigmas para
garantir diversas posições.

Tecnologias digitais e Ciências da Informação como Ciências Sociais:


(a) Determinismo Tecnológico
(b) Determinismo Humano
(c) Determinismo Social
(d) Determinismo Multidimensional
As especificidades da Ciência da Informação como ciência social

Articulação de informações
Modos de Ciência da Exemplos
necessidades e usos
Informação

Ciência da Computação, ergonomia,


Modelagem matemática,
Física, modo natural ciências biológicas, bibliometria, interface
algoritmos, gráficos.
de usuário, indexação.

Modo ciências Vida Brain-centric, experiência Metafísica, comportamental ou ciência


humanas interior, comportamento, razão, cognitiva, fenomenologia, ética.
reflexo, contexto.

Modo ciências sociais Interacão social, rede, conexão. Redes sociais, construção de comunidade.

O autor considera a necessidade de incorporar à pesquisa em Ciência da Informação como


ciência social em qualquer tópico de informações, utilizando os temas que melhor se encaixam em
cada trabalho. E reconhece e subsidia as bases que fundamentam a Ciência da Informação como
uma ciência social.
LIBRARY AND INFORMATION
SCIENCE AS A SOCIAL SCIENCE:
NEUTRAL AND NORMATIVE
CONCEPTIONS
ARCHIE L. DICK

A deriva para a ciência A concepção "neutra" da A concepção "normativa"


social ciência social da ciência social

A biblioteconomia e a ciência da Pensava-se que questões Busca uma relação mais integral
informação eram cada vez mais vistas entre a investigação científica
envolvendo valores estavam
como uma ciência social.
fora das ciências e, portanto, social e a busca do bem
Em busca de seu status científico,
acabou adotando abordagens as ciências sociais "deveriam humano. Nessa visão, as ciências
positivistas, incluindo ideais de permanecer em silêncio sobre sociais são descritas como áreas
neutralidade e objetividade. questões ou disputas relativas de "investigação moral" e até
a valores morais finais" mesmo como "teologia moral"
OS REFORMADORES
Grupo de pensadores de oposição que se
inspiram no contextualismo.

Espera melhorar a ciência da informação como


ciência social corrigindo erros e omissões. Os O argumento é que o fim da
adeptos têm em mente a adição de novos neutralidade não deve dar lugar a
assuntos, teorias e métodos complementares aos um relativismo epistemológico, mas
já existentes. exige uma exploração de estratégias
que detectem "suposições
"A incorporação dessas idéias não requer uma
sistematicamente distorcidas que se
reformulação básica da biblioteconomia e da
ciência da informação como parte do projeto mostraram mais poderosas nos
racional do Iluminismo, mas um reposicionamento projetos de grupos marginalizados"
da dimensão social da experiência humana como
central nesse projeto."
OS TRANSFORMADORES

Seguindo a análise do poder e do saber de Michel Foucault, propõe que a constituição


de "um campo de saber específico é um ato político que configura simultaneamente um
campo de ignorância".

Informar os
Aprimorar a consciência administradores de
Apoiar a libertação Ajudar os
crítica dos intermediários bibliotecas sobre a
dos usuários da educadores de
dos bibliotecários sobre a crescente influência dos
biblioteca de uma bibliotecas a avaliar
forma como os materiais mecanismos de mercado
"tirania conceitual da biblioteca estão como as
virtual sobre o desigualdades de na concepção da
vinculados ao "poder e
acesso" poder estão inscritas biblioteca e dos serviços
privilégio de certas
"no coração da de informação. As
classes de representar o
mundo por meio de livros teoria LIS [biblioteca noções de informação
de forma que atenda aos e ciência da como mercadoria e
seus interesses" informação]" usuários como
consumidores de
informação
"As abordagens alternativas parecem estar unidas principalmente na identificação de
um inimigo comum, o positivismo."

