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NOTÍCIAS SOBRE O PROJETO CAIPIRA

Ataliba T. de Castilho (USP, CNPq)

1. APRESENTAÇÃO DO PROJETO DE HISTÓRIA DO PORTUGUÊS


PAULISTA (Projeto Caipira)

O Projeto de História do Português Paulista (PHPP) é um conjunto articulado


de subprojetos situados na área da Lingüística Histórica do Português Brasileiro, tendo
por objetivo investigar emparelhadamente a formação da sociedade paulista e suas
variedades linguísticas, tais como testemunhadas no Estado de São Paulo e em sua
capital. O termo “caipira” de seu subtítulo toma por antonomásia a sociedade paulista
em seu todo.

A motivação do PHPP vem dos achados do Projeto NURC e do Projeto de


Gramática do Português Falado (PGPF), que trouxeram em suas entrelinhas um novo
desafio, o de indagar como se implantou e se desenvolveu a modalidade brasileira do
Português aí descrita.

Essa pergunta, tantas vezes formulada em vários ambientes, voltou a agitar as


mentes em 1995, quando se discutiu a idéia de historiar o Português de São Paulo. Para
impulsionar a idéia, realizou-se em 1997 na USP o I Seminário do Projeto de História
do Português Brasileiro, por iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Filologia e
Língua Portuguesa. Foram convidados especialistas em Lingüística Histórica do país e
do exterior, para além dos pesquisadores da USP. Os participantes voltaram para suas
instituições convencidos de que tinha chegado a hora de mais um projeto coletivo, o
Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB), efetivamente principiado em
1998.

O formato seria aproximadamente o mesmo do PGPF, mas com uma diferença


fundamental: é tão complexa a sociohistória do PB, que a administração do novo
projeto teria de ser exercida por GTs regionais, além dos GTs temáticos, integrando
assim a investigação às diferentes realidades locais. E logo se formou a convicção de
que o volume esperado de pesquisas é de tal magnitude que seria mais adequado
conceber um projeto para a história do que um projeto da história do PB.

Seminários nacionais foram de novo convocados para a apresentação de


resultados e o planejamento futuro. Atualmente, são as seguintes as equipes regionais,
de que se indica entre parênteses o coordenador: Pernambuco (UFPE, Marlos de Barros
Pessoa), Bahia (UFBa, Rosa Virgínia de Mattos e Silva, substituída a seu pedido por
Tânia Lobo), Paraíba (UFPb, Dermeval da Hora), Minas Gerais (UFMG, Jânia Ramos),
Rio de Janeiro (UFRJ, Dinah Callou), São Paulo (USP, Ataliba T. de Castilho), Paraná
(UEL, Sônia Maria L. Cyrino, substituída a seu pedido por Vanderci Aguilera), Santa
Catarina (UFSC, Gilvan Müller de Oliveira). Em São Paulo, atuam no projeto
pesquisadores da USP, UNICAMP e UNESP/Araraquara e São José do Rio Preto.
Faltam ainda especialistas do Norte brasileiro, região que por largo tempo se constituiu
num outro país, como se sabe.

O PHPB realizou até o presente os seguintes seminários nacionais:


ƒ I, São Paulo, 1997, sob o patrocínio da Área de Filologia e Língua Portuguesa da
USP e da FAPESP. Resultados publicados em Castilho (Org. 1998).
ƒ II, Campos do Jordão, 1998, sob o mesmo patrocínio. Resultados publicados em
Mattos e Silva (Org. 2001), 2 tomos.
ƒ III, Campinas SP, 1999, sob o patrocínio do Programa de Pós-Graduação em
Lingüística da Unicamp. Resultados publicados em Alkmim (Org. 2002).
ƒ IV, Teresópolis RJ, 2001, sob o patrocínio da Faculdade de Letras da UFRJ,
CNPq e Faperj. Resultados publicados em Duarte / Callou (Org. 2002).
ƒ V, Ouro Preto, 2002, sob o patrocínio da UFMG. Resultados a publicar por
Ramos (Org., no prelo)
ƒ VI, Itaparica Ba, 2004, sob o patrocínio da UFBa, CNPq e CAPES. Resultados
publicados em Lobo / Ribeiro / Carneiro / Almeida (Orgs. 2006), 2 tomos.
ƒ VII, Londrina PR, maio de 2007, sob o patrocínio da Universidade Estadual de
Londrina. Resultados a publicar por Aguilera (Org. 2007, no prelo).

Vários corpora foram publicados pela equipe brasileira, além das obras coletivas
mencionadas acima: ver, entre outros, Guedes / Berlinck (Orgs. 2002), Barbosa / Lopes
(Orgs. 2004), Simões / Kewitz (2006). Não são mencionados aqui outros fundos
documentais, restritos por ora ao âmbito do pesquisador que os constituiu. Para um
relato dessa atividade até 2003, ver Barbosa / Lopes (2003).

Entre 2000 e 2003, sob o patrocínio do programa CAPES-DAAD-PROBRAL,


desenvolveu-se um convênio de cooperação Brasil-Alemanha, sob a coordenação de
Brigitte Schlieben Lange – substituída após sua morte por Konstanze Jungbluth - , pelo
lado alemão, e Ataliba T. de Castilho, pelo lado brasileiro. O convênio propiciou o
intercâmbio de especialistas, em missões de estudo (doutorandos) e de trabalho
(doutores). Como uma de suas conseqüências, realizou-se entre 15 e 21 de fevereiro de
2004, no Departamento de Lingüística da Unicamp, o seminário “Historiando os
gêneros textuais do PB: as tradições discursivas através do tempo”, sob o patrocínio do
DAAD e da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, através do Fundo de Apoio ao
Ensino e à Pesquisa. Foram expositores no seminário os Profs. Drs. Wulf
Oessterreicher, da Universidade de Munique, e Brigitte Jungbluth, da Universidade de
Passau. Entre os resultados desse convênio, destaque-se a aproximação dos
pesquisadores do PHPB com a poderosa romanística alemã e a inserção de temática
relativa às tradições discursivas.

1.1. Articulação da pesquisa

Os seguintes temas articulam o PHPP: (i) formação da comunidade lingüística


de São Paulo, (ii) mudança gramatical, (iii) diacronia do texto e do discurso, (iv)
formação do léxico, mudança fonológica e morfológica das palavras, (v) comparações
do português paulista com o galego, (vi) organização do Corpus Diacrônico do
Português Paulista e seu tratamento empírico.

Em 2006 foram realizadas várias reuniões da equipe paulista do PHPB,


objetivando articular e acelerar as pesquisas da equipe. No ano seguinte, as atividades
passaram a ser financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), na modalidade “projeto temático de equipe” (Proc. 06/55944-0 –
2007-2010).
São seis os objetivos do PHPP:

1. Traçar a sócio-história do português paulista, estudando a ocupação demográfica


do território, a formação das variedades culta e popular, e a difusão da variedade
popular em direção a Mato Grosso.

2. Estudar a mudança gramatical da variedade paulista do Português Brasileiro, do


ângulo funcionalista e do ângulo gerativista, com ênfase nas classes de palavras
e nas construções sintáticas.

3. Investigar a diacronia dos processos constitutivos do texto e a transformação dos


gêneros discursivos, como uma nova frente de trabalhos na Lingüística Histórica
da Língua Portuguesa.

4. Reconstruir o léxico primordial do português paulista, estudando suas alterações


fonológicas e morfológicas.

5. Comparar o português paulista com o Galego.

6. Organizar e disponibilizar o Corpus Diacrônico do Português Paulista, de forma


a estimular novas pesquisas sobre essa variedade.

Para dar conta desses objetivos, foram organizados os subprojetos adiante


enumerados.

1.1. Formação da comunidade lingüística de São Paulo: história social.

Os seguintes subprojetos se ocupam desta área:

1. Ângela C. S.Rodrigues (USP) - Retrato sociolingüístico da variedade popular


na cidade de São Paulo no final do séc. XX e começo do séc. XXI. Pesquisadores
associados:

2. Marilza de Oliveira (USP) - Formação do português paulista culto e o papel


das grandes escolas (1820-1934). Pesquisadores associados:

3. Maria Célia Lima-Hernandes (USP) - Retrato sociolingüístico da variedade


culta paulistana falada (segunda metade do século XX a início do século XXI).
Pesquisadores associados:

4. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP) – Formação e expansão do


português paulista ao longo do Rio Tietê a partir do séc. XVI. Pesquisadores
associados:

1.2. Mudança gramatical

Subprojetos:
5. Maria Aparecida Torres Morais (USP) - Mudança gramatical do português de
São Paulo: expressão pronominal e preposicional dos argumentos.
Pesquisadores associados: Sônia Lazzarini Cyrino, Rosane Berlinck, Tânia
Alkmim, Marymarcia Guedes.

6. Ataliba T. de Castilho (USP) - Mudança lingüística multissistêmica do


português paulista: o sistema das preposições nos séculos XIX e XX.
7. Célia Maria Moraes de Castilho (pós-doutoranda, USP) – Investigando a
Gramática I do Português Paulista: o problema da concordância.
8. Marcelo Módolo (USP) - Categorias de ‘foco’, ‘inclusão’, ‘quantidade’,
‘intensidade’ e a gramaticalização dos pares conjuncionais correlativos

9. José da Silva Simões (doutor - USP) - Sintaticização, semanticização e


discursivização de estruturas hipotáticas e para-hipotáticas do Português
Brasileiro.

1.3. Diacronia do discurso e do texto

Subprojetos:

10. Clélia Cândida Spinardi Jubran (Unesp / São José do Rio Preto) – Diacronia dos
processos constitutivos do texto. Pesquisadores associados: (1) Subgrupo para o
estudo da paráfrase, repetição, correção, parentetização e metadiscursividade:
José Gaston Hilgert, Jacqueline Costa Sanches Vignoli, Valéria Vendrame,
Anita Lima Simões; (2) Subgrupo para o estudo das preposições, conjunções,
articuladores textuais, marcadores discursivos: Sanderléia Roberta Longhin-
Thomazi, Alessandra Regina Guerra, Cássio Florêncio Rúbio, Lúcia Regiane
Lopes, Edson Rosa Francisco de Souza, Eduardo Penhavel.

11. Maria Lúcia C.V.O. Andrade (USP) – Tradições discursivas: constituição e


mudança dos gêneros discursivos numa perspectiva diacrônica. Pesquisadores
associados: Helena Nagamine Brandão, Zilda Aquino.

1.4. Constituição do léxico e alterações fonológicas e morfológicas dos itens lexicais.

Subprojeto:

12. Mário Eduardo Viaro (USP) – Reconstrução lexical do português paulista


antigo. Pesquisador associado: Zwinglio de Oliveira Guimarães Filho.

1.5. Lingüística comparada: comparações entre o português popular e o galego.

Subprojeto:

13. Xoan Lagares (UFF) - Comparações do português paulista com o galego.


Pesquisadores associados:
1.6. Organização do Corpus Diacrônico do Português Paulista e tratamento empírico
dos dados.

Subprojeto:

14. Marcelo Modolo – Organização e coordenação do Corpus Diacrônico do


Português Paulista. Pesquisadores associados: José da Silva Simões, Verena
Kewitz.

A partir dos anos 80, a Lingüística brasileira deixou para trás as afirmações não
empiricamente fundamentadas, dando-se início à organização de bancos de dados, os
quais deram nova feição às descrições e às interpretações do Português Brasileiro. A
qualidade técnica desses bancos varia muito, indo desde um arranjo informal, até uma
cuidadosa digitalização e etiquetagem dos dados.

No interior da equipe paulista do PHPB atuaram na discussão de um corpus


diacrônico para o estudo do português paulista Marcelo Módolo (1998), Miguel Salles
(2001) e José Simões da Silva (2005). Debateram as normas para a edição filológica dos
documentos César Cambraia (2001), Heitor Megale (2001) e Sílvio Toledo Neto (2001,
2002).

O surgimento de uma nova disciplina, a “Lingüística de Corpus”, deu uma


feição mais exigente ao levantamento, transcrição, e tratamento arquivístico dos
documentos, tendo agregado ao rigor filológico a organização de bancos eletrônicos de
dados.

A Lingüística de Corpus constituiu-se um vigoroso movimento científico, e o


PHPP não ficará à sua margem, tomando a si o encargo de organizar uma grande
documentação do Português paulista, que sirva de fundamento para os diferentes
subprojetos que o integram.

Na vigência do PHPP, o corpus de estudos se desdobrou em dois aspectos:

ƒ Organização de um corpus mínimo, especificado abaixo.


ƒ Organização de corpora específicos, indicados dos sub-projetos
enumerados na seção 5 do projeto aprovado pela Fapesp.

Todo corpus levantado com apoio financeiro deste Projeto será considerado de
domínio público, encaminhando-se cópia ao conjunto de seus pesquisadores e aos
pesquisadores do Projeto Para a História do Português Brasileiro.

O corpus mínimo é o seguinte:

(1) Linguagem dos jornais paulistas da capital e interior, sécs. XIX a XXI:

(i) Anúncios: Guedes / Berlinck (Orgs. 2000).


(ii) Cartas de leitores e redatores: Barbosa / Lopes (Orgs. 2002).
(iii) Notícias (em processo de levantamento).
(iv) Editoriais (em processo de levantamento).
(2) Cartas privadas: Simões / Kewitz (Orgs. 2006).

(3) Cartas administrativas (parcialmente levantadas).

(4) Língua falada:

(i) Projeto NURC: Castilho-Preti (Orgs. 1986, 1987), Preti-Urbano (Orgs. 1989).
O chamado “corpus mínimo do Projeto NURC-Brasil”, em que se fundamentou
o Projeto de Gramática do Português Falado, foi digitalizado, o que facilitará as
pesquisas.
(ii) Linguagem popular: parte já recolhida e parte em processo de levantamento.
(iii) Linguagem culta: em processo de levantamento.

Os corpora específicos serão indicados no interior de cada subprojeto.

1.2. Detalhamento dos subprojetos

1.2.1. Retrato sociolingüístico da cidade de São Paulo no começo do séc. XXI: a


variedade popular. Coordenadora: Profa. Dra. Ângela Cecília de Souza Rodrigues

O estudo que pretendemos desenvolver baseia-se nos seguintes pressupostos: 1. existe uma variedade
popular do Português do Brasil (PB); 2. esta variedade popular é utilizada nas favelas e núcleos
residenciais de moradores de baixa renda, localizados principalmente na periferia de São Paulo; 3. esta
realidade sociolingüística precisa ser compreendida e explicitada na sua complexidade se objetivarmos
reconstruir nosso passado lingüístico.

Existe em São Paulo um extenso contingente populacional formado por adultos de baixa renda,
analfabetos ou de baixo nível de escolaridade, paulistanos e, na sua maioria, migrantes da zona rural, quer
do próprio Estado de São Paulo, quer de outros estados brasileiros. Essas pessoas ocupam,
principalmente, as favelas, a maioria delas na periferia da capital paulistana. Trata-se de um estrato social
que se caracteriza por uma prática lingüística típica, uma variedade lingüística de menor prestígio, não
codificada e não normalizada, (Fischman, 1971, p.38-39) eminentemente de cunho oral, entendida como
comportamento verbal regular, que lhe dá identidade enquanto grupo. Corresponde a um sub-sistema
lingüístico, socialmente explicável e definível, identificado pela freqüência de ocorrências de itens
lingüísticos particulares, muitos deles estigmatizados, convencionalmente rotulados de não-padrão.
Chamamos de popular a variedade de língua que os componentes deste estrato social utilizam, noção que
se constrói, portanto, com base em parâmetros socioculturais.

Algumas questões de natureza sociolingüística devem ser enfatizadas. A primeira delas: dentre os
parâmetros utilizados para caracterização do usuário de uma variedade popular do Português Brasileiro, o
grau de escolaridade é decisivo. Postulamos a existência de uma variedade de Português Popular (PBPop)
utilizada por falantes não escolarizados ou de baixo nível de escolaridade (até, no máximo, 4 anos de
escolarização), moradores dos complexos centros urbanos brasileiros, de que São Paulo é exemplo
indiscutível. Eles correspondem a um amplo e heterogêneo conglomerado humano, que apresenta em
comum o fato de não ter na língua escrita um possível modelo de realização oral, distanciado da escola e
dos veículos de comunicação verbal escritos. Se já nos primeiros anos de vida aprendem a dominar os
mecanismos básicos do português oral, a sociedade não lhes permite, no decorrer da vida, alcançar outros
estágios no processo de aquisição ou aprendizagem da língua materna, ou certas habilidades de expressão
que as instituições sociais típicas, como a escola, se encarregam de difundir. O elenco de regras
gramaticais continua sendo, em tese, o mesmo de seu vernáculo.
A segunda questão é a da procedência desse estrato populacional de São Paulo. Como já disse, trata-se
não só de paulistanos mas também de ex-moradores da zona rural de diferentes regiões do Brasil,
principalmente do Nordeste, a mais pobre de todas elas. Resulta disso, uma interessante situação de
contato entre variedade urbana e variedade rural de diferentes estados brasileiros, razão pela qual se
justifica o rótulo Português Popular em São Paulo, que aparece no título deste Projeto. Em síntese: é
evidente a complexidade demográfica da capital paulistana, resultante desse intenso processo de
migração interna.

Aspecto significativo dessa questão pode ser assim formulado: instalam-se as dicotomias rural/urbano e
culto/popular quando se considera a realidade social da capital paulistana. Nela se verifica um fenômeno
especial de variação sociolingüística resultante desse fenômeno de migração interna: a variedade
lingüística que utilizam os migrantes em seus estados de origem, deixa de representar, simbolizar sua
região; tal variedade, regional na origem, torna-se variedade social, símbolo de uma posição social
inferior. Os migrantes vão constituir, com a população dessas cidades e de regiões próximas a elas,
pertencentes ao mesmo estrato social, um extenso grupo de usuários de uma variedade popular ou não-
padrão, estigmatizada, que se torna, ela mesma, um indicador da classe socioeconômica a que pertencem.
Por fim, é lícito esperar que as novas gerações formadas por filhos ou de migrantes rurais tendam a
abandonar os hábitos lingüísticos de seus pais, adotando uma variedade de língua que vai, então, refletir a
estratificação social urbana e as atitudes sociais que servem para sustentá-la.
Por outro lado, há que se pensar também no Português Popular como objeto de estudo para que se dê
conta da história do Português Brasileiro por inteiro. Acreditamos que o Português Popular realizado na
capital paulistana nos fornece elementos, indícios decisivos, para a reconstrução do português geral do
Brasil, que aqui se formou e que pode ser considerado o antecedente histórico do Português Popular
Brasileiro. Para se alcançar tal objetivo, a Teoria da Variação e Mudança tem muito a contribuir, na
medida em que sugere uso do presente para explicar o passado (Labov,1975, 1994). Tal teoria baseia-se
no Princípio da Uniformidade (Whitney,1867; citado em Christy,1983, p.84; apud Labov,1994, p.22),
segundo o qual as forças que atuam no momento sincrônico presente são (ou deveriam ser) as mesmas
que atuaram no passado e vice-versa. Diz Labov (1975, p. 829). que “nós podemos fornecer algumas
interpretações plausíveis através de princípios que tenham total suporte empírico e assim iluminar o
passado através do presente, assim como iluminamos o presente através do passado” (Labov, 1975,
p.829). Além disso, Labov sugere uma Sociolingüística Histórica, que tem como um dos seus princípios
básicos a idéia de que não é possível o desenvolvimento de uma mudança lingüística fora da estrutura
social da comunidade em que ocorre; ou seja, é fundamental que sejam levadas em conta as pressões
sociais que continuamente operam sobre a língua.

Tais observações nos autorizam a propor esta pesquisa nos moldes arrolados a seguir.

Conscientes de que a organização de uma amostra aleatória constitui estratégia pertinente para
identificação de comportamento, opinião e práticas características de uma grande comunidade urbana
(Labov, 2001:224-225), como é a dos favelados em São Paulo, pretendemos realizar gravações de
entrevistas ou diálogos informais entre documentador e informante, morador de favelas, vistas como
núcleos habitacionais que apresentam características diferenciadas resultantes de: 1. sua maior ou menor
proximidade de núcleos urbanizados; 2. maior ou menor grau de integração entre os falantes (redes
sociais); 3. maior ou menor grau de integração do falante com a comunidade a que pertence; 4. relações
da comunidade com a sociedade como um todo; 5. localização geográfica das comunidades de favelados.
Assim, ainda que consideremos o atributo baixo nível de escolaridade decisivo para identificação dos
informantes, ele não poderá ser dissociado do de letramento, entendido como “um conjunto de práticas
sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos,
para objetivos específicos” (Kleiman, 1995:19). Ainda que a escola seja a mais importante agência de
letramento, outras agências não podem ser desconsideradas, como a família, a igreja, a rua como lugar de
trabalho, etc.

Interessa-nos também colher material que propiciará conhecer o desempenho lingüístico de jovens filhos
de migrantes nascidos em São Paulo. Ao adquirirem seu vernáculo no mundo urbano, é válido supor que
seus hábitos lingüísticos apresentem diferenças com relação aos de seus pais, que, no caso dos migrantes,
estabeleceram seu vernáculo em comunidades e momentos históricos diferentes.
1.2.2. Formação do português culto paulista: o papel das grandes escolas (1820-
1934). Coordenadora: Profa. Dra. Marilza de Oliveira (USP).

Analisando as duas primeiras Constituições Brasileiras como textos que veiculam a norma lingüística,
Pagotto (1998) mostrou que no texto de 1824 havia maior índice percentual da próclise em relação ao
verbo das formas pronominais acusativas e que no de 1891 a tendência era o uso da ênclise. Na visão do
autor, essa alteração da próclise para ênclise, em franca oposição aos resultados da posição do clítico
acusativo em textos de natureza mais vernacular, reflete a mudança de postura ideológica da elite
brasileira, ao longo do século XIX. Numa reação contrária à busca de afirmação nacional, a elite teria
procurado imitar o padrão vernáculo lusitano, codificando uma norma escrita.

Mantendo firme a hipótese de Pagotto a respeito da imitação do padrão vernacular lusitano, restrições de
natureza filológica impedem de considerar o texto constitucional do império como mais próximo do
vernáculo brasileiro. A inexistência de uma assembléia legislativa que elaborasse a carta magna imperial
pode ser forte indício de que o texto tenha sido elaborado a partir de leis portuguesas. Já o texto
constitucional republicano foi tradução da Constituição Americana, com dispositivos extraídos da
constituição suíça e da argentina. Nesse sentido, nenhum dos dois primeiros textos constitucionais
brasileiros pode ser tomado como fonte primária para a depreensão de usos lingüísticos de textos
modelares de um padrão culto no Brasil do século XIX.

Este subprojeto visa a recompor a história da formação do padrão culto paulista, adotando a hipótese de
que os textos modelares seguiam o padrão lusitano falado 1 pelos portugueses residentes na cidade de
São Paulo. Assumimos com Barbosa (....) que “o referencial de norma escrita para a sociedade colonial
brasileira foram os textos da Administração Pública Portuguesa” produzidos no Brasil, graças à massa
de funcionários portugueses que por aqui circulavam. Essa hipótese está calcada no fato de que todo o
aparato administrativo, os meios de comunicação existentes (jornais, almanaques, etc.) e a administração
escolar estavam nas mãos dos portugueses. Aos poucos, essa administração passa para as mãos dos
paulistas, formados pelas grandes escolas (Direito, Medicina e Engenharia). Acompanhar essa passagem
pode elucidar a fixação da norma praticada nos textos cultos a qual se distancia dos usos vernaculares.

Considera-se que a constituição do padrão culto paulista, enquanto norma objetiva 2 , se deu entre os
séculos XIX e XX, em decorrência das profundas alterações no quadro sócio-econômico-político da
sociedade paulista no período referido. O subprojeto tem como desdobramento para pesquisa futura o
processo de descaipirização do português paulista, que acreditamos ter se iniciado pela elite e ter se
propagado pela presença de imigrantes externos e internos. Paradoxalmente, é nesse momento que se
iniciam os estudos relacionados com o caipira em diferentes áreas de estudo.

A instalação da corte no Rio de Janeiro alterou o status colonial do Brasil, que, em 1815, é elevado à
categoria de Reino Unido a Portugal, pondo fim ao Sistema Colonial, ou seja, ao monopólio da
Metrópole. A abertura dos portos e a liberalização da indústria possibilitaram a expansão comercial.

A entrada no mundo novo não ficou, porém, restrita a questões econômicas. O status de Reino Unido e a
transferência da família reinante no Rio de Janeiro exigiram a organização do governo, com a instalação
de repartições e tribunais. Cumpria estabelecer a ordem, com a polícia, a justiça superior e os órgãos
administrativos, até então inexistentes na colônia.

Foram instituídos vários órgãos, entre os quais: o Conselho de Estado, a Intendência Geral de Polícia, o
Conselho da Fazenda, a Mesa da Consciência e Ordens, o Conselho Militar, o Desembargo do Paço, a
Casa da Suplicação, a Academia de Marinha, a Junta-Geral do Comércio, o juízo dos falidos e
conservador dos privilégios, o Banco do Brasil para auxiliar o Erário, a Casa da Moeda e a Impressão
Régia.

Ressalte-se que a efetiva atuação dessa organização de poder estava restrita ao Rio de Janeiro, cidade em
que a Família se fixou; a ocupar os órgãos instalados estavam os portugueses convocados pela Corte.

1
Considerar a proximidade entre modalidades escrita e falada do Português Europeu.
2
Norma objetiva é o padrão lingüístico de fato usado pelas pessoas consideradas cultas; norma subjetiva
remete à avaliação lingüística.
Com a proclamação da Independência, o Brasil ganhou, passou da condição exclusiva de Nação a Estado
soberano, sob a forma de governo imperial. A consolidação do Estado brasileiro veio na forma da
Constituição Imperial de 1824. Os organizadores das novas instituições buscavam solucionar o problema
da unidade nacional através da estruturação de um poder centralizador que enfraquecesse ou demolisse os
poderes regionais e locais, que efetivamente dominavam no país.

Criado o Estado, urgia habilitar os brasileiros a ocupar os vários cargos administrativos disseminados pelo
país. Naturalmente, essa habilitação deveria estar em consonância com as idéias do poder centralizador.
Para isso, o imperador propôs a criação de duas Academias de Direito, uma em São Paulo e outra em
Recife.

A escolha dessas duas localidades é bastante intrigante. Não foi pacífica a escolha de São Paulo, ao
contrário de Recife que parece não ter levantado grandes questionamentos. O fato é que, fruto de uma
visão etnocêntrica, os paulistas (paulistanos) eram considerados caipiras. 3 À época, colocava-se a
questão: por que um local bruto, acaipirado, deveria acolher uma das duas Academias de Direito? A
resposta deve estar nas preocupantes idéias liberais que circulavam desde a Revolução Francesa. Se por
um lado era necessário formar pessoas capacitadas para os altos cargos, por outro corria-se o risco de
formar questionadores. Apesar da proximidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, capital do país, a
dificuldade de transitar de uma região a outra deve ter sido um fator que favoreceu a escolha de São
Paulo.

Os perigosos estudantes (e professores) ficaram apartados do resto do mundo (a vida na corte).


Pertencentes à elite, esses estudantes deveriam ter um estilo de vida bem diferente do então estilo paulista
de viver. Surge a necessidade de servi-los. Começa aí o grande movimento centrípeto que vai alterar a
estrutura de São Paulo, movimento este que vai ser acelerado com a imigração européia.

