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LINGUAGENS

e suas Tecnologias
Língua Portuguesa

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Novo Ensino Médio
LÍNGUA PORTUGUESA

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ANO
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DO

Natália Bravo
AL

Raphael Hormes
NU

Thiago Braga
MA
Presidência: Mario Ghio Júnior
Vice-presidência de educação digital: Camila Montero Vaz Cardoso
Direção de relacionamento pedagógico: Claudio Falcão
Gerência pedagógica: André Luiz de Aguiar Freitas
Direção editorial: Lidiane Vivaldini Olo
Gestão de projeto: Marcela Pontes
Coordenação editorial: Tatiana Leite Nunes
Edição: Daiene Pinto Silva e Gisele Folha Mós
Emendas, erratas e projetos complementares: Marcela Pontes (ger.), Angélica
Alves dos Santos (coord.), Daniela Carvalho e Ludmila da Guarda
Aprendizagem digital: Renata Galdino (ger.), Beatriz de Almeida Pinto Rodrigues da
Costa (coord. Experiência de Aprendizagem), Carla Isabel Ferreira Reis (coord. Produção Multimídia),
Daniella dos Santos Di Nubila (coord. Produção Digital), Rogério Fabio Alves (coord. Publicação)
Planejamento, controle de produção e indicadores: Flávio Matuguma (ger.),
Juliana Batista (coord.), Anny Lima e Suelen Ramos (analistas)
Revisão: Letícia Pieroni (coord.), Aline Cristina Vieira, Anna Clara Razvickas, Carla
Bertinato, Daniela Lima, Danielle Modesto, Diego Carbone, Elane Vicente, Kátia S.
Lopes Godoi, Lilian M. Kumai, Luíza Thomaz, Malvina Tomáz, Marília H. Lima, Paula
Freire, Paula Rubia Baltazar, Paula Teixeira, Raquel A. Taveira, Ricardo Miyake,
Shirley Figueiredo Ayres, Tayra Alfonso e Thaise Rodrigues
Arte: Fernanda Costa da Silva (ger.), Catherine Saori Ishihara (coord.),
Renato Neves de Oliveira e Eber Alexandre de Souza (edição de arte)
Diagramação: Maluhy&Co
Iconografia e tratamento de imagem: Roberta Bento (ger.), Iron Mantovanello
Oliveira, Thaisi Albarracin Lima, Isabela Garcez, Roberta Freire (pesquisa iconográfica) e
Fernanda Crevin (tratamento de imagens)
Licenciamento de conteúdos de terceiros: Roberta Bento (ger.),
Jenis Oh (coord.), Liliane Rodrigues, Flávia Zambon e
Raísa Maris Reina (analistas de licenciamento)
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Mauro Nakata, Osni Oliveira, R2 Editorial, Renan Neves e Samuel Nascimento
Cartografia: Eric Fuzii (coord.) e Robson Rosendo da Rocha
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bravo, Natália Bravo, Natália
PH : Ensino Médio : Língua portuguesa : Caderno 1 : Manual PH [livro eletrônico] : Ensino Médio : Língua portuguesa :
do professor / Natália Bravo, Raphael Hormes, Thiago Braga. Caderno 1 : Manual do professor / Natália Bravo, Raphael
-- São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2023. Hormes, Thiago Braga. -- São Paulo : SOMOS Sistemas de
Ensino, 2023.
PDF

ISBN 978-65-5923-341-0
ISBN 978-65-5923-359-5 (e-book)

1. Língua portuguesa (Ensino médio) I. Título II. Hormes,


Raphael III. Braga, Thiago 1. Língua portuguesa (Ensino médio) I. Título II. Hormes,
Raphael III. Braga, Thiago
CDD 469.07
22-3048 22-3056 CDD 469.07

Angélica Ilacqua – Bibliotecária – CRB-8/7057 Angélica Ilacqua – Bibliotecária – CRB-8/7057

2023 2023
1a edição
De acordo com a BNCC.

Impressão e acabamento

Uma publicação
APRESENTAÇÃO

Prezado professor,
Apresentamos a você o novo material do 3o ano do Ensino Médio. Ele foi reformulado para
atender às Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) e à Base Nacional Co-
mum Curricular (BNCC).
Na Formação Geral Básica, o currículo foi reelaborado para garantir a revisão dos principais
conteúdos de Linguagens e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias e continuar favo-
recendo o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes, tornando-os aptos a enfrentar
os desafios da sociedade e a obter excelentes resultados no Enem e nos demais vestibulares do
Brasil.
A matriz de competências e habilidades contemplada no material considera, simultaneamente,
as competências gerais da Educação Básica, previstas na BNCC, e as habilidades específicas das
áreas de conhecimento. Afinal, tão importante quanto oferecer um conteúdo consistente é formar
um aluno capaz de solucionar situações-problema que consolidem o aprendizado.
Nas páginas a seguir, você encontrará sugestões para conduzir suas aulas com modelos de
quadro, leituras complementares e exercícios com gabarito comentado.
Desejamos a você um excelente ano letivo!
Os autores

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CONHEÇA SEU MATERIAL
Veja, a seguir, algumas seções presentes no material:

ABERTURA DE MÓDULO
Esta seção apresenta os conteú-
dos ou temas que serão abordados ao
longo do módulo, bem como as ha-
bilidades que ele se propõe a desen-
volver (autorais e/ou da Base Nacional
Comum Curricular na Formação Geral
Básica ou dos Referenciais Curriculares
para a Elaboração de Itinerários Forma-
tivos nos Itinerários Formativos).

Para começar

A fim de fortalecer a conexão entre o conteúdo teórico e as


habilidades a serem desenvolvidas, esta seção contextualiza os co-
nhecimentos dos alunos a respeito dos objetos do conhecimento
que serão revistos no módulo. Na disciplina de Língua Inglesa, esta
seção chama-se Getting Started.

Para relembrar

Nesta seção, os objetos do conhecimento já estudados no


1 e 2o anos serão relembrados, por meio de uma linguagem aces-
o

sível aos alunos, seguindo uma ordem lógica de apresentação dos


conteúdos e em nível crescente de dificuldade, de modo que cada
objeto do conhecimento, uma vez sedimentado, seja a base para
o objeto seguinte. Na disciplina de Língua Inglesa, esta seção cha-
ma-se Review e inclui as subseções Reading Practice, Vocabulary e
Grammar in Context.

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pH resolve

Seção com resolução comentada passo a passo de uma ou mais


questões ensinando o aluno a aplicar o conhecimento e construir
uma resolução acertada, com foco nos vestibulares e no Enem. Na
disciplina de Língua Inglesa, esta seção chama-se How to.

Para concluir

Esta seção apresenta uma síntese do aprendizado do módulo.


Sua proposta não é resumir os conteúdos por meio de longos pará-
grafos, mas sistematizar e relacionar os principais tópicos estudados.
Na disciplina de Língua Inglesa, esta seção chama-se Wrapping Up.

Desenvolvendo habilidades

Seção de exercícios voltados para a realização em sala de aula.


Nela os autores escolheram ou elaboraram atividades nas quais o alu-
no deverá ser capaz de aplicar o conhecimento adquirido no módulo.
Na disciplina de Língua Inglesa, esta seção chama-se Developing Skills.

Aprofundando o conhecimento

Seção de exercícios contextualizados voltados para a realização


em casa. Nela, os alunos são convidados a resolver exercícios obje-
tivos ou discursivos, autorais, do Enem ou de exames vestibulares,
a fim de capacitá-los a aprofundar-se nos objetos do conhecimen-
to trabalhados no módulo. Na disciplina Língua Inglesa, esta seção
chama-se Going Further.

Graficamente, temos alguns selos distribuídos no material com funções distintas:

STEM
Selo que identifica as questões Selo que identifica o acrônimo em língua inglesa
extraídas na íntegra das provas STEM, para ciência, tecnologia, engenharia e mate-
mais recentes do Enem. mática, que propõe uma forma inovadora de apren-
dizado, com um olhar interdisciplinar aplicado (inte-
grando componentes curriculares ao mundo real).

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COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES DA
ÁREA DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 1 (EM13LGG203) Analisar os diálogos e os proces- (EM13LGG402) Empregar, nas interações sociais,
sos de disputa por legitimidade nas práticas de a variedade e o estilo de língua adequados à si-
Compreender o funcionamento das diferen- linguagem e em suas produções (artísticas, corpo- tuação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao
tes linguagens e práticas culturais (artísticas, cor-
rais e verbais). gênero do discurso, respeitando os usos das
porais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos
(EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimento línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem precon-
na recepção e produção de discursos nos dife-
mútuo, nas diversas linguagens (artísticas, cor- ceito linguístico.
rentes campos de atuação social e nas diversas
mídias, para ampliar as formas de participação so- porais e verbais), com vistas ao interesse comum (EM13LGG403) Fazer uso do inglês como língua
cial, o entendimento e as possibilidades de expli- pautado em princípios e valores de equidade as- de comunicação global, levando em conta a mul-
cação e interpretação crítica da realidade e para sentados na democracia e nos Direitos Humanos. tiplicidade e variedade de usos, usuários e fun-
continuar aprendendo. ções dessa língua no mundo contemporâneo.
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 3
HABILIDADES
Utilizar diferentes linguagens (artísticas, cor- COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 5
(EM13LGG101) Compreender e analisar proces- porais e verbais) para exercer, com autonomia e
colaboração, protagonismo e autoria na vida pes- Compreender os processos de produção e
sos de produção e circulação de discursos, nas
soal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e negociação de sentidos nas práticas corporais, re-
diferentes linguagens, para fazer escolhas fun-
solidária, defendendo pontos de vista que respei- conhecendo-as e vivenciando-as como formas de
damentadas em função de interesses pessoais e
tem o outro e promovam os Direitos Humanos, a expressão de valores e identidades, em uma pers-
coletivos.
consciência socioambiental e o consumo respon- pectiva democrática e de respeito à diversidade.
(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, con- sável, em âmbito local, regional e global.
flitos de interesse, preconceitos e ideologias HABILIDADES
presentes nos discursos veiculados nas diferen- HABILIDADES (EM13LGG501) Selecionar e utilizar movimentos
tes mídias, ampliando suas possibilidades de
(EM13LGG301) Participar de processos de produ- corporais de forma consciente e intencional para
explicação, interpretação e intervenção crítica
ção individual e colaborativa em diferentes lingua- interagir socialmente em práticas corporais, de
da/na realidade.
gens (artísticas, corporais e verbais), levando em modo a estabelecer relações construtivas, empá-
(EM13LGG103) Analisar o funcionamento das lin- ticas, éticas e de respeito às diferenças.
conta suas formas e seus funcionamentos, para
guagens, para interpretar e produzir criticamente
produzir sentidos em diferentes contextos. (EM13LGG502) Analisar criticamente preconcei-
discursos em textos de diversas semioses (visuais,
(EM13LGG302) Posicionar-se criticamente diante tos, estereótipos e relações de poder presentes
verbais, sonoras, gestuais).
de diversas visões de mundo presentes nos dis- nas práticas corporais, adotando posicionamen-
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, to contrário a qualquer manifestação de injus-
cursos em diferentes linguagens, levando em con-
levando em conta seus funcionamentos, para a tiça e desrespeito a direitos humanos e valores
ta seus contextos de produção e de circulação.
compreensão e produção de textos e discursos democráticos.
em diversos campos de atuação social. (EM13LGG303) Debater questões polêmicas de
relevância social, analisando diferentes argumen- (EM13LGG503) Vivenciar práticas corporais e sig-
(EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos tos e opiniões, para formular, negociar e sustentar nificá-las em seu projeto de vida, como forma de
processos de remidiação de produções multisse- posições, frente à análise de perspectivas distintas. autoconhecimento, autocuidado com o corpo e
mióticas, multimídia e transmídia, desenvolvendo com a saúde, socialização e entretenimento.
diferentes modos de participação e intervenção (EM13LGG304) Formular propostas, intervir e to-
social. mar decisões que levem em conta o bem comum
e os Direitos Humanos, a consciência socioam- COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6
biental e o consumo responsável em âmbito local,
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2 Apreciar esteticamente as mais diversas pro-
regional e global.
Compreender os processos identitários, duções artísticas e culturais, considerando suas
(EM13LGG305) Mapear e criar, por meio de prá- características locais, regionais e globais, e mo-
conflitos e relações de poder que permeiam as
práticas sociais de linguagem, respeitando as di- ticas de linguagem, possibilidades de atuação bilizar seus conhecimentos sobre as linguagens
versidades e a pluralidade de ideias e posições, social, política, artística e cultural para enfrentar artísticas para dar significado e (re)construir pro-
e atuar socialmente com base em princípios e desafios contemporâneos, discutindo princípios e duções autorais individuais e coletivas, exercendo
valores assentados na democracia, na igualdade objetivos dessa atuação de maneira crítica, criati- protagonismo de maneira crítica e criativa, com
e nos Direitos Humanos, exercitando o autoco- va, solidária e ética. respeito à diversidade de saberes, identidades
nhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de e culturas.
conflitos e a cooperação, e combatendo precon- COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 4 HABILIDADES
ceitos de qualquer natureza.
Compreender as línguas como fenômeno
(EM13LGG601) Apropriar-se do patrimônio artísti-
HABILIDADES (geo)político, histórico, cultural, social, variável,
co de diferentes tempos e lugares, compreenden-
heterogêneo e sensível aos contextos de uso,
(EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (ar- do a sua diversidade, bem como os processos de
reconhecendo suas variedades e vivenciando-as
tísticas, corporais e verbais) em diferentes contex- como formas de expressões identitárias, pessoais legitimação das manifestações artísticas na socie-
tos, valorizando-as como fenômeno social, cultu- e coletivas, bem como agindo no enfrentamento dade, desenvolvendo visão crítica e histórica.
ral, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos de preconceitos de qualquer natureza. (EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente di-
contextos de uso. versas manifestações artísticas e culturais, das lo-
HABILIDADES cais às mundiais, assim como delas participar, de
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de
poder e perspectivas de mundo nos discursos das (EM13LGG401) Analisar criticamente textos de modo a aguçar continuamente a sensibilidade, a
diversas práticas de linguagem (artísticas, corpo- modo a compreender e caracterizar as línguas imaginação e a criatividade.
rais e verbais), compreendendo criticamente o como fenômeno (geo)político, histórico, social, (EM13LGG603) Expressar-se e atuar em proces-
modo como circulam, constituem-se e (re)produ- cultural, variável, heterogêneo e sensível aos con- sos de criação autorais individuais e coletivos
zem significação e ideologias. textos de uso. nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais,

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audiovisual, dança, música e teatro) e nas inter- produção e as relações lógico-discursivas envol- (EM13LP10) Analisar o fenômeno da variação
secções entre elas, recorrendo a referências es- vidas (causa/efeito ou consequência; tese/argu- linguística, em seus diferentes níveis (variações
téticas e culturais, conhecimentos de naturezas mentos; problema/solução; definição/exemplos fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica
diversas (artísticos, históricos, sociais e políticos) etc.). e estilístico-pragmática) e em suas diferentes di-
e experiências individuais e coletivas. mensões (regional, histórica, social, situacional,
(EM13LP03) Analisar relações de intertextualida-
(EM13LGG604) Relacionar as práticas artísticas ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a
de e interdiscursividade que permitam a explici-
às diferentes dimensões da vida social, cultural, compreensão sobre a natureza viva e dinâmica
tação de relações dialógicas, a identificação de
política e econômica e identificar o processo de da língua e sobre o fenômeno da constituição de
posicionamentos ou de perspectivas, a compre-
construção histórica dessas práticas. variedades linguísticas de prestígio e estigmatiza-
ensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre
das, e a fundamentar o respeito às variedades lin-
outras possibilidades.
guísticas e o combate a preconceitos linguísticos.
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 7 (EM13LP04) Estabelecer relações de interdiscur-
sividade e intertextualidade para explicitar, sus- (EM13LP11) Fazer curadoria de informação, ten-
Mobilizar práticas de linguagem no univer- do em vista diferentes propósitos e projetos dis-
tentar e conferir consistência a posicionamentos e
so digital, considerando as dimensões técnicas, cursivos.
para construir e corroborar explicações e relatos,
críticas, criativas, éticas e estéticas, para expan-
dir as formas de produzir sentidos, de engajar-se
fazendo uso de citações e paráfrases devidamen- (EM13LP12) Selecionar informações, dados e
em práticas autorais e coletivas, e de aprender a te marcadas. argumentos em fontes confiáveis, impressas e
aprender nos campos da ciência, cultura, traba- (EM13LP05) Analisar, em textos argumentativos, os digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para
lho, informação e vida pessoal e coletiva. posicionamentos assumidos, os movimentos argu- que o texto a ser produzido tenha um nível de
mentativos (sustentação, refutação/contra-argu- aprofundamento adequado (para além do sen-
HABILIDADES mentação e negociação) e os argumentos utilizados so comum) e contemple a sustentação das posi-
para sustentá-los, para avaliar sua força e eficácia, ções defendidas.
(EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da
informação e comunicação (TDIC), compreenden- e posicionar-se criticamente diante da questão dis- (EM13LP13) Analisar, a partir de referências con-
do seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las cutida e/ou dos argumentos utilizados, recorrendo textuais, estéticas e culturais, efeitos de sentido
de modo ético, criativo, responsável e adequado aos mecanismos linguísticos necessários. decorrentes de escolhas de elementos sonoros
a práticas de linguagem em diferentes contextos. (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorren- (volume, timbre, intensidade, pausas, ritmo, efei-
tes de usos expressivos da linguagem, da escolha tos sonoros, sincronização etc.) e de suas relações
(EM13LGG702) Avaliar o impacto das tecnologias
de determinadas palavras ou expressões e da or- com o verbal, levando-os em conta na produção
digitais da informação e comunicação (TDIC) na
denação, combinação e contraposição de palavras, de áudios, para ampliar as possibilidades de cons-
formação do sujeito e em suas práticas sociais,
dentre outros, para ampliar as possibilidades de trução de sentidos e de apreciação.
para fazer uso crítico dessa mídia em práticas de
seleção, compreensão e produção de discursos construção de sentidos e de uso crítico da língua. (EM13LP14) Analisar, a partir de referências con-
em ambiente digital. (EM13LP07) Analisar, em textos de diferentes gê- textuais, estéticas e culturais, efeitos de sentido
(EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mí- neros, marcas que expressam a posição do enun- decorrentes de escolhas e composição das ima-
dias e ferramentas digitais em processos de pro- ciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes gens (enquadramento, ângulo/vetor, foco/profun-
dução coletiva, colaborativa e projetos autorais modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) didade de campo, iluminação, cor, linhas, formas
em ambientes digitais. e de diferentes recursos gramaticais que operam etc.) e de sua sequenciação (disposição e transi-
como modalizadores (verbos modais, tempos e ção, movimentos de câmera, remix, entre outros),
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de pro-
modos verbais, expressões modais, adjetivos, lo- das performances (movimentos do corpo, gestos,
cessos de pesquisa e busca de informação, por
cuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ocupação do espaço cênico), dos elementos sono-
meio de ferramentas e dos novos formatos de
ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de ros (entonação, trilha sonora, sampleamento etc.)
produção e distribuição do conhecimento na cul-
estratégias de impessoalização (uso de terceira e das relações desses elementos com o verbal,
tura de rede.
pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incre- levando em conta esses efeitos nas produções de
mento da compreensão e da criticidade e ao ma- imagens e vídeos, para ampliar as possibilidades
HABILIDADES ESPECÍFICAS nejo adequado desses elementos nos textos pro- de construção de sentidos e de apreciação.
DE LÍNGUA PORTUGUESA duzidos, considerando os contextos de produção. (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, rees-
(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produ- (EM13LP08) Analisar elementos e aspectos da crever e avaliar textos escritos e multissemióticos,
ção como na leitura/escuta, com suas condições sintaxe do português, como a ordem dos cons- considerando sua adequação às condições de pro-
de produção e seu contexto sócio-histórico de tituintes da sentença (e os efeito que causam sua dução do texto, no que diz respeito ao lugar social
circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, inversão), a estrutura dos sintagmas, as categorias a ser assumido e à imagem que se pretende passar
pontos de vista e perspectivas, papel social do sintáticas, os processos de coordenação e subor- a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao
autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a dinação (e os efeitos de seus usos) e a sintaxe de veículo e mídia em que o texto ou produção cul-
ampliar as possibilidades de construção de senti- concordância e de regência, de modo a potencia- tural vai circular, ao contexto imediato e sócio-his-
dos e de análise crítica e produzir textos adequa- lizar os processos de compreensão e produção de tórico mais geral, ao gênero textual em questão e
dos a diferentes situações. textos e a possibilitar escolhas adequadas à situa- suas regularidades, à variedade linguística apro-
ção comunicativa. priada a esse contexto e ao uso do conhecimento
(EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes
dos aspectos notacionais (ortografia padrão, pon-
do texto, tanto na produção como na leitura/escu- (EM13LP09) Comparar o tratamento dado pela
tuação adequada, mecanismos de concordância
ta, considerando a construção composicional e o gramática tradicional e pelas gramáticas de uso
nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre
estilo do gênero, usando/reconhecendo adequa- contemporâneas em relação a diferentes tópicos
que o contexto o exigir.
damente elementos e recursos coesivos diversos gramaticais, de forma a perceber as diferenças de
que contribuam para a coerência, a continuidade abordagem e o fenômeno da variação linguística (EM13LP16) Produzir e analisar textos orais, consi-
do texto e sua progressão temática, e organizan- e analisar motivações que levam ao predomínio derando sua adequação aos contextos de produ-
do informações, tendo em vista as condições de do ensino da norma-padrão na escola. ção, à forma composicional e ao estilo do gênero

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em questão, à clareza, à progressão temática e à va- assembleias, fóruns de discussão etc., exercitando a esses conteúdos e estabelecer recortes precisos.
riedade linguística empregada, como também aos escuta atenta, respeitando seu turno e tempo de fala, (EM13LP33) Selecionar, elaborar e utilizar instru-
elementos relacionados à fala (modulação de voz, posicionando-se de forma fundamentada, respeitosa mentos de coleta de dados e informações (ques-
entonação, ritmo, altura e intensidade, respiração e ética diante da apresentação de propostas e defe- tionários, enquetes, mapeamentos, opinários) e de
etc.) e à cinestesia (postura corporal, movimentos e sas de opiniões, usando estratégias linguísticas típicas tratamento e análise dos conteúdos obtidos, que
gestualidade significativa, expressão facial, contato de negociação e de apoio e/ou de consideração do atendam adequadamente a diferentes objetivos
de olho com plateia etc.). discurso do outro (como solicitar esclarecimento, de- de pesquisa.
talhamento, fazer referência direta ou retomar a fala
(EM13LP17) Elaborar roteiros para a produção de ví- (EM13LP34) Produzir textos para a divulgação do
do outro, parafraseando-a para endossá-la, enfatizá-la,
deos variados (vlog, videoclipe, videominuto, docu- conhecimento e de resultados de levantamentos
complementá-la ou enfraquecê-la), considerando pro-
mentário etc.), apresentações teatrais, narrativas mul- e pesquisas – texto monográfico, ensaio, artigo de
postas alternativas e reformulando seu posicionamen-
timídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas divulgação científica, verbete de enciclopédia (cola-
to, quando for o caso, com vistas ao entendimento e
etc., para ampliar as possibilidades de produção de borativa ou não), infográfico (estático ou animado),
ao bem comum.
sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas. relato de experimento, relatório, relatório multimi-
(EM13LP26) Relacionar textos e documentos legais diático de campo, reportagem científica, podcast
(EM13LP18) Utilizar softwares de edição de textos,
e normativos de âmbito universal, nacional, local ou ou vlog científico, apresentações orais, seminários,
fotos, vídeos e áudio, além de ferramentas e am-
escolar que envolvam a definição de direitos e de- comunicações em mesas redondas, mapas dinâmi-
bientes colaborativos para criar textos e produções
veres – em especial, os voltados a adolescentes e cos etc. –, considerando o contexto de produção
multissemióticas com finalidades diversas, exploran-
jovens – aos seus contextos de produção, identifi- e utilizando os conhecimentos sobre os gêneros
do os recursos e efeitos disponíveis e apropriando-
cando ou inferindo possíveis motivações e finalida- de divulgação científica, de forma a engajar-se em
-se de práticas colaborativas de escrita, de constru-
des, como forma de ampliar a compreensão desses processos significativos de socialização e divulgação
ção coletiva do conhecimento e de desenvolvimen-
direitos e deveres. do conhecimento.
to de projetos.
(EM13LP27) Engajar-se na busca de solução para (EM13LP35) Utilizar adequadamente ferramentas
(EM13LP19) Apresentar-se por meio de textos mul-
problemas que envolvam a coletividade, denun- de apoio a apresentações orais, escolhendo e usan-
timodais diversos (perfis variados, gifs biográficos,
ciando o desrespeito a direitos, organizando e/ou do tipos e tamanhos de fontes que permitam boa
biodata, currículo web, videocurrículo etc.) e de fer-
participando de discussões, campanhas e debates, visualização, topicalizando e/ou organizando o con-
ramentas digitais (ferramenta de gif, wiki, site etc.),
produzindo textos reivindicatórios, normativos, en- teúdo em itens, inserindo de forma adequada ima-
para falar de si mesmo de formas variadas, conside-
tre outras possibilidades, como forma de fomentar gens, gráficos, tabelas, formas e elementos gráficos,
rando diferentes situações e objetivos.
os princípios democráticos e uma atuação pautada dimensionando a quantidade de texto e imagem
(EM13LP20) Compartilhar gostos, interesses, práti- pela ética da responsabilidade, pelo consumo cons- por slide e usando, de forma harmônica, recursos
cas culturais, temas/problemas/questões que des- ciente e pela consciência socioambiental. (efeitos de transição, slides mestres, layouts perso-
pertam maior interesse ou preocupação, respeitan-
(EM13LP28) Organizar situações de estudo e utilizar nalizados, gravação de áudios em slides etc.).
do e valorizando diferenças, como forma de identi-
procedimentos e estratégias de leitura adequados (EM13LP36) Analisar os interesses que movem o
ficar afinidades e interesses comuns, como também
aos objetivos e à natureza do conhecimento em campo jornalístico, os impactos das novas tecnolo-
de organizar e/ou participar de grupos, clubes, ofi-
questão. gias digitais de informação e comunicação e da Web
cinas e afins.
(EM13LP29) Resumir e resenhar textos, por meio do 2.0 no campo e as condições que fazem da informa-
(EM13LP21) Produzir, de forma colaborativa, e so- ção uma mercadoria e da checagem de informação
uso de paráfrases, de marcas do discurso reportado
cializar playlists comentadas de preferências cultu- uma prática (e um serviço) essencial, adotando atitu-
e de citações, para uso em textos de divulgação de
rais e de entretenimento, revistas culturais, fanzines, de analítica e crítica diante dos textos jornalísticos.
estudos e pesquisas.
e-zines ou publicações afins que divulguem, comen-
(EM13LP30) Realizar pesquisas de diferentes tipos (EM13LP37) Conhecer e analisar diferentes projetos
tem e avaliem músicas, games, séries, filmes, quadri-
(bibliográfica, de campo, experimento científico, le- editorias – institucionais, privados, públicos, finan-
nhos, livros, peças, exposições, espetáculos de dan-
vantamento de dados etc.), usando fontes abertas ciados, independentes etc. –, de forma a ampliar o
ça etc., de forma a compartilhar gostos, identificar
e confiáveis, registrando o processo e comunicando repertório de escolhas possíveis de fontes de infor-
afinidades, fomentar comunidades etc.
os resultados, tendo em vista os objetivos pretendi- mação e opinião, reconhecendo o papel da mídia
(EM13LP22) Construir e/ou atualizar, de forma co- plural para a consolidação da democracia.
dos e demais elementos do contexto de produção,
laborativa, registros dinâmicos (mapas, wiki etc.) de
como forma de compreender como o conhecimen- (EM13LP38) Analisar os diferentes graus de parciali-
profissões e ocupações de seu interesse (áreas de
to científico é produzido e apropriar-se dos procedi- dade/imparcialidade (no limite, a não neutralidade)
atuação, dados sobre formação, fazeres, produções,
mentos e dos gêneros textuais envolvidos na realiza- em textos noticiosos, comparando relatos de dife-
depoimentos de profissionais etc.) que possibilitem
ção de pesquisas. rentes fontes e analisando o recorte feito de fatos/
vislumbrar trajetórias pessoais e profissionais.
(EM13LP31) Compreender criticamente textos de dados e os efeitos de sentido provocados pelas
(EM13LP23) Analisar criticamente o histórico e o dis- escolhas realizadas pelo autor do texto, de forma
divulgação científica orais, escritos e multissemió-
curso político de candidatos, propagandas políticas, a manter uma atitude crítica diante dos textos jor-
ticos de diferentes áreas do conhecimento, identi-
políticas públicas, programas e propostas de gover- nalísticos e tornar-se consciente das escolhas feitas
ficando sua organização tópica e a hierarquização
no, de forma a participar do debate político e tomar como produtor.
das informações, identificando e descartando fontes
decisões conscientes e fundamentadas.
não confiáveis e problematizando enfoques tenden- (EM13LP39) Usar procedimentos de checagem de
(EM13LP24) Analisar formas não institucionalizadas ciosos ou superficiais. fatos noticiados e fotos publicadas (verificar/avaliar
de participação social, sobretudo as vinculadas a ma- (EM13LP32) Selecionar informações e dados neces- veículo, fonte, data e local da publicação, auto-
nifestações artísticas, produções culturais, interven- sários para uma dada pesquisa (sem excedê-los) em ria, URL, formatação; comparar diferentes fontes;
ções urbanas e formas de expressão típica das cultu- diferentes fontes (orais, impressas, digitais etc.) e consultar ferramentas e sites checadores etc.), de
ras juvenis que pretendam expor uma problemática comparar autonomamente esses conteúdos, levando forma a combater a proliferação de notícias falsas
ou promover uma reflexão/ação, posicionando-se em conta seus contextos de produção, referências (fake news).
em relação a essas produções e manifestações. e índices de confiabilidade, e percebendo coinci- (EM13LP40) Analisar o fenômeno da pós-verda-
(EM13LP25) Participar de reuniões na escola (conselho dências, complementaridades, contradições, erros de – discutindo as condições e os mecanismos de
de escola e de classe, grêmio livre etc.), agremiações, ou imprecisões conceituais e de dados, de forma disseminação de fake news e também exemplos,
coletivos ou movimentos, entre outros, em debates, a compreender e posicionar-se criticamente sobre causas e consequências desse fenômeno e da

8
prevalência de crenças e opiniões sobre fatos –, sentido provocados pelas escolhas feitas em termos manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do
de forma a adotar atitude crítica em relação ao fenô- de elementos e recursos linguístico-discursivos, ima- mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida
meno e desenvolver uma postura flexível que permi- géticos, sonoros, gestuais e espaciais, entre outros. humana e social dos romances, a dimensão política
ta rever crenças e opiniões quando fatos apurados (EM13LP45) Analisar, discutir, produzir e socializar, e social de textos da literatura marginal e da perife-
as contradisserem. tendo em vista temas e acontecimentos de interesse ria etc.) para experimentar os diferentes ângulos de
apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.
(EM13LP41) Analisar os processos humanos e au- local ou global, notícias, fotodenúncias, fotorrepor-
tomáticos de curadoria que operam nas redes so- tagens, reportagens multimidiáticas, documentá-
(EM13LP50) Analisar relações intertextuais e inter-
ciais e outros domínios da internet, comparando rios, infográficos, podcasts noticiosos, artigos de
discursivas entre obras de diferentes autores e gê-
os feeds de diferentes páginas de redes sociais e opinião, críticas da mídia, vlogs de opinião, textos
neros literários de um mesmo momento histórico
discutindo os efeitos desses modelos de curadoria, de apresentação e apreciação de produções cultu-
e de momentos históricos diversos, explorando os
de forma a ampliar as possibilidades de trato com rais (resenhas, ensaios etc.) e outros gêneros pró-
modos como a literatura e as artes em geral se cons-
o diferente e minimizar o efeito bolha e a manipu- prios das formas de expressão das culturas juvenis
tituem, dialogam e se retroalimentam.
lação de terceiros. (vlogs e podcasts culturais, gameplay etc.), em várias
(EM13LP42) Acompanhar, analisar e discutir a cober-
mídias, vivenciando de forma significativa o papel (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artísti-
de repórter, analista, crítico, editorialista ou articulis- co-literário contemporâneo à disposição segundo
tura da mídia diante de acontecimentos e questões
ta, leitor, vlogueiro e booktuber, entre outros. suas predileções, de modo a constituir um acervo
de relevância social, local e global, comparando di-
ferentes enfoques e perspectivas, por meio do uso (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir
de ferramentas de curadoria (como agregadores de leitura/escuta de textos literários, percebendo dife- com autonomia e criticidade no meio cultural.
conteúdo) e da consulta a serviços e fontes de che- renças e eventuais tensões entre as formas pessoais
(EM13LP52) Analisar obras significativas das lite-
cagem e curadoria de informação, de forma a apro- e as coletivas de apreensão desses textos, para exer-
raturas brasileiras e de outros países e povos, em
fundar o entendimento sobre um determinado fato citar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.
especial a portuguesa, a indígena, a africana e a la-
ou questão, identificar o enfoque preponderante da (EM13LP47) Participar de eventos (saraus, competi- tino-americana, com base em ferramentas da crítica
mídia e manter-se implicado, de forma crítica, com ções orais, audições, mostras, festivais, feiras cultu- literária (estrutura da composição, estilo, aspectos
os fatos e as questões que afetam a coletividade. rais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperati- discursivos) ou outros critérios relacionados a dife-
(EM13LP43) Atuar de forma fundamentada, ética e vas culturais, jograis, repentes, slams etc.), inclusive rentes matrizes culturais, considerando o contexto
crítica na produção e no compartilhamento de co- para socializar obras da própria autoria (poemas, de produção (visões de mundo, diálogos com outros
mentários, textos noticiosos e de opinião, memes, contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, textos, inserções em movimentos estéticos e cultu-
gifs, remixes variados etc. em redes sociais ou outros videominutos, playlists comentadas de música etc.) rais etc.) e o modo como dialogam com o presente.
ambientes digitais. e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas
diferentes práticas culturais de seu tempo. (EM13LP53) Produzir apresentações e comentários
(EM13LP44) Analisar formas contemporâneas de apreciativos e críticos sobre livros, filmes, discos,
publicidade em contexto digital (advergame, anún- (EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e per-
canções, espetáculos de teatro e dança, exposições
cios em vídeos, social advertising, unboxing, narra- manências no processo de constituição da literatura
etc. (resenhas, vlogs e podcasts literários e artísticos,
tiva mercadológica, entre outras), e peças de cam- brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da
playlists comentadas, fanzines, e-zines etc.).
panhas publicitárias e políticas (cartazes, folhetos, leitura e análise de obras fundamentais do cânone
anúncios, propagandas em diferentes mídias, spots, ocidental, em especial da literatura portuguesa, (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gê-
jingles etc.), identificando valores e representações para perceber a historicidade de matrizes e proce- neros e mídias – mediante seleção e apropriação de
de situações, grupos e configurações sociais veicula- dimentos estéticos. recursos textuais e expressivos do repertório artísti-
das, desconstruindo estereótipos, destacando estra- (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estrutu- co –, e/ou produções derivadas (paródias, estiliza-
tégias de engajamento e viralização e explicando os rais e estilísticas de diferentes gêneros literários ções, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar
mecanismos de persuasão utilizados e os efeitos de (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.

9
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

LÍNGUA PORTUGUESA

O ser humano é aquilo que a educação faz dele.


