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CONSELHO EDITORIAL
Prof. Dr. Arkley Marques Bandeira
Prof. Dr. Luís Henrique Serra
Prof. Dr. Elídio Armando Exposto Guarçoni
Prof. Dr. André da Silva Freires
Prof. Dr. Jadir Machado Lessa
Profª. Dra. Diana Rocha da Silva
Profª. Dra. Gisélia Brito dos Santos
Capa
Stephane Serejo
Projeto Gráfico
Stephane Serejo
Revisão
Os autores
ISBN: 978-65-86619-59-1
1. Linguística – análise do discurso 2. Linguística - cognição I. Silva, Ana Lúcia Rocha. II.
Santos, Georgiana Márcia Oliveira. III. Carneiro, Mônica Fontenelle.
CDD 410
CDU 801.56
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Luciana Palácio de Morais- CRB 13/585
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
PREFÁCIO
SOBRE AS ORGANIZADORAS
4
APRESENTAÇÃO
As organizadoras
Ana Lúcia Rocha Silva
Georgiana Márcia Oliveira Santos
6
1
A FALA DA MULHER SURDA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
REPRESENTADA POR OUTRO
1. INTRODUÇÃO
1
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, Mestra em Linguística pela Federal do Ceará,
Especialista em Língua Inglesa pela Universidade Federal do Maranhão, Professora do Departamento de
Letras e dos Programas de Pós-Graduação em Letras -PGLetras e PGLB - assim como do Programa de Pós-
Graduação em Direito, todos da Universidade Federal do Maranhão.
2
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, Mestra em Linguística pela Federal do Ceará,
Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino das Línguas Materna e Estrangeiras e em Língua Inglesa
pela Universidade Federal do Maranhão, Professora do Departamento de Letras e dos Programas de Pós-
Graduação em Letras -PGLetras e PGLB - assim como do Programa de Pós-Graduação em Direito, todos
da Universidade Federal do Maranhão.
9
Constatamos, portanto, que, com o advento da Lei Maria da Penha, têm sido
criados vários mecanismos de assistência e proteção às mulheres em situação de violência
doméstica e familiar.
No bojo de seus artigos, destacamos o artigo 3º, parágrafo 1º que, como vemos,
garante expressamente às mulheres vítimas de violência doméstica as condições para o
exercício efetivo do direito ao acesso à Justiça.
A lei ainda determina que se estabeleçam políticas públicas que visem coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher, por meio de um conjunto articulado de
ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não
governamentais, tendo por diretriz maior a integração operacional do Poder Judiciário,
do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública,
assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação.
Ressaltamos, também, o art. 11, inciso V, que teve uma nova redação, através da
Lei nº. 13.894 de 2019.
violência doméstica e familiar. Dessa forma, está inclusa, também, a mulher surda.
Vejamos este artigo que segue:
No caso dos surdos, a maioria deseja constituir família com outros surdos. [...]
A mulher surda procura ser valorizada e respeitada por ser mulher e,
principalmente, por ser surda. Ser mulher e ser surda são duas situações que
implicam discernimento sobre direitos de igualdade social. (MARTINS, 2008,
p. 47-48)
que o discurso das pessoas surdas sempre existiu. Porém hoje, com o advento da LIBRAS
os laços que impediam os entendimentos dos discursos entre os surdos e os ouvintes
foram desfeitos.
A história da nossa LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais está diretamente
associada à história dos surdos no nosso país. Mistura- se com a história dos surdos no
Brasil. Em decorrência dos movimentos europeus pelo direito dos surdos à educação, algo
que lhes era negado até o século XV, a convite de Dom Pedro II, em 1857, veio ao Brasil
o surdo francês Eduard Huet, figura de grande destaque na luta europeia, para fundar o
Imperial Instituto de Surdos Mudos, a primeira escola voltada para a educação de surdos,
que depois recebeu o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos –INES.
Foi também criada, então, a LIBRAS, junto com o mencionado instituto, como
resultado de uma combinação da Língua Francesa de Sinais e com aqueles gestos já
utilizados pelos surdos brasileiros. Apesar de sua aceitação e expansão no país, teve sua
difusão prejudicada pela proibição imposta, em 1880, como resultado de um congresso
em Milão sobre surdos.
Por conta da persistência do uso e da luta travada pela legitimidade da língua de
sinais, a LIBRAS recuperou seu espaço e a luta pelo seu reconhecimento voltou a ser
travada a partir de1993, com um projeto de lei que buscava regulamentar o idioma no
país. Quase dez anos depois, em 2002, a LIBRAS foi finalmente reconhecida oficializada
e sancionada pela Lei n.10.436, sendo regulamentada em 22 de dezembro de 2005, por
meio do Decreto n. 5626/ 2005.
Avanços consideráveis surgiram a partir dessa Lei, dentre os quais podemos citar
a inserção de LIBRAS como disciplina nos cursos de licenciaturas das IES. Porém,
mesmo sendo normatizada e seu uso difundido, ainda é restrito o número de intérpretes
de LIBRAS disponibilizados para o atendimento da população surda, nos casos em que
se faz necessário o seu acesso à Justiça.
A LIBRAS ainda não é bem difundida entre os ouvintes brasileiros. Mesmo assim,
há várias conquistas que foram registradas nos últimos anos, citamos as que se voltaram
para a regulamentação de leis com foco na propagação do uso da LIBRAS e para a
garantia dos direitos da comunidade surda. São elas: 1) Lei que define o uso de recursos
visuais e legendas na comunicação oficial do governo (2004); 2) Instituição do Dia
Nacional do Surdo, comemorado em 26 de Setembro, considerado o mês dos surdos
(2008) ; 3) a regulamentação da profissão de Tradutor e Intérprete de Libras (2010); 4) a
publicação da Lei Brasileira de Inclusão (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência) cujo
foco é a acessibilidade em áreas como educação, saúde, lazer, cultura, trabalho etc.(2015);
e, mais recentemente, a publicação, pela ANATEL, de resolução com as regras para o
atendimento das pessoas com deficiência por parte das empresas de telecomunicações.
Passamos, a seguir, à discussão dos conceitos de dialogismo, alteridade e
heterogeneidade, assim como das relações que se estabelecem entre eles e as análises a
serem apresentadas neste estudo.
Dessa forma, o diálogo, no sentido mais rigoroso do termo, constitui-se uma das
formas mais importantes da interação verbal. É possível, entretanto, compreender a
palavra “diálogo” em um sentido amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz
alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de qualquer tipo que
seja. (Bakhtin, 2012, p. 117)
O dialogismo bakhtiniano que se valeu dos escritos de Dostoiévski, a princípio,
aponta para as vozes passadas e futuras; com o passar dos tempos essa noção se valeu de
outros sentidos. Por exemplo, a noção do “já-dito”, do “conhecido” que se atrela ao
dialogismo interdiscursivo. Outra referência à qual podemos fazer é a uma observação
peculiar a qualquer discurso - o comportamento do ouvinte - modernamente, é a
linguística voltada para o dialogismo interlocutivo.
Os estudos bakhtinianos sempre destacaram a importância dos “diferentes tipos e
graus de alteridade da palavra alheia e as diferentes formas de relação com ela -
estilização, paródia, polêmica etc.” (BAKHTIN, 2003, p.368). Essa concepção dialógica,
que fundamenta a ideia da relatividade da autoria individual, destaca, por sua vez, o
caráter coletivo e social da produção de discursos.
Com base nos pressupostos bakhtinianos, a alteridade caracteriza o ser humano.
Nesse entendimento, o dialogismo pode ser definido como a confrontação de expressões
e dos conjuntos de valores, viabilizando diferentes visões de mundo sobre determinado
tópico. O ser humano seria considerado, por conta de não existir isoladamente, um
intertexto, uma vez que a organização de suas experiências resulta de relações que se
entrecruzam com a experiência do outro e se interpenetram. Assim, podemos ressaltar
que os enunciados produzidos por um falante são, permanente e inexoravelmente,
atravessados pelo dizer do outro: assim, o discurso produzido pelo falante constitui e se
constitui também daquele discurso do outro que o atravessa, motivando o discurso do
"eu".
14
Nesses exemplos, constatamos que o discurso outro, ou seja, o que não foi
proferido pela vítima, contém representações integradas, percebemos a existência de uma
única forma enunciativa, com base nas falas dos outros. A RDO está construída com
várias formas de integração dos outros dizeres, integrantes dos discursos da escrivã, dos
policiais e das testemunhas.
As construções são retiradas da fala da vítima, esclarecemos que nessa fase, havia
uma intérprete de LIBRAS. O discurso da intérprete e de quem escreve está construído
retomando a fala da mulher vítima.
18
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
9. REFERÊNCIAS
ANEXOS
ANEXO A
ESTADO DO MARANHÃO
SECRETARIA DE ESTA, DO DE SEGURANÇA PÚBLICA
POLICIA CIVIL
DELEGACIA ESPECIAL. DA MULHER DE SAO LUIS - DEM SAO LUIS
Endereço: Beira-Ma,r 534 - Centro - 65010-070 , Fone: 3214-8649 \ 3214-865 .1
OCORRÊNCIA Nº: xxx/2018 - Registrado em xx de xxxxxx de 2018 às 2: 1 9h
São Luís - MA
HISTÓRICO DA OCORRÊNCIA
ANEXO B
Narrou a testemunha que em 00/00/0000, por volta das 01hrOOmin, , ele estava
acordado assistindo televisão quando escutou escutando uma discussão pois Fulano de Tal
chegou em casa embriagado, decidindo o Sr. ...... ir até o local ver o que estava acontecendo,
observando que Margarida de Tal estava deitada em um a rede com uma faca de serra. Neste
momento Fulano de Tal disse" essa bandida estava com uma faca para me furar" e na frente
do Sr. ......., Fulano de Tal agrediu fisicamente Margarida de Tal com socos de mão fechada
da orelha direita, causando um corte, sangrando a orelha de Margarida de Tal. Ao presenciar
a agressão Sr. ..... disse que iria chamar a polícia, momento em que Fulano de Tal saiu da
casa, ficando na calçada e por sorte passou uma viatura na rua, presenciando a situação,
efetuando a condução dos envolvidos para esta delegacia. Declarou ainda a testemunha que
Margarida de Tal não possui familiares em São Luís/MA, não sendo esta a primeira vez que
ela é agredida fisicamente pelo companheiro dela, Fulano de Tal, constatando a testemunha
que a vítima Margarida de Tal está lesionada na orelha direita.
ASSINATURA DA
2
ENUNCIAÇÃO: DISCUSSÕES TEÓRICAS, MECANISMOS LINGUÍSTICOS E
TEXTUAIS
1. INTRODUÇÃO
3
Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Professora do Colégio
Técnico de Floriano/UFPI. E-mail: bethroccha@gmail.com
4
Professora Assistente na Universidade Estadual do Maranhão/UEMA, na cidade de Timon. Doutoranda
em Linguística, PPGL/UFSCar. E-mail: leonildespessoa@gmail.com
5
Doutora em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Professora Adjunta da
Universidade Federal do Piauí no Curso de Letras Português, na cidade de Picos. E-mail:
lidianysantos1@ufpi.edu.br
25
Percorrendo os textos dos dois autores a fim de verificar o que cada um propõe
como objeto de estudo para a Linguística, podemos afirmar que, para Benveniste, o seu
objeto de estudo é a língua na realização do Sujeito; enquanto que, Culioli o seu objeto
é o enunciado, definido como um agenciamento de marcadores de operações abstratas,
ou seja, seu objeto de estudo é a atividade de linguagem. O sentido de um enunciado é
portanto construído por meio de uma complexa e dinâmica atividade operativa da qual as
26
De Vogüé afirma:
É isso que assinala uma continuidade entre Culioli e Benveniste, quando eles
ultrapassam a separação entre língua e fala, para fundamentar a linguagem em
uma heterogeneidade constitutiva, que não é separação, mas integração;
integração do sentido ao dizer que se resolve na clivagem do sentido, sempre
(re)construído. (DE VOGÜÉ, 2011, p.81)
Da interseção do que foi até aqui exposto, podemos ressaltar que Culioli retoma a
tese benvenistiana de que a variação semântica de uma unidade linguística responde a um
funcionamento. O que está em causa é a capacidade de resposta aos problemas que
surgem na observação da Atividade de Linguagem, a qual é defendida na TOPE como
objeto de estudo da Linguística. Na sequência, discutimos dois fenômenos recorrentes
nas práticas linguageiras da atividade de linguagem que são ignoradas justamente porque
as concepções de linguagem que sustentam as práticas de ensino não permitem a reflexão
sobre o uso da língua.
6
No entanto, uma pesquisa no buscador Google indica 90 entradas para Chegou ao alvo contra 50 entradas
para Chegou no alvo (excluídas as similares).
30
No modelo da TOPE proposta por Culioli (1990), tanto o Sujeito como o Tempo
são vistos como parâmetros abstratos definidores de uma situação de enunciação também
abstrata. Culioli (1990) não se resume a uma teoria de sujeitos enunciadores, pois ele se
ocupa das operações abstratas subjacentes à constituição do enunciado e não ao ato de
enunciar em si. Como explica Sousa (2007):
Dessa forma, para Culioli (1999a), a temporalidade vai ser fundada sobre a classe
ordenada de instantes, sobre a construção de localizadores e sobre a construção de
intervalos localizados sobre a classe de instantes. Culioli (1999a) explica que o trabalho
do linguista consiste em mostrar que os sistemas específicos de tempos verbais somente
são casos possíveis de representações (no sentido de traços) que não invalida a invariância
de nossa representação cognitiva da temporalidade. A Temporalidade em termos de
33
categoria pura não existe, pois se trata de um sistema complexo de representação em que
se misturam tempo, aspecto, modalidade e determinação (esta última refere-se às
operações pelas quais nós construímos “ocorrências” de representações nocionais que
situamos no espaço topológico de referência intersubjetiva).
Abordamos o Tempo na visão de Culioli (1990) no texto Biografia, o qual a
princípio parece tão simples de ser elaborado, pois já se parte de uma forma pré-
estabelecida que veicularia um referido sentido temporal, mas quando o aluno está
operando com os elementos linguísticos para produzir o seu texto, e por conseguinte,
construir significação, esse aluno muitas vezes têm dificuldade para agenciar formas que
construam as coordenadas temporais necessárias para a produção de um determinado
gênero textual. Vejamos.
Texto do aluno7
Maria das Graças ou Xuxa como é chamada, nasceu em Santa Rosa, no interior do Rio
Grande do Sul. No entanto, seu pai era militar, sua família mudava de cidade com bastante
frequência. Maria das Graças tem outros quatro irmãos e foi um deles “Bladimir” quem
inventou, em 1998 a loira adicionou ao seu registro civil.
[...]
Hoje a Xuxa mora em São Paulo, trabalha na Emissora Record, fez o “Programa Dancing
Brasil”, sua filha Sasha Meneghel mora nos Estados Unidos (EUA). Alguns meses atrás
quando a “Rainha dos Baixinhos” vinha para a inauguração da “Casa X” quando
estava no seu avião falando com a Sasha “sua filha” o seu avião foi atingido por um
raio mas ela passa bem.
“Alguns meses atrás quando a Rainha dos Baixinhos vinha para a inauguração da Casa X
(T ₁) / quando estava no seu avião (T₂) / falando com Sasha sua filha (T₃) / o seu avião
foi atingido por um raio (T₄) / mas ela passa bem (T₅)”.
