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CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Arkley Marques Bandeira
Prof. Dr. Luís Henrique Serra
Prof. Dr. Elídio Armando Exposto Guarçoni
Prof. Dr. André da Silva Freires
Prof. Dr. Jadir Machado Lessa
Profª. Dra. Diana Rocha da Silva
Profª. Dra. Gisélia Brito dos Santos
Capa
Stephane Serejo
Projeto Gráfico
Stephane Serejo
Revisão
Os autores
150 p.
ISBN: 978-65-86619-60-7
1. Ficção – Encontro Científico - UFMA. 2. Ficção especulativa. 3. Identidade. 4. Discurso. I.
Martins, Jucélia. II. Araújo, Naiara Sales.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
MINICURSOS
MESA REDONDA
GRUPOS DE TRABALHO
COMUNICAÇÕES ORAIS
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APRESENTAÇÃO
A Ficção Especulativa, em sua acepção mais moderna, abrange toda uma gama de
expressões artísticas que desenvolvem narrativas idealizadas em meio a eventos insólitos e
apresentam elementos que extrapolam a esfera da realidade. Em decorrência de sua
abrangência, essa modalidade ficcional para o escritor Roberto de Sousa Causo pode ser
compreendida como parte de “uma tradição diferenciada, que bebe de fontes míticas, satíricas,
utópicas, romanescas e mesmo científicas, para realizar-se como um corpo multifacetado de
possibilidades ficcionais, existindo em interação com o mainstream literário”. (2003, p.45).
Compreendendo a importância em se disseminar os estudos acerca da presente
temática, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) representada pelo grupo de pesquisa
FICÇA (Ficção Científica, Gêneros Pós-Modernos e Representações Artísticas na Era Digital),
o Programa de Pós-graduação em Letras – PGLetras/ UFMA e o Departamento de Letras –
DELER/UFMA promoveu em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a
Universidade Federal do Piauí (UFPI) e a Universidade Estadual do Piauí (UESPI) o “I
CONIFE – Congresso Internacional de Ficção Especulativa”.
O congresso foi sediado na cidade de São Luis do Maranhão, no campus Bacanga da
UFMA, durante os dias 26 a 28 de Agosto de 2020. Todavia foi realizado na modalidade virtual,
possibilitando o acesso de estudantes, professores e pesquisadores de diversos lugares do Brasil
e do Mundo, contando com mais de 270 apresentações com interatividade em tempo real e
inclusive conferências ao vivo no YouTube graças ao suporte fornecido pelo Núcleo de
Tecnologia da Informação (NTI/UFMA).
Em relação as conferências proferidas, o I CONIFE contou com as presenças dos
egrégios professores e pesquisadores: Mary Elizabeth Ginway (Universidade da Flórida –
EUA), Gonzalo Portals Zubiate (Universidad de San Martín de Porres – Peru), Alexander
Meireles da Silva (Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão - Brasil) e Bruno Anselmi
Matangrano (Brasil).
Os referidos conferencistas abordaram temas relativos à Ficção Especulativa,
conferindo destaque as produções nacionais, fornecendo contribuições relevantes para essa área
de conhecimento, e, sem sombra de dúvida, incentivando e inspirando estudantes a conheceram
a fundo as possibilidades de estudos pertinentes a literatura (e outras artes) de Ficção científica,
Fantástico e Horror, para no futuro desenvolverem suas próprias pesquisas.
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MINICURSOS
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MINICURSO 1
de Alan Moore e Ian Gibson e "Y: O Último Homem", do roteirista Brian K. Vaughan) e (5) A
problematização da condição humana em uma cultura tecnológica nas obras de Enki Bilal e do
brasileiro Ciberpajé Edgar Franco.
Essa proposta visa ampliar os estudos acerca do Insólito ficcional e sua construção na narrativa
literária. O insólito ficcional é entendido como gênero ou modo discursivo, cuja leitura é
condicionada por mecanismos instrucionais presentes no texto. tendo como base as estratégias de
construção narrativa utilizadas pelo autor e veiculadas, no plano textual, pelo narrador,
concretização da voz do autor-modelo, e pelo narratário, concretização da audição do leitor-
modelo. (Garcia, 2018). Para o desenvolvimento da referida proposta elegeu-se como aporte
teórico conceitos advindos da Teoria Literária, da Teoria dos Gêneros Literários, e dos Estudos da
Narrativa (Narratologia), à Semiologia Literária. Para a construção do discurso expositivo recorreu-
se às reflexões crítico-teórico-metodológicas de Jaime Alazraki, Remo Ceserani, Irlemar Chiampi,
Nelly Novaes Coelho, Filipe Furtado, António Martins, Carlos Reis, Tzvetan Todorov, e Umberto
Eco. Para o trabalho de leitura utiliza-se textos de Mia Couto, Isabel Allende, Zoé Valdes e outros.
Palavras-chave: Leitura literária; Insólito ficcional; Estudos da narrativa; Teoria dos Gêneros
Literários.
MINICURSO 2
Objetiva-se por meio desta mesa estabelecer diálogos entre romances distópicos e suas respectivas
adaptações para o cinema. Inicialmente, debate-se a atemporalidade de 1984 de George Orwell sob
a ótica da adaptação de Michael Radford e, nos questionamentos acerca de sua eficácia, a
possibilidade de respostas que se conectem com temas da sociedade atual. Em seguida, a clássica
adaptação de Laranja Mecânica de Anthony Burgess por Stanley Kubrick é discutida a partir da
formação do ícone em torno do personagem Alex e sua intensa presença simbólica da cultura pop.
Refletindo sobre a condição humana ao ruir das convenções sociais, analisa-se por fim os pontos
de convergência e divergência entre as obras A escuridão de André Carneiro e Ensaio sobre a
cegueira de José Saramago a partir da perspectiva da obra Dialética do esclarecimento (1944) de
Adorno e Horkheimer, dentre outros autores.
Tendo finalizado recentemente a leitura da obra de Anthony Burgess, Laranja mecânica (1962), em
comparação à análise fílmica do homônimo de Kubrick de 1971, no grupo de pesquisa que
coordeno [Grifo ~ Estudos Literários], na linha de pesquisa “Literatura e cinema” acedemos,
dentre muitas ideias, o quão enriquecedor (tanto no sentido moral, quanto no social e no
ideológico), levantar os problemas em torno da análise das obras de arte – aproveitando para
remover distâncias entre o espaço acadêmico e o não acadêmico. Dentre as muitas ideias suscitadas
por esta obra uma se destaca aqui: a formação do ícone em torno do personagem Alex e sua intensa
presença simbólica da cultura pop. Como lidar com a formação icônica deste líder perverso em
imagem disseminada tão popularmente? Segundo Fábio Fernandes no prefácio da edição
comemorativa de 50 anos do Laranja, “não é possível saborear esta suculenta laranja (ainda que
mecânica) sem mergulhar a fundo em sua estranha narrativa do começo ao fim.” A leitura profunda
pode transformar e manifestar acepções mais seguras do que simplesmente usar figuras
emblemáticas como status. Nessa direção, trago a esta mesa a discussão iniciada no Grifo no intuito
de traçar diálogos com as outras obras que ora se apresentam e procurar posicionar as adaptações
literárias para o cinema como obras de relevância única na compreensão da formação do panorama
literário-fílmico das distopias e suas reverberações.
Inspirado pelas traumáticas experiências fascistas em uma Europa pós-Segunda Guerra, 1984
de George Orwell atravessou gerações e tornou-se fundamental para qualquer obra de ficção
que reflita acerca do futuro de sociedades cuja condição humana é reduzida a mero instrumento
político e liberdades são constantemente cerceadas. Ocupando lugar central na literatura
distópica, o romance foi adaptado para o cinema pelo diretor Michael Radford justamente no
ano de 1984, recebendo prêmios e elogios pela crítica especializada. Neste ponto, surgem os
seguintes questionamentos: teria a referida adaptação conseguido dialogar de forma eficaz com
os temas propostos na obra original? Estaríamos, em pleno ano de 2020, mais “pertos” de 1984
do que a época em que o filme foi concebido? A fim de vislumbrar possíveis respostas, objetiva-
se discorrer acerca das principais temáticas do romance em um recorrente diálogo com o filme
– desde passagens como Two Minutes Hate a termos como doublethink – e a respectiva
conexão com aspectos da nossa sociedade atual bem como referências na cultura pop. Além
disso, discute-se que tipo de mensagem prevalece ao final do romance: algo absolutamente
pessimista ou, ainda assim, elusivo em seu prognóstico sobre a humanidade? Diante de tais
possibilidades, pode-se finalmente aferir um dos mais interessantes atributos de 1984 em sua
instigante atemporalidade: um olhar sempre a transcender o futuro que nos alcança, mas que,
felizmente, ainda não se concretizou. Ao decorrer desta pesquisa, foram utilizadas – além de
ensaios do próprio Orwell em O que é Fascismo? E Outros Ensaios (2017) – obras de autores
como BLOOM (2004), HORAN (2018), SANDISON (1986) e RODDEN (2007).
Em 1963, o escritor brasileiro André Carneiro publica seu conto A escuridão, que traz a história
de um fenômeno que desafia a ciência: toda fonte de luz, natural ou artificial, não ilumina mais.
Sol, fósforos, lanternas se mostram inúteis; assim recai sobre a terra uma escuridão sem
precedentes. Mais de trinta anos depois, o escritor português José Saramago lança seu Ensaio sobre
a cegueira, romance que traz o drama de um mundo repentinamente afligido por uma epidemia
referenciada como “cegueira branca”. Sobre estes semelhantes motes, os autores contemporâneos
abrem seus universos ficcionais refletindo sobre a condição humana e como a sua natureza é
revelada ao ruir das convenções político-sociais. O presente artigo tem como objetivo analisar os
pontos de convergência e divergência entre as obras A escuridão e Ensaio sobre a cegueira, a partir
da perspectiva da obra Dialética do esclarecimento (1944) de Adorno e Horkheimer, bem como
das discussões acerca da Ficção Científica apresentadas pela crítica literária Elizabeth Ginway.
Serão consultadas também os apontamentos do sociólogo Zygmunt Bauman (2003).
MESA REDONDA
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A ficção é lugar de memória e registro histórico de um fazer coletivo atravessado pela arte como
meio de ressignificar a realidade subjetiva. É lugar de resistência onde vozes reprimidas narram
suas dores em situações de violência sócio-política denunciando, pela estética da arte, as fraturas
infringidas em seus corpos em narrativas de dor. Assim, esta mesa se propõe a discutir a ficção
como forma de resistência à repressão em sistemas autoritários. Analisaremos os mecanismos de
censura da arte como a negação do direito à ficção, corpo narrativo. No cenário da literatura,
interessa destacar a narrativa testemunhal no contexto de enunciação latino-americano, uma
narrativa como ato de memória de determinado período; assim como historiar e problematizar a
composição dos corpos femininos e negros dentro da produção literária brasileira por uma escrita
escrevivente. Memória e resistência são ganchos para discutir a dor, a violência e a resistência
desenhadas nessas narrativas.
A literatura, de modo geral, não nasce do vazio, ela é sempre provocada pela condição humana em
seu conjunto, como indício sensível do tempo, moldando a representação coletiva do passado.
Assim, de modo bastante potencializado, há aquela produção literária que traz consigo imagens de
grandes eventos-limites da humanidade. Estas são atingidas pelo vivido e surgem como expressão
simbólica da vida, representando dores, horrores, traumas. Uma literatura que está envolvida com
uma estética e política específica, com forte compromisso com o social, com uma escrita como
dever de memória. Este liame estético e político apresenta-se em narrativas latino-americanas sob
a denominação de narrativas de teor testemunhal, literatura de testemunho, testimonio. Em vista
disso, como uma das explanações na mesa redonda, propõe-se apresentar pontuações acerca do
testemunho latino-americano e sua relação com o estético e o político, destacando algumas obras
e imagens de dor decorrentes de autoritarismos, da violência do Estado. Conforme afirma Beatriz
Sarlo (2007), a literatura proporciona imagens mais hostis e exatas do terror por meio da “figuração
do horror artisticamente controlada”, e esta narrativa assume a função tanto de representar quanto
de analisar os acontecimentos. Convém ressaltar que tal discussão encontra-se em fronteira
dialógica com diversas áreas do saber. Logo, elementos da História, Filosofia, Ciência Política,
Memória atravessarão a exposição como paradigmas de entendimento da realidade.
A ficção é um corpo narrativo atravessado pela vivência de corpos sociais que imprimem nela um
desejo de expressão do qual a realidade não daria conta. Esse desejo é antes de tudo de ser, pois se
apresenta por um dizer, sentir, compreender o mundo e resistir a ele por meio da transfiguração da
linguagem em toda sua potencialidade. Na ficção o indivíduo ocupa lugares da sua subjetividade
inatingíveis no espectro narrado do mundo real e ressignifica o momento histórico com um
mecanismo de acesso ao pensamento coletivo carregado de memória estética, que é a obra de arte.
Assim, ficção e realidade coexistem em uma relação simbiótica. Mas o mundo real é também um
corpo narrativo, é lugar de poder onde sistemas de opressão social e política buscam se perpetuar
enquanto verdade, instituindo uma disputa de discursos cujo cerne é a repressão das vozes que de
algum modo ofereçam resistência a esses sistemas, ainda que pela arte. Como parte do que se
discutirá na mesa redonda, analisaremos nesta fala os mecanismos de repressão à arte enquanto
corpo narrativo ficcional em situações históricas de disputa de discursos instaurada por sistemas
autoritários de poder. Interessa compreender de que forma essa disputa evidencia uma inscrição
da violência de sistemas opressores que buscam aniquilar as evidências da violência perpetrada na
memória coletiva, entendendo a censura como a negação do direito do indivíduo de ficcionalizar a
realidade, o direito à ficção. A obra de arte é lida, portanto, como lugar de resistência, que inscreve
a violência na memória histórica e permite acesso às narrativas de dor. Para tanto, estudos como
os de Benjamin (1987), Bosi (1996), Halbwachs (2003), Candido (2011), Foucault (1985), Bourdieu
(1989) nos servem de referência.
A literatura, mais especificamente a literatura escrita por mulheres negras, nas últimas décadas tem
se apresentado como lugar de subversão e alcançado visibilidade dentro do mercado editorial, e no
ambiente acadêmico. Esses escritos normalmente corporificados através de memórias das
violências físicas e simbólicas perpetradas e naturalizadas por parte da sociedade brasileira. Gizêlda
Melo Nascimento em seu texto “grandes mães, reais senhoras” nos alerta que o que não se discute
não se constitui um problema. Nesse sentido, como parte da discussão da mesa redonda
pretendemos historiar e problematizar a composição dos corpos femininos e negros dentro da
produção literária brasileira a partir do século XX e como esses corpos silenciados, por vezes
anônimos, em intermináveis transformações foram, em muitos romances, enunciados de maneira
pejorativa como corpos indesejáveis, porém utilizáveis. O início do século XXI tem nos revelado
uma seara de autoras negras comprometidas em produzir uma escrita escrevivente construída a
partir de uma contra-história, ou do que podemos chamar de história dos desvios. Para tanto
estudos como o de Lélia Gonzalez (2008); Conceição Evaristo (2013); Patricia Hill Collins (2019);
Bell Hooks (2017) e Carla Akotirene (2019) nortearão nossa argumentação.
MESA REDONDA
A narrativa fantástica tem lugar cativo em diferentes dimensões da sociedade. Do ponto de vista
histórico, personifica, por meio dos mitos, ações simbólicas de diferentes culturas através das quais
a literatura particulariza o mundo imaginado. Os processos midiáticos amplificam sobremaneira
tais disposições histórico-culturais, disseminando múltiplos modos de representação e
identificação. Das narrativas ficcionais que extrapolam o cerco fabular, valendo-se assim de
estratégias de empatia, ao cenário das notícias que, se por um lado, clama por mais veracidade aos
fatos, por outro, segue dando visibilidade às narrativas pessoais descontextualizadas, carregadas de
emoção, sobretudo firmando a desinformação como regra, e não trágica exceção. O conceito de
pós-verdade coloca em xeque a noção de verdade, as instituições, e especula sobre esse mundo
aparentemente sem saída, visto que tudo parece fake e imutável? Ou seria o contrário? Propõe
discussões sobre possibilidades para entendermos a natureza complexa desses múltiplos caminhos
possíveis?
A confiança é um elemento essencial para a integração da sociedade. Precisamos dela para que
possamos construir relações com os outros e com as instituições. Dependendo das dinâmicas de
construção da confiança que experimentamos teremos diferentes experiências de constituição dos
sujeitos uma vez que a confiança funciona como uma espécie de reguladora das relações sociais.
Nessa perspectiva, entende-se a confiança como um compromisso firmado entre diferentes partes
conscientes dos riscos envolvidos visando sair do estado de incerteza e instabilidade. A mídia de
massa, que tradicionalmente reivindicou para si o lugar de mediadora da realidade e de instância
legítima para a produção de sentido no ambiente social, parece perder sua centralidade diante da
multiplicação dos focos de produção de sentido impulsionados pelas tecnologias digitais de
comunicação. Cada pessoa tornou-se uma potencial fonte de produção e distribuição de sentidos.
Diante da confiança nas instituições tradicionais abalada (dentre elas a mídia) e da necessidade da
construção e da legitimação de outros centros produtores de sentido, dirigimos nossa atenção às
fontes de informação cuja origem, talvez, “reconhecemos”, não mais tão abstratas, distantes ou
profissionais, mas especialmente vinculadas a crenças similares às nossas e que encontramos nas
chamadas redes sociais da Internet. Isso cria um ambiente propício para a circulação de narrativas
especulativas sobre si, os outros e os fatos, sem a preocupação com uma ancoragem no real. Esse
contexto contribui para a organização do cenário no qual surgem dois dos fenômenos mais
preocupantes da atualidade no que tange a produção de sentidos na sociedade: a proliferação das
informações faltas (também chamadas de fake news) e a emergência da chamada pós-verdade, eleita
a palavra do ano pelo Dicionário Oxford em 2016 e que pode ser entendida como uma
compreensão na qual fatos concretos têm menos influência na opinião do que a emoção e as
crenças pessoais. A proposta é refletir sobre essas questões.
Curioso constatar na dramaturgia da televisão brasileira uma certa construção de empatia com a
maldade. A vilania na teledramaturgia é bonita, poderosa e livre. A conquista e manutenção tanto
de um modelo de aparência a ser invejado, quanto da riqueza costumam ser o objetivo de muitas
das vilãs. Ver novelas possibilitou-nos perceber que há uma sofisticação, uma complexificação das
vilãs. Inicialmente era mais simples identificar a “bruxa má”, mas a subjetivação da narrativa, o
“abrandamento” do valor melodramático e folhetinesco das narrativas naquilo que intensifica o
maniqueísmo e relaciona os comportamentos morais aos modos como se apresentam visualmente
os personagens, permitiu que as vilãs não carregassem naquilo que é posto sob à nossa vista os
sintomas do mal. O que responderia a isso? Será que apenas mudanças nas narrativas? Mas o que
se operou socialmente que permitiu ou legitimou que a maldade pudesse nos aparecer, cada vez
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mais, tanto na figura de uma mulher, quando associada à beleza, elegância, sofisticação e poder?
Este trabalho procura identificar tais transformações da figura da vilã, assim como os contextos
histórico e cultural - e por vezes econômico e político - que explicam e legitimam essas
transformações. Os primórdios de uma cultura visual das massas tinham na apresentação dos
monstros seu prato principal, havia uma força atrativa considerável na teatralização dos monstros
nas feiras populares. Hoje nos aproximamos da ideia de um vilão que resguarda sua vilania àquilo
que já não nos desmorona a experiência perceptiva, não um vilão feio onde repousa sua maldade,
mas um vilão belo, porém monstruoso. É esse monstruoso que é a substituição de monstros reais
pelos virtuais, criado em um universo de sinais. O que dá combustível à nossa hipótese de que
sendo associadas ao estabelecimento de uma nova lógica de funcionamento das individualidades,
de um novo modo de organização social no qual a ética puritana religiosa cede espaço ao senso
comum pós-freudiano, as vilãs tecem maiores laços de identidade com o telespectador de hoje.
Promovendo a distribuição polarizada do bem versus mal - ainda que considerando toda a
possibilidade de abrandamentos dos valores melodramáticos e folhetinescos nas telenovelas
contemporâneas.
MESA REDONDA
Esta mesa redonda visa inicialmente apresentar os pontos de convergência e de divergência entre
os teóricos da enunciação - Benveniste e Culioli - sobre o que esses autores pensam sobre os
mecanismos linguísticos que sustentam os textos. Como nos filiamos à Teoria dos Observáveis de
Antoine Culioli, apresentamos duas análises, uma centrada na observação da concorrência dos
sintagmas chegar em e chegar a e outra centrada em pretensos “deslocamentos” de marcadores de
categorias de pessoa-tempo- modo encontrados nos gêneros biografia e autobiografia. Nossas
reflexões têm como objetivo demonstrar a importância de se lançar um olhar operacional sobre a
produção de textos/enunciados a fim de que o sujeito-enunciador perceba a atividade epilinguística
que sustenta suas representações levando-o assim a refletir sobre sua atividade de linguagem.
“errado”, deve ceder espaço à concepção da linguagem como atividade, cujo objetivo é o
ajustamento intersubjetivo e transindividual. Assim considerada a linguagem, no ensino do
português faz-se mister integrar a bagagem linguística do aluno. A necessidade dessa mudança é
ilustrada aqui pela análise da concorrência entre os sintagmas chegar em e chegar a, a qual é
exemplar na medida em que opõe norma gramatical e uso comum da língua. A partir dessa
problematização propomos um ensino de base reflexiva em que as atividades propostas pelo
professor realizadas em sala de aula propiciem o aluno a pensar sobre o seu próprio pensar uma
vez que nossas práticas linguageiras não estão subordinadas exclusivamente às regras que a
gramática normativa preconiza e/ou descreve. Sabemos que o ensino de regras é ineficaz na medida
em que não há reflexão, apenas memorização dessas regras para finalidades específicas como a
avaliação. O ensino de base reflexiva, acreditamos, colabora para que o sujeito se perceba como
origem do seu dizer. Um dos grandes paradoxos do ensino da língua é que, nas aulas de português,
o aluno emudece ao perceber que existe entre a sua forma de se expressar – tão natural e tão fácil
– um distanciamento relativamente ao que o professor expõe sobre a língua – tão artificial e tão
difícil –, com suas regras e nomenclaturas.
A temática que apresentamos nesta mesa redonda é parte do nosso Projeto de doutorado,
desenvolvido, junto ao PPGL – UFSCar, e está filiado ao grupo de pesquisa, Tópicos de Gramática
Enunciativa. O objetivo aqui visa a explorar, os pontos convergentes e divergentes entre os teóricos
da enunciação Benveniste e Culioli. Os contos fantásticos, é o gênero que faz parte do nosso corpus
para um olhar dos dados linguísticos com sua riqueza da linguagem, temos que observar os
mecanismos enunciativos empregados e analisar os valores enunciativos nos parâmetros
constitutivos da situação enunciativa em operações predicativas das noções de determinação e
indeterminação, de modo pelos quais, a noção de sujeito, no tocante às concepções da Teoria das
Operações Predicativas e Enunciativas - TOPE, se define em noções de ‘co-enunciação’ e de ‘co-
enunciadores’, seguindo os pressupostos teóricos das questões, a partir da reflexão de Fuchs (1984),
Culioli (1990), (1999a), (1999b), De Vogüé (2011) Franckel e Paillard (2011), Onofre (2011),
Onofre & Romero (2013), dentre outros. Na perspectiva deste estudo, por fim, entende-se que a
o sujeito encontra-se introduzido na TOPE, entender-se-á que é na prática de reflexão sobre a
linguagem e a língua, que podemos se dar a construção de caminhos que permitirão ao sujeito o
desenvolvimento da competência discursiva para falar, escutar, ler e escrever nas diversas situações
de interação de linguagem.
O problema no fato de se priorizarem os modelos idealizados no ensino, diz respeito ao papel que
se atribui ao aluno de mero espectador, cujas ações caracterizam-se por ser reprodutivas. Ainda
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que o ensino não mais se limite à normatividade linguística, reconhecendo as várias formas de uso
gramatical e/ou textual, que são abordadas como variações, o que podemos observar é que houve
ampliação dos contextos considerados, sem que se alterasse o papel destinado ao aluno. Tal crítica
aos modelos reprodutivos, já presentes nos documentos oficiais de ensino, que reforçam a
relevância de se formar um aluno criativo nos moldes do que propõe o Construtivismo, não teve
força para alterar a metodologia de ensino que se manteve presa à tradição de paradigma certo e
errado. Nós queremos negar as formas discursivas estabilizadas, validadas socialmente. A nossa
questão se volta para a relevância de se adotar uma metodologia que permita que o aluno
realize/reconheça operações linguísticas responsáveis pelos processos de estabilidade e plasticidade
linguísticos, característicos da atividade de linguagem. Pensamos que o ensino de língua tem como
tarefa responder às produções dos alunos, seja nos exercícios de escrita ou de interpretação textual,
que devem ser referenciais para o trabalho a ser aplicado com vistas ao desenvolvimento
linguístico-cognitivo dos aprendizes. Assim, assumimos a perspectiva da Teoria das Operações
Predicativas e Enunciativas (TOPE) de Antoine Culioli (1990) que define como tarefa do linguista o
estudo do funcionamento da linguagem enquanto atividade significante de representação,
referenciação e regulação, ou seja, enquanto atividade de produção e reconhecimento de formas
linguísticas e que uma das propriedades essenciais da linguagem é comportar o traço das operações
que a constitui. Pautamo-nos em produções textuais dos alunos realizadas na produção-
interpretação dos gêneros Biografia e Autobiografia buscando explorar o processo gerador de tais
modelos, de modo que o aluno perceba as possíveis modulações entre as marcas enunciativas
responsáveis por estabilizar – desestabilizar os gêneros em causa.
MESA REDONDA
Esta mesa reúne dois trabalhos que, embora realizados com fundamentação em subáreas diferentes
da Linguística: a Linguística Cognitiva e a Análise do Discurso, ambos enfocam as manifestações
linguísticas como forma de expressão de sentimentos e ideias sobre as experiências vivenciadas,
sejam elas durante treinamento de orientação de trabalhadores com vistas ao seu aprimoramento
profissional, sejam elas aquelas de apoio na verbalização das manifestações de mulheres surdas
acerca das violências que lhes foram infligidas em seus lares. Enquanto uma pesquisa se
fundamenta na Teoria da Metáfora Conceptual, de Lakoff e Johnson (1980,1999), ao analisar as
metáforas que subjazem as expressões linguísticas metafóricas presentes numa cartilha de
orientação, a outra investigação ancora-se, em termos teóricos, nos estudos de (PÊCHEUX, 2012),
(FERNANDES, 2008). BAKHTIN (2003), AUTHIER-REVUZ (2003), no exame do discurso da
mulher surda vítima de violência doméstica que é representado por outro. Os resultados obtidos,
sugerem, em ambos os casos, que o entendimento inicial se confirma e os objetivos propostos
foram atingidos.
Na plenitude dos anos, o tema violência doméstica contra a mulher vem ganhando espaço nas
discussões sobre direitos humanos, igualdade de gênero, proteção à mulher. Não obstante, no
grupo de mulheres vítimas de violência doméstica familiar, está inserida uma minoria, que até
pouco tempo não lhe era dada tanta atenção; mas com o advento da lei de acessibilidade e a
oficialização da língua brasileira de sinais (LIBRAS), essa minoria vem ganhando espaço e força de
expressão. Objetivamos pontuar sobre a mulher surda vítima de violência doméstica e a dificuldade
de comunicação que tem quando busca junto ao Poder Público o direito à proteção e punição do
agressor. Com o advento da Lei Maria da Penha que faz uma correspondência ao § 8º do art. 226
da Constituição Federal, à recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA) e aos tratados e convenções internacionais sobre os
Direitos Humanos ratificados pelo Brasil, os mecanismos legais de enfrentamento à violência
doméstica e a proteção à mulher vítima dessa violência têm demonstrado certas eficácias; a exemplo
destaca-se a criação das Delegacias Especiais da Mulher. Contudo, a mulher surda, quando sofre
violência ainda encontra dificuldades para encontrar amparo por parte do poder público. Isto se
deve a fatores de diversas ordens. Neste trabalho, daremos destaque à ação inicial por parte da
mulher surda, ou seja, quando ela é socorrida ou mesmo quando vai fazer o boletim de ocorrência
que precisa expor o que aconteceu. Usamos a metodologia indutiva, tendo como corpus um
boletim de ocorrência, registrado na Delegacia da Mulher de São Luís (MA), de um caso escolhido
aleatoriamente, sem identificação, para ser feita análise discursiva com base, dentre outros. Nossas
análises evidenciam que os agentes públicos são os responsáveis por descreverem os fatos, ou seja,
o discurso da mulher surda vítima de violência doméstica é representado por outro. O verdadeiro
sofrimento dessa vítima não é expressado por ela mesma; há uma interferência do outro. Isto nos
leva à conclusão que nem sempre o que fica registrado no boletim de ocorrência é o fato real vivido
por essa mulher.
A vertente da linguística cognitiva evidencia que a linguagem metafórica está na base da linguagem
humana e vincula a construção do significado às estruturas mentais e à experiência corporal do ser
humano no mundo. Dessa forma, à luz da metáfora conceptual, definimos como objetivo neste
trabalho analisar uma metáfora conceptual construída a partir expressões linguísticas presente na
cartilha O trabalhador do chumbo não é de ferro, usada para orientação dos trabalhadores que
manipulam o chumbo, demonstrando que, ainda que se trate de linguagem objetiva e técnica, é
possível verificarmos a presença da metáfora conceptual como mecanismo cognitivo na construção
das significações construídas por meio de nossa interação com o mundo e de nossas experiências
biológicas e corporais com a realidade objetiva em que estamos inseridos. Como categorias teóricas,
detivemo-nos na linguística cognitiva e na metáfora conceptual, fundamentados nos trabalhos de
Lakoff e Johnson (1980; 1999), Ferrari (2001), Cameron (2003), assim como nos de Carneiro
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(2009, 2014), dentre outros. Investigação qualitativa de natureza exploratória cujo procedimento
metodológico foi baseado em aporte bibliográfico. Para alcance do objetivo postulado, fizemos
recapitulação dos conceitos da linguística cognitiva e da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), a
fim de estabelecer relação com a linguagem técnica usada para instrução de trabalhadores da
indústria. Como resultado, identificamos, dentre as metáforas conceptuais, a metáfora ontológica
TRABALHO É ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA QUALIDADE DE VIDA DO
TRABALHADOR, em nossa análise das expressões linguísticas metafóricas presentes na cartilha.
Com tais dados, acreditamos ratificar o postulado da TMC de que nosso sistema ordinário do
pensamento é essencialmente metafórico, resultado de nossas experiências com o mundo à nossa
volta, principalmente aquelas de natureza sensório-motora, social e cultural.
GRUPOS DE
TRABALHO
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GRUPO DE TRABALHO
a personificação do mal, camuflada por uma áurea de beleza e sedução, sendo vista como a inimiga
do homem, responsável por persuadi-lo e desvirtuá-lo. A intrusão feminina na escrita fantástica
ocorre a partir do século XIX, por meio de figuras como Mary Shelley, Isabel Allende, Lygia
Fagundes Telles e Augusta Faro, que fazem história ao trazer uma nova perspectiva para o gênero
em questão. Verificou- se que, na literatura fantástica escrita por mulheres, predominava o princípio
de alteridade, ou seja, a expressão, nos textos, dos enfrentamentos da mulher – com o Outro e
consigo mesma. Esses enfrentamentos eram representados por temas como as metamorfoses, a
busca por identidade e o desejo sexual e suas variantes. O gênero fantástico, portanto, configurou-
se como um importante instrumento de transgressão e violação do discurso androcêntrico.
Palavras-chave: Literatura Fantástica; Protagonismo; Emancipação Feminina.
GRUPO DE TRABALHO
com sua máscara que mostra e esconde, aproxima-se daquilo que é próprio da linguagem poética,
e especialmente com sua embriaguez que transtorna a ordem das coisas, fascina poetas e amantes
da poesia de todos os cantos, em todos os tempos. Procurando estabelecer conexões entre a
divindade olímpica, o vinho e a lírica, discute-se o arcabouço simbólico do tema do vinho e do
mito heleno de Dioniso. Para tanto, serão rastreados exemplos de suas variações e representações
colhidos das produções dos mais distintos poetas, advindos de sociedades, culturas, períodos,
línguas e lugares diversos, tais como; Antonio de Navarro (1961), Hilda Hilst (2017), Charles
Baudelaire (2011), Orides Fontela (1988), Omar Khayyán (2005), Sophia de Mello Andresen (2018),
Manuel Bandeira (2013), Wang Wei (2013), Fernando Pessoa (2014), além de outros, a fim de
montar um quadro representativo, ainda que sumário, dos significados do vinho em tradições
diversas.
Palavras-chave: Êxtase Poético; Mitologia Grega (Dioniso); Poesia.
GRUPO DE TRABALHO
O presente trabalho tem como principal intuito analisar a relação entre a psiquiatria e o controle
social feminino no Brasil Colonial na obra Uma carta à rainha louca, de Maria Valéria de Rezende
(1942-idade 76 anos). Durante muito tempo a psiquiatria foi utilizada como um forte artifício de
exclusão e controle social daqueles que não correspondiam, por algum motivo, as normas de seu
período. O destino dos desobedientes eram quase sempre o mesmo: eram perseguidos e encerradas
em conventos ou casas de apoio insalubres. Este panorama é bem ilustrado na obra posta em
análise, Uma carta a rainha louca, em que a autora nos leva a conhecer a história de Isabel das Santas
Virgens, taxada de alienada e presa no convento do Recolhimento da Conceição. Apesar do rótulo
de louca, a personagem se demonstra consciente da realidade que lhe foi imposta, visto que põe-se
a escrever cartas a rainha Maria I conhecida por todos como “A rainha louca” relatando os abusos
cometidos por homens da coroa contra aqueles que, assim como ela, estavam à margem da
sociedade brasileira, dado ênfase nas mulheres fossem elas negras ou brancas. Isto posto, para
chegarmos ao nosso objetivo geral nos cabe a, priori, um breve olhar sobre a psiquiatria como
elemento de repressão e exclusão social. Em conseguinte, nos cabe relacionar essas visões de
loucura ao controle sobre a mulher no período colonial brasileiro. E por fim, pretende-se delinear
como é apresentada na obra a imagem da mulher louca além das estratégias utilizadas pela autora
para demonstrar a condição feminina em tal período. A presente pesquisa terá como alicerce
33
teórico os trabalhos de Foucault (1975, 2000), haja vista a sua grande leva de estudos referente a
história da loucura e da psiquiatria na sociedade ocidental. Por fim, através da análise e reflexão dos
elementos que Maria Valéria de Rezende utiliza para retratar a imagem feminina dentro da obra
podemos perceber que através da personagem posta em questão, considera-se que Uma carta à
rainha louca traz elementos históricos referentes a dominação masculina, a corrupção da igreja e de
seus costumes, a submissão feminina.