Immanuel Kant

A frase de Kant explicita a importância da educação como base fundamental para transformar a
sociedade. Ela revela como essencial o direito de acesso à educação para o desenvolvimento de uma
humanidade justa e democrática. É sabido que uma educação que transforme o indivíduo precisa ir
além dos muros das salas de aula, integrar o estudante à comunidade e torná-lo cidadão, agente e
participante da realidade que o cerca.
O mundo e a sociedade se transformaram. A contemporaneidade e o desenvolvimento tecnoló-
gico trouxeram à sociedade uma gama de informações e de conteúdos. Como consequência, a edu-
cação também precisa mudar, atualizar-se. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) surge, nesse
cenário, como forma de superar a fragmentação da política educacional presente no país. A ideia é
fortalecer a colaboração entre as três esferas do governo e garantir o acesso à escola e a permanência
nela, fazendo os sistemas de ensino, as redes e as escolas criarem um patamar comum de aprendiza-
gem para todos os estudantes, tarefa, para a qual, a BNCC é fundamental.
A BNCC organiza os estudos a partir de dez competências gerais e de habilidades a serem de-
senvolvidas dentro das particularidades de cada área do conhecimento:

Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para
assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito
pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento.
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimen-
tos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas com-
plexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a “educação deve afirmar valores e estimu-
lar ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente jus-
ta e, também, voltada para a preservação da natureza” (BRASIL, 2013), mostrando-se também alinhada à
Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc. Acesso em: 10 ago. 2022.

Além de tudo isso, é fundamental destacar que a BNCC se vale dos marcos legais da Constituição
Nacional, a qual afirma a educação como direito de todos e dever do Estado. A verdade é que o texto
da Base vem com o objetivo de unificar as diretrizes da Educação Básica para determinar os direitos
e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Nisso tudo, é importante entender que há:

[...] um compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões inte-
lectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc. Acesso em: 10 ago. 2022.
Nesse âmbito, a área de Linguagens organiza seu currículo a partir da criação de uma realidade
horizontal entre estudantes e professores. A ideia é trabalhar os conteúdos propostos a partir de
textos nas diversas modalidades da língua, dialogando com o entorno do aluno. Além disso, há o
cuidado de priorizar o protagonismo do estudante, incentivando-o a produzir conteúdos a partir de
sua realidade e fomentando a importância da subjetividade e do respeito às diferenças.
Seguindo as orientações da Base, objetiva-se respeitar e amparar os sentimentos e as mudanças
típicas dessa faixa etária, fazendo um trabalho preocupado com o indivíduo e com suas particularida-

10
des. Espera-se, assim, auxiliar o estudante a lidar com seus sentimentos e a entender o processo de
ensino-aprendizagem como fundamental para a sua evolução como cidadão. Nesse âmbito, diver-
sos gêneros textuais serão trabalhados, assegurando que as principais modalidades textuais sejam
desenvolvidas, estudadas ou revisadas, de modo a trazer o conhecimento teórico para um viés que
contemple a prática e a realidade da comunidade escolar como um todo.
Nisso tudo, é fundamental destacar que a abordagem aqui desenvolvida permitirá aos estudan-
tes refletir sobre o mundo e o cotidiano, podendo perceber a diversidade de textos que os cerca e
que contribui para sua formação como indivíduos que respeitam as diversidades (cultural, humana,
religiosa), os direitos dos outros cidadãos e o meio ambiente. Com o compromisso de colocar os
preceitos da Base em prática, este material afirma seu cuidado e sua preocupação em trabalhar as
habilidades de uso e de reflexão da linguagem ao estimular o senso investigativo do aluno a partir
dos inúmeros e diversos textos presentes ao seu redor.
Assim, a fim de dar formato a esses objetivos, o Caderno do Aluno foi estruturado de modo a
incentivar a reflexão, a investigação, o senso crítico e o protagonismo juvenil na busca de conheci-
mento pelo texto e pelas diversas possibilidades de produção textual nos inúmeros cenários do país.

Monkey Business Images/Shutterstock

Além disso, no Manual do Professor são propostas algumas estratégias de abordagem para as
aulas, reforçando o papel do estudante na construção do processo de ensino-aprendizagem, a fim
de que ele seja capaz de fazer escolhas e de tomar decisões de forma consciente, criativa, autônoma
e responsável, sem perder a capacidade de dialogar com o outro.
Por fim, vale a ressalva de que as propostas apresentadas aqui são passíveis de adaptação de
acordo com a realidade da turma, dos materiais disponíveis, dos conhecimentos e dos objetivos es-
tabelecidos entre professores e estudantes ao longo do processo educativo.
A equipe de autores do pH deseja a você as melhores experiências em sala de aula. Esperamos
poder construir, juntos, e a partir do texto, muitas gerações de jovens capazes de articular ideias,
defender posições, expressar opiniões e refletir sobre a realidade que nos cerca e as questões que
nos formam.
Os autores

11
SUMçRIO

Língua Portuguesa
Módulo 1
Conceito de texto: leitura e interpretações............................................................................. 13
Módulo 2
Estudos de semântica textual I ............................................................................................... 16
Módulo 3
Estudos de semântica textual II .............................................................................................. 19
Módulo 4
O estudo da variação linguística e dos níveis de linguagem .................................................. 23
Módulo 5
Recursos expressivos e usos criativos da linguagem ............................................................ 25
Módulo 6
Análise morfológica em textos ................................................................................................ 28

12
1
MÓDULO

CONCEITO DE TEXTO: LEITURA


E INTERPRETAÇÕES

OBJETOS DO CONHECIMENTO • (EM13LGG101) Compreender e analisar processos de pro-


• Denotação e conotação dução e circulação de discursos, nas diferentes linguagens,
• Estudo do texto: as sequências discursivas e os gêneros textuais para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses
• Modos de organização da composição textual pessoais e coletivos.
• Procedimentos de construção e recepção de textos • (EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto,
tanto na produção como na leitura/escrita, considerando a
HABILIDADES construção composicional e o estilo do gênero, usando/reco-
• Reconhecer textos de diferentes gêneros e modos de organi- nhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos di-
zação do discurso. versos que contribuam para a coerência, a continuidade do
• Relacionar determinadas construções linguísticas a tipos e gê- texto e sua progressão temática, e organizando informações,
neros textuais. tendo em vista as condições de produção e as relações lógi-
• Entender o conceito e os impactos significativos da co-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência; tese/
intertextualidade. argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
• Analisar a função da linguagem predominante nos textos em
situações específicas de interlocução.

trabalhar o texto “São Cosme e São Damião”, fazer men-


Introdução ção aos dois gêneros textuais: a crônica (normalmente
Neste módulo, exploram-se muitos conteúdos de bas- estudada nas aulas de literatura) e a oração (que não pre-
tante relevância para a formação de bons leitores/escri- cisa ser conhecida apenas por quem acredita em Deus ou
tores: análises de textos de diferentes tipos; conotação qualquer outra entidade de fé).
e denotação; modos de organização do texto; gêneros Na seção Para relembrar, uma vez que se trabalhe o
discursivos. Esses assuntos desenvolvem as habilidades conceito de texto e suas classificações quanto à presen-
EM13LGG101 e EM13LP02 da BNCC. ça ou à ausência de palavra, devem-se destacar os ele-
Os conteúdos trazem nomenclaturas que podem ser exi- mentos que costumam contribuir para a análise textual.
gidas de forma bastante direta em exames de avaliação, mas Nesse sentido, torna-se bastante relevante usar os textos-
cujos conceitos, se bem compreendidos, dispensam a me- -exemplos propostos, como “Senhor Feudal” e “Casa dos
canização do estudo. O conceito de injunção, por exemplo, Contos”. A título de curiosidade, mostre que o segundo
já apareceu em alguns exames; por isso, os alunos devem texto já apareceu na prova do Enem 2015.
ser capazes de reconhecer seu significado e as características
Em seguida, relembre aos alunos as nomenclatu-
desse conceito em textos que dele se apropriam.
ras denotação e conotação, conhecidas desde o Ensino
Sem dúvida, esse domínio das nomenclaturas não deve Fundamental. Apesar de serem nomenclaturas bastante
prescindir da relação com a leitura. Mais do que estimular a simples, ressalte que a solicitação costuma ocorrer no sentido

LÍNGUA PORTUGUESA
memorização, o professor, nesse momento, deve ser capaz de desvendar o significado de palavras ou imagens que se
de demonstrá-las relacionando os conteúdos aos textos. apresentam figurativamente. Por isso, é preciso que se trei-
ne a leitura – especialmente a de textos conotativos.

Estratégias de aula Peça aos estudantes que façam as questões 1, 2 e 5 da


seção Desenvolvendo habilidades e as corrija em seguida.
Aula 1
Aula 2
MÓDULO 1

Analisar a introdução proposta na seção Para come-


çar é fundamental para evidenciar como a construção do Para essa aula, ainda na seção Para relembrar, é inte-
texto decorre de fatores diversos. Pode-se, inclusive, ao ressante trabalhar com os alunos os modos de organização

13
do texto. Apesar de já conhecerem a maioria dos termos,
é recorrente que manifestem dúvida na distinção entre
Material de apoio ao professor
descrição e exposição ou que estranhem a nomenclatu- PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Para enten-
ra injunção. Para isso, a tabela presente no livro é bastan- der o texto. São Paulo: Ática, 1991.
te valiosa, porque dinamiza a apresentação dos tipos de
GÊNEROS textuais. Mundo Educação. Disponível em:
texto. Para que a exposição se torne mais prática, leia os
https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/genero-
exemplos propostos antes de conceituar ou caracterizar
textual.htm. Acesso em: 6 jun. 2022.
os modos de organização.
A respeito dos gêneros textuais, devido à existência de
incontáveis deles, limite-se a dizer que dois fatores atuam
decisivamente na construção de um gênero: a forma/es-
Gabarito comentado
trutura/linguagem e o propósito textual. Como a maioria já
Desenvolvendo habilidades
é de conhecimento geral, o trabalho fica mais producente
por meio da realização de leituras e resolução de questões. 1. Alternativa d.
Proponha aos alunos que realizem em sala de aula as O fato de o título do poema estar destacado à esquerda e
questões 3 e 4 da seção Desenvolvendo habilidades, cor- apresentar uma abreviatura típica de entrada de palavra em
rigindo-as em seguida.
dicionário ou enciclopédia permite deduzir informações so-
bre o assunto, mas, nesse caso, de caráter subjetivo e meta-
Aula 3
fórico, típico da linguagem poética.
Nesse terceiro encontro, recomenda-se proceder à re-
2. Alternativa e.
solução de questões diversas: da análise e compreensão
de um texto híbrido até a identificação dos modos de or- A imagem de um automóvel que atende ao sinal de trân-
ganização do texto. A seção pH resolve mostra que a rea- sito, mantendo-se afastado ao ultrapassar um ciclista, as-
lização de questões de análise do texto nem sempre se sim como as frases que apelam à consciência do motorista
baseia apenas na interpretação, tendo em vista que pode para dar preferência a veículos menores, a fim de evitar aci-
exigir conhecimentos de termos que devem ser estuda- dentes, demonstram que o texto tem como objetivo propor
dos previamente. mudanças de postura por parte de motoristas.
Peça aos estudantes que façam as questões 1 a 9 da 3. Alternativa e.
seção Aprofundando o conhecimento. Trata-se de um texto que visa à divulgação de nomes do
movimento arte na•f no Brasil, cujos conceitos são tam-
Sugestão de quadro bém apresentados de forma objetiva e com o máximo de
neutralidade.
I. Texto 4. Alternativa d.
Conjunto de signos – verbais ou não – que se articulam Trata-se de uma reportagem, pois o texto apresenta dados
de modo coerente a fim de produzir comunicação. sobre o Salar de Atacama com o intuito principal de infor-
• Tipologia: textos verbal, não verbal e híbrido. mar o leitor através de linguagem objetiva e clara, ajustada
• Elementos para análise: título; estruturação; lingua- ao padrão linguístico divulgado nos meios de comunicação,
gem; dados contextuais; e extralinguísticos. para que possa ser acessível a todos os públicos.
5. Alternativa a.
II. Denotação e conotação
• Denotação: emprego referencial, dicionarizado e obje- O fato de a rede social Twitter limitar o envio de mensagens
tivo do signo. com até 280 caracteres é coerente com o objetivo do con-
• Conotação: emprego criativo, contextualizado e subje- curso de contos, que estabelece um limite de 1 778 carac-
tivo do signo. teres para os textos inscritos.

III. Modos de organização Aprofundando o conhecimento


do texto e dos gêneros textuais
• Descritivo: construção de uma imagem. 1. Alternativa b.
• Narrativo: sequenciamento de eventos. A descrição da rotina comum às camadas da população que
• Argumentativo: defesa de um ponto de vista, de uma são sujeitas a sobrecarga laboral diária, dificuldades de lo-
ideia, de um posicionamento. comoção entre local de trabalho e residência e execução
• Injuntivo: instrução ao receptor. de tarefas domésticas revela que a probabilidade de essa
• Expositivo: apresentação de fatos, dados, informações. parcela praticar exercícios regularmente é quase zero. Ou
seja, o texto apresenta uma visão ampliada da questão

14
que considera aspectos sociais intervenientes na prática de 6. Alternativa a.
exercícios no cotidiano. O narrador, “ser suplicante”, não se afirma como exemplo
2. Alternativa e. a ser seguido, apenas manifesta estranhamento crítico em
As imagens dos emoticons associadas às legendas mostram uma crônica que adota o discurso grave de uma prece reli-
a reação dos celíacos perante as informações nos rótulos de giosa para descrever uma situação corriqueira do cotidiano,
alimentos sem glúten, o que demonstra o interesse e a rele- conferindo tom irônico ao texto.
vância desses dados para os consumidores. 7. Alternativa d.
3. Alternativa a. O autor não afirma ser a linguagem uma determinante da
A representação de dois depósitos de recolha de lixo, com posição de inferioridade da mulher, nem que a designação
as indicações de materiais a que se destinam, e a figura da do gênero feminino leva ao fim do privilégio do masculino
garrafa PET sobre um pedaço de tecido sugerem que a ou que o emprego de palavras no feminino evita o viés ma-
principal estratégia da campanha é convencer o leitor a se- chista na sociedade, o que elimina as alternativas a, b e c.
parar o material de descarte para que possa ser reciclado. O autor apenas sugere uma relação entre a escolha de pa-
4. Alternativa e. lavras para marcar o gênero feminino e a valorização da mu-
lher na sociedade.
O texto apresenta breves apreciação e descrição de uma
obra literária com o objetivo de apresentá-la de forma sin- 8. Alternativa d.
tetizada, guiando e convidando o leitor a conhecer o livro O texto é, antes de tudo, informativo, apresentando da-
na íntegra. Assim, é correta a alternativa que define o frag- dos relevantes acerca da arqueologia e do seu desenvol-
mento como uma resenha por apresentar uma produção in- vimento. Assim, o domínio discursivo do texto tem cará-
telectual de forma crítica. ter instrucional.
5. Alternativa c. 9. Alternativa b.
Ao afirmar que o adjetivo “diferenciado”, além de definir o No poema “Reclame”, Chacal instrui, ironicamente, o lei-
substantivo a que se refere, pretende caracterizar o sujei- tor a proceder de determinada forma para que possa rela-
to que o está usando, G. Duvivier critica ironicamente o uso cionar-se bem com o mundo, utilizando para tal verbos no
da palavra, corretamente substituível por “diferente”, para imperativo (“use”, “transforme”), recurso típico da técnica
emprestar caráter de sofisticação ao objeto e prestígio so- publicitária, em que a ordem, a persuasão e a sedução pre-
cial a quem o enuncia. dominam em frases de teor injuntivo.

Anotações

LÍNGUA PORTUGUESA
MÓDULO 1

15
2
MÓDULO

ESTUDOS DE SEMÂNTICA TEXTUAL I

• (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e


OBJETOS DO CONHECIMENTO avaliar textos escritos e multissemióticos, considerando sua
adequação às condições de produção do texto, no que diz
• Intertextualidade respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se
• Funções da linguagem pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendi-
• Organização e progressão textual do, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultu-
ral vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais
HABILIDADES geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades,
• (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e inter- à variedade linguística apropriada a esse contexto e ao uso
discursividade que permitam a explicitação de relações do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia pa-
dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de pers- drão, pontuação adequada, mecanismos de concordância
pectivas, a compreensão de paródias e estilizações, entre nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre que o con-
outras possibilidades. texto o exigir.

Além disso, aproveite para acostumar os alunos com o fato


Introdução de que aplicamos o termo poético para além da poesia. No
É fundamental mostrar aos alunos que a compreen- caso do texto da tirinha de Armandinho, a criatividade em-
são de um texto pode depender do conhecimento de ou- pregada em sua construção permite afirmar que o autor se
tro texto para, a partir disso, estabelecer uma crítica, uma valeu de poesia.
ironia ou um efeito de humor. A intertextualidade se torna, Após conceituar intertexto, apresente as formas como
por isso, um tópico valioso. ele pode ser feito. Dê atenção especial para a paródia,
Outro assunto extremamente relevante são as funções seja com exemplos do próprio material, seja com exem-
da linguagem. A você, professor, cabe conceituá-las e re- plos de músicas, filmes ou outros textos.
lacioná-las a diferentes propósitos do texto. Para que a Peça que façam as questões 1 e 2 da seção Desenvol-
apresentação das funções da linguagem seja mais com- vendo habilidades e corrija-as em seguida.
pleta, elas devem ser vistas em uma ampla variedade de
produções e gêneros: tirinhas, poemas, propagandas, no- Atividades sugeridas
tícias, receitas culinárias, pinturas, etc.
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 1 e 2.
Por fim, mostraremos a ideia do que são a organização
• Aprofundando o conhecimento: opcionais: 5, 6 e 7.
e a progressão textual e que a real aplicação desse concei-
to depende do conhecimento de diversos elementos lin-
guísticos oferecidos pela língua.
Aula 2
Para falar das funções da linguagem, comece apresen-
tando na lousa os seis elementos da comunicação. Sem
Estratégias de aula a plena ciência de cada um deles, torna-se inviável com-
preender, de fato, as funções da linguagem. Dê destaque
Aula 1 especial a duas diferenciações: código × canal; mensa-
Nesse primeiro encontro, inicie pela leitura da seção gem × informação. Feito isso, passe a introduzir os nomes
Para começar, a partir da qual se pode evidenciar que o das funções por meio da leitura dos textos oferecidos para
sentido pleno de um texto depende de referências extra- exemplificá-las.
linguísticas. Com isso, comente que a referência de um tex- Dois pontos devem ser destacados: os dois nomes
to a outro já existente recebe o nome de intertextualidade. que uma mesma função pode receber e a possibilidade

16
de várias funções coexistirem numa mesma composição.
Assim, é essencial dominar as nomenclaturas e ler atenta- • metalinguística → código
mente as especificações do enunciado que podem dire- Dar exemplos como dicionários, making of, poemas
cionar para uma função específica. Nesse sentido, vale a autoexplicativos.
pena fazer com os alunos as duas atividades presentes na • fática → canal
seção pH resolve. Dar exemplos como interação entre professor e aluno
na sala de aula: “Entenderam?”, “Posso continuar?”,
Proponha que façam as atividades 4 e 5 da seção De-
“Alguma dúvida?”.
senvolvendo habilidades e corrija-as na aula seguinte. • referencial → contexto
Predominância de advérbios e de adjetivos neutros;
Atividades sugeridas
uso de verbos e pronomes em terceira pessoa e de
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 4 e 5. vocábulos em sentido denotativo.
• Aprofundando o conhecimento: essencial: 2; • poética → mensagem (uso criativo da linguagem)
opcionais: 3, 4, 9 e 10. Uso da conotação; apelo à ambiguidade, à polisse-
mia; emprego dos recursos de sonoridade.
Presentes na Literatura, nas peças publicitárias e até
Aula 3
na linguagem jornalística.
Nessa aula, comece pela correção das duas questões
propostas na aula anterior. II. INTERTEXTUALIDADE: DIÁLOGO
ENTRE TEXTOS
Depois, passe para a leitura do poema de Cassiano Ri-
cardo, apresente a definição de organização e progressão • Citação: reprodução integral de trecho do texto
textual. Por tratar-se de conceituação simples, destaque a original.
necessidade de conhecer diversos mecanismos linguísti- • Paráfrase: conservação da intenção do sentido do
cos (gramaticais, inclusive), seja quando lemos, seja quan- texto original.
do escrevemos. • Paródia: subversão da forma ou do sentido/propósi-
Peça aos alunos que façam as questões 3 da se- to do texto original.
ção Desenvolvendo habilidades e 1, 2, 3 e 5 da seção • Estilização: uso complementar do sentido proposto
Aprofundando o conhecimento. pelo texto original.

Atividades sugeridas III. ORGANIZAÇÃO E PROGRESSÃO TEXTUAL

• Desenvolvendo habilidades: essencial: 3. Emprego dos mais diversos recursos e procedimentos ofe-
• Aprofundando o conhecimento: essenciais: 1, 2, 3 recidos pela língua para a confecção do texto.
e 5.

Sugestão de quadro
Material de apoio ao professor
I. FUNÇÕES DA LINGUAGEM PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Para enten-
der o texto. São Paulo: Ática, 1991.
Elementos da comunicação:
Funções de linguagem. Disponível em: https://www.youtube.
código com/watch?v=3E96icPEcTI. Acesso em: 3 jun. 2022.
emissor — mensagem → receptor
canal

LÍNGUA PORTUGUESA
Contexto Gabarito comentado
• emotiva → emissor
Emprego da primeira pessoa de verbos e pronomes;
Desenvolvendo habilidades
de interjeições, adjetivos e advérbios emotivos; de 1. Alternativa d.
reticências, pontos de exclamação e de interroga-
O texto 1, de 2020, considerando heroico o ato de se des-
ção.
conectar das redes sociais, faz intertextualidade com o tex-
• apelativa → receptor
to 2, de 1968, que considera heroico o ato de transgredir
MÓDULO 2

Emprego da segunda pessoa; do imperativo; do vo-


cativo e das interrogações. as regras impostas por um sistema ditatorial, como o que
acontecia no Brasil da Žpoca da criação do poema.

17
2. Alternativa b. fazer poético, instaurando a função metalinguística da lin-
Oswald de Andrade faz uma releitura cômica do poema guagem no texto.
de Casimiro de Abreu, configurando, assim, uma paródia. 3. Alternativa a.
Dessa forma, Oswald é irônico ao retomar Casimiro, reve- A função conativa, ou apelativa, é aquela que aparece em
lando como o olhar romântico já não é coerente com o mo- textos que têm a intenção de convencimento. Assim, é pos-
mento em que vive. sível identificá-la no poema quando o eu lírico busca in-
3. Alternativa a. fluenciar o leitor em relação aos sentimentos provocados
O fragmento do enunciado, que inicia o capítulo 9 com o por uma carta de amor: na sua opinião, existe um jeito es-
título “Transição”, revela a técnica narrativa de Machado pecífico de lidar com as cartas, revelando sua importância.
de Assis, digressiva e psicológica, através do relato da 5. Alternativa e.
personagem Brás Cubas. O defunto-narrador, ao longo A campanha publicitária faz uso da intertextualidade com a
do romance, não segue uma linearidade ao mencionar os conhecida marchinha de Carnaval “Ó abre alas que eu que-
episódios de sua vida: começa pela descrição do funeral, ro passar”, de Chiquinha Gonzaga, e da polissemia da ex-
depois menciona o que o levou a adoecer e o delírio que pressão “sangue bom”, que tanto pode aludir ao líquido
teve antes de expirar, para depois passar a narrar episódios corporal que circula nas veias e artérias como designar, em
de sua infância. Nesse fragmento, a personagem, no gíria carioca, uma pessoa legal, que tem um bom coração.
momento que antecede a morte, relembra a juventude,
6. Alternativa b.
quando conheceu Virgília, para retroceder à sua meninice
até chegar ao momento de seu nascimento. Assim, o A referência a autores como o sociólogo francês Maurice
entrelaçamento de ideias é feito por meio de repetições Halbwachs e o jornalista baiano Muniz Sodré confere cre-
utilizadas com o objetivo de marcar a transição entre dois dibilidade à tese defendida pelo autor de que o Brasil se
momentos distintos da narrativa, o amor do narrador por afirmou como território político-mítico-religioso de trans-
Virgília e seu nascimento. missão e preservação da memória cultural da África.
Assim, na construção do texto acadêmico, a intertextuali-
5. Alternativa c.
dade é estabelecida por citações de autores consagrados,
No texto de João Doederlein, observa-se a preocupação no que garantem a autoridade do argumento.
uso de palavras e na composição do discurso, típica de es-
7. Alternativa d.
critores que utilizam as redes sociais para disseminar uma
produção autoral, moderna e diferente dos princípios mais No último parágrafo, o autor do artigo expõe a estratégia
comuns a essas plataformas digitais. Assim, nessa simulação de busca para a identificação do plágio: “a ferramenta ana-
de verbete de dicionário, a função metalinguística dá espa- lisa e busca trecho por trecho nos sites de busca”, ou seja,
ço à incorporação da poética, como exemplificado pela ex- faz uma comparação dos textos através de padrões estru-
pressão “é a felicidade fazendo visita.”. turais.
8. a) O anúncio publicitário dialoga com a colocação de
Aprofundando o conhecimento Lavoisier: “Na Natureza, nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma”.
1. Alternativa a.
b) A linguagem não verbal aponta para duas teclas do com-
O pronome “Nada” apresenta-se como sujeito das orações
putador unidas, representando um atalho para o recurso
coordenadas com verbos cujos significados poderiam ate-
de copiar dados. Ambas, unidas, são alvo de crítica, re-
nuar a consciência do tamanho da tragédia causada pela
presentada pelo pejorativo arremesso de objetos.
pandemia. Assim, é correta a alternativa a, pois os termos
verbais “compensa”, “mitiga”, “inocenta”, “redime”, “ate- 9. Texto 1 – funções: referencial (informação) e poética (forma).
nua”, “suaviza” e “absolve” evidenciam uma progressão Texto 2 – funções: emotiva (ênfase no emissor), poética (for-
textual pelos acréscimos semânticos ao tópico inicial. ma) e metalinguística (definição).
2. Alternativa c. Texto 3 – funções: poética (forma), referencial (informação).
Ao relatar o processo que deu origem ao poema “Itinerário 10. Código e função metalinguística; ou mensagem e função
de Pasárgada”, Manuel Bandeira tece comentários sobre o poética.

Anotações

18
3
MÓDULO

ESTUDOS DE SEMÂNTICA TEXTUAL II

OBJETOS DO CONHECIMENTO • (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e


• Marcadores de pressuposição avaliar textos escritos e multissemióticos, considerando sua
• Polifonia adequação às condições de produção do texto, no que diz
• Indicadores modais respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se
• Ambiguidade pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendi-
do, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural
HABILIDADES vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais ge-
• (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e inter- ral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à va-
discursividade que permitam a explicitação de relações riedade linguística apropriada a esse contexto e ao uso do
dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de pers- conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão,
pectivas, a compreensão de paródias e estilizações, entre ou- pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal
tras possibilidades. e verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir.

para relembrar e revisar importantes campos da língua: se-


Introdução mântica, morfologia e sintaxe, já que os alunos geralmen-
Neste módulo, são apresentados alguns fenômenos te podem confundir essas áreas. Feito isso, apresente o
linguísticos que contribuem para a construção de sen- conceito de pressuposição a partir da análise da tirinha.
tido de um texto. Conhecê-los, analisá-los, interpretá- É importante ressaltar como o domínio desse tópico tor-
-los e aplicá-los são competências fundamentais para o na o leitor capaz de decifrar determinadas expressões e,
desenvolvimento da capacidade leitora. Ao longo das consequentemente, mensagens implícitas e secundárias,
seções do módulo, os estudantes terão contato com di- desenvolvendo sua capacidade argumentativa, por exem-
versos textos que empregam tais mecanismos, a fim de plo. Destaque os principais marcadores de pressuposi-
que sejam desenvolvidas as habilidades EM13LP03 e
ção com foco nos exemplos indicados. Após isso, peça
EM13LP15.
aos estudantes que realizem os exercícios 1 e 4 da seção
Desenvolvendo habilidades.
Estratégias de aula Na sequência, apresente o conceito de polifonia e
pergunte à turma em que contextos esse mecanismo lin-
Aula 1 guístico ocorre. A escolha da introdução e uma disser-
tação-argumentativa como exemplo têm o intuito de
Inicie a aula lendo o trecho do capítulo de Dom fazê-los compreender que é um fenômeno linguístico mui-
Casmurro, que se encontra na seção Para começar. A par- to recorrente no cotidiano. Vale destacar que a pressupo-
tir dessa leitura, pergunte aos estudantes o que eles com- sição pode ser uma marca de polifonia, como no caso de

LÍNGUA PORTUGUESA
preenderam, ressaltando como o narrador-personagem se argumentos de dissertações que se utilizam do posiciona-
vale de fenômenos linguísticos – como a inserção de “ou-
mento de outra pessoa, com o intuito de refutá-lo. A expli-
tra voz”, indicadores de pressuposição e modalizadores –
cação dos casos será abordada na próxima aula.
para transparecer sua intencionalidade no discurso. Vale
comentar de que forma esse narrador machadiano bus- Atividades sugeridas
ca enredar o leitor para convencê-lo de sua acusação na
obra: a suposta traição de Capitu. • Desenvolvendo habilidades: essenciais: 1 e 4, op-
MÓDULO 3

cionais: 8 e 12.
Após essa análise, inicie a seção Para relembrar, re-
tomando o conceito de semântica e a importância des- • Aprofundando o conhecimento: essenciais: 1, 2 e
sa área para análises textuais. Esse é um bom momento 16; opcionais: 12, 13, 15 e 17.

19
Aula 2 Para saber mais
Retome o conceito de polifonia e, a partir dos tópicos NASCIMENTO, Hugo Fernando da Silva. A construção da
e exemplos apresentados, enfatize que vários elementos argumentação em charges políticas: a (co)ocorrência da po-
gramaticais podem funcionar como índices da presença lifonia e da modalização discursiva. Dissertação (Mestrado
de outra voz no texto. Depois, sugira o exercício da seção em Linguística) – Universidade Federal da Paraíba, 2021.
pH resolve, que tem como foco esse assunto. 218 p. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/
No tópico Indicadores modais (modalizadores), evi- handle/123456789/20804. Acesso em: 6 jul. 2022.
dencie, de início, por meio dos exemplos dados, a diferen- OLIVEIRA, Roberta P. et al. Semântica: 6o período.
ça semântica na utilização do verbo “poder”: permissão, Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2012. 182 p. Disponível
possibilidade e habilidade. A leitura do boxe Gotas de em: https://petletras.paginas.ufsc.br/files/2016/10/Livro-
saber é essencial para ressaltar a importância do contex- Texto_Semantica_UFSC.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.
to. Após isso, uma dinâmica produtiva é pedir aos alunos
que construam frases com o verbo “dever”, indicando al-
gumas de suas nuances semânticas: obrigação, probabi- Sugestão de quadro
lidade e possibilidade. Depois, analise os outros casos e
exemplos e, se possível, leia o texto sugerido de Gregorio
Duvivier, indicando como, na linguagem coloquial, o dimi- FENÔMENOS LINGUÍSTICOS
nutivo pode produzir diversos sentidos. Após essa aborda-
Pressuposição: conteúdo implícito.
gem, sugira os exercícios 3 e 5 da seção Desenvolvendo
habilidades como tarefa a ser feita em sala. A partir de hoje, passarei a estudar diariamente.
Pressuposto: o enunciador, antes dessa fala, não es-
Atividades sugeridas tudava todos os dias. O marcador de pressuposição
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 3 e 5; op- é “passarei a”.
cionais: 11 e 13. Polifonia: presença de outra(s) voz(es)
• Aprofundando o conhecimento: essenciais 3, 6, 7 e no texto, além da voz do emissor.
9; opcional: 11. Disseram que você estava com aquele rapaz ontem.
O verbo na terceira pessoa do plural sem antece-
Aula 3 dente contextual, que marca a indeterminação do
Para tratar do tópico Ambiguidade, analise a ilustra- sujeito, insere a “voz” de outra pessoa no discurso
ção de Abner Dangelo. Uma visita à rede social do ilus- do emissor.
trador (@abnerdangelo) também é uma experiência
Indicadores modais: palavras ou expressões
enriquecedora, já que há outros casos de manchetes ilus-
que conferem nuances de sentido ao enun-
tradas com base no duplo sentido, além de outras publi-
ciado, ou seja, produzem modos de dizer.
cações criativas.
Todos os alunos devem realizar a inscrição na secre-
Em seguida, apresente os tipos de ambiguidade: sin-
taria. (obrigação)
tática (ou estrutural), sonora e morfológica (ou gramati-
Por causa da dinâmica, a turma deve estar mais parti-
cal). Para esse último tipo, vale ouvir a música “Cálice”,
cipativa amanhã. (probabilidade)
composta por Chico Buarque e Gilberto Gil, com o ob-
jetivo de evidenciar a ambiguidade da palavra “Cálice” O professor deve corrigir os exercícios à tarde. (pos-
(Cale-se) no contexto ditatorial. Na seção Material de sibilidade)
apoio ao professor, há a indicação de uma análise da Ambiguidade: mais de um sentido
letra. É válido também mostrar como a cacofonia inten- em um mesmo enunciado.
cional revela o humor com o uso da ambiguidade. Após
Aracy pediu a Chicão que pegasse sua mochila.
isso, sugira a situação-problema e os exercícios 2, 6 e 7
Desfazendo a ambiguidade:
da seção Desenvolvendo habilidades.
Aracy pediu a Chicão que pegasse a mochila dele/dela.
Atividades sugeridas Tipos de ambiguidade:
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 2, 6 e 7; • Sintática
opcionais: 9 e 10. • Morfológica
• Sonora
• Aprofundando o conhecimento: essenciais: 4, 5 e 8;
opcionais: 10, 14 e 18.