No trecho acima, temos T₁ localizando T2 que por sua vez localiza T₃ e este
localiza T₄ e T₄ localiza T₅; porém, entre T₄ e T₅ há uma ruptura temporal. Dessa forma,
reconhecemos duas informações, ou melhor, dois sistemas temporais representados:
Sit₁: S₁ (Xuxa), T₁ (hoje), E₁ (São Paulo) < Xuxa ser X (morar/ trabalhar/ apresentar/ ter
filha) >
Sit₂: S₂ (Xuxa), T₂ (vir), E₂ (a algum lugar) < Xuxa vir para Y (vir inaugurar a Casa X
[onde?])
Podemos perceber que há um T₁ (hoje) determinado e um T₂ (não hoje)
indeterminado. No Sit₂ exige uma determinação do espaço para que fique clara a
7
Submetemos a nossa pesquisa ao Comitê de Ética da UFSCar em maio de 2018 e o número do parecer é
2.679.436
34
informação apresentada pelo aluno. O que acontece é que o aluno ao produzir a Biografia
da Xuxa insere uma informação da notícia veiculada pela mídia em dezembro de 2016:
“Xuxa ao vir para Teresina no dia 05/12/2016, teve o seu avião atingido por um raio e
por isso precisou fazer um pouso de emergência em Brasília e dessa forma a ida a Teresina
foi adiada.”
Dessa forma, o aluno introduz uma informação, porém, não prepara “a cena
enunciativa” para situar a nova referenciação e por isso há esse hiato entre o que estava
sendo predicado e o que passa a ser predicado e, além disso, traz o seu julgamento. Isso
é identificado pela marca “mas” e o tempo presente do verbo “passar” acompanhado de
“bem”: mas ela passa bem.
Entendemos que o presente nesta ocorrência desempenha uma função textual,
modulando o grau de relevância do acontecimento na visão do Sujeito Enunciador que é
o aluno.
Assim, o aluno teria que ter feito essa passagem:
Sit₁: < Xuxa ao vir a Teresina teve o seu avião atingido por um raio > Sit₂ < Xuxa
precisou fazer um pouso de emergência em Brasília e < eu acho/penso/julgo > [ que nada
grave aconteceu e por isso] Sit₃ < Xuxa está/passa/ encontra-se bem >
Faz-se necessário, na prática de sala de aula, a criação de um espaço para que haja
a discussão entre professores e alunos desses “fenômenos” que acontecem no trabalho de
produção textual. Faz-se necessário um trabalho que explore a manipulação dos
mecanismos linguísticos enunciativos e discursivos que subsidiem a compreensão do
aluno para a forma como se dá a construção da significação por meio as relações léxico-
gramaticais que se entrelaçam para a construção de sentido na produção e/ou
interpretação textual e, que, por conseguinte, promova o desenvolvimento da
competência discursiva do discente.
Dessa forma, o texto do aluno exemplifica bem o ensino instrumental da produção
textual; pois, percebemos que na prática, ainda que o ensino de redação leve o aluno a
reproduzir uma dada estrutura/modelo para a obtenção de um determinado gênero (no
caso, a Biografia), questões de deslocamentos como as que apresentamos aqui, às quais
o ensino precisa responder, não encontram lugar nesta abordagem.
E a nossa perspectiva vai de encontro a essa proposta já consolidada nas escolas,
tendo em vista que, apoiando-nos na TOPE, defendemos que o ensino-aprendizagem de
produção textual deva explorar a atividade de linguagem do educando, levando-o a refinar
seus processos linguísticos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
3
UMA CARTILHA DE ORIENTAÇÃO DO TRABALHADOR SOB A
PERSPECTIVA DA METÁFORA CONCEPTUAL
1. INTRODUÇÃO
8
Mestra em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, Especialista em Educação Especial pela
Faculdade Santa Fé, Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão. Professora de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental na rede municipal de São Luís – MA. Membro dos Grupos de Pesquisa
GELP-COLIN/UFC-UFMA, GEPELL/UFMA e GEFORLIN/IFMA,atuando nos projetos de pesquisa
MetBib e Mãe Terra.
9
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, Mestra em Linguística pela Federal do Ceará,
Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino das Línguas Materna e Estrangeiras e em Língua Inglesa
pela Universidade Federal do Maranhão, Professora do Departamento de Letras e dos Programas de Pós-
Graduação em Letras -PGLetras e PGLB - assim como do Programa de Pós-Graduação em Direito, todos
da Universidade Federal do Maranhão.
38
Ainda assim, diante desse contexto tão veloz de interação na comunicação iniciada
com Revolução Industrial e que vem se solidificando na sociedade contemporânea, é tema
de escassos estudos conduzidos pelas ciências da linguagem, que ainda tão
espaçadamente se detêm a explicar fatores motivadores do distanciamento entre
linguagem e questões de trabalho, como segue afirmando Sousa-e-Silva (2002, p. 62)
Dessa forma, ao longo das últimas décadas, pouco a pouco, essa relação vem
sendo abordada em grupos de pesquisa no território brasileiro, entre eles o grupo Atelier
dos programas de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem –
LAEL da PUC- SP e de Pós-Graduação de Letras (Linguística) da UERJ, como ressalta
Sousa-e-Silva (2002).
39
Não podemos deixar de esclarecer também que, com o advento das novas relações
de trabalho que se estabeleceram após a revolução industrial, que, como já suscitado no
início deste texto, no Brasil só tomaram corpo na década de 1934 com o governo Vargas,
o acesso ao conhecimento pelo trabalhador foi fomentado, em especial, pelas ideias
defendidas por Gramschi, tal pensamento é verificado em Galli et al (2011, p. 24) ao
relatarem que “a intelectualidade humana sempre está em ação no desenvolvimento de
atividades, na formação de ideias, na elaboração de novas estruturas, as quais são
contextualizadas e determinadas por mecanismos sociais, por normas e obrigações que
estruturam as instituições”, reforçando as ideias gramschinianas.
Na ebulição dessas transformações sociais envoltas nos princípios
gramschinianos, o Brasil, em 1978, veiculou a primeira coleção de normas técnicas em
defesa da saúde e segurança dos trabalhadores, visto que com o cenário de
industrialização surgiram também os problemas relacionados à segurança, doenças e
agravos causados pelos tipos de atividade decorrentes da implantação de novas ações
laborais. Essa coleção de normas técnicas foi denominada de Normas Regulamentadoras
– NR. De acordo com Galli et al. (2011, p. 32), a partir desse período, essas normas,
juntamente com outras leis complementares, portarias, decretos e convenções
internacionais ratificadas pelo Brasil deram corpo à Política Nacional de Segurança e
Saúde no Trabalho desenvolvida em nosso país.
O governo brasileiro após iniciar gestão em parceria com Organização Mundial
do Trabalho – OIT , em 1964, com o intuito de promover estudos e avaliações na área de
saúde e segurança, instituiu a criação da FUNDACENTRO - Fundação Jorge Duprat e
Figueiredo, que em 1974 foi vinculada pelo Governo brasileiro ao Ministério do
Trabalho. Esse órgão normativo, desde então, funciona em regime tripartite, com
representantes do governo, dos trabalhadores e dos empresários. E, além das Normas
Regulamentadoras, é responsável pela elaboração de uma diversidade de instruções
técnicas de caráter educativo, em matéria de saúde e segurança ocupacional, para
trabalhadores e empresários. Entre esse rol de instruções está a cartilha (ver Figura 1) que
contém o corpus de análise foco deste artigo.
trabalho, homens e mulheres adquirem uma profissão, muitas vezes aprendem atividades
que desenvolvem a inteligência e muitas habilidades” (FUNDACENTO, 2001, p.7).
Como demonstraremos mais à frente, nesse trecho a linguagem metafórica conceptual
está fortemente presente, como característica de nossa experiência com o mundo e da
formação do nosso sistema conceptual ordinário.
A metáfora habitualmente era e, para alguns, continua sendo apenas uma figura
estilística, como um adorno da linguagem, sendo há séculos tratada sob a visão
aristotélica. De acordo com essa visão, a metáfora, e outras espécies de linguagem
figurada, são próprias da comunicação poética e da persuasiva (ZANOTTO et al, 2002).
Na década de 1970 aconteceu, o que passou a ser conhecido como uma virada
paradigmática na ciência linguística, pois a metáfora, até então considerada como desvio
da linguagem objetiva, rompe com o pressuposto fundamental do objetivismo linguístico,
que considerava a linguagem como espelho da realidade objetiva, em que o ser humano
tem acesso a verdades absolutas e incondicionais sobre o mundo por meio dessa
linguagem. Assim, a partir de então, a metáfora passa a ser entendida como operação
cognitiva imprescindível na construção de nosso pensamento e de nossa ação linguística
(COSTA; CARNEIRO, 2019, p.144), de forma que para Ortony (1993, p. 2, apud
LAKOFF, JOHNSON, 2002, p. 13) a ideia central desse novo paradigma “é de que a
cognição é resultado de uma construção mental [...] (sendo que) o conhecimento da
realidade tem sua origem na percepção, na linguagem ou na memória, precisa ir além da
informação dada”. Portanto, entende-se que a construção de sentido emerge da interação
entre a informação com o conhecimento preexistente do sujeito (COSTA; CARNEIRO,
2019, p.144).
Em 1980, dessa forma, é lançada a obra “Metaphors we live by” de Lakoff e
Johnson, popularizada como o marco desse novo paradigma, obtendo sua tradução para
o português somente em 2002. Essa obra revoluciou as bases das pesquisas sobre
metáfora, visto que esses autores, debruçaram-se em análises de expressões linguísticas,
e postularam a existência de metáforas conceptuais (MC) responsáveis pelas construções
de nosso pensamento e de nossa ação linguística. Segundo esses autores, as metáforas
conceptuais são presentes em nossas experiências cotidianas, influenciando nossa forma
de pensar e de agir quando nos comunicamos, princípio presente nos estudos da TMC,
como em Zanotto et al. (2002, p. 21) que o ratificam ao expressarem que “a linguagem
cotidiana é densamente metafórica e parcialmente literal”.
Zanotto et al. (2002) reforçam, também, que a análise realizada por Lakoff e
Johnson da metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA, presente em diversas
expressões linguísticas do cotidiano, demonstra que as MC “não são aleatórias, mas
formam um todo coerente”. Essa conclusão, de acordo com Costa e Carneiro (2019), foi
estabelecida porque Lakoff e Johnson (2002, p. 46) conseguiram evidenciar que essa MC
faz parte do sistema ordinário do pensamento e da linguagem, pois a identificaram em
diversas expressões linguísticas usadas costumeiramente relacionando discussão à guerra,
com em “Seus argumentos são indefensáveis”; “Jamais ganhei uma discussão com ele”;
“Destruir sua argumentação”. Complementando, esses autores esclarecem que:
Embora as combinações binárias para cima – para baixo, dentro – fora, etc
sejam físicas em sua natureza, as metáforas orientacionais baseadas nelas
podem variar de uma cultura para outra. Por exemplo, em algumas culturas, o
futuro está adiante de nós, enquanto, em outras, está atrás de nós. (LAKOFF,
JOHNSON, 2002, p. 60).
Essa espécie de metáfora, de acordo com esses autores, são tão naturais e tão
onipresentes em nosso pensamento que normalmente são consideradas evidentes por si
mesmas. A metáfora MENTE É UM OBJETO QUEBRADIÇO, por exemplo, está
traduzida em expressões linguísticas de nosso cotidiano como em “Seu ego é muito
frágil”/ ( Your ego is vey fragile) ou “Eu estou em pedaços”/ ( I’m going to pieces).
De acordo com Lakoff e Johnson (2002), as metáforas ontológicas, assim como
as orientacionais, servem a propósitos diversos com fins também diversos, no entanto,
têm sempre por objetivo selecionar partes de nossas experiências com objetos e
substâncias, transformando-os em entidades discretas ou substâncias de uma espécie
uniforme, de modo que possamos “[...] referir-nos a elas, categorizá-las, agrupá-las e
quantificá-las – e, dessa forma, raciocinar sobre elas” (2002, p. 74). A partir dessa
compreensão, é que podemos, por exemplo, entender que a experiência vivida
45
A personificação é, pois, uma categoria geral que cobre uma enorme gama de
metáforas, cada uma selecionando aspectos diferentes de uma pessoa ou modos
diferentes de considerá-la. O que todas têm em comum é o fato de serem
extensões de metáforas ontológicas, permitindo-os dar sentido a fenômenos do
mundo em termos humanos, termos esses que podemos entender com base em
nossas próprias motivações, objetivos, ações e características. (LAKOFF,
JOHNSON, 2002, p. 88-89)
5. METODOLOGIA
Expressões linguísticas:
“O lado ruim do trabalho que queremos mostrar tem a ver com a saúde de quem
trabalha”. (MINISTÉRIO DO TRABALHO; FUNDACENTRO, 2001, p.7)
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
8. REFERÊNCIAS
4
BRADOU: UM GLOSSÁRIO DE TERMOS E SOCIOTERMOS DO CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO MARANHÃO
1. INTRODUÇÃO
10
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras – PGLetras pela Universidade Federal do
Maranhão. E-mail: bezerra.jose@discente.ufma.br
11
Doutora e Mestra em Linguística pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Professora do Curso de
Graduação em Letras Português/Espanhol e do Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLetras.
Coordenadora do Projeto de Estudos e Pesquisas em Línguas, Memórias, Identidades e Culturas -
GELMIC/CNPq e Professora-Pesquisadora do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão – ALiMA. E-mail:
georgiana.marcia@ufma.br
12
Utilizaremos tanto a designação segmentos especializados quanto unidades especializadas, batalhões
especializados e quartéis especializados para nos referirmos aos quartéis que compõem o CBMMA e
possuem atividades específicas e diferenciadas dentro dessa instituição.
50
intuímos que nesse léxico especializado há diferenças de uso entre homens e mulheres de
distintas faixas etárias.
As questões de investigação que balizaram nosso estudo para confirmar ou refutar
as hipóteses acima explicitadas são: a) quais são as unidades lexicais que, de fato,
particularizam as relações laborais dos profissionais do CBMMA? b) quais unidades
lexicais são mais frequentes e/ou específicas em cada um dos quartéis especializados? c)
os membros mais novos usam um léxico especializado diferente do usado pelos mais
velhos? d) há diferenças consubstanciais entre o léxico especializado usado por homens
e mulheres do CBMMA?
Consequentemente, esta pesquisa teve como objetivo principal a produção de um
glossário do léxico especializado do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão. Para
tanto, traçamos os seguintes objetivos específicos: a) levantamento de amostra do léxico
especializado do CBMMA com base em narrativas orais livres de profissionais da reserva
ou reformados13; b) elaboração de questionário, organizado em campos semânticos, a
partir dos dados coletados nas narrativas; c) definição do perfil dos informantes; d)
realização de entrevistas com base no questionário elaborado; e) transcrição das
entrevistas realizadas; f) levantamento e seleção dos termos para compor o glossário
especializado do CBMMA; g) análise dos dados com base no perfil dos informantes.
Fundamentamos esta pesquisa, sobretudo, nos estudos da Terminologia e da
Socioterminologia, desenvolvidos por Sager (1990), Cabré (1993), Faulstich (1995),
Isquerdo e Oliveira (2001), Barros (2004), Krieger e Finatto (2004), uma vez que esses
campos de investigação linguística nos possibilitaram o entendimento e a sistematização
das particularidades do léxico do CBMMA.
Metodologicamente, definimos como público-alvo dessa investigação os
profissionais das unidades especializadas de São Luís: o Batalhão de Bombeiros
Marítimos - BBMAR; o Batalhão de Bombeiros de Emergência - BBEM; o Batalhão de
Busca e Salvamento - BBS; o Batalhão de Bombeiros Ambiental - BBA; o 1º Batalhão
de Bombeiros Militar - 1º BBM; a Seção de Combate a Incêndio em Aeródromo - SCI e
a Academia de Bombeiros Militar “Josué Montello” - ABMJM.