A concepção normativa da ciência social reviveu o debate inicial sobre se a profissão


de bibliotecário, museólogo e arquivista é essencialmente um empreendimento social
desinteressado ou um empreendimento educacional comprometido

Reconsideração crítica de conceitos como neutralidade, objetividade, liberdade e


igualdade no contexto do pensamento e da prática dos museus, arquivos e
bibliotecas

"Consciência mais nítida das maneiras sutis pelas quais o poder ordena certos
preconceitos em apoio a si mesmo sob disfarces aparentemente inócuos."
A NATUREZA SOCIAL DA
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CARVALHO, Eduardo Costa. A natureza social da Ciência da Informação. In: PINHEIRO, Leda Vânia R.
Ciência da informação, ciências sociais e interdisciplinaridade. Brasília., Rio de Janeiro: IBICT/DDI/DEP, 1999.
p. 51-63.

SOBRE O AUTOR:
Eduardo Costa Carvalho é graduado em Administração e em Tecnologia de Processamento de
Dados, pela PUC – RJ, Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ e possui experiência profissional
em Banco de Dados.

SOBRE O ARTIGO:
Se propõe a contextualizar a Ciência da Informação como Ciência Social a partir da interpretação de
uma bibliografia selecionada e de sua participação no III Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da
Informação, realizado no Rio de Janeiro, em setembro de 1997.
O DOMÍNIO DA CIÊNCIA:
INTRODUÇÃO
Estabelece como ponto norteador para seu
Aborda a CI como um campo que surge trabalho uma definição livre, na qual Ciências
da demanda social pela otimização dos Naturais estuda os fenômenos da natureza e
processos de coleta, armazenamento, as Ciências Sociais estuda os fenômenos das
recuperação e disseminação da relações humanas, não havendo distinção
informação. entre Ciências Sociais e Humanas.

A INFORMAÇÃO COMO UM FENÔMENO


SOCIAL:
Apresenta a informação como o objeto de
estudo da CI, sendo um fenômeno social que
só se dá no contexto das relações humanas.
A NATUREZA SOCIAL DA CIÊNCIA DA A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, UMA
INFORMAÇÃO CIÊNCIA PÓS-MODERNA

Apresenta visões de vários teóricos, dentre eles Para concluir, o autor baseia suas considerações
Foskett e Le Coadic. Por fim, esclarece que a finais na CI como uma ciência pós-moderna,
natureza social da CI passa pelo processo de definindo o domínio das ciências sociais,
comunicação do conhecimento. , o que reflete na posicionando a informação como um fenômeno
preocupação do ser humano no próprio processo de social e concluindo que a Ciência da
comunicação do conhecimento. Informação está inserida no contexto das
Ciências Sociais por estudar um fenômeno
Aborda a Ciência da Informação sob o prisma da desta natureza.
interdisciplinaridade, relacionando tais características
com a concepção qual a Cl seria uma ciência pós-
moderna e portanto, como ciência social.
É A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO UM
SABER HUMANO OU SOCIAL?
QUEIRÓS, Carlos Fernando Gomes Galvão

A Ciência da Informação é uma Ciência Social? Ou será uma Ciência


Humana? Esse tipo de pergunta faz mesmo sentido, ou seja, existe
diferença entre uma ciência social e uma ciência humana? Ou ainda,
podemos definir a Ciência da Informação como ciência?”
A CIÊNCIA E AS HUMANIDADES

Ciência exata, precisa e objetiva, que coloca em prática uma


metodologia experimental para a comprovação de resultados.

Como é possível definir como ciência os saberes do Homem e da


sociedade?