20
8. Alternativa c.
Material de apoio ao professor
O trecho “Afinal descoberta pelas massas” equivale a “fi-
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica. Belo Horizonte: nalmente descoberta pelas massas”. O pressuposto é o de
UFMG, 2008. que as massas demoraram para descobrir a escassez.
HENRIQUES, Claudio C. Estilística e discurso: estudos 11. Alternativa b.
produtivos sobre texto e expressividade. Rio de Janeiro: A palavra refere-se ao aspecto triste e melancólico da Idade
Elsevier, 2011a. Média, tendo em vista que o autor do texto afirma que esse
HENRIQUES, Claudio C. Léxico e semântica: estudos tipo de jornalismo incita o leitor a “um inexorável ‘vale de
produtivos sobre palavra e significação. Rio de Janeiro: lágrimas’ mediavalesco”.
Elsevier, 2011b. 13. Alternativa b.
KOCH, Ingedore G. V. Argumentação e linguagem. São Na alternativa b, vemos a voz do personagem mesclada à
Paulo: Cortez, 2002. do narrador quando ele comenta “veja só; o pai nem toma-
ra o mingau com broa”, como se o personagem estivesse
KOCH, Ingedore G. V. O texto e a construção dos senti-
pensando isso naquele momento.
dos. São Paulo: Contexto, 2013.
MÚSICA Cálice, de Chico Buarque: análise, significado e Aprofundando o conhecimento
história. Cultura genial. Disponível em: https://www.cul-
turagenial.com/musica-calice-de-chico-buarque/. Acesso 1. Alternativa c.
em: 27 maio 2022. Uma ideia implícita à declaração feita pela personagem no
primeiro quadrinho é que a professora se zanga com re-
PERFIL do ilustrador Abner Dangelo, no Instagram:
dações feitas só com perguntas. Pressupõe-se, assim, que
@abnerdangelo.
fazer perguntas, expor indagações, como as que são apre-
sentadas em seguida, é uma prática desestimulada no uni-
Gabarito comentado verso escolar.
2. Alternativa a.
Desenvolvendo habilidades Ao enfatizar a importância da iniciativa da criação de um
museu para a divulgação da língua portuguesa e preserva-
1. Alternativa a.
ção de nossa identidade cultural, o texto reconhece que a
Os verbos e pronomes de primeira pessoa do plural (“sa- língua é instrumento de constituição social de seus usuários.
bemos, “sabermos”, “nos”, “nós”) e o aposto “as crianças”
3. Alternativa b.
indicam a perspectiva infantil no relato de fatos que produ-
ziram marcas profundas no campo dos afetos. Ao mencionar que a inspiração para o quadro O Grito pa-
rece ter tido origem em um ataque de pânico, o autor dei-
2. Alternativa c.
xa entrever que essa afirmação não pode ser totalmente
Sô Augusto compreende o verbo “ir” como a ação de des- comprovada.
locar-se de um ponto a outro, enquanto o interlocutor em-
4. Alternativa d.
prega esse vocábulo com o sentido de determinar a direção
da estrada. No trecho, o tom humorístico é construído a partir da ambi-
guidade do termo “burro”, que, em um primeiro momento,
3. Alternativa e.
faz referência ao animal; mas, após a falta de compreensão
Da alternativa a à alternativa d, os trechos apresentam in- da voz, refere-se à voz, como um insulto.
formações de modo objetivo, trazendo descrições ou nar-
5. Alternativa c.
rações de parte do enredo. Na alternativa e, os adjetivos
valorativos “ousada” e “radical”, que são intensificados Nos versos “Ah, esse amor/ Deixou marcas no meu corpo”,
“eu grito, eu quase morro”, é possível identificar o duplo

LÍNGUA PORTUGUESA
pelo advérbio “tão”, funcionam como modalizadores que
revelam a opinião do autor sobre a abordagem. sentido, já que esses segmentos podem se referir tanto a
fortes emoções decorrentes da explosão amorosa como a
5. Alternativa c.
marcas físicas provocadas por agressões que ferem e po-
Em IV, a locução adverbial “de preferência” não indica que a dem causar morte.
qualidade de vida será melhor para aqueles que viverem mais.
6. O morfema responsável pela indicação de diminutivo é
7. Alternativa b. -inha(s). O efeito de sentido, porém, difere a cada ocor-
O efeito cômico deriva, sobretudo, da ambiguidade da rência: em “magrinha”, intensifica-se a magreza da perso-
MÓDULO 3

expressão “bom português”, em que o substantivo tanto nagem; em “Melinha”, o apelido da personagem torna-se
pode se referir ao padrão culto do idioma como ao natu- mais afetuoso; finalmente, em “mulherinhas”, o diminutivo
ral de Portugal. demonstra a intenção pejorativa de Amaro.

21
7. Alternativa e. Prometeu, na segunda confere ironia ao comportamento
Por meio do narrador, o poema traduz a visão irreverente de do jacaré.
Oswald de Andrade sobre a formação do povo brasileiro. À b) Substituindo o verbo “fazer” por sinônimos adequados
sua voz, somam-se as dos participantes da história, que fa- ao contexto, os trechos poderiam apresentar as seguin-
lam em discurso direto: o colonizador (“Sois cristão?”), o ín- tes configurações: os outros decidem realizar (preparar)
dio (“Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte/ Teterê uma festa para provocar-lhe o riso (...). Todos praticam
tetê Quizá Quecê”) e o negro (“Sim pela graça de Deus”). (elaboram) coisas engraçadas”.
9. Alternativa c. 14. a) O pronome “isso”, no texto, pode se referir aos estados
Na primeira frase do texto publicitário, o uso do imperati- brasileiros que são considerados os pioneiros do forró –
vo nos termos verbais “(descubra” e “aproveite”) configura Pernambuco e Ceará – ou à música “Asa Branca”, que
o uso da função apelativa da linguagem sob a forma de um traz detalhes sobre a realidade do sertão nordestino.
convite, tentando persuadir o público-alvo a consumir de- b) Embora fosse cearense, essa foi a única canção do estilo
terminado tipo de chocolate. que o cantor gravou.
10. No título, o termo “só” pode ser um adjetivo ou um advérbio. 16. Argumentos são formulados com base em pressuposição,
Como adjetivo, atribui uma qualidade ao termo “Poema” com isto é, em suposições e hipóteses prévias ao próprio argu-
o significado de “único” ou “solitário”; como advérbio, seu mento. Quando o texto relaciona “desde o que chamamos
significado é de que o poema é “apenas” para Jaime Ovalle. de folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis
11. a) O emprego do diminutivo não produz o mesmo efeito de de produção escrita das grandes civilizações”, está justa-
sentido nos dois casos. Enquanto na primeira ocorrência mente pressupondo que o folclore e a lenda são formas
o diminutivo pretende diminuir a atitude contestatória de simples ou menos complexas das produções oral e escrita.

Anotações

22
4
MÓDULO

O ESTUDO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA


E DOS NÍVEIS DE LINGUAGEM

OBJETOS DO CONHECIMENTO diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional,


• Variação linguística ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão
• Formas de enunciação sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenôme-
• Linguagem formal e informal, culta e coloquial no da constituição de variedades linguísticas de prestígio e
estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades lin-
HABILIDADES guísticas e o combate a preconceitos linguísticos.
• (EM13LP09) Comparar o tratamento dado pela gramática tra- • (EM13LP16) Produzir e analisar textos orais, considerando sua
dicional e pelas gramáticas de uso contemporâneas em rela- adequação aos contextos de produção, à forma composicio-
ção a diferentes tópicos gramaticais, de forma a perceber as nal e ao estilo do gênero em questão, à clareza, à progressão
diferenças de abordagem e o fenômeno da variação linguísti- temática e à variedade linguística empregada, como também
ca e analisar motivações que levam ao predomínio do ensino aos elementos relacionados à fala (modulação de voz, ento-
da norma-padrão na escola. nação, ritmo, altura e intensidade, respiração etc.) e à cineste-
• (EM13LP10) Analisar o fenômeno da variação linguística, em sia (postura corporal, movimentos e gestualidade significativa,
seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexi- expressão facial, contato de olho com plateia etc.).
cal, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas

diferença entre a norma-padrão e a linguagem coloquial


Introdução cotidiana. Por fim, deve ser apresentada a variação regio-
Neste módulo, serão trabalhados os conceitos rela- nal, com a leitura dos textos que a acompanham. Eles es-
tivos à variação linguística, ao preconceito linguístico, às tão comentados no próprio Caderno do aluno.
noções de formalidade e de informalidade e às formas
de enunciação. Ele pretende ser um caminho para que Atividades sugeridas
os estudantes compreendam as diferentes formas de ex-
pressão em língua portuguesa, rejeitando quaisquer pre- • Desenvolvendo habilidades: 1
conceitos acerca dela e qualquer hierarquização do uso • Aprofundando o conhecimento: 3
linguístico, sem negar a importância social e acadêmica da
norma-padrão. Esses assuntos desenvolvem as habilida-
Aula 2
des EM13LP09, EM13LP10 e EM13LP16 da BNCC.
Nesta aula, deve ser trabalhada a noção de variante
social, com retorno à apreciação feita sobre o preconceito
Estratégias de aula linguístico, citado na aula anterior. O conceito de jargão,
que consta no Caderno do aluno, deve ser apresentado.
Aula 1 A ideia de variante de registro deve ser destacada, ressal-

LÍNGUA PORTUGUESA
Nesta aula, é importante que a seção Para começar tando as diferenças entre a linguagem formal e a informal.
seja um ponto de partida para a retomada do conceito de Por fim, a turma deve discutir as formas de enunciação e
preconceito linguístico e dos males sociais que ele pode seus respectivos exemplos, culminando na resolução da
trazer. O texto do sociolinguista Marcos Bagno apresen- situação-problema. É importante destacar o fato de não
ta a visão da sociolinguística sobre a produção linguística haver erro na produção oral de Chico Bento.
na contemporaneidade. É importante desconstruir a lín-
gua como um elemento hierarquizador, e que possa ge- Atividades sugeridas
MÓDULO 4

rar qualquer inibição comunicativa no contexto social.


• Desenvolvendo habilidades: 2, 3 e 4
Em seguida, deve ser feita uma reflexão a partir do tex-
to de Drummond, principalmente levantando a ideia da • Aprofundando o conhecimento: 1, 2 e 5

23
Sugestão de quadro 4. Alternativa b.
A estratégia linguística predominante na configuração re-
gional da linguagem representada na letra de canção é a
I. Variação linguística
redução da sílaba final de determinadas palavras, como
• Variantes regionais
“passarim” (passarinho), “piquititim” (piquititinho), “gaim”
• Variantes sociais
• Variantes de registro (galhinho), “beijá” (beijar), “beicim” (beicinho), “nin” (ni-
nho) e em várias outras.
Obs.: formal (distanciado e respeitoso) × informal (próxi-
mo e íntimo) Aprofundando o conhecimento
II. Formas de enunciação
1. Alternativa d.
1. Objetividade (texto direto, explicativo, elucidativo)
Todas as afirmações estão corretas e fazem uma boa análise da
2. Subjetividade (texto expressivo, criativo) variação linguística. Na primeira afirmação, vemos uma con-
sideração a respeito da influência da origem dos falantes no
surgimento de variantes. Na segunda afirmação, há uma aná-
lise a respeito do âmbito em que se dá a variação: na maio-
Material de apoio ao professor ria das vezes envolve a pronúncia e o vocabulário, mas perce-
bem-se variações em todos os níveis da língua, como visto no
Publicações texto 2. Por fim, a última afirmação reconhece a complexida-
de do fenômeno da variação, identificando os fatores que o in-
BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade
fluenciam, como identidade do falante e situação comunicati-
brasileira. São Paulo: Parábola, 2013.
va. Essa ideia, inclusive, é ilustrada pelos dois textos.
BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz.
São Paulo: Loyola, 2014. 2. Alternativa e.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. Antes de os portugueses chegarem ao território brasileiro,
São Paulo: Ática, 1986. diversas línguas indígenas existiam em diferentes regiões
do Brasil, o que influenciou – de forma plural – a constitui-
ção da língua que usamos hoje.
Gabarito comentado 3. Alternativa c.
Desenvolvendo habilidades Ao fazer uso de registros linguísticos regionais, a música
contribui para mostrar que outras formas de se expressar
1. Alternativa e. também existem e são válidas.
Há uma transposição da fala para a escrita no texto, marca- 4. Alternativa c.
da pelos termos que fogem à norma culta da língua. A lín- Vários recursos linguísticos e estilísticos foram usados pelo
gua escrita não é mais correta que a oral, são modalida- autor da crônica para acentuar a crítica à crescente desi-
des diferentes de uso da linguagem. O texto dialoga com gualdade social brasileira nos últimos anos. Marcas da orali-
o público-alvo ao usar linguagem mais familiar e subjetiva, dade em termos “a gente”, “busão” e “simbora”; a divisão
que também é característica do gênero teatral. Os termos silábica da palavra “desigualdade” e a repetição do prefi-
usados no texto são característicos do grupo social repre- xo “des” que carrega na sua etimologia um sentido negati-
sentado na peça teatral. vo; assim como a subjetividade do autor no uso da primeira
2. Alternativa b. pessoa em “vivemos”, “evitei” e “podia”.
Como as gírias constituem uma variedade linguística que usa 5. Alternativa a.
vocabulário momentâneo, com novos sentidos e emprega- “A carta da Terra” parte de princípios de sustentabilidade,
do por grupos específicos, não podem ser consideradas ca- buscando propor uma nova atitude em relação ao ambiente.
racterísticas do uso padrão da língua, que segue prescrições Assim, vemos um texto que se insere na esfera institucional.
representadas na gramática e serve de veículo a todo tipo 6. Alternativa c.
de informação que se pretenda objetivo e rigoroso.
Nas primeiras linhas do excerto, o leitor é induzido a acre-
3. Alternativa b. ditar que a narrativa vai versar sobre uma decepção amoro-
Ao informar que o hunsrückisch é falado em algumas regiões sa, já que expressões como “ele me abandonou”, “Como
do país, assim como outras línguas de imigração que se tor- todos os outros” e “Parecia que dessa vez seria para sem-
naram línguas cooficiais em 19 municípios, o articulista revela pre” são típicas na apresentação de situações amorosas in-
que o Brasil é caracterizado pelo plurilinguismo. terrompidas e mal resolvidas para a pessoa abandonada.

24
5
MÓDULO

RECURSOS EXPRESSIVOS E USOS


CRIATIVOS DA LINGUAGEM

OBJETOS DO CONHECIMENTO construção composicional e o estilo do gênero, usando/reco-


• Reconhecimento e uso de recursos expressivos por meio das nhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos di-
linguagens versos que contribuam para a coerência, a continuidade do
• Figuras de linguagem texto e sua progressão temática, e organizando informações,
tendo em vista as condições de produção e as relações lógi-
HABILIDADES co-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência; tese/
• (EM13LGG101) Compreender e analisar processos de pro- argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
dução e circulação de discursos, nas diferentes linguagens, • (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos
para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses expressivos da linguagem, da escolha de determinadas pala-
pessoais e coletivos. vras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposi-
• (EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, ção de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades
tanto na produção como na leitura/escuta considerando a de construção de sentidos e de uso crítico da língua.

Peça aos estudantes que façam, em casa, as questões


Introdução 1 e 2 da seção Desenvolvendo habilidades e 1 e 4 da
Um dos assuntos mais recorrentes em qualquer pro- seção Aprofundando o conhecimento para correção na
va de vestibular são as figuras de linguagem. Elas po- aula seguinte.
dem ser cobradas de modo bastante direto, ao se pedir
o nome da figura, ou de modo mais indireto, ao se pe-
dir a explicação de uma metáfora ou de uma ironia, por
Aula 2
exemplo. Assim, é preciso que o ensino desse conteúdo Após corrigir as questões propostas na aula anterior,
se dê não apenas pela apresentação dos nomes e con- continue o trabalho com o conteúdo, apresentando as
ceitos das figuras, mas também pelo reconhecimento seguintes figuras de linguagem: ironia, eufemismo, pro-
do impacto e pela explicação do sentido delas no texto. sopopeia, hipérbole e gradação. Procure começar pelos
textos para, depois, conceituá-las. Caso deseje, enriqueça
os exemplos por meio de músicas.
Estratégias de aula
Proponha aos estudantes que façam as questões 3 e
Aula 1 4 da seção Desenvolvendo habilidades e 3 e 5 da seção
Aprofundando o conhecimento para correção na aula
Inicie pela leitura do texto da seção Para começar,
seguinte.
em que se pode explorar a ironia, figura de linguagem
que costuma apresentar muitas dificuldades aos alunos.
Desde o início, é preciso disseminar a ideia de que os con- Aula 3

LÍNGUA PORTUGUESA
ceitos das figuras não são difíceis, mas o reconhecimento
e a compreensão delas exigem uma perspicaz capacida- Nessa terceira aula, apresente as últimas figuras: sines-
de leitora. tesia, antítese e paradoxo. Em se tratando das duas últi-
mas figuras, estabeleça a distinção conceitual entre elas e
Em seguida, usando a lousa, faça a separação entre fi-
lembre que – em geral, mas não obrigatoriamente – elas
guras sonoras, sintáticas e semânticas (nestas últimas agru-
coexistem.
pamos as figuras de palavra e de pensamento). Feito isso,
apresente as três primeiras figuras: metáfora, comparação e Peça aos estudantes que façam as questões 5 da seção
MÓDULO 5

metonímia. Nesse processo, faça a diferenciação entre me- Desenvolvendo habilidades e 8 da seção Aprofundando
táfora e comparação; e metáfora e metonímia. o conhecimento. Corrija-as em seguida.

25
Sugestão de quadro 2. Alternativa d.
No excerto, é utilizada a comparação entre a atuação do
Estado durante uma guerra e durante uma epidemia.
FIGURAS DE LINGUAGEM 3. Alternativa c.
O tom é de ironia, pois apresenta a convivência entre vi-
Procedimentos criativos que desestabilizam o uso
zinhos que fuxicam uns a vida dos outros. Uma espera o
convencional e denotativo da linguagem.
marido se ausentar, inventa um código amoroso, recebe
o amante; outros vizinhos veem e um deles também quer ti-
de som
rar uma “casquinha”, e, ainda, quando repelido, ameaça a
Figuras de
de sintaxe moça de contar para os outros suas traições, como se todos
linguagem de palavra já não soubessem.
de sentido 4. Alternativa b.
de pensamento
Há uma gradação bastante definida através dos elogios de
bajulação que começam por “sublime”, passam por “celes-
• Metáfora ñ uso da palavra para substituir uma te” e chegam a “extraceleste”, ou seja, a gradação foi cons-
ideia. truída para enfatizar a importância de um milionário capaz
• Símile ñ comparação por meio de conectivo. – segundo os jornais lisboetas da época – de extrapolar até
• Metonímia ñ substituição objetiva de uma palavra mesmo a realidade comum. É claro que em todos os elogios
por outra. há o traço da hipérbole, do exagero, porém, na forma como
• Ironia ñ afirmação do contrário do que se pensa. esses elogios foram dispostos em sequência na oração, tra-
• Eufemismo ñ atenuação de um conteúdo ta-se de uma gradação.
desagradável.
• Prosopopeia ñ atribuição de traços humanos a Aprofundando o conhecimento
seres inanimados.
• Hipérbole ñ uso do exagero simbólico. 1. Alternativa a.
• Gradação ñ sequenciamento de palavras que Metonímia é uma figura de linguagem que consiste em de-
reforçam uma ideia. signar um objeto por palavra designativa de outro objeto,
• Sinestesia ñ combinação de sentidos. no caso, estabelecendo uma relação de parte pelo todo.
• Antítese ñ uso de palavras com sentidos opostos. No poema, “praia lusitana” se refere a todo o território por-
• Paradoxo ñ contradição pela sobreposição de tuguês banhado pelo oceano Atlântico, de onde saíam as
ideias opostas. caravelas portuguesas.
2. Alternativa a.
A ironia consiste em chamar um corretor automático de
computador de “mestre”, uma vez que é programado con-
siderando um único padrão linguístico e, por isso, aponta
Material de apoio ao professor erroneamente sutilezas da língua, desconsiderando algu-
mas regras de exceção comuns aos idiomas em geral.
PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Para enten-
der o texto. São Paulo: Ática, 1991. 3. Alternativa a.
Na alternativa a, vemos o uso da personificação em “biblio-
teca digna e sábia” e em “tratados majestosos, severos”,
Gabarito comentado já que aos objetos (“biblioteca” e “tratados”) são atribuídas
características humanas (digno, sábio, majestoso e severo).
Desenvolvendo habilidades 4. Alternativa d.
1. Alternativa d. Apenas a alternativa d transcreve uma citação em que a as-
sociação de um ancião a uma biblioteca é feita de forma
No primeiro verso do soneto, o eu lírico cria a metáfora
metafórica, já que nas frases das alternativas a e c está pre-
por meio da imagem do pavão vermelho, que representa
sente a comparação e na frase da alternativa b há apenas
o sentimento de alegria. Desse modo, ao exaltá-lo como
uma afirmação, sem metáfora ou comparação.
superior a todos os pavões que existem e que já existiram,
o eu lírico sugere que se trata de uma alegria incontida e 5. Alternativa d.
incalculável que pode ser entendida como um sentimento Há fusão de sensações entre “claro” e “doce”, referências,
de plena felicidade. respectivamente, à visão e à gustação.

26
6. Alternativa b. sobrevive – conforme anunciado pelo título –, desfazendo a
ideia de impossibilidade reafirmada no início.
A ênfase expressiva resultante do exagero da significação
do verbo e do número de ações em “o esmagavam com o
8. “Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.”
peso de mil exigências” e a associação do agregado explo- No texto, o poeta critica aspectos da vida moderna que tor-
rador a um parasita que se utilizava do meio em que vivia nariam o mundo “inabitável”, mas essa avaliação subjetiva
apenas para proveito próprio na frase “que lhe participava não nega a evidência quantitativa de um mundo “cada vez
da seiva sem ajudá-la a dar frutos” configuram hipérbole e mais habitado”.
metáfora, respectivamente. 9. No trecho “Há máquinas terrivelmente complicadas para
as necessidades mais simples.”, a aproximação de palavras
7. “(Desconfio que escrevi um poema.)”
com sentidos opostos configura uma antítese, já que não
O verso indica que, apesar de todas as circunstâncias criti- existe coerência na fabricação de máquinas muito compli-
cadas pelo poeta, a possibilidade de escrever um poema cadas para satisfazer necessidades simples.

Anotações

LÍNGUA PORTUGUESA
MÓDULO 5

27
6
MÓDULO

ANÁLISE MORFOLÓGICA EM TEXTOS

OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADE


• Substantivos • (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos
• Artigos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas pala-
vras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposi-
ção de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades
de construção de sentidos e de uso crítico da língua.

relação concreto × abstrato e comum × próprio; sugira a


Introdução questão 2 da seção Desenvolvendo habilidades. Na se-
Este módulo expõe o conceito de Morfologia e tem quência, trabalhe as flexões de gênero e número, dando
o objetivo de apresentar aos alunos a classe dos artigos foco ao plural dos substantivos no diminutivo; peça aos
e a dos substantivos. Embora esses conteúdos apre- alunos que façam as questões 4 e 5 da primeira seção.
sentem bastantes aspectos técnicos, a abordagem dá
foco aos efeitos semânticos e estilísticos do uso des- Atividades sugeridas
sas classes nos textos, tornando a aula mais atraente e • Desenvolvendo habilidades: essenciais: 1 a 4;
mais próxima dos perfis de muitas bancas de vestibular,
opcional : 5.
como é possível verificar nas seções de exercícios. Essa
forma de contemplar tais assuntos desenvolve a habili- • Aprofundando o conhecimento: essenciais: 1 e 2;
dade EM13LP06 da BNCC. opcional : 3.

Aula 2
Estratégias de aula
Nessa aula, trabalhe a categoria de grau dos substan-
Aula 1 tivos e dê foco ao boxe Atenção!, que aborda a semântica
que o diminutivo pode trazer ao substantivo, dependendo
Inicie a aula apresentando os três âmbitos de estudo do contexto em que é empregado. Ressalte que isso tam-
da gramática, dando foco ao campo da Morfologia, eixo bém ocorre com o aumentativo. Para praticar, sugira a ques-
deste módulo. Após essa breve explanação, peça aos alu- tão 6 da seção Desenvolvendo habilidades e aponte que
nos que leiam a seção Para começar e reflitam sobre a as questões 7 e 8 da Aprofundando o conhecimento fo-
frase “Os adjetivos passam, e os substantivos ficam.”, que cam no mesmo assunto.
revela a ideia de que os adjetivos apresentam característi-
Após isso, introduza o estudo sobre a classe dos arti-
cas que não são inerentes à natureza dos substantivos. Na
gos por meio da leitura do fragmento do conto de Heloisa
sequência, explique que o substantivo designa substân-
Seixas. Enfatize o papel coesivo dessa classe de palavras e
cias (homem, casa, caderno) e quaisquer outros objetos
apresente os tipos de artigo e suas funções. Nesse momen-
mentalmente compreendidos como substâncias: qualida-
to, peça aos alunos que façam as questões 7 e 8 da seção
des, estados, processos, etc.; daí o seu nome.
Desenvolvendo habilidades.
Por meio de exemplos, demonstre a função dos subs-
tantivos: nomear e ser núcleo das estruturas de que fazem Atividades sugeridas
parte. Nesse momento, proponha a realização da ques-
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 6 a 8.
tão 1 da seção Desenvolvendo habilidades. Após isso,
trabalhe as classificações dos substantivos, dando espe- • Aprofundando o conhecimento: essenciais: 4, 6, 7 e
cial atenção aos boxes que trazem informações sobre a 8; opcionais 5: 9 e 11.

28
Aula 3
Inicie a aula a partir do tópico Substantivação, expli- Observação: aumentativo e diminutivo podem ex-
cando o processo de derivação imprópria. Em seguida, pressar outras semânticas, além da dimensional (ta-
peça aos alunos que realizem as questões 9 e 10 da seção manho).
Desenvolvendo habilidades. Aproveite a finalização da Onde está o amorzinho de dezoito anos da mamãe?
exposição do conteúdo para sanar quaisquer dúvidas e, (afeto)
na sequência, trabalhe com os alunos a questão do pH re-
solve. Feito isso, introduza a Situação-problema. Corrija-a II. Artigo
e, se houver tempo, realize, com a turma, a questão 10 da • Conceito:
seção Aprofundando o conhecimento. - acompanhar o substantivo a fim de determiná-lo
ou indeterminá-lo
Atividades sugeridas - promover coesão
• Desenvolvendo habilidades: essenciais: 9 e 10. Vi um inseto na janela. O bicho era uma barata
• Aprofundando o conhecimento: essenciais: 10; voadora!
opcionais: 12 a 15. Observação¹: substantivação (derivação imprópria)
O bonito vai demorar quanto tempo copiando?
(adjetivo ñ substantivo)
Sugestão de quadro Observação²: empregos especiais e estilísticos.
Escolher alguns dos casos apresentados no módulo.

MORFOLOGIA

I. Substantivo
• Conceito: Material de apoio ao professor
- denominar
- ser termo nuclear BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38.
- flexionar-se em gênero e em número ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
- assumir categoria de grau
ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da língua portu-
• Classificações:
guesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
- Significado: concreto × abstrato
A redação da pauta foi muito trabalhosa. = ato de
redigir (abstrato) Gabarito comentado
Professora, a senhora já corrigiu minha redação? =
trabalho escrito (concreto) Desenvolvendo habilidades
- Abrangência: comum × próprio
Você já leu Senhora, de José de Alencar? (próprio) 4. Alternativa b.
A senhora está com leituras atrasadas. (comum) Segundo a norma, o plural dos termos da alternativa b de-
- Formação: simples × compostos veriam ser: mulherezinhas e coraçõezinhos. Assim, nota-se
Você é um super-homem! (simples = 1 radical) que “mulherzinhas” é a forma coloquial.
Viu o filme sobre lobisomens? (simples = 1 radical)
5. Alternativa d.
- Origem: primitivo × derivado
O que você fez em seu cabelo? (primitivo) Há predomínio de frases nominais, enumerando substanti-
Fiz hidratação na cabeleireira da Leila. (derivado) vos, classe de palavras responsável por designar, dar nomes

LÍNGUA PORTUGUESA
• Flexão: a seres, objetos, pensamentos, ações. Como exemplo, bas-
- gênero ta excluir do poema a última frase de cada uma das estro-
- número fes: todo o restante é formado por frases nominais.
Observação: formação de plural dos substantivos no 7. Alternativa c.
diminutivo. O artigo definido a em “da” determina o substantivo “prer-
amor ñ amores ñ amorezinhos rogativa”, enquanto a ausência de artigo antes do substan-
• Grau tivo “competência” denota generalização.
MÓDULO 6

- aumentativo 8. Alternativa b.
- diminutivo A afirmativa II é incorreta, pois a alteração provocada
pela contração da preposição de com o pronome aquele
29
alteraria o sentido genérico do título por passar a designar 10. Alternativa b.
especificamente o colégio descrito ao longo do texto. A narrativa explora a subjetividade da protagonista, anali-
9. Alternativa b. sa com profundidade as emoções provocadas pela crise por
O verbo “estar” foi substantivado por meio do emprego do que passava, priorizando os aspectos relacionados aos seus
artigo indefinido “um”. sentimentos e conflitos.

10. Alternativa c. 12. Alternativa a.


O substantivo “pão” refere-se não só a um alimento, como
O artigo “o” transforma, por derivação imprópria, o adjeti-
também a uma realidade econômica desfavorável que faz
vo “errado” em substantivo, definindo e individualizando o
parte do contexto da ditadura. Portanto, nota-se que esse
termo a que se refere. Assim, nos versos “Amo e canto com
termo é empregado como uma crítica a esse regime. O
ternura/todo o errado da minha terra”, o artigo denota pro-
substantivo “liberdade” se mostra com significação ainda
ximidade entre o eu lírico e o espaço em que vive, os becos,
mais ampla e ganha maior destaque, já que alude à repres-
como se afirma na alternativa c.
são e à censura impostas pelo regime militar, permitindo
resgatar esse contexto.
Aprofundando o conhecimento
13. 01 + 04 + 08 = 13.
1. a) Não, tendo em vista que a palavra “alvo” existe tanto [02] Incorreta: o pronome lhe é utilizado para substituir os
como adjetivo (com o significado de “branco”) quanto termos com a função sintática de objeto indireto e, portan-
como substantivo (com o significado de “meta”). Segun- to, não poderia substituir o pronome “a” que se refere a
do o texto, o que antes era somente adjetivo passou a termos com função sintática de objeto direto.
ser também substantivo: antigamente, em competições [16] Incorreta: o pronome possessivo “sua” faz referência à
envolvendo mira, o ponto mais central de um desenho “ciência”.
com círculos concêntricos era branco, ou “alvo”; logo, o
que antes caracterizava a cor do círculo passou a desig-
nar o nome dele e, por extensão, de tudo aquilo que se Atividades complementares
quer mirar e atingir.
1. (UEL-PR) A questão refere-se ao texto a seguir, extraído
b) As palavras “album” e “álbum” se aproximam se for do romance A moreninha (1844), de Joaquim Manuel de
considerado não só o fato de “álbum” ter se originado Macedo (1820-1882). Trata-se de fragmento de carta escri-
de “album”, como também porque ambos são objetos ta por Fabrício, estudante de Medicina, a seu colega e ami-
onde se afixam/colam coisas: avisos, peças, assinaturas, go Augusto, pedindo-lhe ajuda para que possa safar-se de
fotografias, poemas, letras de músicas. No entanto, es- namoro não mais desejado.
sas palavras se afastam na medida em que, hoje, o obje- “Malditos românticos, que têm crismado tudo e tro-
to mudou, e não há mais relação com a cor. cado em seu crismar os nomes que melhor exprimem as
2. Alternativa b. ideias!... O que outrora as chamava em bom português,
A palavra “discurso-rio” é composta por dois substantivos moça feia, os reformadores dizem menina simpática!... O
em relação de subordinação, já que o segundo termo espe- que numa moça era antigamente, desenxabimento, hoje
cifica o primeiro: discurso que é rio. é ao contrário: sublime languidez!... Já não há mais meni-
4. Alternativa d. nas importunas e vaidosas... As que o foram chamam-se
A afirmação II é incorreta, pois a situação de próclise do agora espirituosas!... A escola dos românticos reformou
pronome no verso “mas não o querem ver” decorre da atra- tudo isso, em consideração ao belo sexo.”
MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha. São Paulo: FTD, 1991. p.31.
ção por palavra negativa, e não por característica do portu-
guês falado no Brasil. Dado o fato de haver no texto o emprego do substantivo
5. Alternativa b. “reformadores” aplicado aos românticos, é correto afirmar
que Fabrício:
Carlos Drummond de Andrade, em “O elefante”, revela
que o poeta tem a capacidade de recriar um novo univer- a) mostra-se conservador devido à peculiaridade de sua
so, partindo de símbolos e dos seus “poucos recursos”, história familiar.
oferecendo aos leitores a possibilidade de acrescentar sig- b) discorda da visão de mundo dos românticos, seus con-
nificados, efeitos e sentidos de vida ao mundo que o ro- temporâneos.
deia. O poeta recria os objetos e o clima em que esses ob- c) está efetuando leitura da oposição visão de mundo ro-
jetos se realizam, dando-lhe o verdadeiro caráter, valor e mântica e visão de mundo clássica em período posterior
função. Assim, é correta a alternativa b, pois estabelece à ocorrência das mesmas.
uma relação criador/criatura, um paralelo entre arte/artista
d) possui visão de mundo católica, opondo-se aos adeptos
resultante do trabalho do poeta com as palavras.
da reforma de Lutero.

30
e) apresenta-se neutro frente à oposição visão de mundo Tá lá o corpo estendido no chão
clássica e visão de mundo romântica.
Em vez de rosto uma foto de um gol
2. (UEL-PR)
Em vez de reza uma praga de alguém
De frente pro crime E um silêncio servindo de amém
Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Depressa foi cada um pro seu lado
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém Pensando numa mulher ou no time
Olhei o corpo no chão e fechei
O bar mais perto depressa lotou Minha janela de frente pro crime...
Malandro junto com trabalhador BLANC, Aldir; BOSCO, João. Ca•a ˆ raposa. Rio de Janeiro:
Gravadora RCA Victor, 1975, L.A.
Um homem subiu na mesa do bar
E fez discurso pra vereador Ao traçar um paralelo entre os substantivos “rosto”, “reza”
e “amém”, de um lado, e “foto”, “praga” e “silêncio”, de
outro, o estribilho relaciona a crueza da realidade à:
E veio o camelô vender
Anel, cordão, perfume barato a) decepção amorosa que está atormentando o poeta.

Baiana pra fazer pastel b) perda do espírito de resignação na família brasileira.


E um bom churrasco de gato c) difusão da filantropia que caracteriza as relações huma-
Quatro horas da manhã nas na cidade grande.
d) emoção coletiva que sempre acaba unindo as pessoas
Baixou um santo na porta bandeira em face da morte.
E a moçada resolveu e) ausência de solidariedade entre os moradores das gran-
Parar, e então des cidades.

Anotações

LÍNGUA PORTUGUESA
MÓDULO 6

31
Anotações

32
Acesse o Gabarito
desta disciplina
no Plurall.

LÍNGUA
PORTUGUESA

Conceição Evaristo é uma escritora


brasileira nascida em 1946 e doutora
em Literatura Comparada. Escritora
de origem pobre, seus textos
trazem a experiência de opressão
e marginalidade, com forte
valorização da memória ancestral.

Módulo 1 – Conceito de texto: leitura e interpretações, 114


Módulo 2 – Estudos de semântica textual I, 129
Módulo 3 – Estudos de semântica textual II, 145
Módulo 4 – O estudo da variação linguística e dos níveis
de linguagem, 172
Módulo 5 – Recursos expressivos e usos criativos
da linguagem, 185
Módulo 6 – Análise morfológica em textos, 199

113
MÓDULO

CONCEITO DE
1
TEXTO: LEITURA E
INTERPRETAÇÕES
OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Denotação e conotação
• Estudo do texto: as sequências discursivas e os gêneros textuais
• Modos de organização da composição textual
• Procedimentos de construção e recepção de textos

HABILIDADES
• Reconhecer textos de diferentes gêneros e modos de organização do discurso.
• Relacionar determinadas construções linguísticas a tipos e gêneros textuais.
• Entender o conceito e os impactos significativos da intertextualidade.
• Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. (H19)
• (EM13LGG101) Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas dife-
rentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses pessoais e coletivos.
• (EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na leitura/
escrita, considerando a construção composicional e o estilo do gênero, usando/reconhecendo
adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a con-
tinuidade do texto e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as
condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência;
tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).