Palavras-chave: Loucura; Transgressão; Mulher; Psiquiatria.
GRUPO DE TRABALHO
produtiva. Nesse contexto, inúmeros estudos têm sido realizados acerca dos estudos de gênero
buscando conhecer questões referentes à identidade de gênero, sendo sua valorização tributária em
um trabalho empírico que manifesta as diferenças apreciativas entre homens e mulheres, entre o
masculino e o feminino, surgido no contexto cultural de ambos. Os Estudos Culturais, sobretudo,
fundamentam-se na teoria marxista, haja vista que no atual cenário configuram-se ideias acerca dos
referidos estudos. Salienta-se então, que a relação estabelecida entre gênero, estudos culturais e
crítica literária tornou-se desveladora, onde a última surge para redefinir o seu espaço, sendo
primordial no que diz respeito a sua memória condizente a escrita estabelecida em sua cultura. A
partir desse intento mais geral, propõe-se alargar tais laços, investigando como o estudo dos
gêneros é visto sob as lentes dos estudos culturais. Além desse viés, destacou-se a concepção da
crítica literária enquanto descrição e recepção dessas proposições. Para tanto, os aportes teóricos
que embasaram este artigo contou com o apoio de: Tamanini (2017), Butler (2017), Stearns (2015),
Bhabha (2013), Sanches (2011), (Hall (2006), Mattelart e Neveu (2004), Cevasco (2003), Williams
(2000), Coutinho (1994), Freitag (1994), dentre outros. Com esse estudo, observou-se a sua
relevância por identificar em sua análise aspectos importantes acerca do gênero e estudos culturais,
voltando-se aos diversos pontos abordados na temática.
Palavras-chave: Gênero; Estudos Culturais; Crítica Literária; Literatura Comparada.
um sujeito feminino que busca de uma maneira equilibrada reverter o quadro situacional que a
mulher assumiu ou que porventura venha a assumir em uma sociedade modernizada. A autora
insere em seu romance reflexões acerca dos inúmeros dilemas sofridos pela mulher em um país
que tenta reconstruir sua identidade com o que lhes sobrou de ancestralidade. Embora os
personagens femininos não rompam com a tradição, no entanto demonstram a necessidade de se
repensar conceitos referentes a cultura moçambicana. Essa afirmativa evidencia o caso da poligamia
e do ritual sexual. Paulina reconhece que tanto a poligamia quanto o ritual sexual fazem parte do
conjunto de heranças culturais moçambicanas. No entanto, durante toda a obra ela busca ressaltar
que na tentativa de resgatar sua cultura o moçambicano tenta invocar o passado a sua maneira
particular. O perigo disso, explica Chiziane, é que a sociedade acaba empregando outros sentidos
aos costumes. Incorporando atitudes que privilegiam e beneficiam o homem em vários aspectos e
prejudicam ainda mais a situação da mulher moçambicana. Assim sendo, o referencial teórico-
metodológico desta pesquisa está embasado nos conceitos de gênero fundamentado pela autora
Joan Scott (1989); as considerações sobre estudos pós-coloniais estão ancoradas nas perspectivas
de Homi Bhabha (1998); Stuart Hall (2006); Bill Ashcroft, Gareth Griffiths, Helen Tiffin (2002).
O eixo investigativo que compõe esta pesquisa pressupõe a utilização do levantamento
bibliográfico de fontes. A bibliografia que compõe essa investigação será extraída de estudos sobre
Relações de Gênero e Literatura. Para tomar conhecimento do percurso realizado pelas mulheres
moçambicanas, foi necessário ampliar essa abordagem e compreender que a reflexão sobre seus
papéis tem sido feita não apenas no campo da literatura, mas também em ensaios, artigos e textos
de várias áreas das ciências humanas.
Palavras-chave: Gênero; Literatura Moçambicana; Paulina Chiziane; Estudos Pós-Coloniais.
37
COMUNICAÇÕES
ORAIS
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Discussões têm sido travadas em torno do déficit na qualidade da leitura e escrita críticas,
principalmente, em épocas de fake news, tendo em vista que as práticas sociais letradas são cada
vez mais influenciadas pelos artefatos digitais na contemporaneidade. Nesse sentido, tornam-se
ainda mais relevantes investigações linguísticas que problematizem a postura responsiva e
responsável daqueles socialmente legitimados (e cobrados!) por um ensino aprendizagem que
tornem a leitura e a produção escrita como instrumentos de cidadania. Partindo dessa inquietação
que o presente trabalho, no escopo da Linguística Aplicada transdisciplinar (SIGNORINI &
CAVALCANTI, 2004), objetiva desenvolver uma análise linguística do gênero notícia online, a
partir de uma notícia publicada no site do jornal Imirante, da cidade de Imperatriz- MA. Tendo
por base procedimentos metodológicos de cunho qualitativo e bibliográfico, o estudo em questão
sustentou-se ainda nos referenciais teóricos da Análise Dialógicaostei do Discurso, sobretudo, em
Brait (2006, 2012), Araújo (2013), Ribeiro (2013) e Fiorin (2000). Considerando os elementos
linguístico-discursivos presentes na notícia, os componentes verbais e não-verbais, bem como as
vozes presentes no gênero discursivo analisado, as análises demonstraram que a intencionalidade
discursiva percebida na notícia corroborou para o enaltecimento do estado do Maranhão na esfera
midiática, legitimado pelo desempenho dos estudantes no evento científico.
Nesta obra, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido mundialmente pelo pseudônimo
Pepetela, retrata o cotidiano da guerra civil angolana a partir das vivências de Ulume e seus
familiares, mostrando-nos sua peregrinação ao longo dos anos. Na tentativa de fugir da atmosfera
caótica resultante da guerra, dois lugares ganham destaque no livro em tela: os kimbos e as mundas.
Nestes dois locais, por meio das experiências dos personagens, cada um recebe uma diferente
significação, ora de afago e segurança, ora de instabilidade e ameaça. Logo, vemos que o espaço
tem um papel vital na história escrita pelo autor angolano, pois, dependendo dos sentimentos e
significados atribuídos ao ambiente, os personagens dão um novo contorno à história apresentada,
modificando o desfecho da vida de cada um deles. Devido a este papel de grande importância que
somam à narrativa, nos propomos a analisar esses ambientes sob o prisma da Geografia Humanista
Cultural (doravante GHC), para que assim possamos compreender como é dada a representação
desses espaços ao longo do romance. Sob o viés da GHC, uma ciência que visa compreender a
ligação intrínseca do homem com a terra, nos atemos a uma perspectiva fenomenológica,
priorizando a experiência vivida por Ulume e seus entes queridos. Com essa finalidade, é
interessante trazer à baila autores que enviesam por esta linha de raciocínio, como Eric Dardel
(2015), Yi-Fu Tuan (2005; 2012; 2013), Edward Relph (2014), entre outros.
O presente artigo se baseia em parte da pesquisa que realizei para a escrita da minha dissertação
de mestrado em Ciências Sociais na UFCG, quando me dediquei ao chamado universo do Heavy
Metal. Esse estilo musical, quando emergiu na década de 1980, tanto na Inglaterra quanto nos
Estados Unidos da América, apresentou-se como um movimento contestador do status
quo(político/religioso) e enunciador de uma (nova) comunidade, no interior da qual todos seriam
marcados por uma suposta irmandade. Desde então, os que reivindicavam a identidade chamada
por eles de headbangers enunciavam-se como iguais e, ao mesmo tempo, mostravam-se tomados
pelas disputas em torno das variantes do Metal, quando discutiam e agiam asperamente sobre o
que é ser um verdadeiro seguidor dessa comunidade. Ao transitar da condição de um simpatizante
desse universo para estudante de Ciências Sociais, a partir de 2015, coloquei-me na posição de um
pesquisador, tendo como recorte de pesquisa a cidade de Campina Grande (PB). No decorrer do
curso de mestrado, fazendo uso do recurso etnográfico, tanto da teoria da prática (BOURDIEU,
1987), quanto do interacionismo simbólico (GOFFMAN, 1956), percebi que o discurso era
alicerçado na crença da ‘broderagem’ (aportuguesando o termo inglês brother) se confrontando
com a prática de tensões e diferenciações internas, o que me permitiu discutir qual é capacidade de
tornar operativa a identidade, quando a socialização implica em constantes buscas por autenticidade
e uso dos recursos de exclusão no interior da comunidade.
O presente trabalho visa analisar o processo de criação das figurações literária na época do pós-
modernismo presentes na obra Invenção do mar (1997) do autor cearense Gerardo Mello Mourão.
A ideia gira em torno da análise bibliográfica como forma de evidenciar a construção identitária
nacional na obra do autor mediante o pressuposto épico no qual se insere estruturalmente a obra.
Alinhado a isso, é flagrante que Mourão evidencia um processo de retrato social e multicultural do
Brasil dos primeiros anos de colonização, enfatizando a relevância na construção da “raça
brasileira” como uma grande matização cultural vinda de portugueses, africanos e nativos.
Objetiva-se, então, com esta análise observar dois pontos em torno da obra de Mourão que são: a
evidência de uma premissa épica com influência clássica para a construção de sua narrativa e a
verdadeira substância épica ao presumir a construção identitária do sujeito na produção literária.
Para a nossa análise, estaremos utilizando como base Bhabha (1998), Hall (2003, 2014), Anderson
(2008), Neiva (2009) e Aristóteles (2014). Espera-se com esta análise construir um conhecimento
maior em torno da questão identitária nacional e auxiliar no entendimento acerca da persistência
da epopeia na pós-modernidade como forma narrativa aglutinadora e figurativa da coletividade.
Neste trabalho buscamos uma interpretação do romance A nova ordem, de Bernardo Kucinski
(2019) que aponte para o entrelace entre os aspectos distópicos de sua narrativa e o momento
político atual-contemporâneo atravessado pelo Brasil. Kucinski, fazendo uso de fatos políticos
recentes, de 2016 a 2019, mostra como a realidade social brasileira, vem sendo paulatinamente
solapada no que se refere à garantia de direitos e liberdades sociais, bem como no que se refere à
estrutura geral de bem-estar social enquanto meta do Estado. Nosso objetivo gira em torno de
identificar elementos que proporcionem o vislumbre de dois movimentos macro-políticos maiores
que se constituem como cerne dessa descaracterização distópica das instituições sociais: a
necropolítica, ou seja, o poder de decidir quem vive e quem morre, ou de gerir a própria morte, e
o biocapitalismo, ou seja, a expansão e consequência do modus operandi desse modelo econômico
no interior das vidas. O referencial teórico parte de Clayes (2017) e sua caracterização geral da
estrutura narrativa distópica para procedermos à uma discussão sobre o momento atual do
capitalismo e sua face neoliberal e as implicações da configuração social que daí advém; dessarte,
lançamos mão de um diálogo que se baseia nas formulações de Laval e Dardot (2016), e Negri
(2015) e Hardt (2015) para circunscrevemos o tempo presente e suas características distópicas
baseadas na maximização do processo de circulação capitalista. Nos referimos ainda a Foucault
(2008) e Mbembe (2016) na tentativa de elucidar a natureza necropolítica constitutiva desse
momento e suas relações com o ethos distópico. Como conclusão foi possível reconhecer a
narrativa de Bernardo Kucinski enquanto exercício criativo que marca uma identidade brasileira
atinente ao gênero distopia à medida em que conjuga e reimagina elementos constitutivos do
presente político da sociedade brasileira, marcado pela exclusão e extermínio dos “indesejados” e
por práticas neoliberais de controle social. O autor logra êxito ao imaginar os desdobramentos
sociais iminentes, e assim, cria uma obra de alerta e urgência.
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Os jogos educacionais têm sido pesquisados por vários especialistas como, por exemplo, Fernando
Silva (2012) e Vilson José Leffa (2006). Este último é uma das referências nas pesquisas de Objetos
de Ensino Digitais na aprendizagem de línguas (L1 e L2). Este pesquisador propõe como
fundamentais para os objetos de ensino os conceitos de granularidade, reusabilidade,
interoperabilidade e recuperabilidade. Apesar de concordamos com essa caracterização,
acreditamos que há objetos de ensino que necessitam serem analisados por outros detalhamentos
mais específicos, razão pela qual temos como objetivo testar dois conceitos propostos pelo
professor Tiago Monteiro: o educanímico e o educatípico. O educatípico refere-se aos atos que são
entendidos claramente como educacionais, por exemplo, no contexto da sala de aula, isto seria a
repetição de frases ou a leitura do livro didático. Ao contrário, o educanímico não teria o formato
educacional explícito por não ser claramente visto como formalmente educativo, mas teria um
papel preponderante na formação intelectual do aluno. Isto é o que argumentamos que acontece
em alguns jogos. Propomos utilizar essa distinção para analisar três plataformas/jogos: 1)
Duolingo; 2) InFluent; 3) Slime Forest Adventure, comparando alguns jogos que claramente se
vendem como educativos e outros que apesar de não acentuarem esse ponto, possuem um aspecto
educativo forte. Concluímos que a partir do uso de jogos, discentes poderiam desenvolver
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habilidades formais e, além dessas, outras essenciais à formação do aluno como pessoa e interagente
com o mundo.
O século XX trouxe consigo uma drástica e absoluta renovação nas ciências, sendo, em grande
parte, responsável por reavivar o entusiasmo pelas ciências humanas e sociais, lançando os
holofotes sobre o homem e sua nuance psicológica e social. Neste cenário, a Geografia também
está sujeita a mudanças radicais em suas bases epistemológicas, transformações essas que tornam
o terreno fértil para que seja viabilizado o diálogo entre áreas do saber antes consideradas
demasiado apartadas. É o caso do entrelaçamento entre a Geografia e a Literatura. Neste trabalho,
propõe-se como objetivo a análise e compreensão acerca de como se dá, a partir da vivência dos
personagens, a representação dos espaços que permeiam o conto “O Largo”, de autoria de um dos
grandes expoentes do neorrealismo português, Manuel da Fonseca. Nesta breve e profunda
narrativa, a chegada de um grande comboio à Vila anuncia uma grande ruptura: para uns, os tempos
modernos oferecem a possibilidade de ressignificação da vida do grupo que ali habita, trazendo
inovações marcantes para a rotina da comunidade; para outros, os novos tempos profetizam o fim
de tradições, causando infelicidade aos que atribuem grande valia aos modos de existência até então
vigentes. É a partir da análise da relação entre o homem e a terra que poderemos lançar luz sobre
os conflitos vivenciados pelos indivíduos afetados pela chegada da modernidade. Para que se
conduza um estudo sistemático de caráter interdisciplinar, selecionamos como aporte teórico-
metodológico estudos de autores como Dardel (2015), Holzer (2014), Relph (2014) e Tuan (2012;
2013) para aclarar as concepções de espaço apregoadas pela Geografia Humanista Cultural.
Perpassamos conceitos como os de espaço, lugar, mundo, topofilia, experiência, geograficidade e
paisagem, assim como trazemos à baila estudiosos da Sociologia e da Filosofia como Pollak (1992)
e Ricoeur (2007) para que pudéssemos melhor compreender como se relacionam noções
locacionais às noções de identidade, memória e esquecimento, tal como a maneira como todos
esses elementos se concatenam na prosa rica em minúcias de Manuel da Fonseca.
Em O verão antes da queda (1973) merece atenção a forma como se dão as relações de gênero
entre as personagens no decorrer da narrativa, lembrando que gênero tem sido, desde a década de
1970, o termo usado para analisar socialmente a questão da diferença sexual, das relações sociais
desiguais, entre homens e mulheres (FLAX, 1992). Apesar de este termo ter sido trazido à tona
pelas feministas preocupadas com a condição da mulher na sociedade, recentemente desenvolveu-
se o conceito hermenêutico de gênero, segundo o qual é indispensável a compreensão das
condições do homem para tratar da mulher, e vice-versa (AZEVEDO, 2008).O artigo investiga
43
como as relações de gênero são constituídas e experimentadas no romance O verão antes da queda
(1973). Parte-se, assim, das reflexões de Jane Flax (1992), segundo a qual “as relações de gênero
são processos complexos e instáveis constituídos por e através de partes inter-relacionadas. Estas
partes são interdependentes, ou seja, cada parte não tem significado ou existência sem as outras”
(1992, p. 228). O conceito de gênero implica, portanto, uma relação geralmente desigual entre
homens e mulheres, entre homens e homens e entre mulheres e mulheres.Partindo destes
pressupostos, o objetivo deste artigo é analisar as relações de gênero que estão presentes no
romance O verão antes da queda (1973). Como referencial, busca-se as reflexões Jane Flax (1992),
Louro (1997) e Butler (2003), para a discussão acerca das relações de gênero.
O título do livro Ainda: em viagem, de Age de Carvalho (2015), revela bastante do estilo existencial de
sua poesia: aquilo que permanece em constante movimento (ainda) é nutrido pelo
transcurso/caminho do eterno tornar a si (em viagem), isto é, travessia poética no bojo da
linguagem. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo interpretar o estilo existencial em
poemas de Ainda: em viagem, de Age de Carvalho (2015). Para tanto, amparar-nos-emos em Micheletti
(2014), no que tange aos estudos estilísticos do texto literário, como forma de alinhavar forma e
conteúdo, ambos erigidos e sugeridos nos aspectos intrínsecos do texto no seio do enunciado
44
literário; em Paz (1982), em seu estudo acerca da linguagem poética enquanto ponto fundamental
da constituição do poeta; em Sartre (2002), para bem entendermos os aspectos existenciais do ser
em movimento de ir a ser, imbuído da consciência de si, em que o me cogitare do homem abre
caminho para tal a partir da possibilidade mesma de vir a ser; e em Heidegger (2003, 2015) e
Benedito Nunes (2000, 1992), no que se refere à fala/linguagem como forma de manejar o
movimento da palavra às coisas e das coisas às palavras, gerando uma abertura na/da linguagem
para o conhecer e agir sob/sobre o poema e si. Para esta interpretação, escolheram-se quatro
poemas da primeira seção do livro, são eles: “E brilha”, “Andando pelo apartamento”, “O círculo
vermelho” e “Cidreira”, pois nestes ocorre a contenção de um momento do eterno devir da poesia
e do ser, uma vez que na linguagem poética verga-se de forma mais íntima a confluência entre ser
e poesia, além da suspensão das significações a partir da ambiguidade do estilo célere, contido e
entrecortado dos poemas, de modo que se rompe qualquer sentido corrente. Ademais, externamos
que a experiência (tornar a si para o poema por meio da perícia) da/na linguagem do poeta é um
momento de segurança que erige a harmonia e a sutileza ao manejar a linguagem como parte
fundamental de si, portanto, enquanto condução.
Palavras-chave: Age de Carvalho; Ainda: em viagem; Estilo existencial; Forma e conteúdo; Eterno
devir.
Sabe-se que a linguagem no/do poema é um dizer genuíno e, por isso mesmo, inaugural, buscar a
essência do já dito de maneira a movimentar (moção) os liames poéticos é que faz de Max Martins
poeta por excelência, indo em busca da cabana para morar. Neste sentido, o presente trabalho tem
por objetivo interpretar o habitar poético no livro Para ter onde ir, de Max Martins (2016). Para
tanto, fundamentar-nos-emos em Heidegger (2003, 2008) e Benedito Nunes (2011, 2000), para
compreendermos os aspectos da linguagem enquanto fundante da articulação entre a construção e
o pensamento que, de forma especial, erigem juntos o habitar, no caso em questão, o poema
enquanto suporte material da poesia, entendida esta, de acordo com Paes Loureiro (2000), como o
pleno devir categorial do “perpetuum mobile” do ser, desta maneira, o habitar vige-se na segurança
posta na matéria linguística expressa como o acontecer do momento da morada instalada no poema
enquanto lugar; em Paz (1982) encontramos suporte no que se refere à linguagem poética como a
busca originária pelo homem, de forma que a procura é evidenciada pela constituição da palavra.
Quanto aos poemas a serem interpretados, escolheram-se “Ir”, como demonstrativo do ponto de
partida do poeta, “To what it Works in” e “No lugar do medo”, em que o fazer poético é
conjecturado no seu processo de acontecer, ou seja, de pensar e construir a partir das vigas que se
tem, isto é, a palavra, e “A cabana”, para que se reflita acerca do lugar produzido para habitar,
gerando um ciclo de eterno movimento de partida e chegada evidenciado em “Revide”. Ademais,
externamos que em Para ter onde ir, Max Martins (2016) trabalha com o que é próprio de si
enquanto poeta, isto é, a palavra, a linguagem, como forma de construir, a partir da poesia em
transição no pensamento, o seu habitar poético justamente para se ter de onde se ir.
Palavras-chave: Max Martins; “Para ter onde ir”; Habitar poético; Poema; Poesia.
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A comunicação oral apresenta uma proposta e aplicação de uma metodologia de trabalho a partir
da perspectiva rizomática em que Silvio Gallo, em sua obra “Deleuze & a Educação”, desenvolve
um estudo pensando na educação o conceito de rizoma cunhado por Gilles Deleuze e Félix
Guattari (2017). Além disso, utiliza o facebook como ferramenta de interação entre alunos e
professor, a fim de criar debates e discussões a respeito do texto lido. As atividades partiram da
análise do poema “Com licença poética”, de Adélia Prado, realizada em uma turma do 9º ano, de
uma escola pública estadual do Paraná, e tem como objetivo contribuir para a formação do leitor.
Houve a aplicação de atividades que envolvem a interdisciplinaridade, além da comunicação com
diversas linguagens contidas no ambiente digital. O poema traz como tema o universo feminino.
Para dar início à abordagem do poema aos alunos, foi apresentada uma charge de Moisés Cartuns
em que há diversas adversidades impostas à mulher como dupla jornada, feminicídio, assédio
moral, assédio moral, assédio sexual, etc. A partir disso, o poema foi apresentado à turma, foram
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propostas reflexões a partir da estrutura e temática dos versos, fazendo uso das mídias digitais
como o link da música “Mulheres de Atenas”, de Chico Buarque, além do curta-metragem
brasileiro de animação Vida Maria (2007) e o link do vídeo “Malala – uma menina entre muitas”.
Os alunos também postaram links, teceram reflexões e comentários a respeito das vidas das
mulheres na Grécia Antiga, patriarcado, valorização da vida (nascimento), superação da mulher
frente às adversidades que lhes são impostas. Houve a reflexão sobre a intertextualidade com o
poema “A bela adormecida” (1987) de Adélia Prado e o “Poema de sete faces” (1930) de
Drummond. Por meio das atividades elencadas, percebeu-se que os alunos passaram a refletir sobre
um texto literário. Conheceram as características da obra de Adélia Prado. Houve a ampliação do
letramento digital, pois aprenderam a anexar arquivos em suas postagens, fizeram uso das redes
sociais de forma pedagógica e útil. Utilizaram-se das tecnologias digitais para produzir
conhecimentos, compartilhar informações e dessa forma, se tornaram leitores críticos.
O presente trabalho trata sobre os desafios do ensino da Língua Portuguesa na era dos nativos
digitais, além de apresentar algumas propostas e metodologias inovadoras que prometem engajar
o aluno na construção do conhecimento. O objetivo é apontar possibilidades de modernização e
adequação do ensino do léxico da língua portuguesa para os nativos digitais, público
majoritariamente presente nas salas de aulas da atualidade. Para isso, teceremos considerações sobre
o ensino de língua portuguesa, assim como apontaremos metodologias que podem contribuir para
aquisição da competência linguística necessária à ampliação da competência comunicativa. Os
principais autores que darão suporte teórico são: Oliveira (2012), Prensky (2001), Barton e Lee
(2015), Bacich, Tanzi e Trevisani (2015), Moita Lopes (2006), Silva (1996), Liska (2019) dentre
outros que discutem sobre linguística, linguística aplicada, língua portuguesa, ensino do léxico,
ensino híbrido, gamificação do ensino e nativos digitais, categorias de fundamental importância
para atual configuração do ensino de língua materna. A internet e as tecnologias existentes são
alternativas inovadoras que podem modernizar o ensino e proporcionar uma dinamicidade
motivacional para este novo conceito de aluno. Como procedimentos metodológicos, adotaremos
os seguintes: primeiramente, faremos uma breve contextualização do ensino de língua portuguesa
no Brasil, contrapondo o ensino atual, que ainda apresenta características do séc. passado ao aluno
de hoje, considerado um nativo digital. Posteriormente, discorremos sobre algumas metodologias
que, se bem aplicadas, podem contribuir para uma aprendizagem significativa e eficaz da língua
portuguesa. Os resultados nos possibilitarão sugerir o ensino híbrido e a gamificação do ensino
como metodologias inovadoras. O primeiro combina aprendizado on-line com off-line em
modelos que proporcionam momentos em que o aluno estuda sozinho, de maneira virtual, com
outros em que a aprendizagem ocorre de forma presencial, valorizando a troca de informações em
sala de aula, fazendo com que o aluno seja protagonista na construção do seu próprio
conhecimento. O segundo diz respeito jogos que possibilitam a aprendizagem do léxico de forma
divertida e engajadora.
Os contos de Mia Couto reúnem singularidades que os tornam veículos privilegiados de mensagens
fortes e consistentes, recorrendo a enredos simples, mas surpreendentes, com personagens
aparentemente pouco caracterizadas, contudo marcantes, em espaços essencialmente rurais, num
tempo que pode ser de guerra ou de paz, de alegria ou de sofrimento. Seguindo estas premissas,
pretende-se considerar os aspectos relacionados à memória e ao espaço no conto A viagem da
cozinheira lagrimosa, pertencente à obra Contos do nascer da Terra, publicado em 1998 pelo
escritor moçambicano Mia Couto. As memórias conflitantes do Sargento Correia e Correia e as
memórias saudosistas da cozinheira Felizminha, que permeiam e preenchem o espaço da cozinha,
se entrelaçam nesse conto. A cozinheira Felizminha cozinha chorando e, ao chorar, suas lágrimas
caem nas panelas, temperando com as suas lembranças a comida, regando-as com “delicados
sabores”. A cozinha simbolizaria o local das transmutações alquímicas, ou das transformações
psíquicas, isto é, um momento da evolução interior. O lugar onde Felizminha se recorda de sua
terra. Dessa forma, analisaremos nesse trabalho por que na cozinha esses sentimentos relacionados
às lembranças e às memórias da cozinheira Felizminha são aflorados. O que esse espaço simboliza?
Para tanto, recorremos a críticos literários e estudiosos da Literatura Africana de Língua
Portuguesa, dentre os quais destacamos: Patrick Chabal, Maria Fernanda Afonso, Maria Nazareth
Fonseca, Maria Zilda Cury, Terezinha Taborda Moreira e Ana Mafalda Leite.
Relativamente recente, no cenário dos estudos linguísticos, a análise do discurso tem buscado
explicar fenômenos nos mais diversos setores sociais. Considera-se que, a partir de Foucault, tem-
se discurso não como o enunciado, materializado pelas palavras, mas como um conjunto de
elementos que se localizam em um interlugar, bem como, uma maneira de construir uma realidade.
Objetivou-se neste trabalho analisar alguns slogans das campanhas presidenciais do Brasil, a partir
da sexta República (1985 aos dias atuais), focalizando as principais frases dos presidentes eleitos,
considerando como critério de inclusão os que se elegeram diretamente pelo povo. Enquanto
critério de exclusão, foram desconsiderados os slogans dos presidentes que assumiram por morte
de antecessor ou impeachment. Tomou-se como intervalo temporal para o estudo o período de
1985 aos dias atuais, totalizando assim os discursos de seis presidentes. Tendo em vista os
enunciados proferidos em forma de slogans, durante a campanha, instigou-se saber como estes
discursos são construídos? O que é importante para que estes nasçam? O que os legitimam no País?
Para alcance dos objetivos já mencionados organizou-se o trabalho a partir de pesquisa
bibliográfica, baseando-se nos pressupostos de Foucault (2014, 2016, 2019), Gregolin (2000),
Kuczynski (2007), Piovezani (2008), entre outros, que ampliaram o conhecimento acerca da
temática. Optou-se por abordagem qualitativa e pesquisa de natureza básica. Os resultados parciais
têm apontado para a mobilidade do discurso a depender do contexto nacional, na época de eleição;
48
inferiu-se, também, que a legitimação dos discursos dos presidentes eleitos acontece a partir do que
os eleitores constroem como verdade.
O objetivo desta pesquisa é investigar as narrativas orais das comunidades quilombolas de Chapada
de Natividade, Ipueiras e Malhadinha, no que tange a lendas, cultura e conhecimentos passados de
geração a geração pelos anciãos das comunidades escolhidas. É necessário compreender a
importância dos saberes culturais presentes nas comunidades tradicionais quilombolas, pois o saber
produzido no interior dessas comunidades é transmitido oralmente de geração em geração,
constituindo uma tradição oral. Pela tradição oral, diferentes povos expressam suas maneiras de
produzir e transmitir saberes e garantir a sua existência. Por conseguinte, a tradição oral preserva a
cultura, identidade e história de um povo. No que tange às comunidades oriundas de quilombo, a
preservação de suas tradições lhes garantem a manutenção da identidade própria e da maior
participação na sociedade e condições melhores na luta por direitos. Assim sendo, a literatura oral
sempre serviu de uma vasta fonte para a literatura escrita. Desta forma, Pimentel e Fares acentuam
que (2014:194) “a literatura escrita continua em débito com a oralidade, ninguém ousaria negar a
importância que a oralidade tem para a literatura”. Posto isto, há portanto uma preocupação em
manter vivas essas tradições, nesses territórios de negritude. Posto que, quem detém o
conhecimento sobre as tradições orais são os que mais possuem idade e por elas correrem o risco
de serem perdidas, pois como afirma Hampaté Ba (1978, apud CALVET, 2011:55) “um velho que
morre é uma biblioteca que se incendeia”, surge daí a importância dos idosos para essas
comunidades e a séria preocupação de conservação das tradições e, consequentemente, a
preocupação de preservar a memória ancestral. Posto isso o objetivo é: Investigar de que forma
aspectos ligados a lendas e conhecimentos dos antigos podem ser mediados da oralidade para a
escrita e refletir sobre a oralidade e o seu valor dentro das comunidade quilombolas do estado do
Tocantins.
estudos sobre a Linguagem da Internet, como os de Barton e Lee (2015), de Crystal (2002), de
Shepherd e Saliés (2013). A metodologia é de base qualitativa, com enfoque fenomenológico.
Como instrumento de coleta de dados, será construído um corpus, composto pelos textos
produzidos por interagentes no WhatsApp, organizados em dois grupos, estes ainda em processo
de formação. Os dados serão analisados com base no arcabouço teórico-metodológico escolhido
para fundamentar o trabalho. Os resultados decorrentes da análise dos dados podem contribuir
para ampliar os estudos sobre o uso do pronome Tu no português escrito.
O objetivo desta pesquisa foi investigar como a prática dialógica de Letramento do Pensar Alto em
grupo (ZANOTTO,2014) contribui para a formação de acadêmicos enquanto leitores responsivos;
refletir como se dá a prática de leitura do PAG com alunos do primeiro período do curso de Letras
e, compreender a concepção de leitura trazida pelos alunos ingressantes no curso de Letras e as
implicações destas em sua formação na universidade. O presente trabalho tem como base teórica
os estudos acerca de letramento e leitura (CORRÊA, BATISTA) assim como da linguagem e
comunicação numa perspectiva dialógica (BENEVIDES, BAKHTIN). A metodologia utilizada foi
a do Pensar Alto em Grupo (ZANOTTO) em sua faceta de método e entrevistas com os
participantes. Os participantes da pesquisa foram 3 ingressantes do curso de letras da Universidade
Federal do Tocantins. As análises realizadas para responder as perguntas tiveram como base o
aporte teórico. Compreendeu-se que o PAG contribuiu para a formação deles como leitores
responsivos, tendo em vista as suas ações, seja de concordância e discordância, ampliação de ideias,
complementação , defesa de pontos de vista, entre outros; que a metodologia do PAG no ambiente
universitário de início parece apenas uma conversa descompromissada mas que por sua perspectiva
dialógica demonstra-se de notável relevância na construção de sentidos em construção dentro do
grupo, e que as concepções de leituras dos mesmos, divergem em pontos como a de representações
sociais, visão de mundo, escolhas de vida , mas convergem em formas de agir, falar e escolhas de
vida, implicando tanto na sua visão do mundo e de como encaram a leitura, quanto de sua
criticidade e não passividade.
A inclusão de alunos surdos é um desafio que precisa ser superado nas instituições e nas salas de
aulas. Para que haja inclusão é importante e necessário que o aluno surdo aprenda. Ensinar e
aprender Lógica de Programação tem sido um grande desafio para professores e alunos nos cursos
de Computação no Brasil, ainda mais para os alunos surdos. No curso técnico em Informática,
IFMA – Monte Castelo, ações para inclusão dos alunos surdos têm acontecido de modo
satisfatório, mas percebe-se a grande dificuldade dos mesmos em aprender Lógica de Programação.
Com o objetivo de facilitar a aprendizagem de programação pelos alunos surdos, foi desenvolvido
50
Este trabalho, ainda em fase de desenvolvimento, possui como objetivos: explorar os principais
aplicativos móveis destinados à aprendizagem de línguas adicionais a fim de identificar as
ferramentas de correção existentes, bem como, analisar essas ferramentas com a intenção de
identificar o potencial dessas para o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem (EA)
(OXFORD, 1990). Para tal, partimos dos seguintes questionamentos: de que maneira as
ferramentas de correção no processo de interação comunicativa mediado por aplicativos móveis
contribuem para uma atuação estratégica dos aprendizes de línguas adicionais; quais estratégias de
aprendizagem emergem da utilização dessas ferramentas. Adotamos como base teórica a
concepção de aprendizagem de língua adicional fundamentada nos pressupostos teóricos da Teoria
da Complexidade, razão pela qual a aprendizagem é aqui entendida como um sistema adaptativo
complexo (LARSEN-FREEMAN, 1997), pois se constitui como um processo dinâmico, aberto,
complexo, não linear, adaptável, sensível, auto-organizado e sujeito a atratores. Além disso,
utilizamos fundamentos da teoria sociocultural (VYGOTSKY, 1998), aplicada à aprendizagem de
línguas, que enfatiza o papel da mediação no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos e, portanto,
considera o aprendiz como um ser dinâmico e que, através da interação, é capaz de potencializar o
processo de aprendizagem. Quanto à tipologia de EA, nos baseamos no inventário de Oxford
(1990), que compreende as estratégias como ações conscientes e específicas empregadas pelos
aprendizes para melhorar o próprio processo de aprendizagem de uma língua, com enfoque no
desenvolvimento da competência comunicativa, e as divide em estratégias diretas (de memória,
cognitiva e compensação) e indiretas (metacognitivas, afetivas e sociais). Para viabilizarmos os
objetivos propostos, realizamos uma pesquisa de abordagem qualitativa e exploratória, na qual
selecionamos dois aplicativos destinados à aprendizagem de língua adicional e identificamos nestes
as ferramentas de correções disponíveis, bem como as EA passíveis de mobilização por meio dessas
ferramentas. Os resultados até aqui obtidos apontam para a presença de ferramentas de correção
explícita e implícita nos APPS e a possibilidade de emergência de EA sociais e EA de compensação.