Apesar de ganhar poder econômico ao longo do século e de formar boa parte das cabeças pensantes que
ocupavam cargos nos diferentes poderes, São Paulo não tinha nenhuma projeção política. Além disso, a
elite paulista, dependente da produção cafeeira, residia no interior.

Foram necessários sessenta anos para os liberais romperem o mecanismo centralizador e sufocador das
autonomias regionais. A idéia descentralizadora, despontada já na história político-constitucional do
Império, vinha a se consolidar com a proclamação, em 1889, da República Federativa. O novo sistema
constitucional implantado (1891) enfraqueceu o poder central e reacendeu os poderes regionais e locais,
contidos pelo mecanismo unitário e centralizador do Império. No jogo político, São Paulo fez aliança com
Minas Gerais, instituindo a política café com leite.

Com o declínio econômico da agricultura cafeeira, uma elite paulista 4 toma novo perfil: vincula-se ao
processo de industrialização. A virada nos meios econômicos é acompanhada pelo movimento da
população da zona rural para a zona urbana. A partir daí, ocorre a bipolaridade rural-urbano.

Os poderes regionais e locais foram novamente freados com a Revolução de 1930. Getúlio Vargas
interveio nos Estados e liquidou com a política dos governadores. Em 1932 estourou a Revolução
Constitucionalista em São Paulo e em 1934 foi promulgada nova Constituição, aumentando os poderes do
Executivo novamente. Apesar disso, essa Constituição trouxe importantes inovações na vida social, ou
melhor, veio a consolidar em lei o que o costume já havia implantado: direitos trabalhistas e espaço para
as mulheres, que passaram a ter o direito de votar.

Nesse mesmo ano foi inaugurada a Universidade de São Paulo, resultado da união da Faculdade de
Direito, da Escola Politécnica e da Medicina e da criação dos cursos de Filosofia, Ciências e Letras. A
inauguração da Universidade veio a consolidar os grupos que ajudaram a formar o português culto

3
Em outro lugar, mostramos a evolução do termo “caipira”: Oliveira e Kewitz (2002); ver Cap. 8 deste
volume.
4
No período examinado, é possível identificar três elites paulistas: i) a elite rural, que migra para a área
urbana com o declínio da economia cafeeira, ii) a elite mineira, que migra para São Paulo de regiões
próximas a Mococa e iii) a elite italiana ou que descende dos italianos que se dedicaram ao processo de
industrialização e ao sistema bancário.
paulista 5 . Não se deve esquecer, porém, outras possíveis fontes de criação do padrão culto: a Escola
Normal e o Instituto Histórico e Geográfico.

1.2.3. Formação do português caipira: mudança gramatical e sócio-história do


português de São Vicente e São Paulo nos séculos XVI e XVII. Coordenadora:
Célia Maria Moraes de Castilho (pós-doutoranda, USP)

Os estudos disponíveis permitem identificar três linhas de interpretação do Português Brasileiro: (1)
praticamos uma variedade derivada do português arcaico, (2) praticamos uma variedade que aponta para a
construção de uma nova gramática, (3) nossa variedade é calcada em crioulos de base africana.

(1) O Português Brasileiro se radica no Português Europeu do séc. XVI

Os primeiros autores das “introduções ao Português do Brasil” notaram várias coincidências fonéticas e
lexicais com o Português Europeu quinhentista, argumentando que o PB dá continuidade ao PE arcaico.
Integram essa linha interpretativa, entre outros autores, Melo (1946), Silva Neto (1951), Elia (1979).
Numa posição intermediária, Cunha (1968) e Houaiss (1985) desenvolveram argumentos sobre a unidade
do PB no quadro da diversidade geral da língua. Naro / Scherre (1993) trouxeram novos argumentos a
esta linha interpretativa, inovando porém, pois aduziram dados da morfossintaxe do Português popular
brasileiro. Pesquisas mais recentes discutem aspectos da ancianidade do PB, como se pode ver em Penha
(1997), Cohen et alii (1997), Megale (Org. 2000) e Oliveira (1998 a,b).

(2) Uma gramática brasileira começou a constituir-se no séc. XIX.

Atuando em outra direção, Tarallo (1991-1993) e pesquisadores associados, muitos dos quais publicaram
seus resultados na coletânea Roberts-Kato (Orgs. 1993), apontam para a emergência de uma gramática do
PB no século XIX. A grande contribuição desta linha interpretativa está em buscar evidências na Sintaxe,
e não apenas na Fonética e no Léxico, como se vinha fazendo. Desnecessário ressaltar que os argumentos
morfossintáticos têm mais peso estrutural que os dados fonéticos e lexicais.

(3) O Português Brasileiro tem um fundamento crioulo.

Segundo a hipotese crioulista, o PPB possivelmente sofreu influências fonológicas e gramaticais do


substrato indígena e de vários dialetos africanos. Essa é a posição de Melo (1946), para quem a
uniformidade do PB se deve à difusão dos falares crioulos gerados na costa, levados ao interior pelas
bandeiras paulistas. Essa afirmação precisaria ser comprovada mediante a difícil documentação desses
falares crioulos e, ainda, o esclarecimento da língua efetivamente praticada pelos bandeirantes. Silva Neto
(1951) afirma que a partir da segunda metade do séc. XVII começam a surgir diferenças entre o PB e o
PE, diferenças essas devidas à base crioula de nossa língua, que acelerou a mudança lingüística.
Guy (1981: 283) preparou o trabalho mais polêmico sobre as origens crioulas do PPB. Ele inclui aí o
argumento da descrioulização, compondo um quadro explanatório elegante, especificando que o PPB
“originated in a Creole language spoken by the predominantly African masses in the colonial period,
which, through prolonged contact with standard speakers, has undergone a certain amount of
decreolization”. Ele exclui a possibilidade de um crioulo indígena, visto que os nativos brasileiros não
desenvolveram com os portugueses o tipo de relacionamento social e de situações que costumam levar à
crioulização (p. 285). Seu plano para examinar a hipótese crioulística se desdobra em duas ordens de
discussão: a busca de evidências lingüísticas, e a história social da crioulização do Português.
Sendo o crioulo uma língua de contacto, ela vai guardar as marcas típicas de aquisição de uma segunda
língua: regularização da flexão, predominância dos morfemas-raízes, redução da complexidade
derivacional. Ele alerta que é necessário descartar aqui as mudanças espontâneas, de caráter universal,
fixando-se naquelas específicas do processo de crioulização: the crucial thing about creole formation

5
Não se deve esquecer de outras possíveis fontes de criação do padrão culto: a Escola Normal e o
Instituto Histórico e Geográfico.
appears to be that all these things happen abruptly; the changes which occur are not unnatural or even
unusual, they simply proceed at an extraordinarily rapid rate”: p. 289. A seguir, ele examina traços
fonológicos (perda do -S, desnasalação de vogais e ditongos finais), morfológicos e sintáticos
(concordância nominal e verbal), concluindo que os primeiros são comuns à história do Português e à de
outras línguas românicas, e portanto não são atribuíveis a uma base crioula, enquanto que os segundos,
particularmente a marcação do plural no primeiro constituinte do SN e a preservação da concordância
verbal unicamente nos casos de saliência morfológica, não tem precedentes na história do Português, nem
na das línguas românicas. Esse fenômeno fornece evidências indiretas à hipótese crioulista, pois num
primeiro momento as regras de concordância foram apagadas (perda da concordância nominal e verbal,
quando o sujeito é posposto) e num segundo momento, de descrioulização, recuperou-se a regra, sob
certas circunstâncias (pluralização do SN dependente da ordem de seus constituintes, concordância verbo-
sujeito dependente da saliência morfológica do verbo), p. 196. Ora, as soluções encontradas pelo PPB não
ocorrem em outras línguas românicas mas, ao revés, são documentadas em outras variedades crioulas
tanto do Português quanto do Espanhol. Além disso, nas línguas Bantu, Ioruba e Ibo a marcação do plural
se faz mediante prefixos ou clíticos, sempre localizados na cabeça do SN (p. 302). Guy insiste em que
nada disso poderia ser explicado pela mudança natural. Finalmente, ele agrega outras evidências
lingüísticas, merecedoras de uma análise mais acurada: a contribuição lexical dos africanos, o desuso em
que caíram largas partes do paradigma verbal (p. 305), o uso de se como partícula reflexiva não declinada
(em nós se conhecemo aqui, por exemplo). Contraditoriamente, parece que não dispomos de sistemas
aspectuais ricos, o uso de marcação preverbal no lugar das flexões, e dos sistemas de cópula importantes
nos crioulos do Atlântico.
Com respeito às evidências sociolinguísticas, Guy formula uma questão crucial aqui: “como o Português
poderia ter evitado a crioulização”? Até 1850, o país recebeu 3.600.000 escravos, 38% do tráfico, nove
vezes mais que os africanos levados para os Estados Unidos. Os brasileiros brancos constituíam um grupo
minoritário até pelo menos o séc. XVIII. Todas as condições se reuniram aqui para a formação de
crioulos.
A rápida descrioulização do PPB e sua aproximação do português padrão se deve à maciça europeização
do país, que ocorreria sobretudo após o séc. XIX. Isso não aconteceu no Haiti e na Jamaica, em que a
população negra ainda é de 90% hoje em dia. Tivemos, assim, um quadro de crioulização atípica, que
conduziu o PB a uma situação complexa em seu desenvolvimento lingüístico: “neither typically creole
nor typically non-creole and ‘natural’”: p. 319. No quadro da postulação de uma origem quase-crioula do
PPB, pode-se chegar a uma explicação unificada para as descrições dos dialetos rurais crioulizados:
“under the creole hypothesis these can be accounted for as simply scattered remnants of a more highly
creolized stage of the popular language which was originally much more widespread”: p. 322.
Tarallo (1986/1993) formulou críticas severas a essas idéias. Ele argumenta que a descrioulização suposta
por Guy nos teria levado de volta ao PE, o que estudos recentes não comprovam. Para isso,

“o PB teria literalmente que se virar pelo avesso e de ponta-cabeça. Sujeitos teriam que começar
a ser nulos outra vez (...), enquanto objetos teriam que começar a receber pronomes clíticos outra
vez. No caso dos sujeitos, a gramática do PB teria que deixar sua configuração sintática e
começar a ser mais orientada para o discurso; com respeito aos objetos, a variável discursiva
teria que ser substituída por uma orientação mais sintática na sua derivação”: p. 60.
Se a língua escrita nos aproxima de Portugal, a língua falada aponta para outros rumos. Mais
recentemente, Pagotto (no prelo) destaca certas ambiguidades deste texto, mostrando que o debate
continua em aberto.
Um subproduto da hipótese crioulista é destacar as características inovadoras da Fonologia e da
Gramática do PB, como faz Teyssier (1989: 104-109).

1. Mudança gramatical no português caipira

Os pesquisadores do PHPB empreenderam em 2004 uma resenha de todos os trabalhos até então
apresentados, objetivando eventuais correções de rota. Coube a Ilza Ribeiro e a Marilza de Oliveira
redigirem essa resenha, ainda inédita, de onde extraio as seguintes palavras:

Por ocasião do II Seminário do PHPB, Oliveira (2000) apresentou um programa de estudos para
a análise lingüística do corpus do PHPB baseado na hipótese de que o léxico funcional determina
a variação lingüística e que o número limitado das categorias funcionais inibe a proliferação dos
Parâmetros e o caráter aleatório de seu estabelecimento. Assumiu-se que as categorias funcionais
integram três grandes sistemas: o sistema que dá conta dos elementos na periferia esquerda da
oração (C), o sistema constituído de elementos flexionais (I) e o sistema não-oracional marcado
pelo determinante (D). A articulação entre as categorias lexicais e as categorias funcionais dá
conta de diferentes relações gramaticais.

A grande quantidade de estudos envolvendo o sistema I no PB, a partir dos trabalhos pioneiros de
Mary Kato e Fernando Tarallo na Universidade Estadual de Campinas, levou o grupo do PHPB a
optar pelo estudo inicial do sistema I, para confirmar ou não as mudanças observadas nos
trabalhos diacrônicos orientados por esses dois professores. Assim, em reunião de 26 de
novembro de 1999, fixou-se o seguinte conjunto de temas para a análise da mudança gramatical
(Castilho 1999): (i) Descrição de fenômenos sintáticos, negação em S; (ii) ordem dos constituintes
sentenciais; (iii) realização plena/nula do sujeito e do objeto; (iv) verbos pronominais e modais;
(v) preposição em complementos verbais; (vi) auxiliares; (vii) flexão nominal e verbal. Com essa
análise lingüística, pretendia-se responder especificamente às seguintes questões:
a) Houve variação/mudança?
b) Que lugar têm os resultados encontrados na história social do PB?
c) Que variações/mudanças podem ser explicadas por fatores sócio-históricos (encaixamento
social, implementação e avaliação)?

A circulação do trabalho de Ribeiro (2001), apresentado no primeiro Seminário, e a apresentação


do trabalho de Moraes de Castilho (2001) no II Seminário colocaram novos questionamentos no
que concerne à diacronia do PB. O trabalho de Ribeiro, cujo título é bastante sugestivo,” A
mudança sintática do PB é mudança em relação a que gramática?”, salienta que as comparações
entre o PB e o PE têm sido pautadas no PE moderno, o que vai na contramão da história da
colonização do Brasil, que recebeu portugueses em diferentes períodos. Segundo a autora, a base
do PB atual se acha em duas gramáticas portuguesas, que, grosso modo, correspondem aos
séculos XVI-XVIII e XIX-XX.

Moraes de Castilho (op.cit.) vincula o PB ao português quatrocentista. De acordo com a autora,


os textos quatrocentistas exibem muitas variantes lingüísticas e a diferença entre o PE e o PB
pode estar na opção diferenciada por uma dessas variantes. A autora propõe, então, um extenso
programa de estudo do português quatrocentista para elucidar a formação do PB.

Com esses dois trabalhos, as perguntas específicas da mudança gramatical são ampliadas:

a) quais são as estruturas que o PB desenvolveu a partir do português medieval e quais as


mudanças que se pode creditar ao século XIX, período de relevo para o desenvolvimento do PB
(Tarallo, 1993)?
b) a estrutura gramatical do PB moderno está toda modelada no século XIX ou há
desenvolvimentos no século XX?
c) A mudança está implementada na escrita? A escola recupera os fósseis lingüísticos?

Essas perguntas, disseminadas nos trabalhos elaborados até o presente momento, têm norteado os
estudos sintáticos dos pesquisadores que integram o PHPB.

Em trabalho anterior, levantei a hipótese de que a linha interpretativa (1) aqui mencionada encontra mais
apoio nos dados, sobretudo nos dados sintáticos, mas seria necessário recuar para o séc. XIV os
fundamentos do PB: Moraes de Castilho (2001).

Em trabalhos posteriores, ampliei minha casuística, demonstrando o seguinte:

(1) Desenvolveu-se no português medieval um processo sintático de redobramento de


clíticos, de importância central para a interpretação de vários dados da “gramática
brasileira”: as construções de tópico, a emergência do possessivo dele em lugar de seu,
entre outras características de nossa sintaxe: Moraes de Castilho (2001).
(2) O dequeísmo e o desenvolvimento de certos marcadores discursivos encontram
igualmente suas origens no redobramento de clíticos: Moraes de Castilho (2004 a, b).
(3) Esse mesmo processo explica o surgimento das perífrases de estar + infinitivo
preposicionado e gerúndio: Moraes de Castilho (2005).

Pretendo aprofundar essas perspectivas através deste subprojeto, sondando suas consequências na
organização da gramática do português popular paulista.

Particularmente com respeito a esta variedade, nosso conhecimento sobre ela é ainda insuficiente, tanto
em seus aspectos descritivos quanto e sobretudo em seus aspectos sócio-históricos. Assim, pretendo
concentrar meu campo de observações no português caipira, para descrever sua sintaxe e rastrear seus
fundamentos medievais quatrocentistas. Pretendo igualmente comparar as duas variedades de português
popular, a européia e a paulista, objetivando verificar se de fato as duas modalidades tomaram um rumo
divergente.

Este subprojeto dará continuidade às minhas investigações anteriores já aqui referidas, situando-se no
conjunto dos estudos sobre a categoria I, especificamente:

1. Redobramento pronominal e alterações no quadro dos pronomes, tendo como conseqüência


alterações na concordância verbal.
2. Redobramento pronominal e alteração na transitividade dos verbos, com particular atenção aos
complementos introduzidos pelas preposições em e de.
3. Redobramento pronominal e deslocamento de constituintes.
4. Os verbos auxiliares e as perífrases de gerúndio e de infinitivo preposicionado.

2. Sócio-história do Português Caipira

Com respeito à sócio-história do Português caipira, noto inicialmente que a partir dos anos 30 constituiu-
se uma nova forma de fazer história. Deixando de lado a fragmentação positivista das ciências, essa
orientação – que viria a ser conhecida como História Global ou Total, e também como Escola dos Anais –
considerava a necessidade de integrar a História na Economia, na Sociologia e na História das Culturas,
substituindo a construção dos grandes panoramas então vigentes pelo estudo da mudança continuada das
sociedades humanas, pela consideração do homem em suas ações, intenções e significação, a ser atingida
por uma via interdisciplinar, mais integrativa. Os acontecimentos de curta duração, a observação das
mentalidades, da vida cotidiana, das histórias individuais, passam a ocupar o centro das atenções dos
historiadores, que renunciam assim às abstrações sobre nação, racionalidade e ordem, que recheavam a
agenda da História Geral até então vigente: Burke (1992).

A percepção dessa História Global ou Total esteve desde logo presente entre os pesquisadores do PHPB,
quando renunciaram de antemão a uma história geral do Português do Brasil em favor das muitas e
particulares histórias regionais que as comunidades linguísticas foram compondo em nosso imenso
território. Ou seja, desde o início desse subprojeto temos privilegiado “o espaço de uma dispersão”,
pondo de parte “a reunião de todos os fenômenos em torno de um centro único”, para formular as coisas
com as palavras de Foucault, apud Oliveira (2004: 43). Nas palavras deste autor,

“A História deixou de ser, assim, somente a história dos poderosos, reis e presidentes, e
incorporou uma gama de agentes antes completamente excluídos – a história vista desde baixo, a
história dos excluídos. Deixou de ser somente história política – das guerras, das dinastias, das
vitórias, e diversificiou imensamente seu campo de atuação, passando às histórias das
mentalidades, dos cheiros, das crianças, etc., com o objetivo de ser sobretudo uma história
social”: Oliveira (2004: 43).

Nesse mesmo trabalho, Muller de Oliveira relaciona o rótulo “Português Brasileiro” às preocupações da
História Geral, “que procura reconstituir a forma de conjunto de uma civilização”, nas palavras de
Foucault (1987), que ele transcreve, a que se contrapõe o estudo das variedades regionais, o estudo das
muitas manifestações do Português no Brasil, nos quadros da História Global. Ou seja, mesmo tendo
aderido a um modelo de história, os pesquisadores do PHPB seguiram utilizando um rótulo cunhado no
interior de outro modelo, certamente que por comodidade.

Em seu relatório sobre as pesquisas do PHPB no domínio da sócio-história, realizadas até 2002, Tânia
Lobo e Klebson Oliveira apuraram o seguinte:
Embora o critério para a leitura dos textos tenha sido o cronológico, obedecendo-se, portanto, à
seqüência da sua comunicação aos Seminários realizados, a apresentação que a seguir se fará
está pautada em critério temático, tendo-se agrupado os textos em três subconjuntos, com o
objetivo, assim, de que, para além de permitirem visualizar o já feito, permitam também melhor
planejar as investigações futuras:
1. Projetos gerais para a história social lingüística do Brasil e/ou para a história social do
português brasileiro;
2. Questões relativas à constituição sócio-histórica do português popular e do português culto
brasileiros;
3. Projetos e investigações sobre a história social lingüística do Brasil e/ou sobre a história
social do português brasileiro em regiões específicas do país.

Posteriormente a esse relatório, Rosa Virgínia Mattos e Silva reuniu em um volume todas suas
intervenções nos seminários a respeito do tema: Mattos e Silva (2004). Ao cabo das pesquisas que
desenvolverei, pretendo dialogar com a autora a respeito de seus achados.

Este subprojeto leva em conta essa decisão, pretendendo investigar a sócio-história do português caipira
tal como deve ter-se formado em São Vicente e em São Paulo.

Essa variedade, como se sabe, difundiu-se pelo país via movimento dos bandeirantes, monçoeiros e
tropeiros, através das seguintes linhas de expansão:

1. São Vicente-São Paulo, conhecida como a Trilha dos Tupiniquins.


2. Cananéia-Iguape-Vale do Ribeira. Esta trilha, juntamente com a anterior, desembocavam no
Caminho do Peabiru, aberto pelos indígenas, e utilizado posteriormente por espanhóis e
portugueses em suas andanças para o Paraguai e o Peru.
3. São Paulo-Santana do Parnaíba-Sorocaba-Itapetininga-Itararé-Paraná, trilha aberta pelos
brancos.
4. São Paulo-Taubaté-Minas Gerais, trilha estudada pelo Projeto Filologia Bandeirante: Megale
(Org. 2000).
5. São Paulo-Cuiabá, trilha que vem sendo estudada por Manoel Mourivaldo Santiago Almeida:
Santiago Almeida & Cox (Orgs. 2005).

Esta pesquisa vai concentrar-se na sócio-história da direção 1, através da identificação das principais
famílias que colonizaram a área de São Vicente e São Paulo, e consequente busca em arquivos de
documentos por elas deixados e consequente análise linguística.

Serão selecionadas famílias eram constituídas por um português, casado (1) com portuguesa, (2) com
índia, (3) com negra, (4) com mameluca. Os dados a levantar tomarão em conta estas e outras variáveis
sociolinguísticas a identificar.

1.2.4. Retrato sociolinguístico da variedade culta paulistana falada (segunda


metade do século XX ao início do século XXI). Coordenadora: Dra. Maria
Célia Lima-Hernandes (USP). Pesquisadores associados:

Dão origem a este subprojeto três problemas de natureza diversa: (1) A variedade culta falada em São
Paulo tem sofrido mudanças gramaticais? Quais as categorias frágeis nesse processo de mudança? (2) A
variedade culta de São Paulo tem incorporado construções inovadoras? Em caso positivo, podem ser
descritas adequadamente pela nova agenda da Sociolingüística laboviana? (3) É possível explicar as
mudanças gramaticais identificadas pela movimentação social?

Os primeiro e segundo problemas originam-se a da constatação de que muitos fenômenos gramaticais


incluídos no passado sob o rótulo de erros são incorporados pela norma culta como usos comuns de
língua escrita formal sem causar nenhum incômodo ou estigma aos falantes cultos da língua portuguesa
do Brasil. É o que presenciamos, por exemplo, com a evolução do verbo auxiliar “ir”, ausente nas
gramáticas normativas, presente nos textos acadêmicos e outros textos formais. É um verbo de
movimento seguido de uma informação locativa, que, por sua vez, é seguida de uma oração reduzida
(infinitivo) de finalidade. Com a elipse do locativo, o verbo de movimento aproxima-se da forma verbal
infinitiva. Essa estrutura é reanalisada como locução verbal. Da parte de pesquisadores, essa já era uma
mudança totalmente previsível no arcabouço da gramaticalização, mas foi silenciada aos que mais de
perto lidam com a norma culta, os professores dos ensinos fundamental e médio.

Com relação ao terceiro problema, nota-se que alguns usos associados a classes sociais hierarquicamente
mais baixas, nas décadas de 60 e 70, apresentam-se como usos recorrentes nos falares cultos atualmente.
É o que vemos com a mudança do sintagma nominal a gente em variante lingüística do pronome de
primeira pessoa do plural nós. Enquanto sintagma nominal, apresentava características típicas desse
segmento sintático, tais como a substituição do determinante definido por um pronome possessivo,
demonstrativo ou indefinido (minha gente, toda a gente, nenhuma gente, esta gente, etc.) e também a
presença de modificadores adjetivos à margem direita (ex.: a gente brasileira, essa gente forte, etc.). Com
a recategorização, passa a anteceder um verbo com o qual estabelece a relação de concordância em 3a
pessoa do singular, embora semanticamente se refira à 1a pessoa do plural. Passa a substituir um conjunto
de pessoas, dentre as quais está o falante (a gente vai, a gente gosta etc.). Os falantes cultos o empregam
com esse valor em situação de língua falada, formal ou informal, embora evitem seu emprego na língua
escrita formal.

Fenômeno similar apresenta-se com a mudança observada nos usos diacrônicos da palavra tipo e
sincrônico da expressão tipo assim. De substantivo a conjunção, e também de item com relevância lexical
a item com relevância pragmática, como em tipo assim aproximativo (Lima-Hernandes, 2005). Este
último associado a um grupo social mais jovem, rotulado por professores da escola básica como exemplo
de gíria, tem se espraiado por outras faixas etárias e tem avançado em sua rota de mudança. Na escrita
culta e formal, alguns usos já aparecem sob a forma de uma preposição exemplificativa, parafraseável por
como, e não carrega estigma social.

Esse movimento lingüístico faz com que se reflita sobre o estatuto de usos mais ou menos populares e até
depreciativos associados a classes sociais mais baixas. Provavelmente, essa suposta incorporação pela
classe média e classe média alta seja muito mais reflexo de ascensão social do que propriamente de
incorporação pelo contato entre estratos sociais.

Na cidade de São Paulo, contamos com 340 horas de gravações de informantes cultos em três estilos
(DID - entrevistas; D2 - interação entre dois informantes; EF - aulas e palestras) 6 , mas esse corpus
precisa ser complementado e adequado às novas perguntas e exigências das tarefas sociolingüísticas
atuais. Se, por um lado, esse material permite o desenvolvimento de estudos em tempo aparente e de
descrições vinculadas à Análise da Conversação e à Variação Lingüística, por outro lado, impede o
reconhecimento das movimentações sociais operadas e a observação das mudanças gramaticais em tempo
real.

Com o crescimento econômico da cidade, com a imigração interna pressionando a expansão social e
geográfica do espaço urbanizado, com a ampliação dos meios de comunicação e com a democratização
do ensino superior, dentre outros fatos, o quadro da norma culta precisa ser reexaminado.

As tarefas previstas no Plano de Trabalho permitirão o encaminhamento de questões atuais centradas na


dinamicidade da língua. Como arcabouço teórico-metodológico, mobilizam-se pressupostos e
encaminhamentos decorrentes da interface sociolingüística/gramaticalização, especialmente no que diz
respeito à identificação das mudanças em curso e das mudanças já operadas no sistema lingüístico do
português culto da cidade de São Paulo.

Para a execução deste subprojeto, as seguintes tarefas são previstas: (1) Constituir uma amostra do
português falado culto – Amostra Recontato (AR), localizando informantes paulistanos da primeira
amostra, composta na década de 70, a fim de compor uma amostra de recontato do português paulistano
do início do século XXI. (2) Constituir uma amostra do português falado culto – Amostra Tendência
(AT), identificando informantes paulistanos que detenham características similares às dos informantes da
década de 70. (3) Constituir uma amostra de português falado culto – Amostra Contato (AC),
identificando critérios suficientes para compor uma amostra de informantes paulistanos que detenham
características similares às dos informantes da AT, desrespeitando o critério de endogenia paulistana.