"A ciência trabalha com a realidade, o que não significa que


trabalhe com a essência verdadeira das coisas e dos fatos, mas
tão somente com nossa visão do que entendemos por real."
LINGUAGEM, INTERDISCIPLINARIDADE E A CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO

Linguagem: instrumento que, por excelência, Interdisciplinaridade: base de saberes


usamos para transmitir informação. modernos, tais como a Ciência da Informação.
O que veio primeiro, a capacidade de classificar É um sintoma da fragmentação do saber
ou a de designar (linguagem)? humano. O problema é que a fragmentação do
A fala é intuitiva, logo, é universal. A linguagem saber fragmentou também o entendimento do
é um conjunto de signos sistematizados, por isso mundo pelas pessoas, alienando-as do real, ao
é potencialmente universal, pede a capacidade tornar difícil sua apreensão. “(...) se nas ciências
de decodificação do receptor. naturais há um amplo acordo quanto aos
Deve-se voltar a atenção para as linguagens métodos (...) o mesmo não ocorre no caso das
potencialmente universais (linguagem dos ciências humanas.” (JAPIASSÚ, 1976, p.61).
surdos-mudos, escrita, matemática). Somente os
iniciados possuem condições para desvendar ou
compreender o que foi desvendado teórica e
empiricamente.
O PAPEL E A FUNÇÃO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

"(...) informação é um produto de nosso processo cognitivo; está inserida no processo de


comunicação, necessitando, desse modo, de um emissor e de um receptor (o suporte pode ser
material ou imaterial)."

"À luz de nossas leituras e de nossas reflexões, responderíamos tal indagação da seguinte
forma: a Ciência da Informação não é uma ciência, mas sim um saber humano e social." p. 48

"(...) uma das funções da Ciência da Informação é compreender e organizar o fluxo da


base do saber, científico ou não: a informação, (...). Por isso, a Ciência da Informação é
um saber humano."

"(...) a Ciência da Informação é, também, um saber social."


CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: NEM
CIÊNCIA SOCIAL, NEM HUMANA,
APENAS UMA CIÊNCIA
DIFERENTE
Autor: José Mauro Matheus Loureiro

Possui graduação em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1980), Mestrado
em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996), Doutorado em Ciência da
Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000) e estágio Pós-doutoral (PPGAS/UFRJ - 2004).
Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, consultor ad hoc do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pesquisador colaborador - Museu de
Astronomia e Ciências Afins, professor permanente da Universidade Federal da Paraíba - PPGCI/UFPB - e
pesquisador colaborador do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. Tem experiência na
área de Ciência da Informação, com ênfase em Ciência da Informação, atuando principalmente nos seguintes
temas: ciência da informação, memória, informação, museologia e museu
Propósito do texto se volta para um a instrumentalização conceitual que permita interrelacionar
a Ciência da Informação com a ciência social e a ciência humana e, assim, refletir sobre o
pertencimento ou não da Ciência da Informação ao universo das mesmas.

Definição de Ciências Definição de Ciências Humanas


Sociais
As disciplinas abrangidas pelas Ciências
Humanas são aquelas caracterizadas pela
Elenco de disciplinas que buscam
pesquisa das múltiplas ações humanas “(...) na
estudar de modo objetivo os sistemas e
medida em que implicam relações dos homens
estruturas sociais, os processos políticos entre si e dos homens com as coisas, bem como
e econômicos, “as interações de grupos as obras, instituições e relações que dela
ou indivíduos diferentes”, com o resultam.” (Freund, 1977, p. 8). Na
propósito de “fundamentar um ‘corpus’ contemporaneidade, as Ciências Humanas vêm
de conhecimentos passível de sendo utilizadas tecnicamente em nossa cultura
verificação.” (Rios, 1986, p. 184). com o intuito de prover respostas técnicas ou, até
mesmo, solucionar conflitos acarretados pelas
aceleradas transformações sociais
NEM CIÊNCIA HUMANA, NEM SOCIAL, MAS HETEROLÓGICA,
PLURAL E INTER-RELACIONAL