O presente estudo possui como objetivo demonstrar que o medo e a aversão das epidemias, na
sociedade brasileira do século XX, geram uma atmosfera consoante a literatura gótica do século
XIX, o que resulta no gótico epidêmico. Além disso, é possível encontrar semelhanças também na
ambivalência entre a admiração e o temor pelo progresso. Para este fim, tomaremos como objeto
de análise o conto “A Peste”, presente na coletânea Dentro da Noite (1910), do escritor João do
Rio. O período da Belle Époque, na cidade Rio de Janeiro, é marcado pela busca da modernização
aos moldes europeus e revela uma sociedade dissonante. Tem-se a construção de uma metrópole,
porém, também há uma assolação de epidemias e ações sanitaristas violentas para com as camadas
populares. As massas populares pareciam se fundir às epidemias da época, segundo o pensamento
da elite, e por isso recebiam tal tratamento hostil. Essa realidade é retratada na coletânea já
mencionada, e, notadamente, no conto “A Peste”. A narrativa expõe uma atmosfera purulenta e
de horror nas ruas do Rio de Janeiro, infestadas pela epidemia de varíola. Para viabilizarmos o
objetivo proposto, utilizamos como suporte teórico os estudos de Silva (2014), Botting (1996),
Brito (2016), Cohen (2000), dentre outros.
Este trabalho, ainda em fase de desenvolvimento, tem como objetivo analisar redes sociais de
aprendizagem de línguas (RSAL) para identificar ferramentas com potencial para a promoção da
interação comunicativa entre aprendizes e falantes da língua alvo. Com esse intuito, buscamos
identificar as estratégias de aprendizagem (EA) (OXFORD, 1990) que podem ser favorecidas no
âmbito do uso das RSAL, especificamente no que tange à mobilização de estratégias de natureza
social, com especial atenção à estratégia de cooperar com falantes nativos da língua adicional. Como
base teórica para este estudo, nos orientamos pelos pressupostos teóricos da teoria da
complexidade, segundo a qual, a aprendizagem de língua adicional constitui um sistema complexo
(LARSEN-FREEMAN, 1997), pois resulta da interação dinâmica entre diversos fatores (agentes),
entre os quais: o contexto tecnológico, as estratégias individuais, a interação, entre outros.
Baseamo-nos, também, na teoria sociocultural (VYGOTSKY, 1998), segundo a qual a interação é
fator relevante para o desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Com o advento da internet,
a quantidade de recursos digitais cresceu aceleradamente, o que acarretou grandes transformações
no processo de aprendizagem, uma vez que a internet é um sistema de informação e comunicação
que permite que nos comuniquemos com pessoas de todo o mundo e em qualquer idioma
(OLIVEIRA SOUTO E CARVALHO, 2016). Partindo desse pressuposto, entendemos ser
relevante analisar as RSAL e seu potencial para mobilização de EA por aprendizes de língua
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adicional. Para a consecução dos objetivos propostos, desenvolvemos uma pesquisa de natureza
descritiva (PAIVA, 2019), na qual: analisamos duas redes sociais, Tandem e Hello Talk, voltadas
para a aprendizagem de línguas e bastante utilizadas por aprendizes brasileiros; e identificamos e
avaliamos as principais ferramentas de interação comunicativa oferecidas por essas redes sociais.
Para identificação e análise das RSAL, a pesquisa tomou como base o inventário de estratégias de
Oxford (1990). Os resultados até aqui obtidos apontam para o fato de que as RSAL apresentam
elevado potencial no que tange a mobilização de estratégias individuais dos mais variados tipos,
inclusive as de natureza social, voltadas para cooperação entre aprendizes a falantes da língua alvo.
registrar essas histórias são criados os folhetos de cordel pelos poetas de bancada. Na Literatura de
Cordel o romance para o poeta deve ser considerado realidade, porque era comum o amor
proibido, entre jovens de famílias de nível socioeconômico diferentes. Agora busca analisar o
folheto de cordel História de Zezinho e Mariquinha, de Silvino Pirauá que narra a história de amor
proibido entre Zezinho e Mariquinha, apresentando pelos versos a temática trágica amorosa entre
os dois enamorados, destacando teóricos que dialogam com o tema e comentando um pouco sobre
vida e obra do autor. Para a realização do trabalho conta-se com a ajuda de pesquisadores e
estudiosos: CURRAN (2011), CASCUDO (2005) DAUS (1982), dentre outros.
Despite a multinational birth in the 1200s, once it makes its way into literature, with very few
exceptions, glossopoesis (the use of fictional languages as narrative accessories in prose fiction)
becomes an English-language eccentricity, and more emphatically of speculative fiction. This puts
the topic apart as a relevant subject for literary studies. After quickly introducing the phenomenon,
I intend to trace a short historical overview of the most prominent works of fiction, literary and
filmic. Then, I shall present and discuss the two most relevant theories on the functions of literary
glossopoesis: Stockwell (2006) and Cheyne (2008). Finally, I present my own theory on
glossopoesis as narrative frameworks (primary, secondary, tertiary, etc) that seeks to conciliate
Stockwell’s and Cheyne’s theories. In my discussion I also resort to instances that can be found in
such texts as Thomas More, Utopia (1516), Ian Watson, The Embedding (1973) and Ted Chiang’s
Story of your life (1998). The result is a historiographic and comprehensive theoretical study that
demonstrates how issues of communication stand out as a chief discussion subject in fictional
works featuring invented languages, in addition to serving as narrative devices used by authors to
communicate in extra levels than fluid traditional prose.
As narrativas construídas através de entrevistas de cunho etnográfico possuem uma função social
bastante significativa, pois dialogam com as observações do pesquisador, possibilitando uma maior
compreensão do espaço, bem como do sujeito pesquisado e de sua trajetória de vida. Nesta
pesquisa, objetivamos analisar o ethos e os imaginários sociodiscursivos em entrevistas realizadas
com três mulheres adictas em recuperação, internas da Casa das Samaritanas, um espaço de
acolhimento feminino, na cidade de Parnaíba-PI. A partir das observações e análises, o estudo
expressa, através de um contexto discursivo particular, vivido por cada uma das mulheres
entrevistadas, uma visão de mundo singular que se manifesta e materializa na linguagem presente
nas narrativas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, por considerar aspectos subjetivos, por abordar
representações sociais, crenças e opiniões relacionadas a um meio social. Por se tratar também de
uma pesquisa de campo, que estabelece relações com pessoas, faremos uso da etnografia. Nos
55
Primeira negra e segunda mulher a ocupar um lugar na Academia Maranhense de Letras, Mariana
Gonçalves da Luz (1871-1960), natural de Itapecuru-Mirim (MA), foi professora, poeta, cronista e
dramaturga. Entre o final do século XIX e início do XX, a artista foi presença constante na
imprensa. Com muitas dificuldades financeiras, ela não conseguiu publicar o livro de poemas que
estava organizando – Murmúrios. A autora morreu aos 88 anos e seu livro veio a público, em uma
pequena tiragem, após sua morte. Durante esta pesquisa, após quase três anos de estudos sobre
Mariana Luz, ficou evidente a existência de uma quantidade grande de textos “perdidos”. Diante
disso, mostrou-se urgente o empreendimento de organizar a produção completa da autora para
uma publicação. Este trabalho envolveu primeiramente a coleta de testemunhos dos textos da
poeta oriundos de diversas fontes: jornais, antologias poéticas, manuscritos e outros. Em seguida,
procedeu-se à reunião e organização deste material. A próxima fase contemplou a preparação e
edição propriamente ditas, tendo como base os critérios da Edótica. O presente trabalho propõe-
se a apresentar os caminhos trilhados e os procedimentos adotados durante a elaboração da obra
Murmúrios e outros poemas. Tendo em vista a organização para futura publicação de uma edição
crítica que reúna a lírica da poeta maranhense Mariana Luz, um rigoroso trabalho de preparação,
amparado nos princípios da crítica textual, foi seguido. Para tanto, foram utilizados os
estudos de Roger Laufer (1980), Segismundo Spina (1977) e Bruno Fregni Bassetto (2005).
Alinhada ao pensamento de Roger Laufer (1980), que assevera ser “o texto que funda todo estudo
literário”, esta pesquisa, ao organizar a produção poética de Mariana Luz em um texto idôneo e
fidedigno, pretende colaborar com as pesquisas acadêmicas acerca da obra da escritora de Itapecuru
Mirim, esquecida por longos anos pelo público e pela crítica.
A família, embora tenha passado por uma série de transformações sociais e estruturais, continua
sendo o núcleo basilar e fundamental de qualquer sociedade. Assim sendo, é uma instituição social,
que como as demais, submete-se às regras e às leis quando necessita dos mecanismos jurídicos para
a resolução de contendas. A presente proposta tem por objetivo geral, analisar os componentes da
lógica argumentativa no gênero petição inicial, de modo específico, identificar os elementos de base
de uma relação argumentativa e investigar os efeitos de sentido decorrentes do uso de recursos
argumentativos, estabelecendo uma relação entre a Linguística e o Direito, mediada pelo enfoque
da Análise do Discurso de linha francesa. Trata-se de um trabalho de natureza qualitativa e
interpretativa, de cunho documental, cujo corpus é a petição inicial de um processo de divórcio
litigioso com suspeitas de alienação parental. Para a efetivação deste trabalho, nossos estudos estão
ancorados na perspectiva da Teoria Semiolinguística do linguista francês Patrick Charaudeau
(2016), com ênfase no modo de organização argumentativo do discurso e identificando os
componentes da lógica argumentativa. Concluímos que o estudo possibilitou apontar elementos
específicos que funcionam como base numa relação argumentativa: a asserção de partida, a asserção
de passagem e a asserção de chegada.
Tendo por base um estudo sobre as mudanças sociais, esta pesquisa objetiva analisar o modo pelo
qual a cidade do futuro é retratada em obras de ficção, partindo da hipótese de que o contexto em
que se imagina a paisagem é fator determinante na imagem que se forma. Dessa maneira,
considerando-se a ficção mundial como resultado de demandas e/ou expectativas da sociedade de
seu tempo, propõe-se analisar obras fictícias dos séculos XX a XXI, a fim de relacioná-las a seus
contextos histórico e social e buscar um comparativo às teorias evolucionistas, neo-evolucionistas
e cíclicas, diretivas ou não-diretivas, das mudanças sociais e seu impacto na imagem que se forma
da cidade do futuro. Para esta pesquisa, foi realizada em seu decorrer revisão documental e
bibliográfica de autores como Benevolo (2006; 2011), Costa (2005; 2007), Ferreira (2015), Harvey
(2008), McCarron (1996), Silva (2009) e Llosa (2005), referentes às visões moderna e pós-moderna
das cidades e suas observações sobre sua retratação no cinema ou na literatura, conforme for o
caso de seus estudos. Observou-se que a ficção científica não é puramente futurística, tratando-se
mais de um diagnóstico de seu momento presente do que propriamente uma previsão sobre o
futuro. Além disso, percebeu-se que a ficção do século XX, em um primeiro momento, é marcada
pelos aspectos moderno e, posteriormente, pós-moderno, em uma relação intrínseca a seu
momento histórico, apresentando aglomerados urbanos caracterizados por um crescimento linear,
ou multilinear, e diretivo de complexidade social. Entretanto, novas formas de ver e pensar a cidade
do futuro vêm se apresentando, ganhando respaldo nas teorias evolutivas cíclicas, demonstrando,
atualmente, uma maior preocupação da sociedade em relação, sobretudo, ao desenvolvimento
sustentável e o aprimoramento da consciência social sobre ele. Por conseguinte, é notório que a
57
cidade do futuro ganha novas formas conforme mudam também as demandas e as necessidades
do cotidiano da sociedade que a imagina.
Este trabalho versa sobre a representação social da mulher criminalizada na mídia maranhense, a
partir dos jornais de maior circulação da capital do estado, sendo observados: O Imparcial, Jornal
Pequeno e O Estado do Maranhão. Para tanto, adotamos o aporte teórico da Análise do Discurso
Crítica (ADC), proposta por Chouliaraki e Fairclough, 1999; Fairclough, 2001, 2003ª; Magalhães
2005; Resende e Ramalho 2006, que entendem a importância do link entre as ciências linguísticas
e sociais no trato das relações socio-discursivas na atualidade. Objetiva-se, nesse sentido, analisar
como se constitui discursivamente a representação social da mulher criminalizada na mídia
jornalística digital de São Luís do Maranhão, as relações de poder presentes nos discursos e as
implicações sociais do mesmo. O corpus da pesquisa consiste de excertos selecionados de quinze
(15) reportagens, sendo cinco (5) de cada veículo de comunicação já referido, tendo como recorte
temporal o ano de 2019. Os critérios de análise das representações utilizados serão os significados
acional, representacional e identificacional presentes no texto e, como categorias de análise,
respectivamente, a intertextualidade, a interdiscursividade, a modalidade e a avaliação. Observando,
assim, como os meios de veiculação de notícias podem ser importantes instrumentos de
construções identitárias femininas nos seus mais diversos contextos de significação.
O debate acerca da relação entre História e Literatura não é recente, desde a antiguidade há o
entendimento de que a história debruça-se sobre o real, enquanto que a literatura ocupa-se da
ficção. Porém, estudos mais recentes concentram-se principalmente em analisar aquilo que as duas
áreas têm em comum. É nesse contexto que surge o novo romance histórico e com ele, a
metaficção historiográfica, como denomina Linda Hutcheon, propondo uma mudança significativa
sobre o estudo da relação entre história e ficção; bem como uma problematização da história e suas
verdades insofismáveis. Rio da Liberdade (A Guerra de Fidié) (1982) é um romance histórico
narrado em terceira pessoa que traz uma releitura da história ao narrar a Guerra de Fidié contra os
combatentes brasileiros. Diante do exposto, o presente artigo objetiva analisar a obra Rio da
Liberdade (A Guerra de Fidié), de Renato Castelo Branco, sob a perspectiva da metaficção
historiográfica; além de discutir a relação entre história e literatura e evidenciar as característica
metaficcionais presentes no romance ora analisado. Para tanto, apoio-se nos cabedais teóricos de
Hutcheon (1991), White (2001), Iser (2002), Bernardo (2010), Lima (1989) etc. Diante do estudo
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realizado, constatou-se que Renato Castelo Branco possibilita uma nova perspectiva sobre as lutas
pela independência nos territórios do Piauí e do Maranhã, permitindo assim uma problematização
das verdades postuladas pela história oficial.
A presente pesquisa objetiva analisar a constituição do(s) perfil(s) de estudantes do Curso de Letras
– Língua Portuguesa e Suas Respectivas Literaturas, através dos Relatórios de Estágio
Supervisionado. Para tal, lançaremos mão da Análise do Discurso Crítica (ADC) proposta por
Chouliaraki e Fairclough, 1999; Fairclough, 2001, 2003ª; Magalhães 2005; Resende e Ramalho 2006,
que entendem o discurso como modo de ação sobre o mundo e sobre o outro, assim como, um
mecanismo de representação de identidades sociais. Para a realização do estudo, foram
selecionados dez (10) relatórios produzidos por estudantes de Letras, Língua Portuguesa, da
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), na condição de estagiários/professores da
disciplina, durante o primeiro semestre do ano de dois mil e dezenove (2019). Como critério de
análise das representações serão utilizados os significados Acional, Representacional e
identificacional presentes nos textos e, como categorias de análise, respectivamente, a
intertextualidade, a interdiscursividade, a modalidade e a avaliação. Destaca-se, desse modo, a
importância dos estudos de identidade (profissional) no que se refere às mudanças nas práticas
sociais e discursivas do fazer docente, posto ser imprescindível entender as complexidades
subjacentes a tal fazer, antes mesmo de propor possíveis soluções.
A língua resulta de um processo histórico evolutivo que varia em função, sobretudo, de diferenças
diatópicas, diastráticas e a diafásicas. A partir dessa concepção, chegamos ao conceito de dialeto,
um subsistema inserido no sistema abstrato que é a própria língua. Considerando a variação
linguística concernente ao uso de verbos, este trabalho tem como objetivo investigar a variação de
terceira pessoa do plural no português falado na mesorregião norte do Maranhão, mais
especificamente, nos municípios de São Luís, Raposa e Pinheiro. Tal fenômeno linguístico já foi
investigado em outros estados do país por LEMLE e NARO (1977), FARIA (2008) e Oliveira
(2005). Nesse sentido, esta pesquisa desenvolvida à luz da geossociolinguística se pauta nesses
trabalhos e nos estudos de CARDOSO (2010) e de RAZKY e SANCHES (2016). Para o
desenvolvimento desta investigação estão sendo utilizados os dados coletados pela equipe do
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Projeto Atlas Linguístico do Maranhão – ALiMA, mais especificamente, estão sendo analisados 16
inquéritos: 08 do município de São Luís, 04 do município de Raposa e 04 do município de Pinheiro.
Os 16 informantes desses municípios selecionados atendem aos seguintes critérios: naturalidade –
são naturais das localidades investigadas; idade – faixa etária I, de 18 a 30 anos, e faixa etária II, de
50 a 65 anos; sexo – homem e mulher; e escolaridade – ensino fundamental incompleto e, apenas
na capital São Luís, foi considerado também o nível superior de escolaridade, por isso nessa
localidade há 08 informantes. Também seguem sendo feitas as revisões das transcrições realizadas
pela equipe do ALiMA, sendo selecionadas as variáveis linguísticas internas independentes para a
observação do fenômeno em análise e seguem sendo analisados alguns dados. Em seguida, serão
elaboradas cartas linguísticas para o mapeamento do fenômeno na mesorregião norte do Maranhão.
Os resultados prévios têm demonstrado que a proximidade do sujeito em relação ao verbo e o uso
do pronome do caso reto “eles” são algumas das variantes propiciadoras para a ocorrência da
variação.
Uma crise instalada é um solo fértil para o estímulo da ausência do diálogo, contribuindo para a
validação do ódio por meio de discursos segregadores. A pesquisa pretende compreender os
discursos de Jair Messias Bolsonaro durante sua campanha à presidência do Brasil em 2018, e a
legitimação da violência contra as “minorias”. Em linhas gerais, o artigo se propõe a analisar a
construção do processo de legitimação do discurso de ódio contra as “minorias” a partir das
práticas discursivas do candidato. De forma específica, mapear as matérias e analisar as influências
de ideologias no campo social, a prática discursiva na sociedade, a manutenção de ideologias e
hegemonia, o poder e a violência simbólica. A metodologia adotada é a Análise de Discurso Crítica
(ADC), de Fairclough (2019), e o corpus é composto por quinze matérias jornalísticas relatando
casos de agressões e até mortes à negros (as), LGBTQIA+, mulheres e nordestinos (as), divididas
entre os websites, onde foi percebido que os discursos de Messias corroboram para a legitimação
da violência contra essas “minorias”, baseados em regimes ideológicos, hegemônicos, e o poder
simbólico, que acarreta em violência simbólica, a crise no Brasil, a legitimação da ordem, e a
ausência do senso crítico, acarretando na naturalização da violência a essa população mais
vulnerável.
Palavras-chave: Análise de Discurso Crítica; Eleições 2018; Hegemonia; Ideologia, Jair Bolsonaro.
O mito de “Eros e Psiquê” é narrado nos livros IV, V e VI do romance antigo O asno de ouro
(1963), do Lúcio Apuleio. Nesta obra da Antiguidade Clássica, constituída por onze livros, são
narradas as peripécias de Lúcio metamorfoseado em asno, as quais servem de moldura para a
narrativa mítica intitulada “Eros e Psiquê” ou “Cupido e Psiquê”. Na fonte desse texto da literatura
60
latina, segundo o crítico italiano Benedetto Croce (2010), bebeu escritor napolitano Giambattista
Basile (1575-1632) que, na sua obra-prima Lo cunto de li cunti (publicada originalmente em dialeto
napolitano entre 1632-34 e traduzida no Brasil como O conto dos contos em 2018), nomeada
posteriormente de Pentamerone por Croce (1925) em alusão à estrutura de moldura empregada no
Decamerone por Giovanni Boccaccio no século XIV, fez do mito inspiração para desenvolver a
nona história narrada na segunda jornada (fiaba IX, giornata II), que recebeu o título “O cadeado”
(“Il catenaccio”). Trata-se da narração acerca das aventuras vividas pela protagonista Lucinha e o
seu caso amoroso com um moço encantado que é alvo de uma maldição. Parente em primeiro grau
de “O cadeado” é o conto maravilhoso “Angélica mais afortunada (O príncipe Teiú)”, cuja heroína
terá como noivo um príncipe teiú. Essa história foi coletada pelo escritor e folclorista brasileiro
Marco Haurélio em Igaporã, na Bahia, e registrada em seu livro Contos e fábulas do Brasil (2011).
Por terem o mesmo ancestral mítico, os contos maravilhosos napolitano e baiano são estórias
pertencentes ao ciclo noivo-animal (cf. BETTELHEIM, 2002). Com base nas reflexões teórico-
críticas de Samoyault (2008); Cascudo (1984); Benjamin (2015); Picone (2004); Braga (1994);
Alcoforado (2000; 2007) e Reis (2018), o presente trabalho busca analisar não somente o diálogo
intertextual entre os contos maravilhosos napolitano e baiano, mas principalmente os elementos
populares que se ligam à transmissão dessas narrativas pela oralidade, tendo em vista que tais
histórias primeiro foram contadas oralmente por contadores e depois ouvidas por compiladores e
folcloristas que as registraram em suas coletâneas maravilhosas. Parte deste trabalho está ligado à
pesquisa de Mestrado em andamento sob os auspícios da CAPES.
Este trabalho busca compreender de que modo a mulher empresária é objetivada no discurso da
revista Deluxe. O corpus utilizado na análise é constituído por duas matérias retiradas da edição nº
37, ano 2016, que homenageia mulheres empresárias e sintetiza a proposta central da revista:
valorizar a mulher empreendedora e independente, mostrando-a como exemplo a ser admirado e
seguido. Com suporte nos princípios da Análise do Discurso de linha francesa, o artigo parte das
reflexões de Foucault e a noção de objetivação, em que o indivíduo é posto como objeto de
discurso. É possível notar que no discurso da revista analisada existe uma série de enunciados que
se repetem e constituem o que Guilhaumou e Maldidier (2010) denominam trajeto temático, em
que a mulher empresária é associada a eixos enunciativos como família, saúde/beleza e
estudos/formação.
testemunho, testimonio, atrelados à literatura. Desse modo, visa refletir em torno da Literatura de
teor testemunhal, percorrendo pelo testemunho na ficção do pós-guerra, shoah, e sua força na
ficção contemporânea, seu caráter memorialístico, com destaque para o testemunho na literatura
latino-americana, testimonio, com ênfase no aspecto teórico, conceitual e suas produções. Convém
destacar que as narrativas de teor testemunhal nascem na/da violência, como expressões artísticas
atingidas pelo social e histórico de uma época, e são, em muitos casos, relatos dos sobreviventes
de eventos-limites para a humanidade. Estas narrativas são decorrentes da violência do Estado e
são uma ferida aberta, um trauma, uma chaga que revive a cada vez em que é narrada. Esta reflexão
está atrelada a discussões em torno de trauma, violência de Estado, memória, história, ou seja, uma
narrativa que se encontra na fronteira com outras áreas do conhecimento e mantém um forte elo
com o contexto histórico de enunciação e publicação das narrativas. Assim, para discutir acerca da
relação testemunho e literatura utilizaremos os estudos de De Marco (2004), Agamben (2008), Sarlo
(2007), Seligmann-Silva (2000, 2003, 2006, 2008), Salgueiro (2012), Ricoeur (2007).
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise das poesias da escritora portuguesa
Sophia de Mello Breyner Andresen que tratam da temática do mar, a partir dessa análise traçar um
diálogo com a psicologia analítica do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung, no qual
será utilizado para embasamento teórico na obra "O Homem e seus Símbolos". A literatura de
Sophia de Mello é repleta de diversas figuras míticas que são muito significativas para o imaginário
coletivo, no entanto, nada do que compõe sua obra é mais importante para os portugueses (logo,
também para Sophia) do que o mar, fato comprovado pela história do desbravamento português
em busca de novas terras e embasado por sua literatura que se ocupou de registrar o mesmo
momento histórico pela ótica poética. Jung, por sua vez, foi a pessoa responsável por fundar a
psicologia analítica e utilizar recursos simbólicos para tentar compreender a mente humana em seu
caráter individual e coletivo. Tendo isso em vista, os estudos feitos pelo psiquiatra serão ;guias de
apoio para a tentativa de decifrar a relação simbólica que a escritora delineia em suas poesias com,
sobre e para o mar. Poesias estas em que fica evidente a identificação que tem Sophia de Mello
com o arquétipo do mar, seu mistério e grande capacidade de transmutação.
Os sentidos presentes nos discursos que se materializam nas produções cinematográficas instigam
o expectador a refletir criticamente sobre aspectos do cotidiano, até então considerados dentro de
uma normalidade pouco ou quase nunca questionada, mas que ao ser vislumbrada o impactam a
ponto deste perceber que mesmo antigos hábitos podem ser questionados e por vezes modificados,
quebrando paradigmas, mesmo quando isto ocorre no contexto de uma dada religião. Objetiva-se
62
então, discutir em que medida a comunicação intersemiótica presente no filme Os dois papas,
possibilita o diálogo entre personagens e espectadores, desmistificando dogmas inerentes ao
papado. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa de natureza interpretativa cujo corpus é
composto pelo discurso de um dos protagonistas da trama, o Papa Francisco, onde a partir de suas
falas, gestos e expressões, é discutida sua posição enquanto pessoa humana em face aos dogmas da
igreja católica, ao mesmo tempo em que expõe sobre a necessidade de mudanças de costumes até
então considerados tradicionais e imutáveis, em face às transformações porque passam o sujeito
moderno, em um mundo em constante transformação. Fez-se então o recorte de algumas cenas do
filme, para discutir as falas do personagem no contexto da polifonia e produção de sentidos em
Bakhtin (2003), Focault (2005) e Ferreira (2016). Os resultados obtidos indicam que
independentemente de fazer parte de uma instituição religiosa, os sentidos e posições que um
determinado sujeito assume são influenciados pelo contexto sócio histórico do qual faz parte,
refletindo-se, ou seja, dizendo de si para o outro, por meio de seu discurso.
Por que um mesmo texto suscita inúmeras traduções? Mudam os tempos, devem mudar as
traduções? Estudos acerca da prática de retradução tem ganhado crescente interesse teórico no
campo dos Estudos de Tradução. Antoine Berman(1990), que foi um dos pioneiros na
sistematização da dimensão histórica e sócio-cultural da retradução, afirma que é o destino de todos
os grandes clássicos da literatura universal, cedo ou tarde serem retraduzidos. E isto é necessário
pois, para ele, as traduções envelhecem. Para Berman, a tradução é uma atividade submetida ao
tempo, marcada pela incompletude e caducidade próprias. No entanto, ele ressalva a existência de
“grandes traduções” (BERMAN, 1990), traduções que perduram tanto quanto os originais,
permanecendo célebres e históricas. O pensamento fundador de Berman foi retomado nos Estudos
de Tradução, sendo por vezes corroborado, por vezes, refutado parcialmente por outros teóricos,
mas permanece um ponto de partida para qualquer problematização sobre a retradução.
Retraduzimos para reatualizar um texto, o que é determinado pelos próprios condicionantes de
recepção (gostos, necessidades, competências etc). Por sua vez, contribuições do campo da Análise
do Discurso Francesa, fundada por Michel Pêcheux, trazem a voga relevantes considerações ao se
pensar na necessidade de se retraduzir um texto. Para AD de Pêcheux, a língua, e no caso do
processo tradutório, as línguas, são acontecimentos, relacionam-se com o sujeito, com o mundo, a
exterioridade e a história e, assim, constroem e produzem sentidos em um jogo de relações e rastros
instáveis. O sentido se dá pela linguagem e sua relação com a exterioridade. Assim, para que haja
sentido é preciso que inevitavelmente a língua se inscreva na história. Em vista disso, no presente
trabalho propomos um diálogo entre o pensamento de Antoine Berman e de Michel Pêcheux em
uma breve análise de duas retraduções para o inglês da obra clássica brasileira “O Cortiço” de
Aluísio Azevedo, intituladas Brazilian Tenement (1926) e The Slum (2000).
das ideias de Pêcheux (1999) sobre a análise do discurso, em que os enunciados ganham sentido
no interior das formações discursivas aos quais se filiam e também Orlandi (2000). A pesquisa é
dividida em três etapas, a primeira busca fazer um relato sobre as origens da palavra em estudo, a
segunda parte discute algumas mudanças de significado da palavra ao chegar ao Brasil e a terceira
enfoca diferentes sentidos da palavra em contexto popular do uso da língua. A partir do estudo,
concluímos que 61,5% das pessoas que responderam sobre suas concepções acerca do significado
da palavra alegaram que “rapariga” – mesmo sabendo do conceito do dicionário- tem um teor
pejorativo e pode ser sinônimo de “meretriz”, confirmando a dualidade de sentido.
Este artigo, situado na Análise do Discurso de perspectiva materialista, se constrói em torno dos
discursos de/sobre limpeza, cidadão e carroceiro, que atualizam imaginários e esteriótipos desses
discursos. Este trabalho parte da #cidadãolimpezacidadebeleza que nos levou a questiona-la junto
à formulação imagética do carroceiro, seus sentidos evidentes e os processos de (des)identificações.
O corpus se constitui a partir do recorte efetuado entre publicidades (re)produzidas pelos ditos e
não-ditos da/sobre a campanha da prefeitura de São Luís e sobre a imagem do carroceiro - aqui
considerado como discurso oficial. Selecionamos, ainda, materialidades produzidas por usuários
nos comentários em publicações nas redes sociais da prefeitura, que denominamos de discurso
não-oficial. Buscamos analisar discursos que atualizam imaginários e (re)estabelecem contradições
de sentidos em nomeações do “cidadão-limpeza” e “cidade-beleza”, projetando sentido(s) sobre
um (não)-cidadão. O objetivo é levantar o questionamento de como são projetados esses discursos
sobre limpeza, cidadão e carroceiro e como eles se apresentam na materialidade discursiva,
observando o(s) dito(s) e não-dito(s) nas projeções das relações discursivas entre o discurso
de/sobre cidadão limpeza e de/sobre carroceiro. Desta forma, faz-se uma análise na perspectiva
discursiva observando suas subjetivações com discurso projetado pela/sobre a prefeitura, através
dos recortes das materialidades e do discurso legitimado. Questionamos quais são os
esquecimentos e apagamentos acerca da materialidade do discurso, buscando questionar a(s)
evidência(s), silenciamentos e os imaginários projetados por esses discursos, atravessados por
classe, gênero e raça.
partir do estudo dos aspectos que caracterizam a presença do poético nas narrativas. A análise
estrutural demonstra que há constante preocupação com temas da arte; inquietação do texto com
reduplicação; fragmentação do enunciado, como mais um sinal da modernidade. As obras fundem-
se com a lírica, constituindo-se em prosa poética, logo, a partir das teorias de hibridização de
gêneros é possível identificar os aspectos que condicionam tais mecanismos. Octavio Paz acena a
possibilidade de fusão entre prosa e poesia, o que supõe ter acontecido, por exemplo, em muitos
romances modernos e contemporâneos. A aglutinação do enredo e da poesia, a musicalidade, o
abundante uso de metáforas e a divisão da frase em segmentos que chegam a recordar a cadência
do verso assinalam, portanto, a forma como se processa a mescla da poesia com a prosa. Dessa
forma, a prosa poética se caracteriza pelo fato de que, ainda que seja escrito em prosa, o texto
apresenta vários recursos poéticos, como aliterações; assonâncias; alegorias; metáforas. A prosa
poética pode ser marcada também por recursos poéticos como a personificação, comparações e
sinestesias. Este trabalho incita a análise da tessitura narrativa, a fim de detectar quando há lirismo
na prosa e as características que configuram a fusão do enredo e da poesia, seja pela musicalidade
ou pela divisão do texto em segmentos que chegam a recordar a cadência do verso.
O presente estudo vem propor uma observação sobre o processo de imigração e as ideologias
representadas através dos personagens principais Lentz e Milkau na obra Canaã de Graça Aranha,
com o objetivo de provocar uma reflexão sobre o Brasil do início do século XX. A metodologia
utilizada para o desenvolvimento deste estudo foi a pesquisa bibliográfica, considerando estudos
que abordam desde os problemas sociais, até o processo imigratório no Brasil. Pode-se mencionar
Folgal e Araújo (2012) que destacam a diferença entre os imigrantes Milkau e Lentz, que se impõe
até mesmo no objetivo da imigração. Milkau viera para o Brasil com objetivo de estabelecer-se e
fixar uma colônia. Lentz vinha para o comércio, para a luta de dominação e homogenia. Wink
(2004) ressalta que a imigração, apesar de alertar às possíveis cobiças do exterior, manifestadas –
apenas – em sonho, é defendida, conforme o projeto de uma nova fusão de “raças” como único
jeito de renovar e reanimar o país. Julga-se necessário uma abordagem sobre essa temática, pois,
assim como o processo de imigração, outro problema social em destaque na obra é o preconceito,
aliado às interpretações que depreciavam a miscigenação e a participação do negro na sociedade
brasileira, pois havia o mito da superioridade da “raça” ariana (BAHIA, 2014). Essas e outras
considerações serão destacadas neste estudo, proporcionando o conhecimento do Brasil em que a
diversidade cultural é imensa, ainda mais se pensarmos em como ocorreu a formação da nossa
sociedade, considerando as influências recebidas dos diferentes ciclos migratórios.
A memória, quando pensada como dispositivo analítico da análise de discurso materialista, tem
como sua característica trabalhar com dizeres que, em dado momento da história, são apresentados
e que por ordem natural do discurso são esquecidos. Contudo (como é próprio do discurso) ao
longo dos processos históricos outros dizeres, ao serem proferidos de maneira “diferente”, acabam
por acessar a mesma raiz de sentido tangendo a linha do interdiscurso. Formulações acerca de
negro, africano e escravo, junto a formulações outras que se relacionam com as citadas pelo eixo
do interdiscurso, presentes no site oficial da secretaria de turismo do estado do Maranhão, na sub-
aba “Cidade patrimônio, história e arquitetura” (componente da aba maior “Turismo cultural”) ao
falar (ou ao deixar de falar) sobre a participação de pessoas tra(ficadas)zidas do continente africano
para serem usadas como mão de obra escrava na história do Maranhão acabam por acessar
discursos que naturalizam esse processo colonial de escravidão e as tratam como objeto
(consequentemente mercadoria). Este trabalho, pensado com os fundamentos teóricos de Michel
Pêcheux ao teorizar a linha materialista da Análise de Discurso, usando como ferramenta de análise
conceitos de memória e interdiscurso desenvolvidos por Orlandi (1992) e com aporte teórico nos
trabalhos sobre o discurso turístico elaborado por França (2018) junto a trabalhos que analisam e
teorizam raça como interpelação ideológica presentes em escritos de Modesto (2018) e França
(2018), tem como fito, pensando discursivamente, apontar tais sentidos presentes no site oficial da
secretaria de turismo do Maranhão.