São partícipes deste trabalho, tanto profissionais que estão na ativa nos batalhões
especializados quanto aposentados que já atuaram nas atividades operacionais
desenvolvidas em São Luís/MA, assim, envolvemos profissionais atuantes no período
que se estende de 1994 ̶ primeiro ano logo após a emancipação do CBMMA da PMMA
̶ até a atualidade (2019).
Mais especificamente, trabalhamos com militares da ativa com no mínimo 2 anos
e no máximo 30 anos de efetivo serviço, de ambos os sexos: 11 homens e 11 mulheres,
sendo que, entre os homens, 6 são reformados e 5 são da ativa, e as 11 mulheres são
somente da ativa14. Esses 22 sujeitos investigados foram divididos entre 3 faixas etárias:
a faixa etária 1: de 18 a 25 anos; a faixa etária 2: de 30 a 55 anos e a faixa etária 3: de 60
anos em diante.
Para obtenção dos dados, em um primeiro momento, conversamos com militares
reformados os quais, por meio de narrativas orais livres, forneceram elementos
norteadores para a elaboração do questionário usado nas entrevistas realizadas. Esse
13
Militares do CBMMA aposentados, ou seja, que já cumpriram no mínimo 30 de serviço efetivo.
14
Critério adotado em razão de o CBMMA não possuir, até o momento, mulheres na reserva remunerada,
ou seja, aposentadas, dada a inserção um tanto quanto recente de mulheres nessa instituição.
51
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O LÉXICO
Já Cabré (1993, p. 52) nos apresenta a seguinte conceituação para esse termo:
15
Todas as traduções são de nossa responsabilidade. Em tradução livre: Dicionário de Ciências, Letras e
Artes de Bouillet.
53
De acordo com Krieger e Finatto (2004, p. 75), o termo é um dos objetos de estudo
da Terminologia, distinto de ponderação e de tratamento. Para essas autoras, termo é um
elemento constitutivo da produção do saber, enquanto componente linguístico, cujas
propriedades favorecem um único significado, ou seja, não permitem ambiguidade na
comunicação especializada.
Ainda, para essas autoras, um nome tem direito à denominação de termo quando
se distingue conceitualmente de outra unidade lexical de uma mesma terminologia, assim,
uma das características do termo é o fato da homonímia não se constituir um risco de
ambiguidade. (KRIEGER; FINATTO, 2004, p. 77).
2.3 SOCIOTERMINOLOGIA
16
Em tradução livre: Uma leitura sociocultural da terminologia.
17
Em tradução livre: Para uma socioterminologia ̶ problemas semânticos para práticas institucionais.
54
Para Faulstich (2006, p. 29), essa corrente possibilitou criar o postulado máximo
da Socioterminologia, que é ter na base da pesquisa a variação linguística dos termos
gerada no meio social e, por consequência, entender a mudança terminológica como
mecanismo resultante da pragmática discursiva.
3. METODOLOGIA
ALUNO
ATAQUE DIRETO
BAIXAR
BRADAR
CRISTALINA
1. Esposa de militar.
INQ. – A esposa de um determinado militar, vocês têm um termo especifico pra esposa?
INF. – Um nome extraoficial? Cristalina?
INQ. – É? Mas esse cristalina desde que você chegou aqui, é comum usar aqui, não?
INF. – É, ainda.
INQ. – Aqui usa cristalina?
INF. – Usa, ainda usa.
INQ. – Caramba, gostei. Tem outro nome ou só cristalina?
INF. – Geralmente usa cristalina. (L.C.A.M., TS3, M, BBMAR)
Variante: esposa.
Sociotermo utilizado por grande parte dos membros do grupo TS2 e TS3.
ETAPA
MOITA
Morf: sintagma substantival.
1. Bombeiro discreto, reservado, que não se permite sobressair entre os demais.
INF. –......me chamavam muito de moita (risos), por conta do meu perfil mesmo, de ser
mais pacato, na minha, mais por conta disso, eles acabaram me enquadrando de moita.
(B.L.R, TS1, F, ABMJM)
Variante: discreto.
59
SALA FRIA
Morf: sintagma substantival.
1. Denominação dada pelas praças da SCI à sala do comandante.
INF. –...daí quando o oficial manda chamar um bombeiro em sua sala dizemos a ele: o
comandante tá te esperando na sala fria. (N.E.B., TS1, M, SCI)
Variante: sala do comandante.
Sociotermo exclusivo do SCI, não sendo registrado em outros batalhões de São Luís.
SINISTRO
Destarte, mesmo diante da formação do bombeiro ser única, como foi informado
anteriormente, tanto a emancipação quanto a execução das atividades em campos
específicos dentro do CBMMA geraram e geram um léxico especializado. Por
conseguinte, existem as particularidades de cada unidade especializada ou batalhão
especializado nos mais diversos campos, vivenciados no cotidiano por seus membros.
Averiguamos, inclusive, que alguns termos catalogados em determinados
batalhões são oriundos e específicos daquele local de trabalho.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
LARA, Luis Fernando. Curso de lexicologia. México, D.F. El Colegio de Mexico, 2006.
MAUDE, Fundación. Técnico en Prevención de Riesgos Laborales para Bomberos.
Disponível em: https://www.fundacionmaude.com/cursos/tecnico-en-prevencion-de-
riesgos-laborales-para-bomberos-60-horas/ Acesso em 26 fev. 2019.
5
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: UM
ESTUDO DO CAMPO SEMÂNTICO PROFISSÕES EM SÃO LUÍS-MA
1. INTRODUÇÃO
O léxico é uma das partes mais importantes de uma língua, afinal, trata-se de seu
repertório vocabular, ou seja, dos signos que a compõem. Dessa forma, o léxico apresenta
não apenas palavras isoladas que possibilitam a comunicação, mas também a própria
história cultural e social de um povo (OLIVEIRA; ISQUERDO, 2001). Essa relação é tão
íntima que, em certas ocasiões, os aspectos históricos e socioculturais mesclam-se com o
vocabulário e tornam-se partes uns dos outros. Dado que a língua é uma das formas de
comunicação e linguagem, é evidente que ela esteja conectada à cultura – ou melhor, que
seja parte desta – uma vez que os usuários categorizam e classificam o mundo e suas
experiências (individuais e coletivas) por meio da língua – mais especificamente, do
léxico.
A língua brasileira de sinais (libras) é uma língua relativamente nova,
considerando que seus estudos linguísticos se iniciaram na década de 80 (BRITO, 2010)
e vêm sendo realizados desde então. Assim, por ser uma língua jovem, cujo
reconhecimento legal se deu há 16 anos (BRASIL, 2002; 2005), ainda existem temas
pouco abordados dentro dessa área e uma carência de materiais que comportem as
discussões acerca do uso e da estruturação linguística da libras.
Dentre os temas que apresentam maior relevância e, curiosamente, poucos
materiais analítico-descritivos, está a variação linguística. As pesquisas sociolinguísticas
sobre as línguas de sinais são de extrema relevância para a compreensão de fatores que
ocasionam o surgimento de variantes pelo país, bem como para catalogar os sinais da
mesma forma como são feitos os registros de palavras em línguas orais. Ademais, ter
conhecimento do processo variacionista em uma língua de sinais pode reforçar seu caráter
linguístico, uma vez que a descrição e análise do tema permite aos pesquisadores e
usuários da língua assimilar as diversas formas de expressão contidas no sistema, bem
como perceber o papel que os condicionadores internos e externos (COELHO et al., 2015)
têm sobre a língua.
Nessa perspectiva, o presente trabalho é motivado pela necessidade de
investigação e análise das variações linguísticas que ocorrem no uso da língua brasileira
de sinais, bem como pela supracitada carência de estudos que fundamentem a temática
escolhida. Sabendo do atual status linguístico que a libras possui, é natural e urgente que
18
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
Graduado em Letras-Libras pela UFMA. Tradutor/Intérprete de Libras/Língua Portuguesa. Membro do
Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinar em Linguística e Línguas de Sinais (GEPILLS). Membro do
Projeto VarSint: variação morfossintática com base no português maranhense. E-mail:
mthsilva.ms@gmail.com.
19
Mestre em Linguística pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Graduada em Letras pela Universidade
Federal do Maranhão. Professora do Departamento de Letras da UFMA. Coordenadora do Grupo de
Estudos e Pesquisas Interdisciplinar em Linguística e Línguas de Sinais (GEPILLS). E-mail:
zuleicabarros23@gmail.com
64
as pesquisas voltadas a essa língua sejam expandidas para campos ainda pouco
explorados, como o sociolinguístico. Nesse sentido, esta pesquisa objetivou investigar a
variação linguística nos sinais relacionados ao campo semântico profissões a partir dos
fatores condicionantes desse fenômeno visando a criação de um glossário com as
variantes catalogadas. Para atingir tais objetivos, algumas perguntas norteadoras foram
feitas: há diferenças entre a sinalização das profissões feita pelos usuários de libras em
São Luís e os sinais das profissões registrados no dicionário-base (CAPOVILLA et al.,
2017)? Se há variações, essas se encontram dicionarizadas nessa obra de referência?
Quais são os fatores que influenciam as possíveis variações de sinalização das profissões
em São Luís? Homens e mulheres diferem na sinalização dos sinais pesquisados
(advogado, bombeiro, dentista, enfermeiro, motorista e policial)? Essas são questões que
buscamos responder no decorrer do estudo.
Os estudos realizados sobre a libras atestam claramente a diferença regional
encontrada nos estados do Brasil. Essa diferença é marcada pelo uso de sinais variados
para um mesmo referente. O interessante é que alguns sinais das línguas de sinais
apresentam traços socioculturais específicos das comunidades que as utilizam,
evidenciando a realidade dos usuários e a percepção/categorização da realidade feita por
eles (STROBEL E FERNANDES, 1997).
Considerando essas informações, realizamos um estudo sociolinguístico e
lexicológico da libras à luz de autores como Labov (2008), Quadros & Karnopp (2004) e
Coelho et al. (2015), que subsidiam as discussões aqui levantadas e permitem identificar,
analisar e comparar os dados coletados durante as entrevistas com os disponíveis no
Dicionário da Língua de Sinais do Brasil (CAPOVILLA et al., 2017).
Assim, como principal resultado da compararação de alguns sinais do campo
semântico profissões documentados no Dicionário da Língua de Sinais do Brasil
(CAPOVILLA et al, 2017) com os sinais utilizados pela comunidade surda ludovicense,
produziu-se um glossário com as variantes encontradas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Assim, para o autor, a lexia pode ser um lexema ou uma locução, ambas dotados
de significado e com uma importante relação semântica com os demais constituintes da
língua. Nosso intuito aqui não é o de conceituar as noções da Lexicologia já estudadas
por Polguère e outros pesquisadores, mas, sim, delinear algumas questões que servem
como alicerce teórico de nossa pesquisa e que podem ser transpostas à libras, contribuindo
para o aprofundamento em sua estrutura. Nesse sentido, as lexias em língua de sinais
seriam equivalentes aos sinais utilizados para a estruturação de sentenças e posterior
comunicação, levando em conta os variados sentidos que um mesmo sinal pode carregar
dentro da língua que, a depender de seu contexto de uso, gerará uma significação
específica para os interlocutores.
Desse modo, ressaltamos que a Lexicologia e a Semântica trabalham lado a lado
para o estudo e compreensão das particularidades do léxico de uma língua, resultando,
portanto, na chamada Semântica Lexical. É interessante pontuarmos, ainda, que o estudo
das lexias pressupõe uma série de outros apontamentos a elas relacionados e que
permitem o entendimento mais claro do referido objeto de estudo.
Neste trabalho, o olhar estará voltado também para uma perspectiva
sociolinguística, uma vez que seus pressupostos foram utilizados para a construção e –
sobretudo – para a coleta dos dados que compõem esta pesquisa. Desta forma, a
Lexicologia dá suas contribuições para o presente estudo de forma a analisar teoricamente
os dados obtidos, pois estes fazem parte dos usos linguísticos comuns, corriqueiros e,
como tais, estão inseridos no léxico da língua brasileira de sinais.
Por estarmos falando de léxico, entendemos que esta é uma área vasta da língua,
apresentando muitas categorias que se encontram mais abertas à criatividade dos falantes
(POLGUÈRE, 2018) e que são influenciadas por fatores linguísticos e socioculturais
variados (OLIVEIRA & ISQUERDO, 2001; LABOV, 2008), resultando, assim, num
processo de variação linguística. Essa abertura linguística à variação estabelece um link
entre Lexicologia e Sociolinguística, ponte que utilizamos em nosso estudo, direcionando
as noções de ambas as áreas à libras.
No que tange à Sociolinguística, Coelho et al (2015, p. 12) definem esse campo
teórico como “a área da Linguística que estuda a relação entre a língua que falamos e a
sociedade em que vivemos”. A principal ideia da Sociolinguística, da qual um dos
principais expoentes é William Labov com a publicação de sua obra Padrões
sociolinguísticos em 1972, é a de que a língua apresenta variação, sendo esta uma
característica inerente a ela. Isso significa dizer que, pelo fato de ser dinâmica, a língua
apresenta diferentes formas de expressão para os mesmos referentes e, em certas
situações, essas formas deixam de variar e se concretizam em uma mudança linguística.
Isso é corroborado por teorias como a de Saussure (2012), que trabalhou com a langue,
em função da sua “não-variabilidade” em detrimento da parole, de caráter mais individual
e assistemático/variacionista.
A partir de estudos como os empreendidos por Labov (2008), percebeu-se a
relação íntima entre língua e sociedade e seus desdobramentos em nível empírico e
científico. A língua está submetida a forças que estão para além dos limites linguísticos,
chamados de condicionadores (COELHO et al, 2015), que ajudam na ocorrência da
variação. Esses fatores correspondem à idade, escolaridade, condição socioeconômica,
sexo e localidade dos indivíduos, por exemplo, todos eles impactando diretamente no uso
da língua. No entanto, vários autores afirmam que a existência da variação só se dá em
virtude de um padrão estabelecido para a língua e que esse fenômeno não ocorre de forma
66
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
20
O termo neurossensorial foi escolhido mediante seu amplo uso na área médica para designar uma
deficiência ou perda de um dos sentidos. Assim, por entender que esse vocábulo expressa a mesma condição
à qual aqui nos referimos, optamos por utilizá-lo
21
Que passaram por acompanhamento com profissionais fonoaudiólogos e conseguem articular alguns sons
da Língua Portuguesa oral.
68
Figura 1: Exemplo do verbete “doença (1) ” do Dicionário da Língua de Sinais do Brasil (CAPOVILLA
et al., 2017). Extraído de <https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/usp-lanca-nova-edicao-de-
dicionario-de-libras/>. Acesso em 27 de outubro de 2019.
22
O SignWriting é um sistema de escrita criado por Valerie Sutton em 1974, a partir do DanceWriting, que
tinha como intuito registrar movimentos de dança (BARRETO & BARRETO, 2015). O SignWriting
atualmente é adotado por alguns autores brasileiros e estrangeiros como forma de registro direto das línguas
de sinais, mas, oficialmente, ainda não é o sistema de escrita da libras, sendo seu uso em obras da área uma
escolha do próprio escritor. Em nosso caso, optamos por não o adotar no glossário posteriormente
elaborado.
71
Alguns verbetes trazem, ainda, uma descrição dos principais morfemas que
compõem o sinal e sua ligação semântica com outros sinais que compartilham desses
mesmos morfemas. Ao todo, o dicionário conta com 03 (três) volumes, somando 2.944
páginas.