O movimento interdisciplinar condensado nas construções teórico-práticas


exprimiriam uma ação instrumentalizadora dirigida às análises dos
elementos objetivos e subjetivos que conformam o fenômeno da
informação tal como se manifesta na ambiência do social. Acreditamos que
essa convergência disciplinar excluiria a Ciência da Informação do
horizonte das Ciências Sociais e das Ciências Humanas - do modo como as
mesmas se encontram configuradas no interior de suas fronteiras teórico-
metodológicas - devido à singularidade de seu objeto de pesquisa, seus
postulados teórico-metodológicos e epistemológicos e sua estruturação
interdisciplinar.
Questiona o paradigma atual:

Face à tentativa de integração da Ciência da Informação ao universo das


Ciências Sociais e das Ciências Humanas e entendendo-as na órbita
científica tradicional, impõem-se a pergunta: faz-se necessário o
pertencimento da Ciência da Informação ao universo da Ciência tal como a
mesma se apresenta hoje ou pode a Ciência da Informação representar um
modo de transgressão aos paradigmas instituídos pelo panorama científico
tradicional? Pode a Ciência da Informação tornar-se instituinte e não
somente instituída? Não poderia a Ciência da Informação se constituir em
uma nova modalidade de produção do conhecimento?
REFERÊNCIAS

Marques, Maria & Marques, Moscoso. (2020). VISÃO SOCIAL E HUMANA DA


CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: COMPREENDER O PASSADO PARA CONSTRUIR O
FUTURO Social and human vision of information science: understanding the past
to build the future. Biblos Revista da FLUC. 119-145. 10.14195/0870-4112_3-6_6.

RENAULT, L. V., & MARTINS, R. (2007). O retrato da ciência da informação: uma


análise de seus fundamentos sociais. Encontros Bibli: Revista eletrônica De
Biblioteconomia E Ciência Da informação, 12(23), 133-150.

Santos, Liara Gomes dos. A contribuição de teorias das Ciências Sociais para a
Ciência da Informação na perspectiva de Gernot Wersig 162f. (Dissertação de
Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Escola de
Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. 2010

Santos, L. G. dos, & Araújo, C. A. Ávila. (2011). Adoção e incorporação de teorias das
Ciências Sociais pela Ciência da Informação na perspectiva dos conceitos
trabalhados por Gernot Wersig. Informação &Amp; Sociedade: Estudos, 21(2).
Recuperado de https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/4730

CIBANGU, Sylvain Kabongo. Information science as a social science. Information


research, [s.l.], v. 15, n. 3, 2010. Disponível em: <http://informationr.net/ir/15-
3/paper434.html>. Acesso em: 03 de maio de 2022.
REFERÊNCIAS

DICK, Archie L. “Library and Information Science as a Social Science:


Neutral and Normative Conceptions.” The Library Quarterly: Information,
Community, Policy, vol. 65, no. 2, 1995, pp. 216–35.

CARVALHO, Eduardo Costa. A natureza social da Ciência da Informação.


In: PINHEIRO, Leda Vânia R. Ciência da informação, ciências sociais e
interdisciplinaridade. Brasília., Rio de Janeiro: IBICT/DDI/DEP, 1999. p. 51-63.

QUEIRÓS, C. F. G. G.. É a Ciência da Informação um saber humano ou


social? In: PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro (Org.). Ciência da Informação,
Ciências Sociais e interdisciplinaridade. Brasília; Rio de Janeiro: IBICT, 1999.
189p.

LOUREIRO, José Mauro Matheus. CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: NEM


CIÊNCIA SOCIAL, NEM HUMANA, APENAS UMA CIÊNCIA DIFERENTE.
In: Ciência da informação, ciências sociais e interdisciplinaridade / Ana
Lucia Siaines de Castro ... [ et al.] ; organização de Lena Vania Ribeiro
Pinheiro ; prefácio de Gilda Maria Braga. — Brasília ; Rio de Janeiro :
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, 1999. pp 65 a 77.
OBRIGADO!

Você também pode gostar