Apresentação da Navilouca, revista experimental em edição única programada por Torquato Neto
e Waly Salomão, entre 1971 e 1972, mas lançada somente em 1975. Destacando-se das revistas de
invenção do período pelo seu caráter de verdadeiro almanaque das artes experimentais e da
contracultura, engloba poesia concreta, ensaios críticos, artes plásticas, design gráfico,
fotomontagem e cinema marginal. Sua complexidade será exposta utilizando-se a contribuição de
Décio Pignatari para observar a multiplicidade intersemiótica contida na revista. No trabalho de
Pignatari na revista Navilouca, estão ausentes os sinais de pontuação, as vírgulas e, inclusive, as
próprias palavras estão em desordem, separadas. Existe uma tendência construtiva fundindo-se a
uma estética subjetiva, capaz de captar as impressões / sensações daquele momento, bem como
uma espécie de liberdade anárquica, uma antiarte ambiental, oriunda de rigorosos processos de
composição com a proposta de uma participação coletiva planejada, onde os participantes não
‘criam’, ‘experimentam a criação’, numa linguagem totalmente subversiva às normas gramaticais.
Pretende-se analisar a complexidade do trabalho de Décio Pignatari na Navilouca utilizando
elementos da Semiótica de Charles Sanders Peirce, conceitos que norteariam a sua
visão acerca da linguagem, através das categorias universais de pensamento: Primeiridade,
Secundidade e Terceiridade. Estes conceitos fornecem alguns elementos para decifrar a prosa
poética concretista de Pignatari, e desvenda uma tentativa de captar/decifrar a significação do
Pháneron,I. Estas categorias da experiência (cenopitagóricas) são para Peirce os três modos
67
Na crônica autoficcional Un fin de semana con mi muerte (Um fim-de-semana com a minha
morte), Gabriela Wiener, escritora peruana, narra uma experiência induzida de morte para fins
terapêuticos. Gabriela olha para sua própria morte por alguns dias, para perder seu medo e se
reconectar com ela mesma. Em seu ensaio Que filosofar é aprender a morrer, Montaigne pode
acompanhar Wiener em sua tentativa de abordar a morte, ao propor que aprender a morrer liberta
de toda submissão e como fim de todo o conhecimiento do mundo. Neste trabalho proponho
comentar a crônica Un fin de semana con mi muerte em busca da liberdade que, segundo
Montaigne, aprender a morrer proporciona; uma liberdade que, para Gabriela, será ver a morte
perto de sua própria vida sublinhando a sua experiencia quotidiana como mulher e escritora. Nesse
mesmo sentido, pretendo discutir a autoficção como recurso para a empatía na obra de Wiener e
como a imposibilidade de acolher a experiencia da propria morte, mas também da propria vida na
escrita.
O presente trabalho tem como objetivo analisar e discutir sobre os crescentes casos de violência
dentro das escolas através da ficção com a utilização de filmes e seriados. Nessa perspectiva, o
bullying é um problema social que está presente nas escolas do nosso país e que afeta toda à
sociedade. Nos dias atuais, estimular a conversa sobre o tema é fundamental, tendo como via de
acesso o uso da ficção gerando essa conexão com os jovens, fazendo com que se reconheçam nos
personagens ficcionais além de criar uma empatia e identificação com os mesmos. Divulgar a Lei
nº 13.185 de 06/11/2015; mobilizar a comunidade escolar para uma reflexão sobre o bullying;
esclarecer aos alunos o que é o bullying e as consequências na vida dos outros são objetivos
relevantes que devem ser abordados nas escolas, a omissão é prejudicial para todos os envolvidos
e a escola que estiver preparada, com ações tanto preventivas quanto interventivas, certamente terá
um combate eficiente. A importância de se combater o bullying estimulando o respeito às
diferenças, empatia e uma cultura de paz dentro da escola faz melhorar o clima em sala de aula e
consequentemente influencia na qualidade da aula e do ensino fornecido pela instituição. Esta
análise traz indagações e reflexões sobre o tema acima referido desde sua origem, conceito, formas
de bullying, agentes, sintomas, consequências e prevenção correlacionando com algumas obras
ficcionais mais conhecidas entre os jovens. Contudo, a informação é o primeiro passo para
combater esse problema social que muitas das vezes é tratado erroneamente como “brincadeira”,
e discutir esse fenômeno com a comunidade escolar é de suma importância, pois estimula a reflexão
e evita que novos casos aconteçam futuramente. A metodologia da pesquisa é de cunho
bibliográfico e analítico, consultas a Leis, Estatutos, Códigos que dão embasamento jurídico, bem
como a filmes e seriados, tendo como base teórica Ana Beatriz B. Silva (2010), Gabriel Chalita
(2008), Cleo Fante (2011), Constituição Federal do Brasil (1988), Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990), Código Civil (2002), Código Penal (1940).
Este artigo se propõe a analisar a obra Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, sob a ótica
da Dialética da Marginalidade, de João Cezar de Castro Rocha. A Dialética da Marginalidade, tal
como formulada por João Cezar, tem como principal finalidade discutir uma emergente tendência
literária contemporânea na qual o personagem opta pela oposição e o confronto diante das mazelas
de sua sociedade, buscando na exposição dos problemas um meio de direcionar o olhar da parcela
da sociedade que ignora ou desconhece tais conflitos que afetam os sujeitos marginalizados. Já
Carolina Maria de Jesus busca em seu livro expor a sua rotina diária como moradora de favela em
situação de extrema pobreza, relatando em forma de diário toda a dificuldade de viver e criar os
três filhos sozinha, sem emprego e num ambiente hostil e violento que era a hoje extinta favela do
Canindé, no estado de São Paulo. Visto isso, o objetivo deste artigo é encontrar na obra e na teoria
momentos ou conceitos que dialoguem entre si, demonstrando como ambos os trabalhos se
relacionam e se complementam, pois os escritos de Carolina servem como exemplo e base para a
teoria de João Cézar, e ao mesmo tempo, a dialética se apoia em obras como o Quarto de Despejo
para evidenciar sua teoria. Esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica. Assim, foram
69
selecionados alguns trechos da obra, além dos autores: Cândido (2011), Pellegrini (2004), Rocha
(2007), e Rosset (1989).
Esta pesquisa, ainda em fase inicial, vinculada ao projeto Aplicativos digitais na aprendizagem de
línguas, tem como objetivo analisar os aplicativos móveis para aprendizagem de línguas por pessoas
cegas para identificar ferramentas com potencial para a promoção da interação comunicativa para
esses aprendizes. Para tal, partimos da seguinte questão norteadora: que estratégias de
aprendizagem (EA) (OXFORD,1990) podem emergir no âmbito do uso de aplicativos digitais
móveis (app) por aprendizes cegos que objetivam aprender uma língua adicional? Nas pesquisas
voltadas para o uso de tecnologias digitais na aprendizagem de línguas, é cada vez mais corrente a
compreensão de que a aquisição de uma língua estrangeira ocorre mediante a mobilização de
estratégias individuais pelos aprendizes no âmbito do uso dessas tecnologias. Nesse sentido,
entendemos o processo de aprendizagem como um Sistema Adaptativo Complexo (SAC)
(LARSEN-FREEMAN, 1997), o qual envolve uma série de fatores (agentes) que interagem de
forma dinâmica e aleatória (PAIVA, 2009), entre tais fatores, o tecnológico. Em função disso,
entendemos que a internet possibilita o uso de uma série de ferramentas que podem ajudar a
ampliar os conhecimentos e as ações do aprendiz no processo de aprendizagem e de uso da língua
alvo. Nesse sentido, consideramos que os aplicativos digitais (apps), programas com grande
número de usuários, instalados em smartphones ou computadores, constituem um importante
suporte no que tange à possibilidade de mobilização de estratégias individuais dos mais variados
tipos, desde as cognitivas até as sociais. A relevância das estratégias de aprendizagem (EA) na
aquisição de línguas fica evidente em pesquisas como a de Oxford (1990), que identifica a
ocorrência significativa de cada uma das EA na aprendizagem de uma língua. Em seu estudo, a
autora compreende as EA como ações, comportamentos e pensamentos voltados para
processamento e transformação do input linguístico pelo aprendiz. Para viabilizar o objetivo desse
estudo, realizaremos uma pesquisa de natureza exploratória (LAKATOS, 2001) buscando
identificar ferramentas/aplicativos digitais voltados para a interação e aprendizagem de línguas
adicionais por pessoas cegas, ao mesmo tempo em que buscaremos identificar as estratégias
individuais que podem emergir a partir do uso dessas ferramentas.
Vilém Flusser, filósofo tcheco-brasileiro, escreveu sobre a possibilidade de uma ficção científica de
valor epistemológico. Flusser (1965; 1972; 2015 [1988]) considerava frustrante a FC típica que
encontramos nas livrarias e cinemas, que, segundo ele, retrata o impossível, ou imagina mundos
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ainda muito parecidos com o nosso, com extrapolações de tendências já observáveis no presente.
O filósofo acreditava em uma outra FC, que trabalharia com aquilo que é da ordem do possível,
embora improvável. Trata-se, no entender do filósofo, do único tipo de fantasia que pode ser fértil,
a fantasia exata (Da Vinci), que, segundo ele, é janela para ver-se até mesmo futuros possíveis.
Partindo da perspectiva da cibernética, Flusser (2015 [1988]) considera que o improvável é mais
informativo, e imagina uma epistemologia invertida em relação à estratégia típica da ciência: a
produção deliberada do improvável como um caminho para sabermos “o que não é”. Mas para
isso a FC deveria ser feita com rigor – o mesmo rigor científico. Flusser expõe que dificilmente
encontraríamos tal tipo de FC na literatura ou no cinema, mas que as imagens produzidas
eletronicamente e por computadores se aproximariam dessa ideia. De acordo com Felinto (2018),
a visão da ficção como instrumento epistêmico tem tal centralidade na obra flusseriana que
podemos falar de fato em uma filosofia da ficção, e alguns escritos do pensador aproximam-se do
realismo especulativo. Pretende-se, com esta pesquisa, aprofundar a discussão teórico-filosófica
sobre a obra de Flusser, procurar averiguar como se materializaria tal proposta de FC hoje, passados
quase 30 anos da morte do autor, e analisar tais materialidades. A metodologia utilizada será a
análise qualitativa de textos e outras produções culturais e artísticas. A pesquisa ainda não foi
iniciada, mas acreditamos que a diferença entre hard sci-fi e soft sci-fi não é a questão, e sim que
Flusser propõe um conceito bem específico de FC, que pode ser encontrado em poucos lugares,
se é que não passa de uma proposição. Mesmo assim, o tema vale a pena ser investigado por sua
riqueza.
De acordo com Almeida Filho (2002), são cinco as competências do professor de língua estrangeira
(LE), quais sejam: implícita, linguístico-comunicativa, teórica, aplicada e profissional. Estas
competências configuram a abordagem de ensinar do professor e o nível de cada uma interfere no
processo de ensino e aprendizagem da língua-alvo. A competência linguístico-comunicativa (CLC)
diz respeito à capacidade de produzir linguagem por meio da LE em situações comunicativas. Para
Consolo (2000), o domínio de uso da língua permite ao professor servir de modelo linguístico em
sala de aula, além de encorajar os aprendizes a interagir através da LE. Teixeira da Silva (2008,2018)
aponta que muitos professores de língua estrangeira em formação inicial e, inclusive, em serviço,
apresentam um nível elementar de CLC e isto interfere na qualidade do ensino de línguas. Neste
sentido, situado na área da Linguística Aplicada (LA), este trabalho pretende apresentar os
resultados preliminares de uma pesquisa de mestrado em andamento, cujo objetivo é traçar o perfil
linguístico-comunicativo do futuro professor de espanhol como língua estrangeira (ELE).
Participaram desta pesquisa quatro acadêmicos do curso de Letras/Espanhol de uma universidade
pública da capital maranhense, os quais estavam em fase de conclusão do curso. O corpus da
pesquisa consiste em quatro entrevistas semiestruturadas, quatro autoavaliações e quatro testes de
proficiência adaptados, todos coletados de acordo com a disponibilidade de cada informante.
Apesar de ser considerada uma competência elementar (ALMEIDA FILHO, 2002; 2009), isto é,
um dos requisitos mínimos para o exercício da profissão, as análises empreendidas até o momento
sugerem que há uma precarização da competência linguístico-comunicativa dos futuros professores
de ELE. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa (CHIZZOTTI, 2014), na qual
71
utilizamos alguns instrumentos etnográficos (REES & MELLO, 2011). Desta forma, no que tange
ao referencial teórico, contamos com as valiosas contribuições de Teixeira da Silva (2008, 2018),
Consolo (200, 2007, 2018), Almeida Filho (2002,2009,2018), Basso (2001, 2008), entre outros
linguistas aplicados.
A teoria da adaptação abrange um universo de obras que, de algum modo, surgiram a partir da
incorporação de textos, personagens e planos de fundo com a finalidade de criar uma nova obra.
Como Hutcheon (2006) argumenta, o processo de adaptação pode ser uma transposição de várias
ou somente de uma obra. As adaptações são narrativas elaboradas a partir da releitura de uma obra
anterior. A obra Alice no país das maravilhas, escrita por Lewis Carroll e publicada em 1865,
tornou-se uma das mais conhecidas na literatura infantil e do gênero literário nonsense, tendo sido
adaptada inúmeras vezes para o cinema. Dentre as adaptações, temos a versão do cinema de
animação produzida pela Disney em 1951. Tomando a teoria da adaptação como base teórica, o
presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise comparativa dos aspectos narrativos e
ideológicos identificando as discrepâncias e semelhanças encontradas na obra Alice no país das
maravilhas de Lewis Carroll (1865) e em sua adaptação para o cinema de animação do ano de 1951,
produzida pela Disney. Para tanto, a metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica,
procurando discorrer sobre a teoria da adaptação e como ocorre este processo na obra analisada.
Autores como Hutcheon (2006), Stam (2006), Cartmell (2006), Sanders (2006) e Plaza (2013) dão
o embasamento teórico desta pesquisa.
A caracterização dos personagens dentro de obras literárias é um elemento bastante relevante, pois,
na perspectiva de Candido (2014), o personagem é uma peça fundamental para o enredo, uma vez
que “dá vida” aos acontecimentos narrados na obra bem como às ideias. Nesse sentido, o estudo
tem como base o que é dito sobre Simão Bacarmate na obra, pois a caracterização dá sentido às
ações durante a narrativa e justifica o desfecho. Partindo disso, o presente trabalho tem como
objetivo analisar a caracterização do personagem Simão Bacarmate do livro O Alienista, de
Machado de Assis (1813-1908). A obra aqui analisada é recheada por ironias e ambiguidades, nas
quais o autor deixa transparecer suas críticas às variadas formas de alienação, através do
comportamento da população de Itaguaí e, também, com o psicológico de alguns personagens,
apontando para a sua face realista. Sendo assim, este estudo baseia-se nos pensamentos de Brait
(1993), Foucault (1979, 2009), Freitas (2004), Gomes (1993), Lima (1991) entre outros. A
metodologia da pesquisa é de cunho bibliográfico e analítico, tendo foco em algumas passagens
72
verbais que são de grande importância para constituir a imagem do alienista. O critério que é
utilizado para selecioná-las é baseado em três eixos: ciência, loucura e poder, os quais serão a base
para a construção de possíveis faces do Dr. Bacarmate.
Vilém Flusser foi um filósofo nascido em Praga que viveu muitos anos no Brasil e posteriormente
na Alemanha, tendo escrito sua obra tanto em alemão como em português. Em 1983 Flusser
publicou "Für eine Philosophie der Fotografie", depois traduzido para o português por ele e
publicado com o título de "A Filosofia da Caixa Preta: Filosofia da caixa preta: Ensaios para uma
futura filosofia da fotografia". Em 1985 publicou "Ins Universum der technischen Bilder", também
traduzido para o português por ele com o nome de "O universo das imagens técnicas: Elogio da
superficialidade". Nestes dois livros está exposta uma parcela fundamental do pensamento de
Flusser, a respeito da proeminência das imagens técnicas (imagens produzidas por aparelhos, como
fotografia e vídeo) na sociedade atual e futura. O primeiro destes livros, conciso, vai ao ponto
nevrálgico de sua teoria sobre o deslocamento da centralidade da organização da cultura ocidental
do texto para a as imagens técnicas. O segundo é uma espécie de comentário ampliado sobre o
tema do primeiro livro, no qual ele pôde avançar em um maior número de exemplos e especulações.
Nestas obras escritas no início dos anos 80 - muito antes do funcionamento comercial da internet,
dos aparelhos celulares e smartphones -, Flusser parece antecipar de maneira premonitória o
cenário que vivemos hoje, sociedade hiperconectada, com excesso e proeminência de telas. Além
de antecipar em cerca de 30 anos o cenário que vivemos hoje, Flusser traça alguns cenários
futuristas como possibilidades e consequências do império das imagens técnicas. Pretendo
apresentar dois cenários que oscilam entre a utopia e a distopia.A provocação que proponho é fazer
uma leitura destas obras filosóficas como obras de "literatura fantástica futurista", a partir de uma
apresentação dividida em 3 partes:- Breve resumo do pensamento flusseriano relacionado às
imagens técnicas;- Apresentar algumas "profecias" que se realizaram e estão se realizando em
nossos dias; e - Apresentar dois cenários utópicos/distópicos traçados por Flusser em "O universo
das imagens técnicas: Elogio da superficialidade". Por meio da tensão/fricção entre filosofia e
ficção especulativa, pretendo propor uma aproximação atípica sobre o pensamento de Flusser.
sua voz, apagando seu poder locutório. Tanto quanto a violência física, a violência verbal é muito
dolorosa, humilhando e/ou atingindo a mulher naquilo que lhe é mais caro: a dignidade. Destarte
o aumento de dispositivos legais que buscam coibir a violência em uma perspectiva de gênero,
cresce cada vez mais, no Brasil, casos de violência em que a mulher fica do lado em que a balança
tende, quase sempre, em favor de seu algoz e que no caso da verbalização, se potencializou a partir
do uso das redes sociais, disseminando-se com uma velocidade inalcançável. Objetiva-se, pois,
discutir a violência verbal, disseminada contra mulheres por meio das redes sociais, refletindo
acerca da ferocidade que recaem sobre tais vítimas, por pessoas cujo conhecimento sobre estas se
dá a partir da verbalização das múltiplas vozes que reverberam no espaço virtual. Tomou-se como
base teórica e metodológica a análise crítica do discurso, em uma perspectiva de produção de
sentidos, a partir de M. Bakhtin. Para tanto, utilizou-se como corpora verbalizações colhidas de
páginas da internet, as discutindo sob a égide dos direitos humanos. Trata-se de uma pesquisa em
andamento, cujos resultados provisórios demonstram que a dor física não atinge apenas o corpo
ou a dignidade da vítima, mas de seus familiares e de outras mulheres.
A Rainha dos Cárceres da Grécia (1976), de Osman Lins (1924-1978) é um romance que traz em
sua narrativa ficcional um confronto com diversas correntes da crítica literária. A obra, apesar de
romanesca, levanta questões tais como a problemática da autoria, a validade das análises
estruturalistas, a importância da subjetividade do leitor para uma interpretação significativa da
diegese, dentre outros temas. Há que se considerar também o híbrido de gêneros, pois o leitor tem
em mãos um ensaio teórico – sobre uma obra literária não publicada – dentro de um diário que, na
verdade, se configura como romance. Assim, objetivo nesse trabalho acadêmico trazer à tona a
discussão sobre a primazia da questão formal do texto, levanta pelo autor, a fim de por em xeque
certos dogmatismos presentes em estudos literários que apenas enclausuram as obras na camisa-
de-força de teorias que não dão conta da abrangência e do significado da narrativa analisada.
Pretendo ainda, seguindo os passos do autor, destacar sua crítica à leitura meramente academicista
que valoriza os pressupostos teóricos em detrimento das obras literárias. Essa comunicação se
constitui a partir de procedimentos teóricos-metodológicos voltados à análise hermenêutica dessa
obra de ficção de Osman Lins, tendo por base o diálogo travado com pensamento de BAKHTIN
(2010), ARENDT (2008) e BENJAMIN (1994). A abordagem sobre tais questões mostra-se cada
vez mais urgentes e necessárias nos meios acadêmicos a fim de desmistificar modelos canônicos e
assegurar a liberdade inerente à ampla compreensão de uma obra literária e ao ensino de literatura
no Brasil atual através de uma educação estética significativa.
Em Pierre Menard, autor del Quijote (1939, originalmente), um dos contos que compõe o livro de
contos Ficciones (1944, originalmente), narra-se a história de Pierre Menard, um erudito da crítica
literária e filosófica que tem como grande missão pessoal escrever novamente Dom Quixote de la
Mancha. A reescrita do clássico espanhol é literal, isto é, Pierre Menard não deseja fazer uma versão
da obra de Cervantes, mas escrevê-la da mesma maneira que o original. Segundo Derrida (2005), a
repetição é um movimento originário que traz um acontecimento, ou seja, aquilo que não é
esperado. Partindo desse pressuposto, o Quixote de Pierre Menard não é o Quixote de Miguel de
Cervantes, mas um Quixote original que, por estar situado numa circunstância histórica diferente,
traz à tona uma nova obra, pois há um novo leitor. Sendo assim, analisamos o conto de Jorge Luís
Borges (1899 – 1986) com a missão de entender de que maneira o leitor ressignifica a obra literária,
e se realmente, na visão de Borges, o autor está morto. Para analisar o conceito de repetição e
substituição, servir-nos-emos da obra A farmácia de Platão (2005), do filósofo francês Jacques
Derrida (1930 – 2004); assim como do ensaio Los clásicos (1971), do intelectual espanhol Azorín
(1873 – 1967) para convalidar a tese central do nosso trabalho: os clássicos não só se ressignificam
com o tempo, mas precisam evoluírem para atingir aos leitores das eras que o sucedem. A
metodologia utilizada foi a bibliográfica de cunho qualitativo. Este trabalho, portanto, pretende, a
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partir do texto ficcional Pierre Menard, autor del Quijote, ampliar a reflexão borgeana sobre a
noção abolida de autor na literatura, dado que, segundo a época, o texto vai ser lido de uma forma
diferente: as condições de recepção de um texto não dependem do autor e sim da experiência do
leitor.
Esta pesquisa pretende analisar o discurso da violência representado pelo jornal Itaqui-Bacanga.
Considera-se o jornalismo como um agente de construções sociais, que ressignifica a realidade por
meio de representações. Parte-se de pressupostos teóricos da Análise do Discurso, nos estudos de
Orlandi (2008) e Fernandes (2008), a fim de compreender o contexto de produção do discurso, a
fim de entender certos traços sociais e ideológicos que permeiam as notícias jornalísticas. Recorre-
se também a Dias (2008), para quem analisar o discurso da violência significa tratar de
representações sociais ancoradas em aspectos linguísticos e discursivos; a Erbolato (1981), com o
propósito de examinar o jornalismo policial e sua prática na imprensa, construída a partir da
orientação de cada empresa jornalística; a Angrimani Sobrinho (1995), a fim de compreender a
forma de construção da narrativa sensacionalista e seus critérios de intensificação; e a Porto (2010),
segundo a qual a violência, num ponto de vista sociológico, corresponde às representações sociais
que são construídas no dia a dia dos indivíduos e das instituições, não devendo ser reduzida à
manifestação tópica, mas sim compreendida como um componente difuso que penetra a quase
totalidade do tecido social. Em termos metodológicos, foram coletadas 130 notícias publicadas
pelo jornal Itaqui-Bacanga entre os meses de março e abril de 2019. As categorias de análise foram
definidas conforme Champagne (2011), para quem a cobertura de casos de violência evoca dois
tipos de representações: representações sobre a prática jornalística e representações sobre os grupos
sociais envolvidos em situações de violência urbana. Sendo assim, a pesquisa mostra-se importante
para compreender como jornalismo policial utiliza de estratégias textuais e discursivas para
representar a violência como fenômeno social.
Essa pesquisa - em uma abordagem interseccional das noções de classe, raça e gênero - investiga
os sujeitos projetados pelas vozes no cancioneiro popular e seus discursos. O presente artigo,
situado na Análise de Discurso materialista, propõe compreender a voz cantada enquanto
modalidade discursiva, uma vez que o sujeito é constituído pela voz nos momentos de produção e
de escuta. Visando compreender o espaço de enunciação e os sentidos em disputa que essa
formação discursiva propõe, analisamos discursivamente canções populares maranhenses e
riograndenses, a partir do referencial teórico na Análise de Discurso de vertente materialista, de
Michel Pêcheux, de leituras sobre a voz enquanto materialidade discursiva sob a abordagem de
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Pedro de Souza (2014). O corpus desta análise constitui-se a partir da coleta e reunião de dois
exemplares que estão inseridos tanto nos imaginários de “cultura popular”, quanto nas
conceituações desta para a etnomusicologia e para a historiografia (BLACKING, 1980; e PASSOS,
2003), observando neles os processos de identificação presentes em cada formulação. A análise,
ainda em processo de conclusão, tem como objetivos cernes questionar como é projetado o(s)
discurso(s) e como ele(s) se apresenta(m) enquanto materialidade vocal, seus efeitos de sentido,
quais memórias eles se filiam, e os processos de identificação ali inseridos. Os resultados parciais
desta análise apontam para filiações identitárias diversas, uma vez que são analisados materiais
vindos de condições de produção diferentes, que resgatam memórias racializadas e/ou colonizadas
(e colonizadoras), projetando representações elitistas e de resistência acerca da forma em que as
vozes cancionadas são utilizadas; que, a partir de uma formação ideológica dominante, montam
imaginários e esteriotipificações contidas em duas culturas brasileiras de formações discursivas
sumariamente diferentes. Em suma, este trabalho visa contribuir para uma análise discursiva da
música, que é algo ainda em vias de desenvolvimento no campo teórico da análise do discurso
materialista.
as estratégias e condições do narrador contemporâneo quando atua sobre este uma realidade
histórica em que imperam forças violentas e opressoras que o descentraliza do papel de autoridade
ficcional? E nessa medida, perceber de que maneira o narrador contribui para significação do texto,
sobretudo, das personagens. Na tentativa de responder essa problemática, propõem-se discuti-la
em dois contos do escritor Caio Fernando Abreu, “Os Sobreviventes” e Morangos Mofados”,
pertencentes à coletânea “Morangos Mofados (1982), contemplados para análise, visto que notou-
se uma dificuldade em seus processos de narração por apresentarem narradores que se desviam
dos elementos tradicionais e se esforçam para demonstrar a condição existencial fragmentária das
personagens, consequências deixadas pela experiência dos indivíduos frente ao sistema autoritário.
Dessa forma, objetiva-se investigar as estratégias estéticas disponíveis para o narrador
caiofernandiano, quando este depara-se com elementos político-sociais que o colocam em uma
posição descentralizada e seus desdobramentos para significação do texto. A natureza da pesquisa
é qualitativa, tendo como base o amparo teórico-metodológico na Teoria Literária e Crítica
Literária. Para empreender apoio ao estudo do narrador contemporâneo, esta pesquisa considera
os estudos acerca do narrador de alguns teóricos e pesquisadores do século XX e XXI como Walter
Benjamim (1985), Theodor Adorno (2003), Jaime Ginzburg (2000), Giorgo Agamben (2009), Ana
Paula Teixeira Porto (2007).
RESUMO: Este estudo de cunho bibliográfico toma por base o romance Incidente em Antares,
de Érico Veríssimo (2013). O objetivo é analisar as finalidades da figura do cadáver na obra em
questão. O incidente insólito envolvendo estas figuras ocorre na cidade em um contexto de greve
geral dos trabalhadores, que gera a impossibilidade de enterrar os sete mortos que faleceram dois
dias depois da greve deflagrada. Os mortos, por sua vez, levantam de seus caixões e exigem o
sepultamento, caso contrário poluirão a cidade com a sua podridão e revelações. Tomamos como
embasamento teórico acerca da questão da imagem incômoda do cadáver o historiador Phillippe
Ariès, na sua obra História da Morte no Ocidente (2017), pois segundo o autor, a imagem
cadavérica possui um duplo incômodo aos vivos, o primeiro relacionado a morte do outro e, o
segundo por nos lembrar que somos finitos. Já ao diz respeito à questão da construção do discurso
histórico vigente em contrapartida com o discurso histórico “enterrado” pelas classes dominantes,
usaremos como embasamento o filósofo Walter Benjamin, em sua obra Magia e técnica, Arte e
Política: Ensaios sobre Literatura e História da Cultura (1986). A finalidade do trabalho é explorar
a relação entre a figura do cadáver e os segredos enterrados em Antares, pois tomamos como
possíveis formas de conclusão que os defuntos por não possuírem mais vínculos com o mundo
dos vivos se dão ao direito de revelar a sociedade hipócrita que os rodeava.
A formação é um tema caro aos estudos literários, partindo do princípio de que a discussão sobre
esta temática perdura há séculos. Surgido em meados do século XVIII, na Alemanha, o conceito
de Bildungsroman (Romance de formação) foi preciso ao classificar as obras que narravam as
experências dos protagonistas no rumo de sua vida adulta. Dentro deste modelo literário alguns
fatores são primordiais, pois, acredita-se que alguns acontecimentos, tais como o processo
educativo, envolvimentos amorosos, conflitos familiares, entre outros eventos, marcam o processo
formativo do personagem. Inicialmente este tipo de romance era praticamente exclusivo aos
homens, dado o domínio masculino sobre a escrita, com a inserção feminina, sobretudo pela
autoria de mulheres nos romances, novos debates em torno deste arquétipo foram levantados, a
fim de verificar interseções e divergências sobre a formação. Esta pesquisa tem o objetivo de
verificar as modificações no modelo literário com o passar do tempo, deslocando para a
contemporaneidade, a partir da leitura do romance Hibisco Roxo da nigeriana Chimamanda Ngozi
Adichie (2011). Para esta análise nos valeremos dos estudos de Morgenstern para identificar os
fatores que compõem o gênero literário desde a definição original, de Bakhtin (1963) sobre as
características deste modelo literário, a fim de verificar fatores recorrentes na escrita deste tipo de
romance, Maas (2000) e Pinto (1990) adensam a pesquisa por se debruçarem no que é o cerne desta
pesquisa em andamento, a perspectiva feminina. Sobre formação, nos debruçaremos nos estudos
de Kant (2016), Adorno (1970) e Ranciére (2010).
quadrinhos, bem como aqueles que lidam com representações e o imaginário social, e com a noção
de ficção especulativa.
humanísticas e sua liquidez, efemeridade, que produz pessoas “transeuntes”, que não se identificam
e tornam-se passageiras do espaço, tornando-se mais um empecilho para a apreciação e
identificação da arte contemporânea. Pretendemos analisar o corpo humano como objeto artístico
que, apesar de ser mimetizado, reconfigura o modelo de relacionamento entre o público e o espaço
a fim de que haja maior intimidade ao perceber as nuanças através da interação personificada do
próprio ambiente.
Nos estudos contemporâneos têm se observado as limitações ainda enfrentadas por sinalizantes
de Libras, tradutores, intérpretes e educadores que trabalham com discentes surdos/as a respeito
do léxico específico para a área de estudos Africanos que na maioria de seus registros, são
(re)produzidos na língua Yorubá.. Assim, esse resumo objetiva apresentar pesquisas que visem o
registro dos estudos da mitologia e as implicações desta no registro de sinais-termo, permitirão o
desenvolvimento de estratégias que contribuirão para o uso e ensino, bem como a valorização da
língua. Então surge uma problemática: Como será pensado o ensino da História e Cultura Africana
em Libras, se os estudos no que se refere a algumas áreas se concentram em apenas mostrar sinais
em Libras inventados e sem nenhuma construção sociolinguística ou que são omitidos em diversos
locais por não ter referência lexicais. Teremos como referencial teórico: SOARES (2006), GESSER
(2009), SANTOS (2007) e QUADROS (2004). No Brasil a Libras foi reconhecida como meio legal
de comunicação e expressão de pessoas Surdas Brasileiras por meio da Lei 10.436/2002,
posteriormente regulamentada pelo Decreto 5.626/2005. Além da regulamentação legal da Libras,
as pessoas surdas conquistaram, ainda, outros direitos no que se refere a acessibilidade linguística,
educacional, arquitetônica, dentre outros. A descoberta das pesquisas nos acervos midiaticos além
de auxiliar a comunicação e promover acesso aos surdos afrodescendentes adeptos do Candomblé,
auxiliará os profissionais da área de educação de surdos/as (professores trilíngues, tradutores
intérpretes de Libras), a terem um léxico específico nesse campo religioso e cultural, tendo
condições também de atender as exigências da Lei 10.639/2003, que oficializa o ensino de História
e Cultura Africana nas escolas. As pessoas Surdas, por utilizarem outra língua na comunicação e
por, na sua grande maioria, não dominarem a língua portuguesa, são postas na condição de
estrangeiras dentro do seu próprio país. Os resultados dessa pesquisa, encontramos somente uma
produção de dissertação de SILVA (2019) com os sinais-termos referentes ao Axé, Orixás, Ogum,
Oxossi, Oxumaré, Oxum, Xangô, Yemanjá, Oxalá, Ewá dentre outros da nação Ketu/Nagô, como
instrumento didático contribuindo com o ensino da História da África nas escolas inclusivas e nas
pluralidades trilíngues.
Assim como as diversas línguas espalhadas pelo mundo, a Língua Brasileira de Sinais - Libras possui
características partilhadas com outros sistemas linguísticos, entre eles, a variação – que decorre de
fatores intra e extralinguísticos. Nessa perspectiva, este trabalho objetiva discutir e comparar a
variação linguística presente na Libras no campo semântico profissões, investigando os itens
lexicais bombeiro, policial, advogado, enfermeiro, dentista e motorista. Ademais, propõe uma
pequena análise contrastiva entre os sinais pertencentes a essa área e que estão registrados no
Dicionário da Língua de Sinais do Brasil (CAPOVILLA et al., 2017) e os sinais utilizados no dia a
dia em São Luís do Maranhão. Para tanto, apresentamos um percurso teórico que permite
compreender a variação linguística de maneira geral e sua importância dentro do funcionamento
de uma língua (POLGUÈRE, 2018; LABOV, 2008; QUADROS KARNOPP, 2004; SAUSSURE,
2012; COELHO et al., 2015; BORTONI-RICARDO, 2014); em seguida, abordamos a
metodologia quantitativa e qualitativa utilizada para a coleta dos dados dispostos neste artigo,
consistindo em: levantamento da bibliografia especializada, seleção do campo semântico e dos itens
lexicais a serem pesquisados, elaboração de questionário e termo de livre consentimento, aplicação
do instrumento de pesquisa, recolha dos sinais e análise comparativa dos dados obtidos. Por último,
analisamos, brevemente, os resultados obtidos até então e apresentamos o glossário produzido com
as variantes catalogadas no decorrer dessa pesquisa. Esperamos com essa pesquisa contribuir com
a área, aplicando os pressupostos da sociolinguística, da lexicologia e da lexicografia no registro e
na compreensão da Libras.
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida oficialmente pela Lei 10.436/2002 e
regulamentada como disciplina obrigatória nos cursos de formação de professores, Licenciaturas,
Fonoaudiologia pelo Decreto 5.626/2005. O Decreto regulamenta também sobre Tradutor e
Intérprete Língua de Sinais (TILS) no ambiente escolar para ajudar na inclusão e acessibilidade
linguística dos alunos surdos. A presença do profissional Tradutor Intérprete de Libras, tem a
função de mediar à comunicação, informações e ensino de conteúdos entre professores e alunos.