6
Esse material refere-se ao Corpus do Projeto NURC-SP, incorporado do acervo do Centro de
Documentação Cultural Alexandre Eulálio (CEDAE), com sede na UNICAMP.
Para essas três primeiras tarefas, serão registrados três estilos de fala, pautados pelo grau de formalidade;
posteriormente os inquéritos serão transcritos e informatizados. A marcha do trabalho prevê (1) Proceder
a estudos do português culto por meio de metodologia de tipo painel (Panel Study) e de tipo tendência
(Trend Study) com vistas à identificação das mudanças lingüísticas fundadas na movimentação social. (2)
Referendar a trajetória do português culto atual por meio dos estudos sobre a elite paulistana do início do
século XX (interação com subprojeto 1.1 do PHPP) e verificar a validade da hipótese sobre
encapsulamento da variedade culta prototípica em grupos sociais restritos a partir de movimentações
sociais. (3) Estabelecimento do retrato sociolingüístico da variedade culta da cidade de São Paulo.

1.2.5. Mudança gramatical no português de São Paulo: expressão pronominal e


preposicional dos argumentos. Coordenadora: Maria Aparecida T. Morais (USP).
Pesquisadores associados: Sônia M. L. Cyrino (UNICAMP); Tânia M. Alkmim
(UNICAMP); Rosane de A. Berlinck (UNESP- Araraquara), Marymarcia Guedes
(UNESP-Araraquara).

Este projeto tem por objetivos (1) Discutir questões de natureza conceptual e empírica (com tratamento
estatístico dos dados) que mostram como o modelo gerativo de princípios e parâmetros e o modelo da
sociolingüística laboviana abordam aspectos da variação e da mudança morfossintática. Relacionar estas
questões com a abordagem da chamada “sociolingüística paramétrica”. (2) Descrever fatos gramaticais de
variação e mudança que caracterizam o português de SP, em textos jornalísticos variados, entre eles os da
chamada Imprensa Negra, num período que abrange os séculos XIX e XX. Os fatos gramaticais se
dividem em dois quadros: (i) o dos pronomes pessoais (átonos e tônicos), pronomes demonstrativos e
possessivos; (ii) o das preposições como introdutoras de argumentos. (3) Enquadrar os estudos de
variação e mudança gramatical no contexto sócio-histórico do período.

Sabemos que não se pode pretender caracterizar a mudança lingüística sem a recuperação do passado
sócio-histórico de uma comunidade de fala. No caso da história lingüística de São Paulo, isto se torna
crucialmente relevante, devido à sua realidade sociolingüística, que de um certo modo reflete a realidade
lingüística do Brasil (bipolarizada entre uma norma culta e uma norma popular). Assim, a urbanização de
São Paulo (1765-1870), a economia cafeeira (1870-1890), a industrialização e crescimento urbano (1930-
1960), a consolidação da metrópole (1960-1990), aspectos territoriais ou de zoneamento, o perfil
populacional e a escolarização são fatos de extrema relevância para nossa abordagem da variação e
mudança no português culto de São Paulo. Para tanto, manteremos um diálogo direto com os demais
subprojetos, em especial aqueles coordenados por Marilza de Oliveira, por Maria Célia Hernandes-Lima,
e por Maria Lúcia C.V.O. Andrade.

A definição do recorte temporal e das fontes documentais a serem utilizadas no estudo se justifica: (i) pela
importância, nem sempre reconhecida, do elemento negro na formação de nossa cultura, e,
conseqüentemente, de nossa língua, e pelo muito que ainda é necessário conhecer do papel do negro na
construção dessa história; (ii) pelo fato de o século XIX, em especial a sua segunda metade, e o início do
século XX, representarem um período de desenvolvimento econômico extremamente importante na
história da Província, posteriormente Estado, de São Paulo; (iii) pelo fato de esse período de
desenvolvimento estar intimamente associado à produção do café, à escravidão negra, e à transição da
utilização da mão de obra escrava para a mão de obra assalariada; (iv) pelo papel da imprensa, tanto na
divulgação (e fixação) de uma certa norma lingüística de prestígio, quanto por constituir um possível
canal de expressão de normas ou de traços lingüísticos não-padrão. Parte-se da hipótese de que, no
contraste entre a chamada “Imprensa Negra” e a imprensa majoritária, seja possível surpreender
características do português de São Paulo.

No entanto, a investigação diacrônica só poderá ser efetuada dentro de quadros teóricos específicos que
forneçam o aparato metodológico e os conceitos básicos para se lidar com questões clássicas sobre
mudança, entre elas a do por quê e como as línguas mudam. Assim, a abordagem da mudança
morfossintática será feita em nosso subprojeto dentro de duas vertentes teóricas: (i) a da teoria gerativa
dos princípios e parâmetros (P&P) e (ii) da teoria sociolingüística da variação e mudança. O diálogo entre
as duas propostas tem levado a interessantes reflexões e resultados de natureza empírica e teórica sob o
rótulo de sociolingüística paramétrica.
(i) A mudança lingüística com base na Teoria dos Princípios e Parâmetros, no contexto do programa
minimalista (cf. Chomky, 1999, 2000, 2001), se desenvolve dentro de um cenário que mostra a interação
de três fatores: variação, mudança e contato lingüístico. De modo especial, partiremos dos estudos de
Lightfoot (1991, 1999, 2002), Kroch (1994, 2001,2003), Roberts (no prelo) os quais representam um
corpo de hipóteses e dispositivos formais relevantes para uma abordagem da história do português culto
de SP. Vale ressaltar que a mudança e a variação de natureza morfossintática sempre constituiu um
desafio para a teoria corrente. No quadro dos P&P, a variação intra e interlingüística é abordada com base
em diferentes valores assinalados a um conjunto finito de opções denominadas parâmetros, os quais estão
associados aos princípios proporcionados pela Gramática Universal (GU). Neste modelo, a tarefa da
criança no período da aquisição da língua materna é fixar os parâmetros corretos da gramática–núcleo de
sua língua na base dos dados do input lingüístico aos quais estão expostas. A tarefa do lingüista, por outro
lado, é primeiro identificar os princípios da GU e, em seguida, definir a classe dos parâmetros a eles
associados. A possibilidade mais simples é que os parâmetros estão restritos a dois valores. Mas, como
são altamente abstratos, a fixação de um ou outro valor cria efeitos gramaticais que atingem várias áreas
da gramática, levando às diferenças que as línguas apresentam.

Após décadas de pesquisa, hoje é consensual a hipótese de que a variação paramétrica está restrita às
categorias funcionais, ou seja, a aspectos dos itens lexicais. As categorias funcionais podem se apresentar
como formas presas, e aí entram as categorias de pessoa, número, gênero, os pronomes complementos
clíticos, entre outras. Podem também ser formas independentes, como os modais do inglês, por exemplo.
As categorias funcionais mais estudadas têm sido os Determinantes, Tempo, Aspecto, Complementador.
Deste modo, o que varia e muda ao longo do tempo são aspectos relacionados aos valores paramétricos
das categorias funcionais.
Ora, os pronomes e preposições são áreas críticas e sensíveis no percurso histórico das línguas,
principalmente no que se conhece das línguas românicas. Neste ponto, portanto, estamos em condições de
justificar teoricamente e empiricamente os dois fatos lingüísticos escolhidos para nosso estudo. Os
pronomes são considerados categorias funcionais no inventário proposto pela gramática gerativa, e,
portanto, é previsível que seus traços sejam afetados pelas reanálises gramaticais. Da mesma forma, as
mudanças que afetam as partículas conhecidas como preposição levam os gramáticos gerativistas a uma
reflexão mais profunda e custosa do que seria uma categoria funcional. No atual momento das reflexões,
as preposições têm um estatuto ambíguo entre categorias predicativas, que contribuem para a semântica
das relações espaciais e temporais, e categorias funcionais, no sentido em que são marcas morfológicas
casuais, sem conteúdo semântico.
A teoria dos P&P trabalha com outra hipótese forte: a de que a mudança paramétrica se dá no período da
aquisição da linguagem, quando a criança não encontra evidências suficientes nos dados do input para a
fixação de um parâmetro. As mudanças decorrem da inter-relação de fatores acidentais e das restrições
impostas pela faculdade da linguagem, ou GU .Os fatores acidentais afetam o ambiente lingüístico,
tornando-o de algum modo distinto daquele da geração anterior: “And language history is certainly
contingent and subject to accidents of environmental influence and idiossincrasies. After all, the Latin
spoken in Barcelona developed into Catalan, and the Latin spoken in Venice eventually became
Venetian.”(Lightfoot, 1999:264) Por seu lado, as restrições, elaboradas em termos dos princípios e
parâmetros da GU, definem as opções e direcionam a criança na avaliação dos dados. Por seu lado, Kroch
tem trabalhado com a suposição de que a variação que se observa nos dados durante o curso da mudança
sintática é entre opções gramaticalmente incompatíveis que se substituem no uso. A idéia de gramáticas
em competição possibilita novas reflexões não apenas para a formulação de uma teoria da variação e
mudança, como também para a teoria da aquisição e teoria da gramática. Em particular, coloca no cenário
a questão do contato lingüístico.

(ii) Na Teoria da Variação e Mudança Lingüísticas (Weinreich, Labov, Herzog, 1968; Labov 1972, 1994,
2001) concebe-se a língua como uma realidade heterogênea, constituída de diferentes variedades, que
refletem naturalmente, por sua vez, os aspectos multiformes que caracterizam a comunidade de fala (do
ponto de vista social, econômico e cultural). Essa heterogeneidade é sistematizada e sua organização é
passível de ser descrita, justamente se buscarmos as correlações entre as formas variáveis de expressão e
as características sociais dos falantes. A variação é fruto, assim, da natureza social da língua; ela é ao
mesmo tempo produto e condição para o uso, para a comunicação.

A mudança, quando ocorre, se dá como resultado de uma alteração nas relações entre as variantes no
tecido estrutural e social. A mudança, desse modo, nasce da variação, embora, nem sempre, uma situação
de variação leve necessariamente a uma mudança. Para descrever e explicar a variação e a mudança,
nessa perspectiva, faz-se necessário determinar: (i) quais os fatores lingüísticos e não-lingüísticos que
atuam no processo variável, de que modo atuam e para que direções possíveis de mudança apontam ; (ii)
como uma determinada situação de variação ou de mudança se encaixa no sistema de relações sociais e
lingüísticas; (iii) como os membros da comunidade lingüística avaliam a variação/mudança e quais os
efeitos dessa avaliação sobre o processo; (iv) como e por que caminhos a língua muda; (v) por que uma
determinada mudança ocorre quando e onde ela ocorre. Qualquer que seja o percurso de uma
mudança,entende-se que o processo é normalmente lento e gradual e pressupõe períodos, por vezes
longos, de convivência menos ou mais ‘pacífica’ entre as variantes que compõem a variável lingüística.
O processo pode se resolver por uma substituição de uma das formas por outra (o que pode implicar que a
forma ‘perdedora’ subsista em usos residuais) ou por uma especialização das formas antes concorrentes,
que encontram, assim, um novo lugar na estrutura lingüística.

Os quadros teóricos aqui adotados incorporam em seus pressupostos a importância dos fatores de
natureza sócio-histórica para o entendimento da variação e mudança gramatical. Nesta perspectiva, como
foi dito inicialmente, deve-se dialogar com os outros subprojetos que tratam mais especificamente destas
questões. Além disso, o subprojeto dará uma contribuição particular para a sócio-história de São Paulo ao
investigar os possíveis contrastes entre a “imprensa negra” e a imprensa oficial. A hipótese, a partir do
levantamento dos vários jornais escritos pelos negros, em diferentes cidades da região paulista, é que os
negros tiveram acesso à cultura escrita e utilizaram-se de um veículo de massa como meio de construir
uma identidade e um espaço para as suas reivindicações. Os possíveis contrastes, ou semelhanças, que se
buscarão no estudo dos diferentes jornais são de natureza lingüística e social.
O corpus que servirá de fonte para a análise dos fatos lingüísticos será composto por textos publicados na
imprensa de São Paulo, que pertencem tanto à imprensa tradicional quanto à chamada “Imprensa Negra”.
O período relevante para o contraste entre esses textos cobre o fim do século XIX e o início do XX. Os
jornais provêm de diferentes cidades do Estado: Campinas, Santos, Sorocaba, Itu, Taubaté,
Guaratinguetá, Tietê, entre outras.

Esses textos serão selecionados de modo a compor um continuum de formalidade (editoriais, cartas,
anúncios). A análise de dados seguirá a metodologia variacionista, incluindo o levantamento de uma
amostra representativa do fenômeno na tipologia de textos organizada, sua análise segundo os grupos de
fatores definidos a partir das hipóteses, a quantificação dos dados analisados por meio de programas
estatísticos (VARBRUL, GOLDVARB), a interpretação dos resultados quantitativos à luz dos
pressupostos teóricos que embasam o estudo.

1.2.6. Mudança multissistêmica das preposições nos sécs. XIX a XX. Coordenador:
Dr. Ataliba T. de Castilho (USP)

As pesquisas aqui projetadas tomam como ponto de vista teórico uma abordagem multissistêmica da
língua, em que se postula a língua como um sistema complexo.

As preposições serão consideradas como palavras morfologicamente invariáveis, dotadas semanticamente


de um sentido geral de localização, tendo por função sintática ligar palavras e sentenças e por função
discursiva assinalar o tópico textual e agregar informações secundárias.
Frequentemente os gramáticos afirmam que as Preps são palavras “vazias de sentido”, certamente dada a
dificuldade de identificar seu sentido. Neste trabalho, vamos admitir que cada Prep tem um sentido de
base, o de localizador espacial ou temporal, apesar da escassa consciência que disto se tem. Se as Preps
fossem vazias de sentido, não se entenderia por que sentenças como (1) Cheguei de Recife e (2) Cheguei
em Recife,iguais em tudo, menos na escolha das Preps, encerram sentidos diferentes.
Postularei que o sentido básico das Preps é o de localizar no Espaço ou no Tempo os termos que elas
ligam. Para esse fim, entenderei as Preps são predicadores, ou seja, atribuem propriedades semânticas às
palavras que elas relacionam.
Como a localização espaço-temporal realizada pela língua é sempre relativa, as Preps serão descritas
como operadores que tomam por escopo a FIGURA (ou OBJETO EM FOCO) e o PONTO DE
REFERÊNCIA 7 (ou FUNDO). Localizar um objeto ou um evento é sempre relacioná-lo com outro

7
O termo FUNDO corresponde ao termo antecedente, mencionado nas gramáticas, e o PONTO DE
REFERÊNCIA corresponde ao consequente.
OBJETO ou EVENTO. A operação de localização espacial só pode ter sucesso se, além do OBJETO que
queremos localizar espacialmente, nos referirmos a um segundo objeto que é então tomado como PONTO
DE REFERÊNCIA. Essa é uma condição necessária para a localização espacial, independentemente do
eixo em que ela se dá, e da classe morfossintática a que pertencem as palavras relacionadas.
Isso quer dizer que na relação expressa pelas Preps, a FIGURA e o PONTO DE REFERÊNCIA podem
ser tanto objetos como eventos 8 . Daí resulta que a predicação preposicional pode ser de primeira ordem
(= predicação de um OBJETO, como em livro sobre a mesa, em que a Prep organiza um Sintagma
Preposicionado encaixado no Sintagma Nominal), ou de segunda ordem (= predicação de um EVENTO,
como em veio de casa, em que o SP está encaixado num SV).

Os sentidos de base, ou sentidos prototípicos das palavras, convivem com seus sentidos derivados. As
preposições não fogem a esta regra, e seu sentido de base é reconhecível quando elas expressam as
categorias relacionais POSIÇÃO NO ESPAÇO, DESLOCAMENTO NO ESPAÇO e DISTÂNCIA NO
ESPAÇO, além de TEMPO. Seus sentidos derivados se devem a processos metafóricos, a composições de
sentido e a mudanças do esquema imagético, entre outras motivações.

Para expressar as relações de ESPAÇO, a língua mobiliza algumas categorias e subcategorias cognitivas,
de que ressaltam alguns papéis semânticos derivados, captados no seguinte quadro:

Tratamento linguístico da categorias cognitivas de ESPAÇO


CATEGORIA ORGANIZAÇÃO DA SUBCATEGORIAS PAPEÍS SEMÂNTICOS DERIVADOS
COGNITIVA CATEGORIA COGNITIVAS
COGNITIVA
ESPAÇO
Eixo horizontal /origem/, /meio/, /meta/
POSIÇÃO NO Eixo vertical /superior/, inferior/
ESPAÇO Eixo transversal /anterior/, posterior/
DISPOSICÃO NO Eixo continente / conteúdo /dentro/
ESPAÇO ESPAÇO /fora/
PROXIMIDADE NO Eixo longe / /proximal/
ESPAÇO Perto /distal/
MOVIMENTO NO Real / /dinâmico/
ESPAÇO Fictício /estático/

Admitindo-se portanto que as Preps localizam a FIGURA em relação a um PONTO DE REFERÊNCIA,


segue-se que seu sentido de base pode ser captado por meio dos seguintes eixos:
A) Eixo espacial horizontal: orientação lateral à esquerda de, à direita de. O eixo
horizontal implica na imagem do percurso, do deslocamento, assinalado pelos traços
/PONTO INICIAL, ORIGEM/: de, desde, a partir de; /PONTO MEDIAL/: por, no
meio de; /PONTO FINAL, META/: a, para, até, contra.
B) Eixo espacial vertical /SUPERIOR/: sobre, por cima de, em cima de; /INFERIOR/: sob,
embaixo de, por baixo de, debaixo de.
C) Eixo espacial transversal: /ANTERIOR/: ante, antes de, diante de, em frente de, em
face de, defronte de, defronte a, à frente de; /POSTERIOR/: atrás (de), por trás de,
após, depois (de), em pós de. Liga-se a este eixo a categoria de TEMPO, associando-se
imageticamente o espaço anterior para o qual nos dirigimos ao futuro, e o espaço
posterior de que nos afastamos ao passado.
D) Eixo espacial da proximidade: /PROXIMAL/: perto de, acerca de, a cabo de, junto de,
a par de, em presença de, à beira de; /DISTAL/: longe de, distante de.
E) Eixo espacial continente / conteúdo: /DENTRO/: em, com, entre, dentro de, em meio
de, em meio a; /FORA/: sem, fora de, na ausência de.

Os eixos espaciais são organizados tomando em conta o corpo humano, cuja natureza tridimensional é
considerada em A, B e C, o que está próximo ou distanciado dele em D, o que se encontra dentro ou fora

8
OBJETO e EVENTO são aqui tomados como termos técnicos, o primeiro para designar qualquer coisa
do mundo, e o segundo para designar qualquer ação, estado ou processo que afetam os objetos.
dele em E. Em todos esses eixos, a FIGURA pode ser apresentada estática ou dinamicamente, real ou
ficticiamente, o que provoca o desenvolvimento de outros tantos sentidos.

A lista de preposições que aparece após cada eixo é meramente exemplificativa, pois um mesmo item
pode integrar mais de um eixo. Assim, em pode exemplificar tanto o eixo continente ~ conteúdo, como
em O doce está na geladeira, quanto o eixo horizontal, em Fui na feira. Ou seja, também as Preps são
polifuncionais.
De todo modo, essa lista apresenta uma organização das principais categorias cognitivas que a língua
mobiliza para tratar de ESPAÇO, devendo-se ter em conta que as Preps não são as únicas expressões que
os falantes usam concretamente para falar de espaço.

O objetivo maior deste subprojeto será estudar o comportamento das Preps à luz de seu tratamento
multissistêmico, correlacionando o ritmo de sua mudança com os eixos espaciais que prototipicamente
expressem.

1.2.7. Categorias de ‘foco’, ‘inclusão’, ‘quantidade’, ‘intensidade’ e a


gramaticalização dos pares conjuncionais correlativos. Coordenador: Marcelo
Módolo (USP)

Tendo estudado previamente o fenômeno sintático da correlação em Português (Módolo 2004),


concentrarei agora minha atenção nos processos de foco, inclusão, quantidade e intensidade, importantes
no processo de gramaticalização das correlatas.

Entendo aqui por dependência a ligação gramatical entre dois ou mais pontos diferentes em uma sentença.
Nos casos de dependência, a presença ou ausência de um elemento ou a forma que ele assume num
determinado ponto da sentença está diretamente ligadas à presença, ausência ou forma assumida por um
segundo elemento, num outro ponto da sentença. Segundo Hjelmslev (1984:42), podemos fazer as
seguintes classificações: As las dependencias mutuas, en las que un término presupone el otro y
viceversa, las llamaremos convencionalmente interdependencias. As las dependencias unilaterales, en las
que un término presupone el otro pero no viceversa, las llamaremos determinaciones. Y a las
dependencias de mayor libertad, en las que dos términos son compatibles pero ninguno presupone le
otro, las llamaremos constelaciones. Assim, no plano sentencial teríamos esquematicamente: i) a <--->b
(interdependencia ou correlação), ii) a ---->b, a <----b (determinaciones ou subordinação) e iii) a ----- b
(constelaciones ou coordenação).

Desse modo, as frases correlativas exemplificam uma relação de interdependência, isto é, a estrutura
frásica das duas sentenças que se correlacionam está estreitamente vinculada por expressões conectivas.
No caso, as conjunções: não só...mas também, seja...seja, tanto...que e mais...do que.

A interdependência tem sido destacada na literatura como o traço característico da correlação, como
salientou Blanche-Benveniste (1997: 100):

"Dans une corrélation, deux parties sont mutuellent dépendantes: Tantôt il pleure, tantôt il rit. Dire l´une
sans l´autre fait l´effect d´un énoncé interrompu, Tantôt il rit..., éventuellement utilisé comme tel."

Melo (1954: 121) tinha ido nessa mesma direção, quando esse autor descreve a correlação comparativa:

"Correlação é um processo mais complexo em que há, de certo modo, interdependência. Dá-se, neste
processo, a intensificação de um dos membros da frase, intensificação que pede um termo" (de
comparação).

Nesse sentido, a correlação, sempre conjuncional, é de uso relativamente freqüente quando se trata de
emprestar vigor a um raciocínio, estabelecendo coesão entre sentenças e sintagmas, e aparece
principalmente nos textos apologéticos e enfáticos. A correlação exerce aí um papel importante, pois
concorre para que se destaquem as opiniões expressas, a defesa de posições, a busca de apoio, muito mais
do que por informarem com objetividade os acontecimentos.
Será necessário visualizar melhor a importância das categorias semânticas de foco, inclusão, quantidade e
intensidade para a formação dos pares correlativos. É aqui que aparece a grande hipótese desse trabalho, a
idéia de que as correlativas são uma forma de gramaticalização dessas noções.

A gramaticalização é um dos processos de criação lingüística, na perspectiva adotada por Castilho (2005).

Os estudiosos da gramaticalização sempre observaram que não são todos os itens lexicais que se sujeitam
a alterações, distinguindo-se um setor impermeável de outro setor mais permeável à gramaticalização.

Essa constatação nos traz à questão do “gatilho da gramaticalização”, ou seja, o que dispara a
gramaticalização? Pelo menos duas fontes alimentam as mudanças: a integração dos itens em
determinados domínios cognitivos (tais como “corpo”, “visão”, “espaço”, “movimento”) e o livre
intercâmbio conversacional, quando necessidades pragmáticas nos impelem a introduzir alterações no
estoque lexical para dar conta dessas necessidades. Haverá, portanto, um gatilho pragmático e um gatilho
cognitivo para as correlatas, que passo a examinar, em seguida.

Alguns dos pares correlativos podem ter decorrido do gatilho pragmátgico, que assenta nos processos
conversacionais, abstratizados (e empacotados) no sistema da gramática 9 .

Indo por aqui, observando a língua como uma entidade pancrônica, poderíamos fazer um paralelo entre a
“alternância de turnos” na língua falada e a “alternância de sentenças” na língua escrita. Supor-se-ia,
então, que na língua falada um falante "A" superordenaria a construção de uma sentença correlata
introduzindo não só e o falante B, por tomada de turno, completaria a correlação com como também, por
exemplo;

1. Não só tudo foi pedido na reunião do dia dos pais


2. Como também já tinha sido pedido muito antes dessa data!

Em (1) e (2) teríamos a mesma direção argumentativa para as duas sentenças. Também poderíamos
aventar a seguinte possibilidade formativa para essa correlação aditiva:

Tal par correlativo apresentaria dois eixos argumentativos. Seria, portanto, uma estrutura polifônica como
em (3): o “tratar da política” e o “(tratar) da educação popular, da indústria, da lavoura, das artes e das
letras”:

(3) “O nosso jornal não tem só por missão tratar da política, (...) mas também da educação popular, da
industria, da lavoura, das artes e das letras.” [OP/MG CM 19 2] 10

Entretanto, quando a estrutura correlativa não só... mas também é usada no discurso, é possível se omitir
um dos eixos argumentativos e veicular um conteúdo proposicional único. A polifonia parece ser uma
opção discursiva.

A fim de refletir sobre como a expressão caracterizada polifônica não só...mas também se constrói, ou se
construiu, é preciso pensar sua relação com outro dizer, que com ela se constitui(u). A questão não seria
de escopo de operador, nem tampouco componencial, mas sim de relação interdiscursiva numa situação
de enunciação (cf. Guimarães 1987: 143-4). Ou seja, é necessário dar conta do outro funcionamento que
esse par correlativo apresenta ou resgata 11 . Supondo as seguintes composições para a frase (3), observa-se
que há uma nítida oposição entre direções argumentativas:

(3a) L1 O nosso jornal tem só por missão tratar da política.

(3b) L2 Não é isso. O nosso jornal não tem só por missão tratar da política, (...) mas também da
educação popular, da industria, da lavoura, das artes e das letras.

9
Ao tratar da gramaticalização de mas na língua falada, Castilho (1997: 111) diz que essa modalidade
guarda uma sorte de “memória histórica”, diluindo ainda mais os já precários limites entre sincronia e
diacronia.
10
Esses exemplos estão em Barbosa & Lopes (2004).
11
Naturalmente, não podemos explicar “via polifonia” todos os casos de correlação.
A estratégia de L2 consiste em representar a perspectiva de L1, negando sua direção, e acrescentar a ela
um outro argumento que, de certa forma, justifica a inversão realizada. Essa parece ser a função
discursiva desse par correlato.

Vejamos agora outro gatilho da gramaticalização, igualmente de interesse para esta pesquisa: o gatilho
cognitivo, que nos leva às seguintes categorias:

(1) A categoria de foco

Langacker (1987, 1990, 1999) elabora algumas categorias relativas à visão, para explicar como essa
macrocategoria funciona nas línguas naturais. De acordo com esse autor, o modo como retratamos uma
cena, isto é, o modo como a perspectivamos, vai especificar a expressão lingüística escolhida na sua
verbalização.

A primeira dessas propostas é a do ponto de observação da cena, que pode ser fixo ou móvel.

Um ponto de vista fixo pode produzir expressões como:

(1) O Tocantins é um afluente do Amazonas;


O Tocantins integra a bacia amazônica;

O ponto de vista móvel gerará outras tantas expressões, segundo o participante da cena em que se situa o
observador:

(2) O Tocantins desemboca no Amazonas;


O Amazonas recebe as águas do Tocantins;

As sentenças acima dizem rigorosamente a mesma coisa que os exemplos anteriores, porém mudou o
ponto de vista que em (1) era fixo e em (2) é móvel.

Simultaneamente ao ponto de vista do observador, identifica-se outra categoria cognitiva, a de saliência


dos participantes da cena. Um participante da cena pode ser focalizado como o seu foco primário (figura)
ou como seu foco secundário (fundo). Além dos exemplos (1) e (2), (3) mostra igualmente como a
sintaxe representa o jogo figura/fundo, alternando-se Amazonas e Tocantins nesses papéis:

(3) O Amazonas precede o Tocantins em caudal de águas.