Por fim, faz-se necessário mencionar que o Dicionário da Língua de Sinais do
Brasil traz um índice semântico, no qual os sinais estão agrupados de acordo com o campo
a que pertencem, facilitando a busca do verbete e o aprendizado por parte do sujeito surdo
(CAPOVILLA & RAPHAEL, 2001 apud TEMÓTEO, 2008).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse sinal, não há diferença entre o sinal dicionarizado e o sinal obtido por
intermédio da informante. A sinalização é clara e não há traços que exijam movimento
dos lábios para explicitar o conceito. Assim, o sinal descrito pela informante 01
caracteriza-se como padrão, levando em consideração a obra de Capovilla et al. (2017).
O caso acima ilustra uma realização não-padrão da lexia apontada. Dois dos
parâmetros diferem totalmente da variedade catalogada pelos autores e as semelhanças
estão na locação, no movimento e na orientação da mão. Além disso, esse sinal é
classificado como simples, uma vez que não há nenhum outro anterior ou posterior que
complemente o seu sentido. A escolha da configuração de mão número 2123 é interessante
porque marca um traço linguístico que não foi percebido nas demais sinalizações,
configurando uma variedade até então não conhecida. Dessa forma, o sinal pode ser
considerado uma variação da entrada (2) do dicionário.
Esse sinal também coincide com uma das possibilidades que se encontram
dicionarizadas. Embora os parâmetros sejam os mesmos, ainda se trata de um sinal
simples, que não vem acompanhado de nenhum outro que explique o significado contido
no primeiro. Assim, podemos pensar que, para essa informante, uma descrição mais
detalhada do conceito seria facultativa, pois o sinal que remete ao capacete já seria
suficientemente inteligível ao interlocutor.
23
De acordo com a tabela de configurações de mão do Instituto Nacional de Educação de Surdos (2014),
utilizada como referência para este trabalho. Disponível em
<https://www.google.com/search?q=tabela+de+configura%C3%A7%C3%A3o+de+m%C3%A3o+i
nes&sxsrf=ALeKk01KwayLI1AZhnGESBbTtAGN2U6akg:1597975442361&source=lnms&tbm=is
ch&sa=X&ved=2ahUKEwj2y-
e0mqvrAhU6HbkGHXzjBiUQ_AUoAnoECAwQBA&biw=1360&bih=625#imgrc=ARDpZMcG3K
Xy1M&imgdii=E994UPFdBKGfcM>.
74
é uma alteração simples que não muda o significado do sinal (QUADROS, 2019;
XAVIER, 2006; XAVIER E BARBOSA, 2014).
Esses informantes, aparentemente, não demonstram preocupação em evidenciar
todos os aspectos semânticos contemplados pelo sinal, isto é, não parece haver uma ênfase
ou uma descrição detalhada do que seria um bombeiro, pois não há traços que simulem
sonoridade ou outros elementos visuais mais elucidativos, como sinalizados pelo
informante 04.
Assim, de acordo com a tabela, o sinal que mais apresentou variação foi o item
lexical bombeiro (a), conforme demonstrado pelos informantes. Essa quantidade inclui
também a realização linguística que coincide com aquela que está dicionarizada.
Outra estatística revela que os homens entrevistados apresentaram maior variação
do que as mulheres entrevistadas, o que nos leva a crer que, em geral, elas tendem a ser
mais conservadoras do que eles em relação ao uso de formas linguísticas diferentes do
“padrão” (COELHO et al., 2015). A média de variações por item lexical entre os homens
é de 2,3 sinais, enquanto a média das mulheres é de 2 variações por item pesquisado.
Já em termos de unidades mínimas, isto é, os parâmetros, a principal variação se
encontra na configuração de mão dos sinais. Nas seções anteriores, percebemos e
comentamos a respeito desse aspecto e, mais uma vez, reforçamos que, embora essa
variação na CM aconteça, ela não prejudica a carga semântica do sinal, uma vez que não
se trata de um traço distintivo que carrega o significado do item (QUADROS &
KARNOPP, 2004). O motivo para tal situação, no entanto, ainda não é totalmente claro
e não há espaço aqui para tal discussão, porém, esse debate pode ocorrer em trabalhos
futuros, que abordem os traços que configuram variação na libras.
76
Com esse resultado, podemos supor que as configurações de mão, dentre os cinco
parâmetros, representam, teoricamente, o grupo mais aberto à variação na libras. É
possível que isso ocorra por este parâmetro estar mais relacionado ao léxico propriamente
dito, mas é apenas uma suposição da causa desse efeito observado em nosso trabalho.
Uma pesquisa mais aprofundada pode ser feita a partir das informações aqui descritas,
mas, por ora, acreditamos que esta análise cumpra o propósito do presente estudo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
que o processo de variação pode ser o prenúncio de uma mudança no sistema da língua,
que é tão ativo quanto as próprias experiências dos usuários que o utilizam.
6. REFERÊNCIAS
BRITO, Lucinda Ferreira. Uma abordagem fonológica dos sinais da LSCB. Espaço:
Informativo Técnico-científico do INES, v. 1, nº 1, p. 20-43. Rio de Janeiro, 1990.
______. Por uma gramática das línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
2010.
COELHO, Izete Lehmkuhl. [et al.]. Para conhecer sociolinguística. São Paulo:
Contexto, 2015.
HMC, Pedro. Um livro para ser entendido. 1ª edição. São Paulo: Planeta do Brasil,
2016.
78
OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de; ISQUERDO, Aparecida Negri. (orgs.). As
ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2ª edição. Campo Grande:
Editora UFMS, 2001.
QUADROS, Ronice Müller de. [et al.]. Língua Brasileira de Sinais III. Texto-base da
disciplina de Libras III. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.
QUADROS. Ronice Müller de. Libras. Coleção Linguística para o ensino superior. 1ª
edição. São Paulo: Parábola, 2019.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 27ª edição. São Paulo: Cultrix,
2012.
6
O BILINGUISMO E A RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE LINGUÍSTICA
EM PRAIA-CABO VERDE
1. INTRODUÇÃO
24
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras – PGLetras da Universidade Federal do
Maranhão. Email: aylaclmoura@gmail.com
25
Doutora e Mestra em Línguistica pela Universidade Federal do Ceara - UFC. Professora do Curso de
Graduação em Letras Português/Espanhol e do Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLetras.
Coordenadora do Projeto de Estudos e Pesquisas em Línguas, Memórias, Identidades e Culturas -
GELMIC/CNPq e Professora-Pesquisadora do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão. Email:
georgiana.marcia@ufma.br
81
2. CABO VERDE
De início, o povoamento das ilhas foi difícil, haja vista que o clima era rude, não
havia pastos e vegetação propícia para plantio e o acesso por meio marítimo era
dificultoso. Em razão disso, durante muitos anos, grande parte das ilhas se manteve
deserta.
Não somente os portugueses povoaram as ilhas cabo-verdianas de início. Outros
europeus como castelhanos e genoveses foram responsáveis pelo povoamento do
arquipélago, apesar de serem em número menor que os primeiros.
Já em 1462, para a concretização efetiva do povoamento – que se mostrava lento
e difícil –, além do efetivo processo de ocupação portuguesa, recorreu-se ao processo de
escravização de africanos.
A primeira ilha a ser povoada em Cabo Verde foi a de Santiago, situada numa
região denominada Vila de Ribeira Grande, atualmente chamada de Cidade Velha. Essa
ilha foi dividida em duas capitanias: uma localizada ao sul, dada a Antônio de Noli,
situada na Ribeira Grande; a outra, ao norte, entregue a Diogo Gomes, localizada em
Alcatrazes. Ao rei ficava reservada a propriedade jurídica da terra e para os donatários
cabiam as despesas com o transporte e assentamento dos povoadores e com a exploração
das terras, podendo ainda administrar a justiça e conceder a posse das terras aos seus
colonos – atividades que também poderiam ser realizadas por seus descendentes.
A partir de 1466, a capitania da Vila de Ribeira Grande passa por um pequeno
crescimento em sua população em decorrência do aumento do tráfico de escravizados
para as Índias Ocidentais e para a América (esta última, um pouco mais tarde), visto que
ali era ponto de passagem, chegada e saída deste tipo de “produto”. Por essa função
comercial, a ilha se torna de extrema importância para Portugal pois passa a ser um
entreposto de sujeitos escravizados e, assim, intensifica o processo de acumulação
primitiva do capitalismo na sua fase mercantil.
O comércio escravocrata impulsiona também a permuta de produtos que vão da
costa da ilha até Serra Leoa e ajuda a ampliar a circulação de mercadorias da Europa e da
Ásia. Assim, Santiago passa a apresentar um constante crescimento populacional e
econômico.
Para povoar as duas ilhas (S. Tiago e Fogo) mandou o Infante D. Fernando [...]
no ano 1461 casaes do Algarve em companhia do descobridor António de
Nolle, Diniz Eannes, e Ayres Tinoco, primeiros donatários, os quais valendo-
se do exclusivo, que lhes fôra conferido, resgataram em Guiné grande número
de escravos para o arroteamento das terras: daqui se originaram logo as três
espécies de castas, que há no paiz; - brancos, descendência pura de gente
Europêa; pretos, descendência pura das alianças dos escravos de Guiné,
promovida por seus senhores em seu proveito próprio, e mulatos, descendência
cruzada dos brancos da Europa com as negras de Guiné; e esta última casta
aumentou quando começaram no século 16º a ser mandados para o arquipélago
degredados a cumprir sentença, não descontinuando nunca a introdução da
escravaria da costa. (CARREIRA, 2000, p. 284)
Sendo assim, é possível termos uma ideia da grande riqueza linguística que
ocorreu em Santiago pelo contato entre os muitos povos, acarretando no processo de
formação de seu povo e, consequentemente, da sua língua nacional.
85
4. A LÍNGUA CRIOULA
constituía um enorme embaraço no entendimento entre eles e seus senhores. Por ventura,
ocorreu a mistura ou amalgamento (entrelaçamento) entre essas línguas, produzindo
assim alterações na estrutura de cada uma delas. Tornou-se evidente que a formação de
um meio de comunicação comum entre brancos e negros era mais simples e lógico do que
o uso de muitas línguas concomitantemente. Esse fenômeno linguístico propiciou o
surgimento inicial de um pidgin e, posteriormente, do crioulo cabo-verdiano.
Conforme Romaine (1988, p. 49), pidgin é
Uma espécie de interlíngua criada por várias comunidades em contato para ser
utilizada como língua franca entre elas. Não é a língua materna de nenhum dos
grupos em contato e nem substitui nenhuma delas. É um simples instrumento
de comunicação criado para resolver interações comunicativas pontuais entre
indivíduos de línguas diferentes e mutuamente incompreensíveis. Uma espécie
de língua reduzida que surge do contato prolongado entre grupos de pessoas
que carecem de uma língua comum e que necessitam de algum meio de
comunicação verbal.
O termo segunda língua surgiu no final da década de 1950 para distinguir todas
as línguas dominadas pelo falante que vão além da sua língua materna. Seu método de
aprendizagem é construído num nível normal quando o falante está inserido num
ambiente em que ela é sistematicamente utilizada.
A Língua Portuguesa é a língua oficial de Cabo Verde. Foi instituída em 1974
quando o processo de descolonização teve seu fim acelerado pela revolução de abril que
ocorreu nesse mesmo ano, derrubando o então regime fascista de Portugal. A partir disso,
a Língua Portuguesa tornou-se oficial tanto em Cabo Verde quanto em Guiné-Bissau,
Angola, São Tomé e Príncipe. Esses países fazem parte dos PALOP – Países Africanos
de Língua Oficial Portuguesa – e possuem relações de cooperação linguísticas,
comerciais, políticas, culturais, educacionais e diplomáticas uns com os outros.
Logo, a partir da ciência sobre a concepção de segunda língua (L2), é válido
dizermos que a língua do colonizador nesse país não pode ser chamada de língua
estrangeira (LE), uma vez que esta última é a língua do país que não o do falante e exige
uma instrução formal e recorrência a outras medidas que compensem a ausência do apoio
contextual do qual a L2 dispõe. Ainda segundo Stern (1984, apud Reis 2018, p. 32), o que
diferencia a L2 da LE são os objetivos e os processos subjacentes às suas aprendizagens.
Fonte: Autoras.
nos seus respectivos espaços de domínio, uma vez que uma pode adentrar ao território da
outra.
Sabe-se que a atual situação resultante desse contato permanente da língua cabo-
verdiana e da Língua Portuguesa não é pacífica e as fronteiras do uso de uma e de outra
começam a diminuir. O Crioulo faz parte do símbolo da identidade cabo-verdiana, mas o
Português é a língua que permitiu e permite a concorrência aos postos administrativos.
Pode-se dizer que os falantes cabo-verdianos assumiram a sua língua como língua
nacional, mas em sua maioria não sabem exatamente o que seja uma língua nacional.
Calvet (1987, p. 154), por sua vez, afirma que a política linguística é:
primeira língua adquirida pela grande maioria dos falantes, é uma língua tradicionalmente
oral que ainda não ocupa posição de destaque linguístico e social, especialmente por não
possuir uma escrita sólida e não ser matéria de ensino na maioria das escolas – somente
a pouco tempo possui o que chega próximo a uma grafia oficial. Logo, muitos cabo-
verdianos conscientes política e linguisticamente vem trabalhando para mudar isso a fim
de reconstruir sua identidade linguística.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
8. REFERÊNCIAS
BLOOMFIELD, Leonard. Language. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1933.
CANIATO, Benito Justo. Percursos pela África e por Macau. Cotia, SP: Ateliê
Editorial, 2005.
DIAS, Juliana. Língua e poder: transcrevendo a questão nacional. In: Mana [online].
2002, vol.8, n.1, pp.7-27.
7
A PLURALIDADE DA LIBRAS: EXPERIÊNCIA TRILÍNGUE
(YORUBÁ-PORTUGÛES-LIBRAS) NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Wermerson Meira Silva (UESB)26
João Diógenes Ferreira dos Santos (UEFS)27
1. INTRODUÇÃO
26
Doutorando do Programa de Memória: Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e
Sociedade – PPMLS, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Brasil. Mestre em Educação e
Diversidade pela Universidade Estadual da Bahia e professor da Universidade Estadual dos Sudoeste da
Bahia (UESB/DCHEL). wermerson@uesb.edu.br
27
Doutor em Ciências Sociais (PUC-SP), Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraiba,
Professor e Orientador do Programa de Memória: Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem
E Sociedade – PPMLS, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Brasil e Professor da
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS/DCHF). jdiogenes69@gmail.com
98
sua cultura através da sua língua. Com isso, as culturas e as diferentes línguas africanas
vêm sendo utilizadas nos dias de hoje através da arte de contar histórias, cantigas de ninar,
os contos e o jeitinho manso de falar. Consequentemente, as línguas agricanas se fundiram
a partir do contato social através das relações étnicas (FREYRE, 2005).
Entre essas línguas está o yorubá, e a sua popularização e disseminação,
conforme Ribeiro (1996), ocorreu devido à concentração dos yorubás nas áreas urbanas
das cidades de Salvador e Recife. Segundo ela, os yorubás estavam “ligados pela origem
mítica comum, pela prática religiosa e semelhança dos costumes, rapidamente os diversos
grupos nagôs passaram a interrelacionar-se” (RIBEIRO, 2005, p. 126) além de manterem
“o contato com a África, dada a intensa atividade comercial entre a Bahia e a Costa
Africana.”
Esses aspectos fortaleceram as suas tradições, especialmente as religiosas,
dessa forma, ultrapassa, conforme afirmação, “o caráter estritamente religioso, realizando
uma maneira própria de viver na sociedade brasileira” (LOPES, 2005. p. 226).