114
Para começar

São Cosme e São Damião

Escrevo no dia dos meninos. Se eu fosse escolher santos, escolheria sem dúvida nenhuma São Cosme e São
Damião, que morreram decapitados já homens feitos, mas sempre são representados como dois meninos, dois gê-
meos de ar bobinho, na cerâmica ingênua dos santeiros do povo.
São Cosme e São Damião passaram o dia de hoje visitando os meninos que estão com febre e dor no corpo e
na cabeça por causa da asiática, e deram muitos doces e balas aos meninos sãos. E diante deles sentimos vontade
de ser bons meninos e também de ser meninos bons. E rezar uma oração.
“São Cosme e São Damião, protegei os meninos do Brasil, todos os meninos e meninas do Brasil.
Protegei os meninos ricos, pois toda a riqueza não impede que eles possam ficar doentes ou tristes, ou viver
coisas tristes, ou ouvir ou ver coisas ruins.
Protegei os meninos dos casais que se separam e sofrem com isso, e protegei os meninos dos casais que não
se separam e se dizem coisas amargas e fazem coisas que os meninos veem, ouvem, sentem.
Protegei os filhos dos homens bêbados e estúpidos, e também os meninos das mães histéricas e ruins.
Protegei o menino mimado a quem os mimos podem fazer mal e protegei os órfãos, os filhos sem pai, e
os enjeitados.
Protegei o menino que estuda e o menino que trabalha, e protegei o menino que é apenas moleque de rua e
só sabe pedir esmolas e furtar.
Protegei, ó São Cosme e São Damião! – protegei os meninos protegi- Glossário
dos pelos asilos e orfanatos, e que aprendem a rezar e obedecer e andar na
fila e ser humildes, e os meninos protegidos pelo SAM, ah! São Cosme e São SAM: Serviço de Assistência ao
Menor, equivalente à Fundação
Damião, protegei muito os pobres meninos protegidos! Nacional do Bem-estar do
E protegei sobretudo os meninos pobres dos morros e dos mocambos, Menor (Funabem).
os tristes meninos da cidade e os meninos amarelos e barrigudinhos da roça,
protegei suas canelinhas finas, suas cabecinhas sujas, seus pés que podem pi-
sar em cobra e seus olhos que podem pegar tracoma – e afastai de todo perigo e de toda maldade os meninos do
Brasil, os louros e os escurinhos, todos os milhões de meninos deste grande e pobre e abandonado meninão tris-
te que é o nosso Brasil, ó Glorioso São Cosme, Glorioso São Damião!”
Setembro, 1957
BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 212.

Nessa crônica, Rubem Braga aproveita a data comemorativa de Cosme e Damião como pretexto para
explorar assuntos graves e delicados que afetam a infância, como ambientes domésticos hostis, violência
doméstica e mendicância. Tendo em vista que propõe uma reflexão mais ampla a partir de uma situação co-

LÍNGUA PORTUGUESA
tidiana, o autor obedece a um importante traço do gênero textual que ele produz.
Após reconhecer que se trata de uma crônica, você consegue identificar outro gênero dentro da crôni-
ca? Nota que aspectos linguísticos denunciam a presença desse outro gênero? Percebe como o modo de
organização desse gênero difere daquele da crônica?
Neste módulo, vamos nos dedicar ao estudo de elementos fundamentais para a produção e a leitura de
textos, os quais, muitas vezes, contribuem decisivamente para a compreensão do que lemos.
MÓDULO 1

115
Para relembrar

Texto
Podemos definir o texto como o conjunto articulado de signos – que podem ser verbais, gestuais,
imagéticos e sonoros – que objetivam transmitir uma mensagem ou estabelecer comunicação com um
interlocutor. De acordo com os tipos de signo, identificamos três diferentes tipos de texto:
• verbal: utiliza palavras propriamente ditas;
• não verbal: utiliza outros signos, que não palavras, para construir sentido;
• híbrido: combina textos verbal (palavras) e não verbal (imagens, sons, cores, etc.).
A rigor, não é essencial dominar essas classificações, mas, sim, ser capaz de analisar os diferentes tipos
de texto. Para tanto, é preciso reconhecer que a prática da leitura pode e deve ser treinada para nos capaci-
tar, por exemplo, a distinguir diferentes ironias, identificar imagens que funcionam metaforicamente e expli-
car uma ambiguidade pela associação entre palavra e imagem.
Algumas considerações são, neste momento, muito importantes. Para exemplificar, leia o trecho a seguir.

Você vai encontrar duas nuvens e três maçãs durante o inverno, embora sua mãe tenha esperado meses pelo
carteiro depois daquela estrada em São Paulo. Por isso, não se deve comer feijão gelado de madrugada. Não beba
leite, entretanto.

Fica evidente que esse trecho não constitui um texto, porque não há uma organização lógica das ideias.
No entanto, em um contexto que o torne coerente, ele passa a constituir um texto. Veja:

Geminiano, seu ano não fará sentido algum. Você vai encontrar duas nuvens e três maçãs durante o inverno, embo-
ra sua mãe tenha esperado meses pelo carteiro depois daquela estrada em São Paulo. Por isso, não se deve comer feijão
gelado de madrugada. Não beba leite, entretanto.

Elementos para a análise do texto


Reconhecer os elementos que compõem o todo textual é indispensável para aquele que pretende anali-
sá-lo com correção. Destacamos os seguintes itens.

Título
Costuma-se dizer que o título é uma síntese, em geral mais sugestiva do que referencial, do texto. Apesar
de, na maioria dos casos, ser possível compreender o texto sem interferência do título, esse elemento pode
atuar de forma decisiva na compreensão da mensagem.

Senhor Feudal

Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia
ANDRADE, Oswald de. Pau-brasil. Fixação de textos e notas de Haroldo de Campos.
5. ed. São Paulo: Globo, 2000. p. 88.

116
Nesse pequeno poema, Oswald de Andrade elabora o título “Senhor Feudal” para, de forma bem-
-humorada, atribuir uma imagem de poder a Pedro II e acentuar sua distinção em relação às demais pessoas.
Apesar disso, a mensagem do poema destaca que até mesmo aqueles que se consideram superiores estão
sujeitos à retaliação quando mentem para o interlocutor ou tentam persuadi-lo com conversa fiada.

Estruturação
A estruturação e a organização do texto podem atender a diferentes intenções ou contribuir para defi-
nir os gêneros textuais. Ao ler um poema, por exemplo, geralmente o leitor observa o emprego de recursos
sonoros e a separação em estrofes; ao ler uma dissertação em prosa, percebe a divisão dos parágrafos com
base em critérios técnicos; ao ler uma tirinha, observa balões de pensamento e balões de fala.

Linguagem
Quando elabora um texto, é importante que o emissor esteja atento à linguagem empregada. De acor-
do com o gênero do texto, o público-alvo, o meio de propagação do texto e a intenção do autor, a linguagem
pode ser figurada ou denotativa, formal ou informal, técnica ou com traços de oralidade, por exemplo.

Dados contextuais e extralinguísticos


A compreensão plena da leitura de qualquer conteúdo pode exigir dos leitores conhecimentos diversos
que extrapolam o que está escrito na superfície do texto. Assim, aspectos extralinguísticos – como o conhe-
cimento do público-alvo, da época em que o texto foi escrito ou da vida do autor ou da autora – podem ser
elementos decisivos na construção da mensagem.
Observe como a análise do poema de autoria de Affonso Ávila exige o conhecimento dos elementos que
estudamos.

Casa dos Contos

& em cada conto te cont

Jo‹o Prudente/Pulsar Imagens


o & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
barco & em cada porta m
e perco & em cada lanço t
e alcanço & em cada escad
a me escapo & em cada pe
dra te prendo & em cada g
rade me escravo & em ca
da sótão te sonho & em cada
esconso me affonso & em
cada claúdio te canto & e
m cada fosso me enforco &
ÁVILA, A. Discurso da difama•‹o do poeta.

LÍNGUA PORTUGUESA
São Paulo: Summus, 1978.

Fachada do casarão
construído entre
1782 e 1787, que
MÓDULO 1

abriga o museu
Casa dos Contos,
na cidade de Ouro
Preto, Minas Gerais.

117
Primeiro, a estrutura do texto chama a atenção do leitor devido a uma diagonal criada pelo símbolo “&”.
Seu significado só pode ser depreendido se soubermos que o título do poema exige um conhecimento
extralinguístico: “Casa dos Contos” é também o nome de um museu situado na cidade histórica de Ouro
Preto, no estado de Minas Gerais. Nesse museu, expõe-se parte da história do Brasil colônia, período de
submissão à metrópole, de repressão aos colonos e de violência e castigos físicos contra os escravizados.
Durante a Inconfidência Mineira, além de outras funções, o prédio serviu de cárcere para os inconfidentes
com títulos sociais, como o citado poeta árcade Cláudio Manuel da Costa, que foi encontrado enforcado
num episódio de suposto suicídio.
Com essas informações, podemos retomar as aulas de História nas quais estudamos o período do Brasil
colônia, marcado por ciclos exploratórios (como o Ciclo do Ouro), espoliação dos colonos e movimentos in-
surgentes contra a Coroa Portuguesa (como a Inconfidência Mineira).
Conhecendo o contexto histórico que permeia o texto, é possível depreender a mensagem proposta
pelo autor. A diagonal formada pelos símbolos “&” sugere uma escada pela qual o eu lírico percorre o mu-
seu, admirando-se com seus espaços internos. No entanto, a partir do trecho “em cada escada me escapo”,
o eu lírico acessa espaços que remontam à escravidão, à perseguição, à prisão e à morte. Mais especifica-
mente, faz menção à morte de Cláudio Manuel da Costa, encontrado sem vida em sua cela.

Denotação e conotação
Os signos podem ser lidos e interpretados no sentido original, para o qual foram criados, ou no sentido
ampliado, que podem assumir graças à influência dos mais variados fatores. A denotação consiste no em-
prego literal, dicionarizado e convencional do signo; a conotação consiste no emprego figurado, criativo,
inventivo e diferenciado do signo.
Leia, com atenção, o cartaz da campanha publicitária em apoio aos refugiados.

Reprodução/UNHCR/ACNUR

No texto do cartaz, o trecho “calçar os sapatos dos refugiados” pode ser lido no sentido denotativo/
literal; porém, a leitura mais coerente consiste em interpretá-lo no sentido conotativo/figurado, já que pro-
põe o sentimento de empatia para que o leitor se coloque na condição de dificuldade dos refugiados.

118
Agora, leia o seguinte trecho da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa.

Rosa, quando é que a gente sabe que uma coisa que vai não fazer é malfeito? — É quando o diabo está por
perto. Quando o diabo está perto, a gente sente cheiro de outras flores...
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Nesse trecho, a personagem Rosa, com base em suas crenças, emprega figurativamente a expressão
“sente cheiro de outras flores...” para representar a presença desagradável e indesejada do diabo.
Os dois textos, portanto, demonstram que o produtor da mensagem pode utilizá-la de maneira criativa,
atribuindo às construções já existentes novos e surpreendentes sentidos.
É preciso destacar que a adoção da denotação ou da conotação depende do gênero textual e da natu-
reza literária ou não literária do texto. No entanto, não se pode afirmar que a linguagem conotativa seja de
uso exclusivo dos gêneros tipicamente associados à literatura, como o conto, o poema e o romance. Há pe-
ças publicitárias e pinturas, por exemplo, que utilizam largamente o sentido conotativo para tornar a mensa-
gem mais impactante para o receptor.
Leia a peça publicitária a seguir.

Reprodução/TKq/ambidestro.com/Cyber Two
Da leitura dos elementos verbais e não verbais do cartaz, é possível depreender que, ao vender seu voto,
o eleitor recebe um produto como resultado de sua escolha, mas não uma fruta, como sugere a imagem.
O enunciador espera que, ao ver a imagem da banana, o receptor lembre-se de que seu voto não é uma pe-
chincha ou algo de pouco valor e daí faça a leitura conotativa: o eleitor que vende seu voto perde a liberdade
de escolha e ajuda a eleger alguém que utilizou métodos imorais para vencer.

Modos de organização do texto e gêneros textuais

LÍNGUA PORTUGUESA
Uma língua só existe a partir das interações entre seus falantes, considerando determinados “modelos”
adaptados às mais diversas situações comunicativas.
Chamamos de gêneros textuais ou gêneros discursivos as manifestações concretas (sociais) das for-
mas que encontramos em nosso cotidiano, definidas por sua composição usual, suas funções comunicativas,
seu estilo. Sem dúvida, segundo esses critérios, um poema é diferente de uma receita culinária; um anúncio
publicitário é diferente de um sermão religioso; uma anedota é diferente de um obituário.
MÓDULO 1

Ao tratarmos de modos de organização do texto, é necessário considerar sequências discursi-


vas com características linguísticas específicas e com objetivos comunicativos bem definidos. Em geral,

119
reconhecemos cinco tipos textuais: descrição, narração, argumentação, injunção e exposição. Observe
o quadro a seguir.

Modo de organização Objetivo discursivo Recursos mais comuns

Adjetivos, advérbios, analogias (denotativas ou


Elaborar imagens de pessoas, objetos,
Descrição conotativas), apelo sensorial (sinestesia), unidade
cenários, sensações, produtos, etc.
temporal e verbos de estado.
Enredo (acontecimento), personagens, narrador,
Narração Relatar fatos e acontecimentos.
tempo, espaço, verbos de ação.
Apresentar assunto/tema, Tese e raciocínios lógicos (dedução, indução
Argumentação
posicionando-se sobre ele. e dialética).
Verbos com valor imperativo, enumeração de
Injunção Dar instruções.
procedimentos e citação de finalidades.

Exposição Apresentar conhecimento. Metalinguagem e referenciação.

Esses modos de organização do discurso podem se combinar para compor o todo textual, de modo que
cada um desempenhe determinada função: um texto cuja narração é o eixo condutor pode contar com des-
crições de personagens ou cenários; a sustentação de um ponto de vista pode ser entremeada por pequenas
narrativas que ilustrem os argumentos. Por isso, deve-se observar a dominância de um tipo sobre os demais
num texto ou num recorte específico dele.
Os modos de organização mantêm determinadas semelhanças entre si, principalmente no que diz respei-
to ao tempo de ocorrência no mundo real: a exposição, a argumentação e a descrição apresentam simulta-
neidade das situações, enquanto a narração e a injunção exigem sequencialidade.
Outra semelhança diz respeito à presença do ponto de vista ou da opinião de quem produz os textos,
seja de forma explícita, seja de forma implícita. Segundo Platão e Fiorin:

[...] o que distingue um do outro é o modo como esse ponto de vista ou essa opinião vêm manifestados:
• na exposição e na argumentação, o enunciador de texto manifesta explicitamente sua opinião ou seu julga-
mento, usando para isso conceitos abstratos;
• na descrição, o enunciador, pelos aspectos que seleciona, pela adjetivação escolhida e outros recursos, vai
transmitindo uma imagem negativa ou positiva daquilo que descreve;
• na narração, a visão de mundo do enunciador é transmitida por meio de ações que ele atribui aos persona-
gens, por meio da caracterização que faz deles ou das condições em que vivem, e, até mesmo, por comen-
tários sobre os fatos que ocorrem. Todo texto narrativo é figurativo, e, por trás do jogo das figuras, sempre
existe um tema implícito. [...] Geralmente, para depreender a visão de mundo implícita nas narrações, é
preciso levar em conta que, por trás das figuras existem temas, por trás dos significados de superfície exis-
tem significados mais profundos.
PLATÃO, Francisco S.; FIORIN, José L. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1991.

A seguir, apresentamos fragmentos que ilustram os modos de organização do texto dos seguintes tipos:
narração, descrição, argumentação, injunção e exposição.

Narração
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemu-
nharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não fi-
gurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia,
e que ralhava no diário com a gente – minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou
fazer para si uma canoa.

120
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como
para caber justo o remador.
ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: ROSA, João Guimarães. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. 2. p. 409-413.

Descrição
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que
seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha rescendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guer-
reira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a
terra com as primeiras águas.
ALENCAR, José de. Iracema. In: ALENCAR, José de. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964. v. 3. p. 196-197.

Argumentação
Humanitas, dizia ele, o princípio das cousas, não é outro senão o mesmo homem repartido por todos os ho-
mens. Conta três fases Humanitas: a estática, anterior a toda a criação; a expansiva, começo das cousas; a disper-
siva, aparecimento do homem; e contará mais uma, a contrativa, absorção do homem e das cousas. A expansão,
iniciando o universo, sugeriu a Humanitas o desejo de o gozar, e daí a dispersão, que não é mais do que a multi-
plicação personificada da substância original.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 614-615.

Injunção
Amor aos pedaços
Ingredientes (para a massa) (para a calda) Preparo
250 g de manteiga 1 laranja Separe as gemas das claras. Na batedeira, bata as claras em neve
250 g de açúcar 1 limão e reserve-as. Em seguida, em outro recipiente, bata bem a man-
4 ovos 1 xícara de teiga e o açúcar. Adicione as gemas e acrescente, nesta ordem, a
250 g de farinha de trigo açúcar farinha de trigo, o leite, o fermento e as raspas de limão. Por úl-
timo, acrescente as claras em neve e mexa a massa com uma co-
1 xícara de leite
lher. Leve a mistura ao forno pré-aquecido por aproximadamente
1 colher (sopa) de fermento
20 minutos. Para a cobertura, misture o suco de uma laranja, o
em pó
suco de um limão e, aos poucos, uma xícara de açúcar, até che-
raspas de limão
gar à consistência de uma calda grossa, que deverá ser despejada
sobre o bolo assim que ele for retirado do forno.
Exposição
rancor
substantivo masculino
1 sentimento de profunda aversão provocado por experiência vivida; forte ressentimento
2 ódio profundo, não expresso
RANCOR. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

ATENÇÃO! LÍNGUA PORTUGUESA

Não devemos confundir os gêneros textuais (romance, anedota, bula, sermão, conto, SMS, carta, etc.) com os
gêneros literários (narrativo/épico, lírico, dramático e ensaístico), manifestações artísticas que se distinguem pela instân-
cia de enunciação (respectivamente: narrador, eu lírico, personagens e autor).
MÓDULO 1

Há, ainda, quem considere como tipo textual o diálogo, sequência discursiva composta de um “corpo” (interação en-
tre vozes) e possíveis manifestações fáticas em trechos de abertura, manutenção e finalização do processo comunicativo.

121
pH resolve

1. (Uerj) Observe como conhecimentos particulares sobre diferentes linguagens se articulam para a constru-
ção deste texto e para a compreensão da questão.

UERJ, 2012

Na tira do cartunista argentino Quino, utilizam-se recursos gráficos que lembram o cinema. A associação
com a linguagem artística do cinema, que lida com o movimento e com o instrumento da câmera, é ga-
rantida pelo procedimento do cartunista demonstrado a seguir:
a) ressaltar o trabalho com a vassoura para sugerir ação.
b) ampliar a imagem da mulher para indicar aproximação.
c) destacar a figura da cadeira para indiciar sua importância.
d) apresentar a sombra dos personagens para sugerir veracidade.

Resolu•‹o
Em tirinhas, a sequência de quadros costuma cumprir um propósito narrativo, tendo em vista que serve
para indicar a sequência de ações. No entanto, ao ampliar a imagem da mulher no quinto quadro para

122
depois restaurar o tamanho anterior, o cartunista Quino reproduz o procedimento da câmera de filmar,
que tem a capacidade de explorar diferentes níveis de profundidade. Com isso, a opção mais pertinen-
te é a alternativa b.

2. A questão seguinte não só aborda os modos de organização do texto, mas também a relação de-
les com os mais diferentes gêneros textuais.

Blues da piedade

Vamos pedir piedade


Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000. (Fragmento.)

Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A letra de can-
ção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da sequência textual
a) expositiva, por discorrer sobre um dado tema.
b) narrativa, por apresentar uma cadeia de ações.
c) injuntiva, por chamar o interlocutor à participação.
d) descritiva, por enumerar características de um personagem.
e) argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude.

Resolução
Nos versos da música, o leitor pode identificar dois propósitos: uma súplica a Deus e uma crítica a deter-
minado segmento da sociedade cujo comportamento desagrada ao eu lírico. Desse modo, as alternati-
vas c e e mostram-se pertinentes. Entretanto, o texto da alternativa e comete um equívoco a respeito do
modo argumentativo, tendo em vista que incitar o leitor a tomar atitudes não é característica sua.

A alternativa c apresenta um traço característico da injunção: o comando direto ao(s) interlocutor(es).


Nesse sentido, a canção aproxima-se da ladainha – uma espécie de oração pública dirigida a figuras reli-
giosas –, na qual o emissor faz apelos, pedidos e agradecimentos à entidade à qual devota sua fé.

Para concluir

LÍNGUA PORTUGUESA
Você estudou:
• as linguagens denotativa (sentido literal) e conotativa (sentido figurado);
• textos de diferentes gêneros (inúmeros enquadramentos, segundo sua estrutura e seu propósito
discursivo);
MÓDULO 1

• modos de organização do discurso, analisando alguns tipos de texto: narração, descrição, argumenta-
ção, injunção e exposição.

123
Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

1. (Unicamp-SP) Leia o texto a seguir, publicado no No texto, o uso da linguagem verbal e não verbal aten-
Instagram e em um livro do @akapoeta João Doederlein. de à finalidade de
a) chamar a atenção para o respeito aos sinais de trânsito.
b) informar os motoristas sobre a segurança dos usuá-
rios de ciclovias.
c) alertar sobre os perigos presentes nas vias urba-
nas brasileiras.
d) divulgar a distância permitida entre carros e veícu-
los menores.

Unicamp, 2019
e) propor mudanças de postura por parte de motoristas
no trânsito.

A ressignificação de “estrela” ocorre porque o verbe- 3.


te apresenta Cores do Brasil
a) diversas acepções dessa palavra de modo amplo, lite-
Ganhou nova versão, revista e ampliada, o livro lança-
ral e descritivo.
do em 1988 pelo galerista Jacques Ardies, cuja proposta é
b) cinco definições da palavra relativas à realidade e ser publicação informativa sobre nomes do “movimento arte
uma definição figurada. naïf do Brasil”, como define o autor. Trata-se de um cami-
c) vários contextos de uso que evidenciam o caráter nho estético fundamental na arte brasileira, assegura Ardies.
expositivo do gênero verbete. O termo em francês foi adotado por designar internacional-
d) uma entrada formal de dicionário e acepções que mente a produção que no Brasil é chamada de arte popular
expressam visões particulares. ou primitivismo, esclarece Ardies. O organizador do livro
explica que a obra não tem a pretensão de ser um dicioná-
2. rio. “Falta muita gente. São muitos artistas”, observa. A nova
edição veio da vontade de atualizar informações publicadas
Enem, 2018

há 26 anos. Ela incluiu artistas em atividade atualmente e


veteranos que ficaram de fora do primeiro livro. A arte naïf
no Brasil 2 traz 79 autores de várias regiões do Brasil.
WALTER SEBASTIÃO. Estado de Minas, 17 jan. 2015. (Adaptado.)

O fragmento do texto jornalístico aborda o lançamen-


to de um livro sobre arte naïf no Brasil. Na organização
desse trecho predomina o uso da sequência
a) injuntiva, sugerida pelo destaque dado à fala do orga-
nizador do livro.
b) argumentativa, caracterizada pelo uso de adjetivos
sobre o livro.
c) narrativa, construída pelo uso de discurso direto
e indireto.
d) descritiva, formada com base em dados editoriais
da obra.
Disponível em: www.pedal.com.br. Acesso em: 3 jul. 2014 (adaptado). e) expositiva, composta por informações sobre a arte naïf.

124
4. 5.
Deserto de sal ABL lança novo concurso cultural:
O silêncio ajuda a compor a trilha que se ouve na cami-
“Conte o conto sem aumentar um ponto”
nhada pelo Salar de Atacama.
Com 100 quilômetros de extensão, o Salar de Atacama Em razão da grande repercussão do concurso de
é o terceiro maior deserto de sal do mundo. De acordo com Microcontos do Twitter da ABL, o Abletras, a Academia
estudo publicado pela Universidade do Chile, o Salar de Brasileira de Letras lançou no dia do seu aniversário de
Atacama é uma depressão de 3 500 quilômetros quadrados 113 anos um novo concurso cultural intitulado “Conte
entre a Cordilheira dos Andes e a Cordilheira de Domeiko. o conto sem aumentar um ponto”, baseado na obra
Sua origem está no movimento das placas tectônicas. Mais A cartomante, de Machado de Assis.
tarde, a água evaporou-se e, desta forma, surgiram os de-
“Conte o conto sem aumentar um ponto” tem
sertos de sal do Atacama. Além da crosta de sal que reco-
como objetivo dar um final distinto do original ao conto
bre a superfície, há lagoas formadas pelo degelo de neve
acumulada nas montanhas. A cartomante, de Machado de Assis, utilizando-se o mes-
FORNER, V. Terra da Gente, n. 96, abr. 2012. mo número de caracteres – ou inferior – que Machado
concluiu seu trabalho, ou seja, 1 778 caracteres.
Os gêneros textuais são textos materializados que circu-
Vale ressaltar que, para participar do concurso, o con-
lam socialmente. O texto “Deserto de sal” foi veiculado
corrente deverá ser seguidor do Twitter da ABL, o Abletras.
em uma revista de circulação mensal. Pelas estratégias
Disponível em: www.academia.org.br. Acesso em: 18 out. 2015. (Adaptado.)
linguísticas exploradas, conclui-se que o fragmento
apresentado pertence ao gênero
O Twitter é reconhecido por promover o compartilha-
a) relato, pela apresentação de acontecimentos ocorri-
mento de textos. Nessa notícia, essa rede social foi uti-
dos durante uma viagem ao Salar de Atacama.
lizada como veículo/suporte para um concurso literário
b) verbete, pela apresentação de uma definição e de
por causa do(a)
exemplos sobre o termo Salar de Atacama.
c) artigo de opinião, pela apresentação de uma tese e a) limite predeterminado de extensão do texto.
de argumentos sobre o Salar de Atacama. b) interesse pela participação de jovens.
d) reportagem, pela apresentação de informações e de
c) atualidade do enredo proposto.
dados sobre o Salar de Atacama.
e) resenha, pela apresentação, descrição e avaliação do d) fidelidade a fatos cotidianos.
Salar de Atacama. e) dinâmica da sequência narrativa.

Aprofundando o conhecimento
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

1. Texto 2
Texto 1 Imaginemos um cidadão, residente na periferia de um
grande centro urbano, que diariamente acorda às 5h para
Enem, 2018

LÍNGUA PORTUGUESA
trabalhar, enfrenta em média 2 horas de transporte público,
em geral lotado, para chegar às 8h ao trabalho. Termina o
expediente às 17h e chega em casa às 19h para, aí sim,
cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos etc. Como dizer
a essa pessoa que ela deve praticar exercícios, pois é impor-
tante para sua saúde? Como ela irá entender a mensagem
MÓDULO 1

da importância do exercício físico? A probabilidade de essa


pessoa praticar exercícios regularmente é significativamente
Disponível em: http://revistaiiqb.usac.edu.gt.
Acesso em: 25 abr. 2018 (adaptado). menor que a de pessoas da classe média/alta que vivem

125
outra realidade. Nesse caso, a abordagem individual do pro- 3.
blema tende a fazer com que a pessoa se sinta impotente

Enem, 2018
em não conseguir praticar exercícios e, consequentemente,
culpada pelo fato de ser ou estar sedentária.
FERREIRA, M. S. Aptidão física e saúde na educação física escolar:
ampliando o enfoque. RBCE, n. 2, jan. 2001. (Adaptado.)

O segundo texto, que propõe uma reflexão sobre o pri-


meiro acerca do impacto de mudanças no estilo de vida
na saúde, apresenta uma visão
a) medicalizada, que relaciona a prática de exercícios fí-
sicos por qualquer indivíduo à promoção da saúde.
b) ampliada, que considera aspectos sociais intervenien-
tes na prática de exercícios no cotidiano.
c) crítica, que associa a interferência das tarefas da casa
ao sedentarismo do indivíduo.
Disponível em: www.separeolixo.gov.br. Acesso em: 4 dez. 2017. (Adaptado.)
d) focalizada, que atribui ao indivíduo a responsabilida-
de pela prevenção de doenças. Nessa campanha, a principal estratégia para convencer
e) geracional, que preconiza a representação do culto o leitor a fazer a reciclagem do lixo é a utilização da lin-
à jovialidade. guagem não verbal como argumento para
a) reaproveitamento de material.
2. b) facilidade na separação do lixo.
c) melhoria da condição do catador.
Enem, 2018

d) preservação de recursos naturais.


e) geração de renda para o trabalhador.

4.
A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma
narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao
perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Mor-
te afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a
1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, per-
Essa imagem ilustra a reação dos celíacos (pessoas sen-
seguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúr-
síveis ao glúten) ao ler rótulos de alimentos sem glúten.
bio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe
Essas reações indicam que, em geral, os rótulos des-
a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é en-
ses produtos
terrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o
a) trazem informações explícitas sobre a presença primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo
do glúten. dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que
b) oferecem várias opções de sabor para esses consu- ela ainda não sabe ler.
midores. A vida ao redor é a pseudorrealidade criada em torno
c) classificam o produto como adequado para o consu-
do culto a Hitler na Segunda Guerra. Ela assiste à eufó-
midor celíaco.
rica celebração do aniversário do Führer pela vizinhança.
A Morte, perplexa diante da violência humana, dá um tom
d) influenciam o consumo de alimentos especiais para
leve e divertido à narrativa deste duro confronto entre a in-
esses consumidores.
fância perdida e a crueldade do mundo adulto, um sucesso
e) variam na forma de apresentação de informações re- absoluto – e raro – de crítica e público.
levantes para esse público. Disponível em: www.odevoradordelivros.com. Acesso em: 24 jun. 2014.

126
Os gêneros textuais podem ser caracterizados, dentre Smirnoff Ice, entre bombas de combustível e pães de quei-
outros fatores, por seus objetivos. Esse fragmento é um(a) jo adormecidos. Ajudai-os, meu Pai: eles não sabem o que
a) reportagem, pois busca convencer o interlocutor da fazem. [...] As ruas são violentas, é verdade, mas nem tudo
tese defendida ao longo do texto. está perdido.
b) resumo, pois promove o contato rápido do leitor com
[...]
uma informação desconhecida. Salvai-me do preconceito e da tentação, oh Pai, de di-
zer que no meu tempo tudo era lindo, maravilhoso. [...]
c) sinopse, pois sintetiza as informações relevantes de
Talvez exista alguma poesia em passar noite após noite sen-
uma obra de modo impessoal.
tado na soleira de uma loja de conveniência, e desfilar com
d) instrução, pois ensina algo por meio de explicações a chave do banheiro e sua tabuinha, em gastar a mesada
sobre uma obra específica. em chicletes e palha italiana. Explica-me o mistério, numa
e) resenha, pois apresenta uma produção intelectual de visão, ou arrancai-os dali. É só o que vos peço, humilde-
forma crítica. mente, no ano que acaba de nascer. Obrigado, Senhor.
PRATA, Antônio. Conveniência. O Estado de S. Paulo, 11 jan. 2008.

5.
Assinale a alternativa correta quanto ao texto lido.
a) O texto apresenta sequências injuntivas que o apro-
Gloss‡rio diferenciado
ximam de uma oração, ou seja, nota-se a presença
Outro dia vi um anúncio de alguma coisa que não lem- de um ser suplicante e de um ser a quem a prece
bro o que era (como vocês podem deduzir, o anúncio era é dirigida.
péssimo). Lembro apenas que o produto era diferenciado, b) O ser suplicante discorda totalmente dos compor-
funcional e sustentável. Pensando nisso, fiz um glossário de tamentos dos jovens a quem se refere no discurso,
termos diferenciados e suas respectivas funcionalidades. de modo que ele reconhece em si mesmo um bom
Diferenciado: um adjetivo que define um substantivo exemplo a ser seguido.
mas também o sujeito que o está usando. Quem fala “dife- c) Embora haja a presença de ironia no texto, esse re-
renciado” poderia falar “diferente”. Mas escolheu uma pa- curso só se manifesta no primeiro parágrafo; ao longo
lavra diferenciada. Porque ele quer mostrar que ele próprio dos demais, percebe-se a ocorrência de comparações
é “diferenciado”. Essa é a função da palavra “diferencia- e de metonímias.
do”: diferenciar-se. Por diferençado, entenda: “mais caro”.
d) O ser suplicante parece ter familiaridade com a rotina
Estudos indicam que a palavra “diferenciado” representa
do ambiente e dos sujeitos que o frequentam, o que
um aumento de 50% no valor do produto. É uma palavra
nos autoriza a deduzir que não há intenção de cons-
que faz a diferença.
truir discurso crítico ao comportamento descrito.
DUVIVIER, G. Disponível em: www1.folha.uol.com.br.
Acesso em: 17 nov. 2014. (Adaptado.) e) Ao mesclar os gêneros – oração e crônica –, o autor
prejudica o entendimento das ideias contidas no tex-
Os gêneros são definidos, entre outros fatores, por sua to, tornando-o incoerente.
função social. Nesse texto, um verbete foi criado pelo
autor para 7. (Unicamp-SP)
a) atribuir novo sentido a uma palavra. Num mundo dominado por homens, a mulher é trata-
da como um ser diferenciado, que merece uma designação

LÍNGUA PORTUGUESA
b) apresentar as características de um produto.
especial. Enquanto a expressão “o homem” pode equiva-
c) mostrar um posicionamento crítico.
ler a “o ser humano”, como na frase “O homem é mortal”,
d) registrar o surgimento de um novo termo. a expressão “a mulher” só se refere aos seres humanos do
e) contar um fato do cotidiano. gênero feminino. A língua também revela um tratamento di-
ferente dado à mulher na sociedade ao conter designações
6. (UFMS) específicas para ela, inexistentes para o homem. Assim, a
MÓDULO 1

Olhai, oh Senhor, os jovens nos postos de gasolina. mulher de um chefe de governo é chamada de “primeira-
Apiedai-vos dessas pobres criaturas, a desperdiçar as mais -dama”, mas o marido de uma mulher que desempenha
belas noites de suas juventudes sentadas no chão, tomando aquele cargo não é chamado de “primeiro-cavalheiro”.

127
Conta-se que Cecília Meireles recusava a designação de fato foram aventureiros, responsáveis, e não em pequena
de “poetisa”, por achar que esse termo não tinha a mesma medida, pela fama que se propagou em torno da profissão.
conotação de “poeta” (usado para os homens), ao contrário, FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. (Adaptado.)
soava até pejorativo. Por outro lado, Dilma Rousseff exigia
que a tratassem por “presidenta” para enfatizar que quem Assinale a alternativa correta.
ocupava o cargo de chefe da nação brasileira era finalmen-
a) Encontra-se no texto o predomínio da conotação, uma
te uma mulher.
vez que as palavras empregadas transmitem sentidos
ARAÚJO, Francisco Jardes Nobre de. O machismo na linguagem.Disponível em:
https://www.parabolablog.com.br/index.php/blogs/o-machismo--na-linguagem?fbclid- figurados com várias possibilidades de interpretação.
IwAR0n7sVvu2mNioWa1Gpp0BZL4TP6Uo-hGK7DKyltgIxkdtRfoOaI6OEPCZE.
Acesso em: 5 jun. 2020. (Adaptado.) b) O texto possui um caráter predominantemente esté-
tico, com os sentidos das palavras reinventados cons-
Segundo o autor de “O machismo na linguagem”, tantemente pelo seu autor, a aprofundar o valor lite-
a) o hábito de usar “o homem” para representar a hu- rário do texto.
manidade faz com que o feminino se torne um gênero c) A referência a um autor português reforça o caráter
subalterno. literário que o texto assume ao direcionar subjetiva-
b) a prática da designação do gênero feminino na língua mente o teor das informações transmitidas.
portuguesa leva ao fim do privilégio do masculino na
d) O domínio discursivo do texto apresenta um caráter
linguagem.
instrucional, pois seu principal objetivo é transmitir um
c) o emprego de palavras no feminino evita o viés ma- conhecimento ou um saber definido pelo seu autor.
chista e incentiva uma menor diferenciação entre os
e) O texto apresenta todas as características de um tex-
gêneros.
to oral, com marcas como hesitação, repetição, inte-
d) a escolha de algumas palavras para marcar o gênero ração com o leitor, o que permite concluir que ele foi
feminino pode se relacionar com a valorização social escrito para uma exposição oral, em uma palestra,
da mulher. por exemplo.