O Tocantins segue-se ao Amazonas em caudal de águas.

Assim, podemos definir “foco” como o destaque que se dá a algum elemento da sentença ou do
enunciado, por apresentar a informação mais importante.

Nas correlatas, aqui em análise, temos alguns advérbios — chamados de focalizadores — que verbalizam
essa categoria cognitiva no enunciado: somente, só e também.

Esses advérbios entram na formação dos pares correlativos aditivos:

(4) Além disto, não sabemos como descrer, não somente da confiança imperial como da confiança
nacional no gabinete 25 de junho, si, apesar do curto tempo de governo, tem se ele assinalado por
serviços relevantes ao Estado e não se lhe argúem faltas que possam n’o abater no conceito da nação. [
BA/SA CB 19 2]

(5) Corporação importante como é e deve mostrar-se a câmara municipal, não só pela magnitude de sua
instituição, como pelos deveres que lhe são inerentes, (...) [B ESA 19 2].

(6) Seja o que for, ninguém poderá roubar ao digno e honrado cidadão, que a empreendeu, a gloria não
só do que fez, mas também de ter mostrado a possibilidade de se conseguirem mais sólidos resultados,
uma vez que o Governo intervenha com socorros subministrados pela Fazenda-Publica. [SP/ SP FP 19 1]

(2) Categoria de inclusão


Segundo Langacker (1999), a relação de inclusão, quando caracterizada no nível da cognição, reduz-se à
imanência. Assim, a relação conceitual básica A inclui-se em B sustenta-se sempre quando: i) A e B
configurarem como cadeia de transição e ii) A esteja em relação de imanência a B.

Por conta da generalidade dessa noção, tal relação se tornou ubíqua, estando implicitamente presente em
toda rotina cognitiva e suas estruturas. Por exemplo: a cadeia de transição bem fixada a>b>c>d>...z —
constituindo nossa habilidade em recitar o alfabeto — incorpora subcadeias correspondentes às letras
individuais, cada uma da qual é imanente a si mesma, segundo LANGACKER (1999: 225). Há,
conseqüentemente, uma (inter)relação latente entre cada uma das subcadeias e a cadeia como um todo.

Transportando essas relações para o plano das correlatas, os advérbios ainda, até, também são os
responsáveis por essa noção de inclusão nas sentenças correlativas aditivas. Do outro lado, as conjunções
mas e como formalizam a inclusão da segunda sentença na primeira. Ex.:

(7) (...) interrompendo quase a comunicação por aquele lado, causando um incomodo indizível, não só
aos habitantes da Cidade, como aos lavradores, que não podem conduzir seus gêneros; (...) [SP/SP FP 19
2]
(8) (...) não só a urbanidade, polidez da Excelentíssima Diretora, que a todos recebia com especial
afabilidade e cortesia, própria d’uma acrisolada educação, como também o bom regime, aceio,
regularidade e grande numero de alunas existentes em seu colégio,[PE/RE DP 19 2]
(9) É publico e notório de que a comissão apresentou o parecer no dia 12 de outubro do ano passado, e
tendo decorrido mais de quatro meses Vossa Excelência não só não tem dado publicidade desse parecer,
como ainda o não apresentou ao Monarca, como é do seu rigoroso dever,(...) [RJ/RJ OG 19 2]
(10) Seja o que for, ninguém poderá roubar ao digno e honrado cidadão, que a empreendeu, a gloria não
só do que fez, mas também de ter mostrado a possibilidade de se conseguirem mais sólidos resultados
(...) [SP/SP FP 19 1]

Assim, o ato de fala verbalizado pela segunda sentença inclui-se na primeira por intermédio dos advérbios
de inclusão ainda, até, também e das conjunções mas e como.

Wierzbicka (1996: 76-78), igualmente, classifica a inclusão em “MORE” dentro dos seus 55 universal
semantics primitives.

(3) Categoria de quantidade

A quantificação é um processo cognitivo por meio do qual um operador incide sobre palavras
modificando sua extensão, isto é, sua propriedade de designar um conjunto de indivíduos. É o que
Wierzbicka (1996: 44-47) classificou como ONE, TWO, MANY (MUCH), ALL, dentro dos 55 universal
semantics primitives.

Segundo Castilho (1993: 158), ao codificar a quantificação, a língua movimenta diferentes níveis
hierárquicos: “(1) Na morfologia flexional, os morfemas de número, e na morfologia derivacional sufixos
tais como –itar, -ejar e poucos mais. (2) Na sintaxe, sintagmas nominais e preposicionais cujo N disponha
de certas propriedades intensionais (...), e/ou sejam especificados por quantificadores (numerais,
pronomes indefinidos, expressões partitivas); sintagmas adjetivais cujo núcleo seja um Adj. quantificador:
Castilho e Moraes de Castilho (1993); Sintagmas Adverbiais (...)”

Ainda ao definir a quantificação, não é incomum que a atenção se fixe numa dessas classes,
particularmente a dos nomes.

(11) “Chamam-se quantificadores os determinantes que indicam a quantidade através da qual um


substantivo é definido (todo, dois, algum, um são quantificadores.” Apud Dubois et alii (1973)
(12) “(...) quantifiers are modifiers which combine with nouns to produce expressions whose reference is
thereby determined in terms of the size of the set of individuals or in terms of the amount of substance that
is being referred to”. Apud Lyons (1994: 454-455)

Entretanto, além dos nomes, também os verbos, os adjetivos e as sentenças podem ser quantificados.

Para as correlatas, todavia, interessa-nos o processo de quantificação que age sobre os nomes, exs.:
(13) Temos tanto liquido de diversas naturezas que realmente a água deve ser banida de uma vez; não
deve servir| nem para a lavagem do corpo. [SP/SP CP 19 2]
(14) Comeu tanto 12 que teve uma indisposição estomacal.
(15) (...) entre nós porém, a iluminação da capital, parece que é mais uma pensão ao contratador, com
meio de vida particular do que um serviço público. (...) [SP/SP CP 19 2]

(4) Categoria de intensidade

Intensidade é um dos 55 universal semantics primitives descritos por Wierzbicka (1996: 67-68, 141). Por
ser avessa a terminologias lingüísticas densas, Wierzbicka adota uma metalinguagem menos técnica ao
descrever as categorias semânticas. Assim, a categoria de intensidade é classificada dentro da categoria
“VERY”.

É curioso notar que, para o português, quantidade e intensidade são categorias imbricadas. Porque,
quando há uma quantificação, que aumenta a extensão de uma classe, concomitantemente haverá uma
intensificação, seja positiva, seja negativa que corroborará para a mudança de limites dessa classe. Ex.:

(16) (...) sofrem perdas, estragando os animaes, que tão caro lhes custa, e com que tanto concorrem para
a renda publica, então ou paulista, ou fluminense, ou baiano, com tanto que trate mais em estradas, do
que em política. [SP/SP AP 19 1]

(17) (...) De forma que, pelo que lhe digo, fique você ciente que nada me falta e tenho mais 13 do que
preciso. [SP/SP CP 19 2]

(18) Hoje gastamos mais 14 do que vendemos, (...) [SP/SP CP 19 2]

Desse modo, indicamos como procuraremos examinar as categorias semântico-cognitivas de foco,


inclusão, quantidade e intensidade, responsáveis por acionar o gatilho da gramaticalização dos pares
conjuncionais correlativos aditivos, alternativo, comparativo e consecutivo.

1.2.8. Sintaticização, semanticização e discursivização de estruturas hipotáticas e


para-hipotáticas do Português Brasileiro. Coordenador: José da Silva
Simões (doutor - USP)

Este trabalho está inserido no contexto de interpretação de duas escolas da Lingüística Histórica da
Romanística.

Em princípio, parto da proposta funcionalista de mudança lingüística de Castilho (2005) que defende a
análise de fenômenos lingüísticos numa perspectiva multidimensional e entende a língua como sendo um
construto de subsistemas – léxico, semântica, discurso, gramática (morfologia, fonologia e sintaxe) – e
que não estabelecem uma relação de precedência entre si, mas sim são acessados pelos usuários da língua
de forma radial, submetendo a produção de seus enunciados a filtros específicos de cada um dos
subsistemas da língua. Através desse modelo de análise o autor critica primordialmente a interpretação
unidirecional da gramaticalização e propõe a multidirecionalidade como postulado da mudança
lingüística.

Por outro lado, em sintonia com trabalhos conjuntos anteriores da equipe do Projeto PHPB com a escola
germânica da Romanística, através de Johannes Kabatek, Wulf Oesterreicher e Daniel Jacob, utilizamos
como suporte metodológico as reflexões do grupo SFB 14 Tradições discursivas das línguas românicas
e análise multidimensional de corpora diacrônicos coordenado por Johannes Kabatek na Universidade de
Tübingen. O grupo SFB 14 procura identificar a variação lingüística na diacronia do espanhol medieval
por especificidades textuais, e adota para essa análise quantitativa uma visão multidimensional na qual

12
Posso supor que tanto está predicando um SN elidido. Assim teríamos algo como “Comeu tanto cuscuz
que teve uma indisposição estomacal”.
13
Aqui poderíamos inferir a elisão da palavra “dinheiro”, por exemplo. O “mais” seria, portanto, um
quantificador ou um intensificador?
14
Igualmente, poderíamos inferir uma palavra como “mercadorias”, por exemplo.
são levandos em conta elementos de conteúdo, textuais e lingüísticos. A equipe de Tübingen baseia-se
principalmente nos trabalhos de Raibe (1992 e 2001) sobre técnicas de junção existentes em um
determinado texto e adota o método quantitativo proposto por Douglas Biber acerca da diacronia do
inglês. Durante agosto de 2005 e julho de 2006 desenvolvi um projeto de pesquisa acerca das tradições
discursivas junto ao departamento de Romanística da Universidade de Tübingen, a fim de aprimorar um
dos capítulos de minha tese de doutorado na Universidade de São Paulo.

Em trabalhos anteriores (Simões, 2004; Simões & Kewitz 2005a e Simões & Kewitz 2005b) e em minha
tese de doutoramento (em andamento) discuti a importância de levar-se em conta a especificidade dos
gêneros textuais como elemento primordial para a análise de fenômenos lingüísticos vistos pelo prisma
dos diferentes subsistemas da língua. Estudei a variação diacrônica das construções gerundiais com valor
adverbial no Português Brasileiro através da análise multimensional de fatores sintáticos, semânticos e
discursivos envolvendo a variação no uso de orações subordinadas conjuncionais adverbiais em oposição
às suas correspondentes reduzidas de gerúndio. Notei que determinadas escolhas sintáticas e semânticas
estão relacionadas a necessidades pragmáticas específicas dos usuários da língua. Foram utilizados três
gêneros textuais distintos para verificar em que medida as questões relacionadas às tradições discursivas e
à historicidade dos textos pode influenciar a produção dos enunciados: a) memórias históricas, b) cartas
oficiais e particulares, c) diálogos sob forma de texto teatral (séc. XVIII e XIX) e conversações gravadas
(séc. XX). Resumidamente, observei que determinados usos de orações reduzidas de gerúndios estão
condicionados a determinadas demandas discursivas dos usuários, portanto, em muitas cartas, os
preâmbulos, os exórdios são o contexto preferido para o uso de gerundivas, enquanto que na fala essas
mesmas estruturas aparecem como lexicalizações de valor modal hedge, ou seja, como anteposições de
subordinadas que indicam o ponto a partir do qual o enunciado da oração matrix deve ser entendido pelo
ouvinte.

Para dar continuidade a esses trabalhos anteriores e em sintonia com a escola de Tübingen pretendo
identificar o grau de agregação dessas estruturas, tantos das formas conjuncionais, como das formas
reduzidas de gerúndios, aliando a isso a coleta de enunciados com outras formas de junção, tais como
determinados usos de e, que e cujo e “cascatas” de reduzidas de gerúndio que indicam um grau menor de
conexidade sintática. Nos estudos anteriormente citados apontei a necessidade de se investigar qual o
estatuto sintático das estruturas tradicionalmente consideradas como de coordenação e subordinação.

1.2.9. Formação e expansão do português paulista ao longo do Rio Tietê até Mato
Grosso a partir do séc. XVI. Coordenador: Manoel Mourivaldo Santiago.
Pesquisadores associados: Elis de Almeida Cardoso Caretta

Este subprojeto objetiva coletar e analisar aspectos lingüísticos (nos níveis fonológico, morfossintático e
lexical) históricos e socioculturais que serviram de base na formação e expansão da variedade lingüística
nascida em núcleos familiares paulistas ainda nos séculos XVI e XVII. Desta variedade surgiu o chamado
dialeto caipira que, a partir do século XVIII, se expandiu para o território mato-grossense e todo o centro-
oeste do Brasil, tendo como caminho as águas do Tietê, dentre outras vias fluviais e terrestres. Para tanto,
serão examinados materiais escritos e orais, a princípio, em sete regiões paulistas que têm sua origem
datada no período histórico eleito (do século XVI ao XIX).

Esta análise lingüística, como se vê, será fundamentada, principalmente, em aspectos sociohistóricos das
comunidades. Neste particular, comunga-se com a posição de Hymes (1993:431), que, ao comentar
ensaios cujo foco principal é a história social da linguagem, se coloca na condição de lingüista
trabalhando em antropologia, esperando que a interdisciplinaridade seja uma preocupação efetiva em
qualquer estudo das ciências humanas, pois acredita que – sem a contribuição que a história social pode
dar – lingüistas, antropólogos, sociólogos e outros que desconsiderarem a interdisciplinaridade em suas
investigações podem fazer suposições que não são verdadeiras e se espantar com muitos fatos que não são
novos.

Por essa via, reforça-se a necessária importância dos elementos da história social, política, cultural, com
destaque para os estratos étnicos e lingüísticos que serviram de alicerce na formação e expansão da
variante lingüística dos habitantes dessa região que beira o Tietê.

Como descreve Holanda (1990) em Monções, dentre outros que tratam do assunto, as águas do Tietê
foram utilizadas pelos monçoeiros paulistas, no século XVIII, como principal caminho de acesso para o
centro-oeste brasileiro à cata das aldeias indígenas (minas de escravos) e, depois, às minas auríferas da
referida região.

Em 1718 Antônio Pires de Campos, à caça dos índios Coxiponé e tentando chegar a Serra dos Martírios,
onde se acreditava existir pedras preciosas em abundância, atingiu o rio Coxipó, no Mato Grosso, um dos
afluentes do rio Cuiabá. No ano seguinte, em 1719, Pascoal Moreira Cabral e seus comandados também
chegaram à mesma região do rio Coxipó, onde encontraram ouro. Moreira Cabral não tardou em lavrar
uma ata de fundação da atual cidade de Cuiabá para garantir o direito de posse. Em 1722, o sorocabano
Miguel Sutil, por intermédio dos índios, descobriu outra mina próximo à encontrada por Moreira Cabral.

A partir de então essas terras foram consideradas importantes, e de todos os recantos do Brasil, mormente
de São Paulo, partiram rumo ao Cuyabá gente de toda sorte e etnia, principalmente os hoje chamados
caipiras paulistas que se organizavam em bandos imensos de mamelucos e, por meses e até anos, se
deslocavam rumo ao oeste, remando as canoas das monções, metendo-se pelos sertões interiores com suas
famílias, servidos por muitos índios já escravizados, caçando outros nativos para a mesma finalidade e,
naturalmente, expandindo o território da Colônia.

Para este subprojeto interessam as comunidades surgidas no itinerário desses paulistas, no território de
São Paulo, ou no caminho fluvial navegado ao longo do rio Anhembi, ou Tietê. Nelas, pelos olhos da
história social, serão examinadas as bases humana e sociocultural que serviram de ingredientes na
formação e expansão da variante lingüística nesse pedaço de São Paulo repercutida em terras mato-
grossenses (Santiago-Almeida, 2005).

Os resultados dessa pesquisa certamente trarão à tona a discussão sobre o chamado por Cunha (1986:203)
estado de “imobilismo cultural” que, depois do ciclo da mineração, pode ter ocorrido na região por se
manter, de certa forma, insulada ou distante das regiões urbanas mais desenvolvidas, como a Capital. Isso
favoreceria um estado de maior resistência à mudança lingüística, dado o fato dessa resistência está
atrelada à, também, conservação de costumes, manifestações culturais e religiosas ou do modus vivendi
experimentado pelos nossos ancestrais setecentistas.

As sete regiões paulistas eleitas são: Capivari, Itu/Salto, Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus, Porto Feliz,
Santana de Parnaíba e Sorocaba.

1.2.10. Diacronia dos processos constitutivos do texto. Coordenadora: Dra. Clélia


Cândida Abreu Spinardi Jubran. Pesquisadores associados: (1) Subgrupo para o
estudo da paráfrase, repetição, correção, parentetização e metadiscursividade: José
Gaston Hilgert, Jacqueline Costa Sanches Vignoli, Valéria Vendrame, Anita Lima
Simões; (2) Subgrupo para o estudo das preposições, conjunções, articuladores
textuais, marcadores discursivos: Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi, Alessandra
Regina Guerra, Cássio Florêncio Rúbio, Lúcia Regiane Lopes, Edson Rosa
Francisco de Souza, Eduardo Penhavel.

Este projeto visa a (1) Proceder a uma análise, na perspectiva textual-interativa, de processos de
construção do texto, em corpora lingüísticos dos séculos XIX e XX, para verificar se nesse período eles se
realizam ou não com as mesmas propriedades formais e funcionais descritas no vol. I da Gramática do
Português Culto Falado no Brasil, organizado pela pesquisadora principal e por Ingedore Grunfel Villaça
Koch. (2) Especificamente, verificar: (i) se o processamento de repetições, correções, paráfrases e
parênteses sofreu alterações ou se se manteve estável de um século para outro; (ii) se as funções textuais-
interativas desses processos de construção textual diversificam-se em ambos os períodos, tendo em vista
as possíveis mudanças das contingências de produção dos textos em cada século. (3) Analisar
preposições, conjunções e verbos enquanto instanciadores dos referidos processos de construção textual e
articuladores na organização tópica do texto, em conjunto com os subprojetos “Mudança linguística
multissistêmica das preposições, no português de São Paulo (séculos XIX-XX)” e “Sintaticização,
semanticização e discursivização de estruturas hipotáticas e para-hipotáticas do Português Brasileiro”. O
objetivo dessa análise é o de avaliar, no período dos dois séculos, (i) estabilidade ou mudança das classes
gramaticais mencionadas, (ii) alterações ou não dos traços discursivos dessas classes, (iii) alterações ou
não dos agrupamentos de categorias do Discurso, do Léxico, da Semântica e da Gramática nas
ocorrências dessas classes.

As pesquisas compreendidas neste subprojeto fundamentam-se na perspectiva textual-interativa, cujos


princípios foram explicitados na seção 3.4. De acordo com o que foi dito nessa secção, a investigação dos
corpora lingüísticos dos séculos XIX e XX será feita com base na categoria analítica de tópico discursivo,
para o recorte de unidades de análise de estatuto textual – os segmentos tópicos.

Uma vez delimitados os segmentos tópicos, será feito o levantamento da ocorrência dos processos de
construção textual (repetições, correções, paráfrases, parênteses e metadiscurso) no interior desses
segmentos, para análise das suas propriedades formais e das funções textuais-interativas que exercem na
instauração da centração tópica.

Sobre as repetições, serão observados os seguintes dados: a) a iniciativa de sua produção (auto e hétero-
repetições), no caso de corpus falado; b) a sua distribuição na linearidade textual (repetições adjacentes à
matriz ou distantes dela); c) a categoria lingüística do elemento repetido (repetições de itens gramaticais,
de itens lexicais, de sintagmas e de construções oracionais); d) os aspectos funcionais da repetição no
plano da organização tópica dos textos (introdução, condução, finalização de tópico, com efeitos
coesivos) e na interatividade (intensificação de um referente com vistas à compreensão ou à reafirmação,
contraste ou contestação de argumentos); e) a correlação entre os aspectos funcionais das repetições e os
dados verificados em (a), (b) e (c).

Sobre as correções, serão verificados: a) seu esquema de realização (ocorrência de marcas de correção,
como uso de marcador discursivo instanciador da correção); b) a iniciativa de sua produção (auto ou
hétero-correção), em textos falados; c) tipos de “erros” corrigidos (nos planos fonético, morfossintático,
lexical); d) funções cognitivo-informacionais e pragmáticas.

Sobre as paráfrases, serão vistos: a) seu esquema de realização (marcas de parafraseamento); b) a


iniciativa de sua produção (auto ou hétero-paráfrase), no caso de textos falados; c) a sua distribuição na
materialidade do texto (paráfrases adjacentes ou não à matriz); d) movimentos semânticos entre matriz e
paráfrase (decomposição ou recomposição semânticas); e) sua formulação sintático-lexical (configurando
paráfrases expansivas, redutoras ou simétricas); f) as funções textual-interativas; g) relações entre os
movimentos semânticos da matriz para a paráfrase, a formulação sintático-lexical e os aspectos funcionais
do parafraseamento.

Sobre os parênteses, serão examinados: a) seu esquema de realização (desvio tópico e marcas formais de
parentetização, como ausência de conectores entre o parêntese e seu contexto, fatos prosódicos em textos
falados, sinais de vária natureza de interrupção momentânea e reintrodução do tópico suspenso pela
inserção parentética); b) fronteiras de ocorrência (entre constituintes de frase, no limite entre duas
unidades frasais, em segmentos textuais com estruturas anacolúticas e entre a primeira e a segunda parte
de pares adjacentes ocorrentes em textos falados); c) constituição formal dos parênteses (marcadores
discursivos, sintagmas nominais, frases simples, frases complexas ou mesmo pares adjacentes em texto
falado); d) classes funcionais (conforme o foco do parêntese recaia na elaboração tópica do texto, no
locutor, no interlocutor ou no processamento do ato comunicativo).

Sobre referenciação metadiscursiva, serão focalizadas as seguintes modalidades de metadiscurso: a)


referências à elaboração do texto, no que diz respeito à sua formulação lingüística; b) referências à
estruturação tópica do texto, em termos de montagem e progressão textual; c) referências às instâncias co-
produtoras do texto (falante/escritor e ouvinte/leitor), que se marcam na superfície textual para o
estabelecimento das condições dialógicas que asseguraram o intercâmbio verbal.

A descrição das propriedades formais e das funções textuais-interativas dos processos constitutivos do
texto, acima referidos, será feita separadamente nos corpora dos séculos XIX e XX, para posterior
comparação dos resultados, a fim de verificar se, diacronicamente, houve alterações no processamento
formal e funcional de repetições, correções, paráfrases, parênteses e metadiscurso.

Complementarmente a essa descrição, será feita uma pesquisa sobre o funcionamento discursivo de
preposições, conjunções e verbo na realização dos processos acima e na organização tópica dos textos,
como articuladores intra e inter-tópicos na indicação da coesão textual e como sinalizadores de figura-
fundo ou de relações interativas. Para a observação dos traços discursivos assumidos por essas classes de
palavras na organicidade textual, será feita a análise da estruturação tópica dos textos do corpus, nos
planos hierárquico e linear, conforme foi exposto na secção 3.6. Essa análise será conjunta com a dos
subprojetos “Mudança linguística multissistêmica das preposições, no português de São Paulo (séculos
XIX-XX)” e “Sintaticização, semanticização e discursivização de estruturas hipotáticas e para-hipotáticas
do Português Brasileiro”.

1.2.11. Tradições discursivas: constituição e mudança dos gêneros discursivos


numa perspectiva diacrônica. Coordenadora: Dra. Maria Lúcia Cunha Victório de
Oliveira Andrade (USP). Pesquisadores associados: Dras. Helena Hatsue Nagamine
Brandão (USP), Zilda Gaspar Oliveira de Aquino (USP).

Esta pesquisa tem por objetivos (1) Identificar as tradições discursivas que constituem o sistema
discursivo das práticas sociais nos séculos XIX a XXI no Estado de São Paulo; (2) Verificar a função que
tais tradições discursivas desempenham na sociedade paulista de cada época histórica; (3) Observar a
configuração das tradições discursivas nas diferentes épocas indicadas, para descrever traços
significativos de mudança; (4) Identificar os níveis em que se constituem tais traços, a partir da
observação de aspectos formais, temáticos, pragmático-funcionais; (5) Observar em que medida as
marcas de oralidade na escrita podem caracterizar cada tradição discursiva .

As pesquisas compreendidas neste subprojeto fundamentam-se na perspectiva dos estudos desenvolvidos


na Lingüística Textual Alemã relativos às Tradições Discursivas cujos princípios foram explicitados na
secção 3.6., e nos estudos sobre gêneros discursivos desenvolvidas pela Análise do Discurso, que trabalha
o embricamento do lingüístico e do histórico, visando a traçar aspectos da história social do português
paulista, capatando pela linguagem as formas textuais-enunciativas pelas quais o discurso se concretiza.

Para analisar comparativamente os gêneros discursivos produzidos ontem e os de hoje, é impossível não
levar em conta o que afirma Bakhtin (1992):

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da
atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de
gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa.

Desse modo, enquanto conjunto de traços marcados pela regularidade, pela repetição, o gênero é
“estável”, mas tal estabilidade é constantemente ameaçada e isso é provocado, segundo Brandão
(2002:16):

(...) por pontos de fuga, por forças que atuam sobre as coerções genéricas; isto é, numa relação
dinâmica determinada pela própria condição social e histórica de toda língua viva ao lado das
forças concentração que garantem a permanência de características fundamentais de um gênero
atuam também forças de expansão que vão possibilitar a variabilidade desse sistema, de um
grupo social para outro, de uma época para outra, criando novas formas de textualização e
incorporando valores culturais, políticos, econômicos , enfim a ideologia vigente.

No presente subprojeto, pretende-se, portanto, analisar as tradições discursivas presentes nos gêneros
discursivos (práticas sociais) na perspectiva diacrônica, visando resgatar sua formação e as
transformações que ocorreram ao longo dos anos (século XIX a XXI). As tradições discursivas são aqui
entendidas como técnicas e modelos historicamente convencionalizados e que permitem reconhecer os
textos como pertencentes a uma época.

A partir da noção de tradições discursivas, deverá ser comprovada a hipótese de relação entre tradições
discursivas e variação lingüística.

A pesquisa se desenvolverá tendo em vista dois planos:

a) Análise dos textos relativos ao século XIX: classificação e categorização dos anúncios, cartas pessoais,
cartas do redator, cartas do leitor, notícias, etc, pela temática veiculada; descrição do regime enunciativo
dos referidos textos por tipo de categoria; interpretação sócio-ideológico-cultural dos dados;
b) Análise comparativa dos referidos textos do século XIX com os textos atuais (séculos XX e XXI)
tendo por objetivo apreender as mudanças nas tradições discursivas ocorridas em cada gênero discursivo,
determinadas pelas circunstâncias histórico-sociais que configuram cada século.

1.2.12. Reconstrução lexical do português antigo paulista. Coordenador: Dr. Mário


Eduardo Viaro. Pesquisadores associados: Valéria Gil Condé, Zwinglio de Oliveira
Guimarães Filho.

O presente subprojeto procura entender a variação da língua falada antiga como objeto de reconstrução a
partir dos testemunhos escritos e a partir da variação sociolingüística presente hoje no mundo lusófono,
sobretudo no Brasil e, mais especificamente, no Estado de São Paulo.