Consequentemente, os yorubás, “no mesmo campo ideológico cristão do colonizador,
fixaram-se as organizações hierárquicas, formas religiosas, concepções estéticas, relações
míticas, música, costumes, ritos” (SODRÉ, 2005, p. 90). Entre essas construções está o
terreiro de Candomblé que apresenta, segundo Sodré (2005, p. 90).) uma ordem mítica
“(síntese representativa do panteão cósmico africano - orixás, preservação do culto aos
ancestrais e das relações de parentesco)” e; “de ordem linguística, preservação do iorubá
como língua ritualística.”
Essa língua é falada por inúmeras pessoas em toda parte e evidentemente chega
aos espaços escolares. Dessa forma, considerando que a sociedade está relacionada às
diferentes línguas, formadas através da união de diversas etnias e povos, é impossível
ignorarmos a diversidade linguística, sendo esta uma entidade viva, composta por
variantes utilizadas como código pelo ser humano para se comunicarem informar, formar,
trocar informações, difundindo ideias, conceitos e construindo novos entendimentos.
Nesse contexto, a escola passa a ser um espaço de interação social e educacional
para os/as discentes surdos/as e discentes ouvintes, com o intuito de mediar o ensino e a
aprendizagem, sabendo respeitar as diferentes formas de falar e o jeito de cada um,
enriquecendo de forma coletiva as diferenças individuais,
O papel docente nos dias atuais tem sido fundamental para a construção do
conhecimento, dentro do contexto escolar, criando ações pedagógicas no ambiente de
ensino e aprendizagem que visam e oportunizam a interação coletiva, buscando uma
sociedade mais reflexiva, voltada para a diversidade linguística no processo inclusivo.
Desse modo, concordamos com Bagno, quando este mostra que
defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não
cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela
101
aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio,
mas é preciso repetir isso a todo o momento. (BAGNO, 2011, p. 1).
3. METODOLOGIA
métodos da analise formal ou discursiva possam ser, eles não podem abolir a necessidade
de uma construção criativa do significado, isto é, de uma explicação interpretativa do que
está representado ou do que é dito” (THOMPSON, 2011. p. 375). Pois estamos diante de
um campo objetivo pré-interpretado pelo/as participantes da pesquisa, sendo assim, “é
necessariamente arriscado, cheio de conflito e aberto a discussão” (THOMPSON, 2011.
p. 376), da qual não podemos perder de vista que existe “a possibilidade de um conflito
de interpretação intrínseco ao próprio processo de interpretação” (THOMPSON, 2011. p.
376).
4. RESULTADOS DA PESQUISA
por isso a necessidade do trabalho nas escolas com a disciplina para que
possamos aprender de fato essas questões e sentirmos o prazer de conhecer
essas discussões. Com isso poderemos manter uma postura critica a respeito
da História e Cultura Afro-brasileira e Africana algo que nos foi velado por
anos. (Òsobo, entrevista realizada em 2020 - antes da pandemia).
de que deveriam ocupar lugares subalternos na sociedade. Ser negro era visto
como enorme desvantagem, utilizava-se a educação para despertar e incentivar
o desejo de ser branco. (SILVA, 2007, p. 495).
vejo que não há essa preocupação de nos ensinar, e muitos não querem ver, por
isso não têm nenhum conhecimento através de informações e passamos a
reconhecer a história e se interessar por ela, como forma de aprendizagens e
acesso as curiosidades valiosas desse conhecimento, e contextualiza em nossas
raízes, a respeito da escravidão, e sermos conduzidos a outros caminhos de
conhecimentos, como por exemplo esses conhecimentos chegam para os
ouvintes e eles se reconhecem e aprendem a respeito da sua trajetória, e os
surdos estão para atrás sem informações a respeito das relações étnicas raciais,
Por exemplo, se o surdo na inclusão não tem explicação a respeito da história
e cultura afro... Como ele vai entender a sua árvore genealógica, a respeito da
família negra? (Òsobo, entrevista realizada em 2020 - antes da pandemia).
Figura 1:Axé
Figura 2 - Ogun
Figura 3 - Oxun
Figura 4 - Ewá
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos a relevância de pesquisas com esta, uma vez que valoriza as culturas
surdas e a cultura do legado afro-brasileiro e africano. É imperioso trazer a história,
memória e a cultura Afro-brasileira e Africana para uma língua que, por longos tempos,
foi excluída, estigmatizada e substituída por uma língua oral-auditiva não pertencente ao
povo surdo. E, ainda, dar visibilidade às pessoas que foram silenciadas por diversos
critérios obtusos relacionados à linguística, à história, à religião, à educação, à cultura,
entre tantos outros.
Baseados nesta discussão, refletimos a respeito da diáspora forçada dos povos
africanos para o Brasil que durou oficialmente três séculos e clandestinamente mais meio
século (1502 a 1860), inúmeros povos desembarcaram neste solo. Todos esses povos
vindos de diversas partes da África foram batizados na religião cristã, mas suas ligações
das antigas crenças permaneceram. Essas associações lhes permitiam manifestar suas
cantigas, rezas e danças que, aos olhos dos senhores, pareciam simples distrações dos
negros e negras nostálgicos/as. Mas, na realidade, tratava-se de reuniões nas quais eles
evocavam suas divindades a exemplo dos Orixás cultuados na tradição Kétù-yorubá vivos
na memória.
Nos dias atuais, diálogos e ações afirmativas a respeito de temáticas sobre as
Histórias, Culturas e Identidades às/aos discentes surdos/as e suas experiências visuais-
motoras nos diferentes contextos sociais e educacionais são de estrema urgência,
principalmente, quando se trata de grupos minoritários que, em geral, não encontram
amparo suficiente na legislação vigente, ou, se o amparo legal existe, não é implementado
de modo eficaz.
Considerando esses grupos minoritários que as escolas precisam adotar posturas
inclusivas que contemplem ao acesso e permanência dos/as estudantes crianças e
adolescentes surdos/as e impeçam que esses/as alunos/as sejam ignorados/as, anulados/as
e marginalizados/as, mas fortaleçam a capacidade de dar significados a objetos, fatos,
fenômenos, expressados de variados modos, para representar o mundo com referências
às nossas origens, memórias individuais e coletivas, aos nossos valores e sentimentos.
6. REFERÊNCIAS
FREYRE, Gilberto. Casa grande ; senzala: formação da família brasileira sob o regime
da economia patriarcal. 50. ed. rev. São Paulo: Global, 2005.
GESSER, Audrei. Libras? que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua
de sinais e da realidade surda. Parábola Editora, 2009.
GIROUX, Henry. Teoria crítica e resistência em educação para além das teorias de
reprodução. Vozes, 1986.
OJO-ADE, Femi. A cultura ioruba na diáspora: confusão atual, vínculos futuros. In.
Castro et al. Acolhendo as línguas africanas: segundo momento. Salvador, EDUNEB,
2010.
OLIVEIRA, Viviane.Santos. Ìyà mi èlèyè faz morada no omi t’ogun: um estudo sobre
mitos, ritos, símbolos e etnicidades. (Dissertação de mestrado). Programa de Pós-
Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade, Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia – UESB, 2020.
RESTE, Carmen Rodrigues; ANÇÃ, Maria Helena. Gostar da pessoa pelo que ela tem
dentro… relações de convivência entre alunos autóctones e alunos estrangeiros.
Indagatio Didactica, Portugal, 3 mar. 2011. Disponível em:
http://revistas.ua.pt/index.php/ID/article/view/917/851. Acesso em: 25 ago. 2020.
RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma africana no Brasil: os iorubas. São Paulo, Ed.
Oduduwa, 2005.
THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era dos
meios de comunicação de massa. Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 2011.
VERGER, Pierre. Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Trad. Maria Aparecida
da Nóbrega. São Paulo: Currupio, 2000.
111
8
QUILOMBO URBANO LUDOVICENSE: O LÉXICO DOS
BAIRROS DA LIBERDADE E FÉ EM DEUS EM SÃO LUÍS/MA
1. INTRODUÇÃO
Após serem retirados de África e trazidos para o Brasil para serem
escravizados/as, uma considerável parcela de negros/as formou quilombos em áreas mais
retiradas, adentrando as matas brasileiras para não voltar ao cativeiro.
Com a grilagem de terras e um dito progresso, principalmente, na Era Vargas, os
descendentes de quilombolas tiveram seus espaços violados, arrancadas de forma, muitas
das vezes, violenta. Braga e Ferreira (2010, p. 7) afirmam que, com o tempo, alguns
descendentes de quilombolas foram forçados a saírem dos seus espaços rurais, já dotados
de organização e formas de subsistência, por diversos motivos ― imposição do progresso,
medidas autoritárias de latifundiários, busca por melhor condição de vida ― e viram-se
obrigados a ocupar lugares em condições subumanas nas grandes cidades. Ressaltamos,
então, três caminhos percorridos por negros/as escravizados/as: (1) de África para o
Brasil; (2) a fuga para a formação de quilombos, sobretudo, em áreas rurais, (3) e a ida
para áreas urbanas30.
Os quilombos são, assim, formas de agrupamento em busca do resgate das origens
africanas, pois neles há uma organização social que se diferencia da opressora ao
promover uma relação assistencial mútua, como explica Carneiro (1988, p. 13-14),
O quilombo, por sua vez, era uma reafirmação da cultura e do estilo de vida
dos africanos. Os quilombos, deste modo, foram – para usar a expressão agora
corrente em etnologia – fenômeno contra-aculturativo, de rebeldia contra os
padrões de vida impostos pela sociedade oficial e de restauração dos valores
antigos.
28
Graduanda do curso de Letras Português/Francês da Universidade Federal do Maranhão- UFMA. E-mail:
laryssa.porto@discente.com
29
Doutora e Mestra em Línguistica pela Universidade Federal do Ceara - UFC. Professora do Curso de
Graduação em Letras Português/Espanhol e do Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLetras.
Coordenadora do Projeto de Estudos e Pesquisas em Línguas, Memórias, Identidades e Culturas -
GELMIC/CNPq e Professora-Pesquisadora do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão – AliMA. Email:
georgiana.marcia@ufma.br
30
Vale ressaltar que é necessário conhecer a história de formação de cada quilombo, em contexto rural ou
urbano, respeitando as suas individualidades.
112
Essas relações sociais são mantidas com muita luta entre os moradores da Fé em
Deus e da Liberdade para que a nova geração sustente os hábitos dos seus ancestrais.
Diversas pessoas que assumem lideranças sociais e/ou religiosas para nutrir as culturas
materiais e imateriais, nesses espaços, repassam aos mais novos valores e princípios da
mesma maneira que um dia lhes foram repassados pelos seus antepassados da área rural.
31
Para melhor compreensão do leitor, ao referenciar os informantes, colocaremos as siglas dos bairros o
qual pertencem. LB, para Liberdade; FD, para Fé em Deus.
32
Ana Porca era uma mulher que vivia no bairro da Liberdade. Em nossas entrevistas houve a menção
dessa figura, que morava sozinha, tinha apenas uma lamparina, considerada como feiticeira e virava porca.
O local onde ficava a casa de Ana Porca é abandonado e ninguém nunca conseguiu construir nada no
terreno.
114
Essas narrativas são responsáveis por construir as identidades, pois, segundo Hall
(2006, p. 38), devem ser vistas como múltiplas e a pós-modernidade oferece cada vez
mais possibilidades de trocas, apesar do sujeito a visualizar como uma forma reunida: “a
identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos
inconscientes e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento”
Parte integrante desse território quilombola, o bairro Fé em Deus, é vizinho dos
bairros Liberdade e Monte Castelo. O informante/colaborador C.D.R. (FD, sexo
masculino, 08/01/2020) lembra que antes de ter o nome atual de Fé em Deus, esse bairro
era conhecido como Areal:
O que eu já ouvi falar é que aqui era um areal, um areal, quer dizer que vem
dessa maré aí, aqui tudo era maré, então, era um areal e aí o pessoal foram
habitando, inclusive aqui no começo, essa rua aqui era só ponte, era só ponte,
o povo foi entulhando, entulhando, e foi criando o bairro da Fé em Deus. Mas
o Bairro Fé em Deus ele tem origem cultural, porque Fé em Deus, quando fala
em Fé em Deus, aí neguinho já remete logo ao boi da Fé em Deus ou Terreiro
de Jorge Babalaô, aí deu origem a toda essa diversidade cultural e de
comunidade. INQ. – Antes de ser Fé em Deus, tinha outro nome, ou sempre
foi Fé em Deus? INF. – Areal.
Ao lembrar de como era esse espaço antes do asfalto, esse colaborador confirma
que o espaço e a memória reproduzem imagens (Halbwachs 1990, p. 133). Assim, o lugar
ocupado recebe marcas da memória do grupo e vice-versa. Cada estrutura do espaço
apresenta um sentido único para quem o habita, como fica claro na fala da colaboradora
(M.M.S.P., FD, sexo feminino, 12/11/2019)
Aqui, onde tá funcionando o CIT, foi a primeira igreja Nossa Senhora da
Conceição, foi aqui. Eu me lembro que meu pai dizia que ele carregou muito tijolo e
muita pedra, porque essa igreja foi uma construção coletiva dos moradores da região, que
aqui era uma quinta, aqui, chamavam de quinta, né. Então, foi uma junção dos moradores,
papai falava com orgulho que ele construiu essa igreja.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 ETNOLINGUÍSTICA
A Etnolinguística é uma subárea da Linguística, cujo objeto de estudo é analisar a
relação entre língua, sociedade e cultura, de forma que, esses objetos de estudos das
ciências Humanas e Sociais não possam ser verificados de caráter isolados, mas sim, de
maneira agregada.
Assim, ao considerarmos estes campos de estudos como interseccionais,
partilhamos a mesma ideia de Silva (2009, p. 24), no qual afirma que
4.2 ETNOTERMINOLOGIA
116
5. METODOLOGIA
33
Inicialmente, no período referente a 2018-2019, elencamos oito informantes de duas faixas etárias para
a realização das entrevistas. Ao observarmos que o grau de participação e envolvimento com as atividades
no bairro é o fator mais significativo, elegemos apenas seis informantes no bairro da Fé em Deus com
participação em seguimentos cultural, religioso ou social no bairro.
117
34
Quando o etnotermo for encontrado em ambos os bairros, não haverá sinalização referente às siglas do
bairro.
118
Bairro Quilombola. Sintagma adjetival. Território que compõe a extensão do rio Anil,
composto pela junção dos bairros Camboa, Liberdade, Fé em Deus e Alemanha, e com
diversidades de agremiações culturais, especialmente, de origem negra, como cacuriá,
samba, bloco afro e tambor de crioula. [Então, o bairro da Fé em Deus, juntando de Fé
em Deus até Camboa, eh de Alemanha, Fé em Deus, Camboa, Liberdade, o diferencial é
que você não vê um bairro nessa extensão com tantas agremiações, porque até o último
levantamento que foi feito... eh... me parece que tinham duzentas agremiações ao longo
dessa extensão do rio Anil. Você inclui tribo de índio, você inclui cacuriá, eh... isso eu
falo só da parte junina, quando eu falo da parte de tambor de crioula, eh... escola de samba
a gente tem aqui em cima que é a Império Serrano, afro, inclusive, Neto de Nanã, em
memória ao Neto de Nanã que o pessoal continua com o bloco, né, e fora os outros blocos
e aí a gente tem dança, dança portuguesa, quer dizer, é o diferencial da gente, é essa
diversidade de agremiações ao longo de uma junção de bairros que se tornou um bairro
quilombola] (K.L.L.S., FD, sexo feminino, 24/01/2020).
Café. Substantivo. Substância alucinógena natural usada para o fumo e preparada com
folhas. [Marola. Vários nomes, tem marola...marola, café, um monte de nomes. INQ.-
Café? INF.- É. Tem o... o... dezesseis e vinte, também, dezesseis e vinte, quatro e vinte.