8. (UPM-SP) 9.
A arqueologia não pode ser desvencilhada de seu ca- Reclame
ráter aventureiro e romântico, cuja melhor imagem talvez
seja, desde há alguns anos, as saborosas aventuras do ar- se o mundo não vai bem
queólogo Indiana Jones. Pois bem, quando do auge do su-
a seus olhos, use lentes
cesso de Indiana Jones, o arqueólogo brasileiro Paulo
Zanettini escreveu um artigo no Jornal da Tarde, de São ... ou transforme o mundo.
Paulo, intitulado “Indiana Jones deve morrer!”. Para ele, as- ótica olho vivo
sim como para outros arqueólogos profissionais, envolvidos agradece a preferência.
com um trabalho árduo, sério e distante das peripécias das
CHACAL. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 14 ago. 2014.
telas, essa imagem aventureira é incômoda.
O fato é que o arqueólogo, à diferença do historiador, Os gêneros podem ser híbridos, mesclando característi-
do geógrafo ou de outros estudiosos, possui uma imagem cas de diferentes composições textuais que circulam so-
muito mais atraente, inspiradora não só de filmes, mas cialmente. Nesse poema, o autor preservou, do gênero
também de romances e livros os mais variados. publicitário, a seguinte característica:
Bem, para usar uma expressão de Eça de Queiroz,
a) Extensão do texto.
“sob o manto diáfano da fantasia” escondem-se as histórias
reais que fundamentaram tais percepções. A arqueologia b) Emprego da injunção.
surgiu no bojo do Imperialismo do século XIX, como um c) Apresentação do título.
subproduto da expansão das potências coloniais europeias
d) Disposição das palavras.
e dos Estados Unidos, que procuravam enriquecer explo-
rando outros territórios. Alguns dos primeiros arqueólogos e) Pontuação dos períodos.

128
MÓDULO

2
ESTUDOS DE
SEMÂNTICA TEXTUAL I

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Intertextualidade
• Funções da linguagem
• Organização e progressão textual

HABILIDADES
• (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação
de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de
paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
• (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e multissemióticos,
considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social
a ser assumido e à imagem que se pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido,
ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-
-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística
apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão,
pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre
que o contexto o exigir.

129
Para começar

Leia a tirinha de Armandinho.


Nessa tirinha, Alexandre Beck, por
Alexandre Beck/Acervo do cartunista

meio da personagem Armandinho, faz


uma crítica relevante a uma conduta social
do mundo contemporâneo: a (ir)respon-
sabilidade do que postamos na internet
e fazemos circular no mundo digital. Ao
ler a tirinha e interpretá-la, você consegue
perceber a referência a um discurso per-
tencente a outro texto?
A fala de Armandinho “...você se torna eternamente responsável por aquilo que compartilha!” retoma e
atualiza o famoso trecho “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, da obra O pequeno
príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Sem esse conhecimento, não é possível identificar a intertextualidade,
tampouco o humor decorrente desse procedimento criativo e poético.
Para desenvolver algumas habilidades leitoras e responder a tais questões, essas noções serão conceitua-
das, a partir de agora, com outros exemplos.

Para relembrar

A intertextualidade
A intertextualidade ocorre quando um texto faz referência – implícita ou explícita – a outro texto. Embora
se trate de uma definição bastante simples, nem sempre conseguimos captar a construção do intertexto por
desconhecimento do texto a que se faz

Reprodução/Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP.


© Mauricio de Sousa/Mauricio de Sousa Editora Ltda.

referência. Por isso, quanto mais leitu-


ras, filmes, peças e obras apreciarmos,
mais aumentamos nossas referências
para compreender a intertextualidade
como prática de construção do texto.
Vale destacar que o intertexto se
faz presente em produções diversas, e
não apenas em textos verbais. Veja, ao
lado, um exemplo de intertextualidade
entre as obras de Mauricio de Sousa e
Auguste Renoir.
A depender da forma de elabora-
ção e do propósito do discurso, a prá-
tica da intertextualidade recebe quatro
denominações: citação, paráfrase, pa-
Magali e Mônica de Rosa e Azul, 1989, Rosa e Azul, 1881, de
ródia e estilização. de Mauricio de Sousa. Auguste Renoir.

130
Citação
A citação é uma reprodução fiel e integral de outro texto ou de um trecho dele. Costuma-se empregá-la
em gêneros textuais de caráter técnico, dissertativo ou informativo para embasar um argumento ou uma in-
formação. Veja o texto abaixo:

Maio terá eclipse total da lua visível no Brasil e chuva de meteoros


[...]
Alessandra Abe Pacini, cientista do grupo de Física Espacial da Universidade do Colorado, explica que, ao
longo da noite, veremos a Lua sumindo com a sombra da Terra passando na frente. Quando o evento chegar em
sua totalidade, e a sombra encobrir completamente o disco lunar, a Lua ficará avermelhada, isso porque não tere-
mos a incidência direta da luz do Sol.
“É o mesmo fenômeno que torna o pôr do Sol vermelho. É como se a luz do Sol fosse filtrada pela nossa at-
mosfera e sobrasse esse vermelho que espalha a luz do Sol que incide sobre a Lua”, diz.
Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2022/05/02/maio-tera-eclipse-total-da-lua-visivel-no-brasil-e-chuva-de-meteoros.ghtml. Acesso em: 3 mar. 2022.

Paráfrase
Dizemos que se parafraseou um texto ou uma ideia quando se conserva o sentido original de produ-
ção alheia, sem que se reproduza integralmente a redação original. Leia a seguinte citação do sociólogo
Talcott Parsons.
As funções da família em uma sociedade altamente diferenciada não devem ser interpretadas como funções
diretamente em nome da sociedade, mas sim em nome da personalidade.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/talcott-parsons.htm. Acesso em: 3 mar. 2022.

Agora, observe como a citação anterior foi parafraseada no parágrafo extraído de uma redação sobre o
tema do Enem 2017: “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.
[...]
Sob esse viés, pode-se apontar como um empecilho à implementação desse direito, reconhecido por mecanis-
mos legais, a discriminação enraizada em parte da sociedade, inclusive dos próprios responsáveis por essas pessoas
com limitação. Isso pode ser explicado segundo o sociólogo Talcott Parsons, o qual diz que a família é uma máquina
que produz personalidades humanas, o que legitima a ideia de que o preconceito por parte de muitos pais dificulta
o acesso à educação pelos surdos. Tal estereótipo está associado a uma possível invalidez da pessoa com deficiên-
cia e é procrastinado, infelizmente, desde o Período Clássico grego, em que deficientes eram deixados para morrer
por serem tratados como insignificantes, o que dificulta, ainda hoje, seu pleno desenvolvimento e sua autonomia.
[...]
M. O. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/coluna/redacao-para-o-enem-e-vestibular/
veja-redacoes-com-notas-altas-no-enem-2017/. Acesso em: 9 maio 2022.

Paródia
A paródia consiste na subversão da forma/linguagem ou, principalmente, da ideia/mensagem do texto
original. Em geral, tem uma intenção crítica, humorística ou puramente transgressora. Observe este exem-
plo do poeta modernista Oswald de Andrade, que conversa com o texto “Meus oito anos”, de Casimiro de

LÍNGUA PORTUGUESA
Abreu, apresentado adiante no tópico Função emotiva ou expressiva .

Meus oito anos

Oh que saudades que eu tenho Que os anos não trazem mais Sem nenhum laranjais
Da aurora de minha vida Naquele quintal de terra [...]
Das horas Da Rua de Santo Antônio
MÓDULO 2

De minha infância Debaixo da bananeira


ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas: obras completas VII. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. Disponível em:
https://ufprbrasileiraluis.files.wordpress.com/2015/08/poemas-de-oswald-de-andrade.pdf. Acesso em: 10 maio 2022.

131
Ainda que o sentimento de saudade presente nos versos originais de Casimiro de Abreu se mantenha,
Oswald de Andrade descreve uma infância que não atende à forma idealizada pelo poeta romântico.

Estilização
Dado seu caráter estético, a estilização aproveita seletivamente outro texto para que este passe a com-
plementar ou a integrar, organicamente, um novo. A intenção não é manter o sentido original do texto ou
modificá-lo; em vez disso, a estilização confere uma nova feição à certa obra, adaptando-a e atualizando-a.
Veja um exemplo de estilização num trecho do Hino Nacional.
[...] Do que a terra, mais garrida,
Deitado eternamente em berço esplêndido, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
Ao som do mar e à luz do céu profundo, “Nossos bosques têm mais vida”,
Fulguras, ó Brasil, florão da América, “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
Iluminado ao sol do Novo Mundo! [...]
ESTRADA, Joaquim Osório Duque. Hino Nacional. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/hino.htm.
Acesso em: 27 fev. 2022.

Os dois últimos versos transcritos apresentam trechos do famoso poema “Canção do exílio”, de
Gonçalves Dias: “Nossos bosques têm mais vida,” e “Nossa vida mais amores.”. Note que o autor do hino
incorpora elementos do texto original os quais se fundem organicamente ao novo texto.

As funções da linguagem
O ato comunicativo – independentemente de escrito ou falado, verbal ou imagético, físico ou virtual –
pressupõe a existência de elementos que atuam na sua construção. Veja, no esquema a seguir, quais são os
elementos da comunicação e a relação entre eles.
MENSAGEM • Emissor (locutor): aquele que emite a mensagem (fala,
REFERENTE escreve, gesticula).
Nos vemos
amanhã depois
Canal da aula. • Receptor (interlocutor): aquele que recebe a mensagem
Código (com quem se fala ou para quem se escreve).
Receptor • Código: conjunto de signos compartilhados pelo emissor e
pelo receptor (por exemplo, a língua portuguesa, a Libras
Emissor
– a Língua Brasileira de Sinais – e a linguagem não verbal).
• Canal: meio físico pelo qual se transmite a mensagem (por
exemplo, o papel, o telefone, o computador e a voz).
OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO • Mensagem: conteúdo que o emissor deseja transmitir
ao receptor.
• Contexto: situação que envolve a mensagem.
Apesar de a comunicação efetiva exigir a interação de todos os elementos citados, percebe-se
que, nos mais variados atos comunicativos, determinado elemento destaca-se em relação aos demais.
A maior ênfase a um dos elementos da comunicação faz surgir uma função da linguagem. Assim, num
dicionário ou numa gramática, por exemplo, livros em que palavras são empregadas para definir pala-
vras e em que a língua é usada para explicar a estrutura da língua, respectivamente – ou seja, gêneros
que enfatizam a própria linguagem –, predomina a função metalinguística.
A seguir, vamos relembrar as seis funções da linguagem: emotiva (ou expressiva), apelativa (ou conativa),
metalinguística, fática, referencial (ou informativa) e poética (ou estética).

Função emotiva ou expressiva


A função emotiva ou expressiva ocorre quando o emissor se coloca no centro do discurso, exploran-
do sua subjetividade (sentimentos ou opiniões). Por isso, o uso da 1a pessoa de verbos e pronomes, das

132
interjeições, dos adjetivos e advérbios opinativos, das reticências (indicando suspiro ou sugestão), dos pon-
tos de exclamação (que revelam surpresa) e dos pontos de interrogação (quando se trata de perguntas au-
torreflexivas) são fortes indícios de sua presença. O poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, é um
exemplo de função emotiva.
Oh! que saudades que tenho Da minha infância querida
Da aurora da minha vida, Que os anos não trazem mais!
ABREU, Casimiro. Meus oito anos. Disponível em: www.academia.org.br/academicos/casimiro-de-abreu/textos-escolhidos.
Acesso em: 8 maio 2022.

Função apelativa ou conativa


A função apelativa ou conativa é identificada sempre que se tenta persuadir o receptor, quando se es-
pera dele uma resposta ou uma atitude. Aparece com o uso da 2a pessoa, do imperativo, do pronome de
tratamento “você”, do vocativo e das interrogações. No exemplo a seguir, Gregório de Matos evidencia a
função apelativa.

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,


Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
MATOS, Gregório de. Crônica do viver baiano Seiscentista – Os homens bons. Obra poética. 3.ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.
Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000118.pdf. Acesso em: 8 maio 2022.

Função metalinguística
A função metalinguística manifesta-se quando a linguagem explica ou comenta a si mesma. Sempre que
um poema falar sobre a composição poética, sempre que usarmos palavras para explicar palavras, sempre
que o código for o elemento central, existirá a metalinguagem. Dito de outra forma: é a linguagem utilizada
para resolver problemas de entendimento linguístico ou para esclarecer elementos específicos de um códi-
go. Em “Poética”, Cassiano Ricardo, além da função poética, emprega a função metalinguística. Leia o tre-
cho a seguir.

Que é a Poesia? Por todos


Uma ilha Os lados.
Cercada [...]
De palavras
Disponível em: https://www.fccr.sp.gov.br/portalcassianoricardo/#poetica. Acesso em: 3 jun. 2022.

Função fática
Centrada no canal, a função fática ocorre sempre que se vai iniciar, manter ou finalizar um ato de comu-
nicação. Paulinho da Viola trabalha com essa função em sua composição “Sinal fechado”.

— Olá, como vai?

LÍNGUA PORTUGUESA
— Eu vou indo, e você, tudo bem?
— Tudo bem, eu vou indo...
VIOLA, Paulinho da. Sinal fechado. In: VIOLA, Paulinho da. Foi um rio que passou em minha vida. 1970.

Função referencial ou informativa


A função referencial ou informativa está centrada no contexto e nas informações que independem de
MÓDULO 2

interpretação, mas de aceitação por parte do leitor. Visto que seu propósito consiste em transmitir dados da
realidade, é preciso que se empregue a denotação para que haja clareza e objetividade na transmissão dos
conteúdos. Nos gêneros informativos, como notícias, reportagens e gráficos, prevalece essa função. Veja.

133
Número de assassinatos cai 7% no Brasil em 2021 e é o menor da série histórica

[...]
O número de assassinatos no Brasil caiu 7% em 2021 na comparação com o ano anterior. É o que mostra o
índice nacional de homicídios criado pelo g1, com base em dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.
Em todo o ano passado, foram registradas 41,1 mil mortes violentas intencionais no país – 3 mil a menos que
em 2020. Trata-se do menor número de toda a série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que co-
leta os dados desde 2007.
Estão contabilizadas no número as vítimas dos seguintes crimes:
• homicídios dolosos (incluindo os feminicídios)
• latrocínios (roubos seguidos de morte)
• lesões corporais seguidas de morte
A diminuição dos assassinatos em 2021 retoma a tendência de queda registrada no país pelo Monitor da
Violência desde o balanço de 2018. Esta tendência foi interrompida em 2020, ano que teve uma alta de mais de
5% em plena pandemia, mas voltou a ser registrada em 2021.
[...]
G1, 21 fev. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2022/02/21/numero-de-assassinatos-cai
-7percent-no-brasil-em-2021-e-e-o-menor-da-serie-historica.ghtml. Acesso em: 3 abr. 2022.

Função poética ou estética


A função poética ou estética foca na elaboração da mensagem. Precisamos agora explicar, de modo
mais técnico e detalhado, que um conteúdo se torna uma mensagem na medida em que ele é elaborado
para sensibilizar, impactar, instigar o leitor. Para tanto, empregam-
Ivan Cabral/Acervo do cartunista

-se procedimentos e recursos criativos e inventivos a fim de pro-


duzir múltiplos sentidos e possibilidades de leitura.
Além do uso da conotação, encontraremos o apelo à ambi-
guidade, à polissemia e aos recursos de sonoridade. Ainda que
seja recorrente no texto literário, podemos identificar o tratamen-
to estético ou poético da linguagem em peças publicitárias e até
em jornais. Observe como a charge de Ivan Cabral sobre violência
causa maior impacto no leitor do que a notícia anteriormente lida.
Nessa charge, propõe-se o tema da vulgarização da violência
por meio de uma situação absurda e exagerada: a presença de
um projétil na sopa do cliente. Ao explorar o insólito, Cabral não
só aborda um problema grave que assola a sociedade, como tam-
bém produz humor.

Quadro comparativo

Função da linguagem
Finalidade Alguns recursos
predominante

Emprego de frases exclamativas.


Comunicação pessoal e subjetiva
Exprimir sentimentos ou emoções. (1a pessoa).
Emotiva ou Uso de recursos como interjeições,
expressiva Tecer considerações sobre sentimentos e
estados de espírito de maneira subjetiva. superlativos, aumentativos, diminutivos,
adjetivos e advérbios de caráter emotivo,
hipérboles, figuras de pensamento,
entonação, etc.

134
Função da linguagem
Finalidade Alguns recursos
predominante
Repetição vocabular e/ou estrutural.
Apelativa ou
Influenciar, persuadir o receptor. Emprego de vocativos e imperativos;
conativa
e de indagações.

Definir, explicar, analisar, criticar o código Predomínio de explicações, definições,


Metalinguística
linguístico (vocábulo, frase, texto). conceituações.

Iniciar, manter ou finalizar a conversação, Presença de marcadores de oralidade.


Fática
facilitando a comunicação. Emprego de interjeições.

Valorizar a elaboração da linguagem como Emprego de frases de valor artístico, com


meio de expressão. o predomínio de conotação, polissemia,
Poética ou estética
Definir como prioridade a transmissão de ambiguidade, figuras de linguagem
uma “mensagem” a ser codificada. e musicalidade.

Transmitir informações, dados da realidade. Uso de frase declarativa: comunicação


Referencial ou impessoal e objetiva.
informativa Descrever de forma objetiva o mundo
externo ou interno. Predomínio da denotação.

Organização e progressão textual


Quando se compõe um texto verbal, muitos recursos e procedimentos linguísticos são empregados a
fim de garantir a coesão e a coerência; apresentar o posicionamento do emissor; criar conexão com o leitor;
escrever uma crônica, e não um conto; expor uma informação ou elaborar uma mensagem. Enfim, de forma
mais ou menos consciente, utilizamos os mais variados recursos da linguagem para organizar o texto e fazê-lo
progredir.
Já estudamos alguns aspectos semânticos e discursivos – como os modos de organização textual e a in-
tertextualidade – que impactam a produção do texto. No decorrer do ano, serão estudados aspectos gra-
maticais (da morfologia e da sintaxe) intimamente relacionados ao processo de confecção textual. Assim, as
nomenclaturas – como a classe da palavra ou o tipo de oração – não servem à mera classificação, mas a uma
compreensão mais consciente da organização e da progressão textual.
Leia o poema “João, o telegrafista”, de Cassiano Ricardo, e acompanhe sua análise, na qual se eviden-
ciam os elementos que agem em sua construção.

João, o telegrafista

I para encurtar palavras,


João telegrafista. para ser breve na necessidade.
Nunca mais que isso, Conheceu Dalva uma Dalva
estaçãozinha pobre não alva sequer matutina
havia mais árvores pássaros mas jambo, morena.

LÍNGUA PORTUGUESA
que pessoas. Que um dia fugiu – único
Só tinha coração urgente. dia em que foi matutina –
Embora sem nenhuma para ir morar cidade grande
promoção. cheia luzes joias.
A bater a bater sua única tecla. História viva, urgente.
MÓDULO 2

Elíptico, como todo telegrafista. Ah, inutilidade alfabeto Morse


Cortando flores preposições nas mãos João telegrafista

135
procurar procurar Dalva Passaram gafanhotos chineses,
todo mundo servido telégrafo. flores catástrofes.
Ah, quando envelhece, Mas, entre todas as coisas,
como é dolorosa urgência! passou notícia casamento Dalva
João telegrafista com outro.
nunca mais que isso, urgente.
João telegrafista
II o de coração urgente
Por suas mãos passou mundo, não disse palavra, apenas
mundo que o fez urgente, três andorinhas pretas
elíptico, apressado, cifrado. (sem a mais mínima intenção simbólica)
Passou preço do café. pousaram sobre
Passou amor Eduardo seu soluço telegráfico.
VIII, hoje duque Windsor.
Um soluço sem endereço – Dalva –
Passou calma ingleses sob
e urgente.
chuva de fogo. Passou
sensação primeira bomba
voadora.
RICARDO, Cassiano. Poemas murais. São Paulo: José Olympio, 1950. Disponível em: https://www.fccr.sp.gov.br/
portalcassianoricardo/#joao_o_telegrafista. Acesso em: 3 jun. 2022.

Esse poema chama a atenção por se apropriar de elementos do gênero narrativo, como construção de
enredo, presença de personagens e narrador. Em razão disso, contata-se uma diluição das barreiras entre os
gêneros literários épico e narrativo.
Nas duas primeiras estrofes, predomina o modo descritivo de organização textual, produzido pelo em-
prego de adjetivos e, principalmente, de verbos no pretérito imperfeito (“havia”, “tinha”) e no gerúndio
(“Cortando”), que garantem um instante de congelamento temporal no qual se apresentam processos habi-
tuais no passado. A partir da segunda estrofe, passa a prevalecer o modo narrativo por causa da sequência
de eventos apresentada com o emprego de verbos no pretérito perfeito (“Conheceu”, “fugiu”).
Quando se analisa uma narrativa, é preciso atentar para o tipo de foco narrativo adotado. Apesar de ele
ser de 3a pessoa, tendo em vista que o narrador não participa da história, é possível notar indícios de um nar-
rador opinativo que se envolve com a história do telegrafista João. Esse efeito foi construído pelo emprego
de alguns recursos gramaticais, como o sufixo diminutivo em “estaçãozinha”; a interjeição “Ah”; e os parên-
teses no verso “(sem a mais mínima intenção simbólica)”.
A respeito do uso dos parênteses, o narrador pretende, com isso, inserir um comentário metalinguístico
com um tom irônico. A metalinguagem decorre de se tecer, dentro do próprio texto, um comentário sobre
o sentido figurado ou literal das “andorinhas pretas”. Já a ironia consiste em o narrador negar que elas cum-
pram um papel simbólico/figurado/conotativo, mas, na verdade, ser bastante simbólico que elas apareçam
no exato momento de profunda tristeza de João.
O último aspecto determinante para a organização e a compreensão do poema exige que antes saiba-
mos aquilo que caracteriza uma linguagem telegráfica.
telegráfico
adjetivo
Relativo a telégrafo: sinais telegráficos.
Linguagem telegráfica, estilo telegráfico, forma de comunicação lacônica, caracterizada pela eliminação de
certas partículas (conjunções, preposições, artigos) não indispensáveis ao entendimento da mensagem.
TELEGRÁFICO. Dicionário Online de Português. Disponível em: www.dicio.com.br/telegrafico/#:~:text=Linguagem%20telegr%C3%A1fica%2C%20estilo%20
telegr%C3%A1fico%2C%20forma,indispens%C3%A1veis%20ao%20entendimento%20da%20mensagem. Acesso em: 5 mar. 2022.

136
A partir dessa definição, nota-se que a linguagem adotada por Cassiano Ricardo aproxima-se daquela
empregada pelos telegrafistas e, por isso, contribui decisivamente para a progressão textual. Na medida
em que opta por remover conectivos e por repetir palavras, recriam-se no poema, o estilo lacônico e a reite-
ração temática, que caracterizam técnicas telegráficas.

pH resolve
A questão seguinte foi extraída da edição do Enem PPL de 2021. Veja como ela explora as funções da lin-
guagem na construção do poema.
Anatomia
Qual a matéria do poema? Qual o destino do poema?
A fúria do tempo com suas unhas e algemas? O poço da página com suas pedras e gemas?

Qual a semente do poema? Qual o sentido do poema?


A fornalha da alma com os seus divinos dilemas? O sol da semântica com suas sombras pequenas?

Qual a paisagem do poema? Qual a pátria do poema?


A selva da língua com suas feras e fonemas? O caos da vida e a vida apenas?
CAETANO, A. Disponível em: www.antoniomiranda.com.br. Acesso em: 27 set 2013. (Fragmento.)

1. Além da função poética, predomina no poema a função metalinguística, evidenciada


a) pelo uso de repetidas perguntas retóricas.
b) pelas dúvidas que inquietam o eu lírico.
c) pelos usos que se fazem das figuras de linguagem.
d) pelo fato de o poema falar de si mesmo como linguagem.
e) pela prevalência do sentido poético como inquietação existencial.
Resolução
É comum, nesse tipo de questão, que haja dúvidas quanto a duas funções da linguagem que se desta-
cam. No poema “Anatomia”, a função metalinguística se manifesta pelo fato de a própria poesia configurar
a temática do texto, e a função poética pelas diversas imagens metafóricas propostas para responder às in-
dagações. Desse modo, as afirmações das alternativas c e d são verdadeiras; no entanto, como o enunciado
requer que se justifique a função metalinguística, a alternativa c se torna inválida, tendo em vista que as figu-
ras de linguagem justificam a função poética ou estética.

2.
Texto 1

LÍNGUA PORTUGUESA
Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras dos grandes escritores, em cuja linguagem as
classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou
e consagrou.
LIMA, C. H. R. Gram‡tica normativa da l’ngua portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

Texto 2
MÓDULO 2

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis,
sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma es-
pécie – nem sequer mental ou de sonho –, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos

137
verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand,
fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer
inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz
tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
PESSOA, F. O livro do desassossego. São Paulo: Brasiliense, 1986.

A linguagem cumpre diferentes funções no processo de comunicação. A função que predomina nos
textos 1 e 2
a) destaca o “como” se elabora a mensagem, considerando-se a seleção, a combinação e a sonoridade
do texto.
b) coloca o foco em “com o quê” se constrói a mensagem, sendo o código utilizado o seu próprio objeto.
c) focaliza “quem” produz a mensagem, mostrando seu posicionamento e suas impressões pessoais.
d) orienta-se em “para quem” se dirige a mensagem, estimulando a mudança de seu comportamento.
e) enfatiza sobre “o quê” versa a mensagem, apresentada com palavras precisas e objetivas.
Resolução
Essa questão adota um tipo de cobrança bastante recorrente no Enem: a necessidade de se entender o
conteúdo, mas sem exigência de nomenclaturas. Em vez de apresentarem os nomes das funções, as opções
exigem que se conheça o conceito de cada uma delas. O esquema a seguir traduz a função da linguagem
por trás de cada alternativa.
a) “destaca como” ñ a preparação criativa da mensagem ñ função poética
b) “coloca o foco em com o quê” ñ o código empregado ñ função metalinguística
c) “focaliza quem” ñ o emissor ñ função emotiva
d) “orienta-se em para quem” ñ o receptor ñ função apelativa
e) “enfatiza sobre o quê” ñ a transmissão clara das informações ñ função referencial
Cientes da função da linguagem presente em cada alternativa, podemos investigar qual delas é comum aos
dois textos. No texto 1, tendo em vista que explica o que determina a variação normativa, Rocha Lima, de modo
claro e objetivo, usa a língua para falar da própria língua. Assim, destacam-se as funções metalinguística e refe-
rencial. No texto 2, Fernando Pessoa, de forma pessoal e com linguagem conotativa, usa a língua para expres-
sar seu amor pela própria língua. Assim, destacam-se as funções metalinguística, emotiva e poética.
Note, portanto, que a metalinguagem está presente nos dois textos, ainda que o primeiro escreva de
modo referencial, e o segundo, de modo poético. Com isso, a resposta correta é a alternativa b.

Para concluir

Você estudou:
• os elementos da comunicação – emissor, receptor, código, canal, mensagem, contexto – e as funções
da linguagem relacionadas à ênfase a esses elementos – emotiva, apelativa, metalinguística, fática,
poética e referencial, respectivamente;
• a intertextualidade e suas denominações, geralmente consideradas como recursos técnicos e argu-
mentativos – citação e paráfrase – e recursos criativos – paródia e estilização;
• a organização e a progressão textual, que consistem no emprego dos recursos da língua e no reconhe-
cimento de sua atuação na construção do texto.

138
Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.
1. (Unicamp-SP) 2. (Acafe-SC)
Texto 1 Meus oito anos
Comvest/Unicamp-SP, 2020.

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
VALLIAS, André, 2020. Disponível em: https://gramho.com/media/
2412019968340930281. Acesso em: 20 jun. 2021. Meus oito anos
Oswald de Andrade
Texto 2
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Comvest/Unicamp-SP, 2020.

Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]

Sobre o poema de Oswald de Andrade, é correto afirmar


OITICICA, Hélio. Bandeira-poema [Seja marginal, seja herói], 1968. Disponível em: que
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2638/bandeirapoema. Acesso em: 24 ago. 2021.
a) o autor usou um recurso denominado bricolagem,
Considere o diálogo intertextual entre os dois poemas e uma vez que criou um texto a partir de fragmentos de
assinale a alternativa correta. diversos outros textos com os quais dialoga, em um
a) O texto 2 parodia o texto 1 ao deslocar o tema da processo de citação extrema.
conectividade no meio digital para o elogio da margi- b) trata-se de uma paródia que, de forma tendenciosa,
nalidade como ato heroico. pauta-se pela recriação de um texto com caráter con-

LÍNGUA PORTUGUESA
b) O texto 1 parafraseia o texto 2 ao chamar atenção testador e crítico, em tom jocoso.
para a posição marginal imposta a quem resiste à c) constitui-se de uma paráfrase do texto “Meus oito
pressão de viver conectado às redes. anos”, de Casimiro de Abreu, atribuindo-lhe uma
c) O texto 2 alude ao texto 1 para reforçar a equivalência nova “roupagem” discursiva, embora mantendo a
entre as condições de ficar “off-line” e ser “marginal” mesma ideia contida no texto original.
em cada contexto. d) é uma citação, pois Oswald de Andrade incorpora a
MÓDULO 2

d) O texto 1 parodia o texto 2 para situar como heroico seu texto partes do texto de Casimiro de Abreu, com
e transgressivo o ato de se desconectar das redes so- quem dialoga. Todavia, por não expressar a citação
ciais no contexto atual. entre aspas, caracteriza-se como plágio.

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3. Com base na leitura do poema, a respeito do uso e da
E vejam agora com que destreza, com que arte faço predominância das funções da linguagem no texto de
eu a maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio co- Drummond, pode-se afirmar que:
meçou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão a) Por meio dos versos “Ponho-me a escrever teu nome”
pecado de juventude; não há juventude sem meninice; (v.1) e “esse romântico trabalho” (v.5), o poeta faz re-
meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos ferências ao seu próprio ofício: o gesto de escrever
nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que poemas líricos.
nasci. Viram? b) A linguagem essencialmente poética que constitui
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1974. (Fragmento.) os versos “No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam” (v.3 e 4)
A repetição é um recurso linguístico utilizado para pro- confere ao poema uma atmosfera irreal e impede o
mover a progressão textual, pois indica entrelaçamento leitor de reconhecer no texto dados constitutivos de
de ideias. No fragmento de romance, as repetições fo- uma cena realista.
ram utilizadas com o objetivo de c) Na primeira estrofe, o poeta constrói uma linguagem
a) marcar a transição entre dois momentos distintos centrada na amada, receptora da mensagem, mas, na
da narrativa, o amor do narrador por Virgília e seu segunda, ele deixa de se dirigir a ela e passa a expri-
nascimento. mir o que sente.
b) tornar mais lento o fluxo de informações, para final- d) Em “Eu estava sonhando...” (v.10), o poeta demonstra
mente conduzir o leitor ao tema principal. que está mais preocupado em responder à pergun-
c) reforçar, pelo acúmulo de afirmações, a ideia do quan- ta feita anteriormente e, assim, dar continuidade ao
to é grande o sentimento do narrador por Virgília. diálogo com seus interlocutores do que em expressar
algo sobre si mesmo.
d) representar a monotonia, caracterizadora das etapas
da vida do autor: a juventude e a velhice. e) No verso “Neste país é proibido sonhar.” (v.12), o
poeta abandona a linguagem poética para fazer uso
e) assegurar a sequenciação cronológica dos fatos re-
da função referencial, informando sobre o conteúdo
presentados e a precisão das informações.
do “cartaz amarelo” (v.11) presente no local.
4.
5.
Leia a letra da música “A raça humana”, composta e in-

Reprodu•‹o/Enem, 2020.
terpretada por Gilberto Gil.

Sentimental
Ponho-me a escrever teu nome com
letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,


uma letra somente
para acabar teu nome!
— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
DOEDERLEIN, J. O livro dos ressignificados. São Paulo: Parábola, 2017.
E há em todas as consciências este cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar.”
Nessa simulação de verbete de dicionário, não há a pre-
(ANDRADE, C. D. Seleta em Prosa e Verso. Rio de Janeiro: Record, 1995.)
dominância da função metalinguística da linguagem,

140
como seria de se esperar. Identificam-se elementos que c) poética, como em “é a felicidade fazendo visita”.
subvertem o gênero por meio da incorporação marcan- d) emotiva, como em “é quando eu esqueço o que não
te de características da função importa”.
a) conativa, como em “(valeu, galera)!”. e) fática, como em “é o dia que recebo o maior número
b) referencial, como em “é festejar o próprio ser”. de ligações no meu celular”.

Aprofundando o conhecimento
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.
1. (FMC-RJ) 2.
“Vou-me embora p’ra Pasárgada” foi o poema de mais lon-
BalŽ das baleias ga gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse
Verissimo nome Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi
“Em compensação” não pode ser o começo de nenhu- num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa
ma frase sobre a pandemia que nos assola. Nada compensa, “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na mi-
mitiga, inocenta, redime, atenua, suaviza ou absolve o vírus nha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias,
assassino, por respeito aos que ele já matou e continua matan- como o de L’invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte
do. Portanto, não veja como simpatia pelo demônio a simples anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do
constatação, noticiada pela imprensa internacional, de que Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda
um efeito da pandemia e das medidas tomadas para contro- sensação de tudo o que eu não tinha feito em minha vida por
lá-la tem sido a queda dos índices da poluição em todo o pla- motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este
neta. Triste ironia: o ar se torna respirável pela diminuição da grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!” Senti na
atividade industrial e a ausência de gente nas ruas justamente redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo,
onde ele é mais venenoso. O demônio tem suas astúcias. mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas circunstân-
Li que os habitantes de Marselha, no sul da França, cias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de
estão vendo, diariamente, um espetáculo raro. Baleias se evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço
aproximam da costa e se exibem, certamente surpreendi- como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poe-
das pela sua própria súbita ascensão ao estrelato. O porto ma porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não
de Marselha é o mais importante da França, e seu movi- sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa,
mento incessante mantém as baleias longe. Ou mantinha. mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo
Com as limitações impostas pelo coronavírus, abriu-se o de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a
espaço para o balé das baleias, que, não demora, estarão Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada.
integradas à vida social de Marselha, provando a bouilla- BANDEIRA, M. Itinerário da Pasárgada. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.
-baisse do Vieux-Port e dando autógrafos.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/bale-das-baleias-24374057.
Acesso em: 3 jun. 2020. Os processos de interação comunicativa preveem a pre-
sença ativa de múltiplos elementos da comunicação, en-
Em “Nada compensa, mitiga, inocenta, redime, atenua,

LÍNGUA PORTUGUESA
tre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse
suaviza ou absolve o vírus assassino, por respeito aos fragmento, a função da linguagem predominante é a
que ele já matou e continua matando”, as formas subli-
a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de
nhadas evidenciam o mecanismo de
angústia que o levaram à criação poética.
a) progressão textual.
b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do
b) exposição de ideias. nome empregado em um famoso poema de Bandeira.
c) relato de fatos.
MÓDULO 2

c) metalinguística, porque o poeta tece comentários so-


d) paradoxo de ideias. bre a gênese e o processo de escrita de um de seus
e) síntese de ações. poemas.

141
d) poética, porque o texto aborda os elementos estéti- informações já conhecidas, outras novas vão sendo acres-
cos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira. cidas e estas, depois de conhecidas, terão a si outras novas
e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores acrescidas e, assim, sucessivamente. A construção do texto
sobre sua dificuldade de compor um poema. flui como um ir-e-vir de informações, uma troca constante
entre o dado e o novo.
3.
É correto afirmar que, nesse texto, predominam:
As cartas de amor
a) função referencial e gênero do tipo dissertativo.
deveriam ser fechadas
com a língua. b) função fática e gênero de conteúdo didático.
Beijadas antes de enviadas. c) função poética e gênero do tipo narrativo.
Sopradas. Respiradas. d) função expressiva e gênero de conteúdo dramático.
O esforço do pulmão e) função conativa e gênero de conteúdo lírico.
capturado pelo envelope,
a letra tremendo 5. (Fuvest-SP)
como uma pálpebra.

Reprodu•‹o/Onzevinteum
Não a cola isenta, neutra,
mas a espuma, a gentileza,
a gripe, o contágio.
Porque a saliva
acalma um machucado.
As cartas de amor
deveriam ser abertas
com os dentes.
CARPINEJAR, F. Como no cŽu. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2005.