Sendo assim este trabalho tem o objetivo de verificar as mudanças na atuação do TILS no contexto
de ensino médio e superior do Instituto Federal do Maranhão, no campus Maracanã. A
metodologia foi exploratória e qualitativa baseada em observação, os dados foram fundamentados
nos autores Lacerda (2010); Quadros (2003); Caetano (2014). Percebemos que a presença do
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A busca incessante pela palavra que revela os impulsos de um certo eu em crise, em detrimento do
avanço tecnológico, aguça em poetas brasileiros estados variáveis de sensações e emoções
insistentes. A reprodução de imagens dessas sensações e emoções cambiantes parece adentrar a um
mundo fraturado, conflituoso, em que o experimentalismo se apresenta como recurso poético que
melhor traduz esse retrato. Assim, visa-se confirmar a potência do experimentalismo, tomando-se
o poema Contagem Regressiva (2013), de Ana Cristina Cesar, como exemplo ímpar, em que esse
recurso poético é perceptível, já que por meio dele, Cesar, ao desvelar conflitos existenciais do eu
lírico, desprende-se, parcialmente, da fórmula tradicional do fazer poético e lança-se à mistura de
diversos gêneros, denotando explorar, de modo confessional e autêntico, os embates desse eu que
transita entre o passado e o presente, sufocado por uma materialidade singular, pertencente às
experiências fugazes do cotidiano, que é passível de compreensão dada a frequente fragmentação
dos versos. Com a intenção supracitada, os estudos de Agamben (2016), Bosi (2015), Paixão (2014),
Moisés (2003), Siscar (2010) e Helder (1964) são necessários para o entendimento do
experimentalismo na poesia da segunda metade do século XX. Além desses estudiosos, o ensaio
da crítica literária Bosi (2013), e os artigos de Silva (2016) e Cernicchiaro (2010) também servem
de suporte teórico para se atingir o objetivo proposto.
Os contos de fada permeiam o imaginário popular e encantam tanto crianças quanto adultos há
várias gerações. O objetivo deste trabalho é, através de uma pesquisa bibliográfico-qualitativa
utilizando o método dedutivo aliado a fenomenologia, analisar a forma como o espaço é percebido
no decorrer do conto Ondina, de Friedrich de La Motte-Fouqué e de que maneira as experiências
e os sentimentos das personagens principais influenciam no processo de percepção do espaço e
em suas concepções particulares de lugar. Analisar-se-á também o mútuo processo de influência
que ocorre entre os diferentes espaços das obras e as personagens através das experiências pessoais
dos protagonistas com o ambiente. Dessa forma, será traçado um paralelo entre Literatura e
Geografia a partir do viés humanista-cultural. A Geografia Humanista Cultural procura
compreender o ser humano através do seu comportamento, das suas reações e sentimentos em
85
relação a um determinado ambiente físico. Para melhor análise dos contos, serão utilizados
conceitos desenvolvidos pelos seguintes teóricos: Yi-Fu Tuan, Eric Dardel e Edward Relph. A
escolha desse conto em particular ocorreu porque nele é possível perceber com clareza a influência
que o espaço possui em relação ao estado emocional e ao comportamento das personagens. Além
disso, em diversos momentos dessas narrativas, a paisagem é responsável por influenciar também
nas decisões que as personagens tomam e por auxiliar no desenvolvimento do enredo.
Palavras-chave: Contos de fada; Espaço; Lugar; Análise literária; Geografia Humanista Cultural.
Este trabalho se propõe a analisar a obra Beira Rio Beira Vida, de Assis Brasil, sob a perspectiva
da Melancolia, considerando a relação desse aspecto com o espaço na narrativa. Sabe-se que, os
romances neorregionalistas, em sua maioria, são caracterizados pela presença de algumas
singularidades como a autonomia feminina das personagens, a questão do espaço como
coparticipante, dinâmico e predominantemente urbano, somadas a narrativa memorialista como
instrumento de resistência à padronização cultural. Essas características, juntamente com a
manutenção de elementos herdados da tradição regionalista modernista, possibilitam uma relação
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de solidariedade firmada entre o político e o literário. Outro aspecto importante diz respeito a
universalidade dessas obras, que se dá ao expor questões inerentes ao homem, independente do
aspecto geográfico. Nesse sentido, em Beira Rio Beira Vida é possível observar problemas que se
configuram a partir de um contexto social definido, a cidade de Parnaíba (PI), mas que possuem
um caráter universal impressionante. Por consequência, nota-se a presença, por exemplo, de traços
do temperamento melancólico na personagem Mundoca no decorrer da narrativa. Deste modo, o
objetivo é analisar como a presença de marcas típicas da afecção melancólica influencia os vínculos,
decisões e conflitos vivenciados pela personagem, bem como a sua relação com o espaço. Em vista
disso, pretende-se abordar essa escritura permeada por dilemas universais, focalizando o aspecto
melancólico, considerando o modo como este problematiza a questão do espaço com a
personagem. Assim, busca-se compreender as ligações e desdobramentos da melancolia com outras
particularidades dos romances neorregionalistas na obra de Assis Brasil. A presente pesquisa
caracteriza-se, essencialmente, como bibliográfica. Para tanto, é feita a seleção de alguns momentos
da narrativa e o uso de autores como: Brito (2017), Burton (2011), Cordás e Emílio (2017), Magtaz
(2008), entre outros.
A velhice concebe o estado de maturação do homem, pois ela agrega a experiência e a memória
além de encerrar e iniciar o ciclo da vida humana. Tomando como ponto principal a imagem do
idoso na literatura, o presente trabalho tem como objetivo analisar a obra O albatroz azul (2009)
do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro e traçar um paralelo com A parábola do cágado velho
(1996) de Pepetela, autor angolano, pautando-se na corrente da Geografia Humanista Cultural que,
dentre outros aspectos, também investiga a perspectiva do existencialismo. Em tais obras, observa-
se o papel que o idoso representa na sociedade em que está inserido como também o processo de
transmutação da vida ao ser representado por dois animais: o albatroz azul e cágado velho, símbolos
de transcendência e experiência. No intuito de sondar como se operam esses conflitos nas duas
narrativas em questão, busca-de fundamentar esta pesquisa em teóricos como Yi-Fu Tuan (1983),
Simone de Beauvoir (1990), Sartre (1987), entre outros. Com base nesse pressuposto, entende-se
que a velhice possui características específicas que dão ao indivíduo novas maneiras de perceber e
ser percebido pelo mundo, configura um modo particular da “experienciar” a existência. Portanto,
evidenciar o idoso na literatura significa dar representatividade a uma figura que em muitos sentidos
se torna, por vezes, esquecida.
Este artigo se propõe a analisar a obra Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, sob a ótica
da Dialética da Marginalidade, de João Cezar de Castro Rocha. A Dialética da Marginalidade, tal
como formulada por João Cezar, tem como principal finalidade discutir uma emergente tendência
literária contemporânea na qual o personagem opta pela oposição e o confronto diante das mazelas
de sua sociedade, buscando na exposição dos problemas um meio de direcionar o olhar da parcela
da sociedade que ignora ou desconhece tais conflitos que afetam os sujeitos marginalizados. Já
Carolina Maria de Jesus busca em seu livro expor a sua rotina diária como moradora de favela em
situação de extrema pobreza, relatando em forma de diário toda a dificuldade de viver e criar os
três filhos sozinha, sem emprego e num ambiente hostil e violento que era a hoje extinta favela do
Canindé, no estado de São Paulo. Visto isso, o objetivo deste artigo é encontrar na obra e na teoria
momentos ou conceitos que dialoguem entre si, demonstrando como ambos os trabalhos se
relacionam e se complementam, pois os escritos de Carolina servem como exemplo e base para a
teoria de João Cézar, e ao mesmo tempo, a dialética se apoia em obras como o Quarto de Despejo
para evidenciar sua teoria. Esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica. Assim, foram
selecionados alguns trechos da obra, além dos autores: Cândido (2011), Pellegrini (2004), Rocha
(2007), e Rosset (1989).
O SURDO (SÓ) TEM UMA LÍNGUA?: IMAGINÁRIOS SOBRE LÍNGUA (E) LIBRAS
EM SITES DE MINISTÉRIOS DE SURDOS
A Língua Brasileira de Sinais é uma língua espaço-visual, oficializada em 24 de abril de 2002 pela
Lei nº 10.436. A partir desta data, a Libras tornou-se a segunda língua oficial do Brasil. Anos depois,
após a Libras foi inclusa com disciplina nos cursos de licenciatura e de Fonoaudiologia através do
Decreto nº 5626 de 2005. Por se tratar de uma língua natural, que responde a uma necessidade
comunicativa de um grupo de indivíduos, esta língua sofre as influências culturais, geográficas,
econômicas em cada localidade e/ou grupo social em que é utilizada. Por ser um país multicultural,
o Brasil apresenta, em suas línguas oficiais: Língua Portuguesa e Libras, as variações linguísticas,
que possibilitam a expressão da identidade dos falantes de cada região. Sabe-se que essa diversidade
lexical se dá através de determinadas variantes, tais como: grupo social, escolaridade, sexo, idade,
profissão, localidade e outros. Na Libras, há um mito entre os falantes, a existência de sinais errados
e sinais certos e esta pesquisa busca contrapor esta informação utilizando como foco a variação
linguística na Língua Brasileira de Sinais. Para o embasamento teórico, foram consultados os
seguintes autores, Labov, Tarallo, Quadros, Karnopp, Bagno e outros. Por se tratar de uma
pesquisa qualitativa, a pesquisadora aplicou um questionário com seis surdos associados da ASMA,
localizada no bairro do Monte Castelo, na cidade de São Luís - Ma, no segundo semestre de 2019.
Por uma questão de segurança, os informantes tiveram seus nomes ocultados, sendo substituídos
por numerais e assinaram o TCLE. Os dados obtidos foram que ainda há uma certa resistência dos
surdos em relação à variação linguística na Língua de Sinais, pois alguns participantes reforçaram a
questão do "erro" em algumas execuções de sinais apresentadas, afirmando ser necessário uma
padronização dos sinais.
Rubens Figueiredo é um dos mais notáveis autores da atual ficção brasileira, sua obra, em princípio
dedicada ao romance policial, apontou, a partir da década de 1990, para tendências como o
Fantástico, a Metaficção e jogos em torno do Duplo, temas recorrentes na literatura, mas que são
tratados com maestria por Figueiredo. Destarte, mapear as tendências da atual ficção brasileira a
partir da década de 1980 – que apresenta diferenças marcantes para a literatura produzida durante
o regime militar – é basilar para que se possa compreender o que seja a ficção brasileira hoje. Assim,
o presente artigo estuda o livro de contos As palavras secretas (1998), de Rubens Figueiredo, a
partir das noções ligadas ao Fantástico. Por conseguinte, tem como objetivos: realizar uma
apresentação biobibliográfica do escritor para assim compreender as questões presentes em sua
obra, inserindo-o no contexto da literatura brasileira contemporânea; e analisar aspectos como o
fantástico, os jogos com o duplo, a metaficção e a noção de indecidibilidade (no sentido de Derrida)
como aspectos centrais da estética de Figueiredo. Dessa forma, a presente pesquisa, por ser
bibliográfica, apoia-se, metodologicamente, em investigações de autores como: Costa Lima (2002),
Coutinho (1997), Pereira (2007), Rosenfeld (1996), Santiago (2002), Süssekind (2003), Sá (2003),
Todorov (2014), entre outros.
A comunicação oral que se pretende apresentar é resultado parcial de uma pesquisa que têm por
objetivo analisar, através dos Relatórios de Estágio Supervisionado, a constituição do perfil de
estudantes do curso de Letras – língua inglesa e respectivas literaturas. Para tanto, será utilizada,
como aporte teórico, a Análise do Discurso Crítica (ADC), que tem como fundador Fairclough
(1999). A produção deste trabalho, ainda em construção, sustenta-se, ainda, nos trabalhos de
pesquisadores da ADC como Resende e Ramalho (2006), considerando os processos
metodológicos empregados no livro A Análise de Discurso Crítica, das referidas autoras. Portanto,
esta pesquisa de cunho bibliográfico considera a linguagem como uma forma de prática social e de
construção identitária. Para a realização do estudo, serão analisados alguns relatórios produzidos
por estudantes de Letras, Língua Inglesa, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) –
Campus Paulo VI, na condição de estagiários da disciplina, durante o primeiro semestre do ano de
dois mil e dezenove (2019), considerando a composição genérica; os modos de operação
ideológicos relacionados aos significados acional, representacional e identificacional, bem como o
grau de comprometimento dos participantes com o que enunciam no discurso materializado nesses
relatórios. Portanto, este trabalho, justifica-se pela necessidade de analisar como os discursos atuais
sobre o “ser professor de língua inglesa” são construídos, mantidos ou modificados pelos discentes
e como essa imagem reflete, contribui ou propaga as representações sociais. Será, portanto, uma
análise dos efeitos de sentidos inscritos nos discursos dos estudantes sobre seu percurso na
Academia.
Este trabalho possui o intuito de analisar a questão arquetípica presente na obra Clube da Luta de
Chuck Palahniuk, mais especificamente a manifestação do arquétipo da persona e da sombra. A
pesquisa baseia-se na colaboração teórica da psicanálise de Carl Jung, mais especificamente nos
princípios debatidos em suas obras Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (1959), juntamente com
os ideais de Murray Stein encontrados em seu livro Mapa da Alma (1998). A metodologia usada no
desenvolvimento desse artigo é inteiramente bibliográfica e utiliza a obra de Chuck Palahniuk,
primeiramente publicada em 1996, como corpus principal da pesquisa. Neste sentido, este trabalho
propõe uma análise psicanalista dessa obra literária, focando no comportamento apresentado pelo
narrador-personagem e o personagem Tyler Durden e a relação deles com a sociedade. Buscamos
estabelecer a ligação entre as personagens de Palahniuk e os princípios psicanalíticos de Jung.
O objetivo deste estudo é realizar uma análise das representações da autonomia das personagens
femininas em Os tambores de São Luís, de Josué Montello. Trata-se de um estudo bibliográfico
baseado na teoria do Neorregonalismo Brasileiro de Brito (2017). As questões relacionadas ao papel
da mulher na sociedade remontam a épocas longínquas, segundo Zolin (2005) foi por volta dos
anos 60, com o desenvolvimento do pensamento feminista, que a mulher foi tomada como objeto
de estudo, em diversas áreas do conhecimento, dentre elas na literatura. Este trabalho justifica-se
pelo fato desta temática ser de grande valia para o campo literário, contribui para a consolidação
da crítica feminista e visa colaborar na quebra de paradigmas, que foram erroneamente instituídos
e arraigados no inconsciente coletivo que geram todos os preconceitos aos quais por anos foram e
são disseminados sobre a mulher. Em Os Tambores de São Luís, as personagens que representam
a autonomia feminina são: Miduca, representação da autonomia feminina sob a ótica da
sexualidade, Genoveva Pia representa a luta e resistência às adversidades as quais as mulheres
negras eram submetidas, Santinha companheira de luta de Genoveva que retrata o aspecto de
resistência e vingança e Benigna que figura o domínio do seu corpo e suas vontades. Conclui-se
que em Os tambores de São Luís temos diversas representações de autonomia feminina, cada uma
com sua singularidade e todas com o mesmo objetivo: o enfrentamento ao poder masculino, todas
as personagens representam a luta e resistência na desconstrução de valores erroneamente
atribuídos ás mulheres. A autonomia feminina é um aspecto importante de análise, porque expõem
as mudanças históricas sociais que as mulheres têm passado em suas trajetórias, embora não sejam
unicamente protagonistas da narrativa , por meio dessas personagens Montello (1976) consegue
transmitir a importância da mulher negra nas enfrentações sociais, e estas constituíram-se
elementos essenciais às conquistas alcançadas pelo herói Damião na luta contra escravidão.
Sendo a literatura um veículo para a disseminação e perpetuação de discursos, ter uma mulher negra
que constrói narrativas que quebram com certos estereótipos é revolucionário. Em Kindred – laços
de sangue, a autora norte-americana Octavia Butler utiliza o expediente ficcional para propor a
redescrição de alguns estereótipos de representação relacionados à mulher negra. Ao colocar Dana,
uma mulher negra, contemporânea dos anos de 1970 para viajar no tempo até uma Maryland do
século 19 e, com olhos modernos, vivenciar e observar a escravidão, a autora rompe com certo
imaginário relativo aos escravizados que ainda reverberam culturalmente. Grande dama da ficção
científica, Octavia desloca a narrativa do plano do “real”, através do recurso da viagem no tempo,
para escrever um romance-resposta à afirmação de que os negros eram dóceis e submissos, e assim
coloca em evidência os espaços permitidos e ocupados pelas pessoas negras, ao mesmo tempo que
propõem discussões sobre representação, poder e sobrevivência por meio da personagem principal,
Dana. Partindo das discussões propostas por Evaristo (2009), hooks (2019), Davis (2006) e Jardim
(2016) sobre a representação da mulher negra na literatura e estereótipos racistas, este trabalho
objetiva analisar como Octavia Butler subverte os estereótipos e os redescreve em Kindred - laços
de sangue, não só na figura da protagonista mas também na figura da autora, que ocupa espaços
91
na literatura de ficção científica em geral destinados a autores brancos. Sendo sua produção literária
repleta de narrativas em que ela dá voz a quem é e foi silenciado na história e nas produções
artísticas e que questiona as dinâmicas de poder, pode-se dizer que além de um projeto estético
Butler também possui um projeto político.
Palavras-chave: crítica feminista; Octavia Butler; estereótipos; literatura norte-americana.
O trabalho tem como ênfase as experiências e resultados da “contação de histórias” com crianças
da Rede Pública Municipal da cidade de São Francisco - MA. Ações que iniciaram por meio do
Projeto “Leitura Interativa, Escrita e Oralidade”, com parceria da Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Estudantis - PROEXAE, o Programa Institucional Mais Extensão Universitária da
UEMA, O Governo do Estado do Maranhão e a Secretaria de Educação do Município
mencionado. O projeto é orientado e coordenado pela professora “Edite Sampaio Sotero Leal” e
conta a participação de três discentes do curso de Letras – Português da UEMA, campus de Timon
(CESTI). No intuito de contribuir para a elevação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
do município mencionado fortalecendo os hábitos de leitura, escrita e expressão oral por meio da
contação de histórias nas séries do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal
Senador Bernardino Viana, essas ações visam agregar a criticidade, ludicidade, identidade e a
imaginação na vida do ser humano tendo como interação social a “contação de histórias”. As
atividades são realizadas por meio de oficinas de teatro de bonecos, caixa Lambe-lambe, dedoches,
slides, dentre outras atividades interativas e/ou pedagógicas com objetivo de suscitar o gosto pela
leitura e contribuir na criticidade intelectual e coletiva do indivíduo. Utilizou-se como referencial
teórico os autores Marcuschi (2010), Rojo (2009), Koch (2011) e outros de igual importância.
Contudo, espera-se contribuir na elevação do IDH, com as práticas de escrita, leitura, oralidade e
demais recursos utilizados nesse processo de aprendizagem.
A interação social no ambiente escolar pode ser realizada por meio da confecção de jornal escrito.
Sabe-se que o jornal impresso é um meio de comunicação de pouco uso no contexto atual,
entretanto ainda existe e é um suporte comunicacional com muitos gêneros textuais diferentes que
podem ser utilizados nas aulas de Língua Portuguesa como incentivo para leitura e produção
textual. Os textos jornalísticos podem servir para o estudo das normas gramaticais, bem como para
o estudo da interpretação e análise de textos. Nesta perspectiva, o trabalho aqui proposto é
resultado de um projeto de extensão da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA
desenvolvido numa escola urbana municipal de Timon intitulado “O Jornal na Escola: Uma
proposta para o Ensino de Língua Portuguesa”. O projeto iniciou em setembro de 2018 e encerrou
em setembro de 2019, tendo como objetivo geral “possibilitar aos alunos o conhecimento, a leitura,
a interpretação e a produção dos gêneros jornalísticos, dando importância como a Língua
92
Portuguesa é veiculada nos jornais impressos”. A metodologia foi realizada paulatinamente com
leitura de jornais, caracterização dos gêneros textuais presentes no jornal, recortes dos textos do
jornal aos olhos dos alunos e produção de textos jornalísticos. Com um ano de projeto na escola
municipal Nazaré Rodrigues, foi possível vislumbrar alunos do 7º ano lendo jornal com interesse
e escrevendo textos similares aos textos que circulam nos jornais impressos. Ao término do projeto,
um jornal escolar foi feito com textos dos alunos e exposto no mural da escola causando orgulho
em todos que tiveram seus textos publicados. Constatou-se, portanto, que usar metodologias que
despertem nos alunos curiosidade, criatividade, interação, sobretudo desperte em cada um o gosto
pela leitura, pois ler bem e escrever são portas abertas para liberdade intelectual e, obviamente,
ascensão social. Utilizou-se como referencial teórico os autores MARCUSCHI (2010), ROJO
(2009), KOCH (2011) ANTUNES (2003). Por fim, projetos assim suscitam o letramento em
alunos que necessitam melhorar a leitura, a interpretação de textos e a escrita.
A inspiração em utilizar o grifo como um dos animais fantásticos em seu romance Avalovara, partiu
ou se confirmou, ao que tudo indica, de um desenho que se encontra dentre os papéis de Osman
Lins, dispostos para pesquisa no Arquivo da Casa de Rui Barbosa. Na imagem, vê-se um grifo
composto por outros seres – descrição disposta, inclusive na linha narrativa A, em que o grifo
osmaniano aparece com mais frequência. Para além do desenho mencionado, e com base na
descrição no Dicionário de Símbolos que se adequa particularmente bem à forma osmaniana de
ordenação: “Simbolizam a força e a vigilância, mas também o obstáculo a superar para chegar ao
tesouro”. Para Osman Lins em Avalovara, a provável inspiração a partir tanto da simbologia ligada
ao medievo e sua arte, quanto ao texto de Dante se confirma na inclusão do ser mitológico no
romance. Portanto, a partir de estudo minucioso na simbologia do grifo, apresentarei a análise do
romance de Osman Lins.
O presente artigo tem como objetivo analisar a canção “Infinita Highway”, composta por
Humberto Gessinger, da banda Engenheiros do Hawaii. Como uma ferramenta teórica utilizamos
a semiótica enquanto método de análise. Dentro da ciência dos signos, Luiz Tatit (2001, 2002,
2003) foi a principal base teórica da pesquisa, tendo em vista a aplicação da sua conhecida semiótica
da canção. Torres (2014) e Wisnik (2017) foram outros teóricos que compuseram o estudo.
Constatou-se nesta pesquisa bibliográfica que Humberto Gessinger, compositor e vocalista, deu
voz a um eu-lírico que imprime na canção uma metáfora da estrada representando o curso da vida
humana, elencando fatores como a incerteza, a efemeridade das coisas e a busca pelo prazer unidos
a um andamento musical contínuo. Ademais, letra e melodia, componentes essenciais da linguagem
93
As lendas são relatos folclóricos transmitidos oralmente. Segundo Silva (2016) esse tipo de narração
costuma servir para explicar algum acontecimento histórico ou de uma determinada comunidade.
94
As histórias são fantásticas e são criados elementos de ficção que podem ser baseados em algum
acontecimento histórico. A Lenda do Boto, proveniente da cultura oral da Região Amazônica do
Brasil, é uma estória que mescla ambientes naturais e míticos, instigando a curiosidade e imaginação
do povo principalmente, de região ribeirinha, onde se passaria a narrativa. Segundo a lenda, um
boto transformado em homem aparece em noites de festa e logo após seduzir as mulheres
desaparece. Este trabalho tem como objetivo, analisar a relação da referida lenda com dois
fenômenos sociais recorrentes: a violência contra a mulher e o abandono paterno na população
brasileira. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa e bibliográfica. Em função do
nosso objetivo principal, optamos por adotar como eixo teórico central a crítica feminista de Zolin
(2009) e a crítica sociológica de Candido (1985), a fim de explicitar de que forma a narrativa reafirma
a cultura de violência sobre o corpo e o psicológico da mulher brasileira, e ainda, como A Lenda
do Boto pode ser usada como explicação para a ausência da figura paterna no seio familiar; uma
vez que, de acordo com a lenda, se uma criança “não tem” um pai, é “filha do boto”, dando margem
à negligência de abandonos e, muitas vezes, questões acerca da violência física e abuso sexual contra
as mães. A paternidade do boto pode ser assimilada, também, em casos de negação da paternidade
pelos próprios familiares, como em casos de estupro por pessoas próximas, parentes, religiosos ou
pessoas de maior prestígio social, fatos que precisam ser omitidos da sociedade por questões
morais, de segurança ou de poder, analisados à luz da crítica sociológica de Cândido (1985).
A obra A Metamorfose (1915) de Franz Kafka é vasta em temáticas e ao mesmo tempo complexa
e instigante para os estudos críticos literários. Logo em suas primeiras linhas, um acontecimento
estranho em relação ao personagem principal da narrativa acontece: “Uma manhã, ao sair de um
sonho agitado, Gregório Samsa acordou transformado em seu leito num verdadeiro inseto” (p. 7),
causando certa hesitação e curiosidade no leitor. Nessa perspectiva, esse trabalho objetiva realizar,
de forma categórica, um estudo acerca do gênero adotado pelo autor com intuito de analisar o
discurso do narrador dentro do contexto literário do fantástico. Além disso, será feito um estudo
reflexivo em relação à perspectiva do narratário, buscando esclarecer a simulação do processo
comunicativo que é utilizada na novela. Espera-se com isso, esclarecer a visão do narrador na
narrativa Kafkiana. Para fundamentação dessa análise, será utilizado os contributos do autor David
Roas em seu livro A ameaça do fantástico (2014), Tzvetan Todorov em sua obra Introdução a
Literatura Fantástica (1975) e também as contribuições da autora Ligia Leite com suas reflexões
teóricas em O Foco Narrativo (1985). Dessa forma, pretende-se, com essa abordagem contribuir
para os estudos literários sobre a obra de Kafka que demonstra ter um campo extremamente vasto
para estudos dentro do foco narrativo e do fantástico.
Este trabalho tem o objetivo de analisar o romance Piquenique na Estrada (2017), dos irmãos Bóris
e Arkádi Strugátsky, tendo como mote de discussão as questões ligadas às formas simbólicas nas
quais o fenômeno religioso da fé, mais precisamente o da sua vertente de expressividade mística,
confronta com a ciência, tal qual subjugada ao gênero de ficção científica, enquanto poder instituído
que permeia toda a atmosfera da obra em questão. Assim, procura-se compreender como o enredo
da trama promove um amplo debate acerca do conflito racional/irracional, físico/metafísico,
espiritual/material e ciência/fantasia, no intuito de demonstrar que a abnegação e o auto sacrifício,
como visto em vários momentos do enredo e nos atos actanciais do personagem principal do
romance objeto de estudo, conduzem a um conhecimento possível e acessível apenas pela via
negativa, do não-dizível e não lógico-racional, presente, não por acaso, nos caracteres imbuídos na
religião ortodoxa russa. De modo a dar conta de tais discussões, elenca-se como referencial teórico
para a pesquisa os pressupostos teóricos de autores tais como SUKHANOVA (2017),
NEMKOVA (2017), KONOVALOVA (2014), AFANASYEV e VORONIN (2016), bem como
na fortuna crítica strugástkyana, como EVDAKOVA e NAYDENKO (2015), RUSANOVA
(2010), AKHMEDOV (2016) e POTTS (1991). A pesquisa concluiu que a narrativa dos irmãos
Strugátsky reflete, qual uma alegoria, os limites e questionamentos do homem em sua existência,
que ora se deixa pender a uma vocação e crença no humanismo tecnológico-científico,
materializado nas conquistas da corrida espacial soviética, mas que ora recai aos liames e diretrizes
de uma experiência menos racionalista e mais aberta ao mysterium tremendum, que o aterroriza e
o angustia justamente por colocar em questão respostas que à ciência coube, até então, o
silenciamento.
96
Este trabalho nasceu da ideia de repensar as produções de ficção científica como um estudo sobre
as subjetividades dos sujeitos e entender o corpo como um campo de batalha entre forças internas
e externas. Dentre as possibilidades de análise, tomamos como representante o livro 1 da série
antológica Wild Cards (2013), organizada por George R.R. Martin; mais especificamente, o capítulo
intitulado ‘O Dorminhoco’, escrito por Roger Zelazny. Esta escolha foi feita a partir da ideia de
que um corpo adolescente é um corpo em mutação. Para que esse estudo se concretize, o dividimos
em duas seções: num primeiro momento, investigamos as teorias relacionadas ao corpo aberrante,
ou body horror, nas produções de ficção científica; o segundo momento é reservado à análise do
capítulo ‘O Dorminhoco’, propriamente dita. Nesse segundo momento, cotejamos as experiências
de mutações corporais vivenciadas pelo personagem Croyd Crenson com estudos sobre as
possíveis transformações experienciadas na adolescência. Para fundamentarmos o conceito e os
limites do body horror, nos utilizamos de CRUZ (2012), BOOKER (2001) e REYS (2014). Para
entendermos melhor o que é adolescência e como o corpo de um sujeito experiencia as mutações
internas e externas, utilizamos, principalmente, GROSSMAN (2010) e KNOBEL (1971).
Consideramos esta pesquisa não só relevante para os estudos a respeito da corporalidade dos
sujeitos sociais, mas também para repensar a ficção científica como uma forma de repensar
questões psicossociais.
Perspectivando o conto de fadas A Bela e a Fera e o contexto histórico que perpassa um apanhado
de narrativas que vai desde o mito Eros e Psique (Século II d.C.) até a versão de Madame de
Beaumont (1757), e, contemporaneamente, readaptado pela Disney (1991) – que transformou o
conto em um longa de animação mundialmente conhecido –; este trabalho objetiva analisar a
importância da Literatura Infanto-Juvenil quando da formação do caráter estético da criança.
Compreendemos que segundo Soares (1999), tal literatura auxilia na tentativa de enfrentamento de
questões fundamentais da existência humana tais como: o medo, a morte, o abandono e a
sexualidade que constituem a identitária infantil e a confronta em seu cotidiano. Partindo dessa
concepção, metodologicamente, este trabalho de natureza bibliográfica, busca compreender o
erotismo e a percepção do feminino a partir da personagem Bela. Nesse sentido, selecionamos duas
versões da história: o mito de Eros e Psique de Apuleius (Século II d.C.) e a versão de Madame
Villeneuve (1740), cujas nuances eróticas são mais perceptíveis; afim de fazermos uma comparação
97
com o longa de animação da Disney (1991) para analisarmos de que forma essa animação
representa o erotismo no mundo infantil. Para tanto, utilizaremos os pressupostos teóricos de
Freud (1900/1980), que aborda a formação do inconsciente através do sonho que busca revelar e
reorganizar o aspecto da vida infante e cotidiana pela abertura do ego e acerto entre instâncias
psíquicas – enquanto oferecem roupagens inofensivas. Também, os estudos de Dieckman (1986),
que infere sobre o conto de fadas ser similar ao sonho, uma vez que nos contos ‘acontecem coisas
extraordinárias’ - impossíveis para o pensamento racional; e as contribuições de Von Franz (1990)
que perspectiva a aquisição do feminino, para identificarmos o processo de constituição da
representatividade do feminino ao longo da história. Dentre outros autores, abordaremos também,
as ideias de Bettelheim em seu entendimento de que a fantasia pode fazer a infância transcender,
conceito que categoriza nosso pensamento acerca da importância dos contos de fadas na
construção de uma experiência estética da criança com o texto literário.
Perspectivando o conto de fadas A Bela e a Fera e o contexto histórico que perpassa um apanhado
de narrativas que vai desde o mito Eros e Psique (Século II d.C.) até a versão de Madame de
Beaumont (1757), e, contemporaneamente, readaptado pela Disney (1991) – que transformou o
conto em um longa de animação mundialmente conhecido –; este trabalho objetiva analisar a
importância da Literatura Infanto-Juvenil quando da formação do caráter estético da criança.
Compreendemos que segundo Soares (1999), tal literatura auxilia na tentativa de enfrentamento de
questões fundamentais da existência humana tais como: o medo, a morte, o abandono e a
sexualidade que constituem a identitária infantil e a confronta em seu cotidiano. Partindo dessa
concepção, metodologicamente, este trabalho de natureza bibliográfica, busca compreender o
erotismo e a percepção do feminino a partir da personagem Bela. Nesse sentido, selecionamos duas
versões da história: o mito de Eros e Psique de Apuleius (Século II d.C.) e a versão de Madame
Villeneuve (1740), cujas nuances eróticas são mais perceptíveis; afim de fazermos uma comparação
com o longa de animação da Disney (1991) para analisarmos de que forma essa animação
representa o erotismo no mundo infantil. Para tanto, utilizaremos os pressupostos teóricos de
Freud (1900/1980), que aborda a formação do inconsciente através do sonho que busca revelar e
reorganizar o aspecto da vida infante e cotidiana pela abertura do ego e acerto entre instâncias
psíquicas – enquanto oferecem roupagens inofensivas. Também, os estudos de Dieckman (1986),
que infere sobre o conto de fadas ser similar ao sonho, uma vez que nos contos ‘acontecem coisas
extraordinárias’ - impossíveis para o pensamento racional; e as contribuições de Von Franz (1990)
que perspectiva a aquisição do feminino, para identificarmos o processo de constituição da
representatividade do feminino ao longo da história. Dentre outros autores, abordaremos também,
as ideias de Bettelheim em seu entendimento de que a fantasia pode fazer a infância transcender,
conceito que categoriza nosso pensamento acerca da importância dos contos de fadas na
construção de uma experiência estética da criança com o texto literário.
Considerado um dos grandes nomes da literatura africana de língua portuguesa, bem como um dos
maiores prosadores de Moçambique, Mia Couto, através de uma linguagem irreverente e peculiar,
utiliza a sua literatura para apresentar ao público a inigualável cultura de seu país. Sendo marcada
pelo maravilhoso e sutil neologismo, sua produção prosaica propõe um novo olhar sobre o
indivíduo e o modo de vida moçambicano, além de defender a autenticidade de seu povo, isto é, a
100
“moçambicanidade”. Considerando esses aspectos, articula-se uma observação para o seu romance
“Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, onde, num retrocesso às origens, a narrativa
revela, através do personagem Marianinho, a construção do sujeito mediante as tradições de uma
família. É nesse processo que se constitui a valorização da identidade, levando em consideração as
situações de estranhamento e mistério às quais o protagonista é submetido. Baseado nas condições
da construção do sujeito segundo Hall (1997) e de identidade conforme Bauman (2005), promove-
se a discussão de como os diálogos e a convivência de indivíduos, uma vez distanciados pelo tempo
e pelas condições de vida adversas, constituem novas formas de estabelecer-se no mundo, além de
averiguar o comportamento dos indivíduos ao longo da narrativa, bem como a peculiaridade destas
ações, constituindo diferentes rumos para cada um dos personagens, trazendo o desvendamento
da história e tomando como segmento maior o modelamento da identidade do sujeito a partir da
relação entre os personagens e a influência de visões de mundo apresentadas pelos indivíduos ali
presentes, regida pela busca de se entender, de fato, o que é e como se constitui o verdadeiro eu.