Tem massa. INQ.- Amassa? INF.- É massa, tem café, tem marola, quatro e vinte, boldo.
INQ.- Boldo? INF.- É. Verdinho. Tem vários nomes que colocaram] (R.W.F., FD, sexo
masculino, 04/01/2020). //Variante: Maconha, verdinha, cabobó, massa, dezesseis e vinte,
quatro e vinte, boldo, marola//
P
119
7. ANÁLISE ETNOTERMINOLÓGICA
Contexto de uso: [Ser quilombola é tu... tu ser envolvido com essas atividade e ser bem sucedido, pode
não ser, não só que seja financeiramente, mas ter uma estima boa, que tu te sinta bem, sabe, que tu vá e
participa, sabe?! E gosta, aquilo já (init.35) coração, te dedica, que tu te sinta bem, eh... uma energia boa,
uma boa fluência, naquela sintonia] (C.D.R. ,FD, sexo masculino, 08/01/2020) [É um negro que tem
consciência que é preciso lutar pela libertação. Pra mim, ser quilombola é isso: é um negro que tem
consciência] (M.M.S.P., FD, sexo feminino, 12/11/2019) [É (init.), viver, vivenciar, continuar aquilo
que desde o princípio, desde o início. Ser quilombola é ser... no nosso linguajar é ser parceiro, é ser
amigo. Saber colocar o meu problema do lado, pra mim ouvir o problema do outro, sabe, sabe?! Sabe?!]
(K.L.L.S., FD, sexo feminino, 24/01/2020) [São descendente de escravo, né, que vem. É carregar o
sangue de negro, é carregar nas veias o sangue de negro. Ser negro, ser negro, ser assumido] (M.C.C.S.,
LB, sexo feminino) [Quilombola é a mesma coisa de ser o negro, né não?!] (E.B.D., LB, sexo
35
Parte do áudio inteligível para a transcrição.
120
masculino)] [Quilombola é, também, ser resistente contra as questões sociais: o preconceito externo, a
visão marginalizada (T.A.V., LB, sexo feminino). [É ter nascido dentro daquela coisa que eu te falei de
um povo que se conhece, todos negros, da mesma raça] (W.L.P.A., LB, sexo masculino).
Semas
Boa energia Negro que tem consciência que Ser parceiro, amigo
é preciso lutar pela libertação
Metaconceptus Pessoa negra de boa energia, descendente de escravos que tem consciência de que
é necessário lutar e resistir contra as visões marginalizadas, e que vive em um lugar
onde todos se conhecem.
Definição 1. Pessoa descendente de pessoas escravizadas que tem consciência das opressões
vividas pelo povo negro, além disso, sabe que é preciso lutar pela libertação. 2.
Pessoa que ajuda o outro e transmite uma boa energia, influência. 3. Pessoa negra
que carrega na veia o sangue negro, que nasceu em uma área onde o povo todo se
conhece.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRAGA, F. S.; FERREIRA, L. A.. Formação dos Quilombos Urbanos:uma Análise dos
deslocamentos da África para o Brasil.2010. 9 f. Revisão de Literatura.
CARNEIRO, E.. O Quilombo dos Palmares. São Paulo: Companhia Editora Nacional,1988.
HALBWACHS, M.. A memória coletiva. 2º ed. São Paulo: Editora Revistas dos
Tribunais LTDA, 1990.
HALL, S.. A identidade cultural na pós-modernidade. 11a ed. Rio de janeiro: dp&a; 2006.
REIS, J. J.; GOMES, F. S.. Liberdade Por um Fio: história dos quilombos no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
SAPIR, Edward. An Introduction to the Study of Speech. New York: Harcourt Brace, 1921.
9
A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
1. INTRODUÇÃO
Como esclarecido por Saussure (2006, p. 22), a Língua “é definida como a parte
social da linguagem e só um indivíduo não é capaz de mudá-la”, sendo assim, a Libras,
assim como qualquer outra língua, é desenvolvida e modificada a partir da demanda
coletiva, nunca de forma individual. Daí, percebe-se que o conceito de sinalização certa
ou errada não abrange a complexidade da comunicação espaço-visual dos surdos.
36
Professora e Assistente Social. Mestranda em Cultura e Sociedade – Programa de Pós-Graduação em
Cultura e Sociedade (PGCULT) da Universidade Federal do Maranhão (Ufma). E-mail:
naysachristine1979@gmail.com
37
Professora Associada da Ufma. Docente e Pesquisadora dos Programas de Pós-graduação Mestrado em
Educação (PPGE) e Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (PGCULT). E-mail:
thelmachahini@hotmail.com
125
Por exemplo, os sinais utilizados em São Luís para identificar ações, animais,
locais, comidas típicas e expressões culturais (danças, personagens folclóricos e outros)
divergem dos sinais utilizados em outros estados. O sinal de Maranhão, no próprio
Estado, é executado com a configuração de mão em “M”, orientação da mão para o corpo,
ponto de articulação espaço neutro, movimento semicircular e expressão facial neutra. Já
no Rio de Janeiro, o sinal é executado com o mesmo ponto de articulação, o mesmo
movimento e a mesma expressão facial, porém, a configuração de mão é em “W” e a
orientação da mão é para fora. Diante de tal exemplo, qual sinal está certo?
A Libras é uma língua desenvolvida por uma demanda humana, o que acontece
com as demais línguas, tanto orais como sinalizadas. Por ser uma língua natural, a Língua
Brasileira de Sinais apresenta um processo recente, gradual e contínuo de expansão e
variação, devido às necessidades comunicativas que surgem no cotidiano de fala entre
seus usuários. Assim, considerando a dimensão continental do país, a mobilidade dos
indivíduos surdos e a experiência com novas variantes, torna-se relevante investigar
transformações linguísticas e também variações existentes.
Seguindo essa perspectiva, Brito et al. (2011) realizaram um estudo cujo propósito
era comparar a sinalização goiana com a sulista mediante participação voluntária de três
surdos e dois ouvintes com formação superior incompleta. Os autores utilizaram como
referência os sinais cadastrados em dicionários de Libras e obtiveram os seguintes
126
resultados: os 50 sinais goianos divergiam em 42% dos sinais do Rio Grande do Sul, 38%
dos sinais de Santa Catarina e 20% dos sinais do Paraná.
Castro Júnior (2011), por sua vez, desenvolveu uma pesquisa sobre variação
linguística na Língua Brasileira de Sinais e como tal fato linguístico acontece sob
interferência da Língua Portuguesa. O autor catalogou seis termos do campo semântico
“política” com o auxílio de surdos e profissionais da Libras que trabalhavam nos poderes
legislativo e executivo. A partir dos dados, verificou, então, que a variação linguística na
Libras é um componente essencial para a dinamicidade dessa língua.
4. METODOLOGIA
Os participantes da pesquisa têm o seguinte perfil: dois são surdos e quatro são
ouvintes; dois têm Ensino Superior completo e quatro ainda estão na Graduação; cinco
127
Observa-se, na sinalização (figura 2), que a formação do sinal se dá, também, pela
justaposição, mas de modo diferente da execução da figura 1, pois, neste contexto, o
128
variação diatópica, que apresenta modos de “falar” de lugares diferentes, neste caso,
Maranhão e demais Estados (BAGNO, 2007).
No tocante à configuração de mão, é importante destacar que todas as execuções
utilizaram a de número 51, segundo a figura 8, de Felipe (2005). As variáveis
apresentadas foram os parâmetros movimento, direcionalidade e expressão
facial/corporal, que resultaram nas variantes apresentadas nas figuras 1 a 6.
Para Tarallo (1994), a variação é tida pela sociedade como uma “confusão”
linguística, ou seja, como um balaio de gatos em que duas (ou mais) formas de se dizer a
mesma coisa se duelam, buscando a ascensão de uma em detrimento de outra
palavra/expressão. Portanto, a língua não é expressa da mesma forma por todos os seus
falantes. Além disso, as línguas, entre elas a Libras, evoluem continuamente, adaptando-
se às novas gerações de indivíduos e a transformações sociais, adquirindo novas
peculiaridades provenientes de comunidades distintas.
A esse respeito, Capovilla (2010, p. 45) pontua:
Crianças surdas não são definidas por sua deficiência auditiva apenas, mas sim,
principalmente, por sua língua materna própria (a Libras) e por sua cultura
própria. O respeito a essa diversidade é essencial para a cidadania e a educação
de qualidade adequada às suas necessidades especiais, direito da criança
132
Assim, o mito “esse sinal é errado” tem sido baseado no preconceito linguístico.
Os jovens, por exemplo, não aceitam utilizar os sinais mais antigos, pois estes já foram
substituídos. Por outro lado, adultos e idosos surdos, por desconhecerem os sinais mais
atuais da Libras, os conceituam como errados.
Outro fator que viabiliza a crença equivocada aqui abordada é a tentativa de
homogeneização dos sinais, sendo o Dicionário de Capovilla e Raphael (2001) um
exemplo dessa tentativa, pois, em sua coletânea, o professor catalogou somente os sinais
referentes aos executados nas regiões sul e sudeste, sem referências aos sinais nas demais
regiões. Esse afunilamento distancia a Libras de uma língua natural e a aproxima de uma
língua artificial, ou simplesmente de um código específico.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7. REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Língua, linguagem, linguística: pondo os pingos nos ii. São Paulo:
Parábola, 2014.
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
FELIPE, Tanya A. Libras em contexto: curso básico: livro do estudante. 5. ed. Rio de
Janeiro: Libras Editora Gráfica, 2005.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix,
2006.
10
VARIAÇÃO FONÉTICA NO MUNICÍPIO DE PINHEIRO-MA: UMA ANÁLISE
SOCIOLINGUÍSTICA DA REALIZAÇÃO DO /D/ E /T/
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
38
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras - PPGLetras da Universidade Federal do Maranhão
-UFMA. E-mail: francimonedutra@hotmail.com
39
Doutora e Mestra em Línguistica pela Universidade Federal do Ceara - UFC. Professora do Curso de
Graduação em Letras Português/Espanhol e do Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGLetras.
Coordenadora do Projeto de Estudos e Pesquisas em Línguas, Memórias, Identidades e Culturas -
GELMIC/CNPq e Professora-Pesquisadora do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão - AliMA. Email:
georgiana.marcia@ufma.br
135
direciona-se para uma posição anterior, mais para a frente da cavidade bucal do que
normalmente ocorre quando se articula um determinado segmento consonantal”.
No que diz respeito à despalatalização, Cagliari (1974) afirma que esse fenômeno
é uma etapa da evolução do som palatal que se dá por meio do enfraquecimento do contato
linguopalatal.
40
Inicialmente, foram selecionados 18 municípios para compor a rede de pontos do ALiMA. Entretanto,
no decorrer da pesquisa, a coordenação do ALiMA decidiu excluir duas localidades – Maracaçumé
(MA06), porque já estava incluso na região compreendida por Turiaçu, e Santa Luzia (MA15), por se tratar
de um município mais novo, criado com o desmembramento de Pindaré-Mirim, espaço geográfico já
contemplado pelo ponto MA16, correspondente a Bacabal.
138
CÓD. FAIXA
LOCALI- ESCOLA
DO ETÁRIA/IDADE SEXO
DADE -RIDADE
INFOR.
MA1/1 FI EF Masculin
o
MA 3 MA1/2 FI EF Feminino
(Pinheiro) MA1/3 FII EF Masculin
o
MA1/4 FII EF Feminino
Fonte: Elaborado pelas autoras desta pesquisa.
3.3 INSTRUMENTO
Para efeito deste trabalho, selecionamos 15 questões das 159 que contém o QFF
do ALiMA. A seleção dessas questões decorre do fato de elas contemplarem perguntas
que apresentam palavras com os fonemas /d/ e /t/ diante de /i/ e de /e/, objeto de nosso
estudo. No Quadro 02, podemos visualizar melhor as 15 perguntas selecionadas.
dos fonemas /d/ e /t/, o que representa um percentual de 65%, contra apenas 13 realizações
para a despalatalização dos fonemas em questão, totalizando 21,7%.
Além disso, tivemos 08 realizações que não se aplicaram nem à palatalização nem
à despalatalização, por não responderem ao objeto em análise ou simplesmente pela
ausência de resposta. A essas realizações, nomeamos como Não se aplica. Veja os
exemplos a seguir retirados do corpus analisado.
Exemplo (1)
INQ. – ... um aparelho que é usado para fazer vitaminas, suco, etc.?
INF. – (MA03/1)
Exemplo (2)
INQ. – Quando um indivíduo é acusado, mas ele não praticou aquele crime,
se diz que ele é o quê?
INF. – Diz que ele é ladrão, num é não?
INQ. – Não, ele não fez, as pessoas não estão dizendo que ele é ladrão não.
Ele não fez aquilo que eles pensam que ele fez, se diz que ele é?
INF. – Num é, num é, num foi acusado, então num é ladrão.
INQ. – Pois é, se ele não é ladrão, então o juiz vai mandar ele de volta pra
casa, porque ele não é?
INF. – Ele foi dispensado, num é?
INQ. – Ele não fez quilo que estão acusando, então eu digo que ele é?
INF. – Ele é, é, é, as veze ele é... tá livre num é? Despacha, manda embora
INQ. – Que ele é?
INF. – Uma boa pessoa, num é? Que o ladrão mesmo, ninguém ia dizer que
é uma boa pessoa né? Agora quando a pessoa faz aquilo que num é certo, ele
fez de errado e às vezes num tá errado, mas ele tá livre num é? E as vezes
pode até mandar ele ir embora e pedir pra ele num fazer mais, num é?
(MA03/3)
41
O peso de um fator é calculador pelo GoldVarb X, com base em um conjunto de dados, que indica o
efeito desse fator sobre o uso da variante investigada nesse conjunto.
42
A respeito do range, convém dizer que “A força [de uma variável] é medida pelo range, que é então
comparado com os ranges dos outros grupos de fatores significativos. O range é calculado subtraindo-se o
peso mais baixo mais baixo do peso mais alto. Quando estes números são comparados para cada um dos
grupos de fatores de uma análise, (a diferença de) número mais alto identifica a restrição mais forte. O
número mais baixo identifica a restrição mais fraca [...] range (ou a magnitude do efeito) nos permite situar
um grupo de fator em relação a outro. Ele também pode ser usado para comparar a gramática variável dos
traços linguísticos entre as análises” (TAGLIAMONTE, 2006, p.242)
143
palavras como prateleira, liquidificador, perdida) com PR de (0.83) e, por fim, a posição
de final da palavra (em palavras como tomate, tarde, presente) com o PR (0.15), bem
abaixo do que esperávamos para este fator.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As variações linguísticas nem sempre são bem aceitas por uma parcela da
sociedade e, infelizmente, atitudes discriminatórias são lançadas, o que corrobora o
chamado preconceito linguístico. O fenômeno da despalatalização é um dos alvos desse
preconceito, pois, muitas vezes, não é entendido como riqueza cultural e torna-se alvo
dessas atitudes.
Bagno (1999) nos fala da necessidade de estudos científicos e de uma abordagem
educacional em favor de uma educação linguística voltada para a inclusão social e para o
reconhecimento e valorização da diversidade sociolinguísta brasileira. Enfatizamos, nesse
sentido, que pesquisas como esta, além de contribuir para o entendimento de fenômenos
linguísticos, podem ajudar a esclarecer melhor as ocorrências da língua e diminuir a visão
errônea de que muitos falantes têm sobre a variação linguística.