São comuns observações na área fonética de que o e de pedir sofre alçamento, no entanto essa é uma
inverdade do ponto de vista histórico, uma vez que a transformação pedir > [pi’dAi] não se trata de um
fenômeno recente, muito menos localizado, pelo menos mais antigo do que a apócope do –r do infinitivo
e muito mais antigo do que a africativização do d. Como se trata de fenômeno disseminado em todo
território nacional, é preciso partir de *[pi’di] e não de [pe’di5]. No entanto, é importante localizar quais
são essas palavras, que formam um grupo extremamente irregular, pautado exclusivamente na freqüência
de uso das palavras e não em conjuntos dedutivamente formados.

O mesmo se pode aplicar à área da morfologia, sobretudo na questão das formações sufixais. Pautar-se
em uma norma ideal, em um corpus de dicionário ou em projeções da fala do outro pautadas em nossa
experiência lexical é errôneo e produz afirmações que não encontram fundamentos na história lingüística.
Procurar-se-á diminuir esse problema, criando um método eficaz de reconstrução de variantes antigas de
língua.

Como alguns procedimentos de reconstrução são necessários para entender a expansão das variantes, será
necessário partir dos seguintes pressupostos: a) o surgimento de fenômenos fonéticos de inovação podem
ser monogenéticos ou poligenéticos, à maneira dos erros significativos da edótica; b) a expansão de
normas faladas espontâneas acompanha fenômenos demográficos; c) a expansão de normas cultas é
regional e irregular e acompanha fenômenos econômicos; d) a escrita funciona como reguladora e padrão
conservador.

As línguas faladas antigas são sistemas com grande gama de variantes, como se observam na obra de Gil
Vicente, que representa os ciganos, os negros, os judeus e muitos segmentos da sociedade. Imaginar o
português antigo como um bloco uniforme é errôneo, uma vez que a monogênese não é verdadeira nem
em maior nem em menor escala. A aplicação de um sistema semelhante ao da cladística só é possível no
nível fonético ou lexical (Rexová, Frynta & Zrzavý 2003). Já haviam proposto isso autores antigos como
Vasconcellos (1928), mas há ainda muita admiração pela simplicidade das árvores genealógicas desde
que expostas por Schleicher no século XIX, árvores essas que não ajudam muito quando se quer tratar de
fenômenos isolados.

Falta um balanço de todas as obras que trataram da variação do português brasileiro: desde quando se
documenta que pa é uma variante da preposição para? Há alguma delimitação espacial para o uso de
inté? Os atlas lingüísticos, os artigos de sociolingüística e de geolingüística e os antigos tratados de
dialetologia transbordam de informações, mas onde está tudo isso sistematizado? Se não está, como obter
dados conclusivos sobre o que se reconstrói? Reunir essa informação de forma a ser facilmente acessível
é por si só um desafio, mas algo extremamente necessário.

Com base nesses pressupostos, estabelecer-se-á uma tabela de gradação para as reconstruções, à maneira
da idealizada por Jespersen (1922: 307) e reconstruções de sincronias em que apareçam as variantes de
muitas palavras-chave importantes. Privilegiar-se-ão as palavras do léxico mais básico da língua, uma vez
que a escrita, ao introduzir eruditismos, com seu caráter homogeneizador, e mais recentemente, o rádio e
a televisão, impedem que se observem de mais perto alguns dados que ficam restritos à parole (Viaro
2005). Os dados serão todos obtidos por gravações e contrastados com coletas nos testemunhos
bibliográficos e eventualmente em corpora que apresentam exemplos significativos para que datações de
fenômenos fonéticos e morfológicos sejam datados. Os informantes das gravações, embora devidamente
definidos quanto ao sexo, idade, profissão, grau de contato com os parentes, etc. não serão ideais (idosos
que vivam isolados), uma vez que o que importa é a veiculação da língua em seu propósito comunicativo
e não o grau de pureza da informação.

1.2.13. Comparações do Português Paulista com o Galego. Coordenador: Dr. Xoan


Lagares (UFF). Pesquisadores associados: Manuel Ferreiro, Xosé Ramón Freixeiro.

Este subprojeto pretende trazer para a história do português brasileiro elementos que permitam ampliar os
limites da comparação com as variedades ibéricas que influíram em sua formação.

Com o objetivo de tentar delimitar com precisão os termos da comparação, devem ser consideradas, em
primeiro lugar, algumas questões para a definição do que entendemos por galego, dado que existe uma
antiga controvérsia sobre o lugar que esta língua ocupa no espaço ibero-românico (Fernández Rei 1988).
Essa controvérsia tem causas fundamentalmente políticas, relacionadas com o fato de os seus falantes
pertencerem a um estado europeu, o espanhol, que consolidou como língua nacional o castelhano,
imposto como "língua teto" (Muljačič 1999) para os falantes das outras línguas e variedades que existem
dentro das mesmas fronteiras políticas. Isto é, as dúvidas e indecisões sobre o lugar que o galego ocupa
entre as línguas românicas estão estreitamente relacionadas com a história política de seus falantes, e
adquiriram especial relevância com o processo de elaboração de sua norma culta. Um processo que
começou no século XIX, na mão de escritores e historiadores, continuou no início do século XX, quando
a quaestione della lingua adquiriu uma dimensão inequivocamente política, sendo tomada como bandeira
do movimento de reivindicação nacional, e se consolidou no final do século passado, com a aprovação de
uma "norma ortográfica e morfológica" para a língua galega, após a restauração democrática e o início da
autonomia político-administrativa da Galiza dentro do Estado Espanhol (sobre a influência da "norma
oficial" nos usos e na consciência dos falantes e a construção de um modelo de língua pode-se ver
Kabatek 2000).

A controvérsia sobre a relação entre galego e português envolve a própria noção de identidade lingüística.
Assim, enquanto alguns lingüistas na Galiza trabalham na construção do que acreditam ser uma língua
independente, elevando à categoria de norma as variantes diferenciais do galego a respeito do português,
outros preferem considerar galego e português variedades de uma mesma língua histórica e, em
conseqüência, elaborar uma norma culta que "reintegre" as falas galegas no sistema comum. Há mesmo
quem, reconhecendo as conseqüências históricas da elaboração de uma língua nacional no reino de
Portugal, prefira enquadrar as falas galegas na denominação "português da Galiza". Essas opções políticas
influem notavelmente na perspectiva histórica que os diferentes autores assumem a respeito da língua. E
isso não é novo. Do nosso ponto de vista, a idéia de língua nacional, que interferiu ou influenciou a noção
de língua relativamente homogênea e estável construída pelo estruturalismo, e que não foi contestada pela
noção de Língua Externa enquanto generalidade proposta por Chomsky (Ligthfoot 1999), vem turvando a
nossa visão da realidade lingüística em momentos históricos pretéritos e mesmo a relação entre
variedades lingüísticas atuais.

Na realidade, o território em que se forma o romance galego-português corresponde à província romana


da Gallaecia, que abrangia unidades administrativas romanas anteriores, denominadas conventus
bracarensis, lucensis, asturicensis e cluniensis, constituída no fim do século III, durante o mandato do
imperador Diocleciano, sobre uma base étnica indígena que apresentava já uma relativa unidade cultural
(Baldinger 1963). A sua situação periférica, no extremo mais ocidental do mundo conhecido, no Finis
Terrae, permitiu que se mantivesse lingüisticamente distante das inovações que emanavam de Roma.
Posteriormente, o domínio suevo e as conseqüências que as invasões árabes a partir do século VIII
tiveram sobre a reestruturação dos reinos peninsulares fizeram com que se acentuasse a autonomia
cultural e lingüística do território que compreendia a Galiza e o norte de Portugal (Teyssier 1989).

No entanto, a lingüística românica, embora reconheça essa relativa unidade cultural do Noroeste da
Península Ibérica, vem preferindo considerar como critérios de classificação as fronteiras políticas
constituídas historicamente. Lausberg, por exemplo, explica da seguinte maneira o processo de
propagação do português, levado ao sul durante a Idade Média nas guerras de conquista e ocupação de
territórios que estavam sob domínio muçulmano:

A marca fronteiriça galega do sul, junto à foz do Douro, que no ano de 1095 se tornou
independente como condado (reino desde 1139) de Portugal, tinha levado já em meados do séc.
XIII a reconquista até à fronteira meridional de Portugal de hoje, e propagou por esses territórios
o dialecto fronteiriço galego, que na Idade Média foi usado na lírica também no domínio
castelhano.

A língua da Idade Média chama-se português arcaico (imitação da poesia trovadoresca


provençal, século XIII-XIV) (Lausberg 1981, 36).

A citação faz parte de uma epígrafe em que o português aparece listado como uma das línguas românicas
atuais, definida pelo autor como "a língua literária de Portugal, das suas possessões e do Brasil". Mas na
classificação de Lausberg essa variedade lingüística recebe o nome de "português arcaico", embora seja o
"dialeto fronteiriço galego" o que se estenda pelo sul. Essa duplicidade terminológica, que se resolve em
favor do nome da língua nacional, deriva da impossibilidade de se encaixar nos estreitos limites da
fronteira política atual o processo de formação da língua. Sendo assim, o "dialeto galego" transformar-se-
ia em "língua portuguesa" a partir de um fato político: a constituição do reino de Portugal em 1139. Sobre
o "dialeto da Galiza", Lausberg diz apenas que "pertence hoje ao domínio da língua escrita espanhola".

Parece que se deve a lingüistas alemães a denominação composta "galego-português" para a língua
formada a partir do latim vulgar falado no Noroeste da Península Ibérica. Para alguns autores, essa
denominação designaria apenas a variedade de língua usada pelos trovadores da lírica medieval, servindo
para nomear o idioma em que foram compostos os cancioneiros. Segundo Coseriu (1987, 132), todavia,
"a pesar de que durante siglos no ha habido contactos efectivos, el gallego y el portugués siguen
perteneciendo al mismo conjunto, al mismo continuum lingüístico. La separación puede, sin duda,
establecerse en el plano de la lengua común (que para el gallego, en parte, se está todavía elaborando),
pero no a nivel popular o dialectal, de suerte que, para la lingüística histórica, sigue teniendo plena
vigencia la denominación compuesta "gallego-portugués".

Para o conhecimento dessa língua medieval comum a um território hoje dividido entre dois estados
políticos é extremamente esclarecedor o trabalho de Clarinda de Azevedo Maia, que em 1989 publicou a
edição e descrição lingüística de documentos notariais da Galiza e do Noroeste de Portugal, redigidos
entre o séc. XIII e o séc. XVI. Segundo Maia,

parece não poder contestar-se a existência, durante o período medieval, sobretudo durante os
séculos XIII e XIV, de uma comunidade linguística, de uma unidade linguística fundamental, em
toda a vasta zona do Noroeste peninsular que se estendia desde o Douro até ao mar Cantábrico.
Isso não exclui, evidentemente, a existência de variações não só de natureza diatópica –entre as
duas áreas situadas a norte e a sul do Minho, assim como no interior de cada uma das regiões–,
como de carácter diastrático, umas e outras, aliás, inevitáveis em qualquer língua. De facto,
qualquer comunidade linguística mais ou menos extensa se caracteriza por uma variabilidade
idiomática mais ou menos acentuada, quer de tipo geográfico, quer de carácter sócio-cultural; o
que parece, porém, não ser real é a existência de uma comunidade sem variação (Maia 1986:
891).

Confrontados os textos galegos e portugueses desse período, a autora assinala algumas tendências que
dominam, do ponto de vista fonético e morfológico, os documentos da Galiza: (1) Polimorfismo. Apesar
de a variação lingüística caracterizar todos os textos medievais, verifica-se em documentos da área galega
uma maior presença de variantes, sendo que algumas são comuns a todo o território galego-português e
outras estão restritas aos textos da Galiza. Para Maia essa “instabilidade” manifesta-se ao longo de toda a
história do galego, até a atualidade. (2) Arcaísmo. Decorrente em parte do anterior, os documentos da
Galiza, por oposição ao que acontece na zona portuguesa, apresentam um maior número de arcaísmos,
dado que os amanuenses portugueses não utilizam muitas das variantes que correspondem a fases mais
antigas. Nesse sentido, Maia (1986: 894) afirma poder admitir-se “que a sul do Minho, algumas formas
evitadas na linguagem notarial continuavam a ser usadas na linguagem falada correspondente aos níveis
sociolinguísticos mais baixos”. (3) Influência castelhana. A presença de soluções fonéticas, de formas
morfológicas e de léxico castelhano é esporádica e pouco significativa durante os séculos XIII e XIV e
mais intensa nos séculos XV e XVI. De fato, se bem Alfonso X obrigava já no século XIII os seus súditos
a utilizarem o castelhano na relação com a corte, a introdução desta língua na documentação interna da
Galiza acontece como conseqüência da crise política provocada pela luta dinástica entre Pedro I e
Henrique II durante o século XIV. O fracasso da nobreza galega, que apoiou o candidato derrotado,
favoreceu o estabelecimento de uma nova aristocracia de origem castelhana na Galiza. Posteriormente,
durante o reinado dos Reis Católicos (1474-1516), uma série de medidas centralizadoras são
implementadas, produzindo o que o próprio cronista dos reis denominaria “doma y castración del Reino
de Galicia”.

Interessam-nos para efeitos de comparação com o Português Popular Brasileiro entender o alcance das
duas primeiras características que Maia identifica nos textos notariais galegos, o polimorfismo e o
arcaísmo. Para entendermos essa diferença entre textos galegos e portugueses deveremos prestar atenção
às condições sociais da sua produção. Talvez, nesse sentido, a maior homogeneidade dos textos
portugueses seja conseqüência da existência de uma certa política lingüística uniformizadora que vinha
sendo implementada no reino de Portugal desde a sua independência. Em 1255, por exemplo, o rei de
Portugal D. Afonso III impõe a todos os tabeliões da sua Chancelaria o uso das grafias provençais -nh- e -
lh- para os fonemas palatais nasal e lateral, respectivamente. Nos textos notariais portugueses nesse
período o número de grafemas complexos para representar esses fonemas inexistentes no latim é muito
menor que na Galiza, onde nenhuma autoridade possui o poder necessário para realizar esse tipo de
imposições. Nesse sentido, a maior variação (não apenas gráfica) dos textos galegos pode se dever à
ausência de qualquer força uniformizadora.

É claro que a situação do galego-português ao norte e ao sul do rio Minho, que passa a ser fronteira
"natural" com a formação do reino de Portugal, é muito diferente no começo da Idade Moderna. Enquanto
o galego meridional (denominado "português" ao se converter no veículo de comunicação de um reino
independente) se viu submetido já desde o século XVI a um processo gradual de gramatização, de
construção de uma norma escrita, com a redação das primeiras gramáticas e dos primeiros dicionários, o
idioma falado no território da Galiza ficou à margem destas transformações. Neste sentido, já em 1606
Duarte Nunes de Leão na sua Origem da Língua Portuguesa defendia a elegância do português frente ao
galego, baseando-se no fato de em Portugal "haver reis e corte, que é a oficina onde os vocábulos se
forjam e pulem e donde manam para os outros homens" (Leão 1983: 220). Inicia-se ademais na Galiza
um conflito lingüístico causado pela imposição do idioma do Estado, o castelhano, que nesse momento
começa a se constituir em "espanhol" (Mariño 1998 / Monteagudo 1999).

No século XVI, acompanhando o processo de transformação dos reinos medievais em monarquias


absolutas, inicia-se a padronização e promoção das variedades prestigiadas das línguas européias. Nesse
sentido, a afirmação de Duarte Nunes de Leão exprime não apenas um desejo, o de que a língua do reino
tenha nascido "necessariamente" na corte, no berço da soberania real, mas também, em parte, uma
realidade, o fato de as variedades prestigiadas se oferecerem socialmente como modelos de língua que
"manam para os outros homens". A descrição gramatical e a escrita constroem uma imagem coesa e
uniforme do português, onde se tenta apagar a variação. Um processo que em Portugal não deixa de ser
também conflituoso, devido à presença do castelhano como língua de prestígio na corte de Lisboa e à
constante ameaça de adesão do reino vizinho. Essa ameaça, que se materializa em 1580, com a morte sem
descendência de D. Sebastião e a subsequente unificação ibérica, está presente na consciência dos
primeiros gramáticos portugueses, que elaboram o modelo de língua para ser utilizada na administração
do reino tendo como referente negativo variantes morfológicas e lexicais (galego-)portuguesas comuns
com o castelhano (Corredoira 1998). Nesse momento o galego é percebido em Portugal como uma
espécie de português deturpado ou, como diz uma personagem da Romagem dos Agravados de Gil
Vicente, como um “falar emburilhado”. A esse respeito Mariani afirma o seguinte:

No século XVI, a língua portuguesa que atravessa o Atlântico se encontra, paulatinamente, tendo
sua norma escrita organizada pelas gramáticas de Fernão de Oliveira e João de Barros, está
apresentando um funcionamento jurídico-administrativo que legitima a realeza, é louvada pela
literatura, usada nas traduções e já começa a ser ensinada. Quando falo em “a língua
portuguesa”, refiro-me não às diferentes práticas lingüísticas presentes no território português,
mas à imagem constitutiva dessa língua como uma unidade imaginária (frente á diversidade
dialetal), ou seja, como um dos componentes idealizadores da formação histórica de Portugal
enquanto nação. É uma imagem ancorada em uma tradição lingüística gramatizada e em uma
memória lingüística de diferenciação da língua portuguesa frente ao galego e, ao mesmo tempo,
de nobre filiação ao latim (Mariani 2004: 26).

Segundo Moraes de Castilho (2001), do ponto de vista da hipótese internalista o PPB, e por extensão o
PPSP, seria uma continuação da segunda fase do português medieval, isto é, do português quatrocentista.
Com isto, parece oportuno considerar os textos galegos desse período como elementos de comparação. A
maior variação refletida nos testemunhos galegos talvez introduza características da língua popular que
foram apagadas pelos documentos portugueses. Do mesmo modo, a distância dos centros locais de poder
no Brasil a respeito da centralizadora corte lisboeta faz com que as principais inovações lingüísticas que
se produzem no português quinhentista europeu tenham uma influência pequena nas variedades
brasileiras. Esta parte do subprojeto deverá desenvolver-se em estreito diálogo com as demais iniciativas
do PHPP que têm como objeto de sua pesquisa a história social do Português de São Paulo.

Nesse sentido, será considerada a hipótese de podermos encontrar características fonéticas, morfológicas,
sintáticas e lexicais comuns com as dos textos galegos medievais e dos séculos posteriores em
documentos brasileiros dos séculos XVI e XVII, produto da emergência de uma língua popular
relacionada historicamente com as falas galegas. Possivelmente, algumas dessas características não se
encontram em textos portugueses da mesma época como resultado de um certo processo de regulação
lingüística, de construção de uma norma escrita, que estaria acontecendo nesse período em Portugal e que
só mais tarde, por volta do século XVIII, chegaria no Brasil, com a efetiva imposição do português como
língua administrativa, após a promulgação do Diretório dos Índios, no ano de 1755. O teste das hipóteses
aqui levantadas poderá ser realizado apenas se considerarmos as características discursivas e o contexto
sociolingüístico dos diferentes textos analisados.

Entendemos, portanto, os termos que submetemos a comparação neste subprojeto como variedades de um
mesmo sistema histórico, o galego-português, explicando assim o fato de podermos encontrar traços
comuns entre o Galego e o Português Popular do Brasil. O termo da comparação não poderá ser
exclusivamente a atual norma culta do galego (que, como dissemos, segue um ideal "isolacionista" ou
"autonomista"), nem o galego literário que se foi formando durante os séculos XIX e XX. Deverão se
privilegiar os textos medievais redigidos no território galego, os escassos testemunhos escritos com que
contamos desde o século XVI ao séc. XVIII e os corpora dos falares rurais atualmente disponíveis.

2. ATIVIDADES DA EQUIPE DO PROJETO DE HISTÓRIA DO


PORTUGUÊS PAULISTA

2.1. PESQUISADORES AFILIADOS

Em agosto de 2007 a equipe contava com 64 pesquisadores, afiliados às três


universidades oficiais paulistas e à UFF:

1. Adriana Gazolla (mestranda, USP)


2. Adriana Santos Batista (IC-Fapesp, USP)
3. Alessandra Regina Guerra (mestranda, Unesp / São José do Rio Preto)
4. Alessandra Castilho F. Costa (pós-doutoranda, USP)
5. Ana Regina Calindro (mestranda, USP)
6. Anita Lima Simões (mestranda, Unesp / São José do Rio Preto)
7. Ângela C. S. Rodrigues (USP)
8. Ataliba T. de Castilho (USP)
9. Beatriz Del Grossi Ferreira (IC-Fapesp, USP)
10. Caroline Calderon Rezagli (mestranda, USP)
11. Cássio Florêncio Rúbio (mestrando, Unesp / São José do Rio Preto)
12. Célia Maria Moraes de Castilho (pós-doutoranda USP)
13. Celso Kobashi (doutorando, USP)
14. Clélia C. S. Jubran (Unesp / São José do Rio Preto)
15. Cristina Lopomo Defendi (CEFET-SP)
16. Deize C. Pereira (doutoranda, USP)
17. Eduardo Baptista de Godoy (mestrando, USP)
18. Eduardo Penhavel (doutorando, Unicamp)
19. Edson Rosa Francisco de Souza (doutorando, Unicamp)
20. Elaine Cristina Silva Santos (mestranda - USP)
21. Elisângela Baptista de Godoy Sartin (mestranda - USP)
22. Gabriela Braga de Jesus Santos (IC-PRG, USP)
23. Helena Nagamine Brandão (USP)
24. Henrique Braga (mestrando, USP)
25. Jacqueline Costa Sanches Vignoli (mestranda – Unesp / São José do Rio Preto)
26. Jaqueline Massagardi Mendes (doutoranda, USP)
27. José Gaston Hilgert (Mackenzie)
28. José da Silva Simões (Doutor, USP)
29. Juanito Avelar (Unicamp)
30. Juliana Bertucci Barbosa (doutoranda, Unesp / Araraquara)
31. Kelly Viviane Bernardo (mestranda - USP)
32. Letícia Cordeiro de Oliveira Bueno (IC, Unesp / Araraquara)
33. Lídia Spaziani (mestranda, USP)
34. Luana Muniche de Oliveira (IC, Unesp / Araraquara)
35. Lúcia Regiane Lopes (Mestra, Unesp / São José do Rio Preto)
36. Luciana O. Terra (mestranda, USP)
37. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP)
38. Marcelo Módolo (USP)
39. Maria Aparecida Torres Morais (USP)
40. Maria Célia Lima-Hernandes (USP)
41. Maria Lúcia C. V.O. Andrade (USP)
42. Mário Eduardo Viaro (USP)
43. Marilza de Oliveira (USP)
44. Marymárcia Guedes (Unesp / Araraquara)
45. Nanci Romero (CEFET-SP)
46. Paulo Henrique de Oliveira Barroso (mestrando, USP)
47. Paulo Roberto Gonçalves Segundo (mestrando, USP)
48. Pierre Augusto Rafael (IC-Fapesp, USP)
49. Priscilla Nugueira (IC-CNPq, USP)
50. Raquel Marconces Nogueira (mestranda, USP)
51. Renata Barbosa Vicente (mestranda, USP)
52. Rodrigo Haro (IC, USP)
53. Rosane Berlinck (Unesp / Araraquara)
54. Sabrina Rodrigues Garcia Balsalobre (Unesp / Araraquara)
55. Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi (Doutora, Unesp / São José do Rio Preto)
56. Sônia L. Cyrino (Unicamp)
57. Talita de Cássia Marine (doutoranda, Unesp / Araraquara)
58. Tânia Alkmim (Unicamp)
59. Tércio Polli (doutorando, USP)
60. Valéria Vendrame (doutoranda, Unesp / São José do Rio Preto)
61. Vandersi Santana Castro (Unicamp)
62. Verena Kewiz (Doutora, USP)
63. Zilda Aquino (USP)
64. Xoan Lagares (UFF)

2.2. SEMINÁRIOS DE TRABALHO

Uma série de reuniões de trabalho e de seminários preparatórios foram


realizados, tendo em vista a configuração do atual projeto.

Deve-se destacar a reunião de 16 de novembro de 2005, convocada pelo


coordenador da equipe paulista do PHPB, na qual se decidiu apresentar à FAPESP, sob
a forma de projeto temático de equipe, uma vasta programação de atividades que
focalizassem questões vitais para a história da variedade paulista do Português
Brasileiro, para além das “tarefas” que são habitualmente concertadas nos seminários
nacionais do PHPB.

Ao longo do ano de 2006, foram realizadas três seminários de preparação deste


projeto, anteriormente à vigência do processo FAPESP de que trata este relatório. Todos
os participantes receberam um relatório completo do que se ia decidindo. Segue-se um
resumo das decisões, que seriam posteriormente incorporadas ao projeto encaminhado à
FAPESP.
I Seminário do Projeto Caipira, São Paulo, 6 a 7 de abril de 2006.

Realizado sob a coordenação da Profa. Dra. Marilza de Oliveira, foram


debatidos e aprovados os seguintes tópicos: (1) articulação teórica do projeto, (2)
orçamento geral, (3) apresentação dos seguintes subprojetos por seus coordenadores:

ƒ Carlos de Almeida Prado Bacellar - Demografia histórica de São Paulo.

ƒ Ângela Rodrigues e Manoel Mourivaldo Santiago Almeida: O Português Brasileiro de São


Paulo: gênese e expansão da variedade popular.

ƒ Marilza de Oliveira e Maria Célia Lima-Hernandes - O Português Brasileiro de São Paulo: a


variedade culta.

ƒ Maria Aparecida C.T. Morais e Sônia Cyrino - O Português Brasileiro de São Paulo e a teoria
gerativista de mudança gramatical.

ƒ Maria Lúcia C.V.O. Andrade - O Português Brasileiro de São Paulo e o estudo diacrônico da
formação e transformação dos dos gêneros discursivos.

ƒ Clélia C. S. Jubran – O Português Brasileiro de São Paulo e a diacronia dos processos


constitutivos do texto.

ƒ Mário Viaro - O Português Brasileiro de São Paulo e o estudo diacrônico do Léxico.

ƒ Marcelo Módolo – O Português Brasileiro de São Paulo e a mudança semântica.

ƒ Xoan Lagares - Comparando o Português Brasileiro de São Paulo com o Galego.

II Seminário, São Paulo, 30 de maio de 2006.

Realizado sob a coordenação de Ataliba T. de Castilho, foram apresentados e


discutidos os subprojetos restantes:

ƒ Célia Maria Moraes de Castilho – Seria o português popular quatrocentista a base do português
caipira? Mudança gramatical e sócio-história do português de São Vicente e São Paulo nos
séculos XVI e XVII.

ƒ José da Silva Simões - Sintaticização, semanticização e discursivização de estruturas


hipotáticas e para-hipotáticas do Português Brasileiro.
ƒ Ataliba T. de Castilho – A abordagem da língua como um sistema complexo. Novas tendências
da Lingüística Histórica.

Outras decisões foram tomadas para a finalização do projeto a enviar à FAPESP, em sua quarta
versão, desde que as primeiras idéias foram apresentadas em novembro de 2005.

III Seminário, São Paulo, 11 de setembro de 2006.

Realizado sob a coordenação de José Simões da Silva, que apresentou uma longa exposição
sobre Tradições Discursivas e a organização de um corpus diacrônico, como resultado das leituras que
fez em Tübingen, por ocasião de um doutorado-sanduíche patrocinado pela CAPES.