Este trabalho consiste na análise crítica do poema Me gritaron negra (1960), da peruana Victoria
Santa Cruz, cujo objetivo é incitar reflexões sobre o racismo enquanto um sistema de opressão que
influencia diretamente o processo de construção da identidade negra. A presente discussão
apresenta-se sob o viés audiovisual e bibliográfico, valendo-se, para além da obra literária, de
estudos desenvolvidos por Márcia Cristina Costa Pinto e Ricardo Franklin Ferreira no artigo
Relações Raciais No Brasil e Construção da Identidade Da Pessoa Negra (2014), do ensaio Peles
negras, máscaras brancas (2008) de Frantz Fanon e também do videoclipe de interpretação do
poema, protagonizado pela própria autora. Me gritaron negra é um poema histórico que se tornou
símbolo da luta contra o racismo no Peru e atingiu proporções mundiais pela sua representatividade
nos debates sobre as relações étnico-raciais. O poema retrata a experiência de uma mulher negra
que precisa lidar com os episódios de racismo desde a sua infância, quando ainda não tinha
compreensão sobre as ações danosas desse sistema e sobre os impactos que o mesmo causaria em
toda a sua vida. A narrativa traz, de maneira muito verossímil, a trajetória do processo de
construção da identidade de uma mulher negra, que transita desde o não (re)conhecimento até a
autoafirmação e aceitação de si mesma alicerçados em aspectos históricos, sociais, culturais,
psicológicos e estéticos.Nesta narrativa, ela, que é um ser historicamente silenciado, tem voz,
espaço e oportunidade para contar a história do seu ponto de vista, falar de suas dores, anseios e
conquistas. No entanto, este "eu" ( mulher negra ) aparece em conflito constante com o outro (
o branco ), que a todo momento tenta apagar seu lugar de fala. Faz-se importante ressaltar que o
contexto está associado à individualidade de uma personagem, mas todo o processo vivido por ela
reflete uma experiência coletiva quase que inerente à vida de todo negro, especialmente, da mulher
negra. A protagonista perpassa por um longo caminho até chegar à compreensão do real significado
de ser negra numa sociedade pautada em princípios escravocratas que supervalorizam a estética
branca em detrimento da negra.
101
Esta pesquisa investiga a leitura de narrativas mitolendárias no contexto de sala de aula como
estratégia para análise de aspectos histórico-culturais e identitários do leitor em formação. O
objetivo geral é analisar a presença de valores sociais, crenças culturais e visões de mundo que
constituam premissas para formação de identidade no enredo das narrativas mitolendárias e suas
relações com o contexto histórico-cultural em que esses textos foram concebidos e propagados
através da leitura realizada por alunos do 7º ano. Já os específicos são: (i) investigar os aspectos
sociais e históricos que, junto à tradição oral, conduziram a formação do acervo de narrativas
mitolendárias maranhenses retratadas em diversas obras literárias; (ii) evidenciar a relevância das
narrativas mitolendárias para a formação da identidade cultural, juízos de valores e condutas
exercidos no cenário escolar e outros grupos sociais em que o discente está inserido; (iii) elaborar
proposta de intervenção que vise à leitura prazerosa, autônoma e crítica do texto literário pelos
discentes, despertando a reflexão sobre a relevância das narrativas mitolendárias na construção da
identidade, conhecimento de si, do outro e do ambiente em que se vive, em conformidade com a
BNCC. Estudo de campo, descritivo, de cunho qualiquantitativo. A base teórica constitui-se
principalmente de estudos realizados pelos seguintes autores: Cascudo (2006), Coutinho (2003),
Cândido (2000), Cosson (2006), Passarelli (2012), Soares (2011), Eliade (2004), Cassirer (2003) e
Durand (2000).
CONCRETISMO NA NAVILOUCA
Navilouca, publicação de 1975 organizada por Torquato Neto e Waly Salomão, possui um universo
constituído de signos, sendo que a movimentação destes resulta numa semiose generalizada entre
poesia concreta, arte neoconcreta, cinema, design gráfico, fotomontagem. O almanaque carrega
um caráter múltiplo e difuso, o que pode explicar a ausência de um trabalho de referência, embora
seja considerada como importante publicação, capaz de apresentar um quadro do debate nas artes
e na literatura no Brasil entre fins dos anos 1950 até início dos anos 1970. O concretismo paulista
marcaria o esgotamento do movimento modernista. Não que este movimento tenha se acabado, e
sim, que este deixa de ser reconhecido pelos setores da vanguarda artística brasileira como ponta
de lança da tarefa da modernidade. Isto significa que o modernismo deixa de existir como
vanguarda. Os três advogados que formam a tríade geradora do grupo/revista Noigandres logo
percebem as limitações impostas, e não demoram a radicalizar as pesquisas, culminando na negação
do verso, ou melhor, na “poesia sem verso”, segundo Pignatari. É indubitável a influência dos
concretistas na Navilouca, apontada por Torquato Neto, entusiasta do movimento. Os concretistas
embarcam na nave em nome do saber moderno, defendendo uma ruptura com as formas
convencionais. Augusto de Campos participa da publicação com Soneterapia e VIVAVAIA,
102
Haroldo de Campos com Sousândrade: Rascunho para uma urna e Décio Pignatari com Pháneron,
I. Heloísa Buarque de Hollanda ressalta que a Navilouca é a mais importante publicação do grupo
pós-tropicalista, reunindo poetas, artistas plásticos, músicos e cineastas, o que reforça o caráter de
multimeios dessa tendência. Nosso objetivo é destacar a influência que a poesia concreta exercia
sobre o grupo que participou da publicação e sua importância enquanto vanguarda inspiradora para
a composição experimental da revista. Além de Hollanda (1981) e Brito (1999), o livro Teoria da
poesia concreta (2006), compilação de artigos e ensaios assinados por Haroldo de Campos,
Augusto de Campos e Décio Pignatari é essencial para servir de argamassa aos pilares desta
pesquisa.
O presente trabalho visa discutir a origem da literatura em território maranhense com o objetivo
de analisar e compreender o cenário histórico-social-ideológico do Estado, principalmente a partir
do século XIX. Além disso, pretende-se discutir a formação da identidade literária a fim de explicar
os fenômenos literários da época e, com base nisso, destacar os principais motivos que colaboraram
com a construção do termo Atenas Brasileira. Pretende-se discorrer sobre como ocorreu o
processo de criação literária na sociedade maranhense como modo de analisar a construção do
comportamento dos escritores o qual fez surgir o primeiro movimento literário no Maranhão, o
Romantismo, cujos principais escritores foram Odorico Mendes e Gonçalves Dias que colocaram
a literatura maranhense no cenário nacional. Além disso, pretende-se explicar como se deu o
percurso de desenvolvimento da Atenas Brasileira até o declínio do desenvolvimento literário no
Maranhão com a finalidade de analisar e compreender esse trajeto histórico na edificação da
literatura maranhense. A partir da pesquisa realizada, percebe-se a importância de se estudar o tema
proposto devido à sua reflexão contribuir com maior entendimento sobre a construção da
identidade maranhense e, por conseguinte, a sua literatura, cuja imensa qualidade deu ao Maranhão
o merecido epíteto de Atenas Brasileira.
Fantástico. Tendo isso em vista, o presente trabalho objetiva analisar narrativas de pescadores do
munícipio de Cururupu, os quais contam tanto experiências próprias como histórias que ouviram,
permeadas de eventos insólitos, intercalados pelas atividades realizadas em alto mar, manguezais e
nas comunidades praianas. Desse modo, este trabalho se justifica pela necessidade de resgatar a
memória desses sujeitos, a fim de relacionar as narrativas ao Fantástico, entendê-las como parte da
cultura de Cururupu, e manter suas vivências registradas. Para tanto, fundamentaremos a teoria em
autores que discutem o fantástico na narrativa, como Todorov (1979), Camarani (2014); os debates
de Cascudo (1978) acerca da literatura oral; e ainda outros para estudo de memória. O estudo teve
como metodologia pesquisa bibliográfica e de campo, com gravação e transcrição das narrativas
coletadas. Portanto, como resultados, pudemos observar o caráter do sobrenatural nas estruturas
de tais narrativas, ressaltando a forma de inserção do insólito nas experiências vividas pelos
pescadores de Cururupu.
O trabalho pretende analisar o romance Terras do Sem Fim (1943), de Jorge Amado, por meio da
categoria de “Memória”, pensando como a crítica literária sedimentou um determinado juízo de
valor sobre a obra, desde os primeiros anos após sua publicação até a menção ao livro, a partir dos
anos de 1970, em compêndios literários, antologias e histórias da literatura. Esse ajuizamento
implica a classificação do romance como “obra regionalista” e “romance proletário”, que julgamos
como categorizações inadequadas, uma vez que estão apoiadas em aportes teóricos, comuns na
primeira e segunda metade do século XX, que empreendem uma análise sociológica do texto
literário e o considera como apenas um reflexo da vida social e dos dados biográficos do autor.
Nosso objetivo é analisar o discurso literário amadiano como uma modalidade de formação
discursiva, enquanto prática que obedece a regras de composição e funcionamento, prescindindo
de uma análise simplista que valoriza apenas os critérios tradicionais de classificação — autor, obra
e disciplina —, para nos colocar frontalmente contra as causalidades diretas e redutoras, próprias
de pesquisas fundamentadas em autores como György Lukács e Lucien Goldmann, que
dominaram, em grande medida, as investigações sobre a obra de Jorge Amado. Conforme Jauss,
sabemos que a vida histórica de uma obra literária é inconcebível sem a participação ativa de seu
destinatário e que a experiência estética, portanto, não tem início pela compreensão e interpretação
do significado oculto de uma obra, muito menos pela reconstrução das intencionalidades do autor
que a criou, mas pela análise do processo de recepção da mesma. À vista disso, tencionamos operar
uma ideia de Memória a partir da concepção de cadeia de recepções de Jauss, considerando a
história da recepção de Terras do Sem Fim como a memória dos muitos efeitos de sentido
produzidos pela crítica literária ao longo do século XX.
Geralmente a ficção científica busca representar a conquista de territórios por seres humanos ou
extraterreste, a partir de perspectivas que ainda não foram devidamente alcançadas na nossa
sociedade. Este trabalho pretende analisar a personagem Peregrina (a alma que habita o corpo de
Melanie) e os espaços que estruturam o romance A hospedeira (2009), de Stephenie Meyer. Para
tal, usaremos os pressupostos teóricos oriundos de um campo específico da Literatura comparada,
que vincula conhecimentos das ciências políticas com a teoria literária com o intuito de promover
a leitura do espaço ficcional. Primeiramente discutiremos a representação do corpo utópico, no
sentido de que ele é a primeira e indissociável habitação do ser humano. Depois, serão analisadas
as conquistas territoriais, direcionado o foco de investigação para os espaços comunitários
representados no romance, cuja inserção dos personagens depende do cumprimento de certos
requisitos, como o grau de confiabilidade, por exemplo. Por fim, ainda serão analisadas as relações
afetivas estabelecidas entre os seres (humano ou extraterreste) e o espaço. As análises serão
orientadas pelo método de crítica dialética, segundo o qual as tensões da obra literária adquirem
uma síntese conceitual integradora; aqui analisaremos o modo como a realidade do ser e do mundo
se converte em uma estrutura interna da obra. As análises estão amparadas nos estudos de
CANDIDO (1993) sobre a relação da literatura com a sociedade, de BOSI (2002) sobre resistência
à ação alienadora e de LEFEBVRE (2008) sobre os mecanismos de produção política do espaço.
Os resultados parciais obtidos mostram que a conquista espacial normalmente gera embates e a
luta pelo controle das esferas sociais.
Este artigo segue a área da Literatura, especificamente a Literatura Infantil, tendo como tema
central a intertextualidade, abordando questões relevantes socialmente, como a inclusão racial.
Segundo a linguista e professora brasileira Ingedore Grunfeld Villaça Koch, a intertextualidade diz
respeito aos modos como a produção e recepção de um texto dependem do conhecimento que se
tenha de outros textos com os quais ele, de alguma forma, se relaciona. Abordar-se-á, portanto, a
obra: Pretinha de Neve e os Sete Gigantes de Rubem Filho, que implicitamente remete a Branca
de Neve e os Sete Anões na versão Walt Disney. Logo, tem-se por objetivo identificar como o
texto da Disney conversa com a obra de análise, classificá-la e debater sobre a importância de
aplicar a intertextualidade na criação de novos contos, de forma que atendem questões necessárias
para a sociedade, como a inclusão do negro. Neste caso, as questões sociais são debatidas desde a
infância com histórias como a de Rubem Filho, autor brasileiro, que colabora para uma Literatura
com a cara do Brasil, de forma a representar seu povo negro/preto/miscigenado e sua carga
história vinda da África. Deste modo, este artigo justifica-se no atual cenário brasileiro, onde se
105
O presente trabalho procura discorrer de forma panorâmica sobre as obras do autor Machado de
Assis e colocar em relevo quais implicações fazem de seu fazer literário não estar inserido dentro
das características da literatura afro-brasileira na proposta de Eduardo Assis. Objetiva-se apontar
questões que conectam sua realidade com a escrita, buscando instigar um olhar crítico sobre como
um autor negro, reconhecido no âmbito literário, não contemplar suas origens nos poemas e livros
que produzira. A partir disso, trazemos algumas obras do autor, do início ao fim de sua carreira,
relacionando-as com sua história de vida sob a perspectiva de Duarte (2008), Silva e Cardoso (2016)
e Daniel Piza (2005), apontando aspectos que demonstram sua possível omissão à realidade
escravista que o cercava. Neste sentido, destacaremos passagens de sua escrita em que o autor
utiliza-se de uma representação estereotipada. Por meio da pesquisa, concluímos, sem desmerecer
o conjunto de sua obra e sua importância para a Literatura Brasileira, que sua obra não há indícios
características inerentes a literatura afro-brasileira.
Um tema ainda pouco estudado nas literaturas de gênero no Brasil é a ficção científica em suas
vertentes teatrais. Considerando esta lacuna, analisaremos a peça “A Kuka de Kamaiorá” da
dramaturga Leilah Assumpção. Nosso objetivo é problematizar a literatura dramática de ficção
científica produzida no Brasil para entender seus elementos constituintes. Mais especificamente,
buscamos vislumbrar as características de um texto dramático que dialoga com a ficção científica:
106
como a ficção científica influencia a atuação e recepção da obra teatral? Como funcionam as
indicações espaço-temporais durante a performance dramática? Como o espectador se torna capaz
de reconhecer certos signos da ficção científica durante a encenação? Como corpus teórico
utilizaremos a definição de ficção científica proposta por Darko Suvin (1979), o conceito de criação
de mundo no teatro de Patrick Colm Hogan (2016) e o aporte de Anne Ubersfeld (2005) sobre a
legibilidade e leitura teatral. Observou-se que a ficção científica e o teatro possuem diversos pontos
em comum. Por exemplo, há o compartilhamento de conceitos, como o estranhamento
(ostranenie) e o efeito alienante (verfremdungseffekt) utilizados por Darko Suvin e Berthold
Brecht. Além desse ponto, concluímos que certas peças compartilham temas e a forma de
construção de mundo. Por fim, concluímos e provocamos sobre a possibilidade de uma
performance especulativa, conforme a proposta de Adriane Jenik (2018).
Este trabalho tem como objetivo, compreender as nuances e a influência da distopia no cinema
brasileiro contemporâneo, relacionando suas principais características, bem como as frequentes
adequações e variações do gênero à linguagem cinematográfica. Para isto, faz-se uma análise
dividida em dois momentos, sendo o primeiro um estudo comportamental da literatura distópica
no cinema brasileiro contemporâneo, com foco nas dinâmicas estético/narrativas e a sua influência
nos filmes. Já no segundo, indicações do crescente hibridismo do gênero nos últimos vinte anos,
perpassando por filmes como Ensaio Sobre Cegueira (2008), de Fernando Meirelles, até Bacurau
(2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Podendo até mesmo extrapolar o cinema
para outras linguagens do audiovisual, como a série 3% (2016) do serviço de streaming Netflix.
Deste modo, se verifica uma produção em alto processo de internacionalização, de caráter híbrido
e diverso, onde por sua vez, tem-se observado um forte e positivo alcance para com o público
nacional e internacional. Utilizam-se como referencial teórico para este trabalho, o pesquisador
Gregory Claeys e sua obra Utopia: a história de uma ideia, de distopia: gênese, resistência e
engajamento (2012), de Lucas Moreira Soares de Souza Sales, entre outros teóricos que discorrem
sobre o tema.
Este trabalho se propõe a analisar a obra Beira Rio Beira Vida, de Assis Brasil, sob a perspectiva
da Melancolia, considerando a relação desse aspecto com o espaço na narrativa. Sabe-se que, os
107
Dentro das narrativas de Ficção Científica certos elementos se apresentam como fundamentais à
estruturação do gênero: exoplanetas habitados; cabine telefônica teletransportadora; alimentos
sintéticos; crianças telepáticas. Característicos da FC, os elementos contrafactuais, assim
conhecidos, são importantes à obra por sinalizar, ao leitor, que ali estarão extrapolados muitas das
noção que lhes são caras na realidade. Isto implica no rompimento com o “limite do possível”, o
que gera estranheza; não pelo não reconhecimento de sistemas reais, já que a verossimilhança está
presente, mas pelo seu extrapolamento, isto é, pela maneira como eles são empregados e seus
impactos. Utilizando-se do cientificismo, o contrafactual torna aceitável aquilo que é posto como
absurdo. Assim, o discurso científico é um dos motes de partida para a FC, apontado como fator
intrínseco a qualquer boa obra do gênero. Logo, este trabalho surge com o objetivo de analisar os
elementos contrafactuais dentro do conto “O homem synthetico” (1929) do escritor de FC
piauiense Berilo Neves (1899-1974), propondo, para tanto, a análise dos procedimentos de
construção e exploração do contrafactual na obra. Para isso, partimos de autores como ALLEN
(1976), CAUSO (2003), PIASSI (2007), SCHOEREDER (1986), entre outros, que nos
impulsionaram nesta jornada. Berilo usa do pensamento científico corrente à época para alicerçar
a hipótese do seu “homem synthetico”, um ser humano produzido através de métodos não
convencionais, mesmo impossível, mas que “poderia vir a existir” como o caso, mesmo que
extrapolado, da manipulação genética, vista hoje. Então, o contrafactual é construído, sobretudo,
108
A alegoria é, de maneira sucinta, dizer uma coisa querendo significar outra. Contudo, apesar de
verdadeiro, esse conceito é relativamente superficial e por isso vários teóricos que dissertam sobre
a alegoria buscam aprofundá-la numa tentativa de melhor defini-la. Para João Adolfo Hansen, por
exemplo, há dois tipos de alegoria: enquanto uma é usada como forma de interpretação, a outra é
usada como forma de expressão; essa última diz B para significar A. Já Walter Benjamin a define
como ruína e, segundo Flávio Kothe, ela significa “dizer o outro”, todavia definir o que é a alegoria
é mais difícil do que explicar o que ela significa. Seguindo esse raciocínio, faremos um estudo
diacrônico da alegoria discorrendo sobre as diferentes definições que ela adquire para diferentes
teóricos, desse modo, os conceitos aqui apresentados serão retomados e esquadrinhados ao longo
do minicurso. Além disso, dizer uma coisa querendo significar outra não é uma definição apenas
sucinta, mas também abrangente demais. Ela é capaz de abarcar tanto a alegoria quanto outras
figuras de linguagem e até mesmo gêneros literários. Por exemplo, símbolo, metáfora, sinédoque,
metonímia, comparação, ironia, sarcasmo, fábula, apólogo, parábola, etc. são muitas vezes
associados à alegoria. Alguns desses inclusive foram, em algum momento, conceituados como tipos
de alegoria. Por isso, ao longo do minicurso, dissertaremos também sobre as intersecções e
divergências entre o alegórico e algumas dessas figuras de linguagem. Para tanto selecionamos
aquelas cuja diferenciação acreditamos ser mais importante para melhor compreensão do que é a
alegoria.
Este trabalho investiga a narrativa de Ferréz, Capão Pecado (2000), como literatura surgida no meio
contemporâneo e marginal. Para tanto, esclarecemos as especificidades da chamada Literatura
Brasileira Contemporânea, mediante suas definições, conceitos, inquietações e aparições, além de
averiguarmos o perfil do escritor brasileiro contemporâneo e sobre o que ele escreve; destacamos
109
A busca ou consolidação da identidade é uma questão de extrema relevância para o ser humano.
Sua inserção em um grupo revela a importância dessa representação. Atualmente, a autodefinição
racial encontra-se nesta situação. Sendo assim, neste artigo, procede-se à análise de duas obras
literárias com o objetivo de compreender se há e como ocorre o empoderamento, que permite um
conjunto de comportamentos antirracistas. As protagonistas são uma criança e uma adolescente
que passam por um conflito pessoal e/ ou social em relação à sua raça negra. Os livros estudados
são Amor de cabelo (2019), de Matthew A. Cherry, e O ódio que você semeia (2017), de Angie
Thomas. A pesquisa foi caracterizada como exploratória, qualitativa e bibliográfica, partindo das
ideias de Berth (2019), Collins (2019), hooks (2013), Kleba e Wendausen (2009), e Munanga (2019).
O artigo está dividido em duas partes: uma breve explicação sobre a teoria do empoderamento e
sua aplicação nos textos citados. Percebe-se que o indivíduo negro tem a necessidade desse
despertar de consciência para sua autonomia de pensamento e ação, especialmente no nível
coletivo. Por sua vez, as literaturas infantil e juvenil se apresentam como uma contribuição positiva
nesse processo de descoberta.
O subgênero da ficção científica literária chamado cyberpunk ilustra mundos nos quais não só a
estética, mas também a política está relacionada ao uso da tecnologia: seus prós e contras, além de
suas influências sobre o ser humano. Estudos sobre identidade têm sido realizados cada vez mais
em um mundo com uma confluência de pessoas, representadas em uma infinidade de gêneros,
110
A língua é uma manifestação identitária dos sujeitos, que apresenta dimensões sociais, locais,
territoriais e subjetivas muito particulares, devendo ser respeitada em suas diferenças, pois ela é
usada por sujeitos sociais e políticos diversos. As línguas são fatos humanos e, portanto, participam
da variedade e da instabilidade do homem e das sociedades (MELO, 1981). Nos tempos antigos,
nas conquistas territoriais, os nativos colonizados passavam a ser impedidos de usarem suas línguas,
a fim de perderem sua identidade linguística. Nesse âmbito, esta pesquisa apresenta reflexões acerca
da identidade linguística presente na Cidade de Praia, capital da Ilha de Santiago, isto é, a tentativa
dos falantes cabo-verdianos de resgatarem a sua identidade por meio do uso de sua língua materna.
Haja vista que nessa localidade há a existência e convivência de duas línguas diferentes presentes e
sendo usadas de forma concomitante. Este país contém uma língua nacional falada pela quase
totalidade do seu povo – o Crioulo cabo-verdiano – mas tem como língua oficial a Portuguesa. Ou
seja, por intermédio das discussões apresentadas, a pesquisa tem por objetivo perceber e mostrar
o quanto é importante o uso das línguas maternas africanas em detrimento das línguas
colonizadoras. Objetiva-se ainda mostrar como a língua cabo-verdiana surgiu, como se proliferou
e como se dá a relação desta com a Língua Portuguesa, nos diferentes âmbitos. Pretendemos
mostrar como os falantes da Cidade de Praia fazem o uso de sua língua materna e o que tem feito
para valorizá-la, a fim de que a mesma possa ser vista como língua oficial e, assim, reconstruir sua
identidade linguística. Uma vez que observamos por meio de análises o uso de uma em situações
corriqueiras e o da outra em situações padrões. A pesquisa se dá de forma bibliográfica e de campo
(entrevistas com habitantes de Praia). Para subsidiar este trabalho, utilizamos autores como
VEIGA (2004), HERNANDEZ (2002 e 2005), LOPES (2016), REIS (2018), dentre outros.
My aim is to defend the thesis that fictional characters, like institutions, are abstract artefacts, and
Sherlock Holmes clearly falls in that category of intentional objects. That is far from obvious.
Regularly Holmes is presented as a standard example of a non-existent intentional object. I believe
this is a mistake. The main argument is logico-semantics. There are intuitively true sentences about
fictional characters: “Holmes has been created on March 1886,” or “Holmes is more famous than
Sir Ian Blair”, etc. But, the satisfaction of the existential presupposition is an essential condition
for the truth of these sentences. Therefore, there must be something occupying the position of
referent of the fictional name “Sherlock Holmes”. But Holmes has no concreteness, does not
occupy any portion of the three-dimensional space. What’s the way out for that problem? My
conclusion is that Holmes is a cultural object, an abstract artefact. This entails many consequences.
Here I follow the way opened by van Inwagen, Kripke and Amie Thomasson. I favor a more
generous use of “exist” than Meinong and others, one that includes beings with no concrete
occupation of tri-dimensional space; to exist, it is enough to have been introduced at some moment
in history. Abstract artefacts, like fictional characters and institutions (Supreme Court, etc.), exist
in that sense. Like any contingent being, Holmes has an identity and an essence. Sherlock Holmes
is a cultural object with enough stable traits to be recognized easily, no matter who is the actor,
what is the setting (it could be London today) and who is the storyteller (it could be a completely
new story written by a Conan Doyle’s fan one century after A Study in Scarlet). Of course, abstract
artefacts need a material basis: flesh and blood actors, token-books, DVDs, films, and mental
activities like imagery. Their existence presupposes a relation of dependence to such a material
basis and to mental activities of many people. They are what medieval philosophers called entia per
alio. A shadow is a good example: it has a certain objectivity, can be seen by many people, can be
measured, you can take a shot, but the shadow itself would be nothing without the presence of an
object in way of a source of light. One objection could be Alexander’s maxim. It says: “To be, is
to have causal powers”. Thence, if abstract artefacts really exist, how could they have causal
powers? The best answer seems to be the following: through their material basis, they can exercise
influence on many people: Holmes influences today’s detectives, for instance. We can have genuine
knowledge about Holmes. I argue that it is important to distinguish two perspectives (internal and
external) in order to clarify the kind of knowledge we have of fictional characters. The internal
perspective is the one we adopt when we read and enjoy a novel in a game of make believe; Conan
Doyle does not “fails miserably” (Stephen Schiffer) in trying to refer to Holmes. The knowledge
we have of Holmes comes from an external perspective when we use the fictional names together
with predicates whose application do not entail concreteness. So, it is not true that Pegasus is a
horse; but it is true that Pegasus is-a mythical-horse.
Nosso estudo, ainda em fase de desenvolvimento, tem como objetivo analisar a mobilização de
estratégias sociais na aprendizagem de Língua Espanhola, como língua adicional, em redes sociais
de aprendizagem de línguas (RSAL). Para alcançarmos esse objetivo, partimos das seguintes
questões: como se dá a mobilização de estratégias sociais no âmbito do uso das RSAL por
aprendizes de espanhol como língua adicional?; quais são os tipos de estratégias sociais que os
aprendentes mobilizam?; e, quais estratégias sociais são mais recorrentes no corpus da pesquisa?
No que concerne à metodologia, nossa pesquisa é qualitativa, exploratória e etnográfica virtual,
tendo como lugar de investigação a rede social de aprendizagem de línguas (RSAL) Hellotalk e
nosso corpus é composto por capturas de telas retiradas dessa rede social. Quanto à perspectiva
teórica que orienta este estudo, baseamo-nos nos pressupostos teóricos da Teoria da
Complexidade, a qual compreende a aprendizagem de língua adicional e as estratégias de
aprendizagem como sistemas adaptativos complexos (SAC), visão que compartilhamos nesse
trabalho. Nessa perspectiva, destacamos os estudos de Oxford (1990), Larsen-Freeman (1997),
Morin (2011) Paiva (2011), dentre outros teóricos que abordam essa temática. Os dados até aqui
113
analisados apontam para a mobilização dos seis tipos de estratégias sociais propostas por Oxford
(1990), isto é, pedir esclarecimento ou verificação; pedir correção; cooperar com colegas; cooperar
com usuários proficientes da língua; desenvolver entendimento cultural; tornar-se consciente dos
pensamentos e sentimentos dos outros.
Este trabalho é parte constitutiva da pesquisa que vem sendo desenvolvida por nós no âmbito do
Mestrado Acadêmico de Letras da UFMA e tem como objetivo geral investigar a despalatalização
dos fonemas /d/ e /t/ diante de /i/ e de /e/ no município maranhense de Pinheiro com o intuito
de confirmarmos ou refutarmos particularidades fonéticas do Português falado nesse município.
Esta pesquisa teve seu ponto de partida na observação da fala de maranhenses naturais de alguns
municípios da Baixada Maranhense, mais especificamente, quanto à realização despalatalizada dos
fonemas /d/ e /t/ diante de /i/ e de /e/. A fundamentação teórica desta investigação está baseada
nos estudos de Sociolinguística desenvolvidos por CARDOSO (2010); RAMOS et al. (2009);
LABOV (2008 [1972]); CEZARIO, VOTRE (2008); TARALLO (2002); ARAGÃO (1999),
LOPES (1993), dentre outros. Os passos metodológicos que seguimos para a análise do fenômeno
linguístico em foco estão organizados, basicamente, em quatro partes: i) pesquisas bibliográficas;
ii) revisão da transcrição grafemática e fonética dos dados de Pinheiro coletados pelo Projeto Atlas
Linguístico do Maranhão – ALiMA; iii) análise dos dados rodados no programa GolVarb X e iv)
elaboração de tabelas. Os resultados indicam uma visível oscilação entre despalatalização e
palatalização dos fonemas /t/ e /d/ diante de /i/ e de /e/ no falar pinheirense. Ressaltamos, por
fim, que a análise da variação fonética em foco nesse estudo é de grande importância para
ampliarmos e aprofundarmos o conhecimento sobre a variedade do Português brasileiro;
colaborarmos para a sistematização descritiva das particularidades do Português falado no
Maranhão, em especial, na Baixada Maranhense, para contribuirmos com os estudos sobre as áreas
dialetais do Maranhão e para combatermos o preconceito linguístico existente em relação à fala da
Baixada no estado.
Este trabalho é parte constitutiva da pesquisa que vem sendo desenvolvida por nós no âmbito do
Mestrado Acadêmico de Letras da UFMA e tem como objetivo geral investigar a despalatalização
dos fonemas /d/ e /t/ diante de /i/ e de /e/ no município maranhense de Pinheiro com o intuito
de confirmarmos ou refutarmos particularidades fonéticas do Português falado nesse município.
Esta pesquisa teve seu ponto de partida na observação da fala de maranhenses naturais de alguns
municípios da Baixada Maranhense, mais especificamente, quanto à realização despalatalizada dos
fonemas /d/ e /t/ diante de /i/ e de /e/. A fundamentação teórica desta investigação está baseada
nos estudos de Sociolinguística desenvolvidos por CARDOSO (2010); RAMOS et al. (2009);
LABOV (2008 [1972]); CEZARIO, VOTRE (2008); TARALLO (2002); ARAGÃO (1999),
LOPES (1993), dentre outros. Os passos metodológicos que seguimos para a análise do fenômeno
linguístico em foco estão organizados, basicamente, em quatro partes: i) pesquisas bibliográficas;
ii) revisão da transcrição grafemática e fonética dos dados de Pinheiro coletados pelo Projeto Atlas
Linguístico do Maranhão – ALiMA; iii) análise dos dados rodados no programa GolVarb X e iv)
elaboração de tabelas. Os resultados indicam uma visível oscilação entre despalatalização e
palatalização dos fonemas /t/ e /d/ diante de /i/ e de /e/ no falar pinheirense. Ressaltamos, por
fim, que a análise da variação fonética em foco nesse estudo é de grande importância para
ampliarmos e aprofundarmos o conhecimento sobre a variedade do Português brasileiro;
115
Sabe-se que por muito tempo - e essa realidade permanece nos dias atuais mesmo que por vezes
de forma camuflada- a mulher foi representada principalmente por seus atributos físicos para
ressaltar a beleza e a identidade feminina, sendo constantemente estereotipada e sobretudo,
manipulada para atender e satisfazer ao público masculino. Entra neste cenário o gênero calendário,
mais especificamente do tipo ilustrado - que ganha novas ressignificações e que através das imagens
trazem mensagens publicitárias com intenções comerciais. A pesquisa assume como objetivo
compreender o modo como a mulher é representada nos dias atuais com vistas a trazer discussões
que possam descaracterizar certos estereótipos e que precisam ser rediscutidos e reelaborados. Para
tanto, são analisadas as três edições do Calendário Campari – 2015- 2016- 2017 – que representa
uma marca de bebidas que se utiliza da figura feminina para promover a marca. Para
prosseguimento das análises adotamos a perspectiva da Teoria da Multimodalidade (KRESS; VAN
LEEUWEN, 2001; KRESS 2010) bem como a Gramática do Design Visual (KRESS; VAN
LEEUWEN, 1996), que juntas estabelecem categorias de análise dos chamados textos visuais para
descobrir como a mulher vem sendo representada. Utilizamos também a contribuição de
SAGGESE (2008) e MEMÓRIA (2012) para trazer informações sobre o gênero em questão e o
uso da imagem feminina. Como resultado das análises concluiu-se que as imagens rompem com
certos estereótipos em que a mulher muitas vezes é representada unicamente por padrões ideais e
como objetificação e na total condição de submissão ao homem. As imagens revelam que apesar
de conseguirmos identificar ainda uma marcação de um ideário de beleza – o clássico, o que chama
atenção é que a mulher aparece sempre como protagonista, em uma condição de independência e
superioridade, de alguém que não espera ser conquistada, mas que dita as regras. Nessa
representação vemos a mulher sendo expressa em um formato menos estereotipado e menos presa
a padrões hegemônicos, o que revela uma mudança na postura da mídia que está acompanhando a
evolução do perfil feminino, ainda que com algumas ressalvas.