No texto predomina a função poética da linguagem,


pois ele registra uma visão imaginária e singularizada de
mundo, construída por meio do trabalho estético da lin-
guagem. A função conativa também contribui para esse
trabalho na medida em que o enunciador procura
a) influenciar o leitor em relação aos sentimentos provo-
cados por uma carta de amor, por meio de opiniões
pessoais.
b) definir com objetividade o sentimento amoroso e a
importância das cartas de amor.
c) alertar para consequências perigosas advindas de
mensagens amorosas.
d) esclarecer como devem ser escritas as mensagens Tendo como objetivo aumentar o estoque de sangue do
sentimentais nas cartas de amor. HEMORIO, a campanha publicitária faz uso dos seguin-
e) produzir uma visão ficcional do sentimento amoroso tes recursos linguísticos:
presente em cartas de amor. a) intertextualidade e prosopopeia.
b) ambiguidade e paradoxo.
4. (FGV-SP) Leia o seguinte texto de Ubirajara Inácio de
Araújo: c) neologia e polissíndeto.
Todo texto é uma sequência de informações: do iní- d) ambiguidade e paronímia.
cio até o fim, há um percurso acumulativo delas. Às e) intertextualidade e polissemia.

142
6. combater esse crime, o professor Maximiliano Zambonatto
Pezzin, engenheiro de computação, desenvolveu junto com
Espaço e memória
os seus alunos o programa Farejador de Plágio.
O termo “Na minha casa...” é uma metáfora que guarda O programa é capaz de detectar: trechos contínuos e
múltiplas acepções para o conjunto de pessoas, de adeptos, fragmentados, frases soltas, partes de textos reorganizadas,
dos que creem nos orixás. Múltiplos deuses que a diáspora frases reescritas, mudanças na ordem dos períodos e erros
negra trouxe para o Brasil. Refere-se ao espaço onde as fonéticos e sintáticos.
comunidades edificaram seus templos, referência de or- Mas como o programa realmente funciona?
gulho, aludindo ao patrimônio cultural de matriz africana, Considerando o texto como uma sequência de palavras, a
reelaborado em novo território. ferramenta analisa e busca trecho por trecho nos sites de
O espaço é fundamental na constituição da história de busca, assim como um professor desconfiado de um aluno
um povo. Halbwachs (1941, p. 85), ao afirmar que “não faria. A diferença é que o programa permite que se pesquise
há memória coletiva que não se desenvolva em um quadro em vários buscadores, gerando assim muito mais resultados.
espacial”, aponta para a importância de aspecto tão signifi- Disponível em: http://reporterunesp.jor.br. Acesso em: 19 mar. 2018.
cativo no desenvolvimento da vida social.
Lugar para onde está voltada a memória, onde aqueles Segundo o texto, a ferramenta Farejador de Plágio al-
que viveram a condição-limite de escravo podiam pensar- cança seu objetivo por meio da
-se como seres humanos, exercer essa humanidade e en- a) seleção de cópias integrais.
contrar os elementos que lhes conferiam e garantiam uma b) busca em sites especializados.
identidade religiosa diferenciada, com características pró-
c) simulação da atividade docente.
prias, que constituiu um “patrimônio simbólico do negro
brasileiro (a memória cultural da África), afirmou-se aqui d) comparação de padrões estruturais.
como território político-mítico-religioso para sua transmis- e) identificação de sequência de fonemas.
são e preservação” (SODRÉ, 1988, p, 50).
BARROS, J. F. P. Na minha casa. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. 8. (UFU-MG)

Reprodu•‹o/UFU, 2015.
Na construção desse texto acadêmico, o autor se vale
de estratégia argumentativa bastante comum a esse gê-
nero textual, a intertextualidade, cujas marcas são
a) aspas, que representam o questionamento parcial de
um ponto de vista.
b) citações de autores consagrados, que garantem a
autoridade do argumento.
c) construções sintáticas, que privilegiam a coordena-
ção temporal de argumentos.
d) comparações entre dois pontos de vista, que são an-
tagônicos.
Disponível em: http://lojacomunicacao.com/#/piaui-blogs/. Acesso em: 7 fev. 2015.
e) parênteses, que representam uma digressão para as
considerações do autor.

LÍNGUA PORTUGUESA
O anúncio publicitário, produzido por uma revis-
ta para divulgar seus blogs, dialoga com outro texto.
7.
Considerando essa informação,
a) indique que texto é esse e explique o processo de in-
Farejador de Plágio: uma ferramenta
tertextualidade que se estabelece entre ele e o anún-
contra a cópia ilegal
cio publicitário;
MÓDULO 2

No mundo acadêmico ou nos veículos de comuni- b) explique de que maneira a linguagem não verbal do
cação, as cópias ilegais podem surgir de diversas manei- anúncio publicitário contribui com o diálogo estabe-
ras, sendo integrais, parciais ou paráfrases. Para ajudar a lecido entre os dois textos.

143
9. (Ufes) Leia os textos abaixo e faça o que se pede. Com base nos elementos constitutivos do ato de co-
Texto 1 municação, Roman Jakobson estabeleceu seis funções
da linguagem (e a ênfase de cada uma delas): referen-
cial (ênfase no assunto; no conteúdo), emotiva (ênfase
O navio negreiro no emissor; no sujeito), conativa (ênfase no receptor; no
interlocutor), poética (ênfase na forma; na construção),
Negras mulheres, suspendendo às tetas
metalinguística (ênfase no código; na autorreferência) e
Magras crianças, cujas bocas pretas
fática (ênfase no canal; no contato).
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas, Escolha um dos textos, indique e explique a ocorrência
No turbilhão de espectros arrastadas, de uma dessas funções.
Em ânsia e mágoa vãs.
Castro Alves 10. (UFRRJ)

Texto 2 Procura da poesia (fragmento)


7 Penetra surdamente no reino das palavras.
Eu não sou eu nem sou o outro, Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Sou qualquer coisa de intermédio: Estão paralisados, mas não há desespero,
Pilar da ponte de tédio há calma e frescura na superfície intata.
Que vai de mim para o Outro. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Mário de Sá-Carneiro Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Texto 3 Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Os arredores florem Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra e seu poder de silêncio.
Os arredores florem: ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reuni‹o: 19 livros de poesia. 2. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
figos, nervos, libélulas
a criarem nas águas Nesse fragmento, Drummond dá ênfase a que compo-
os brevíssimos movimentos. nente da comunicação: emissor, receptor, mensagem,
Paulo Roberto Sodré código, canal ou referente? Considerando o elemento
em destaque, informe qual das seis funções da lingua-
gem predomina no texto.

Anotações

144
MÓDULO

3
ESTUDOS DE
SEMÂNTICA TEXTUAL II
OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Marcadores de pressuposição
• Polifonia
• Indicadores modais
• Ambiguidade

HABILIDADES
• (EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação
de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de
paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
• (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e multissemióticos,
considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social
a ser assumido e à imagem que se pretende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido,
ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-
-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística
apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão,
pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre
que o contexto o exigir.

145
Para começar

A seguir, você lerá o trecho de um capítulo do romance Dom Casmurro, obra cujo conteúdo é a narra-
ção, aparentemente monológica, de Bento Santiago sobre a sua vida, com a intenção de restaurar, na velhi-
ce, lembranças do que viveu na infância e na adolescência. Especificamente nesse capítulo, Bento conduz o
leitor ao que considera ser o grande ponto de partida de sua história: a revelação do seu amor por Capitu.

O tempo
Mas é tempo de tornar àquela tarde de novembro, uma tarde clara e fresca, sossegada como a nossa casa e o trecho
da rua em que morávamos. Verdadeiramente foi o princípio da minha vida; tudo o que sucedera antes foi como o pin-
tar e vestir das pessoas que tinham de entrar em cena, o acender das luzes, o preparo das rabecas, a sinfonia... Agora é
que eu ia começar a minha ópera. “A vida é uma ópera”, dizia-me um velho tenor italiano que aqui viveu e morreu...
E explicou-me um dia a definição, em tal maneira que me fez crer nela. Talvez valha a pena dá-la; é só um Capítulo.
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=1888. Acesso em: 11 abr. 2022.

Nesse excerto, o narrador-personagem reflete acerca da semelhança entre a vida e uma ópera, a partir
da fala de “um velho tenor italiano”. Ao inserir essa outra voz, marcada pela citação, o discurso quebra seu
aparente monólogo. A própria metáfora de a vida ser uma ópera revela que esta, assim como aquela, é con-
tada e cantada por várias vozes, que, juntas, apresentam uma história.
Vale destacar que, a partir de analogias, o discurso de Dom Casmurro revela ao leitor informações como
o fato de a sua “ópera” só começar no momento em que toma conhecimento de que ele e Capitu se ama-
vam. O advérbio “Agora”, por exemplo, é um modalizador que faz com que o leitor compreenda que a nar-
rativa que vale a pena ser contada começa a partir dali. Outro indício de intenção a se destacar é o advérbio
“Talvez”, que evidencia a dúvida do narrador em relação à vontade do interlocutor em ler a referida defini-
ção no capítulo subsequente.
Além disso, o emprego do verbo “tornar”, no início do capítulo, faz com que o leitor pressuponha que o
narrador já tenha mencionado fatos daquela tarde ao longo da apresentação do enredo.
Assim, nota-se que, para interpretar e compreender um texto, é necessário estar atento a diversos aspec-
tos linguísticos que, combinados, revelam significados. Nessa análise, a polifonia, os modalizadores e o pres-
suposto foram cruciais para compreender a intenção do narrador e, consequentemente, do autor. Esses e
outros fenômenos linguísticos serão objetos de conhecimento explorados neste módulo.

Para relembrar

Semântica: para além das palavras e dos sentidos


Diariamente, quando buscamos compreender o significado de palavras e frases em manchetes, tweets,
charges, músicas, gírias, entre outras formas de comunicação, estamos desenvolvendo estudos semânticos.
Essa área da Linguística subdivide-se em: textual, formal, lexical, discursiva, cognitiva e argumentativa.

Sem‰ntica: estudo dos significados das expressões das línguas naturais.

146
Fenômenos linguísticos
Pressuposição
Processo que permite deduzir fatos não explicitados por meio de outros fatos explícitos no texto.
A tirinha, a seguir, tem seu humor construído com base em pressupostos e jogos de palavras. Observe:

Adão Iturrusgarai/Acervo do cartunista


No primeiro quadrinho, o verbo de ligação “estar” (no pretérito imperfeito do indicativo) e o adjetivo
“insatisfeito” fornecem ao leitor a informação de que, naquele momento, o personagem está satisfeito com
sua aparência pessoal. A informação do segundo quadrinho esclarece os procedimentos feitos para alcan-
çar tal satisfação.
No entanto, no terceiro quadrinho, ao trazer o advérbio de tempo “Agora”, o verbo que indica estado no
presente e, novamente, o adjetivo “insatisfeito”, permitem que o leitor pressuponha que, antes, mesmo in-
satisfeito com a aparência pessoal, o aspecto físico do personagem fazia com que ele não fosse semelhante
aos demais. Vale destacar que, para compreender a crítica ao fato de as cirurgias plásticas deixarem os indi-
víduos com “aparência semelhante”, o leitor deve estar atento ao jogo de palavras “pessoal” e “impessoal”.
Assim, nota-se como a inferência e o estudo dos marcadores de pressuposição são indispensáveis para
a compreensão do texto.

Marcadores de pressuposição
Os marcadores de pressuposição são elementos linguísticos que permitem ao receptor compreender in-
formações secundárias, intencionais ou não. Funcionam como um tipo de “gatilho” no texto. Estes são os
principais marcadores:
• Verbos que indicam mudança ou permanência de estado: ficar, começar a, passar a, deixar de, con-
tinuar, permanecer, tornar-se, parar de, estar, etc.
Lívia parou de estudar.
Pressuposto: Lívia estudava.
• Verbos factivos, complementados pela enunciação de um fato: geralmente são verbos que indicam
estado psicológico, como: saber, esquecer, adivinhar, lamentar, lastimar, etc.

LÍNGUA PORTUGUESA
Lamentamos não vender no crédito.
Pressuposto: Não vendemos no crédito. (Vale destacar que o uso de “lamentamos” também indica
uma estratégia de atenuação com teor argumentativo.)
• Alguns conectores circunstanciais, principalmente em orações antepostas: depois que, desde que,
antes que, visto que, etc.
Depois que foi aprovada em Medicina, Clara sai pouco.
MÓDULO 3

Pressuposto: Clara foi aprovada em Medicina.


• Orações adjetivas: as restritivas delimitam ou restringem o significado de seu antecedente; por isso, é
possível depreender uma informação.

147
“Oscar 2022 anuncia filmes que não poderão ser votados pelo público em iniciativa inédita”.
Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/oscar/2022/noticia/2022/03/01/
oscar-2022-anuncia-filmes-que-poderao-ser-votados-pelo-publico.ghtml. Acesso em: 6 jul. 2022.

Pressuposto: há filmes anunciados que não poderão ser votados pelo público em iniciativa inédita.
• Operadores argumentativos: pelo contrário, até, até mesmo, inclusive, portanto, ainda, mas,
embora, etc.
Alice ainda mora em Londres.
Pressuposto: Alice morava em Londres antes.

Polifonia

Trata-se de um fenômeno linguístico que ocorre quando há a presença de outras vozes no


texto (implícitas ou explícitas), além da voz do emissor. Etimologicamente, poli- (do grego)
significa “muitos” e -fonia, de -phonos (também do grego), significa “voz”.

Observe a introdução de uma dissertação argumentativa que recebeu nota máxima no Enem 2020, cujo
tema foi “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.
[...] De acordo com o filósofo Platão, a associação entre saúde física e mental seria imprescindível para a manu-
tenção da integridade humana. Nesse contexto, elucida-se a necessidade de maior atenção ao aspecto psicológico, o
qual, além de estar suscetível a doenças, também é alvo de estigmatização na sociedade brasileira. Tal discriminação
é configurada a partir da carência informacional concatenada à idealização da vida nas redes sociais, o que gera a fal-
ta de suporte aos necessitados. Isso mostra que esse revés deve ser solucionado urgentemente. [...]
ENEM: leia redações nota mil da edição 2020 da prova. Redação nota 1.000 de Raíssa Piccoli Fontoura, MS. G1, 28 maio 2021.
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/enem/2021/noticia/2021/05/28/enem-leia-redacoes-nota-mil-em-2020.ghtml. Acesso em: abr. 2022.

Nesse exemplo, a polifonia fica evidente no emprego da locução prepositiva de conformidade “De acor-
do com”, que revela a inserção da voz do filósofo Platão para fundamentar e contextualizar o discurso defen-
dido no texto.
Alguns elementos gramaticais podem funcionar como índices da presença de outra “voz” no texto.
Observe os principais a seguir.
• Pressuposição: atua como uma das vozes do texto que levam o ouvinte/o leitor a admitir a pressupo-
sição e não poder negá-la.
Ainda há brasileiros esperançosos em relação ao cenário político.
Alguém (que pode ser, inclusive, o senso comum) diz que, antes, os brasileiros também estavam espe-
rançosos em relação ao cenário político.
• Uso metafórico do futuro do pretérito: ocorre quando esse tempo verbal é empregado para introdu-
zir a voz da qual se argumenta, com a intenção de isentar quem faz o comentário e responsabilizar essa
“outra voz”. É uma técnica muito comum em textos jornalísticos.
Moradores teriam denunciado casos de maus-tratos aos animais no bairro.
A informação veiculada não é atribuída ao enunciador, mas a uma fonte não informada.
• Operadores argumentativos
de conclusão: introduzem uma ideia que, em geral, representa a voz do senso comum (sabedoria po-
pular, provérbios, valores de uma cultura, etc.)
As portas estão abertas e as luzes estão acesas até essa hora da noite. Portanto, deve ter ocorrido algum problema.
A “voz geral” entende que, se as portas estão abertas e as luzes acesas até tarde, aconteceu algum
problema.

148
de contra-argumento: como “pelo contrário”/“ao contrário”, que não se opõem ao segmento que os
antecede, e sim à voz que poderia ter produzido tal enunciado.
Esse aluno não está sem o livro. Pelo contrário, já até leu todo o romance.
A voz – ponto de vista refutado – teria dito que o aluno está sem o livro.
• Emprego de aspas e de outros recursos gráficos, como negrito ou itálico: marca distanciamento ou
discordância em relação ao que está destacado.
Ela se autointitula “moderna”.
O termo entre aspas é a inserção da voz de outrem no discurso, da qual o enunciador da frase discorda.
• Intertextualidade: na produção de novo texto, não se omite a referência ao original.
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores.”
Trecho do Hino Nacional Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/hino.htm. Acesso em: 15 abr. 2022.

Nessa estrofe do Hino Nacional, estão presentes citações de trechos do poema “Canção do exílio”, de
Gonçalves Dias. Logo, o hino compreende a voz desse eu lírico também.
• Discurso indireto livre: nessa modalidade discursiva, a voz do narrador e a do personagem se
confundem.
Desperta então o viajante; esfrega os olhos; distende preguiçosamente os braços; boceja; bebe um pouco d’água;
fica uns instantes sentado, a olhar de um lado para outro, e corre afinal a buscar o animal, que de pronto encilha
e cavalga.
Uma vez montado, lá vai ele a passo ou a trote, bem disposto de corpo e de espírito, por aqueles caminhos além,
em demanda de qualquer pouso onde pernoite.
Quanta melancolia baixa à terra com o cair da tarde!
Parece que a solidão alarga os seus limites para se tornar acabrunhadora.
TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000297.pdf. Acesso em: 15 abr. 2022.

A polifonia ocorre a partir da mescla dessas duas vozes: narrador e personagem.


• Expressões como “parece que”, “segundo fulano”, “dizem que”: introduzem a voz de um enuncia-
dor externo.
Dizem que Rafaella está namorando.
O discurso proferido pelo enunciador revela a fala de uma outra “voz”.

Indicadores modais (modalizadores)

Mecanismos linguísticos capazes de determinar o modo


como algo é dito, revelando intenções comunicativas.

Observe, a seguir, os diferentes significados do verbo “poder”: LÍNGUA PORTUGUESA

A professora disse que os alunos podem sair da sala, após as atividades.


O verbo “poder” indica permissão.
A previsão do tempo indica que pode chover amanhã durante a tarde.
MÓDULO 3

O verbo “poder” indica possibilidade.


Após a dinâmica, os avaliadores constataram que ela pode fazer várias coisas ao mesmo tempo.
O verbo “poder” indica habilidade.

149
Gotas de saber

A importância do contexto
O verbo auxiliar “poder” é considerado um polissêmico modal. Veja:
Rosiane pode comprar livros.

Leituras possíveis:
• Rosiane tem o poder/a capacidade de comprar livros.
• Rosiane tem a permissão para comprar livros.
• Rosiane tem a possibilidade de comprar livros.

Logo, é necessário buscar elementos que confirmem a leitura adequada no contexto em que esse verbo
auxiliar é empregado.

De modo geral, o indicador modal é um mecanismo gramatical ou lexical por meio do qual o enunciador
revela intenções, posicionamentos, sentimentos e atitudes em relação ao que é dito.

ATENÇÃO!
Vale destacar que nenhum discurso é livre de modalização, já que, por trás de toda fala – seja ela oral ou escrita –,
há uma intencionalidade que pode ser manifestada inclusive pela entonação da voz e/ou pela expressão corporal.

Alguns dos modalizadores mais comuns nos discursos são:


• Verbos auxiliares que podem denotar capacidade, possibilidade, obrigatoriedade, como: poder,
dever, ter de/que, etc.
• Adjetivos e advérbios reveladores de posicionamento, como: bom, ruim, importante, dispensável,
felizmente, infelizmente, talvez, obrigatoriamente, sinceramente, etc.
• Expressões cristalizadas, como: é provável, é possível, é obrigatório, é proibido, etc.
• Substantivos empregados no grau aumentativo ou diminutivo, adjetivos e advérbios usados no
grau comparativo ou superlativo, como: menininho (afeto/ironia), a mais importante, lentíssimo,
muito tarde, etc.

Gotas de saber

O diminutivo na língua portuguesa


Segundo a gramática normativa, os sufixos indicadores de diminutivo ligam-se aos substantivos com a
intenção de conferir a eles tamanho grande ou pequeno. No entanto, esses sufixos são diariamente em-
pregados com semânticas variadas em diferentes classes de palavras, como adjetivos, advérbios e, inclusi-
ve, verbos.
O texto de Gregorio Duvivier, publicado na Folha de S.Paulo em 2021, explora de modo criativo essa ten-
dência na fala dos brasileiros:

150
Arquivo do jornal Folha de São Paulo/Folhapress

Para ler o texto na íntegra, acesse:


https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorio
duvivier/2021/12/delicinhas-da-lingua-veja-um-
breve-compendio-do-diminutivo-no-portugues.
shtml (acesso em: 15 abr. 2022).

Ambiguidade

Ocorre quando determinado segmento linguístico pode ter mais de uma interpretação.

Observe, ao lado, a charge do ilustrador Abner Dangelo, que brinca com a


possibilidade de diferentes leituras para uma manchete.
Obviamente, a ilustração tem a intenção de provocar humor por meio da

Abner Dangelo/Acervo do artista


ambiguidade, tendo em vista que o contexto da manchete indica que a leitu-
ra adequada é a de que o filme Doutor Estranho teve seu primeiro trailer de di-
vulgação lançado, e não a de que o Doutor Estranho tenha sido presenteado
com um trailer (veículo). Logo, compreende-se que, na maior parte dos casos,
o contexto – tanto linguístico quanto situacional – é capaz de indicar a leitura
mais apropriada.
Ainda que, de modo geral, a ambiguidade esteja atrelada à questão se-
mântica, diversos são os fatores capazes de produzi-la. A seguir, observe os
tipos de ambiguidade.
• Sint‡tica (ou estrutural): ocorre quando há mais de uma possibilidade
de combinação dos elementos sintáticos em uma frase.
Reprodução/Veja/@VEJA

LÍNGUA PORTUGUESA

Em uma primeira leitura, o adjunto adverbial “em livraria de São Paulo” parece indicar a circunstância
de lugar que modifica o verbo “morar”, dando a entender que há pessoas que moram sozinhas em li-
vrarias de São Paulo. No entanto, o contexto faz com que o leitor compreenda que o adjunto adverbial
MÓDULO 3

de lugar indica, na verdade, o local do lançamento do livro. Para que tal ambiguidade seja desfeita, bas-
ta deslocar o termo em questão:
Em livraria de São Paulo, Rita Lobo lança livro com receitas fáceis para quem mora sozinho.

151
A manchete ambígua abriu portas para usuários do Twitter brincarem com a situação:

Reprodu•‹o/twitter.com
• Sonora: surge quando, por semelhança sonora e/ou gráfica, uma palavra ou expressão remete a outra.
— Mulher: Pegue meu carro, por favor?
— Manobrista: Celta cinza, né?
— Mulher: Não, até que o céu está azul!
No diálogo anterior, os termos “Celta” e “cinza” podem remeter sonoramente a duas ideias: um mo-
delo de carro cuja cor é cinza e à expressão “Céu ‘t‡’ cinza”. A partir dessa ambiguidade sonora,
constrói-se o humor do diálogo.

Gotas de saber

Cacofonia: v’cio de linguagem?


A cacofonia é um fenômeno fonoestilístico que ocorre quando sílabas de uma palavra se unem às silabas
de outra no momento da pronúncia, gerando um som desagradável, uma expressão de baixo calão ou a incom-
preensão da mensagem pretendida. Observe.
Ele prometeu amá-la para sempre. (= a mala)
Meu coração por ti gela. (= tigela)
Uma mão lava outra. (= mamão)
Apesar de a cacofonia ser considerada por muitos como vício de linguagem, sua utilização consciente tem
se tornado comum em diversos textos, como propagandas ou HQs. Nesse contexto intencional, trata-se de um
recurso estilístico que gera humor, muitas vezes pela ambiguidade.

• Morfol—gica (ou gramatical): verifica-se quando uma palavra pode assumir mais de uma classe grama-
tical no contexto.

Neste poema de Drummond, esse mecanismo linguístico foi empregado no último verso:

Orion
A primeira namorada, tão alta Nem mesmo a voz a alcançava.
Que o beijo não a alcançava, Eram quilômetros de silêncio.
O pescoço não a alcançava, Luzia na janela do sobrado.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Orion. In: ANDRADE, Carlos Drummond de.
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

O termo “Luzia” pode ser um substantivo próprio (que nomeia o ser de quem se fala) ou o verbo
“luzir” conjugado no pretérito perfeito do indicativo (para denotar brilho/luz).

152
pH resolve

Relatos de viagem: nas curvas da Nacional 222, em Portugal

Em abril deste ano, fomos a Portugal para uma viagem de um mês que esperávamos há um ano. Pois no
dia 4 de maio, chegávamos ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Que linda a “antiga, muy nobre,
sempre leal e invicta” cidade do Porto! “Encantei-me”, diriam eles... pelas belas paisagens, construções histó-
ricas com lindas fachadas, parques e praças muito bem cuidados.
Os tripeiros, sinônimo de portuenses, têm orgulho de sua cidade, apelidada de Invicta – nunca foi invadi-
da. E valorizam tudo o que há de bom ali, como “a melhor estrada para se dirigir do mundo”, a Nacional 222.
Pois na manhã do 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos, resolvemos conhecer a tal maravilha.
A cada 10km tínhamos que encostar: corríamos, dançávamos, tomávamos chocolate quente, sopa, tudo
que fosse quentinho. E lá íamos para mais uma etapa. Uma aventura deliciosa. Depois de três horas – mais
ou menos o dobro do tempo necessário, não fossem as paradas para aquecimento –, chegamos a casa!
Congelados, mas maravilhados e invictos!
Disponível em: https://oglobo.globo.com. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado)

Nesse texto, busca-se seduzir o leitor por meio da exploração de uma voz externa sobre a identidade
histórica do povo português. O trecho que evidencia esse procedimento argumentativo é
a) “Que linda a ‘antiga, muy nobre, sempre leal e invicta’ cidade do Porto!”.
b) “‘Encantei-me’, diriam eles... pelas belas paisagens, construções históricas com lindas fachadas [...]”.
c) “Os tripeiros, sinônimo de portuenses, têm orgulho de sua cidade [...]”.
d) “E valorizam tudo o que há de bom ali, como ‘a melhor estrada para se dirigir do mundo’ [...]”.
e) “Pois na manhã do 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos, resolvemos conhecer a tal maravilha”.

Resolução
Essa questão trabalha, de forma indireta, a polifonia como recurso argumentativo, a fim de aproximar o
leitor do enunciador. Perceba que o autor do relato utiliza a primeira pessoa do plural (nós) para construir
sua perspectiva e, para inserir uma nova voz, emprega as aspas. Dessa forma, por não ter citação, cabe a
eliminação das alternativas c e e.
No entanto, cabe destacar que “[...] diriam eles [...] pelas belas paisagens, construções históricas com lindas
fachadas” em b, e “E valorizam tudo o que há de bom ali, como [...]” em d são falas do enunciador. Logo,
a única alternativa que traz apenas palavras ditas por essa outra voz é a.

Para concluir

LÍNGUA PORTUGUESA
Neste módulo, estudamos alguns fenômenos linguísticos e seus efeitos de sentido para elaboração,
análise e interpretação de um texto. São eles:
• marcadores de pressuposição: revelando conteúdos implícitos no texto;
• polifonia: indicando a presença de múltiplas vozes no texto;
MÓDULO 3

• indicadores modais: palavras ou expressões que conferem nuances de sentido ao enunciado;


• ambiguidade: confere duplo sentido ao enunciado, podendo ser de ordem sintática, sonora ou
morfológica.

153
Situação-problema
Leia a charge a seguir.

Amarildo/Acervo do cartunista

Na charge, Amarildo promove uma crítica a partir das linguagens verbal e não verbal.
a) Cite o fenômeno linguístico de que se valeu o chargista para atingir esse propósito, evidenciando
o(s) termo(s) responsável(is).
Amarildo valeu-se da ambiguidade da palavra “executo” (homonímia).

b) Explique a crítica da charge, citando elementos verbais e não verbais.


Na charge, observam-se, no texto não verbal, as representações dos três poderes no Brasil: Legislativo, Judiciário e
Executivo. Na mão de cada representante, há um objeto que caracteriza sua função: a caneta, que simboliza a elaboração
das leis; a balança, que faz referência à justiça; os papéis, que caracterizam a administração das leis. Entretanto, há uma
quebra de expectativa na inserção de um quarto poder, o paralelo, representado por um homem encapuzado, que segura
uma arma de fogo. Esse indivíduo profere a frase “Eu executo”, que, sem objeto direto explícito, apresenta o sentido de
executar as leis ou as pessoas. Desse modo, Amarildo constrói uma crítica de ordem política, apontando para a ilegalidade
como um poder do Brasil. Desse modo, entende-se que o papel do Estado está sendo executado, muitas vezes, por grupos
marginais, como milícias.

Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

1. [...] O “dia da véspera do Carnaval”, como dizia a avô Nhé,


A vida às vezes é como um jogo brincado na rua: es- era dia de confusão com roupas e pinturas a serem prepa-
tamos no último minuto de uma brincadeira bem quente radas, sonhadas e inventadas. Mas quando acontecia era
e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um um dia rápido, porque os dias mágicos passam depressa
mais velho a avisar que a brincadeira já acabou e está na deixando marcas fundas na nossa memória, que alguns
hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente – chamam também de coração.
nunca ninguém nos avisou que aquele era mesmo o último ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.
Carnaval da Vitória. O Carnaval também chegava sempre
de repente. Nós, as crianças, vivíamos num tempo fora do As significações afetivas engendradas no fragmento
tempo, sem nunca sabermos dos calendários de verdade. pressupõem o reconhecimento da

154
a) perspectiva infantil assumida pela voz narrativa. Ele é Saul (Géza Rohrig), um dos encarregados de con-
b) suspensão da linearidade temporal da narração. duzir as execuções de judeus como ele que, por um dia e
meio, luta obsessivamente para que um menino já morto
c) tentativa de materializar lembranças da infância.
— que pode ou não ser seu filho — tenha um enterro dig-
d) incidência da memória sobre as imagens narradas.
no e não seja simplesmente incinerado.
e) alternância entre impressões subjetivas e relatos O acompanhamento da jornada desse prisioneiro é no
factuais. sentido mais literal que o cinema pode proporcionar: a câ-
mera está o tempo todo com o personagem, seja por sobre
2. seus ombros, seja como um close em primeiro plano ou em
Pra onde vai essa estrada? sua visão subjetiva. O que se passa ao seu redor é secundá-
rio, muitas vezes desfocado.
– Sô Augusto, pra onde vai essa estrada?
Saul percorre diferentes divisões de Auschwitz à pro-
O senhor Augusto: cura de um rabino que possa conduzir o enterro da criança,
– Eu moro aqui há 30 anos, ela nunca foi pra parte e por isso pouco se envolve nos planos de fuga que os com-
nenhuma, não. panheiros tramam e, quando o faz, geralmente atrapalha.
– Sô Augusto, eu estou dizendo se a gente for andando “Você abandonou os vivos para cuidar de um morto”, acusa
aonde a gente vai? um deles.
O senhor Augusto: Ver toda essa via crucis é por vezes duro e exige certa
– Vai sair até nas Oropas, se o mar der vau. entrega do espectador, mas certamente é daquelas expe-
riências cinematográficas que permanecem na cabeça por
*Vau: Lugar do rio ou outra porção de água onde esta é pou-
muito tempo.
co funda e, por isso, pode ser transposta a pé ou a cavalo.
MAGALHÃES, L. L. A.; MACHADO, R. H. A. (Org.)
O longa já está sendo apontado como o grande favorito
Perdizes, suas histórias, sua gente, seu folclore. Perdizes: Prefeitura Municipal, 2005. do Oscar de filme estrangeiro. Se levar a estatueta, certa-
mente não faltará quem diga que a Academia tem uma pre-
As anedotas são narrativas, reais ou inventadas, estrutura- ferência por quem aborda a 2a Guerra. Por mais que exista
das com a finalidade de provocar o riso. O recurso expres- uma dose de verdade na afirmação, premiar uma aborda-
sivo que configura esse texto como uma anedota é o(a) gem tão ousada e radical como Son of Saul não deixaria de
a) uso repetitivo da negação. ser um passo à frente dos votantes.
b) grafia do termo “Oropas”. Carta Capital, n. 873, 22 out. 2015.

c) ambiguidade do verbo “ir”.


A resenha é, normalmente, um texto de base argumen-
d) ironia das duas perguntas. tativa. Na resenha do filme Son of Saul, o trecho da se-
e) emprego de palavras coloquiais. quência argumentativa que se constitui como opinião
implícita é
3. a) “[...] do estreante em longas-metragens László
Intenso e original, Son of Saul Nemes, vencedor do Grande Prêmio do Júri no últi-
retrata horror do holocausto mo festival de Cannes”.
b) “Ele é Saul (Géza Rohrig), um dos encarregados de
Centenas de filmes sobre o holocausto já foram pro-
conduzir as execuções de judeus [...]”.

LÍNGUA PORTUGUESA
duzidos em diversos países do mundo, mas nenhum é tão
intenso como o húngaro Son of Saul, do estreante em lon- c) [...] a câmera está o tempo todo com o personagem,
gas-metragens László Nemes, vencedor do Grande Prêmio seja por sobre seus ombros, seja por um close [...]”.
do Júri no último Festival de Cannes. d) “Saul percorre diferentes divisões de Auschwitz à pro-
Ao contrário da grande maioria das produções do gê- cura de um rabino que possa conduzir o enterro da
nero, que costuma oferecer uma variedade de informações criança [...]”.
didáticas e não raro cruza diferentes pontos de vista sobre e) “[...] premiar uma abordagem tão ousada e radical
MÓDULO 3

o horror do campo de concentração, o filme acompanha como Son of Saul não deixaria de ser um passo à fren-
apenas um personagem. te dos votantes”.

155
4. Leia o poema “O sobrevivente”, extraído do livro b) Identifique o pressuposto contido no trecho “E se os
Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, pu- olhos reaprendessem a chorar” (4a estrofe), relacio-
blicado em 1930. nando-o com o tema geral do poema.
O sobrevivente A partir da leitura do trecho, pressupõe-se que os indivíduos já
aprenderam a chorar uma vez e já se esqueceram de como fazê-lo.
Impossível compor um poema a essa altura da Na última estrofe, ao sugerir que os indivíduos não choram, o eu
[evolução da humanidade. lírico condena uma época em que o ser humano parece não ter
Impossível escrever um poema — uma linha que seja sentimentos, já que perdeu sua condição humana. Voltar a chorar
[— de verdadeira poesia. seria a recuperação da humanidade perdida.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as


[necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio. Texto para a questão 5.
Não precisa estômago para digestão.
PARA SEMPRE JOVEM
Um sábio declarou a O Jornal que ainda
Recentemente, vi na televisão a propaganda de um jipe
falta muito para atingirmos um nível razoável
que saltava obstáculos como se fosse um cavalo de corrida.
de cultura. Mas até lá, felizmente, Já tinha visto esse comercial, mas comecei a prestar aten-
estarei morto. ção na letra da música, soando forte e repetindo a estrofe
de uma canção muito conhecida, “forever Young... I wanna
Os homens não melhoraram
live forever and Young...” (para sempre jovem... quero viver
e matam-se como percevejos.
para sempre e jovem). 1Será que, realmente, 2queremos vi-
Os percevejos heroicos renascem.
ver muito e, de preferência, para sempre jovens? (...)
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
O crescimento da população idosa nos países desen-
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um volvidos é uma bomba-relógio que já começa a implodir
[segundo dilúvio. os sistemas previdenciários, despreparados para amparar
(Desconfio que escrevi um poema.) populações com uma média de vida em torno de 140 anos.
(DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Poesia 1930-1962, 2012.)
A velhice se tornou uma epidemia incontrolável nos países
a) Explicite a antítese contida em “Há máquinas terrivel- desenvolvidos. Sustentar a população idosa sobrecarrega
mente complicadas para as necessidades mais sim- os jovens, cada vez em menor número, pois, nesses países,
ples.” (2a estrofe). há também um declínio da natalidade. Será isso social-
No trecho, a aproximação de palavras com sentidos opostos – mente justo?
“complicadas” e “simples” – configura uma antítese tendo em Uma pessoa muito longeva consome uma quantidade
vista que, na perspectiva do eu lírico, não existe coerência em criar total de alimentos muito maior do que as outras, o que
máquinas complexas para processos que são simples, como contribui para esgotar mais rapidamente os recursos finitos
acender um charuto. do planeta 3e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais.
Para que uns poucos possam viver muito, outros 4terão de
passar fome. Será que, em um futuro breve, teremos uma
guerra de extermínio aos idosos, como na ficção do escritor
argentino Bioy Casares, O diário da guerra do porco? Seria
uma guerra justa? /.../
TEIXEIRA, João. Para sempre jovens.
In: Revista Filosofia: ciência & vida. Ano VII, n. 92, mar. 2014, p. 54.