Em relação à análise que foi realizada neste trabalho, à luz da Teoria da Variação,
constatamos que tanto os fatores linguísticos quanto os extralinguísticos exerceram
influência na despalatalização/palatalização dos fonemas /d/ e /t/ no município de
Pinheiro, no estado do Maranhão. Desse modo, chegamos às seguintes conclusões: a)
quanto ao fator Sexo, os homens despalatalizaram mais do que as mulheres; b) quanto ao
fator Faixa Etária, os informantes mais idosos foram os que mais despalatalizaram; c) no
grupo de fatores Contexto Fonológico, o contexto D Antes de /e/ átono foi o contexto que
mais favoreceu a despalatalização dos fonemas /d/ e /t/; d) quanto ao fator Posição do
Contexto Fonológico, a posição do contexto fonológico que que mais favoreceu a
despalatalização foi a posição de início da palavra.
Assim, concluímos que a despalatalização dos fonemas /d/ e /t/ diante dos
contextos fonológicos /i/ e /e/ no município de Pinheiro, é um fenômeno variável. Após
análise apurada da aplicação da regra variante, os resultados estatísticos nos permitiram
inferir que a regra variável de despalatalização parece estar sendo mais produzida entre
os falantes do sexo masculino e da II faixa etária, o que nos dá amostras de um possível
enfraquecimento e posteriormente extinção dessa variante em questão, pois são os
falantes mais jovens, da I faixa etária, que parecem conduzir a variante palatalização na
localidade. É importante salientarmos que os resultados aqui apresentados devem ser
encarados como tendências, dada à limitação de nosso corpus.
6. REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola,
1999.
11
O ENSINO DO LÉXICO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA NATIVOS
DIGITAIS
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
43
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras - PGLetras da Universidade Federal do Maranhão
- UFMA. e-mail: albacgcpenha@hotmail.com
44
Professora do Mestrado Acadêmico em Letras da Universidade Federal do Maranhão
149
(BESSA, NERY e TERCI, 2003), porém o grande desafio é facilitar o encontro entre o
conhecimento e o aprendiz.
Este aprendiz, mais precisamente o da educação básica, atualmente é considerado
um nativo digital, pois nasceu após a disseminação tecnológica e que, embora possua
facilidade no manuseio das ferramentas digitais disponíveis, necessita de mediação no
processo de construção do conhecimento. Consoante a isto, David Barton e Carmen Lee
(p.23, 2015) afirmam que “a ideia de que os jovens são predominantemente hábeis no uso
de novas tecnologias e de que podem ser considerados “nativos digitais” já existe há
algum tempo (PRENSKY, 2001)” .Então, resta-nos desenvolvermos metodologias de
ensino de língua portuguesa que levem em consideração esta realidade e que possibilitem
uma aprendizagem da língua eficaz.
Outro ponto que deve ser considerado na escolha de metodologias inovadoras de
ensino de língua é a necessidade de adaptação do conteúdo à realidade de um determinado
grupo de alunos, pois o contexto social de uma turma difere de outras. Os livros, embora
sejam recursos didáticos de fundamental importância no processo de construção do
conhecimento, não são, por si só, suficientes, pois não se aproximam da realidade dos
diferentes grupos sociais e não correspondem a todas as necessidades cognitivas destes
grupos, como podemos comprovar no texto abaixo:
Dessa forma, levando em consideração a atual configuração social, que está cada
vez mais envolvida com a tecnologia, é de fundamental importância a utilização de
métodos que transformem a educação em uma atividade inovadora de forma que o aluno
participe e se identifique com o processo de aprendizagem. Esta necessidade foi objeto
de discussão por Bacich, Tanzi & Trevisani (2015), na obra Ensino Hibrido, como
podemos ver no texto abaixo:
Esta forma de ensinar a qual a autora se refere destoa do dinamismo inato dos
nativos digitais. É um erro, quiçá um engodo, impor as práticas pedagógicas de ensino de
Língua Portuguesa usadas no século passado para esta nova geração, pois para que os
conteúdos sejam assimilados e façam sentido, o aluno atual precisa participar ativamente
do processo de construção deste conhecimento. Barton e Lee (2015, p. 167) fazem uma
importante ressalva no que diz respeito ao aprendizado atual:
O ensino hibrido acontece alicerçado em uma tríade composta por: alunos, objeto
do conhecimento e a prática educacional. Trocando em miúdos, o aluno é o sujeito da
ação de aprender, aquele que deve atingir os objetivos propostos. O segundo elemento, o
objeto do conhecimento, neste caso a Língua Portuguesa, com suas variações e
possibilidades de uso a depender do contexto comunicativo. E o terceiro elemento, a
prática educacional, diz respeito à organização da mediação entre o aluno e o objeto do
conhecimento. Para que esta mediação alcance os objetivos propostos e alie o uso da
internet, o professor deverá planejar atividades que aconteçam antes mesmo de o aluno
adentrar na sala de aula. É nesse contexto que podemos aliar ao ensino híbrido, a
gamificação e a interação na rede social Instagram como metodologias ativas de
aprendizagem do léxico da língua portuguesa.
Dessa forma, jogos podem ser capazes de promover experiências lúdicas que
despertem no aluno o interesse por determinado assunto promovendo uma aprendizagem
efetiva.
Percebemos que, ainda hoje, os livros didáticos de Língua Portuguesa como as
gramáticas ainda trazem atividades tradicionais de estudo do léxico, tais como: “sublinhe
os advérbios”, “circule os substantivos”, “pinte os adjetivos”. Por outro lado, existem
aplicativos em formato de jogos que tem o mesmo objetivo das atividades tradicionais
supracitadas, porém num formato mais engajador.
154
O professor pode sugerir o jogo “Combinando letras”, por exemplo, antes da aula
sobre os processos de formação de palavras, conteúdo pertencente ao estudo do léxico,
mais precisamente à morfologia derivacional. Para que esta atividade componha uma das
etapas do ensino híbrido, deverá ser realizada em ambiente externo à sala de aula, ou seja,
em ambiente virtual antes do estudo do léxico ser iniciado presencialmente, pois desta
forma, o aluno poderá ter uma noção prévia do que irá aprender, além de ter um maior
interesse naquele conteúdo, garantindo seu engajamento e o seu protagonismo no
processo de aprendizagem.
Além do uso dos jogos, a interação nas redes sociais é muito produtiva para
práticas de ensino de língua, mas especificamente o ensino do léxico, haja vista que a
escrita é uma das atividades centrais nestes espaços. É fato que a linguagem da internet
contrasta com a norma padrão da língua ensinada nas escolas, porém é mister considerar
a importância deste tipo de linguagem no ensino de língua materna, pois as pessoas têm
apresentado traços típicos da linguagem on-line na comunicação cotidiana.
A título de exemplo, os usuários da rede social Instagram vêm apresentando
consideravelmente em suas realizações linguísticas (BAGNO, 2000) o uso de
anglicismos, principalmente por meio de hashtags. Esta realidade extrapolou os espaços
da web 2.0 e se faz presente nas interações comunicativas face a face, haja vista que não
há dicotomia on-line versus off-line (BARTON e LEE, 2015, p. 237). Por meio deste
fenômeno, podemos ensinar ao aluno aspectos da neologia lexical e morfologia
derivacional da língua portuguesa, mostrando assim, como a língua é dinâmica e
produtiva. Como exemplo
Fonte: Intagram
156
Fonte: Intagram
Não restam dúvidas que a linguagem contida nos prints acima é característica do
ambiente online, mais precisamente do Instagram, tanto pelo uso das hashtags, como pelo
uso frequente de anglicismos. Na figura 3, os anglicismos shooting, takeover e stories
estão perfeitamente entrelaçados na legenda escrita em língua portuguesa. Pelo contexto,
podemos inferir que shooting significa ensaio fotográfico; takover é utilizada quando
alguém assume a conta de Instagram de outra pessoa, temporariamente; e stories são as
postagens de imagens, vídeos ou textos que somem em 24 horas no Instagram.
Neste espaço, podemos perceber a dinamicidade e produtividade linguística por
meio dos neologismos lexicais advindos de anglicismos que permeiam todo o processo
comunicativo nas legendas. Desse modo, o aluno, inconscientemente, faz uso de muitas
inovações da língua, assim como cria palavras sem saber que há uma lógica e uma
motivação por trás das suas escolhas.
Portanto, mostrar na prática, por meio das realizações linguísticas que os próprios
alunos produzem no Instagram, noções do processo de formação de palavras e/ou da
importação destas para a língua em uso poderá promover um aprendizado mais
significativo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
aprendizagem, não somente para a área de Língua Portuguesa com enfoque lexical, como
aqui foi demonstrado, mas para todas as áreas do conhecimento.
5. REFERENCIAS
BARTON, D.; LEE, C. Linguagem online: textos e práticas digitais. São Paulo:
Parábola Editorial, 2015.
BESSA, Vagner de Carvalho; NERY, Marcelo Batista; TERCI, Daniela Cristina.
Sociedade do conhecimento. São Paulo Perspec., São Paulo , v. 17, n. 3-4, p. 3-
16, Dec. 2003 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
88392003000300002&lng=en&nrm=iso>. access
on 04 Jan. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392003000300002.
BORGES, Simone de S. et al. Gamificação Aplicada à Educação: Um Mapeamento
Sistemático. Brazilian Symposium on Computers in Education (Simpósio Brasileiro de
Informática na Educação - SBIE), [S.l.], p. 234, nov. 2013. ISSN 2316-6533.
Disponível em: <https://www.br-ie.org/pub/index.php/sbie/article/view/2501/2160>.
Acesso em: 14 jan. 2020. doi:http://dx.doi.org/10.5753/cbie.sbie.2013.234
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 11 set. 2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental – Língua Portuguesa.
Brasília: MEC/SEF, 1998
COMBINANDO LETRAS. Só Português. Porto Alegre: Virtuous Tecnologia da
Informação, s. d. Disponível em: https://www.soportugues.com.br/secoes/jogos.php#.
Acesso em: 8 ago. 2018.
DE BARROS, P. L.; FRANCO DE CAMARGO, K. A. Linguística Aplicada: uma
ciência pós-moderna. Revista Odisseia, n. 9, p. p. 53 - 58, 19 nov. 2016.
DESCUBRA AS ERRADAS. Só Português. Porto Alegre: Virtuous Tecnologia da
Informação, s. d. Disponível em: https://www.soportugues.com.br/secoes/jogos.php#.
Acesso em: 8 ago. 2018.
DIESEL, Aline; SANTOS BALDEZ, Alda Leila; NEUMANN MARTINS, Silvana. Os
princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Revista
Thema, [S.l.], v. 14, n. 1, p. 268-288, fev. 2017. ISSN 2177-2894. Disponível em:
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jan. 2020. doi:http://dx.doi.org/10.15536/thema.14.2017.268-288.404.
GEE, J. P. (2003) What video games have to teach about learning and literacy,
Palgrave Macmillan, New York.
158
12
LÍNGUA PORTUGUESA X LÍNGUA ESTRANGEIRA:
PERSPECTIVANDO A ATUAÇÃO DO PROFESSOR EM SALA DE
AULA
1. INTRODUÇÃO
45
Discente do curso de graduação de letras/libras da Universidade Federal do Maranhão. E-mail:
renanpires29@hotmail.com
46
Professora Ma. do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão. Email:
manuela.viana@ufma.br
160
Por outro lado, temos a visão racionalista que se baseia no princípio de que as
crianças nascem com o conhecimento específico sobre a linguagem. Tendo por base nessa
visão a Teoria Gerativista defendida pelo linguista Noam Chomsky, que afirma que o
homem já nasce com conhecimentos linguísticos e não linguísticos por possuírem uma
gramática universal, e que por isso as crianças aprendem a falar rapidamente, pois já
possuem um dispositivo inato para a aquisição da linguagem. Mesmo que as crianças
fiquem expostas a falas fragmentada e incompletas, conseguem internalizar a gramática
de uma determinada língua a partir do acionamento do dispositivo inato contido nela, e
assim poderá começa a falar.
Chomsky afirma que o behaviorismo não consegue explicar como algumas
propriedades linguísticas como a produtividade e a criatividade são utilizadas, pois a
primeira refere-se ao fato de uma criança produzir sentenças gramaticais que jamais
ocorreram antes na sua vivência, e a segunda referente ao fato da linguagem humana ser
independente de estímulos. Para Chomsky (1957:54-68),
É muito difícil acreditar que a criança adquire a língua somente por meio da
imitação de outros usuários ou por meio de uma sequência de respostas sob o
controle de estímulos externos e associações intraverbais. [...] o fato de que
todas as crianças normais adquirem estruturas gramaticais bastante complexas
com uma rapidez imensa sugere que os seres humanos são de algum modo
predestinados a fazer isto.
A linguagem faz parte de uma organização cognitiva mais geral que mergulha
suas raízes na “ação e nos mecanismos sensório-motores mais profundos do
que o fato linguístico”; em particular, é um dos elementos de um feixe de
manifestações que repousam na função semiótica, na qual participam o jogo
simbólico, a imitação diferida e a imagem mental (INHELDER, 1983, p.170).
“bom noite” para eventos até próximo ao amanhecer do outro dia, temos que aprender
que em Libras se diz “boa noite” até meia noite e “boa madrugada” para eventos após
esse horario. Percebemos que o domínio de uma LE não é um conhecimento a mais que
se adquire e que se soma ao que já temos, mas algo que precisa penetrar na nossa
intimidade, e que mexe na nossa estrutura afetiva, cognitiva e social.
um lar. Chalita (2004, p.17) afirma que “por melhor que seja a escola, por mais bem
preparados que estejam seus professores, nunca vai suprir a carência deixada por uma
família ausente”.
O diálogo entre a familia, escola( na figura do professor) e o aluno, contribuiem
para que o processo de ensino e aprendizagem possa se consolidar com melhorias nas
atividades curriculares, no uso de recursos tecnológicos mais adequados a realidade
vivida, na relação com a comunidade escolar, nas avaliações externas e na formação
continuada na escola (FREIRE, 1996).