Nos estudos contemporâneos tem se observado as limitações ainda enfrentadas por sinalizantes de
Libras, tradutores, intérpretes e educadores que trabalham com discentes surdos/as a respeito do
léxico específico para a área de estudos Africanos que na maioria de seus registros, são
(re)produzidos na língua Yorubá.. Assim, esse resumo objetiva apresentar pesquisas que visem o
registro dos estudos da mitologia e as implicações desta no registro de sinais-termo, permitirão o
desenvolvimento de estratégias que contribuirão para o uso e ensino, bem como a valorização da
língua. Então surge uma problemática: Como será pensado o ensino da História e Cultura Africana
em Libras, se os estudos no que se refere a algumas áreas se concentram em apenas mostrar sinais
em Libras inventados e sem nenhuma construção sociolinguística ou que são omitidos em diversos
locais por não ter referência lexicais. Teremos como referencial teórico: SOARES (2006), GESSER
(2009), SANTOS (2007) e QUADROS (2004). No Brasil a Libras foi reconhecida como meio legal
de comunicação e expressão de pessoas Surdas Brasileiras por meio da Lei 10.436/2002,
posteriormente regulamentada pelo Decreto 5.626/2005. Além da regulamentação legal da Libras,
as pessoas surdas conquistaram, ainda, outros direitos no que se refere a acessibilidade linguística,
educacional, arquitetônica, dentre outros. A descoberta das pesquisas nos acervos midiaticos além
de auxiliar a comunicação e promover acesso aos surdos afrodescendentes adeptos do Candomblé,
auxiliará os profissionais da área de educação de surdos/as (professores trilíngues, tradutores
intérpretes de Libras), a terem um léxico especifico nesse campo religioso e cultural, tendo
condições também de atender as exigências da Lei 10.639/2003, que oficializa o ensino de História
e Cultura Africana nas escolas. As pessoas Surdas, por utilizarem outra língua na comunicação e
por, na sua grande maioria, não dominarem a língua portuguesa, são postas na condição de
estrangeiras dentro do seu próprio país. Os resultados dessa pesquisa, encontramos somente uma
produção de dissertação de SILVA (2019) com os sinais-termos referentes ao Axé, Orixás, Ogum,
Oxossi, Oxumaré, Oxum, Xangô, Yemanjá, Oxalá, Ewá dentre outros da nação Ketu/Nagô, como
instrumento didático contribuindo com o ensino da História da África nas escolas inclusivas e nas
pluralidades trilíngues.
BARBOSA (2004), BARTH (1997), SAPIR (1921), CASTELLS (2000) em relação às teorias da
Etnolinguística e da Etnoterminologia. Para a realização do estudo sobre a visão de mundo no
léxico do bairro Diamante a metodologia dotada foi de reuniões de estudo, pesquisa bibliográfica,
levantamento de dados para a elaboração do questionário, seleção de informantes, realização de
entrevistas, transcrição grafemática das entrevistas, preenchimento dos dados em fichas
etnoterminológicas, análise dos dados, definição dos vocábulos-termos, elaboração do glossário,
elaboração de artigos científicos, apresentação de trabalho em eventos científicos, elaboração de
relatório parcial e relatório final. A importância deste trabalho pode ser evidenciada pela
necessidade de investigação lexical sob uma perspectiva etnoterminológica, ainda não explorada
anteriormente nos trabalhos sobre o léxico de grupos negros ludovicenses, e, em especial, pela
necessidade de, a partir de uma análise etnoterminológica, apresentarmos dados que gerem uma
panorâmica da visão de mundo específica dos quilombolas urbanos ludovicenses, a qual revela as
particulares raízes étnico-culturais, históricas e organizacionais dos sistemas de significação desses
grupos, atestando, por conseguinte, que as especificidades denominativas e conceituais do léxico
desses quilombos urbanos se convertem em signos-símbolos de sua axiologia, de sua(s)
identidade(s).
Diante dos desafios rotineiros que se apresentam ao professor de línguas, saber lidar e adequar
metodologias que promovam uma atmosfera favorável a uma aprendizagem eficiente, é uma
habilidade inerente ao profissional citado, especialmente quando se trata de ensinar em uma
realidade muito dinâmica, a qual é a do século XXI. Ministrar aulas de língua inglesa, por exemplo,
requer conhecimento de variadas possibilidades de ensino presentes em situações acadêmicas,
profissionais, e são perenes nas áreas de lazer, representadas pelas redes sociais e jogos, para citar
algumas. Além de conhecer as necessidades de cada grupo que receberá esse ensinamento, cabe ao
professor se aprofundar sobre as teorias que alicerçam a sua área de atuação a fim de que possa
direcionar da melhor maneira o fluxo de aprendizagem de cada grupo escolar ao qual é o
responsável. Portanto, essa comunicação científica visa revisitar conceitos básicos sobre a
abordagem comunicativa em seu contexto internacional baseando-se em Richards (2006) quando
se refere ás tarefas focalizadas no desenvolvimento da fluência e da acurácia; em Brown (2001) em
relação ás aulas interativas que requerem atmosfera favorável à comunicação e interação social; e
no contexto brasileiro a partir das reflexões de Almeida Filho (2008) no que tangem a postura
comunicativa que o docente precisa ter para mobilizar um ensino significativo de línguas.
Consoante ao pensamento comunicativista aqui proposto, esse trabalho se propõe ainda a
compartilhar estratégias de ensino de inglês como Segunda Língua (ESL) e/ou Ensino de Inglês
como Língua Estrangeira (EFL): dinâmicas, jogos e atividades para aulas em escolas regulares.
Este artigo investiga o processo inferencial em produções multimodais, sob o viés da interface
entre a Linguística Cognitiva e a Linguística Textual defendendo que as inferências contribuem
para a compreensão dos sentidos e alcance dos propósitos comunicativos. Para tal, compomos o
corpus em tirinhas veiculadas na internet e realizamos a pesquisa em quatro momentos.
Inicialmente, nos dedicamos a fazer um resgate introdutório sobre a interface entre a Linguística
Textual e a Linguística Cognitiva, que possibilitou novos direcionamentos nos estudos linguísticos
ampliando o rol de objetos de pesquisa, fundamentamos o estudo desta interface em KOCH (2004)
e MARTELOTTA E PALOMANES (2008). No segundo momento, recorremos a DELL'ISOLA
(2001) e discorremos sobre o conceito de inferência e sua pertinência para o processo de leitura e
construção de sentido. O terceiro momento é dedicado à discussão sobre o status do texto visual
nos estudos linguísticos e como ocorre a leitura em textos multimodais, fundamentando esta
discussão em GOMES et al (2019). Após a apresentação dos trabalhos que orientaram esta
pesquisa, realizamos no quarto momento a análise de textos multimodais, na qual destacamos o
processo inferencial e sua contribuição para a compreensão dos sentidos e alcance dos propósitos
comunicativos. A pesquisa permitiu observar que as inferências estimuladas tanto pela linguagem
verbal quanto pela linguagem imagética contribuem ativamente para a compreensão ou não
compreensão da produção textual e para o alcance dos propósitos comunicativos. Assim,
destacamos que este trabalho pode subsidiar futuras pesquisas sobre o processo inferencial em
outros tipos de textos, inclusive puramente visuais, já que as inferências estão presentes em todo
ato comunicativo.
No conto O besouro e a Rosa (1923), de Mário de Andrade, a mulher é vista como um ser apto a
assumir papéis pré-estabelecido pela sociedade paulista do século XX. Nessa narrativa, o gênero é
apresentado enquanto característica estável e constituído pela sociedade conservadora e machista
da época, existindo por isso funções e comportamentos determinados para os sujeitos. Os homens
trabalhavam e frequentavam bares, como João, seu Costa e Pedro Mulatão; e as mulheres
limitavam-se aos afazeres domésticos e aos cuidados maternos, tal como Rosa, dona Carlotinha e
dona Ana. Porém, a personagem Rosa, protagonista do conto, assume na narrativa posições
diversificadas quanto ao gênero, pois, ora é apenas uma menina, uma criada, ora é uma mulher que
desperta desejos e que conhece a vida sexual pelo contato de um besouro com seu corpo. A partir
deste momento, Rosa sofre algumas transformações e passa a procurar desesperadamente um
casamento e consequentemente uma possível maternidade, práticas consideradas pela sociedade de
então como comportamentos tipicamente femininos. Neste sentido, pretendemos abordar no
presente trabalho a cultura de gêneros, isto é, a construção da identidade feminina a partir dos
119
A presente pesquisa tem como objetivo analisar as questões referentes à representação feminina,
identitária e memorialista especificamente em Dois Irmãos, obra do amazonense Milton Hatoum
publicada em 1989. Objetiva-se analisar o romance em questão pela perspectiva dos estudos de
gênero, memória coletiva e identidade. O referencial teórico que fundamentou este estudo
compreende que o aspecto memorial que permeia o romance se enquadra na acepção de Maurice
Halbwachs (2003) acerca da memória coletiva, a qual verifica o poder do convívio social na vida
humana e no conceito do aspecto materialístico da memória feminina postulado por Michelle
Perrot (1989). Se constituíram também como escopo teórico os estudos relacionados à identidade,
com Bhabha (1998) e Hall (1999), bem como aspectos referentes a representação e discurso. O
percurso metodológico aqui adotado parte para uma pesquisa bibliográfica e qualitativa que se
constrói a partir de revisão teórica, considerando também o aspecto literário do narrador, tempo e
espaço no romance. A partir da análise dos registros das memórias femininas e dos demais
personagens se torna possível compreender a materialização do universo simbólico da memória
feminina., ademais,o texto se volta para a análise dos estudos quanto a representação, memória e
identidade relacionando-os com o romance e a literatura. Verifica-se ainda, como se dá a construção
discursiva do narrador Nael, e de que forma são construídas as memórias das personagens
femininas no decorrer do romance através da exploração do processo de descrição dos objetos e
espaços que possibilitam a ligação entre o passado e o presente. Aborda-se também a estreita
relação entre memória e identidade na composição das personagens femininas, analisando o
universo destas, considerando seus diferentes perfis inseridos em uma mesma sociedade, tomando
como base teorias sobre o gênero e o feminismo com os aportes de autores como Scott (1989) e
Beauvoir (1957).
O audiovisual, por meio dos seus códigos de linguagem, assumiu ao longo do tempo um papel
importante na construção e desconstrução de estereótipos acerca da imagem damulher na
sociedade. Este trabalho trata-se de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que tem
como objetivo compreender a presença da mulher no processo de realização fílmica em São Luís.
120
A escassez de registros específicos nos levou a analisar a programação nos anos de 2014 a 2019
dos dois festivais de maior visibilidade no estado - Guarnicê e Maranhão na Tela - a fim de
mensurar a participação de mulheres frente aos departamentos de direção, roteiro, arte, fotografia,
produção, som e montagem/edição. A análise documental proposta, de recorte temporal
determinado pela intensificação dos debates sobre políticas de inclusão e diversificação das
abordagens sociais, demonstra que apesar de uma crescente participação das mulheres no processo
fílmico, ainda há discrepância nos números entre homens e mulheres. Essa primeira etapa de
pesquisa documental problematiza em torno da falta de equidade de gênero e a consequente
influência da cinematografia na representação feminina, ao pautar ou acentuar discussões sobre o
tema. No audiovisual, as mulheres buscam evidenciar que “esses estereótipos impostos a ela através
da mídia funcionam como uma forma de opressão, pois ao mesmo tempo que a transformam em
objeto (principalmente quando endereçadas às audiências masculinas), a anulam como sujeito e
realçam seu papel social” (GUBERNIKOFF, 2009, p. 68). Por este motivo, propomos, no sentido
de entender a presença feminina da produção audiovisual local, o envolvimento mais intenso com
as vivências de algumas dessas mulheres, não necessariamente através da análise do conteúdo de
suas produções disponíveis na programação dos festivais, mas de suas experiências pessoais,
expectativas atuais e visões de mundo. Utilizaremos para tanto, como ferramentas metodológicas,
as entrevistas individual (GASKELL, 2008) e narrativas (JOVCHELOVITCH e BAUER, 2008;
SCHUTZE, 1980). Para estes autores, as narrativas são infinitas e variadas e, através delas, essas
mulheres podem lembrar, colocar em escala e buscar explicações, mas sobretudo construir suas
vidas individual e social, atreladas ao campo da produção documentária.
O romance Vozes do deserto, de Nélida Piñon (2004), foi construído em torno da personagem
Scherezade, retomada dos contos árabes As mil e uma noites, e apresentada como a mais audaz
heroína, que usa de seus próprios instrumentos de dominação e alcança sua liberdade e das demais
jovens do califado. Nesta perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo detalhar a construção
da referida protagonista, em articulação com a do Livro das mil e uma noites, traduzido por
Mamede Mustafa Jarouche (2006). Para isso, foram utilizados os aportes teóricos de Bouhdiba
(2006), Wajnberg (1997), Demant (2013), que traçam importantes levantamentos históricos acerca
da religião islâmica; e ainda os fundamentos da crítica feminista abordados por Bonnici (2007),
Brandão (2017), Butler (2003), Scott (1992), Showalter (1994), Zinani (2013), Zolin (2005), o que
permitiu elucidar a visibilidade da voz feminina no romance nelidiano. Trata-se, então, de uma
pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, na perspectiva da crítica feminista, por esta permitir
analisar os mecanismos de funcionamento de obras de autoria feminina, bem como o estudo da
sexualidade na sociedade árabe-muçulmana, constatando que a situação feminina se encerra em
satisfazer o prazer sexual do marido e gerar filhos. Através de tal análise, foi possível refletir sobre
as condições as quais as mulheres árabe-muçulmanas estavam submetidas, em um sistema
patriarcal, regido pela religião, que legitimava situações opressoras, e como a personagem nelidiana
transgrede a essas condições. Ao buscar subverter a opressão, a escrita feminina ganha notoriedade,
121
saindo da zona de silêncio ou de isolamento para desembocar no processo de criação literária. Isso
só é possível por meio de uma linguagem significativa, que evidencie o ser no mundo, pois quem
fala se coloca na posição de sujeito, que é exatamente a postura de Scherezade na narrativa. Logo,
a feminilidade não está mais condicionada a um destino que lhe rouba o direito de ser livre,
determinando o seu papel na sociedade como mãe e procriadora. E é exatamente nesse contexto
subversivo que a escritora Nélida Piñon delineia suas personagens femininas, que buscam romper
com a realidade circundante, no intuito de transgredirem o peso das amarras patriarcais.
O papel da mulher na sociedade de meados dos anos 60 a 70 no Brasil ainda era muito marcado
por papéis estereotipados: filha, esposa, dona de casa, mãe. É com base nesses arquétipos da figura
feminina que As Meninas (1973), romance de Lygia Fagundes Telles, retrata um momento de
transição social para a liberdade através das personagens de Lorena, Lia e Ana Clara e seus papéis
sociais. O romance descreve uma transformação de atividades, como a de filha para o de esposa.
Da mesma forma, Coisa Mais Linda (2019), uma série original da Netflix, retrata os problemas das
mulheres casadas no final dos anos 1950 e início dos anos 60, o abandono, o descaso e o machismo,
além de marcar diferenças desses papéis em variados contextos sociais. Assim sendo, com o auxílio
teórico de Nitrini (1997) e Pantoja e Alves (2018), a primeira como aporte para análise entre
literaturas, e a segunda para análise transmidiática, conduziremos uma investigação entre as obras
com o objetivo de investigar de que forma as críticas feministas mudaram dos tempos de Telles
para os tempos atuais. Ademais, faremos uso dos arquétipos de Frye (1990) juntamente de Zirbel
(2007) e Robinson (2008) para analisar os papéis sociais das personagens das referidas obras, do
feminismo no Brasil das décadas de 1960 e 70, e a última para o feminismo na década de 90 em
diante, teóricos os quais acreditamos nos conferir alinhamento sólido em termos teóricos e
históricos. Ao final da comunicação, objetivamos uma síntese do enredo do romance e da série,
além de uma análise dos discursos e dos papéis sociais desenvolvidos pelas personagens para atingir
um veredito, ainda que parcial, sobre as mudanças que ocorreram nas manifestações críticas do
feminismo atual: o veículo informacional atual é mais rápido e acessível, mas problemas antigos
ainda persistem e são evidenciados pelo programa da Netflix.
Na contemporaneidade, a temática da memória está presente nas produções literárias não somente
como forma de ressignificação do vivido, mas também de revisitação histórica, de
entender/esclarecer acontecimentos – que podem ser entendidos como a memória coletiva – que
é a memória responsável por armazenar lembranças que remetem a acontecimentos relacionados
a práticas sociais. Além disso, a memória é o mecanismo responsável pela (re) construção da
identidade do sujeito a partir de sua relação com os espaços hábitos, os objetos que compões esses
espaços, a rememoração de acontecimentos íntimos e dos acontecimentos sociais – coletivos.
Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de rememoração na poesia
123
de Inês Maciel (2014) e Adélia Prado (2015), pois ambas as poetas têm como temática a
rememoração da infância, da casa paterna, das relações familiares: com o pai e com a mãe, com rua
da primeira infância, da cidade, desse modo, percebemos que os espaços são ativadores dessas
reminiscências com o intuito de demonstrar como os rastros de memórias implicam na formação
identitária do sujeito lírico. Além disso, as poetas se preocupam em rememorar sensações e
sentimentos dos tempos vividos, bem como, a adolescência, o primeiro amor, as decepções
amorosas e não amorosas, as descobertas, além também, da fase adulta, do ser mulher: desde as
obrigações sociais até os desejos íntimos, as falhas, acertos, as faltas, os filhos e o tempo – a
passagem do tempo. A pesquisa está fundamentada no pensamento de Maurice Halbwachs (2003)
e Joel Candau (2016) no diz respeito à memória.
Este trabalho objetiva apresentar o conceito de “Amor fati” descrito por Friedrich Nietzsche
(2012), ou seja, amor aos fatos tal qual eles se apresentam, sem falseá-los, e, dessa forma, superar
o niilismo, o nada, representado em Machado de Assis (1881). A literatura crítica hodierna que trata
da temática reconhece a presença dos movimentos niilistas presentes na obra “Memórias póstumas
de Braz Cubas” de Machado de Assis como desenvolveu Cei (2015) em seu tese, a voluptuosidade
do nada, apesar da ótica do autor não contemplar o desenvolvimento da superação do nada por
Machado na personagem “Brás Cubas”. Nosso trabalho, então, de modo sucinto, ilumina a direção
para a superação do vazio niilista em Machado de Assis. Para tanto, seguimos as afirmações de
Sponville em “Bom dia, angústia” (1997, p. 107) quando o autor aponta que “a vida não é absurda,
é apenas difícil... o contrário do niilismo não é o otimismo... o contrário de niilismo é o amor e a
coragem”. Como solução para o niilismo Nietzsche (2012, p. 166) também diz “Não quero fazer
guerra ao que é feio... que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma:
quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim”. Brás Cubas, então, declara “ao verme que
primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias
póstumas”. Em outras palavras, Brás Cubas não nega a vida, não tenta falseá-la ou mascará-la. Por
fim, essa situação está condessada no último capítulo, intitulado “das negativas”, na voz de Brás
Cubas “Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem
sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro
lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de
negativas: Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Em suma,
Brás Cubas aceita a vida e diz corajosamente apenas “sim”.
Palavras-chave: Niilismo; Amor Fati; Friedrich Nietzsche; Machado de Assis; Brás Cubas.
124
Machado de Assis, em seus romances da 2ª fase, a exemplo de Esaú e Jacó, retrata o cotidiano de
toda uma sociedade da época, as formas e os costumes, e ainda concebe o pasmo do leitor com o
desenrolar de toda a obra, tudo isso vinculado ao indiscreto “retrato da realidade”. As duplicidades
sociais pulsam em suas obras, ele traz à tona elementos que são corriqueiros na sociedade, mas que
a maioria prefere ocultar. O objetivo deste trabalho é fazer uma reletura do romance Esaú e Jacó
de Machado de Assis e explorar os aspectos do mito presentes no mesmo. Desta forma, partimos
dos seguintes questionamentos: O que é mito? Como este se apresenta no romance Esaú e Jacó?
Que metáforas demonstram as mudanças políticas e sociais que são utilizadas como pano de fundo
para mostrar a situação de mudança no país? O marco teórico que subsidiou este estudo foram as
contribuições desenvolvidas por: FRYE (1957) JOLLES (1972) ELIADE (1972), CANDIDO
(1993), porque tudo se passa no contexto da cidade; dentre outros. A metodologia utilizada foi a
pesquisa básica, bibliográfica. Os resultados até então obtidos apontam para a existência do mito
do duplo, bem como a depressão melancólica dos mitos escatológicos que remetem à morte através
da alusão ao mal, representadas pelas figuras femininas. Após a conclusão final dos resultados
acima, dar-se-á início às considerações finais possíveis acerca dos questionamentos levantados.
O presente trabalho é fruto de inquietações que surgiram na disciplina Cultura e Identidade Surda,
abordaremos como a cultura popular especificamente a dança tambor de crioula vem sendo
acessível democraticamente ao processos de inclusão dos ludoviceneses que utilizam a língua de
sinais e interagem com esta manifestação. O objetivo desta pesquisa é mostrar como este espaço
poderá ser compreendido para surdos de maneira satisfatória sem perdas do significado real.
Analisar o crescente processo de identidade cultural dos surdos em São Luís, discutir a necessidade
de implantação de políticas públicas de educação patrimonial a serem desenvolvidas na sociedade,
como possibilidades de construção de uma cultura histórica, a presença de intérpretes nestes
ambientes que é planejado para ouvintes. A pesquisa será realizada através de estudos teóricos que
definem cultura e identidade, Hall (2006) Bergamo e Santana, (2005). A análise do surgimento do
Tambor de Crioula ritual e espetáculo de Ferreti(2002) e a e discussão dos informantes com a coleta
de dados através de entrevista seguida de um questionário que foi enviado e respondido
posteriormente por e-mail ao intérpretes, aos surdos e direção da casa tambor de crioula. Quanto
ao tratamento dos dados, estes foram analisados de forma qualitativa com recorte de oito sinais já
convencionados da dança com os dois informantes surdos, dois intérpretes , com a descrição da
palavra em língua portuguesa, a datilologia, a imagem com sinal em LIBRAS, consequentemente
contribuindo com os falantes da LIBRAS e todos que tiverem interesse pelo tema.
125
Na quinta de suas teses Sobre o Conceito de História (Über den Begriff der Geschichte, 1940),
Walter Benjamin ensina-nos que “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só
se deixa fixar como imagem que relampeja irreversivelmente no momento em que é reconhecido”.
Por conseguinte, o historiador interessado em Filosofia da Linguagem e Análise do Discurso,
sensível às dimensões sociais enquanto formações discursivas de práticas e representações por meio
da linguagem (Sprachlichkeit, à maneira de Gadamer), vê-se diante de um novo desafio. Poucas
dúvidas podem restar quanto ao fato de que as famigeradas fake news provocam uma espécie de
dissolução da fronteira – que, em verdade, sempre foi móvel e permeável – entre as convenções
retóricas de veridicidade e ficcionalidade. Todavia, o atual redesenho dessa divisa inconstante
apresenta uma aporia. As fake news, cuja maléfica demiurgia não mais nos escapa, não pretendem,
efetivamente, construir consensos histórico-discursivos de verdade. Os enunciadores as sabem
falsas e não lhes importa, propriamente, propor uma leitura do mundo com pretensões de validez
social, desde que, ainda que de modo fugaz, os receptores de seu conteúdo falseado as propaguem
e as mesmas consigam surtir efeitos político-partidários em determinados eixos do processo
político-decisório. Deste modo, as fake news impõem uma proposital superposição entre realidade
e ficção, dolosamente urdida. Impende, portanto, que o historiador investigue o processo de
formação do campo da ficção no Ocidente, quando à veridicidade de determinados conteúdos
narrativos foram antepostos traços de transcriação estética. Como medievalistas, propomos aqui
investigar o Trovadorismo e sua poética à luz da tensão entre verdade e ficção para a Idade Média
Central, responsável pela efabulação de diversos de nossos referenciais contemporâneos. Afinal,
“irrecuperável é cada imagem do passado que se dirige ao presente, sem que esse presente se sinta
visado por ela”. Para este exercício presente-passado-presente, analisaremos a primeira cantiga
trovadoresca, Farai un vers de dreyt nien (“Farei um verso sobre o puro nada”), de Guilherme IX
da Aquitânia (1071-1127), composto por volta de 1090, para evidenciar o nascimento da lírica
amorosa centro-medieval como o grande Outro da Literatura.
Na transição do fim do século XIX para o início do século XX, São Luís passou por diversas
adaptações proporcionais aos padrões modernos disseminados pelo Velho Mundo como a
iluminação pública e a higienização, por exemplo, de modo que a capital ludovicense buscou
126
civilizar-se. Um dos elementos de distinção social era a indumentária parisiense tomada como farol
de elegância. Como instrumento de propagação do estereótipo moderno existiam vários periódicos,
dentre eles a Revista Elegante que apregoava um conjunto de prescrições quanto aos trajes
parisienses. Nosso trabalho visa identificar algumas mudanças ocorridas em São Luís, no campo
econômico, entre a segunda metade do século XIX e início do século XX, a fim de analisar como
elas alteram o comportamento dos citadinos para torná-los civilizados. Analisamos os efeitos de
sentido do discurso sobre estar na moda e ser civilizado, direcionado ao corpo masculino, em
revistas e jornais da capital maranhense. Para tanto, analisaremos um folhetim (1892) e duas
quadras (1894) retiradas da Revista Elegante com base em fundamentos da Análise do Discurso de
Linha Francesa (FOUCAULT, 1978). Diante das análises concluímos que a moda se caracteriza
enquanto dispositivo que refletiu as exigências sociais da era da modernidade, o que exigiu que a
civilidade não se restringisse apenas a infraestrutura das cidades, mas também às boas maneiras e à
indumentária, visto que o bem trajar e a boa conduta marcariam a diferença entre o ser civilizado
e o ser bárbaro. A moda se investiu de diversas tecnologias dentre elas a punição e a vigilância,
além de servir-se de uma linguagem de manual de instrução que revelou o seu caráter rigoroso e
autoritário. A principal maneira de veiculação dos ditames do dispositivo em questão foram as
páginas da Revista Elegante que, na posição de sujeito, era autorizada a falar do centro do
dispositivo moda em conformidade com os valores sociais admitidos como legítimos. Nosso
trabalho compõe a pesquisa intitulada A Moda como Dispositivo de Controle do Corpo Civilizado,
financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
elaboração de histórias educativas com novos personagens infantis, envolvendo temas como:
bullying, preservação ambiental, alimentação saudável no ambiente escolar, respeito e tolerância.
As histórias foram compiladas em uma revista e apresentadas aos demais alunos. Verificou-se a
contextualização sobre as histórias produzidas e a análise do discurso na promoção de
procedimentos de valores e atitudes nos alunos, inserindo-os em um contexto educacional de
transformação social.
A família, embora tenha passado por uma série de transformações sociais e estruturais, continua
sendo o núcleo basilar e fundamental de qualquer sociedade. Assim sendo, é uma instituição social,
que como as demais, submete-se às regras e às leis quando necessita dos mecanismos jurídicos para
a resolução de contendas. A presente proposta tem por objetivo geral, analisar os componentes da
lógica argumentativa no gênero petição inicial, de modo específico, identificar os elementos de base
de uma relação argumentativa e investigar os efeitos de sentido decorrentes do uso de recursos
argumentativos, estabelecendo uma relação entre a Linguística e o Direito, mediada pelo enfoque
da Análise do Discurso de linha francesa. Trata-se de um trabalho de natureza qualitativa e
interpretativa, de cunho documental, cujo corpus é a petição inicial de um processo de divórcio
litigioso com suspeitas de alienação parental. Para a efetivação deste trabalho, nossos estudos estão
ancorados na perspectiva da Teoria Semiolinguística do linguista francês Patrick Charaudeau
(2016), com ênfase no modo de organização argumentativo do discurso e identificando os
componentes da lógica argumentativa. Concluímos que o estudo possibilitou apontar elementos
específicos que funcionam como base numa relação argumentativa: a asserção de partida, a asserção
de passagem e a asserção de chegada.
Este trabalho consiste num recorte de pesquisa de Iniciação Científica realizada na UFPI, cujo
objetivo é analisar a configuração do discurso literário na obra “Capitães da Areia”, de Jorge
Amado. Para tanto, nos deteremos especificamente no modo de organização do discurso narrativo,
um dos postulados da Teoria Semiolinguística. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e interpretativa
que tem como corpus a obra já mencionada. Publicado em 1930, Capitães da areia retrata o
cotidiano de um grupo de meninos de rua na periferia de Salvador. Os resultados revelam que a
obra é organizada segundo o encadeamento em paralelismo, que se deve ao fato da obra ser
128
constituída de microssequências autônomas e paralelas. Devido a esse fator, a obra possui vários
pontos de abertura e fechamento, por conseguinte, diversos processos e variados actantes. Para
obtermos uma pesquisa mais objetiva, analisamos três capítulos da obra, segundo a abertura e
fechamento de cada um deles. Estes foram: “Ponto das pitangueiras, “Docas” e “Família”. Além
disso, a cronologia da obra é descontínua em alternância, pois não segue uma linearidade tão
explícita como é possível revelar através da identificação de microssequências. Quanto ao narrador-
contador, ele confere-se em um sujeito apagado, e revela-se em raros momentos quando interage
diretamente com o leitor-destinatário. Por fim, a relação entre autor-escritor e leitor-real ocorre
através do conhecimento acerca do objetivo do autor-escritor ao compor Capitães da areia, que é
descrever a verdadeira Bahia. Conclui-se que o modo de organização narrativo do discurso, na obra
literária em análise, permite que se veja um mundo novo, disposto a ser conhecido através das mais
variadas sequências de ações dos meninos-capitães, possibilitando, então, significações ricas para o
texto literário.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a constituição do(s) perfil(s) de estudantes do
Curso de Letras – Língua Espanhola e suas respectivas Literaturas, através dos Relatórios de
Estágio Supervisionado. Partindo da hipótese de que o discurso é um modo de ação sobre o mundo
e sobre o outro, assim como, um mecanismo de representação de identidades sociais, esta pesquisa
apoia-se nos estudos da Análise do Discurso Crítica (ADC), proposta por Chouliaraki &
Fairclough, (1999), Fairclough, (2001; 2003); e explorada por Magalhães (2005), Resende e Ramalho
(2006). Para a realização do estudo, foram selecionados dez (10) relatórios produzidos pelos
estudantes de Letras – Língua Espanhola, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), na
condição de estagiários/professores da disciplina, durante o primeiro semestre do ano de dois mil
e dezenove (2019). Como critério de análise das representações, serão utilizados os significados
acional, representacional e identificacional presentes nos textos; e, como categorias de análise,
respectivamente, a intertextualidade, a interdiscursividade, a modalidade e a avaliação. Desse modo,
ressalta-se a importância dos estudos de identidade (profissional), no tocante às mudanças nas
práticas sociais e discursivas das práticas docentes.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento normativo que define a progressão
de aprendizagens essenciais aos alunos da educação básica. Este documento prescreve as
competências e habilidades que devem ser desenvolvidas pelos estudantes ao longo do Ensino
Fundamental e Médio, visando-se à formação de cidadãos qualificados para o trabalho. Tendo em
vista o caráter prescritivo da BNCC e a presença cada vez mais marcante dos recursos tecnológicos
nas práticas sociais de professores e alunos, objetivamos neste trabalho investigar o que estabelece
a Base acerca do ensino da língua materna e da literatura mediado pelas tecnologias. Para
investigarmos o discurso prescrito pela BNCC, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, de cunho
bibliográfico e documental, embasando-nos na análise de textos que se encontram na fonte do agir
(BRONCKART, 2004) e nas distinções entre prefiguração, prescrição e procedimentos
(FILLIETTAZ, 2004). Por se tratar de uma pesquisa em andamento, os resultados aqui
apresentados são parciais. Foi realizada uma pré-análise sobre o documento no site oficial, a fim
de catalogarmos informações acerca de seu contexto de produção, do processo de implementação
e de sua organização. Além disso, realizamos a leitura na íntegra da BNCC. Os resultados parciais
demonstram a ênfase dada às tecnologias no âmbito escolar, inclusive no ensino da língua materna,
prescrevendo a necessidade de aliar a cultura digital às práticas docentes, alfabetizando e letrando
digitalmente os alunos, de modo que façam uso das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação de forma ativa, crítica e reflexiva. Desse modo, o professor pode assumir o papel de
mediador e auxiliar o aluno a desenvolver a criticidade e a responsabilidade frente ao uso e à
produção das tecnologias.
a conduta do morador. Através da análise de nosso corpus, composto por enunciados linguísticos
e imagéticos, é possível depreender que o sujeito morador requerido pela gestão da capital não é e
não pode ser qualquer um. Antes, precisa deixar ser conduzido pelo governo e se conduzir para
poder construir, junto à prefeitura, uma “cidade beleza”. Este estudo está ancorado nos
pressupostos teóricos metodológicos da Análise de Discurso francesa de matiz foucaultiana.
dessa transformação, tanto para Gregor que era a fonte de renda da casa, quanto para a família dele
ao descobrir que devem manter-se financeiramente sozinhos. Assim, a partir desta obra pretende-
se realizar a proposta deste trabalho, e responder aos seguintes questionamentos: O que Kafka
falava e como ele falava? Qual a serventia do ser humano para a sociedade? Como são vistas as
pessoas diferentes daquilo que a família projetava ou com depressão? Este trabalho é uma pesquisa
bibliográfica fundamentada na Análise de Discurso Francesa, desenvolvida segundo a análise dos
fragmentos da obra central, utiliza-se também a obra Carta ao Pai do mesmo autor, para que se
pudesse compreender sua relação familiar.
Este trabalho pretende analisar a prática do jornalismo cultural em veículos impressos, mais
precisamente o praticado pela revista Veja. Para isso, fundamenta-se na abordagem teórica de
Geertz (2008), para quem cultura corresponde a uma ciência interpretativa das expressões sociais;
nos estudos de Piza (2007), para compreender o conceito de jornalismo cultural; e nos de Scalzo
(2011), para conceituar e entender a rotina jornalística de produção de uma revista. Quanto à
metodologia, foram coletadas cinco edições da revista Veja publicadas entre os meses de fevereiro
e março de 2019. A análise do material segue os procedimentos analíticos desenvolvidos pela
Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016): pré-análise; exploração do material; e tratamento dos
resultados obtidos. As categorias de análise estão definidas conforme encontradas em Melo (2010):
gênero jornalístico, cartografia cultural e geografia política. A importância desta pesquisa consiste
em trazer para o centro das discussões a relação entre jornalismo de revista e jornalismo cultural,
mostrando a relevância deste formato em veículos impressos, que ainda conseguem impactar os
leitores em um mercado que apresenta reflexos de um grande competidor: o jornalismo online.
Objetivamos analisar as facetas do herói na obra A demanda do Santo Graal: manuscrito do século
XIII. Na DSG o cavaleiro ideal consiste naquele que obedece às regras da Igreja. Essa relação entre
o ideal cavaleiresco e o cristianismo provém de um período que marca na literatura medieval as
influências religiosas, as letras eram vistas como um meio de pregar modelos e exemplos que
deviam ser assimilados e seguidos por toda comunidade. O conceito do herói universal de
Campbell (2007) na obra O herói de mil faces, aplica-se aqui quando consideramos a concepção
do autor de que o herói universal é aquele que deve servir de modelo para sua sociedade, na
Demanda três cavaleiros destacam-se por sua conduta: Boorz, Persival e Galaaz. A jornada do herói
mostra a superioridade de Galaaz retratado não apenas como um herói cavaleiro, mas um herói
predestinado que pela sua perfeição, beira o modelo de santo.
Quando se fala em cultura, instintivamente emerge-se a ideia de que a carga cultural de determinado
indivíduo é produto do meio em que ele se desenvolveu. A absorção de conceitos e normas por
observação e convivência foi, por muito tempo, a única resposta que a antropologia tinha a dizer.