Estabelecendo o fio condutor que liga o que tem sido denominado “tradição discursiva”, Simões
mostrou que a idéia ascende a Wilhelm von Humboldt, quando teorizou sobre a língua como enérgeia
(“força em ação, atividade”, em grego), e a língua como érgon (“obra, trabalho acabado”), lá pelos idos
de 1836. A partir daqui, essas idéias foram elaboradas por Eugenio Coseriu, em escritos publicados após
1955, quando esse professor lecionava ainda em Montevidéu. Coseriu teve como sucessora na cátedra de
Romanística da Universidade de Tübingen a Professora Brigitte Schlieben Lange, que enquadrou tudo no
ramo da Pragmática Histórica. Vieram depois os textos de Peter Koch, Wulf Oesterreicher e Johannes
Kabatek. Uma coletânea desses textos foi distribuída aos presentes à exposição. Peter Koch, que é
italianista, definiu as TDs como um conjunto de decisões tomadas quando se transpõe para a modalidade
escrita o que era antes uma língua apenas falada. Nesse sentido, TD é o mesmo que “escrituralização”, o
mesmo que “modos tradicionais de escrever as coisas”. Com isso, pode-se entender a TD como um
processo, de que resultam os gêneros discursivos, como seu produto. As TDs representam uma espécie de
motor “ante factum” dos gêneros discursivos. O mesmo Peter Koch afirma que certas TDs podem dar
origem a outras. Por exemplo, o avviso do italiano medieval desdobrou-se nas notícias e nos romances
epistolares.

Posteriormente à assinatura do contrato com a FAPESP, novos seminários de pesquisa foram


realizados neste ano de 2007, envolvendo o conjunto dos pesquisadores, coordenados seja por alguns
consultores do Projeto, seja por especialistas de renome internacional, cujas atividades têm interesse para
o desenvolvimento deste projeto temático de equipe.

IV Seminário do Projeto de História do Português Paulista (Projeto Caipira)


São Paulo, 19 a 23 de março de 2007

Coordenador: Ataliba T. de Castilho (USP)


Pesquisador convidado: Johannes Kabatek, Universidade de Tübingen

Dia 19 de março, das 14 às 16 horas, Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp – As tradições


discursivas entre conservação e inovação – ou - toda a Lingüística é histórica.

Dia 20 de março, das 10 às 12 horas, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP -
Atendimento aos pesquisadores dos subprojetos Tradições discursivas: constituição e mudança
dos gêneros discursivos numa perspectiva diacrônica, coordenado por Maria Lúcia C.V.O.
Andrade (USP) e Diacronia dos processos constitutivos do texto, coordenado por Clélia
Cândida Spinardi Jubran (Unesp / São José do Rio Preto. Das 14 às 17 horas, conferência sobre
Retrato atual do modelo das tradições discursivas: da escrita para a fala.

Dia 21 de março, das 10 às 12 horas, visita ao Museu da Língua Portuguesa. Das 14 às 17 horas,
conferência sobre Retrato atual do modelo das tradições discursivas: da escrita para a fala.

Dia 22 de março, das 14 às 18:30 horas, banca de doutorado de José da Silva Simões, na qualidade de co-
orientador.

Dia 23 de março, das 8 às 11 horas, conferência sobre As normas culta e popular e a mudança lingüística.

Previamente ao seminário, foram distribuídos aos pesquisadores os seguintes textos, de autoria


do Prof. Johannes Kabatek:

ƒ Sobre a historicidade dos textos, 2003, tradução de José da Silva Simões.


ƒ Algunas reflexiones sobre las tradiciones discursivas, 2004.
ƒ Las tradiciones discursivas del español medieval: historia de textos e historia de la lengua, sem
data.
ƒ Tradiciones discursivas y cambio lingüístico, conferência no VI Seminário Nacional do PHPB
(Ilha de Itaparica, 2004), publicado por Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006) e republicado com
algumas alterações na revista Lexis XIX (2): 151-177, 2005.

Seguem-se resumos das intervenções do Prof. Kabatek.


1. As tradições discursivas entre conservação e inovação – ou - toda a Lingüística é histórica

1.1. Lingüística Histórica: a morte de uma disciplina?


1.2. Eugênio Coseriu: os universais lingüísticos.
1.3. A historicidade da língua.
1.4. Outra “historicidade”: a tradição dos textos.
1.5. Tipos de texto e tipologias textuais.
1.6. Historicidade da língua e historicidade dos textos.
1.7. O Projeto de Tradições Discursivas (TraDisc).

Definição de tradições discursivas, segundo Kabatek (2005c): Entendemos por Tradições


Discursivas (TD) a repetição de um texto ou de uma forma textual ou de uma particular maneira de
escrever ou falar que adquire valor de signo próprio (portanto é significável). Pode-se formar em
relação a qualquer finalidade e expressão ou qualquer elemento de conteúdo, cuja repetição estabelece
uma relação de união entre atualização e tradição; qualquer relação que se pode estabelecer
semioticamente entre dois elementos de tradição (atos de enunciação ou elementos referenciais) que
evocam uma determinada forma textual ou determinados elementos lingüísticos empregados.

2. Retrato atual do modelo das tradições discursivas: da escrita para a fala

2.1. A metodologia do programa computacional TraDisc, concebido para o estudo das TDs.

2.2. O texto como uma realidade aberta e a necessidade metodológica de seleção de um dos seus aspectos.

2.3. O objetivo da Lingüística Histórica é investigar a mudança lingüística, e não apenas a mudança de
um tipo de texto. Estudos promovidos pela Lingüística de Corpus tem levado a resultados casuais,
tomando-se por história de determinada língua o que é a história de um tipo de texto. Será conveniente
associar a introspecção aos dados de corpus. Assim, estudos fundamentados em cartas de São Paulo
escritas no séc. XVII não representarão necessariamente o Português de São Paulo do séc. XVII.

2.4. Como, então, obter um corpus equilibrado, já que textos diferentes poderão levar a resultados
diferentes? À parte o requisito da boa edição filológica, poderíamos partir de um grande corpus de língua.
Entretanto, o sítio www.corpusdoportugues.org organizado por Mark Davies, com seus 45 milhões de
ocorrências, pode esconder algo que sabemos que existe, como a expressão dois irmão, de que há 812
ocorrências localizadas através do Google, contra 833.000 ocorrências de dois irmãos nesse corpus. No
espanhol, as formas ficiere/hiciere estão praticamente desaparecidas, mas são documentáveis em
determinados documentos – como, no português, o presente do subjuntivo sábiam, que sobrevive nas
mesmas circunstâncias. Ambas as formas assinalam determinada TD, em que elas são estáveis.

2.5. Uma possível saída será (i) selecionar diferentes textos, equalizados por conterem um mesmo número
de palavras, (ii) diferenciar os elementos que estão nesses textos, por exemplo, a freqüência de tempos
verbais, a opção pela voz passiva ou pela voz ativa, etc., (iii) quantificar em separado esses elementos,
(iv) analisar as combinações desses elementos, passo que é possível através do programa TraDisc,
preparado em Tübingen, de livre acesso.

3. As normas culta e popular e a mudança lingüística.

3.1. Os universais lingüísticos: exterioridade, semanticidade, alteridade, criatividade, historicidade.

3.2. Convergências do universalismo com o particularismo. Tendências copresentes na mudança.

3.3. As fases históricas da língua evidenciam o universalismo (como a reforma do Latim por Carlos
Magno) e o particularismo (como os diferentes latins do Império Romano).

3.4. Ambas propriedades desencadeiam movimentos divergentes. Assim, temos (1) a unidade virtual das
variedades abrigadas sob um teto (Português) Æ (2) a formação de um centro (Lisboa) Æ (3) a periferia
passa a depender desse centro (eliminam-se variáveis como a africada [tš], em tšama, em favor de [š], em
šama) Æ (4) formam-se vários centros orais, porém com uma língua escrita Æ (5) constitui-se uma
unidade virtual, separada da língua falada Æ (6) organizam-se duas línguas separadas, e começa tudo de
novo, a partir de (1).
3.5. Designações das línguas: temos aqui um paralelismo em que um Adjetivo como português, galego
(em romance português, romance galego) passa a Nome (como em o português), da mesma forma que o
Adj brasileiro (em português brasileiro) passa a N (o brasileiro).

3.6. Níveis de standards. Correto / exemplar. Culto / popular. Fala formal / informal. Fala homogênea /
fala em contacto.

3.7. Descrição / prescrição. O problema do ensino das variedades lingüísticas. A “ortologia”: que existam
diferentes TDs, o que é aceitável em um texto e outro.

O texto “Estrutura discursiva dos Inventários e Testamentos de São Paulo (séculos XVI-XVII”,
de autoria da pós-doutoranda Célia Maria Moraes de Castilho, foi encaminhado ao Prof. Kabatek.

V Seminário do Projeto de História do Português Paulista (Projeto Caipira)

Coordenador: Carlos de Almeida Prado Bacelar (DH, USP)


Local: Arquivo Público do Estado de São Paulo
6 de junho

1) Demografia histórica do Estado de São Paulo e da cidade de São Paulo.


Prof. Dr. Carlos de Almeida Prado Bacellar (DH/USP e Coordenador do Arquivo Público do
Estado)
2) Particularidades demográfico-históricas do Vale do Ribeira.
Prof. Dr. Agnaldo Valentim (NEHD/FEA/USP)
3) Fontes para a história da educação em São Paulo
Profa. Dra. Maria Luiza Marcílio (DH/USP)

VI Seminário do Projeto de História do Português Paulista (Projeto Caipira)

São Paulo, 18-19 de junho de 2006


Coordenadora:
Maria Célia Lima Hernandes (USP)

Pesquisadores convidados:
Elizabeth Traugott (Stanford University)
Bernd Heine (Univesitaet zu Koeln)
Maria Luiza Braga (UFRJ)
Local: Casa de Cultura Japonesa

18 de junho

8h – Abertura do VI Seminário Internacional – Prof. Dr. Gabriel Cohn, Diretor da FFLCH, e Prof. Dr.
Ataliba T. de Castilho, Coordenador do Projeto Caipira.

8h20 - Exposição de vídeo sobre São Paulo, organizada pelo mestrando Paulo Barroso.

8h30 - Café rural

9h-10h - Tema 1: Gramaticalização e contato lingüístico: auxiliação nas línguas da Europa /


Grammaticalization and language contact: auxiliation in the languages of Europe - Prof. Dr.
Bernd Heine (Institut fur Afrikanistik – Universität zu Köln)
10h10 – 11h10 - Tema 2: Bases da teoria multissistêmica / The bases of the Multissystemic Theory of
Language - Prof. Dr. Ataliba T. de Castilho (USP, CNPq)

11h10 – 12h10 – Exposição de pôsteres de graduação

14h-15h10 – Tema 3: Mudança Gramatical no Português – Coordenadora da mesa: Profa. Dra. Maria
Aparecida Torres (USP/Pesquisadora Principal do Projeto Caipira). Expositores:

• Sebastião Carlos Gonçalves (UNESP – São José do Rio Preto) – Gramaticalização


de orações matrizes com predicados de atitude proposicional.
• Vânia Cristina Casseb-Galvão (UFG) – As rotas de gramaticalização de diz-que e
tipo no Português do Brasil.
• Nilza Barrozo Dias (UFJF) – As “pequenas cláusulas” nas construções apositivas.
• Ana Paula Rocha (UFV) – Gramaticalização das adversativas mas e todavia em
português: evidências da motivação metafórica da mudança lingüística.

15h15 – Café urbano - Lançamento do livro Introdução à Gramaticalização.

16h-17h10 - Tema 5: Mudança Gramatical no Português. Coordenadora da mesa: Profa. Dra. Maria Luiza
Braga (UFRJ/Consultora do Projeto Caipira). Expositores:

• Angélica T.Carmo Rodrigues (UFSCar) – Ir e pegar nas construções do tipo foi


fez: um caso de gramaticalização.
• Sanderléia Longhin-Thomazi (Unesp-Rio Preto) – Gramaticalização de
conjunções.
• Cristina Santos Carvalho (UNEB-Campus XIV) – Estruturas causativas e
perceptivas do português brasileiro: (contra) evidências empíricas de pressupostos da
gramaticalização.

19 de junho

8h-9h10 – Tema 4: Gramaticalização e Gramática de Construções / Grammaticalization and Construction


Grammar - Profa. Dra.Elizabeth Closs Traugott (Department of Linguistics – Stanford
University)

9h15-9h30 café uspiano

9h35-10h45 – Tema 5: Mudança Social em São Paulo Coordenadora da mesa: Profa. Dra. Tânia Alkmin
(IEL/UNICAMP). Expositores:

• Ângela Cecília de S. Rodrigues (USP) – Fotografia Sociolingüística do Português


do Brasil: o português popular de São Paulo.
• Maria Célia Lima-Hernandes (USP) – Movimentação social em São Paulo na 1ª
metade do século XX.
• Belkis Wey Berti Brito (Mackenzie) – Resistência feminina no século XX.

11h-12h Exposição de pôsteres

13h-14h - Exposição de pôsteres

15h – Café paulistano

15h30-16h40 – Tema 6: Mudança Gramatical no Português. Coordenadora da mesa: Dra. Lygia Corrêa
Dias de Moraes (USP)
Expositores:

• José da Silva Simões (USP) – Aspectos de sintaticização e discursivização das


orações de gerúndio no português brasileiro.
• Ronald Beline Mendes (USP) - Estar +gerúndio e ter+particípio: aspecto verbal,
variação e mudança no PB.
• Marcelo Módolo (USP) – A estrutura correlativa tanto que de uma perspectiva
multissistêmica
• Verena Kewitz - Gramaticalização das preposições a e para no português
brasileiro.

Eventos Paralelos:

• Qualificação de 3 Dissertações de mestrado ligados ao Projeto Caipira.


• Reunião do Grupo de Pesquisa “Mudança Gramatical do Português” para discussão
de Projetos, sob coordenação da Profa. Dra. Elizabeth Closs Traugott (University of
Stanford).

VI Seminário do Projeto de História do Português Paulista (Projeto Caipira)

Coordenadoras: Marilza de Oliveira e Ângela C.S. Rodrigues


Pesquisadores convidados: Maria Perpétua Gonçalves (Universidade Eduardo
Mondlane, Maputo, Moçambique) e Uli Reich (Universitaet zu Koeln)

17 de setembro

Conferência no IEL / Unicamp.

18 de setembro

Mudança lingüística em situação de contacto de línguas: a gênese do Português de Moçambique

19 de setembro

Insucesso na aquisição de L2 e mudança lingüística: o caso dos introdutores “complexos” de


subordinação do Português de Moçambique

20 de setembro

Atendimento aos pesquisadores

VIII Seminário do Projeto de História do Português Paulista (Projeto Caipira)

Coordenadora: Sônia Lazzarini Cyrino


Pesquisadores convidados: Ian Roberts e Mary A. Kato
Local: Instituto de Estudos da Linguagem / Unicamp e FFLCH / USP
Programa em elaboração

2.4. PARTICIPAÇÃO DA EQUIPE EM EVENTOS CIENTÍFICOS

Os pesquisadores participaram de diversos eventos científicos, adiante relatados.

1. V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Lingüística


Universidade Federal de Minas Gerais
28 de fevereiro a 3 de março de 2007

1.1. Mesa-redonda sobre História Social do Português Caipira

Participantes: Marilza de Oliveira (USP), Maria Célia Lima-Hernandes (USP) e Célia


Maria Moraes de Castilho (pós-doutoranda, USP)

Dentro do Projeto Para a História do Português Brasileiro, são propostas três agendas de
trabalho. A primeira delas diz respeito à constituição de um corpus, a segunda trata da história social da
língua portuguesa no Brasil e a terceira enfrenta questões de mudança lingüística.

Recentemente, o grupo de São Paulo lançou o Projeto do Português Caipira, o qual segue as
mesmas agendas de trabalho do projeto maior ao qual está agregado, tendo por base um corpus
tipicamente paulista.

Foram feitas três propostas relativas à história social do português caipira. A primeira
compreende o estudo do português transplantado para São Paulo nos primeiros anos de colonização.
Busca-se, com isso, identificar traços lingüísticos que caracterizam o português paulista falado atual. A
segunda proposta visa a estudar a formação de uma norma lingüística com base na identificação de elites
intelectuais na cidade paulista, surgidas com a imigração européia. A terceira proposta objetiva o estudo
do Português Paulista Culto Contemporâneo, tomando como ponto de partida as elites intelectuais nas
academias, geradoras da classe culta nas mais variadas áreas de conhecimento.

As três propostas de trabalho assim constituídas visam a traçar um quadro amplo da formação do
português paulista, a partir de questões de história social.

1.1.1. A Contribuição da imigração portuguesa para a formação do Português Paulista


Marilza de Oliveira (USP)

Inúmeras pesquisas acadêmicas têm demonstrado que a existência de um Português Brasileiro ao


lado de um Português Europeu é uma realidade, a qual começa a ser reconhecida em outras instâncias,
que não as acadêmicas, com a tradução, nas duas variedades, de textos informativos de embalagens de
diferentes produtos, bem como com a tradução de filmes portugueses em “brasileiro” e de novelas
brasileiras em “português”. Entretanto, essa é uma realidade do mundo atual e o lingüista histórico deve
ter a cautela de não transportá-la ao passado sob pena de apelar para a origem crioula da variedade
brasileira do português.

A história da constituição do Português Brasileiro não pode fazer a menos da recuperação das
ondas sucessivas de imigração portuguesa, intuição presente nos trabalhos de Moraes Castilho (2001) que
vê uma base quatrocentista para o PB e de Ribeiro (1998) que propõe, pelo menos, duas gramáticas
portuguesas para a formação do input lingüístico para a aquisição da linguagem no Brasil, uma entre os
séculos XVI-XVIII e outra entre os séculos XIX-XX.

Entre o século XIX e as primeiras décadas do século XX, o Brasil, em particular a cidade de São
Paulo, foi alvo de dois tipos diferentes de imigração portuguesa, uma popular e outra elitista,
respectivamente. O primeiro movimento privilegiou o contingente masculino, em geral analfabeto, que se
instalou primeiramente nas cidades em conformidade com o programa português da câmara de comércio
que visava à comercialização dos produtos portugueses no Brasil e ao envio de divisas para Portugal.

O segundo movimento era composto, provavelmente, de núcleos familiares, pois a presença


feminina portuguesa aumentara de um oitavo para 32,6%, e seus membros pertenciam à chamada elite
intelectual, que abrangia os profissionais liberais (advogados, médicos, professores, jornalistas), mas
também industriais e banqueiros. Esse segundo movimento ocorreu na década de 20 do século passado,
exatamente no período em que ferviam os ideais nacionalistas do movimento modernista, ao qual a elite
portuguesa recém chegada se opunha, através do enaltecimento do povo português para a formação do
Brasil.

A imigração ocorrida no século XIX veio a contribuir para a formação da variedade popular do
português paulista na medida em que o elemento português era absorvido em diferentes modalidades de
trabalho, entre os quais o comércio, espraiando-se e integrando-se na sociedade paulista, graças à lei de
naturalização promulgada após a proclamação da República. O processo imigratório elitista das primeiras
décadas do século passado, por sua vez, lançava as bases para a formação de uma norma lingüística, que
veio a se consolidar na prática dos bancos escolares e nos livros didáticos.

Esse trabalho procurará explorar melhor o processo imigratório português entre o século XIX e o
início do XX com vistas a observar a integração portuguesa e identificar a “imagem” do imigrante
português na imprensa periódica paulista. Essa pesquisa servirá como pano de fundo para a análise
lingüística de textos vazados em português popular e culto escritos pelos imigrantes.

1.1.2. Efeitos da ebulição social na tradição uspiana: mudança lingüística e processo de


normatização

Maria Célia Lima-Hernandes (USP)

Um contexto de ebulição sócio-cultural - efeito de mudanças sociais e lutas políticas - fez com
que São Paulo empreendesse a criação de instituições culturais, como foi o caso da USP, que nasceu da
agregação da escola de Direito, de Medicina e de Engenharia a uma nova unidade, a Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras.

Enquanto faculdades isoladas, seguiam o modelo de ensino português e, essa reestruturação


exigiria a adoção de um novo modelo. Houve resistências. A conciliação foi estabelecida com a
manutenção da autonomia das escolas e a criação de uma unidade com concepção de universidade
dedicada à pesquisa básica e à produção de conhecimento – a FFLC. A concepção inicial era a formação
de pessoal para as altas funções, fazendo da USP um centro civilizador – com pesquisadores e
profissionais de elite. Para superar o obstáculo do clima cultural paulistano – ainda provinciano – foram
trazidos professores estrangeiros.

Eram professores portugueses impondo a norma européia a estudantes, nascidos e educados nas
décadas de 10 e 20, “com regras de comportamento e valores gerados por uma sociedade conservadora
em suas práticas e visões de mundo”, cuja base era a hierarquia familiar. Os filhos de imigrantes tinham
na formação escolar o mais importante caminho para a ascensão social. Segundo Trigo (1997), 30% dos
alunos matriculados na FFLC era oriunda de famílias imigrantes, sendo a maioria de origem italiana,
embora também houvesse judeus, espanhóis, árabes, sírios, libaneses, japoneses e armênios.
Invariavelmente, os alunos da primeira geração ocuparam o lugar de seus professores. De lá para cá, o
perfil do professor e do aluno uspiano mudou bastante. Ao lado desse movimento silencioso na academia,
também ocorreu uma movimentação da norma culta.
Este trabalho propõe-se a explorar alguns fenômenos de mudança gramatical no português culto
e discute a pertinência de se refazer a trajetória de mudança por meio de estudos painel e de tendência
como forma de resgatar rotas de gramaticalização.

1.1.3. A categoria funcional AGR nos Inventários e Testamentos de 1578 A 1600, ou,
Seria um falante de crioulo o português saído das caravelas aportadas na Baía de
São Vicente?

Célia Maria Moraes de Castilho (Pós-doutoranda, USP)

A conexidade sintática fundamenta-se em expedientes vários, tais como a ordem dos


constituintes, a concordância, a atribuição / recepção de casos e de papéis temáticos, etc.

Línguas configuracionais tendem a pôr em cheque a categoria funcional AGR, afetando a


concordância nominal e verbal. É disto que trata esta comunicação, cujos dados procedem dos Inventários
e Testamentos editados pelo Arquivo Público de São Paulo. O trabalho se situa na pauta de investigações
de meu projeto de pós-doutorado, “Formação do português popular e suas bases quatrocentistas em São
Paulo e São Vicente nos séculos XVI e XVII”, integrado no Projeto Caipira.

Venho sustentando que o português medieval quatrocentista é a base do PB: Moraes de Castilho
(1998 / 2001, 2004 a, b, 2005b). Em Moraes de Castilho (2005 a) demonstrei que o português medieval
exibe um processo de mudança de língua não configuracional para configuracional.

A partir dessa constatação, hipotetizo que em seus primórdios o PB paulista deveria mostrar
evidências dessa mudança tipológica.

Os seguintes exemplos documentam essa oscilação. Os dados procedem do terceiro quartel do


século XVII (1651 a 1675), em textos produzidos na Vila de São Paulo do Campo. Considerados
distraidamente, eles parecem exibir alguns traços habitualmente atribuídos a uma “variedade
crioulizada”...

1. Concordância nominal de gênero

1.1. No particípio passado

(1) [XVII:1654, I/T de Afonso João; DAESP, v.46:33] Estou Paguo e satisfeito de toda a conthia
que me deu o defunto Afomso joão o que me pagou o snor M.el. Carvalho seu testamenteiro e p.r
estar satisfeito lhe dei esta quitassão p.r min asignado oje em São Paulo 22 de frº. De 660
Annos.
(2) [XVII:1654, I/T de Afonso João; DAESP, v.46:33] Diguo eu Lucreçia Moreira que he verdade
que estou pago e satisfeito de janeroza da costa de serqueira molher que foi do defunto afonço
João;...
(3) [XVII:1654, I de Antonio Lopes da Rocha; DAESP, v.46:88] ... A qual fazenda sendo asin
lansada neste fa digo neste inventario se não fes partilha dela por serem mais as dividas que os
bens E o gentio da terra fiqua encorporada ate vir Rezolusão dos que estão no sertão ...

1.2. No nome comum

(4) [XVII:1654, I/T de Antão Rodrigues Lopes; DAESP, v.46:45] ..., e assim mais peço ao bondoso
padre santo antonio queira ser meu medianeiro diante do supremo juiz pera me salvar pois veio
ao mundo as almas peccadores, ...
(5) [XVII:1654, I/T de Antão Rodrigues Lopes; DAESP, v.46:65] E logo no dita dia mes e anno
asima declarado pelo juis dos orfãos...
(6) [XVII:1654, I/T de Francisco Bicudo de Brito; DAESP, v.46:101] ...# declaro que tenho algum
gentia da terra o coal he forro E liberto...
(7) [XVII:1653, I/T de Pedro Caraça; DAESP, v.46:257] ...forão avaliadas quatorze exadas de meo
uzo a mea pataqua quada hu que monta dous mil E duzentos e quarenta ...

1.3. No nome próprio


(8) [XVII:1654, I/T de Antão Rodrigues Lopes; DAESP, v.46:45] # deve a daniel colasa mil
duzentos e oitente rz...
(9) [XVII:1654, I/T de Antão Rodrigues Lopes; DAESP, v.46:74] ...e por elle em nome de
maria vas cardoso foi dito que por ella vinha pagar a parte... que juntos ao prinsipal fazem
soma de vinte mil duzentos e trinta e seis reis, e por [to]car a dita maria vas cardosa a
metade...
(10) [XVII:1654, I/T de Francisco Bicudo de Brito; DAESP, v.46:153] ... pera efeito de prover
nelle o que cabia a par[te de] maria leme Bicuda da legitima de seu Pai e sua mai

1.4. Concordância do pronome relativo com seu antecedente

(11) [XVII:1653, I/T de Antão Rodrigues Lopes; DAESP, v.46:73] ... pello qual foi dito que elle
tinha tomado neste inventario a quantia de doze mil trezentos e vinte rz o qual tivera em seu
poder sinco annos e sinco mezes...
(12) [XVII:1653, I/T de Pedro Caraça; DAESP, v.46:251] ... pr. tempo de hu anno ou pelo
tempo q tiver em seu poder os tiver de que pagara ganhos athe Real emtrega pª. o q.
obrigou sua pesoa Bens moveis he de Rais avidos he pr. aver a tudo dar he pagar prinsipal
he ganhos athe Real emtrega he pª. mais seguransa apresentou pr. seu fiador a gaspar de
godois morera a qual se obriga asim he da maneira que seu fiado se obriga...

1.5. No determinante

(13) [DAESP, v.46 (1998):203] ... # hun lanso de caza de taipa de pilão cubertas de telha con
sua corredor E quintal ...

2. Concordância nominal de número

2.1. No particípio passado

(14) [DAESP, v.46 (1998):24] ... Declaro q tenho doze pessas de gentio da terra digo treze e
fora estes me andão fugidas sinco pessas quero dizer seis e mais me andão fugidos hu rapaz
de outro digo q não he mais q hu rapaz os quais pesso sirvão a minha molher...
(15) [DAESP, v.46 (1998):183] ... Visto este testamto. quitassoens, E mais papeis juntos da
reposta do Promotor mostrase ter o testamentro. satisfeitos os legados E mais obrigassoens
delle plo q o julgo por comprido, ...