Para crianças nessa idade de 8 anos, é mais fácil você ensinar do que uma
criança de 14 ou um adulto de 45. Eles só precisam ter consciência de que
aquilo não é um bicho de sete cabeças. Tanto que se você passar 6 meses
falando diariamente uma média de 2hs em inglês com uma criança é suficiente
pra ela entender basicamente 75% do que diz aquela pessoa nos próximos 6
meses. Linguagem corporal ajuda muito quando se vai ensinar um idioma, pois
você não dá a tradução, então ela não precisa memorizar, mas sim, entender e
aprender. Flashcards também são uma boa, pois ajuda a pessoa a pensar de
maneirar mais rápida, a ser mais ágil no que está aprendendo, a ser mais
imediata. Questões de marcar ajudam essas crianças a manterem a mais a
concentração no entendimento enquanto questões de escrever se tornam mais
cansativas, porém, é importante pra que eles pratiquem escrita. Jogos fazem
toda diferença, eles são super competitivos e fazem tudo pra ganharem uma
disputa, então sem duvidas aposte nisso (pesquisa o Kahoot é uma plataforma
onde os professores criam jogos ou pegam prontos e os alunos respondem nos
celulares). Tem as atividades coloridas também. Ajuda muito. Porque separa
cada coisa na cabecinha deles.Coisas que não ajudam: grande quantidade de
alunos numa sala, falar somente em português com os alunos, professores
desmotivados, cansados e estressados (professores assim costumam punir
muito os alunos e não os deixarem a vontade, ou terem preguiça de fazerem
algo novo e criativo a cada módulo aprendido, ou até mesmo não observarem
que cada aluno tem seu ritmo e sua experiência com a língua então tem mesmo
que um professor tenha 500 alunos, se ele ensina essa faixa etária ele precisa
conhecer cada um e pais que não se comprometem pois não observam deveres
de casa, não cuidam do emocional dos filhos, permitem o mal comportamento
que faz com o que aluno se afaste mais ainda do professor.( PROFESSOR 1)
Vontade, já que ninguém aprende o que não quer; Interesse, pois só terá
sucesso se se mantiver interessado no que almeja; Idade, pois quanto mais
cedo, melhor a aquisição de uma segunda língua; Metodologia adequada, já
que a forma como se ensina é de grande relevância; Perseverança, iniciativa e
comprometimento ao longo do processo. (PROFESSOR 5)
166
Não. Todos sabemos que os recursos e propostas devem ser flexíveis de acordo
com a necessidade da turma. Às vezes a proposta imposta pelo material
didático ou pela lei de diretrizes e bases da educação não atendem à
necessidade de uma turma, desta forma, é necessário que o professor junto ao
seu planejamento faça modificações de modo que o seu ensino atenda toda à
turma, visto que cada aluno carrega uma bagagem social que precisa ser
lapidada na educação formal. (PROFESSOR 2)
Acredito que o aluno aprende a língua portuguesa de diversas formas mas para
isso é preciso que haja um grande esforço por parte dos atores educativos,
principalmente, professores. Penso que deva haver um equilíbrio entre os
conhecimentos teóricos dos professores juntamente com sua didática que,
consequentemente, pede recursos didáticos e espaços favoráveis ao
aprendizado.( PROFESSOR 4)
167
Para o ensino Médio, nível Língua Portuguesa, temos na primeira pergunta: Como
o aluno aprende a língua portuguesa? O professor 6 de Língua portuguesa respondeu:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa analisou por meio de duas perguntas, como se dava as formas
e métodos do ensino de dois professores de língua estrangeira e língua portuguesa, que
atuam no ensino fundamental menor, maior e médi. Os dados analisados nos revelou
diferentes formas metodológicas de aplicação, tendo em vista uma boa eficácia na
aprendizagem de seus alunos. Portanto, as metodologias aplicadas pelos professores tem
muita relevância no que se emprega o ensino uma segunda língua, que por diversos
fatores, se torna essencial na vida das pessoas, porem percebe-se a falta de compreensão
quando se refere ao ensino da língua portuguesa como segunda língua.
Contudo, nas análises feitas percebemos que não só a forma com que se transmite
o conhecimento é primordial, mas também como esse aluno vai aplicar de forma precisa
esse conhecimento. Logo, esse trabalho nos mostrou a importância das formas que
ensinamos, assim como a forma que os alunos vão aplicar esse conhecimento.O
aprendizado de uma segunda língua é essencial para a inserção e boa comunicação em
uma sociedade e o uso de recursos dinâmicos, lúdicos e contextualizados ao momento
vivido, se torna imprescindível no ensino de segunda língua.
Percebe-se que para cada nível de ensino, cada faixa etária, cada língua (sendo
L1 ou L2) é necessário metodologias diversas, e o ensino de primeira Língua não é igual
ao ensino de uma segunda. Ao passo que aprendemos uma segunda língua, mudanças em
nossa organização neural vão acontecendo, pois há uma organização estabelecida pela
primeira língua. Além do mais, é necessário para o aprendizado de uma segunda Língua
o contato (imersão na língua) com músicas, filmes, séries, inter-relações e desenvolver as
4 habilidades: ler, escrever, ouvir e falar.
6. REFERÊNCIAS
MORIN, Edgar. O método 4. As idéias. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre:
Sulina, 1998.
PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira. Aquisição de segunda Língua. São Paulo:
Parábola Edtorial, 2014.
13
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO: AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO A SERVIÇO DO MULTILETRAMENTO DE
CRIANÇAS DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
1. INTRODUÇÃO
47
Graduanda em Pedagogia pela Faculdade do Maranhão (FACAM). E-mail: carvalhoyngrith@gmail.com
48
Graduada em Pedagogia pela Faculdade do Maranhão (FACAM). E-mail: thatacrvb96@gmail.com
49
Graduada em Letras pela Faculdade Santa Fé, Especialista em Literatura Brasileira pela Universidade
Estadual do Maranhão (UEMA), Mestre pela Universidade Estadual do Piauí (UEPI), Doutoranda em
Educação pela Universidade Lusófona de Tecnologias e Humanidade, em Lisboa-Portugal, Professora da
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e da Secretaria de Estado de Educação do Maranhão. E-mail:
jeanness01@gmail.com.
171
parte das TICs, ambas dizem respeito a um conjunto de diferentes mídias. Para Chermann
(1988, p. 42),
projeto”. É relevante lembrar que os livros didáticos impressos em papel, quadro negro e
giz também são tecnologias presentes há muito tempo em sala de aula, porém numa
perspectiva contemporânea são interessantes recursos inovadores e recentes como
computadores, tablets, lousa digital e internet.
Percebemos o crescimento da aceitação por muitos educadores sobre o uso de
recursos tecnológicos em sua prática pedagógica, a fim de tornar o processo de ensino
aprendizagem algo mais dinâmico e democrático, transformando a sala de aula de um
“lugar do saber” a um ambiente em que haja troca de diálogo, ideia, experiência, com
participação ativa do aluno no processo de aprendizagem “[...] em busca de caminhos e
alternativas possíveis sobre o conhecimento em pauta” (KENSKI, 2003, p. 47).
Outro aspecto da contribuição das TDICs em sala de aula quando têm seu uso e
potencial aplicado positivamente, é proporcionar a pesquisa ativa, tornando o aluno
participante e proativo, sujeito de suas ações, protagonizando o processo de
desenvolvimento do seu aprendizado, pois os bancos de nossas escolas estão sendo
ocupados por estudantes “nativos digitais” que manuseiam com total liberdade e
desenvoltura os recursos tecnológicos.
As discussões sobre a utilização das tecnologias no ambiente escolar como
ferramentas de acesso ao conhecimento têm sido cada vez mais difundidas.
O fato é que nos encontramos em constante mudança e a escola precisa
acompanhar tais transformações de forma que suas práticas sejam significativas e
necessárias aos educadores e educandos.
O termo “nativos digitais” foi adotado por Palfrey e Gasser no livro “Nascidos na
era digital”, diz respeito principalmente àqueles que nasceram após 1980 e que tem
habilidade para usar as tecnologias digitais. Pode-se defini-los como
[...] pessoas que possuem uma persona online, possível graças a recursos
tecnológicos como aparelhos Blackberry ou I-Phone e a rede de
relacionamentos que lhes permitem levar uma vida online e off-line durante
todo o dia. Essa é uma das características que os torna tão diferentes de seus
pais e de outros adultos de gerações mais velhas (PALFREY; GASSER, 2008
apud PESCADOR, 2010, p. 2).
Aos que não se encaixaram nesse grupo e precisam conviver e interagir com esses
nativos e, também precisam aprender a conviver em meio a tantas inovações tecnológicas,
são os chamados “imigrantes digitais” (PALFREY; GASSER, 2011). Os imigrantes
nasceram em outro meio, não dominado pelas tecnologias digitais, sua forma de aprender
foi outra. É notável que a sociedade encontra-se dividida nesses dois grandes grupos
quando tratamos de tecnologia na educação.
A presença da tecnologia junto aos nativos digitais no ambiente escolar traz
mudanças e inovações ao papel do professor, tornando-o ainda mais responsável no
174
O professor continua sendo uma figura importante na era digital. Porém, sua
postura deixa de ser a de transmissor absoluto do conhecimento, e passa a ser
de facilitador de descobertas, tudo isso em um novo processo de ensino
aprendizagem. Os alunos, que agora não são mais uma plateia receptora,
podem ser definidos como um grupo que participa ativamente da aula,
buscando em seus notebooks (ou celulares, iPhones e outros aparelhos com
acesso a internet) informações sobre o tema da aula, visitando virtualmente os
lugares descritos pelo professor, vendo imagens, textos, vídeos, ou trazendo de
casa uma pesquisa feita na internet. É uma outra forma de ensinar e aprender
(PARNAIBA; GOBBI, 2010, p. 8).
3. MULTIMODALIDADE E MULTILETRAMENTO
caricaturas, por exemplo, mas também a própria gráfica do texto no papel ou na tela do
computador”. Estes aparatos visuais também são considerados formas de expressão do
texto e nos auxiliam na leitura, fazendo-nos enxergar que a leitura só será eficiente se o
conjunto dos modos semióticos presentes no texto for interpretado junto e não apenas
com base em uma única modalidade.
Em meio a constante mudança, num mundo em que as novas tecnologias digitais
chegam a todos os cantos, as práticas de leitura tornam-se cada vez mais relevantes. De
acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa, “cabe à escola
viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a
produzi-los e a interpreta-los” (BRASIL, 1997, p. 26).
O surgimento de textos midiáticos (escritos, orais ou visuais) e dos hipertextos,
trazem informações com grande rapidez, exigindo dos sujeitos capacidade de ler e
interpretar. O aluno precisa saber ler e interpretar o mundo em que vive. Xavier (2005,
p.171) entende hipertexto como uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que
dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas
outras de textualidade. Em concordância, Silva afirma que:
[...] são interativos; mais que isso, colaborativos; eles fraturam e transgridem
as relações de poder estabelecidas, em especial as relações de propriedade (das
máquinas, das ferramentas, das ideias, dos textos [verbais ou não]) eles são
híbridos, fronteiriços e mestiços (de linguagens, modos, mídias e culturas)
(ROJO 2012, p. 23).
176
Interpretar uma imagem é complexo, a vista que não somos “alfabetizados” para
ler imagens. Analisar uma foto em uma revista exige movimentos mentais diferentes de
ler uma frase ou uma poesia. De acordo com Kress e Van Leeuwen (1996), existem na
sociedade os “iletrados visuais”, ao passo que o conhecimento escolar é
predominantemente verbal. Podemos entender o letramento visual basicamente como, a
capacidade de ler, entender e utilizar informações visuais para a comunicação. Segundo
Stokes (2002), o letramento visual é definido como a habilidade de ler, interpretar e
entender a informação apresentada em imagens pictóricas ou gráficas, e também de
transforma-la em imagens, gráficos ou formas que ajudem a comunicação. De acordo
com Rocha (2008), é a capacidade de ver, compreender e, finalmente, interpretar e
177
4. A PESQUISA
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0
18 a 25 25 a 30 30 a 35 35 a 40 40 a 45 45 a 50 50 a 55 mais de
55
NÃO
SIM
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
Após observações e análise das respostas, cabe ressaltar que todas as entrevistadas
utilizam recursos tecnológicos em suas práticas, é frequente a demonstração de conteúdos
por meio do data-show por exemplo, a própria escola instiga o uso através de projetos
realizados durante o ano letivo.
Constatamos também que a sala de informática é um ambiente utilizado por todas
as turmas de 4º ano presentes na escola. As professoras justificam o uso através do projeto
“SEMEANDO LEITORES, LER PRA VIDA”, em que é necessário que haja a inclusão
de recursos tecnológicos, pois um dos principais objetivos desse projeto é oferecer a as
crianças o despertar do gosto pela leitura. O projeto oferece a este público o acesso ao
mundo literário, através do acesso a biblioteca aliada ao uso de recursos tecnológicos
encontrados na sala de informática, buscando a inclusão no mundo da informatização.
Percebemos aqui que, a multimodalidade faz-se presente em sala de aula.
O item 3 visa averiguar os métodos que professores imigrantes digitais buscam
para sanar as dificuldades que encontram no manuseio de tecnologias digitais (Gráfico
3). Os resultados obtidos demonstram que a própria escola busca atualizar seus docentes
no meio tecnológico, oferecendo rodas de conversa e atividades socioeducativas. A
maioria das entrevistadas já participou de cursos de formação e oficinas sobre tecnologia
e continuam buscando se atualizar. É importante salientar, que apesar da idade, o uso de
recursos tecnológicos é constante. Cerca de 100% das entrevistadas, responderam não
possuir dificuldades no uso da tecnologia, tanto para uso profissional, quanto para uso
pessoal.
NÃO
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
SIM
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
182
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
as tecnologias digitais, têm aparecido novas formas de interação e com isso novos modos
de escrita e leitura têm surgido, sendo necessária a ampliação dos conceitos de leitura e
escrita tradicionais.
Perante tantas mudanças, é indispensável repensarmos nas novas práticas de
leitura que nos levem além da tradicional decodificação e junção de símbolos que formam
palavras. É fundamental pensar no processo de letramento, pautado não só na
alfabetização, mas na leitura e escrita com finalidade social, atuando diretamente nas
habilidades de comunicação do indivíduo.
A sala de aula deve transformar-se num espaço democrático, visando à formação
integral de seus sujeitos, cabendo aos alunos à criação, aprender em ritmo próprio de
acordo com suas capacidades e se envolver em grupos que mais atendam suas
necessidades. Nesse modelo, a ideia é que professores e alunos possam ensinar e aprender
em tempos e locais diversos, além de buscar o desenvolvimento da autonomia dos alunos
para que possam trabalhar em grupos e compartilharem conhecimentos, usando
tecnologias digitais como aliadas nesse processo.
6. REFERÊNCIAS
SOBRE AS ORGANIZADORAS
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará. Mestra em Linguística pela Universidade
federal do Maranhão Professora Associada do Departamento de Letras e do Programa de Pós-graduação
em Letras - Mestrado Acadêmico da UFMA, com atuação na área de estudos do discurso e argumentação,
aquisição da linguagem, morfologia derivacional e linguística aplicada ao ensino de língua portuguesa.
Coordenadora do Subprojeto de Letras - Língua Portuguesa do PIBID - São Luís. Graduada em Direito pela
Universidade CEUMA. E-mail: analurochas @ufma.br.
Doutora e Mestra em Linguística pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Professora do Curso de
Graduação em Letras Português-Espanhol do Departamento de Letras/UFMA e professora Permanente do
Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGLetras)/UFMA. Coordenadora do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Línguas, Memórias, Identidades e Culturas – GELMIC/CNPq e professora-pesquisadora do
Projeto Atlas Linguístico do Maranhão/CNPq e do Projeto Atlas Linguístico do Brasil/CNPq. Tem
experiência, sobretudo, na área de lexicologia, lexicografia, terminologia, etnoterminologia,
etnolinguística, dialetologia e geolinguística. E-mail: georgiana.marcia@ufma.br
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, Mestra em Linguística também pela Federal
do Ceará, Especialista em Linguística Aplicada ao Ensino das Línguas Materna e Estrangeiras e em Língua
Inglesa pela Universidade Federal do Maranhão, Graduada em Letras (Português/Inglês) também pela
Universidade Federal do Maranhão, Professora do Departamento de Letras e dos Programas de Pós-
Graduação em Letras - PGLetras e PGLB - assim como do Programa de Pós-Graduação em Direito e
Instituições do Sistema de Justiça - PPGDir, todos da Universidade Federal do Maranhão; Tem experiência
nas áreas de Letras e Linguística, com especial interesse na Linguística Cognitiva, Psicolinguística e
Linguística Aplicada, e foco voltado para Lingua(gem), Metáfora, Discurso e Ensino/ Aprendizagem de
Línguas Materna e Não Maternas. Participa, como pesquisadora, dos Grupos de Estudos e Pesquisas GELP-
COLIN/UFC, GELP-COLIN/UFMA, GEPELL/UFMA, GEPLA/UFC e GEFORLIN/IFMA. Participa,
também como pesquisadora e cordensdora da equipe brasileira do Projeto Internacional de Pesquisa
MetBib, desenvolvido pelas Universidades de Córdoba e La Rioja, Espanha, em parceria com a John
Benjamins Publishing Company Holanda. Suas publicações incluem capítulos de livros, artigos, bem como
organização de livros. E-mail: mf.carneiro@ufma.br
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