Porém, nos últimos vinte anos, houve um desenvolvimento considerável em pesquisas sobre o
133
fundo evolutivo da transmissão cultural. Atualmente existem estudos que englobam as possíveis
formas de aquisição da cultura, como a construção da memória nos cérebros humanos e a
motivação do homem para formação e cooperação de grupos, mesmo que a comunicação e a
convivência ainda continuem tendo grande importância na explicação da transmissão cultural. O
presente trabalho visa analisar a evolução cultural pelo viés da seleção natural, buscando explicar o
funcionamento das sociedades humanas, utilizando como referencial teórico o livro “Minds Make
Societies”, do autor Pascal Boyer. Esse estudo da evolução cultural pelo viés da seleção natural
pode explicar a maneira como os seres humanos pensam, porque existe a cooperação, a moralidade,
entre outras questões que parecem ser processos naturais, mas que podem ter explicação científica.
A seleção natural resultou no desenvolvimento de capacidades altamente específicas nas mentes
humanas, especializadas no tratamento de diferentes problemas que foram surgindo. Pode-se
assim, explicar como o cérebro humano, em virtude de sua história evolutiva, compartilha
determinadas disposições conceituais, as quais são transmitidas culturalmente entre as gerações. O
estudo do desenvolvimento cognitivo permite analisar os fatos que influenciaram na troca de
informações nas gerações primitivas do homo sapiens, as quais tornaram normas e conceitos
culturais “naturalmente” familiarizados. A partir das reflexões supracitadas, depreende-se que o
conceito de transmissão cultural através da convivência é uma hipótese bastante relevante, mas não
completamente satisfatória. De acordo com Boyer, o que chamamos é cultura é o resultado de
encontros entre pessoas com valores diferentes ou semelhantes – não necessariamente de um
mesmo grupo de convivência – os quais mudam, mantêm ou descartam seus modos de pensar de
acordo com esses encontros. Sendo assim, pode-se dizer que a cultura é a agregação de muitos
episódios de transmissão individual.
O presente estudo tem o intento de apresentar por meio da narrativa dos versos de Literatura de
Cordel uma das temáticas relatadas pelos poetas repentistas e de bancada que é a tradição poética,
tema este comum na produção literária desse gênero textual. Quando se fala da poesia de cordel
não se pode deixar de mencionar o repente, pois através dessa manifestação popular surge o cordel,
que advém, primeiramente, da oralidade. Pesquisadores e estudiosos da Literatura de cordel
defendem que sua aparição aconteceu em Portugal por volta do século XVII e no Brasil por conta
da colonização de portugueses, franceses e espanhóis por volta do século XIX. Essa forma poética,
o repente, é apresentada na modalidade oral, em forma de cantoria ou declamação, e na escrita o
poeta de bancada escreve os famosos folhetos de cordel. A traição é tema abordado e objetiva-se
analisar os elementos indicadores dessa traição e infidelidade no amor até o desenrolar dos fatos,
pois, apesar do texto poético trata-se de uma narrativa. O romance de cordel é Florentino e
Mariquinha no tribunal do destino, de Marco Haurélio, lançado em 2012, que narra uma falsa
traição e que aconteceu entre Mariquinha com seu esposo Florentino, o pivô dessa suposta
infidelidade é João Osório um grande amigo de seu marido. Destacando do referido cordel a
temática traição, apresentando teóricos que dialogam com o tema e expondo um pouco sobre vida
134
e obra do autor. A metodologia aplicada é de caráter analítico, pesquisas bibliográficas e com análise
do folheto de cordel. Busca-se apoio nos pesquisadores, tanto no que diz respeito aos aspectos
históricos e teóricos do cordel, como estudos analíticos de folhetos. Os autores que respaldarem
essa pesquisa foram: HAURÉLIO (2013/2012) CURRAN (2011), DAUS (1982), DIÉGUES Jr.
(1973), LOPES 91982), dentre outros.
Após um longo período no qual o novo era superestimado, emergiu-se uma preocupação por parte
da sociedade em preservar os vestígios do passado, com objetivo de conservar a memória existente.
No que tange as práticas de preservação do patrimônio cultural, destaca-se o estudo as Cartas
Patrimoniais, as quais são documentos de base deontológica que contêm conceitos e
recomendações para preservação, manutenção e restauro do patrimônio cultural. Esses
documentos possuem caráter prescritivo, nunca normativo, sendo escritos com base nos
desdobramentos temporais da época em que foram desenvolvidos. Eventualmente são escritas
novas Cartas, que complementam e/ou aprofundam as anteriores, atualizando-se de acordo as
mudanças do cenário mundial. O presente trabalho apresenta uma discussão sobre os possíveis
efeitos de sentido analisados na Carta Patrimonial de Veneza, elaborada em 1964. Trata-se,
portanto, de verificar a construção discursiva da Carta em relação ao patrimônio cultural, e quais
os seus efeitos para a construção da memória, sendo utilizado o referencial teórico-metodológico
da Escola Francesa de Análise de Discurso. A Carta de Veneza é considerada um aprofundamento
da Carta de Atenas, a qual foi a primeira Carta Patrimonial. Ao fazer uma análise discursiva
comparando a Carta Patrimonial de Veneza com Cartas anteriores pode-se perceber que existe um
processo de polissemia, visto que há uma instauração de sentidos que estão alhures e que são
absorvidos por uma nova discursividade, relacionada a novos acontecimentos. Analisando os
conceitos trazidos pela Carta de Veneza, depreende-se que estes não são contrários aos que
estavam, por exemplo, na Carta de Atenas, mas que complementam os documentos produzidos
anteriormente. Algumas Cartas trazem a repetição de conceitos apresentados em cartas prévias,
indicando o funcionamento da memória, remetendo ao que foi dito antes e em outro lugar. Sendo
assim, infere-se que a memória da preservação do patrimônio cultural é sempre retomada, porém,
novas recomendações são feitas, sendo um produto das necessidades de cada época. A análise
discursiva da Carta Patrimonial Veneza permitiu compreender o alcance do patrimônio cultural e
sua relação com a memória, além de dar indícios de como um documento oficial pode auxiliar no
processo de conservação da identidade local para as futuras gerações.
pensamento. Com isso, a metodologia diretamente utilizada na análise presente neste trabalho
consistiu na revisão sistemática e bibliográfica das obras e concepções filosóficas de Francis Bacon,
bem como que artigos científicos e recortes acadêmicos sobre o movimento surrealista,
conformando aqui a relevância e “novidade” deste trabalho ao intentar associar e relacionar os
estudos sobre o surrealismo enquanto movimento, e a “obra ideológica” de Bacon enquanto
expoente do pensamento e método indutivos. Dessa forma, este estudo pretende trazer um novo
e diferente enfoque, numa releitura da obra de Francis Bacon sob o olhar artístico e literário
surrealista.
Desde a publicação do Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway (2016), o ciborgue, híbrido entre
máquina e organismo, aparece como figura fundamental para compreender como a tecnologia
interfere em todas as esferas da vida humana. Partindo dessa criatura de ficção, pensada enquanto
mito político e irônico, a autora analisa diversas dicotomias que reforçam as políticas identitárias,
137
A presente pesquisa objetiva a coleta e análise de dados das obras de ficção fantástica nacionais
publicadas entre 1999 e 2019 a fim de descobrir o quantitativo de publicações dessa categoria em
cada ano e relacionar ao desenvolvimento e evolução dos cibercaminhos, ou seja, como o digital
influenciou e fortaleceu a ficção especulativa nacional. Procura-se averiguar o tema e as
característica dos principais livros de ficção fantástica do período, considerando se trabalha fontes
e lendas estrangeiras ou busca raízes no folclore nacional. Pretende-se averiguar a hipótese de que
antes do advento da internet a publicação do presente tipo literário era rara, baseada na ficção
fantástica internacional, repleta de entraves editoriais e preconceitos. Serão utilizadas as
metodologias de análise bibliográfica e catalográfica, fundamentadas nas obras As Tecnologias da
Inteligência e Cibecultura, de Pierre Lévy; O Poder do Mito, de Joseph Campbell, Cultura da
Convergência, de Henry Jenkins e Introdução a Literatura Fantástica, de Tvezan Todorov com fins
de demonstrar o crescimento da quantidade de obras publicadas dentro da presente categoria e os
caminhios trilhados por seus autores. Considerando que o jovem escritor brasileiro de ficção
fantástica passa por uma fase de transformação política e cultural na qual pode deixar de se apoderar
do imagético internacional e procurar sua própria identidade e, por consequência da presente
categoria literária, em território nacional face às modificações culturais ocorridas na
contemporaneidade em relação aos meios midiáticos e a globalização. Além de procurar uma
resposta para a dificuldade da literatura fantástica de encontrar espaço próprio e culturalmente
nacional nas prateleiras e na mente do leitor.
Sendo um dos mais importantes romancistas brasileiros do século XX e tendo ocupado diversos
cargos na sua vida pública, Josué Montello registrou em seus diários não só os seus conflitos
íntimos, mas também impressões do mundo, das pessoas que o cercavam e dos livros que lia e
escrevia. Por conta disso, esses escritos podem ser encarados como material de análise da visão que
seu autor tinha de si e dos outros. Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo analisar os
aspectos da escrita diarística de Josué Montello. Assim, espera-se obter uma visão mais clara do
modo como Montello compreendia a forma e o teor dos seus diários, sua utilidade e suas
possibilidades de dizer a verdade. Para tanto, utiliza-se os trabalhos de Lejeune (2014), Maciel
(2002), Gama (2019), Rolim (2005), entre outros, para a análise dos textos introdutórios dos seis
diários de Montello publicados em 1998 numa edição intitulada Diário completo (MONTELLO,
1998), confrontando os textos teóricos dos autores citados com os escritos do romancista
maranhense. Os resultados mostram que, ao refletir sobre a escrita diarística de um modo geral,
Josué Montello se aproxima das discussões mais empreendidas pelos estudiosos da literatura
autobiográfica tais como a descrição dos motivos pelos quais se mantém um diário, as
características dessa literatura íntima e, principalmente, as discussões acerca da dicotomia real x
ficcional. Pode-se observar também que a maneira como o romancista encara essas questões se
assemelha ao defendido por Phillipe Lejeune em seus estudos sobre a literatura autobiográfica e
sobre o diário íntimo.
É notório que após quinze anos de vigência a Lei 10.639/03 professores universitários e da rede
básica de ensino ainda enfrentam dificuldades quanto ao letramento literário de obras africanas e
afro-brasileiras. Discussões recentes têm apontado o letramento literário como um caminho viável
para o ensino de literatura, uma vez que ele se distancia de práticas descontextualizadas, incitando
às práticas pedagógicas em que o professor media a experiência literária do aluno, de maneira que
este a signifique diante das práticas sociais (COSSON, 2009). No caso mais específico do
letramento, os estudos buscam desenvolver análises mais amplas (dimensão política, social, cultura
e ideológica) das práticas da leitura e da escrita nos diversos domínios situados e discursivos
(KLEIMAN, 2008). Com esse evento, é possível desenvolver um olhar analítico e constitutivo da
linguagem, focado nas relações de poder construídas entre os autores sociais. É possível afirmar
que temos, com a reflexão do letramento, a valorização do espaço cultural e da trajetória formativa
dos alunos como proposição do desenvolvimento e habilidades linguísticas apresentadas na vida
social segundo práticas socioculturais. Nessa perspectiva que o presente trabalho objetiva discutir
uma experiência didática no contexto universitário da formação de professores de língua materna,
visando analisar como uma prática pedagógica orientada ao estudo da literatura africana, mais
especificamente do romance moçambicano Mayombe, de Pepetela, a partir da produção
colaborativa de artigos de opinião, pode oportunizar a construção dos letramentos acadêmico e
139
O presente trabalho tem por objetivo analisar a reação estética em Relato de um certo Oriente, isto
é, busca-se compreender o efeito emocional a que o leitor é encaminhado durante a leitura dessa
obra literária. Segundo Vygotsky (1999) a reação estética se instaura na contradição de emoções
internas que se desenvolvem até o ponto culminante, no qual ocorre a fusão desses dois
sentimentos opostos em um curto-circuito. Nesse sentido, embasados no método objetivamente-
analítico, empreendeu-se a leitura minuciosa da obra, observando quais fatos foram tomados pelo
autor para compor a fábula da obra, bem como se analisou o modo como os fatos foram
apresentados na linha do tempo, ou seja, o enredo, a fim de perceber como eram organizados os
planos emocionais contraditórios e a qual reação estética o leitor é encaminhado. Para tanto,
percebeu-se a coexistência de dois planos contraditórios: o plano do encontro com Emilie,
marcado pela vontade da narradora inominada em encontrar-se com a mãe adotiva, e o plano do
desencontro com Emilie, marcado pelos sucessivos adiamentos e retardos da narração desse fato.
Diante dessa contradição, a obra mantém a tensão do leitor elevada e em constante ascensão até o
ponto em que se findam todas as possibilidades de encontro físico, e a narradora inominada
relembra sobre o telefonema, atribuindo a isso uma última tentativa de Emilie em encontrá-la.
Assim, a narradora funde os dois planos contraditórios tanto o sentimento de culpa como o de
inocência passam a ser vivenciados pelo leitor em uma complexa descarga de energia psíquica,
chamada de curto-circuito. Portanto, a reação estética em Relato de um certo Oriente consiste em
manter a contradição emocional por meio do plano do encontro e do desencontro, até o ponto
culminante no qual a narradora inominada retoma a ocorrência de um “certo” encontro, e assim
na mesma medida o leitor passa a sentir algo que não é apenas culpa ou inocência, mas sim uma
paradoxal manifestação de ambos os sentimentos. Nesse sentido, pode-se afirmar que esses
sentimentos passam a reverberar na experiência psíquica do leitor estabelecendo relações com as
suas culpas e inocências como respostas ao enunciado literário.
Sendo a literatura policial uma força de grande projeção ainda na contemporaneidade, e se tornando
ela uma fonte não apenas de entretenimento, mas também de reflexão sobre a sociedade e também
sobre as estruturas que a formam, o presente trabalho busca analisar as representações da figura
do detetive em duas obras policiais produzidas no continente americano, são elas: La Cola de la
Serpiente (2011) do cubano Leonardo Padura Fuentes e The Long Goodbye (1952) de Raymond
Chandler. Ambas em seus idiomas originais, espanhol e inglês, respectivamente. O objetivo da
pesquisa é analisar se há uma continuidade do estilo Noir no continente americano e na
contemporaneidade, vide o lapso temporal de quase 60 anos entre as narrativas, além do diferente
local de produção, bem como se dão as mudanças comportamentais com esse tipo de personagem.
A metodologia consiste em pesquisa bibliográfica traçando, por meio da história do gênero, uma
linha temporal que dê conta dos aspectos narrativos do texto policial e das características do
detetive ao longo da produção de romances de mistério. Para isso, usaremos MASSI (2015),
REIMÃO (1983) e JAMES (2012). Como resultado parcial, observamos uma diferenciação na
representação do detetive, pois se a priori o detetive era imparcial e insensível aos dramas alheios
a si, na contemporaneidade, há uma tendência a humanização da personagem, como também seu
envolvimento direto com o mistério a se resolver. Sendo assim, é importante destacar o que pode
significar essa mudança de representação da personagem no gênero, ou porque a humanização gera
empatia junto ao narratário, ou porque o gênero não comporta mais criaturas infalíveis como
agentes da lei, ainda que não legitimadas pelas instituições legais.
Em 1963, o escritor brasileiro André Carneiro publica seu conto A escuridão, que traz a história
de um fenômeno que desafia a ciência: toda fonte de luz, natural ou artificial, não ilumina mais.
Sol, fósforos, lanternas se mostram inúteis; assim recai sobre a terra uma escuridão sem
precedentes. Mais de trinta anos depois, o escritor português José Saramago lança seu Ensaio sobre
a cegueira, romance que traz o drama de um mundo repentinamente afligido por uma epidemia
referenciada como “cegueira branca”. Sobre estes semelhantes motes, os autores contemporâneos
abrem seus universos ficcionais refletindo sobre a condição humana e como a sua natureza é
revelada ao ruir das convenções político-sociais. O presente artigo tem como objetivo analisar os
pontos de convergência e divergência entre as obras A escuridão e Ensaio sobre a cegueira, a partir
da perspectiva da obra Dialética do esclarecimento (1944) de Adorno e Horkheimer, bem como
das discussões acerca da Ficção Científica apresentadas pela crítica literária Elizabeth Ginway.
Serão consultadas também os apontamentos do sociólogo Zygmunt Bauman (2003).
Este trabalho busca estudar o processo de adaptação de obras ficcionais escritas para os meios
audiovisuais, a exemplo da televisão ou do cinema. Como principal objeto de estudo, temos o filme
O Diário da Princesa, que foi adaptado para o cinema tendo como base o livro homônimo infanto
juvenil, da escritora americana Meg Cabot. Como objetivo em específico, temos a análise da
personagem Mia Thermopolis, e como ela é caracterizada na obra escrita, bem como estudar como
foi feita a transposição dela para o cinema. Algumas das questões a serem discutidas e que nortearão
o estudo são as seguintes: o que os adaptadores levaram em conta para caracterizar a Mia do filme?
Por que ela difere tanto da protagonista dos livros? Que público os adaptadores buscaram alcançar?
O resultado dessa busca foi alcançado? Essas e outras perguntas serão respondidas ao longo do
desenvolvimento do trabalho. Com este estudo procuramos entender o processo adaptativo e
levantar a hipótese de que a Mia Thermopolis cinematográfica pode ter sido idealizada com o
intuito de seguir os padrões de beleza e comportamento esperados de meninas/mulheres na
sociedade da época (e atual também, visto que se trata de um filme contemporâneo). Para tanto,
utilizaremos como base teórica os estudos de Linda Hutcheon (2006), Anna Balogh (2002), Tânia
Pellegrini (2002), Robert Stam, dentre outros autores que teorizam sobre a teoria da adaptação.
O clássico O Pequeno Príncipe de Sant-Exupéri, publicado pela primeira vez em 1943 nos Estados
Unidos, ganha pelas mãos do renomado poeta Ferreira Gullar uma nova tradução/adaptação. Tal
produção é objeto de análise desse estudo, o qual tem por finalidade identificar e discutir as
estratégias eleitas pelo tradutor para tornar a obra mais atualizada e, assim, aproximá-la do público
para o qual ela foi pensada – já que a tradução, publicada pela Editora Agir, circulou em todas as
escolas públicas do Brasil de Ensino Fundamental, por meio do Programa Nacional Biblioteca na
Escola (PNBE). Diante de tal relevância e alcance, a presente pesquisa, ancorada em uma pesquisa
qualitativa de cunho bibliográfico, apropria-se dos estudos de Rosemary Arrojo (2002); Paul
Ricoeur (2011); Susan Bassnett (2005) e Sousa (2014), por apresentarem aspectos teóricos sobre o
texto traduzido e adaptado pelos vieses estéticos e artísticos – sendo, dessa forma, uma criação
literária. Além dos autores citados, trilha-se pelos estudos de Hans Robert Jauss (1994) e Zilberman
(1987), pois estes favorecem a análise com foco no leitor, isto é, como o resultado de escolhas que
levam em consideração um dado público receptor. O presente estudo, portanto, pretende ampliar
as discussões em torno da consolidação da tradução/adaptação como gêneros literários com
expressivo valor estético.
O presente trabalho analisa os conceitos de utopia e distopia a partir da estrutura do plano Olho
da Lua (Tsuki no me), uma tentativa de organização social proposta por Madara Uchiha, um dos
líderes da organização Akatsuki, na série de mangá japonesa Naruto. Segundo o personagem, o
plano consiste na projeção de um poder ocular, o Sharingan, na lua a fim de afetar diretamente a
percepção de realidade de todos os seres vivos da Terra, lançando-os em uma ilusão de paz
contínua, e assim gerar um locus utópico desde que interromperia todas as guerras e desavenças
existentes. Em contraparte, Madara se tornaria o soberano deste novo mundo, e todos teriam que
atender a seus desígnios, o que comporia uma espécie de estado totalitário em que todos teriam a
experiência de paz às custas dele. Sabendo disto, nossa intenção é confrontar as possibilidades desta
estrutura de compor tanto uma utopia como uma distopia e discorrer através do material narrativo
como estas ideias que comumente são imaginadas como opostas pelo senso comum, tem mais em
comum do que se pensa. Os resultados mostram que muito mais que uma oposição, os conceitos
podem ser observados como uma questão de pontos de vista difusos que dependem da experiência
pessoal e das estruturas de poder para alcançar um status de benefício/malefício. A pesquisa é de
caráter bibliográfico e natureza exploratória, apoiando-se teoricamente em nomes como Baccolini
(2003), Claeys (2011), Moylan (2016) e Sargent (2010).
O conto “O Gato Preto” (1843), de Edgar Allan Poe, narra episódios da vida de um homem que,
desde criança, tivera na afeição pelos animais uma de suas inclinações mais fortes. Na idade adulta,
o homem continua a cultivar seu amor pelos bichos de estimação e se casa com uma mulher
submissa e generosa que compartilha da mesma afeição pelos animais. Um dia, porém, uma
mudança radical começa a se estabelecer em seu caráter e ele se torna violento e insensível aos
sentimentos alheios, chegando ao extremo de arrancar um dos olhos do seu gato preto e, pouco
tempo depois, enforcá-lo. Na noite que se segue ao enforcamento, o homem e sua esposa acordam
de madrugada com a casa em chamas. Nos destroços do incêndio, em uma das paredes da casa,
restou uma imagem gigantesca de gato sendo enforcado. A partir desse ponto da narrativa, o dono
do gato começa a testemunhar uma série de acontecimentos aparentemente inexplicáveis e os quais
abalam seus nervos e o deixam em estado de hesitação e medo. O objetivo deste trabalho é analisar
o conto de Allan Poe com base nos conceitos literários de insólito e fantástico. Segundo a clássica
definição do estudioso da literatura Tzvetan Todorov, o insólito está presente em todas as
narrativas em que ocorre um fenômeno extraordinário, algo que parece desobedecer às leis deste
mundo; já o fantástico está presente nas narrativas que mantêm as personagens e o leitor em estado
de incredulidade e hesitação diante do episódio inexplicável – insólito. Neste sentido, o presente
143
trablalho busca suporte teórico nos estudos críticos de Tzvetan Todorov (1979), Flávio Garcia e
Julio França (2013) e David Roas (2014), dentre outros.
O fantástico instiga entusiastas, seja em âmbito acadêmico, seja despertando o interesse de leitores
simpatizantes do gênero. Nessa perspectiva, despontam inúmeras antologias com intuito de levar
até o público diversos exemplares de narrativas tendo como critérios metodológicos aspectos
geográficos e temporais. Ítalo Calvino em Contos fantásticos do século XIX; Flávio Moreira da
Costa com Os Melhores Contos Fantásticos; Adolfo Bioy Casares, Jorge Luis Borges e Silvina
Ocampo por meio da Antologia da Literatura Fantástica, dentre tantos outros, realizaram um
périplo literário englobando diversos países e selecionando textos ao longo da história humana. O
presente estudo objetiva investigar duas narrativas da literatura do século XIX tidas sob o domínio
do fantástico, uma amplamente consagrada pelo cânone literário, a saber: A Vênus de Ille [1837]
do autor francês Prosper Mérimée (1803-1870) e a obra O Manuscrito de Saragoça [1804] do conde
polonês Jan Potocki (1761-1815), ainda com incipiente conhecimento por parte do público. Por
meio de um estudo de natureza qualitativa, teórico-analítico com ênfase fenomenológica
vislumbramos as principais características presentes em ambas as narrativas, influências literárias
exercidas na contemporaneidade e os recursos estilísticos com vistas a inferir os pormenores
atendidos nos textos que possam enquadrá-los sob a perspectiva do fantástico, servindo-nos, para
isso, do aporte teórico presente em Todorov (2017) no manual Introdução à Literatura Fantástica,
cuja leitura consiste e fonte imprescindível para reflexões que orbitem em torno da temática em
análise, e que nos permite vislumbrar a linha tênue entre o estranho, o fantástico e o maravilhoso
que se manifesta na tessitura dos textos literários sob investigação.
Palavras-chave: Literatura Fantástica; Século XIX; Prosper Mérimée; Jan Potocki; Tzvetan
Todorov.
A Protoficção Científica (Proto FC) se refere às obras cujas explicações científicas se aplicam aos
elementos fantásticos, dessa forma, reúne características dos gêneros: o Fantástico e a Ficção
Científica. Pode-se afirmar que um dos principais objetivos da Proto FC é satirizar as sociedades
da época ou descrever utopias. No Brasil, o gênero se desenvolveu mais significativamente no final
do século XIX e o escritor Joaquim Manuel de Macedo teve uma enorme contribuição nesse
processo. Joaquim nasceu em 1820 e faleceu em 1882, teve sua estreia literária com a obra A
Moreninha (1844), mas é no conto satírico O Fim do Mundo em 1857 que o autor aborda a
144
narrativa. Para tanto, utiliza-se como referencial teórico os apontamentos de Todorov (1981),
Lovecraft (1987), Roas (2012), Burke (1993) e França (2008).
Os quilombos urbanos ou contemporâneos são partes integrantes da história do nosso país, pois
são provas da remanescência da construção de espaços como sinal de luta, resistência e afirmação
de identidades de negros (as) africanos (as) que para cá vieram escravizados. Consequentemente,
são lugares de desenvolvimento de especificidades tanto denominativas quanto semântico-
conceptuais que expressem a visão de mundo e de sujeito dos integrantes desses espaços. Esta
pesquisa, em andamento no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica -
PIBIC/Voluntário/2019-2020 tem como objetivo coletar, registrar e analisar o léxico
representativo do quilombo urbano ludovicense Camboa visando contribuir para o fortalecimento
146
do processo identitário desse território. Para tanto, este trabalho está amparado, sobretudo, nos
estudos teórico-metodológicos de SAPIR (1921), POTTIER (1973) e BARBOSA (2007) sobre,
respectivamente, a Etnolinguística e a Etnoterminologia, e nos de HALL (2006) quanto às questões
relacionadas à construção da identidade sociocultural. Os dados, ora em análise, resultam da
aplicação do questionário etnoterminológico realizado com homens e mulheres autodeclarados
negros (as), moradores da Camboa há, pelo menos, dez anos, participantes ativos das manifestações
socioculturais desse bairro. Segue-se realizando, ainda, pesquisas bibliográficas e ampliando a coleta
e a análise de dados. Este trabalho tem sua importância nitidamente marcada pela escassez de
estudos realizados, a partir de uma perspectiva etnoterminológica sobre as particularidades
semântico-lexicais que, entre outros fatores, constroem e fortalecem os processos identitários de
territórios que reivindicam seu reconhecimento como territórios quilombolas urbano ludovicenses,
como é o caso da Camboa.
O foco deste trabalho está voltado para a investigação da ocorrência (ou não) da flutuação de uso
dos modos verbais nas produções escritas dos estudantes do ensino médio. Entendemos por
flutuação o desvio no uso do modo verbal em que a ocorrência de determinadas estruturas no
contexto frasal gera uma expectativa de uso de uma forma verbal, no modo subjuntivo, por
exemplo, que, muitas vezes, acaba não sendo correspondida. Entendemos por modo a propriedade
de o verbo mostrar como o usuário da língua se posiciona diante do conteúdo de seu enunciado.
Por esse motivo, buscamos compreender como acontece o fenômeno da flutuação na língua
escrita, considerando que essa modalidade de língua é pautada pelo uso da língua padrão. Como
objetivos investigaremos a ocorrência da flutuação de uso dos modos verbais em textos escritos
por estudantes do ensino médio; analisaremos essas ocorrências para confirmar (ou não) se houve
flutuação de uso dos modos verbais; por fim será feita a descrição da situacionalidade do produtor
do texto (estudante), ao escolher um ou outro modo verbal para realizar seu discurso. Nesse
sentido, dados de base qualitativa nos ajudarão a responder à seguinte questão norteadora: Como
acontece o fenômeno da flutuação no uso dos modos verbais em textos produzidos por estudantes
do ensino médio? A pesquisa que pretendemos realizar é de natureza qualitativa. Acreditamos que
o trajeto qualitativo nos permitirá uma análise qualificada para a interpretação dos dados coletados
sobre o objeto de nossa investigação. Os autores que subsidiarão a presente pesquisa serão:
CHIZZOTTI (2016), PIMPÃO (1999; 2012), GONÇALVES (2003), MARTELLOTA (2011),
NEVES (2002, 2004), OLIVEIRA (2003), PEZATTI (2005), VIEIRA (2007), dentre outros que,
pela necessidade, no percurso da pesquisa, venham a ser incluídos. Para a análise dos dados,
utilizaremos a trajetória fenomenológica, buscando apreender a essência ou a estrutura da flutuação
de uso dos modos verbais, nas produções escritas dos sujeitos da pesquisa. Esses textos referem-
se às experiências vividas por eles e possuem uma situacionalidade na existência desses sujeitos. A
análise dos dados será feita em dois momentos: o da análise ideográfica e o da análise nomotética.
Desde o surgimento da Linguística Textual, diversas têm sido as contribuições para a compreensão
dos fenômenos linguísticos. Teóricos como Van Dijk, Bakhtin, Marcuschi, Kleiman, Koch e Elias,
D’Isolla entre outros, têm refletido de diferentes maneiras sobre o conceito de texto. Fato que
constitui contribuições para entender o texto não como um produto acabado, mas como um
processo de planejamento, verbalização e construção de estratégias para incentivar a leitura e a
escrita em sala de aula. Assim sendo, delimita-se esta proposta a tratar do texto e da retextualização
como dois aportes basilares que se entrecruzam na construção teórico-metodológica na prática de
ensino e aprendizagem da leitura e escrita, tendo em vista que um mesmo conteúdo tanto desta
como daquela podem ser tratado por diferentes gêneros textuais e por diferentes aspectos
gramático-lexicais. Nesse sentido, os resultados obtidos no curso de Extensão Metodologia do
Ensino de Línguas, na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a partir de uma crônica
entitulada “Classificados através da história”, de Luís Fernando Veríssimo, são parciais e indicam
que: a) o texto base de leitura promove incentivo para a escrita de outro gênero textual; b) a
retextualização possibilita a autonomia autoral do criador de um novo texto; e c) compreensão e
entendimento da intersecção retextualização no ensino-aprendizagem. Assim sendo, pode-se
entender que é necessário utilizar estratégias para o ensino de leitura e de escrita autoral em
diferentes condições de produção comunicativas do uso.
Este estudo tem como objetivo geral analisar quais as implicações das ferramentas de plataformas
de gameficação no ensino de línguas adicionais, buscando identificar o potencial destes
instrumentos para a mobilização de estratégias individuais de aprendizagem (OXFORD, 1990).
Para tal, partimos da seguinte questão geral: Quais as implicações das ferramentas de plataformas
de gameficação no ensino de línguas adicionais para a mobilização de estratégias individuais? Como
base teórica para esta pesquisa, nos fundamentamos na noção de aprendizagem de língua adicional
como um sistema adaptivo complexo (LARSEN-FREEMAN, 1997; MORIN, 2007), por
considerarmos que esse processo é resultado de uma interação dinâmica entre os mais diversos
fatores, entre os quais, cognitivos, sociais, metacognitivos, afetivos, etc. Além disso, concordamos
com Paiva (2011) no seu entendimento de que a língua está em constante mudança e que tais
mudanças não resultam de regras rígidas e lineares, mas do inter-relacionamento de inúmeros
elementos. A gameficação é aqui compreendida como o uso de elementos do desenvolvimento de
jogos em outros contextos que não são os jogos (DETERNING et al., 2011; FARDO, 2013), neste
caso, o uso no processo de ensino e aprendizagem de línguas adicionais. As estratégias individuais
de aprendizagem são aqui compreendidas como ações conscientes e específicas empregadas pelos
aprendizes para melhorarem o próprio desempenho no processo de aprendizagem de uma língua
adicional (OXFORD, 1990). Para viabilizarmos os objetivos propostos, realizamos uma pesquisa
148
As chamadas redes sociais de aprendizagem de línguas (doravante RSAL) fornecem aos aprendizes
de línguas adicionais uma pluralidade de ferramentas aptas a potencializar a mobilização de
diferentes estratégias individuais de aprendizagem. Entre tais ferramentas destacamos: ferramentas
intuitivas de linguagem, tradução, correção, transcrição, dentre outros. Nesse cenário, nosso
objetivo neste estudo é analisar as estratégias de aprendizagem (OXFORD, 1990) mobilizadas por
aprendizes de língua espanhola na RSAL Hellotalk. Para tal, partimos das seguintes questões: como
se dá a mobilização de estratégias de aprendizagem na RSAL Hellotalk?; Quais os tipos de
estratégias de aprendizagem que os aprendentes mobilizam nessa rede social; b) Quais estratégias
são mais recorrentes na RSAL analisada? No que concerne à metodologia, nossa pesquisa é de base
qualitativa, exploratória e, quanto ao método, etnográfica virtual. Nosso corpus é constituído por
capturas de telas de diferentes ferramentas presentes na RSAL analisada, tanto de ambientes
assíncronos como síncronos. Quanto à perspectiva teórica que orienta este estudo, baseamo-nos
no pressupostos teóricos da Teoria da Complexidade, a qual compreende a aprendizagem de língua
adicional e as estratégias de aprendizagem como sistemas adaptativos complexos (SAC), visão que
compartilhamos nesse trabalho. Nessa perspectiva, destacamos os estudos de Oxford (1990),
Larsen-Freeman (1997), Morin (2011) Paiva (2011), dentre outros teóricos que abordam essa
temática. Os dados até aqui analisados apontam para a mobilização dos mais diversos tipos de
estratégias, tanto diretas quanto indiretas segundo a tipologia de Oxford (1990).
O processo de aquisição de segunda língua (ASL) é permeado por muitas correntes teóricas. O
interesse pelo estudo dessas teorias cresceu significativamente, nos últimos anos, e vem sendo
discutido por muitos autores que discordam e coadunam em alguns aspectos. Dessa forma, o
presente trabalho objetiva descrever como os professores de lingua portuguesa e lingua estrangeira
veem o ensino da segunda lingua em sua praxis. Assim sendo, estruturou-se o trabalho a partir de
pesquisa bibliográfica descritiva com base nos pressupostos de Paiva (2014), Franco (2013),
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Martins e Braga (2007), entre outros, optando por abordagem qualitativa e utilizando como
instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruradas com professores de Língua Portuguesa
e Língua Estrangeira do Ensino Fundamental das séries iniciais, finais e Ensino Médio atuantes
em escolas municipais da cidade de São Luís-MA. O trabalho justifica-se pela relevância em estudar
as questões, uma vez que, são essenciais para o entendimento do processo de aquisição de segunda
língua. Os resultados apontam que os professores de Língua Portuguesa não usam as mesmas
estratégias e recursos para ensinar a Língua em sua sala de aula atualmente. No que se refere aos
docentes de Língua Estrangeira usam diversas estratégias como: Linguagem corporal, fala sem
tradução, Flashcards, questões objetivas, jogos, conhecimento de mundo dos alunos, acesso a
recursos, formação adequada, vontade, interesse, idade, metodologia adequada, perseverança etc.
Percebe-se que para cada nível de ensino, cada faixa etária, cada língua (sendo L1 ou L2) é
necessário metodologias diversas, e o ensino de primeira Língua não é igual ao ensino de uma
segunda.