156
5. (Epcar-MG) Elementos de modalização são responsá- Da falsa vida da avenida onde
veis por expressar intenções e pontos de vista do enun- Ela desatinou
ciador. Por intermédio deles, o enunciador inscreve no Viu chegar quarta-feira
texto seus julgamentos e opiniões sobre o conteúdo, Acabar brincadeira
fornecendo ao interlocutor “pistas” de reconhecimento Bandeiras se desmanchando
do efeito de sentido que pretende produzir.
E ela inda está sambando
Observe os elementos de modalização destacados nos
excertos e as respectivas análises. Ela desatinou
I. “... e agravar ainda mais os desequilíbrios sociais.” Viu morrer alegrias
(ref. 3) – O advérbio destacado ratifica a ideia de Rasgar fantasias
que a situação que já é caótica vai piorar. Os dias sem sol raiando
II. “... terão de passar fome.” (ref. 4) – O verbo auxiliar E ela inda está sambando
utilizado ressalta a total falta de saída para os jovens. Quem não inveja a infeliz
III. “Será que, realmente, queremos viver muito...” (ref. Feliz no seu mundo de cetim
1) – O advérbio utilizado reforça o questionamen- Assim debochando
to sobre o desejo de viver muito, presente no sen- Da dor, do pecado
so comum. Do tempo perdido
IV. “... queremos viver muito e, de preferência, para Do jogo acabado
sempre jovens?” (ref. 2) – A locução adverbial suge- Chico Buarque de Hollanda, 1968.
re que a vida longa será também de qualidade.
a) Explique quais são os universos em oposição apre-
Apresentam afirmações corretas as alternativas sentados na letra da canção e exemplifique com dois
a) I e II apenas. versos.
Os universos em oposição na canção são a vida real e a vida
b) III e IV apenas.
fantasiosa. Esta alude aos dias de folia, ao carnaval, quando os
c) I, II e III apenas.
dias são alegres e festivos, por fazer as pessoas se esquecerem da
d) I, II, III e IV. dor cotidiana, como se pode ver em “Toda a cidade anda
esquecida/ Da falsa vida da avenida” . Já a vida real é apresentada a
6. (Fuvest-SP)
partir de alusões ao dia a dia, marcado pela falta de alegria,
Ela desatinou como em “Viu chegar quarta-feira”, “acabar brincadeira”.

Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
b) Considerando a ambiguidade presente no verso “Os
Bandeiras se desmanchando
dias sem sol raiando”, transforme a oração reduzida
E ela inda está sambando de gerúndio em duas possíveis orações desenvolvi-
das, contemplando os diferentes sentidos do verso.

LÍNGUA PORTUGUESA
Ela desatinou A oração reduzida de gerúndio poderia ser transformada em duas
Viu morrer alegrias orações subordinadas adjetivas: “os dias que raiam sem sol” ou
Rasgar fantasias “os dias sem o sol que raia”. No primeiro caso, o verbo adquire
Os dias sem sol raiando significado de nascer, no segundo, de brilhar.
E ela inda está sambando
MÓDULO 3

Ela não vê que toda gente


Já está sofrendo normalmente
Toda a cidade anda esquecida

157
Texto para a questão 7. c) “indesejável maçante”.
d) “necessidades íntimas”.
Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que inte-
e) “indivíduo pedante”.
gra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa.
Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada Texto para a questão 8.
origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as
pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom portu- O mundo como pode ser: uma outra globaliza•‹o
guês. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: Podemos pensar na construção de um outro mundo a
antipodático, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: partir de uma globalização mais humana. As bases materiais
indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a
para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de convergência dos momentos e o conhecimento do planeta.
palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para
hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se construir uma globalização perversa. Mas essas mesmas ba-
negar nominalmente a própria existência. ses técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas
Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotréli- a serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece
cos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, que as condições históricas do fim do século XX apontavam
quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada para esta última possibilidade. Tais novas condições tanto se
canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos dão no plano empírico quanto no plano teórico.
estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo
Considerando o que atualmente se verifica no plano em-
a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a
pírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo nú-
língua tida e herdada? Assenta-nos bem à modéstia achar
mero de fatos novos indicativos da emergência de uma nova
que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudên-
história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura
cia relegar o progresso no passado. [...]
de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A
Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de
isso se acrescente, graças ao progresso da informação, a “mis-
“hipotrélico”, motivo e base desta fábula diversa, e que vem
tura” de filosofia, em detrimento do racionalismo europeu.
do bom português. O bom português, homem-de-bem e
Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de
muitíssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neo-
mudanças, é a produção de uma população aglomerada em
logizava, segundo suas necessidades íntimas.
áreas cada vez menores, o que permite um ainda maior dina-
Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, ter- mismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas,
ceiro, ausente: de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século
– E ele é muito hiputrélico... (A rebelião das massas, 1937), ganham uma nova qualidade
Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emi- em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversi-
tiu o veto: ficação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiver-
– Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. sidade, historicamente muito mais significativa que a própria
Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma
– Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclu-
– É. Mas não existe. sivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta
Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas última uma verdadeira revanche ou vingança.
no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da es-
peremptório: cassez, afinal descoberta pelas massas. A população, aglo-
– O senhor também é hiputrélico... merada em poucos pontos da superfície da Terra, constitui
E ficou havendo. uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das rela-
(Tutameia, 1979.) ções locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao servi-
ço dos homens, do sistema técnico atual.
7. (Unesp-SP) O efeito cômico do texto deriva, sobretudo, No plano teórico, o que verificamos é a possibilidade
da ambiguidade da expressão de produção de um novo discurso, de uma nova metanarra-
a) “homem-de-bem”. tiva, um grande relato. Esse novo discurso ganha relevância
b) “bom português”. pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem,

158
se pode constatar a existência de uma universalidade empí- d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
rica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência
ordinária de cada pessoa. De tal modo, em mundo datado Texto para a questão 10.
O melro veio com efeito às três horas. Luísa estava na
como o nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a
sala, ao piano.
partir de categorias de uma história concreta. É isso, tam-
bém, que permite conhecer as possibilidades existentes e – Está ali o sujeito do costume – foi dizer Juliana.
escrever uma nova história. Luísa voltou-se corada, escandalizada da expressão:
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. – Ah! meu primo Basílio? Mande entrar.
São Paulo: Record, 2006. p. 20-21. (Adaptado.)
E chamando-a:
– Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, que entre.
8. (UEG-GO) No enunciado “É sobre tais alicerces que se Era o primo! O sujeito, as suas visitas perderam de
edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas repente para ela todo o interesse picante. A sua malícia
massas”, a parte “afinal descoberta pelas massas” esta- cheia, enfunada até aí, caiu, engelhou-se como uma vela a
belece o seguinte pressuposto: que falta o vento. Ora, adeus! Era o primo!
a) a escassez é um discurso baseado em teorias. Subiu à cozinha, devagar, – lograda.
b) as massas descobriram a existência da escassez. – Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal peralta é
c) a escassez já existia antes de as massas a descobrirem.
primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
d) as massas eram proibidas de conhecer o discurso da
– É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à última
escassez.
hora! O diabo tem graça!
e) o discurso da escassez existe desde o começo da glo-
– Então que havia de o homem ser se não parente? –
balização.
observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o ferro
9. (UEL-PR) Leia o poema a seguir.
pronto, que tinha uma carga de roupa para passar! E sen-
tou-se à janela, esperando. O céu baixo e pardo pesava,
Reprodu•‹o/UEL,2017.

carregado de eletricidade; às vezes uma aragem súbita e


fina punha nas folhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
– É o primo! – refletia ela. – E só vem então quando o
marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar quando ele sai; e é
roupa-branca e mais roupa-branca, e roupão novo, e tipoia
para o passeio, e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica
Em relação ao poema, considere as afirmativas a seguir. na família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lograda.
I. O termo “impressão” tem duplo sentido no texto.
Havia ali muito “para ver e para escutar”. E o ferro estava
II. Há uma supressão do termo “corpo”, no poema, pronto?
em decorrência da concisão.
Mas a campainha, embaixo, tocou.
III. O desenho da fonte escolhida para o verbo reforça

LÍNGUA PORTUGUESA
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
a ideia de dinamicidade.
IV. A forma da fonte empregada no final do poema 10. (Unifesp) Quando é avisada de que Basílio estava em sua
desfaz a carga erótica do início. casa, Luísa escandaliza-se com a forma de expressão de
sua criada Juliana. A reação de Luísa decorre
Assinale a alternativa correta.
a) da linguagem descuidada com que a criada se refere a
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
MÓDULO 3

seu primo Basílio, rapaz cortês e de família aristocrática.


b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) da intimidade que a criada revela ter com o Basílio, o
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. que deixa a patroa enciumada com o comentário.

159
c) do comentário malicioso que a criada faz à presença empresarial influindo na escolha da pauta negativa. Os
de Basílio, sugerindo à patroa que deveria envolver- principais telejornais exibidos na televisão brasileira, por
-se com o rapaz. exemplo, estão se transformando em incansáveis noticiários
d) da indiscrição da criada ao referir-se ao rapaz, o qual, diários de crises, crimes, catástrofes, acidentes e doenças de
apesar do vínculo familiar, não era visita frequente na todos os tipos. Carrega-se, sem dó nem piedade, nas notí-
casa da patroa. cias que geram sentimentos negativos. Mais do que isso: os
âncoras dos telejornais, além das notícias negativas, se en-
e) da ambiguidade que se pode entrever nas palavras
carregam de editorializar, fazer comentários, invariavelmen-
da criada, referindo-se com ironia às frequentes visitas
te críticos e pessimistas, reforçando, para além da notícia,
de Basílio à patroa.
exatamente seus aspectos e consequências funestos.
Texto para a questão 11. Existe, sim, o risco do esgotamento. Cansado de tanta
notícia ruim e sentindo-se impotente para influir no curso
Outras razões para a pauta negativa dos eventos, pode ser que o leitor/telespectador afinal de-
sista de se expor a esse tipo de jornalismo que o empurra
Venício A. Lima
cotidianamente rumo a um inexorável “vale de lágrimas”
O sempre interessante Boletim UFMG, que traz, a
mediavalesco.
cada semana, notícias do dia a dia da Universidade Federal
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/
de Minas Gerais, informa, na edição de 4 de maio, o traba- jornal-de-ebates/outras-razoes-para-a-pauta-negativa/. Acesso em: 19 maio 2015.

lho desenvolvido por grupo de pesquisa do Departamento


de Ciência da Computação (DCC) em torno da “análise de 11. (UFPR) Ao criar o termo mediavalesco que finaliza o tex-
sentimento”, que relaciona o sucesso das notícias com sua to, o autor associa a media/mídia ao termo medievales-
polaridade, negativa ou positiva. co, ou seja, relativo à Idade Média. Sua intenção, com
Utilizando programas de computador desenvolvidos isso, é ressaltar um aspecto dos meios de comunicação
pelo DCC-UFMG, foram identificadas, coletadas e anali- que poderia ser resumido pelo termo:
sadas 69.907 manchetes veiculadas em quatro sites noti- a) avançado.
ciosos internacionais ao longo de oito meses de 2014: The
b) sombrio.
New York Times, BBC, Reuters e Daily Mail. E as notícias
c) truculento.
foram agrupadas em cinco grandes categorias: negócios e
dinheiro, saúde, ciência e tecnologia, esportes e mundo. d) inexorável.
As conclusões da pesquisa são preciosas. e) filosófico.
Cerca de 70% das notícias diárias estão relacionadas a
Texto para a questão 12.
fatos que geram “sentimentos negativos” – tais como catás-
trofes, acidentes, doenças, crimes e crises. Os textos das Os poemas
manchetes foram relacionados aos sentimentos que elas
despertam, numa escala de menos 5 (muito negativo) a Os poemas são pássaros que chegam
mais 5 (muito positivo). Descobriu-se que o sucesso de não se sabe de onde e pousam
uma notícia, vale dizer, o número de vezes em que é “clica- no livro que lês.
da” pelo eventual leitor está fortemente vinculado a esses Quando fechas o livro, eles alçam voo
“sentimentos” e que os dois extremos – negativo e positivo como de um alçapão.
– são os mais “clicados”. As manchetes negativas, todavia, Eles não têm pouso
são aquelas que atraem maior interesse dos leitores. nem porto
Embora realizado com base em manchetes publicadas alimentam-se um instante em cada par de mãos
em sites internacionais – não brasileiros –, os resultados do e partem.
trabalho dos pesquisadores do DCC-UFMG nos ajudam a
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
compreender a predominância do “jornalismo do vale de
no maravilhado espanto de saberes
lágrimas” na grande mídia brasileira.
que o alimento deles já estava em ti...
Para além da partidarização seletiva das notícias, parece
MÁRIO QUINTANA. Poesia completa.
haver também uma importante estratégia de sobrevivência Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.

160
12. (Uerj) alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar
Eles não têm pouso a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de
nem porto (v. 6-7) largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia
armas cruzadas nos cantos. Nos Correios, a mesma coi-
Os versos acima podem ser lidos como uma pressuposi- sa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados.
ção do autor sobre o texto literário. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As man-
chetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua.
Essa pressuposição está ligada ao fato de que a obra li-
Céu escuro, abafado, chuva próxima.
terária, como texto público, apresenta o seguinte traço:
Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não
a) é aberta a várias leituras.
havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de
b) provoca desejo de transformação. vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,
c) integra experiências de contestação. ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jan-
d) expressa sentimentos contraditórios. tou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os
móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se, embora
Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Andrade (1902-1987), para responder à questão 13. Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da ma-
Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um tele- nhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política
grama: “Não saia casa 3 outubro abraços”. e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à es-
O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o ve- pera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu
lho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e
de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guer-
levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mes- ra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bo-
mo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado nitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do
às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.”
broa, precipitara-se na agência para expedir a mensagem. “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia
Não havia tempo a perder. Marcara encontros para dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista,
o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu
como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pe- tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabun-
diu linha, mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia do, com palavras que todo mundo manja logo, como arma
tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ou- e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um
vir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil ho-
voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de mens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina
empregado da casa; insistira: “como é?”, e a ligação foi que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os
dificultosa, havia besouros na linha. Falou rapidamente cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu.
a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resis- “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui
tisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sí- no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este te-
labas de arma virumque cano1, disse que achava pouco legrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco.
cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou: “Dia Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah,
4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?”

LÍNGUA PORTUGUESA
sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa
de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso cus-
o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e ta cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi
pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu,
um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende
sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabu- conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos pre-
MÓDULO 3

lando a pequena distância. Foi saindo de mansinho, mas monitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me
os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o tele- aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e tele-
grama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na grafou prevenindo. Juro!”

161
Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O so- b) “E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem to-
nho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa. mara o mingau com broa, precipitara-se na agência
(70 historinhas, 2016.) para expedir a mensagem.” (2o parágrafo)
1
arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras c) “Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e
iniciais da epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes sapato bicolor, confabulando a pequena distância.”
ao herói Eneias).
(3o parágrafo)
d) “Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em
13. (Unifesp) O chamado discurso indireto livre constitui
uma construção em que a voz do personagem se mes- quando o telefone chamava: ‘Desculpe, é engano’,
cla à voz do narrador. Verifica-se a ocorrência de discur- ou ficava mudo, sem desligar.” (4o parágrafo)
so indireto livre em: e) “‘O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegra-
a) “Havia tempo que morava naquele hotel e jamais ma? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambu-
deixara de ouvir o ‘pois não’ melodioso de d. Anita, co. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao
durante o dia.” (3o parágrafo) golpe?’” (5o parágrafo)

Aprofundando o conhecimento
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.
Texto para a questão 1.
Reprodução/Uerj, 2017.

QUINO
updateordie.com

1. (Uerj) No primeiro quadrinho, a declaração feita pela o museu, dedicado à valorização e difusão da língua por-
personagem indica um pressuposto acerca do universo tuguesa, reconhecidamente importante para a preservação
escolar. de nossa identidade cultural, apresenta uma forma exposi-
tiva diferenciada das demais instituições museológicas do
Esse pressuposto pode ser associado, na escola, à se-
país e do mundo, usando tecnologia de ponta e recursos
guinte prática:
interativos para a apresentação de seus conteúdos.
a) negação do patriotismo Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br.
Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado).
b) intolerância à diversidade
c) desestímulo às indagações
2. De acordo com o texto, embora a língua portu-
d) reprovação de brincadeiras
guesa seja um “patrimônio imaterial”, pode ser exposta
Texto para a questão 2. em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está
O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso pautada no pressuposto de que
idioma, um “patrimônio imaterial” que não pode ser, por a) língua é um importante instrumento de constituição
isso, guardado e exposto em uma redoma de vidro. Assim, social de seus usuários.

162
b) o modo de falar o português padrão deve ser divulga- 3. (Uece) Quando alguém fala ou escreve, deixa, como
do ao grande público. enunciador, marcas de sua presença no enunciado.
c) a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização Algumas dessas marcas são os indicadores de modalida-
da língua portuguesa. de, ou de atitude do falante: são os índices de avaliação,
d) o contato do público com a norma-padrão solicita o os de distanciamento ou adesão do locutor ao seu dis-
uso de tecnologia de última geração. curso. Falamos da modalização e dos modalizadores. No
seguinte enunciado, há uma marca de que o enunciador
e) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria lín-
não adere totalmente ao que diz:
gua melhoram com o uso de recursos tecnológicos.
“Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro
Texto para a questão 3.
quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio
GRITO
do que parece ter sido um ataque de pânico.” (penúlti-
Quadro que fundou o expressionismo mo parágrafo)
nasceu de um ataque de p‰nico.
Essa marca é expressa pelo vocábulo:
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que
a) obsessões. c) ataque.
O piquenique no bosque, de Édouard Manet, era exposto no
b) parece. d) pânico.
Salão dos Rejeitados, chamando a atenção para um movi-
mento que nem nome tinha ainda. 1Era o impressionismo,
Texto para a questão 4.
superando séculos de pintura acadêmica. Os impressionis-
tas deixaram o realismo para a fotografia e se focaram no Leia o trecho do drama Mac‡rio, de Álvares de Azevedo.
que ela não podia mostrar: as sensações, a parte subjetiva MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó
do que se vê. de casa!
Crescendo durante essa revolução, Munch – que, aliás, UMA VOZ (de fora): Senhor!
também seria fotógrafo – achava a linguagem dos impressio- MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma
nistas superficial e científica, discreta demais para expressar aqui...
o que sentia. E ele sentia: Munch tinha uma história fami- A VOZ: O burro?
liar trágica: perdeu a mãe e uma irmã na infância, teve outra MACÁRIO: A mala, burro!
irmã que passou a vida em asilos psiquiátricos. Tornou-se ar-
A VOZ: A mala com o burro?
tista sob forte oposição do pai, que morreria quando Munch
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o
tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O artista sempre viveu
burro na cerca.
na boemia, entre bebedeiras, brigas e romances passageiros,
tornando-se amigo do filósofo niilista Hans Jæger, que acre- A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro?
ditava que o suicídio era a forma máxima da libertação. MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro.
Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro A VOZ: Um moço que parece estudante?
quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio do MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala.
que parece ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que
em seu diário, pouco mais de um ano antes do quadro: vá a pé?
“Estava andando por um caminho com dois amigos – o MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta
sol estava se pondo – quando, de repente, o sol tornou-se numa vassoura como tua mãe!

LÍNGUA PORTUGUESA
vermelho como o sangue. Eu parei, sentindo-me exausto,
A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer.
e me encostei na cerca – havia sangue e línguas de fogo
Quando madrugar iremos procurar.
sobre o fiorde negro e a cidade. Meus amigos continuaram
OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô
andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e senti
Quito. Eu conheço o burro...
um grito infinito atravessando a natureza”.
MACÁRIO: E minha mala?
Ali nasceria um novo movimento artístico. O Grito se-
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...
MÓDULO 3

ria a pedra fundadora do expressionismo, a principal van-


guarda alemã dos anos 1910 aos 1930. MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma
(Aventuras na História) cadeira no chão)

163
1
O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro? azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu... se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante
O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras da corrosão destes quando expostos ao ar úmido).
que o chamareis...
4. (Unesp-SP)
MACÁRIO: Porém a raiva...
“MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma
O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me mui-
aqui...
to cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma gar-
A VOZ: O burro?
rafa de vinho?
MACÁRIO: A mala, burro!
MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis,
A VOZ: A mala com o burro?
uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...
MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o
O DESCONHECIDO: Fumais?
burro na cerca.”
MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tin-
ta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mu- Para produzir o efeito cômico desse diálogo, o autor lan-
lher – não me pergunteis se fumo! ça mão do recurso expressivo denominado

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí a) antítese: a oposição, numa mesma expressão ou fra-
um cachimbo primoroso. se, de duas palavras ou de dois pensamentos de sen-
tidos contrários.
[...]
b) eufemismo: o emprego de palavra ou expressão no
MACÁRIO: E vós?
lugar de outra palavra ou expressão considerada de-
O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo.
sagradável.
(tira outro cachimbo e fuma)
c) hipérbole: a ênfase resultante do exagero na expres-
MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem.
são ou na comunicação de uma ideia.
Vosso nome?
d) ambiguidade: a presença, num texto, de unidades lin-
O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?
guísticas que podem significar coisas diferentes.
MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte
e) personificação: a atribuição de características huma-
primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso,
nas a seres inanimados ou irracionais.
talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só:
amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e
5.
odeio o romantismo.
Um amor desse
O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. Era 24 horas lado a lado
(apertam a mão)
Um radar na pele, aquele sentimento alucinado
MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que Coração batia acelerado
de um poema, mais de um beijo que do soneto mais har-
monioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sono- Bastava um olhar para eu entender
lento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Que era hora de me entregar pra você
Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o Palavras não faziam falta mais
mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono. Ah, só de lembrar do seu perfume
O DESCONHECIDO: E a poesia? Que arrepio, que calafrio
MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que cor- Que o meu corpo sente
ria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em Nem que eu queira, eu te apago da mente
moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna
Ah, esse amor
que não tenha esse vintém azinhavrado1. Entendeis-me?
Deixou marcas no meu corpo
O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular
Ah, esse amor
tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o
Só de pensar, eu grito, eu quase morro
povo; hoje o povo fá-la... para ninguém... AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R.
(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.) Coração pede socorro. Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento).

164
Essa letra de canção foi composta especialmente para (...)
uma campanha de combate à violência contra as mulhe- Ao meio-dia veio o Libaninho, o beato mais activo de
res, buscando conscientizá-las acerca do limite entre re- Leiria; e subindo a correr os degraus, já gritava com a sua
lacionamento amoroso e relacionamento abusivo. Para voz fina:
tanto, a estratégia empregada na letra é a − Ó S. Joaneira!
a) revelação da submissão da mulher à situação de vio- − Sobe, Libaninho, sobe, disse ela, que costurava à
lência, que muitas vezes a leva à morte. janela.
b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da − Então o senhor pároco veio, hem? perguntou o
mulher agredida, que continuamente pede socorro. Libaninho, mostrando à porta da sala de jantar o seu rosto
c) exploração de situação de duplo sentido, que mostra gordinho cor de limão, a calva luzidia; e vindo para ela com
que atos de dominação e violência não configuram o passinho miúdo, um gingar de quadris:
amor. − Então que tal, que tal? Tem bom feitio?
d) divulgação da importância de denunciar a violência A S. Joaneira recomeçou a glorificação de Amaro: a sua
doméstica, que atinge um grande número de mulhe- mocidade, o seu ar piedoso, a brancura dos seus dentes...
res no país. − Coitadinho! Coitadinho! dizia o Libaninho, baban-
e) naturalização de situações opressivas, que fazem par- do-se de ternura devota. – Mas não se podia demorar, ia
te da vida de mulheres que vivem em uma sociedade para a repartição! – Adeus, filhinha, adeus! – E batia com a
patriarcal. sua mão papuda no ombro da S. Joaneira. – Estás cada vez
mais gordinha! Olha que rezei ontem a salve-rainha que tu
Os fragmentos de texto apresentados a seguir foram re-
me pediste, ingrata!
tirados do romance O crime do padre Amaro, de Eça de
A criada tinha entrado.
Queirós.*
2
− Adeus, Ruça! Estás magrinha: pega-te com a
Texto para a questão 6. Senhora Mãe dos Homens. − E avistando Amélia pela por-
ta do quarto entreaberta: − Ai, que estás mesmo uma flor,
FRAGMENTO I
Melinha! Quem se salvava na tua graça bem eu sei!
1
Ao outro dia, na cidade, falava-se da chegada do pá- E apressado, saracoteando-se, com um pigarrinho agu-
roco novo, e todos sabiam já que tinha trazido um baú de do, desceu a escada rapidamente, ganindo:
lata, que era magro e alto, e que chamava padre-mestre ao − Adeusinho! Adeusinho, pequenas!
cónego Dias. (CAPÍTULO IV)

As amigas da S. Joaneira, − as íntimas – a D. Maria da


FRAGMENTO II
Assunção, as Gansosos, tinham ido logo pela manhã a casa
dela para se porem ao facto... Eram nove horas; Amaro saíra Nunca suspeitara um tal escândalo! A S. Joaneira, a
com o cónego. A S. Joaneira, radiosa, importante, recebeu- pachorrenta S. Joaneira! O cónego, seu mestre de Moral!
-as no alto da escada, de mangas arregaçadas, nos arranjos E era um velho, sem os ímpetos do sangue novo, já na paz
da manhã; e imediatamente, com animação, contou a che- que lhe deveriam ter dado a idade, a nutrição, as dignida-
gada do pároco, as suas boas maneiras, o que tinha dito... des eclesiásticas! Que faria então um homem novo e forte,
Foi-lhes mostrar o quarto do padre, o baú de lata, uma que sente uma vida abundante no fundo das suas veias
prateleira que lhe arranjara para os livros. (...) reclamar e arder!... Era, pois, verdade o que se cochicha-

LÍNGUA PORTUGUESA
A S. Joaneira ia mostrando as outras maravilhas do pá- va no seminário, o que lhe dizia o velho padre Sequeira,
roco, − um crucifixo que estava ainda embrulhado num cinquenta anos pároco da Gralheira: − “Todos são do mes-
jornal velho, o álbum de retratos, onde o primeiro cartão mo barro!” Todos são do mesmo barro, − sobem em digni-
era uma fotografia do Papa abençoando a cristandade. dades, entram nos cabidos, regem os seminários, dirigem
Todas se extasiaram. as consciências envoltos em Deus como numa absolvição
− É o mais que se pode, diziam, é o mais que se pode! permanente, e têm no entanto, numa viela, uma mulher
MÓDULO 3

Ao sair, beijando muito a S. Joaneira, felicitaram-na pacata e gorda, em casa de quem vão repousar das atitudes
porque adquirira, hospedando o pároco, uma autoridade devotas e da austeridade do ofício, fumando cigarros de
quase eclesiástica. estanco e palpando uns braços rechonchudos!”

165
Vinham-lhe então outras reflexões: que gente era Em seguida, aponte os efeitos de sentido produzidos
aquela, a S. Joaneira e a filha, que viviam assim sus- pelo uso do diminutivo de cada palavra em seu contexto.
tentadas pela lubricidade tardia de um velho cónego?
A S. Joaneira fora decerto bonita, bem feita, desejável Texto para a questão 7.
– outrora! 3Por quantos braços teria passado até che- Brasil
gar, pelos declives da idade, àqueles amores senis e mal
pagos? As duas mulherinhas, que diabo, não eram ho- O Zé Pereira chegou de caravela
nestas! Recebiam hóspedes, viviam da concubinagem. E preguntou pro guarani da mata virgem
Amélia ia sozinha à igreja, às compras, à fazenda; e com — Sois cristão?
aqueles olhos tão negros, talvez já tivesse tido um aman- — Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
te! – Resumia, filiava certas recordações: um dia que Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
ela lhe estivera mostrando na janela da cozinha um vaso
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
de rainúnculos, tinham ficado sós, e ela, muito corada,
O negro zonzo saído da fornalha
pusera-lhe a mão sobre o ombro e os seus olhos relu-
ziam e pediam; outra ocasião ela roçara-lhe o peito pelo Tomou a palavra e respondeu
braço! A noite caíra, com uma chuva fina. Amaro não — Sim pela graça de Deus
a sentia, caminhando depressa, cheio de uma só ideia — Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
deliciosa que o fazia tremer: ser o amante da rapariga, E fizeram o Carnaval
como o cónego era o amante da mãe! Imaginava já a (Oswald de Andrade)
boa vida escandalosa e regalada; enquanto em cima
a grossa S. Joaneira beijocasse o seu cónego cheio de 7. A polifonia, variedade de vozes, presente no poe-
dificuldades asmáticas, − Amélia desceria ao seu quar- ma resulta da manifestação do
to, pé ante pé, apanhando as saias brancas, com um xale
a) poeta e do colonizador apenas.
sobre os ombros nus... Com que frenesi a esperaria! E
já não sentia por ela o mesmo amor sentimental, quase b) colonizador e do negro apenas.
doloroso: agora a ideia muito magana dos dois padres e c) negro e do índio apenas.
as duas concubinas, de panelinha, dava àquele homem d) colonizador, do poeta e do negro apenas.
amarrado pelos votos uma satisfação depravada! Ia aos
e) poeta, do colonizador, do índio e do negro.
pulinhos pela rua. – Que pechincha de casa!
(CAPÍTULO VI)
8.
* Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2000.

Reprodu•‹o/Enem, PPL, 2017.


6. (Uerj)
– Adeus, Ruça! Estás magrinha: pega-te com a Senhora
Mãe dos Homens. – E avistando Amélia pela porta do
quarto entreaberta:
– Ai, que estás mesmo uma flor, Melinha! Quem se
salvava na tua graça bem eu sei! (Fragmento I, ref. 2)
Por quantos braços teria passado até chegar, pelos
declives da idade, àqueles amores senis e mal pagos?
As duas mulherinhas, que diabo, não eram honestas!
(Fragmento II, ref. 3)
Veja, n. 42, 20 out. 2010 (adaptado).
Tradicionalmente, o diminutivo é associado à ideia de
tamanho reduzido. Dependendo do contexto, no entan-
Campanhas de conscientização para o diagnóstico pre-
to, pode assumir efeitos de sentido diversos.
coce do câncer de mama estão presentes no cotidiano
Destaque e classifique o morfema responsável pela das brasileiras, possibilitando maiores chances de cura
indicação de diminutivo nas palavras sublinhadas. para a paciente, em especial se a doença for detectada

166
precocemente. Pela análise dos recursos verbais e não Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e
verbais dessa peça publicitária, constata-se que o cartaz [fiquei pensando...
a) promove o convencimento do público feminino porque – Humildemente pensando na vida e nas mulheres
associa as palavras “prevenção” e “conscientização”. [que amei.
b) busca persuadir as mulheres brasileiras, valendo-se (Estrela da vida inteira, 1993.)

do duplo sentido da palavra “tocar”. 1


Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista.
c) objetiva chamar a atenção para um assunto evitado Aproximou-se do meio intelectual carioca e se tornou ami-
por mulheres mais velhas. go íntimo de Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque
d) convence a mulher a se engajar na campanha e a usar de Hollanda e Manuel Bandeira. Sua música mais famo-
laço rosa. sa é “Azulão”, em parceria com o poeta Manuel Bandeira.
e) mostra a seriedade do assunto, evitado por muitas (Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira)
mulheres.
10. (Unesp-SP) Por oscilar entre duas classes de palavras, o
9. termo “só” confere ambiguidade ao título do poema.
Descubra e aproveite um momento todo seu. Quando Identifique estas duas classes de palavras e o sentido
você quebra o delicado chocolate, o irresistível recheio cre- que cada uma delas confere ao título.
moso começa a derreter na sua boca, acariciando todos os
seus sentidos. Criado por nossa empresa. Paixão e amor 11. (Fuvest-SP) Leia o texto.
por chocolate desde 1845. Um tema frequente em culturas variadas é o do desafio
Veja, n. 2.320, 8 maio 2013. Adaptado
à ordem divina, a apropriação do fogo pelos mortais. Nos
O texto publicitário tem a intenção de persuadir o pú- mitos gregos, Prometeu é quem rouba o fogo dos deuses.
blico-alvo a consumir determinado produto ou serviço. Diz Vernant que Prometeu representa no Olimpo uma vo-
No anúncio, essa intenção assume a forma de um con- zinha de contestação, espécie de movimento estudantil de
vite, estratégia argumentativa linguisticamente marcada maio de 1968. Zeus decide esconder dos homens o fogo,
pelo uso de antes disponível para todos, mortais e imortais, na copa de
a) conjunção (quando). certas árvores – os freixos – porque Prometeu tentara ta-
peá-lo numa repartição da carne de um touro entre deuses
b) adjetivo (irresistível).
e homens.
c) verbo no imperativo (descubra).
Na mitologia dos Yanomami, o dono do fogo era o ja-
d) palavra do campo afetivo (paixão).
caré, que cuidadosamente o escondia dos outros, comendo
e) expressão sensorial (acariciando). taturanas assadas com sua mulher sapo, sem que ninguém
Texto para a questão 10. soubesse. Ao resto do povo – animais que naquela época
eram gente – eles só davam as taturanas cruas. O jacaré
Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para res- costumava esconder o fogo na boca. Os outros decidem
ponder à próxima questão. fazer uma festa para fazê-lo rir e soltar as chamas. Todos
fazem coisas engraçadas, mas o jacaré fica firme, no máxi-
Poema só para Jaime Ovalle1 mo dá um sorrisinho.

LÍNGUA PORTUGUESA
Betty Mindlin, O fogo e as chamas dos mitos. Revista Estudos Avançados. (Adaptado.)
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada). a) O emprego do diminutivo nas palavras “vozinha” e
Chovia. “sorrisinho”, consideradas no contexto, produz o
Chovia uma triste chuva de resignação mesmo efeito de sentido nos dois casos? Justifique.
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso b) Reescreva o trecho “Os outros decidem fazer uma
[da noite. festa para fazê-lo rir (...). Todos fazem coisas engraça-
MÓDULO 3

Então me levantei, das”, substituindo o verbo “fazer” por sinônimos ade-


Bebi o café que eu mesmo preparei, quados ao contexto em duas de suas três ocorrências.