2.2. No nome comum

(16) [DAESP, v.46 (1998):177] ... forão avaliados tres fosse piquenas hua ja quebrada ...
(17) [DAESP, v.46 (1998):54] ... Deve a Anna de Morais suas tia trinta e sete patacas ...
(18) Otras çinco as Almas do fogo de purgatorio = otras Cinco o ango da minha guarda ...
(19) [DAESP, v.46 (1998):177] ... # forão avaliadas seis enxadas ja velha e gastadas todas en
duas patacas
(20) [DAESP, v.46 (1998):179] ...deve potensia a velha digo potencia leite a velha sinco pataca
...
(21) [DAESP, v.46 (1998):198] ... he a dita minha filha tenho dado a legitima q lhe ficou por
morte de sua mai he asi mais o dote q lhe prometi he as casa em q mora meu gemro he filha
....
(22) [DAESP, v.46 (1998):242] ... de que pagara ganhos athe Real emtrega a contia de quoatro
mil E quinhentos e trinta e seis Reis para o que obrigou sua pessoa E bens move e de Rais
avidos e por aver ...
(23) [DAESP, v.46 (1998):292] ...pedro e sua molher tereza // con suas crianssa

Documenta-se, igualmente, certa flutuação na escolha da forma considerada canônica, como em

(24) [DAESP, v.46 (1998):115] ... #forão avaliados hus chapeis ja velhos en hua pataca
(25) [DAESP, v.46 (1998):115] ... # forão avaliados dous chapeis hu preto ja velho e outro
anogeirado piqueno ....
2.3. No nome próprio

(26) [DAESP, v.46 (1998):47] ... e Rogei a manoel soeiros Ra[m]ires este fizesse e probasse
(27) [DAESP, v.46 (1998):166] ... # deve a joze da costa omes sete mil e dozentos ...
(28) [DAESP, v.46 (1998):246] ... estava em ser a divida de pe. Anto. Roiz velhos ...
(29) [DAESP, v.46 (1998):251] ... tudo dar he pagar pinsipal he ganhos athe Real emtrega he
pª. mais seguransa aprezentou pr. seu fiador a gaspar de godois morera ...

Vários sobremones espanhóis encontrados nos I/T terminam por alveolar, derivada de um
genitivo: Albernas, Ramirez. É provável que o agregamento de um s aos sobrenomes de paulistas vivendo
na vila de São Paulo resulte disso, pois entre 1580 e 1640 Portugal esteve sob o domínio espanhol, e
conseqüentemente também a colônia do Brasil. Além do mais, a região compreendida pela capitania de
São Vicente esteve em contato com os espanhóis deste longo tempo, possivelmente antes da “descoberta”
do Brasil.

2.4. No pronome relativo

(30) [DAESP, v.46(1998):33] Diguo em mel. frª. q eu estou pago e satisfeito [de uma] divida q
me devia o defunto afonso joan os coais me pagou sua molher generoza da costa de siqera
como titora de seus filhos e para sua descarga lhe dei esta quitasam por mim feito e
assinado...

2.5. No clítico

(31) [DAESP, v.46 (1998):46] ... declaro que tenho oito negros do gentio da terra guaianazes, e
dez femeas entre grandes e piquenas os coais servirão a minha molher e filho na mesma
comformidade que a mim, e peço a minha molher lhe de o bom trato que eu lhe dei, [em]
minha vida, ...
(32) [DAESP, v.46 (1998):46] ... declaro que tenho hu negro por nome antonio com sua molher
por nome lucrecia, em ca[s]a e poder de salvador dolivra ao coal peco mo entrege a minha
molher maria fz ...

2.6. No determinante

(33) [DAESP, v.46 (1998):162] ...mdo q Seme digão Vinte misas Repartidas da maneira Siguinte
a Saver Cinco a Santisima trindade = otra cinco a nosa senhora do Rosario

3. Concordância verbal

Os dados documentam, igualmente, flutuações na concordância verbal, como se vê em:

(34) [DAESP, v.46 (1998):80] ... Lourenço Castanho taques o mosso juis dos órfanos desta vª.
de são Paulo, e seu termo e por este meu mandado sendo por mim primeiro asinado mando
a qualquer official de justissa q em comprimento delle requeirão aos herdeiros que ficarão
de joão de matos pª. q logo emveado este tragão à este meu juixo doze mil Rs...
(35) [DAESP, v.46 (1998):116] ... fiados por dous mezes en quatro patacas e dous vinteis deu
por seu fiador a fernão bicudo de brito e o curador e o juis ouve por ben por não aver que
mais dese ...
(36) [DAESP, v.46 (1998):119] ... pareseo o tutor dos orfãos o captam joão bicudo de brito e
por ele foi aprezentadas huas quitassõis de legados que tinha ...
(37) [DAESP, v.46 (1998):134] ... e por elle foi ditto ao ditto juis, que a elle como juis que foi o
Anno paçado, lhe forão, entregue Alguns Bens ............dos orfãos ....
(38) [DAESP, v.46 (1998):139] ... paresseo Lourenço........... e por elle foi dito que a elle no
tempo em que ................ lhe for entregue por Anto...... delgado hus quatro............e oitenta
reis que o dito estava devendo neste......... que por inadvirtencia as não avia pagos o que a
gan[hos] ............

Como a chegada maciça de africanos à área vicentina só teve início no final do séc. XVIII, e
sobretudo no séc. XIX, quando africanos ladinos vinham do Nordeste, fica difícil explicar a pequena
amostra acima como uma questão de aquisição imperfeita do português. Precisaremos conhecer melhor,
sem dúvida, a língua portuguesa que saiu das caravelas, para retomar as palavras de Ivo Castro.

Neste trabalho, vou concentrar-me no estudo da concordância do particípio, por onde, suponho,
se deu a perda de AGR. O termo “particípio” designava na gramática clássica as formas que exibiam o
traço /±/ Verbo, ou seja, as formas em {nt}, {nd} e {re}. A tradição moderna restringiu a utilização desse
termo ao particípio passado, perdendo-se a generalização anterior.

Ambíguas morfologicamente, essas formas podem ter fornecido o nicho sintático por onde teve
início a perda de AGR, hoje categórica, por exemplo, nos tempos compostos do passado.

1.2. Mesa-redonda sobre mudança gramatical no Português Caipira

Participantes: Ataliba T. de Castilho (USP), Sônia Cyrino (Unicamp) / Maria Aparecida


T. Morais (USP) e Mário Eduardo Viaro / Zwinglio de Oliveira Guimarães Filho (USP)

1.2.1. O Projeto Caipira e a mudança gramatical multissistêmica


Ataliba T. de Castilho (USP, CNPq)

Três questões será aqui tratadas: postulação da língua como um fenômeno complexo, princípios
sociocognitivos que articulam seus subsistemas e estudo de caso.

1. A língua como um fenômeno complexo e a abordagem multissistêmica da língua

Um programa de pesquisas segundo a abordagem multissistêmica compreenderá a Lexicalização


(processo de criação do léxico, entendido como um conjunto de categorias cognitivas prévias à
enunciação), a Semanticização (processo de criação, alteração e categorização dos sentidos) a
Gramaticalização (processo que abriga a fonologização, alterações no corpo fônico das palavras, a
morfologização, alterações que afetam o radical e os afixos, e sintaticização, alterações que afetam as
categorias sintáticas, os arranjos sintagmáticos e a atribuição de funções na sentença), e a Discursivização
(conjunto de processos constitutivos do texto, de que resultam as categorias textuais e os gêneros do
discurso).

O tratamento da gramaticalização como um epifenômeno é aqui rechaçado, por fazer confluir


numa mesma dimensão processos lingüísticos de variada ordem.

2. Princípios sociocognitivos de articulação dos subsistemas

A articulação dos processos e dos produtos lingüísticos se dá ao abrigo do que venho chamando
de “princípios sociocognitivos” de ativação, desativação e reativação de propriedades. Esses princípios
são “sociais” por que baseados numa análise continuada das situações que ocorrem num ato de fala, e
“cognitivos” porque baseados em categorias mentais. Eles gerenciam e ordenam os subsistemas
lingüísticos, garantindo sua integração para os propósitos dos usos lingüísticos.

De acordo com esse dispositivo, o falante ativa, reativa e desativa propriedades lexicais,
semânticas, discursivas e gramaticais no momento da criação de seus enunciados, constituindo as
expressões que pretende “pôr no ar”.

A postulação desses princípios decorre dos achados da Análise da Conversação e daqueles do


Projeto de Gramática do Português Falado (PGPF). Nos dois casos, o objeto empírico é exclusivamente a
língua falada, mais reveladora dos processos de criatividade e mudança lingüística que a língua escrita.

2.1. Princípio da ativação, ou princípio da projeção pragmática

2.2. Princípio da reativação, ou princípio da correção


2.3. Princípio da desativação, ou princípio da elipse

3. Estudo multissistêmico da preposição ante

A exposição compreenderá estudos sobre (1) Lexicalização de ante, (2) Semanticização de ante,
(3) Discursivização de ante, (4) Gramaticalização de ante.

Conclusões

(1) Precisamos buscar alternativas ao modo de fazer ciência dos “gramaticalizadores”. Uma delas
será postular a língua como um sistema complexo e dinâmico que abriga quatro subsistemas em que (i)
cada subsistema dispõe de um conjunto de categorias auto-reguladas, (ii) cada subsistema compartilha
propriedades sociocognitivas calcadas nas estratégias da conversação, (iii) os subsistemas são autônomos
uns em relação aos outros, devendo-se deixar de lado o tratamento derivativo, linear entre Léxico,
Discurso, Semântica e Gramática, (iv) eventuais relações entre esses subsistemas são indeterminadas,
pancrônicas, multidirecionais.

(2) A pesquisa sobre a mudança lingüística precisará definitivamente assumir um caráter


transdisciplinar, pois individualmente não poderemos desenvolver uma argumentação competente sobre
os subsistemas do Léxico, da Semântica, do Discurso e da Gramática. Particularmente com respeito à
gramaticalização, será conveniente negar a centralidade desse processo, incluindo nas pesquisas
considerações sobre a lexicalização, a semanticização e a discursivização.

(3) O gatilho da mudança lingüística deve residir no dispositivo sociocognitivo apontado, vale dizer,
nas estratégias conversacionais. Uma sociedade muito heterogênea cobra um investimento maior nas
trocas conversacionais, o que acelera a mudança, dadas as muitas adaptações que se requerem. Uma
sociedade mais homogênea não tem esse requisito, o que retarda o ritmo da mudança: Castilho (1999 /
2000). Esta hipótese inclui a conversação entre adultos como um momento importante no processo de
aquisição e mudança, além de propor o correlato sociolingüístico da mudança gramatical.

1.2.2. Mudança gramatical: a teoria dos Princípios e Parâmetros no contexto da


Sociolingüística paramétrica
Maria Aparecida Torres Morais (USP)
Sonia Maria Lazzarini Cyrino (UNICAMP)

Estes são os objetivos desta pesquisa:

1) Discutir questões de natureza conceptual e empírica (com tratamento estatístico dos dados) que
mostram como o modelo gerativo de princípios e parâmetros e o modelo da sociolingüística laboviana
abordam aspectos da variação e da mudança morfossintática, relacionando estas questões com a
abordagem da chamada “sociolingüística paramétrica”.

2) Descrever fatos gramaticais de variação e mudança que caracterizam o português de SP, em textos
jornalísticos variados, entre eles os da chamada Imprensa Negra, num período que abrange os séculos
XIX e XX.

3) Enquadrar os estudos de variação e mudança gramatical no contexto sócio-histórico do período.

Para alcançar tais objetivo partimos da suposição de que não se pode caracterizar a mudança
lingüística sem a recuperação do passado sócio-histórico de uma comunidade de fala. A história
lingüística de SP reflete a realidade lingüística do Brasil, bipolarizada entre uma norma culta e uma
norma popular. Será mantido um diálogo direto com os demais subprojetos que tratam da história social
de São Paulo.

A abordagem da mudança morfossintática será feita dentro de duas vertentes teóricas: (i) a da
teoria gerativa dos princípios e parâmetros (P&P) e (ii) da teoria sociolingüística da variação e mudança.
O diálogo entre as duas propostas tem levado a interessantes reflexões e resultados de natureza empírica e
teórica sob o rótulo de sociolingüística paramétrica. Ambas as vertentes serão cuidadosamente detalhadas
durante a exposição.

Os fatos gramaticais que serão considerados se dividem em dois quadros: (i) o dos pronomes
pessoais (átonos e tônicos), pronomes demonstrativos e possessivos; (ii) o das preposições como
introdutoras de argumentos.

Os quadros teóricos aqui adotados incorporam em seus pressupostos a importância dos fatores de
natureza sócio-histórica para o entendimento da variação e mudança gramatical. Nesta perspectiva, como
foi dito inicialmente, deve dialogar com os outros subprojetos que tratam mais especificamente destas
questões. Além disso, este projeto dará uma contribuição particular para a sócio-história de São Paulo ao
investigar os possíveis contrastes entre a “imprensa negra” e a imprensa oficial. A hipótese, a partir do
levantamento dos vários jornais escritos pelos negros, em diferentes cidades da região paulista, é que os
negros tiveram acesso à cultura escrita e utilizaram-se de um veículo de massa como meio de construir
uma identidade e um espaço para as suas reivindicações. Os possíveis contrastes, ou semelhanças, que se
buscarão no estudo dos jornais dos diferentes jornais são de natureza lingüística e social.

Destacamos ainda que o corpus que servirá de fonte para a análise dos fatos lingüísticos será
composto por textos publicados na imprensa de São Paulo, que pertencem tanto à imprensa tradicional
quanto à chamada “Imprensa Negra”. O período relevante para o contraste entre esses textos cobre o fim
do século XIX e o início do XX. Os jornais provêm de diferentes cidades do Estado: Campinas, Santos,
Sorocaba, Itu, Taubaté, Guaratinguetá, Tietê, entre outras.

Esses textos serão selecionados de modo a compor um continuum de formalidade (editoriais,


cartas, anúncios). A análise de dados seguirá a metodologia variacionista, incluindo o levantamento de
uma amostra representativa do fenômeno na tipologia de textos organizada, sua análise segundo os grupos
de fatores definidos a partir das hipóteses, a quantificação dos dados analisados por meio de programas
estatísticos (VARBRUL, GOLDVARB), a interpretação dos resultados quantitativos à luz dos
pressupostos teóricos que embasam o estudo.

1.2.3. Reconstrução lexical do Português Antigo Paulista


Mário Eduardo Viaro (USP)
Zwinglio de Oliveira Guimarães Filho (USP)

Este projeto procura entender a variação da língua falada antiga como objeto de reconstrução a
partir dos testemunhos escritos e a partir da variação sociolingüística presente hoje no mundo lusófono,
sobretudo no Brasil e, mais especificamente, no Estado de São Paulo.

São comuns observações na área fonética de que o e de pedir sofre alçamento, no entanto essa é
uma inverdade do ponto de vista histórico, uma vez que a transformação pedir > [pi’dAi] não é um
fenômeno recente, muito menos localizado, pelo menos mais antigo do que a apócope do –r do infinitivo
e muito mais antigo do que a africativização do d.

O mesmo se pode aplicar à área da morfologia, sobretudo na questão das formações sufixais.
Pautar-se em uma norma ideal, em um corpus de dicionário ou em projeções da fala do outro pautadas em
nossa experiência lexical é errôneo e produz afirmações que não encontram fundamentos na história
lingüística. Procurar-se-á diminuir esse problema, criando um método eficaz de reconstrução de variantes
antigas de língua.

Como alguns procedimentos de reconstrução são necessários para entender a expansão das
variantes, será necessário partir dos seguintes pressupostos:

a) o surgimento de fenômenos fonéticos de inovação podem ser monogenéticos ou poligenéticos, à


maneira dos erros significativos da edótica.
b) a expansão de normas faladas espontâneas acompanha fenômenos demográficos.
c) a expansão de normas cultas é regional e irregular e acompanha fenômenos econômicos.
d) a escrita funciona como reguladora e padrão conservador.
As línguas faladas antigas são sistemas com grande gama de variantes, como se observam na
obra de Gil Vicente, que representa os ciganos, os negros, os judeus e muitos segmentos da sociedade.
Imaginar o português antigo como um bloco uniforme é errôneo, uma vez que a monogênese não é
verdadeira nem em maior nem em menor escala. A aplicação de um sistema semelhante ao da cladística
só é possível no nível fonético ou lexical (Rexová, Frynta & Zrzavý 2003). Já haviam proposto isso
autores antigos como Vasconcellos (1928), mas há ainda muita admiração pela simplicidade das árvores
genealógicas desde que expostas por Schleicher no século XIX, árvores essas que não ajudam muito
quando se comparam fenômenos isolados.

Falta um balanço de todas as obras que trataram da variação do português brasileiro: desde
quando se documenta que pa é uma variante da preposição para? Há alguma delimitação espacial para o
uso de inté? Os atlas lingüísticos, os artigos de sociolingüística e de geolingüística e os antigos tratados de
dialetologia transbordam de informações, mas onde está tudo isso sistematizado? Se não está, como obter
dados conclusivos sobre o que se reconstrói? Reunir essa informação de forma a ser facilmente acessível
é por si só um desafio, mas algo extremamente necessário.

Com base nesses pressupostos, estabelecer-se-á uma tabela de gradação para as reconstruções, à
maneira da idealizada por Jespersen (1922: 307) e reconstruções de sincronias em que apareçam as
variantes de muitas palavras-chave importantes. Privilegiar-se-ão as palavras do léxico mais básico da
língua, uma vez que a escrita, com seu caráter homogeneizador, impedem que se observem de mais perto
alguns dados que ficam restritos à parole (Viaro 2005). Os dados serão todos obtidos por gravações e
contrastados com coletas nos testemunhos bibliográficos e eventualmente em corpora que apresentam
exemplos significativos para que datações de fenômenos fonéticos e morfológicos sejam datados. Os
informantes das gravações, embora devidamente definidos quanto ao sexo, idade, profissão, grau de
contato com os parentes, etc. não serão ideais (idosos que vivam isolados), uma vez que o que importa é a
veiculação da língua em seu propósito comunicativo e não o grau de pureza da informação.

2. VII Seminário Nacional do Projeto para a História do Português Brasileiro


Universidade Estadual de Londrina, 21 a 15 de maio de 2007

A equipe de São Paulo apresentou os seguintes textos:

1. Conferência plenária: José da Silva Simões e Verena Kewitz – “Tradições discursivas e organização de
corpora”.

2. Sessão de Mudança gramatical: (1) Maria Aparecida C.T. Morais, Sônia Cyrino, Rosane Berlinck e
Marymarcia Guedes – “Os usos das preposições a, para: uma estratégia de expressão dos dativos”. (2)
Célia Maria Moraes de Castilho – “A concordância nos inventários do séc. XVII”.

3. Sessão de História social: Marilza de Oliveira et alii – “O perfil das escolas na cidade de São Paulo”.

4. Sessão de Diacronia dos processos discursivos: (1) Maria Lúcia C.V.O. Victorio, Helena N. Brandão e
Zilda G. Aquino – “Cartas públicas e privadas: estudo das estratégias comunicativas”. (2) Alessandra C.
F. da Costa – “Critérios de análise dos gêneros em um exemplar do Correio Paulistano, 1856.

5. Sessão de Apresentação dos relatórios: Ataliba T. de Castilho – “Relatório do PHPB/SP (2004-maio de


2007) ao VII Seminário do Projeto para a História do Português Brasileiro”, 24 páginas. Anexo a esse
relatório será distribuído o texto “An approach of language as a complex system”, 34 páginas.

3. As atas paroquiais dos setecentos e oitocentos: linhas e entrelinhas


Núcleo de Estudos Populacionais
Universidade Estadual de Campinas, 13-14 de junho de 2007.

Os seguintes pesquisadores apresentaram textos neste encontro:

Ataliba T. de Castilho – O Projeto Caipira e a demografia histórica: pontos de contacto.

Célia Moraes de Castilho - A Linguagem dos Inventários e Testamentos: lendo nas entrelinhas
José da Silva Simões e Alessandra C.V. – As atas paroquiais como um gênero discursivo.

4. Seminário sobre Tradições Discursivas


Coordenador: José da Silva Simões / jssimoes@uol.com.br
Universidade Federal da Bahia, 08.10 a 11.10.2007)

Recentemente foram retomados os estudos diacrônicos pela Lingüística Brasileira a partir de


projetos como o PROHPOR (Programa para a história da língua portuguesa) na UFBA, pelas equipes
nacionais do projeto PHPB (Para a história do português brasileiro) e pela equipe paulista do projeto
PHPP (Para a história do português paulista – Projeto Caipira). Com base em estudos norteados pela
teoria da gramaticalização, os pesquisadores têm-se confrontado com questões ligadas aos mecanismos de
mudança lingüística, cuja análise prescinde de um amadurecimento no levantamento adequado de fontes
de pesquisa. Nesse sentido, vários pesquisadores ligados ao domínio da Lingüística Textual têm
procurado abrir novos caminhos para aqueles que estudam os processos de mudança tanto de gêneros
discursivos como de fenômenos morfossintáticos das línguas (Coseriu, 1978; Koch 1997; Koch e
Oesterreicher, 2006 [1997]; Kabatek, 2001, 2005 e 2006; Biber, 1993). O grupo de romanistas da
Universidade de Tübingen tem funcionado como centro irradiador de uma nova perspectiva de análise
segundo o modelo de tradições discursivas e tem depositado especial atenção ao tema da mudança
lingüística dentro de uma teoria das tradições culturais. Entre os pesquisadores brasileiros têm-se
destacado os trabalhos de Barbosa (1999, 2002 e 2005), além de Simões (2007), Simões/Kewitz (2007),
Castilho (2007) e Simões/Castilho (2007).

Procura-se, através do modelo de tradições discursivas, responder a algumas questões básicas


com que se deparam os lingüistas históricos, questões que se entrelaçam e geram novas questões: como
definir o estatuto sincrônico de uma língua, se esse mesmo recorte é ao mesmo tempo portador de
produtos de mudança diacrônica e de elementos que começam a variar nessa mesma língua? Dessa
mesma questão surgem outras: como lidar com os conceitos de norma culta e norma popular quando se
analisa textos escritos de sincronias passadas? Como estabelecer os limites entre o processo de
escrituralização de uma língua e a oralidade? Que textos escritos nos dão pistas de normas mais
populares? Como interpretar os resultados quantitativos que envolvem a mudança lingüística diante deste
quadro complexo, fruto de mudanças socio-culturais vivenciadas pelos vários estratos de um mesmo
grupo lingüístico? Que cuidados metodológicos são necessário para a montagem de um corpus
diacrônico?

Este seminário não tem por objetivo responder exaustivamente estas questões, mas sim
evidenciar como elas são importantes para a análise de fenômenos lingüísticos numa perspectiva
diacrônica. O curso está dividido em quatro módulos e parte de (1) uma contextualização inicial sobre a
gênese do modelo de tradições discursivas, para em seguida tratar de questões que envolvem (2) a relação
entre o modelo de tradições discursivas e a mudança lingüística. Em seguida, tratamos da questão que
afeta (3) a constituição de corpora diacrônicos e (4) como a interpretação dos dados deve estar orientada
por hipóteses distintas, de acordo com a perspectiva de análise adotada pelo pesquisador (mudança
gramatical, constituição de normas (culta e popular), mudança de gêneros discursivos, etc.). Um dos
objetivos do curso é demonstrar como o modelo de TDs pode ser aplicado na prática aos corpora de
língua portuguesa (Cardeira, 2005; Tessyer, 2006; Simões, 2007; Simões/Kewitz, 2007; Simões/Castilho,
2007, Castilho, 2007).

Para cada módulo foram selecionados textos de leitura prévia e obrigatória que serão discutidos
em aula. Referências bibliográficas suplementares completam essa lista de textos básicos.

1. Sincronia, diacronia, norma lingüística e mudança (08.10.2007)

COSERIU, Eugenio (1978). “Las condiciones generales del cambio. Determinaciones sistemáticas y
extra-sistemáticas. Estabilidad e inestabilidad de las tradiciones lingüísticas”. Em: Sincronía,
diacronía, historia, Madrid, Gredos, p. 111-141.
KOCH, Peter (1997). “Diskurstraditionen: zu ihrem sprachtheoretischen Status und ihrer Dynamik, in:
Barbara Frank / Thomas Haye / Doris Tophinke (ed.). Gattungen mittelalterlicher Schriftlichkeit.
Tübingen: Narr, p. 43-79 – tradução digitada de Alessandra Castilho.
2. Tradições discursivas e mudança lingüística em uma teoria das tradições culturais (09.10.2007)

KABATEK, Johannes (2001). “Cómo investigar las tradiciones discursivas medievales? El ejemplo de los
textos jurídicos castellanos. Em: Daniel Jacob / Johannes Kabatek (eds.). Lengua Medieval y
Tradiciones Discursivas en la Península Ibérica. Frankfurt am Main: Vervuert / Madrid:
Iberoamericana, p. 97-132.
KABATEK, Johannes (2006): “Tradições discursivas e mudança lingüística”. In: LOBO, Tânia, RIBEIRO,
Ilza, CARNEIRO, Zenaide, ALMEIDA, Norma. (Orgs.). Para a história do português brasileiro:
novos dados, novas análises. Salvador: EDUFBA, 2006.
KOCH, Peter / OESTERREICHER, Wulf (2006). “Oralidad y escrituralidad a la luz de la teoría del
lenguaje”. Em: Lengua hablada en la Romania: español, francés , italiano. Madrid: Gredos (material
digitado da tradução de Araceli Lópes Serena).

3. A constituição de um corpus diacrônico segundo o modelo de TDs (10.10.2007)

BARBOSA, Afrânio Gonçalves (2005). Normas cultas e normas vernáculas: a encruzilhada histórico-
diacrônica nos estudos sobre português brasileiro. Rio de Janeiro: UFRJ/FAPERJ. (no prelo).
SIMÕES, José da Silva e KEWITZ, Verena (2007). “Tradições discursivas e organização de corpora”. Em:
Vanderci Aguilera (Org.). Para a história do português brasileiro, VI Seminário do PHPB. Londrina:
UEL (digitado).
BIBER, Douglas (1993). “Using register-diversified corpora for general language studies”. In:
Computational Linguistics, Volume 19 , Issue 2. Special issue on using large corpora: II, p. 219-
241.

4. Da escrita para a fala: norma lingüística e tradição discursiva (11.10.2007)

CARDEIRA, Esperança (2005). “A síncope de –D- no morfema número pessoal”. Em: Entre o português
antigo e o português classico. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 175-201.
PONS RODRÍGUEZ, Lola (2006). “El peso de la tradición discursiva en un proceso de textualización”. In:
Colóquio Del Cid al Quijote. Tübingen: Universität Tübingen.
TESSYER, Paul (2005). “A veia popular”. Em: A língua de Gil Vicente. Lisboa: Imprensa Nacional Casa
da Moeda, p. 607-642 (Coleção Filologia Portuguesa).

5. Literatura básica do seminário

BARBOSA, Afrânio Gonçalves (2005). Normas cultas e normas vernáculas: a encruzilhada histórico-
diacrônica nos estudos sobre português brasileiro. Rio de Janeiro: UFRJ/FAPERJ. (no prelo).
BIBER, Douglas (1993). “Using register-diversified corpora for general language studies”. In:
Computational Linguistics, Volume 19 , Issue 2. Special issue on using large corpora: II, p. 219-
241.
CARDEIRA, Esperança (2005). “A síncope de –D- no morfema número pessoal”. Em: Entre o português
antigo e o português classico. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 175-201.
COSERIU, Eugenio (1978). “Las condiciones generales del cambio. Determinaciones sistemáticas y
extra-sistemáticas. Estabilidad e inestabilidad de las tradiciones lingüísticas”. Em: Sincronía,
diacronía, historia, Madrid, Gredos, p. 111-141.
KABATEK, Johannes (2001). “Cómo investigar las tradiciones discursivas medievales? El ejemplo de los
textos jurídicos castellanos. Em: Daniel Jacob / Johannes Kabatek (eds.). Lengua Medieval y
Tradiciones Discursivas en la Península Ibérica. Frankfurt am Main: Vervuert / Madrid:
Iberoamericana, p. 97-132.
KABATEK, Johannes (2006): “Tradições discursivas e mudança lingüística”. In: LOBO, Tânia, RIBEIRO,
Ilza, CARNEIRO, Zenaide, ALMEIDA, Norma. (Orgs.). Para a história do português brasileiro:
novos dados, novas análises. Salvador: EDUFBA, 2006.
KOCH, Peter (1997). “Diskurstraditionen: zu ihrem sprachtheoretischen Status und ihrer Dynamik, in:
Barbara Frank / Thomas Haye / Doris Tophinke (ed.). Gattungen mittelalterlicher Schriftlichkeit.
Tübingen: Narr, p. 43-79 – tradução digitada de Alessandra Castilho.
KOCH, Peter / OESTERREICHER, Wulf (2006). “Oralidad y escrituralidad a la luz de la teoría del
lenguaje”. Em: Lengua hablada en la Romania: español, francés , italiano. Madrid: Gredos (material
digitado da tradução de Araceli Lópes Serena).
PONS RODRÍGUEZ, Lola (2006). “El peso de la tradición discursiva en un proceso de textualización”. In:
Colóquio Del Cid al Quijote. Tübingen: Universität Tübingen.
SIMÕES, José da Silva e KEWITZ, Verena (2007). “Tradições discursivas e organização de corpora”. Em:
Vanderci Aguilera (Org.). Para a história do português brasileiro, VI Seminário do PHPB. Londrina:
UEL (digitado).
TESSYER, Paul (2005). “A veia popular”. Em: A língua de Gil Vicente. Lisboa: Imprensa Nacional Casa
da Moeda, p. 607-642 (Coleção Filologia Portuguesa).

6. Bibliografia suplementar

BARBOSA, Afrânio Gonçalves (1999): Para uma História do Português Colonial: aspectos lingüísticos em
cartas de comércio. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, UFRJ, Rio de Janeiro. Tese de Doutorado em
Letras, Área de Língua Portuguesa.
BARBOSA, Afrânio Gonçalves (2002): “O Contexto dos textos coloniais”, em: Alkmin, Tânia Maria (Org.)
(2002): Para a História do Português Brasileiro Volume III: novos estudos. Campinas:
Humanitas/FFLCH/USP. p. 421-431.
CANO AGUILAR, Rafael (1998). “Presencia de lo oral en lo escrito: la transcripción de las declaraciones
en documentos indianos del siglo XVI”. Em: Wulf Oesterreicher, Eva Stoll & Andreas Wesch
(Eds.). Competencia escrita, tradiciones discursivas y variedades lingüísticas. Aspectos del español
europeo y americano en los siglos XVI y XVII. Tübingen: Gunter Narr Verlag, p. 219-242.
CARDEIRA, Esperança (2005). “A síncope de –D- no morfema número pessoal”. Em: Entre o português
antigo e o português classico. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 175-201.
CARDEIRA, Esperança (2005). “Aspectos do português médio”. Em: Entre o português antigo e o
português classico. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 101-270.
CARDEIRA, Esperança (2005). “Conclusões”. Em: Entre o português antigo e o português classico.
Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 271-294.
CARDEIRA, Esperança (2005). “Para uma caracterização do Português Médio – Constituição de um
corpus”. Em: Entre o português antigo e o português classico. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da
Moeda, p. 67-82.
COMPANY COMPANY, Concepción (2005). “Gramaticalización, género discursivo y otras variables em
la difusión del cambio sintáctico”. In: Colóquio Del Cid al Quijote. Tübingen: Universität Tübingen.
COSERIU, Eugenio (2006 [1980]). Lingüística del texto. Introducción a la hermenéutica del sentido y
Lenguaje y discurso. Pamplona: Eunsa. Tradução de Óscar Loureda.
EBERENZ, Rolf. (1998). “La reproducción del discurso oral en las actas de la Inquisición (siglos XV y
XVI). Em: Wulf Oesterreicher, Eva Stoll & Andreas Wesch (Eds.). Competencia escrita,
tradiciones discursivas y variedades lingüísticas. Aspectos del español europeo y americano en los
siglos XVI y XVII. Tübingen: Gunter Narr Verlag, p. 243-268.
JUNGBLUTH, Konstanze (1998). “El carácter de los textos semi-orales y el junctor que”. Em: Wulf
Oesterreicher, Eva Stoll & Andreas Wesch (Eds.). Competencia escrita, tradiciones discursivas y
variedades lingüísticas. Aspectos del español europeo y americano en los siglos XVI y XVII.
Tübingen: Gunter Narr Verlag, p. 219-243.
KABATEK, Johannes (2005) “Sobre a historicidade de textos”, tradução de José da Silva Simões, em:
Linha d'água. 17. São Paulo: USP/APLL.
LOUREDA, Oscar (2006). “Fundamentos de una lingüística del texto real y funcional”. In: Coseriu,
Eugenio / Loureda, Oscar. Lenguaje y discurso. Pamplona: EUNSA, p. 127-151
MARQUILHAS, Rita (2000). “A dimensão externa da escrita”. Em: Faculdade das Letras, leitura e
escrita em Portugal no séc. XVII. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 14-82. (Coleção
Filologia Portuguesa).
MARQUILHAS, Rita (2000). “Mãos inábeis nos arquivos da inquisição, significado linguístico de textos
elaborados em níveis incipientes de aquisição da escrita”. Em: Faculdade das Letras, leitura e
escrita em Portugal no séc. XVII. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 230-266. (Coleção
Filologia Portuguesa).
OESTERREICHER, Wulf (1997): “Zur Fundierung von Diskurstraditionen”, in Thomas Haye/Doris
Tophinke (Hg.), Gattungen mittelalterlicher Schriftlichkeit, Tübingen: Narr, pp. 19–41
OLIVEIRA, Klebson (2005). Negros e escrita no Brasil do século XIX: socio-história, edição filológica
de documentos e estudo lingüístico. Salvador: UFBA. Tese de doutorado.
SCHLIEBEN-LANGE, Brigitte (1983). Tradition des Sprechens. Elemente einer pragmatischen
Sprachgeschichtschreibung. Stuttgart: Kohlhammer.
SIMÕES, José da Silva (2007). “A constituição de um corpus diacrônico do português brasileiro dos séculos
XVIII, XIX e XX e seus traços lingüístico-discursivos. Em: Sintaticização, discursivização e
semanticização das orações de gerúndio no português brasileiro. São Paulo: FFLCH / USP. Tese de
doutorado apresentada à área de língua portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas.
SIMÕES, José da Silva e CASTILHO, Alessandra da Costa (2007). “As atas paroquiais como gênero
discursivo”. Em: BASSENEZI, Maria Silvia C. Beozzo (Org.). As atas paroquiais dos setecentos e
oitocentos: linhas e entrelinhas (as diferentes leituras). Campinas: NEPO / IFCH Núcleo de Estudos
de População, Programa de Pós-Graduação em Demografia. (digitado)
TESSYER, Paul (2005). “A linguagem rústica portuguesa”. Em: A língua de Gil Vicente. Lisboa:
Imprensa Nacional Casa da Moeda, p. 89-214 (Coleção Filologia Portuguesa).
WILHELM, Raymund (2001): “Diskurstraditionen”, in: Martin Haspelmath/Ekkehard König/Wulf
Oesterreicher/Wolfgang Raible (Hg.), Language Typology and Language Universals. An
International Handbook, I, Berlin/New York: de Gruyter, pp. 467–477

2.3. PUBLICAÇÕES DA EQUIPE NO ÚLTIMO TRIÊNIO

1 – Livros

1. VIARO, Mário Eduardo (2004). Por trás das palavras: manual de etimologia do português. São
Paulo: Globo.
2. ALMEIDA, Mourivaldo S. e COX, Maria Inês Pagliarini (Orgs. 2005). Vozes Cuiabanas:
estudos linguísticos em Mato Grosso. Cuiabá: Cathedral Publicações, pp. 213-227.
3. OLIVEIRA, Marilza (Org. 2006). Língua Portuguesa em São Paulo: 450 anos. São Paulo:
Associação Editorial Humanitas, 304 páginas.
4. LIMA-HERNANDES, Maria Célia / FROMM, Guilherme (Orgs. 2005). Domínios de
Linguagem V: Diálogo entre a universidade, a escola e a sociedade. São Paulo : Plêiade, 2005,
v.1. p.255
5. KEWITZ, Verena / SIMÕES, José da Silva (Eds. 2006). Cartas Paulistas dos Séculos XVIII e
XIX. São Paulo: Humanitas, cd-rom.
6. LIMA-HERNANDES, Maria Célia / GONÇALVES, Sebastião C. L. / CASSEB-GALVÃO,
Vânia C. (Orgs.2007). Introdução à Gramaticalização. São Paulo: Parábola Editora, v.1. p.206.

2 – Capítulos de livros, artigos

1. ALKMIM, Tânia - 2006 - Fala de escravos brasileiros e portugueses: um esboço de


comparação. Em Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006: 585-594).
2. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2004 - O gênero crônica e a prática escolar. Filologia e
Lingüística Portuguesa, 2004, vol. 6, 267-279.
3. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2005 - As crônicas de Carlos Heitor Cony e a manutenção
de um diálogo com o leitor. Em: Dino Preti (org.) Diálogos na fala e na escrita. São Paulo:
Associação Editorial Humanitas, 2005, p. 299-324
4. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2005 - História e Lingüística: oralidade e escrita no
discurso religioso medieval. Em: Ruy de Oliveira Andrade Filho (org.) Relações de poder,
educação e cultura na Antiguidade e na Idade Média. São Paulo: Editora Solis, 2005, p. 47-
55.
5. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2005 - “Do direito de não informar” ou o gênero crônica e
a construção da opinião pública. Em: Aproaches to Critical discourse Analysis. Maria Labarta
Postigo (ed.) Research papers presented at the First International Conference on CDA,
Valencia, 5-8 may 2004. First edition 2005, Valencia, CDRom, 15pp. (ISBN 84-370-6153-9)
6. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2005 — Leonor Lopes Fávero e Zilda Gaspar Oliveira de
Aquino. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 5ª. ed. São Paulo:
Cortez, 2005, 126pp.
7. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2006 - O gênero carta: estratégias lingüísticas e interação
social. Em: Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006: 547-574).
8. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2006 - Características textuais do português culto falado
em São Paulo: o uso das digressões. Em: Marilza de Oliveira (Org. 2006: 203-224).
9. ANDRADE, Maria Lúcia C.V.O. - 2006 Cartas do Editor em revistas brasileiras: marcas de
envolvimento.Em. Dino Preti (org.) Oralidade em diferentes discursos. Vol. 8 São APulo
Associ\ação Editorial Humanitas (2006: 129-160).
10. BACELLAR, Carlos de Almeida Prado - O processo de povoamento do território paulista,
séculos XVI a XX. Em: Marilza de Oliveira (Org. 2006: 19-38).
11. BERLINCK, Rosane – 2005 – O objeto indireto no português brasileiro: um estudo diacrônico
In: Gladis Massini-Cagliari et alii (org.) Estudos de Lingüística Histórica do Português.1 ed.
Araraquara / São Paulo : Laboratório Editorial FCL/UNESP / Cultura Acadêmica, p. 123-139.
12. CASSEB-GALVÃO, Vânia C. / LIMA-HERNANDES, Maria Célia (2007). Gramaticalização
e ensino In: Introdução à Gramaticalização.1 ed.São Paulo: Parábola, v.1, pp. 157-195.
13. CASSEB-GALVÃO, Vânia C. / LIMA-HERNANDES, Maria Célia – 2007 -
Gramaticalização e ensino In: Introdução à Gramaticalização.1 ed. São Paulo: Parábola, v.1,
pp. 157-195.
14. CASTILHO, Ataliba T. de - 2004a - Unidirectionality or multidirectionality? Some issues on
grammaticalization. Revista do GEL 01: 35-48, 2004.
15. CASTILHO, Ataliba T. de - 2004b - Diacronia das preposições do eixo transversal no
Português Brasileiro. Em: Lígia Negri et alii (Org. 2004). Sentido e Significação. Em torno da
obra de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, pp. 11-47.
16. CASTILHO, Ataliba T. de - 2004c - Reflexões sobre a teoria da gramaticalização.
Contribuição ao debate sobre a teoria da gramaticalização no contexto do PHPB. Em:
Wolf Dietrich / Volker Noll (Orgs. 2004). O Português do Brasil. Perspectivas da
pesquisa atual. Madrid / Frankfurt: Iberoamericana / Vervuert, pp. 203-230.
17. CASTILHO, Ataliba T. de - 2004d - O problema da gramaticalização das preposições
no Projeto Para a História do Português Brasileiro. Estudos Lingüísticos 33 (2004),
cd-rom.
18. CASTILHO, Ataliba T. de - 2004c – História da Língua Portuguesa, roteiro para a construção
da Linha do Tempo do Museu da Língua Portuguesa, Fundação Roberto Marinho, 90 págs.
19. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005d – Projeto do Portal da Língua Portuguesa, projeto e
coordenação de execução, Museu da Língua Portuguesa, Fundação Roberto Marinho, 30 págs.
20. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005e – Que se entende por língua, Como as línguas nascem e
morrem, Como nasceu a língua portuguesa, Formação do Português Brasileiro, textos
disponibilizados em www.museudalinguaportuguesa.org.
21. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005f – Relatório do Presidente da Associação de Lingüística e
Filologia da América Latina (1999-2005), apresentado ao XIV Congresso Internacional da
ALFAL (Monterrey, México, outubro de 2005), sobre as realizações como Presidente dessa
associação, 60 págs.
22. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005g – Língua Portuguesa e política lingüística: o ponto de vista
brasileiro. Em: A Língua Portuguesa, presente e futuro. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, pp. 193-221.
23. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005i - Importância dos projetos coletivos para os estudos
descritivo e histórico do português brasileiro. Em: Manoel Mourivaldo S. Almeida e Maria
Inês Pagliarini Cox (Orgs. 2005). Vozes Cuiabanas: estudos linguísticos em Mato Grosso.
Cuiabá: Cathedral Publicações, pp. 213-227.
24. CASTILHO, Ataliba T. de - 2005j – Diacronia dos adjuntos adverbiais preposicionados no
português brasileiro. Em G. Massini-Cagliari et alii (2005). Estudos de Linguística Histórica
do Português. Araraquara: Cultura Acadêmica / Laboratório Editorial da Unesp-Araraquara,
pp. 73-110.
25. CASTILHO, Ataliba T. de - 2006 a – Importância dos projetos coletivos para o estudo
descritivo e histórico do português brasileiro. Em: Marilza de Oliveira (Org. 2006: 185-202).
26. CASTILHO, Ataliba T. de - 2006b – Repercussões das pesquisas de graduação na qualidade
dos programas de pós-graduação. Cadernos de Pesquisa na Graduação em Letras 3 (1): 2006,
13-16.
27. CASTILHO, Ataliba T. de - 2006c – Estratégias comunicativas do Português falado no Brasil.
Em: Suzana A. M. Cardoso / Jacyra A. Mota / Rosa Virgínia Mattos e Silva (Orgs. 2006).
Quinhentos anos de História Lingüística do Brasil. Salvador: Fundo de Cultura da Bahia, pp.
293-318.
28. CASTILHO, Ataliba T. de - 2006d – Proposta funcionalista de mudança lingüística: os
processos de lexicalização, semanticização, discursivização e gramaticalização na constituição
das línguas. Em: Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006: 223-296).
29. CASTRO, Vandersi Sant’Ana - 2006 - Os estudos dialetológicos no Estado de São Paulo. Em:
Marilza de Oliveira (Org. 2006: 39-62).
30. CYRINO, Sônia Maria Lazzarini - 2004 - O problema da experiência detonadora na mudança
sintática do português brasileiro. Estudos Lingüísticos XXXIII, publicação em CD-ROM,
2004.
31. CYRINO, Sônia Maria Lazzarini - 2005 - Investigando a Anáfora de Complemento Nulo, a
categoria Aspecto e o Objeto Nulo no Português Brasileiro Memórias, vol I. XIV Congreso
Internacional da ALFAL. CD-ROM.
32. CYRINO, Sônia Maria Lazzarini - 2005 - Para a história do português do Brasil: mudança
lingüística e memória histórica. Actas, XIV Congreso Internacional da ALFAL, Monterrey,
México. CD-ROM. ISBN 956-310-179-0.
33. CYRINO, Sônia Maria Lazzarini - 2006 - Anáfora do complemento nulo na história do
português brasileiro. Em Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006: 45-72).
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literatura em debate. Associação de Professores de Língua e Literatura. São Paulo: Humanitas/
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74. MÓDOLO, Marcelo - 2004 — “XAVIER, Antonio Carlos & CORTEZ, Suzana (Orgs.)
Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística. São Paulo, Parábola
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Walter de Gruyter: Berlin/ New York, (Resenha Crítica);
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Brasil. Curitiba, Nova Didática, 91 pp." In: Filologia e lingüística portuguesa. Departamento
de Letras Clássicas e Vernáculas; Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas;
Universidade de São Paulo; nº. 6, pp. 357-367, Humanitas, FFLCH/USP, São Paulo, (Resenha
Crítica);
76. MÓDOLO, Marcelo - 2004 — “CUNHA, Maria Angélica Furtado da; OLIVEIRA,
Mariângela Rios de & MARTELOTTA, Mário Eduardo (orgs.) 2003 Lingüística funcional:
teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A/Faperj, 140 p. ISBN 85-7490-240-3.” In.: D.E.L.T.A,
Vol. 20, Nº. 1, pp. 185-188, (Nota sobre livro);
77. MÓDOLO, Marcelo - 2004 — "Orelhas" para "LUFT, Celso Pedro. Gramática resumida:
explicação da Nomenclatura Gramatical Brasileira. Supervisão Lya Luft; organização
Marcelo Módolo; consultoria técnica de Mário Eduardo Viaro. 2. ed., revista e atualizada, São
Paulo, Editora Globo", (Orelhas de obra);
78. MÓDOLO, Marcelo - 2004 — "Nota à edição revista e atualizada" de "LUFT, Celso Pedro.
Gramática resumida: explicação da Nomenclatura Gramatical Brasileira. Supervisão Lya
Luft; organização Marcelo Módolo; consultoria técnica de Mário Eduardo Viaro. 2. ed., revista
e atualizada, São Paulo, Editora Globo", em co-autoria com Mário Eduardo Viaro (s.p.),
(Apresentação de obra).
79. MÓDOLO, Marcelo - 2004 — Edição filológica de cartas pessoais do século XIX. In.:
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redatores. 1 ed. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ UFRJ/ Labor-Histórico, CD único.
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o clítico locativo en e o dequeísmo em oraçõe relativas no PM. Em: Tânia Lobo et alii (Orgs.
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indireto no português: aspectos sincrônicos e diacrônicos. Em: Tânia Lobo, Ilza Ribeiro,
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101. RODRIGUES, Ângela C. S. - Português popular em São Paulo. Em: Marilza de Oliveira (Org.
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reduzidas de gerúndio no português brasileiro. Em: Tânia Lobo et alii (Orgs. 2006: 335-386).
34. SIMÕES, José da Silva – 2007 – Mudança lingüística e gêneros textuais: análise diacrônica de
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106. VIARO, Mário Eduardo (2006) —Categorias semânticas de -eiro. XXI Jornada de Estudos
Lingüísticos do Nordeste – GELNE. João Pessoa: Ideia, 2006. v. 1. p. 2121-2128.
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108. VIARO, Mário Eduardo -2005 —Relação entre produtividade e freqüência na produção do
significado. Estudos Lingüísticos, Campinas, v. 34, p. 1230-1235.
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quatrocentista e quinhentista. Papia, v. 15, p. 80-101.
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africanas e asiáticas. In: SILVA, Luiz Antônio da (org.). A língua que falamos - português:
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111. VIARO, Mário Eduardo - 2005 —Os sufixos portugueses numa visão diacrônica . XVI
Seminário do Cellip (Centro de Estudos Lingüísticos e Literários do Paraná). Londrina:
Universidade Estadual de Londrina/Cellip/Fundação Araucária.
112. VIARO, Mário Eduardo - 2004 — VIARO, M. E. ; NOGUEIRA, Amábile Bianca . Diacronia
de uma variante do português brasileiro: a fala de Itapocorói (SC). Estudos Lingüísticos (CD
ROM) Campinas: GEL, v. 33, n. 1.
113. VIARO, Mário Eduardo - 2004 —A third hypothesis for the etymology of Portuguese até.
Revista do Gel. Araraquara: GEL, v. 1, n. 1, p. 91-100.
114. VIARO, Mário Eduardo - 2004 —Sufixação nas Cantigas de Santa Maria . Congresso
Brasileiro de Língua Portuguesa do IP-PUC/SP. São Paulo : IP-PUC-SP.
115. VIARO, Mário Eduardo - 2004 —Deriva ou conservação? O caso do português ultramarino. X
Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa. São Paulo : IP-PUC/SP. v. 1.

Para dar maior visibilidade às pesquisas da equipe, decidiu-se dar início neste ano à
publicação de duas séries: I) Série de Estudos, II) Série Corpora.

Um acordo foi celebrado com o Setor de Publicações do Instituto de Estudos da


Linguagem da Unicamp, com aprovação de seu Diretor, Prof. Dr. Alcyr Pécora, em
virtude do qual a cada mês de outubro serão encaminhados originais de dois volumes,
para preparação, buscando-se recursos para o custeio da gráfica.

3. APRESENTAÇÃO DO VOLUME I DA SÉRIE ‘ESTUDOS’

Ataliba T. de Castilho (Org. 2007). História do Português Paulista. Série Estudos - Vol.
I. São Paulo: Setor de Publicações do IEL / Unicamp, no prelo

INTRODUÇÃO

1. Apresentação do Projeto de História do Português Paulista


2. Atividades da equipe paulista do Projeto para a História do Português Brasileiro (2002-2007).
3. Apresentação deste volume

Parte I - CONFERÊNCIAS

Elizabeth Closs Traugott – Grammaticalization and Construction Grammar

Bernd Heine -

Ataliba T. de Castilho – An approach to language as a complex system

Carlos de Almeida Prado Bacelar - O processo de povoamento do território paulista nos séculos XVI a
XX.

Parte II – HISTÓRIA SOCIAL DO PORTUGUÊS PAULISTA

Cap. 1 - Ângela Cecília de S. Rodrigues - Fotografia Sociolingüística do Português do Brasil: o


português popular em São Paulo.
Cap. 2 - Belkis Wey Berti Brito - Resistência feminina no século XX: o ensino na capital paulista.
Cap. 3 - Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida / Maria Helena de Paula/ Cláudia Falcão / Rachel Omoto
Gabriel / Rita de Cássia Almeida Braga – Aspectos lingüístico-culturais na rota caipira
Cap. 4 - Maria Célia Lima-Hernandes – Trajetória da elite acadêmica na cidade de São Paulo
Cap. 5 – Marilza de Oliveira - Para a história social da língua portuguesa em São Paulo: séculos XVI-
XVIII
Cap. 6 - Marilza de Oliveira / Verena Kewitz - A representação do caipira na imprensa paulista do séc.
XIX
Parte III – MUDANÇA GRAMATICAL

Cap. 7 – Ana Paula Rocha – Mudança semânticas apresentadas por conjunções adversativas em
português: o papel da categoria espaço
Cap. 8 – Ângela C.S. Rodrigues / Maria Célia Lima-Hernandes / Lídia Spaziani – Graus de
imperatividade em cartas brasileiras
Cap. 9 - Angélica Rodrigues - Ir e pegar nas construções do tipo foi fez: gramática de construções de
contexto de gramaticalização
Cap. 10 – Ataliba T. de Castilho – Para uma análise multissistêmica das preposições
Cap. 11 - Célia Maria Moraes de Castilho – A concordância nos inventários do séc. XVII
Cap. 12 – Cristina dos Santos Carvalho – (Contra)evidências empíricas de pressupostos da
gramaticalização
Cap. 13 - Cristina Lopomo Defendi / Lídia Spaziani / Renata Barbosa Vicente / Vanessa Cacciaguerra -
Advérbios em foco: atrás, afinal, onde e fora sob a perspectiva da Teoria Multissistêmica
Cap. 14 – Elaine Cristina Santos / Kelly Viviane Bernardo / Luciana Terra e Paulo Barroso - Análise
Multissistêmica dos Verbos Buscar, Esperar, Querer e Vir
Cap. 15 – Elisangela Baptista de Godoy Sartin - Análise multissistêmica de orações complexas:
estruturas para + infinitivo no português culto
Cap. 16 – José da Silva Simões – Sintaticização, discursivização e semanticização das orações de
gerúndio no Português Brasileiro
Cap. 17 - Marcelo Módolo – A estrutura correlativa alternativa quer...quer de uma perspectiva
multissistêmica
Cap. 18 – Maria Célia Lima-Hernandes - Two principles, one path: relationships between
unidirectionality and iconicity in linguistic processing.
Cap. 19 - Miguel Salles – Algumas formas de tratamento do interlocutor no Português Brasileiro de São
Paulo no séc. XIX
Cap. 20 – Nanci Romero - Gramaticalização, lexicalização e semantização de com e sem
Cap. 21 - Nilza Barrozo Dias - As “pequenas cláusulas” nas construções apositivas.
Cap. 22 - Ronald Beline Mendes - Estar + gerúndio: um auxiliar, uma perífrase, duas gramaticalizações
Cap. 23 - Sanderléia Roberta Longhin-Thomazi - Grammaticalization of conjunctions
Cap. 24 – Sebastião Carlos Leite Gonçalves – Aspectos da subordinação sentencial sob uma perspectiva
diacrônica: o caso das orações em posição argumental de sujeito
Cap. 25 – Vandersi Sant’Ana Castro – Revisitando Amadeu Amaral
Cap. 26 – Verena Kewitz – Gramaticalização e semanticização das preposições a e para no Português
Brasileiro (séculos XIX e XX)

Parte IV – Diacronia do texto e tradições discursivas

Cap. 27 – Alessandra C. F. da Costa – Transformação de gêneros discursivos em uma perspectiva


diacrônica: o exemplo da notícia
Cap. 28 – Célia Maria Moraes de Castilho – Estrutura discursiva dos Inventários de São Paulo do séc.
XVII
Cap. 29 – José Simões da Silva e Verena Kewitz – Normas lingüísticas, história social, contatos
lingüísticos e tradições discursivas: transformando encruzilhadas em novos caminhos para a
constituição de corpora diacrônicos
Cap. 30 – Maria Lúcia C.V.O. Andrade / Helena Nagamine Brandão / Zilda G. Aquino – Cartas da
administração privada e cartas particulares: estudo da organização discursiva

Parte V – Léxico e Fonologia

Cap. 31 – Criseida Rowena Zambotto de Lima e Manoel Mourivaldo Santiago Almeida – O rotacismo na
fala de Mata Cavalo
Cap. 32 – Mário Eduardo Viaro – Reflexões teóricas acerca da reconstrução lexical do Português antigo
paulista
Cap. 33 - Maria João Marçalo - Formação de palavras: sintemas e frasemas

Cap. 34 – Sandra Regina F. Bertoldo – O Léxico no Distrito de Nossa Senhora da Guia

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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