167
3
Texto para a questão 12. aplainada − nivelada
4
O ARRASTÃO praxe − prática, hábito
6
surrealistas − participantes de movimento artístico do
Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto século 20 que enfatiza o papel do inconsciente
logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o senti- 7
recalcada − fortemente reprimida
mento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, 8
transcendental − que supera todos os limites
descendente de escravos, como tantos, que cuida de qua- 10
Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da
tro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido
às quatro e meia das manhãs de todas as semanas, que por policiais
administra com o marido um ganho de mil e seiscentos
reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões
12. (Uerj) “Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita
de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos.” (ref. 1)
não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como
carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de Esta frase contém um ponto de vista que se baseia na
ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, pelo as- pressuposição da existência de:
falto do Rio. a) testemunhas omissas do caso
Não vou me deter nas versões apresentadas pelos ad- b) falhas importantes nos processos
vogados dos policiais.1Todas as vozes terão que ser ouvidas, c) segmentos excluídos da população
e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvi-
d) imparcialidades frequentes nos julgamentos
dos. Mas, antes das versões, o fato é que esse porta-malas,
ao se abrir fora do script, escancarou um real que está acos-
13.
tumado a existir na sombra.
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o por- bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato.
ta-malas não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer for-
deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. 2Ele ma de língua em suas atividades escritas? Não deve mais
está dizendo: seria uma morte anônima, 3aplainada pela corrigir? Não!
surdez da 4praxe, pela invisibilidade, uma morte não ques-
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mun-
tionada, como tantas outras.
do real da escrita, não existe apenas um português correto,
5
É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos
esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um não é o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do
“acaso objetivo” (a expressão era usada pelos 6surrealistas), Supremo não é o mesmo dos cordelistas; o dos editoriais
uma cena 7recalcada da consciência nacional, com tudo dos jornais não é o mesmo dos cadernos de cultura dos
o que tem de violência naturalizada e corriqueira, trata- mesmos jornais. Ou do de seus colunistas.
mento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao (POSSENTI, S. Gramática na cabeça.
Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).
cúmulo, ignorância bruta transformada em trapalhada
8
transcendental, além de um índice grotesco de métodos
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um úni-
de camuflagem e desaparição de pessoas. 9Pois assim como
10
co “português correto”. Assim sendo, o domínio da lín-
Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz
gua portuguesa implica, entre outras coisas, saber
muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à
a) descartar as marcas de informalidade do texto.
vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o
reverso do mesmo. b) reservar o emprego da norma-padrão aos textos de
circulação ampla.
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não
pudemos ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A c) moldar a norma-padrão do português pela lingua-
sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval gem do discurso jornalístico.
de horror que escondemos. 11Aquele carro é o carro alegó- d) adequar as formas da língua a diferentes tipos de tex-
rico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar to e contexto.
para que não se transforme no carro alegórico do Brasil. e) desprezar as formas da língua previstas pelas gramá-
José Miguel Wisnik. Adaptado de: oglobo.globo.com, 22/03/2014. ticas e manuais divulgados pela escola.
168
Texto para a questão 14. A tolerância de parte da população — que consome,
conscientemente, esses produtos ilegais — e dos gover-
Ceará tenta tirar de Pernambuco nos — que, muitas vezes, cedem os espaços públicos, sob
o título de “pai” do forró o argumento de que “a informalidade é a alternativa para o
Pernambuco e Ceará sempre dividiram o título de pre- desemprego” — só estimula o aumento dessa atividade, do-
cursor do ritmo que ficou conhecido popularmente como minada por organizações criminais de alcance internacional.
11
forró. O pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga, e o cearen- O comércio ostensivo de produtos piratas e o consu-
se de Iguatu, Humberto Teixeira, foram autores de músicas mo consciente de tais produtos são sinais de uma socieda-
que descreviam tanto a seca e a fome da região quanto as de que já não se abala com a violação de normas.
belezas do sertão nordestino. O clássico “Asa branca”, de Infelizmente, cada vez mais pessoas incluem na rotina
autoria dos dois, representa bem isso. Agora, músicos cea- diária a violação como forma de ter vantagens, o que cons-
renses atribuem esse pioneirismo a outro artista. titui gravíssima questão cultural. Essa cultura que aceita
O primeiro registro fonográfico de um forró teria sido feito e valoriza a transgressão — desde que ela traga vantagens
por um violeiro. Em outubro de 1937, Xerêm gravou “Forró na — passa de uma geração para a outra, e, em cada nova ge-
roça”. Apesar de ser cearense, essa foi a única canção do esti- ração, o problema se agrava, pois 10cada vez mais se perde o
lo gravada pelo cantor. Xerêm partiu adolescente para Minas contato com um padrão ético que um dia existiu. 14E todos
Gerais, formou dupla caipira e virou cantor de moda de viola. caminhamos na direção de uma sociedade transgressora,
sem limites éticos e sem segurança jurídica.
O diretor do Memorial Luiz Gonzaga de Recife, Mauro
8
Alencar, ouviu pela primeira vez a música “Forró na roça” Por isso, a abordagem do Estado para o comércio in-
a pedido da reportagem do iG. Para ele, a canção só tem formal de produtos piratas não pode envolver a tolerância
“forró” no título. “Isso não é forró nem baião. É música mi- ao crime. É exatamente o conjunto de todas as “pequenas
neira, lembra o calango, ritmo mineiro dos ‘bão’”, ironiza. tolerâncias” que nos leva a uma sociedade amedrontada
pelos “grandes crimes”.
O estilo musical que se convencionou chamar for-
Aceitar a pirataria sob a alegação de que ela pode ser
ró sequer é considerado um gênero por muitos músicos.
a válvula de escape para o problema social do desemprego
Segundo Mauro Alencar, a palavra seria uma corruptela de
é um gravíssimo erro. 15Se não formos capazes de evitar
uma expressão lusitana: ‘forrobodó’, que quer dizer ‘baile
as causas sociais da criminalidade, tolerar o crime porque
popular’. O pesquisador explica que o ritmo a que atri-
atrás dele pode estar essa questão social é errar outra vez.
buem o nome de forró é o baião, criado por Luiz Gonzaga
12
e Humberto Teixeira. O dinheiro que entra no comércio da pirataria — por
(Daniel Aderaldo, www.ig.com.br. Adaptado.)
exemplo, quando um pai, acompanhado de seu filho, com-
pra um DVD infantil pirata de um camelô — circula pelos
vasos comunicantes que interligam as diversas organiza-
14. (UFTM-MG) Com base no texto, responda:
ções criminais na clandestinidade e poderá se materializar
a) O pronome isso, em – O clássico “Asa branca”, de na frente daquela criança, na forma de um traficante na
autoria dos dois, representa bem isso. –, confere am- porta da escola.
biguidade à frase no contexto do primeiro parágrafo. 5
Esse é o preço que se paga pela tolerância ao crime,
Em que consiste essa ambiguidade? disfarçado de solução informal para problemas sociais não
b) Reescreva a frase – Apesar de ser cearense, essa foi a resolvidos.
única canção do estilo gravada pelo cantor. – fazendo Sob o aspecto criminal, aceitar ou mesmo estimular

LÍNGUA PORTUGUESA
as alterações necessárias para substituir a expressão que a polícia tolere o crime porque pode existir por trás
Apesar de por Embora e empregar o verbo gravar, no dele a questão social é dar a ela um poder que, no futuro,
trecho – gravada pelo cantor –, na voz ativa. poderá voltar-se contra o próprio cidadão. A polícia deve
agir dentro de um espaço discricionário perfeitamente de-
Texto para a questão 15.
limitado pela lei, o que constitui, sobretudo, uma garantia
3
A histórica falta de lucidez de sucessivos governos para para a sociedade.
MÓDULO 3

solucionar os problemas sociais provoca hoje o fenômeno 6


Essa obrigação não se limita à polícia, mas se esten-
social da informalidade e do crime, e o comércio ostensivo de às administrações municipais, já que o ato de comércio
de produtos piratas toma conta dos logradouros públicos. deve ser regulado e fiscalizado pelas prefeituras, que têm o

169
poder-dever de agir quando a atividade de comércio é exer- Texto para a questão 16.
citada irregularmente, como na venda de produtos piratas.
Sob o aspecto econômico, 1a informalidade é uma das O DIREITO À LITERATURA
causas do baixo crescimento do país. Se eliminássemos a
Chamarei de literatura, da maneira mais ampla pos-
informalidade, nossa economia cresceria mais 2,5 pontos
sível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dra-
percentuais por ano, segundo a consultoria McKinsey.
mático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os
9
A informalidade e a pirataria espantam os investimen- tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda,
tos externos produtivos, geradores de desenvolvimento. até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita
4
Um país com elevados índices de informalidade e de des- das grandes civilizações.
respeito à propriedade intelectual é visto como uma mesa Vista deste modo a literatura aparece claramente
de jogo de azar, só atraindo o investimento especulativo. como manifestação universal de todos os homens em to-
[...] E não podemos jamais esquecer que, se de um lado dos os tempos. Não há povo e não há homem que possa
existem pessoas que optaram por violar a lei, comercializan- viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em
do produtos piratas, de outro lado existem muitos cidadãos contato com alguma espécie de fabulação*. Assim como
honestos que são duplamente virtuosos: pois são honestos e todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar
porque, todo dia, optam por continuar honestos, a despeito as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de
da concorrência criminosa e desleal da pirataria. E esses ci- entrega ao universo fabulado. O sonho assegura duran-
dadãos merecem a proteção do Estado, como ponto de par- te o sono a presença indispensável deste universo, inde-
tida para a criação de uma sociedade próspera e justa. pendentemente da nossa vontade. E durante a vigília a
13
Mas o combate à pirataria também é um ato de prote- criação ficcional está presente em cada um de nós, como
ção voltado aos “camelôs” envolvidos no comércio de pro- anedota, história em quadrinhos, noticiário policial, can-
dutos piratas nas ruas das cidades, pois eles são “escravos” ção popular. Ela se manifesta desde o devaneio no ônibus
até a atenção fixada na novela de televisão ou na leitura
da organização criminal da pirataria.
seguida de um romance.
Por tudo isso, combater a informalidade e a pirataria é,
Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem
sobretudo, recuperar os valores éticos nas relações sociais,
mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura
ponto de partida para a criação de uma sociedade próspera
concebida no sentido amplo a que me referi parece corres-
e justa.
ponder a uma necessidade universal, que precisa ser satis-
Carlos Alberto de Camargo. Folha de S. Paulo, 7 de novembro de 2006.
feita e cuja satisfação constitui um direito.
Podemos dizer que a literatura é o sonho acordado das
15. (UFU-MG) “Mas o combate à pirataria TAMBÉM é um
civilizações. Portanto, assim como não é possível haver
ato de proteção voltado aos ‘camelôs’ envolvidos no co- equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não
mércio de produtos piratas nas ruas das cidades, pois haja equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é
eles são ‘escravos’ da organização criminal da pirataria.” fator indispensável de humanização e, sendo assim, con-
(ref. 13) firma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua
em grande parte no subconsciente e no inconsciente.
O uso de TAMBÉM desencadeia a pressuposição de
Cada sociedade cria as suas manifestações ficcionais,
que o ato de proteção não se restringe à classe dos
poéticas e dramáticas de acordo com os seus impulsos, as
camelôs.
suas crenças, os seus sentimentos, as suas normas, a fim
Assinale a ÚNICA alternativa que explicita a que ou a de fortalecer em cada um a presença e atuação deles. Por
quem mais o ato de proteção se aplica. isso é que nas nossas sociedades a literatura tem sido um
a) Proteção aos brasileiros éticos. instrumento poderoso de instrução e educação, entrando
nos currículos, sendo proposta a cada um como equipa-
b) Proteção às crianças contra o tráfico de drogas.
mento intelectual e afetivo.
c) Proteção aos cidadãos da polícia. Antonio Candido

d) Proteção aos comerciantes honestos da concorrência Adaptado de V‡rios escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

desleal. * fabulação − ficção

170
16. (Uerj) “Chamarei de literatura, da maneira mais ampla c) contrariedade.
possível, (...)”(primeiro parágrafo). d) vulnerabilidade.
O trecho acima parte de uma pressuposição que o pró-
18. (EEAR-SP) Leia:
prio autor contesta: a de que existiria uma maneira res-
trita de definir a literatura. Meteoro
Identifique outro exemplo do primeiro parágrafo que con- (Sorocaba)
tenha uma pressuposição e explique em que ela consiste. Te dei o Sol
Te dei o Mar
Texto para a questão 17.
Pra ganhar seu coração
Você é raio de saudade
Soneto do Corifeu*
Meteoro da paixão
São demais os perigos desta vida Explosão de sentimentos que eu não pude acreditar
Para quem tem paixão, principalmente Aaaahh...
Quando uma lua surge de repente Como é bom poder te amar [...]
E se deixa no céu, como esquecida.
O trecho da canção de autoria de Sorocaba, que ficou
E se ao luar que atua desvairado famosa na voz de Luan Santana, está escrito em lingua-
Vem se unir uma música qualquer gem coloquial. Quanto ao uso dos pronomes oblíquos,
Aí então é preciso ter cuidado marque a alternativa correta.
Porque deve andar perto uma mulher. a) Se o autor tivesse optado pelo uso do pronome de
acordo com a gramática normativa, e, desse modo, ti-
Deve andar perto uma mulher que é feita
vesse realizado a colocação do pronome oblíquo após
De música, luar e sentimento
as formas verbais com que se inicia os dois versos do
E que a vida não quer, de tão perfeita. início da canção, seria possível interpretações diferen-
Uma mulher que é como a própria Lua: tes das apresentadas por conta de cacofonia (união so-
Tão linda que só espalha sofrimento nora de sílabas que provoca estranheza auditiva).
Tão cheia de pudor que vive nua. b) O fato de o texto trazer pronomes oblíquos em vez de
retos acentua a ideia de precisão ao escrever de acordo
* Corifeu: personagem sempre presente no antigo teatro com as normas estabelecidas pela gramática normativa,
grego. pois os oblíquos, de uso mais elaborado que os retos,
MORAES, Vinícius de. Livro de Sonetos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009. garantem mais legibilidade ao texto escrito ou falado.
c) A opção pelo uso de pronomes oblíquos é um indí-
17. (Uerj) Os dois primeiros versos do soneto sugerem uma cio das tentativas do autor de gerar duplo sentido
advertência dirigida aos apaixonados. em seus enunciados, uma vez que nos dois primeiros
versos houve ajuste preciso ao que se determina nas
Com base na leitura do poema, essa advertência se ba- gramáticas de língua portuguesa.
seia no pressuposto de que a paixão é capaz de provo- d) Os pronomes oblíquos presentes no trecho da can-
car estado de:

LÍNGUA PORTUGUESA
ção visam promover elegância e estilo, uma vez que
a) apatia. estão estritamente de acordo com o que se preconiza
b) carência. nas gramáticas normativas.

Anotações
MÓDULO 3

171
MÓDULO

4
O ESTUDO DA VARIAÇÃO
LINGUÍSTICA E DOS NÍVEIS
DE LINGUAGEM
OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Variação linguística
• Formas de enunciação
• Linguagem formal e informal, culta e coloquial

HABILIDADES
• (EM13LP09) Comparar o tratamento dado pela gramática tradicional e pelas gramáticas de uso
contemporâneas em relação a diferentes tópicos gramaticais, de forma a perceber as diferenças de
abordagem e o fenômeno da variação linguística e analisar motivações que levam ao predomínio do
ensino da norma-padrão na escola.
• (EM13LP10) Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonéti-
co-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões
(regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão
sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades lin-
guísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o
combate a preconceitos linguísticos.
• (EM13LP16) Produzir e analisar textos orais, considerando sua adequação aos contextos de produ-
ção, à forma composicional e ao estilo do gênero em questão, à clareza, à progressão temática e à
variedade linguística empregada, como também aos elementos relacionados à fala (modulação de
voz, entonação, ritmo, altura e intensidade, respiração etc.) e à cinestesia (postura corporal, movi-
mentos e gestualidade significativa, expressão facial, contato de olho com plateia etc.).

172
Para começar

As línguas humanas são organismos dinâmicos e vivos. Elas apresentam elementos que variam de acor-
do com as situações de comunicação, a região em que se vive, a idade do falante e o grupo social ao qual
ele pertence. No Brasil, a diversidade de registros linguísticos é enorme; mas, mesmo com essa constatação,
ainda existem comportamentos preconceituosos por parte de grupos sociais que pensam deter alguma su-
perioridade por ter acessado com mais frequência ao longo da vida os conhecimentos acerca da chamada
norma-padrão. Sobre isso, o sociolinguista Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília, escreveu:

[…]
O preconceito linguístico resulta da comparação indevida entre o modelo idealizado de língua que se apre-
senta nas gramáticas normativas e nos dicionários e os modos de falar reais das pessoas que vivem na sociedade,
modos de falar que são muitos e bem diferentes entre si. Essa língua idealizada se inspira na literatura consagra-
da, nas opções subjetivas dos próprios gramáticos e dicionaristas, nas regras da gramática latina (que serviu du-
rante séculos como modelo para a produção das gramáticas das línguas modernas) etc. No caso brasileiro, essa
língua idealizada tem um componente a mais: o português europeu do século XIX. Tudo isso torna simplesmen-
te impossível que alguém escreva e, principalmente, fale segundo essas regras normativas, porque elas descrevem
e, sobretudo, prescrevem uma língua artificial, ultrapassada, que não reflete os usos reais de nenhuma comuni-
dade atual falante de português, nem no Brasil, nem em Portugal, nem em qualquer outro lugar do mundo onde
a língua é falada.
[…]
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. Glossário Ceale. Disponível em: www.ceale.fae.ufmg.br/
glossarioceale/verbetes/preconceito-linguistico. Acesso em: 8 jun. 2022.

Pela análise do professor, percebe-se que o preconceito linguístico, além de incorreto, é carregado de
desconhecimento acerca das estruturas que compõem as línguas humanas. Se a linguagem é dinâmica e
viva, sempre vai sofrer mudanças e pertencer àqueles que a utilizam cotidianamente. Neste módulo, relem-
braremos os conceitos da variação linguística, que devem ser encarados como fator de riqueza de um grupo,
não como motivo de preconceito sobre ele.

Para relembrar

As palavras e as construções que você usa numa conversa com seus amigos são as mesmas às quais você

LÍNGUA PORTUGUESA
recorreria durante uma entrevista de emprego? Você já reparou que, em situações diversas, a linguagem que
utilizamos se modifica? Isso acontece porque a língua de um povo é formada a partir da troca de experiên-
cias entre vários grupos, inseridos em realidades sociais, geográficas, históricas, econômicas e contextuais di-
versas. A maneira como utilizamos os recursos disponíveis na língua portuguesa revela nossa percepção de
mundo, nossas intenções e a imagem que temos de nós mesmos e das pessoas com quem interagimos. Por
isso, para compreender e usar a língua portuguesa e para perceber sua relação com a organização do mundo
e a formação da própria identidade, é preciso dar atenção às diversas formas linguísticas que temos à dispo-
MÓDULO 4

sição. Nenhuma expressão linguística é fruto do acaso. Leia atentamente o texto a seguir, do poeta mineiro
Carlos Drummond de Andrade.

173
Aula de Português

A linguagem o amazonas de minha ignorância.


na ponta da língua, Figuras de gramática, esquipáticas,
tão fácil de falar atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
e de entender.
Já esqueci a língua em que comia,
A linguagem em que pedia para ir lá fora,
na superfície estrelada de letras, em que levava e dava pontapé,
sabe lá o que ela quer dizer? a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando O português são dois; o outro, mistério.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Reprodu•‹o/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, RJ.

No poema, constata-se a reflexão de um falante da língua portugue-


sa sobre o uso desse idioma. Em linguagem poética, o eu lírico demonstra
que, apesar de ser conhecedor dos elementos necessários à comunica-
ção, encontra dificuldade em entender outra vertente da nossa língua.
Para ele, a oralidade configura-se como elemento simples de uso; a nor-
ma-padrão, no entanto, apresenta-se como um mistério dificultoso e dis-
tanciado. Um recurso genial utilizado pelo autor para comprovar a sua
tese é a estrutura de concordância verbal do último verso do poema.
Nele, quebra-se a regra de ouro da concordância (em que o verbo con-
corda em número e pessoa com o sujeito) e há uma concordância feita, se-
guindo a norma-padrão, com o predicativo do sujeito representado pelo
numeral “dois”. O texto em si já abre portas para uma reflexão profunda
sobre a existência das variações no contexto de uso de uma língua, e as
diferenças não se encerram na diversidade entre a língua falada e a língua
Drummond, um dos maiores poetas brasileiros e
o escritor nacional com o maior número de textos prescrita pela gramática normativa.
utilizados na prova do Enem desde a criação do exame.

A variação linguística
Todo ser humano interioriza uma série de preceitos gramaticais que permitem a comunicação verbal.
Esse aprendizado é consequência do desenvolvimento normal do indivíduo, a partir do convívio com seus
semelhantes, sem que seja necessária, por exemplo, a presença de um tutor. Todo falante de uma língua é,
portanto, natural conhecedor de sua estrutura básica, o que permite a ele tecer relações comunicativas, ain-
da que não seja alfabetizado.

Variantes regionais
Não é difícil perceber que, num país com as dimensões do Brasil, existe uma grande sorte de variantes
regionais. Embora não sejamos capazes de mapear todas as possibilidades existentes, é possível reconhe-
cer algumas delas, principalmente as variantes que são bem delimitadas geograficamente, como a nordesti-
na ou a sulista. Existe ainda uma variante interiorana que ocorre, como o nome sugere, nas regiões interiores
de grandes estados brasileiros, como São Paulo. As variantes regionais brasileiras são perceptíveis, princi-
palmente, devido a dois fatores: o fonológico (pronúncia, entonação) e o vocabular (uso de palavras distin-
tas para designar o mesmo referente, palavras com sentidos que variam de uma região para outra). A sintaxe
da língua portuguesa permanece basicamente a mesma. Leia a letra da canção “Tiro ao Álvaro”, escrita pelo
compositor paulista Adoniran Barbosa.
174
Tiro ao Álvaro
Adoniran Barbosa
Compositor: Adoniran Barbosa / Osvaldo Molles, 1950 (1975)

De tanto levar teu olhar mata mais


frexada do teu olhar do que bala de carabina
meu peito até que veneno estriquinina
parece sabe o que? que pexeira de baiano
talbua de tiro ao álvaro
Teu olhar mata mais
não tem mais onde furar (2x)
Que atropelamento
De artomove
mata mais
Que bala de revorver.
BARBOSA, Adoniran; MOLLES, Osvaldo. Disponível em: www.letras.mus.br/elis-regina/101410/. Acesso em: 8 jun. 2022.

Perceba que o compositor buscou, em sua letra, registrar uma variante regional que pode ser encontra-
da em alguns lugares do estado de São Paulo. Com esse trabalho, Adoniran eternizou em nossas artes essa
variante, valorizando-a enquanto produção de um grupo de falantes da língua portuguesa. Vale lembrar que
essas variações também ocorrem entre diferentes países lusófonos. O trecho de um romance português
apresentará vocábulos e expressões típicas do país europeu e diferentes das que são comumente utilizadas
no Brasil. Veja o exemplo:

Aos domingos à noite havia em casa de Jorge uma pequena reunião, uma cavaqueira, na sala, em redor
do velho candeeiro de porcelana cor-de-rosa. Vinham apenas os íntimos. O “Engenheiro”, como se dizia na rua,
vivia muito ao seu canto, sem visitas. Tomava-se chá, palrava-se. Era um pouco à estudante. Luísa fazia croché,
Jorge cachimbava.
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000227.pdf. Acesso em: 8 jun. 2022.

No trecho, percebem-se usos da preposição diferentes daqueles encontrados no português brasileiro.


Além disso, há vocábulos que nunca são utilizados deste lado do Atlântico, como o verbo palrar, que, nesse
contexto, significa “conversar”. Agora, observe como essa variação foi trabalhada nesta tira de Armandinho.
© Armandinho, de Alexandre Beck/Acervo do cartunista

LÍNGUA PORTUGUESA
BECK, Alexandre. Armandinho. Disponível em: https://tirasarmandinho.tumblr.com/post/117533563734/a-língua-portuguesa-cá-e-lá-lisboa-dia-18-de.
Acesso em: 8 jun. 2022.

Na tirinha, a personagem Armandinho estranha o emprego dos vocábulos “camisolas” e “cuecas” no


português de Portugal porque considera os significados mais comuns do português do Brasil, que são, res-
MÓDULO 4

pectivamente “peça de roupa feminina para dormir” e “peça íntima do vestuário masculino”. No entanto,
em Portugal, camisola e cueca significam, respectivamente, “camisa de manga comprida” e “roupa ínti-
ma feminina”.

175
Variantes sociais
As variantes sociais não seguem a gramática normativa, e sim o contexto social de origem, sendo, por-
tanto, determinadas pelo estrato social, pela idade e até pelo gênero do falante. Os elementos de colo-
quialidade e os elementos da norma-padrão podem conviver num mesmo agrupamento social, desde que
utilizados adequadamente em seus contextos comunicativos. No Brasil, entretanto, ainda impera certa tradi-
ção nobiliárquica que tende a menosprezar as variantes linguísticas das camadas sociais sem acesso à edu-
cação formal. Por seu poder de coesão e sua importância social, o estudo da variante culta deve sempre ser
desenvolvido e valorizado. É fundamental que isso fique claro desde já. Afinal, é essa a variante que devemos
buscar para conseguir um contato claro com qualquer outro usuário da nossa língua, quando os contextos
sociais forem muito distintos. Isso não significa, entretanto, que essa manifestação seja a mais importante ou
a única possível. Esse tipo de concepção é indesejável porque leva ao preconceito linguístico, citado no iní-
cio do módulo, e à segregação social e linguística. Observe um exemplo concreto de preconceito linguístico
no trecho de uma matéria do G1, destacado a seguir.
Médico debocha de paciente na internet: ‘Não existe peleumonia’

Médico e duas funcionárias foram afastados após postagem em rede social. Guilherme Capel disse que não teve in-
tenção de ofender e pediu desculpas.
Um médico plantonista no Hospital Santa Rosa de Lima, em Serra Negra (SP), foi afastado do trabalho após
ter uma foto sua publicada numa rede social com o título “Uma imagem fala mais que mil palavras”. Na foto,
Guilherme Capel Pasqua mostra o receituário médico com o seguinte dizer: “Não existe peleumonia e nem raôxis”.
Durante a tarde, o médico enviou ao G1 um comunicado em que pede desculpas a todos que se ofenderam
com a postagem.
[…]
VICTAL, Renata. Médico debocha de paciente na internet: ‘Não existe peleumonia’. G1, 29 jul. 2016. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/
noticia/2016/07/medico-debocha-de-paciente-na-internet-nao-existe-peleumonia.html. Acesso em: 8 jun. 2022.

Glossário Podemos, ainda, incluir nesse conjunto de variantes as especificidades linguísticas de


grupos sociais restritos: os jargões profissionais e as gírias. Muitas vezes, esses grupos uti-
jargão: gênero de linguagem
codificada utilizada por lizam a linguagem com sutilezas que não permitem a um receptor despreparado dominar
determinado grupo, que é com perfeição o assunto que está sendo desenvolvido. Isso pode servir de instrumento
incompreensível para elementos de poder para o emissor em certas situações ou como elemento de identificação e apro-
exteriores a esse mesmo grupo.
ximação social. Observe o uso de jargões da medicina na tira a seguir.

Alexandre Nagado/Acervo do cartunista

No caso da tirinha, o emprego do jargão profissional causou um ruído na comunicação, uma vez que o
paciente chegou a uma conclusão equivocada sobre sua condição. No último quadrinho, o médico ajusta a
linguagem utilizada para facilitar a comunicação com o interlocutor e consegue transmitir a mensagem de
maneira adequada.

176
Variantes de registro
No cotidiano, é imprescindível o contato com diversas pessoas em diferentes situações sociais. Para am-
pliar sua capacidade comunicativa, o usuário da língua deve estar atento ao grau de formalismo que utiliza-
rá na sua construção linguística. Isso vai fazer com que sejam pensados com maior cuidado o vocabulário e a
sintaxe a serem utilizados. Observe um exemplo dessa situação no nosso cotidiano.
Meu camarada, quero te pedir um grande favor. (registro informal)
Venho solicitar a Vossa Senhoria o obséquio de me conceder um favor. (registro formal)
Outro ponto a ser considerado é o interlocutor que se deseja atingir. Evidentemente, não utilizaremos o
mesmo registro para nos dirigir a uma namorada, a um amigo e a um chefe: trata-se de graus diferentes de
intimidade e de relacionamento. É preciso escolher um modo de falar que seja adequado a cada situação es-
pecífica. Adaptar o nível da linguagem ao receptor já é, por si, uma grande peça para formar o ato comuni-
cativo. Analise este texto, do poeta paulista Oswald de Andrade, em que ele trata das variantes de registro.

Pronominais

Dê-me um cigarro Da Nação Brasileira


Diz a gramática Dizem todos os dias
Do professor e do aluno Deixa disso camarada
E do mulato sabido Me dá um cigarro.
Mas o bom negro e o bom branco
ANDRADE, Oswald de. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. v. 6-7.

As formas de enunciação

Objetividade
A objetividade diz respeito à forma como são apresentadas as ideias, no campo mais diretamente se-
mântico. Ser objetivo implica, basicamente, a anulação do eu; ou seja, a intenção é caracterizar algo sem que
estejam presentes elementos que sugiram uma to-

Reprodu•‹o/Anvisa
nalidade pessoal. Uma descrição que busque ser
fotográfica, por exemplo, normalmente anulará (ou
quase) a presença do eu. Ao descrever um objeto,
por exemplo, serão apresentados seus elementos
físicos sem a emissão de juízos de valor − não se-
rão mencionadas as sensações que a observação
desse objeto causa no receptor. Em geral, quan-
do busca essa objetividade, o enunciador garante
para o texto certo tom de veracidade e imparciali-

LÍNGUA PORTUGUESA
dade. Vários são os elementos que podem garan-
tir esse distanciamento: em textos jornalísticos, por
exemplo, evitam-se os artigos definidos antes de
nomes próprios.
MÓDULO 4

Por seu caráter prático e


informativo, as bulas de remédio
devem ser apresentadas de
modo objetivo.

177
Subjetividade
A subjetividade está diretamente relacionada às manifestações do eu. Consiste na expressão do sujei-
to/indivíduo que transmite suas emoções e seus sentimentos. Quando se diz “Infelizmente, ela não veio”, o
advérbio é utilizado como manifestação pessoal do emissor acerca da realidade narrada. Um ponto muito
importante a ser levado em consideração é o fato de que a subjetividade nem sempre se coloca de forma ex-
plícita, como no caso acima ou com a presença, por exemplo, da 1a pessoa do singular, própria do emissor,
mesmo que a forma gramatical utilizada indique a 1a pessoa indiretamente. Observe o poema romântico de
Álvares de Azevedo, carregado de subjetividade.

Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,


Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria


Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando…


Negros olhos as pálpebras abrindo…
Formas nuas no leito resvalando…

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!
AZEVEDO, Álvares de. Disponível em: www.academia.org.br/academicos/alvares-de-azevedo/textos-escolhidos. Acesso em: 8 jun. 2022.

Perceba que a escolha vocabular, os juízos de valor e o sentimentalismo do eu lírico marcam a escolha por
uma enunciação subjetiva, típica do movimento literário conhecido como Romantismo.

Situação-problema
Leia a tirinha a seguir.
© Mauricio de Sousa/Mauricio
de Sousa Editora Ltda.

A partir da leitura dessa tira, é possível dizer que há um erro na enunciação de Chico Bento no segun-
do quadrinho? Discuta a questão em sala com base nos conhecimentos adquiridos neste módulo.

178
pH resolve

Sítio Gerimum
Este é o meu lugar […]
Meu Gerimum é com g
Você pode ter estranhado
Gerimum em abundância
Aqui era plantado
E com a letra g
Meu lugar foi registrado.
OLIVEIRA, H. D. Língua Portuguesa. n. 88, fev. 2013. (Fragmento.)

Nos versos de um menino de 12 anos, o emprego da palavra “Gerimum” grafada com a letra “g” tem
por objetivo
a) valorizar usos informais caracterizadores da norma nacional.
b) confirmar o uso da norma-padrão em contexto da linguagem poética.
c) enfatizar um processo recorrente na transformação da língua portuguesa.
d) registrar a diversidade étnica e linguística presente no território brasileiro.
e) reafirmar discursivamente a forte relação do falante com seu lugar de origem.

Resolução

No poema, a repetição da expressão “meu lugar”, associada ao topônimo “Gerimum” (grafado com g
em vez de j, como seria recomendado pela norma-padrão, enfatiza a forte relação do eu lírico com seu
lugar de origem. Dessa forma, o poema revela uma forte relação entre a fala e a região de sua produção,
marcando essa variação como típica daquele lugar e de forma tão representativa que vira motivo de or-
gulho do eu lírico para representar a sua terra. Assim, é correta a alternativa e.

Para concluir

LÍNGUA PORTUGUESA
Você estudou:
• as línguas são dinâmicas e sofrem alterações constantes, promovidas pelos próprios falantes;
• as diferentes formas de uso da língua não devem ser hierarquizadas nem menosprezadas por nenhum
outro falante;
• o preconceito linguístico no Brasil é muito presente e está associado à nossa grande variedade linguís-
tica e à estrutura nobiliárquica da nossa sociedade;
• um texto pode ser enunciado de maneira objetiva, para ser elucidativo e direto, ou subjetiva, com in-
MÓDULO 4

tuitos artísticos ou expressivos.

179
Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.
1. (UEL-PR) Leia o fragmento retirado da obra Eles não IV. O texto teatral dialoga com seu público-alvo. Em
usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. muitos textos escritos, encontram-se “pegadas” da
fala a fim de persuadir o leitor e torná-lo participan-
TIÃO – Papai… te ativo da mensagem em seu papel de interlocutor.
OTÁVIO – Me desculpe, mas seu pai ainda não che-
gou. Ele deixou um recado comigo, mandou dizê pra você Assinale a alternativa correta.
que ficou muito admirado, que se enganou. E pediu pra a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
você tomá outro rumo, porque essa não é casa de fura-greve! b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
TIÃO – Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
não foi por covardia!
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
OTÁVIO – Seu pai me falou sobre isso. Ele também
procura acreditá que num foi por covardia. Ele acha que e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
você até que teve peito. Furou a greve e disse pra todo
mundo, não fez segredo. Não fez como o Jesuíno que fu- 2.
rou a greve sabendo que tava errado. Ele acha, o seu pai,
que você é ainda mais filho da mãe! Que você é um traidô Gírias das redes sociais caem na boca do povo
dos seus companheiro e da sua classe, mas um traidô que
Nem adianta fazer a egípcia! Entendeu? Veja o glossário
pensa que tá certo! Não um traidô por covardia, um traidô
com as principais expressões da internet
por convicção!
Lacrou, biscoiteiro, crush. Quem nunca se deparou
TIÃO – Eu queria que o senhor desse um recado a
com ao menos uma dessas palavras não passa muito tem-
meu pai…
po nas redes sociais. Do dia para a noite, palavras e fra-
OTÁVIO – Vá dizendo.
ses começaram a definir sentimentos e acontecimentos,
TIÃO – Que o filho dele não é um “filho da mãe”. e o sucesso desse tour foi parar no vocabulário de muita
Que o filho dele gosta de sua gente, mas que o filho dele gente. O dialeto já não se restringe só à web. O con-
tinha um problema e quis resolvê esse problema de ma- tato constante com palavras do ambiente on-line acaba
neira mais segura. Que o filho dele é um homem que rompendo a barreira entre o mundo virtual e o mundo
quer bem! real. Quando menos se espera, começamos a repetir, em
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. 36. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2019. p. 101-102. (Adaptado.)
conversas do dia a dia, o que aprendemos na internet.
A partir daí, juntamos palavras já conhecidas do nosso
Acerca dos recursos linguístico-semânticos utilizados no idioma às novas expressões.
texto, considere as afirmativas a seguir. Glossário de expressões
I. A língua escrita é a mais “correta”, enquanto a lín- Biscoiteiro: alguém que faz de tudo para ter atenção o
gua oral é repleta de “erros”, “falhas”, “inculta”, o tempo inteiro, para ter curtidas.
que pode ser comprovado pelos exemplos: “Me Chamar no probleminha: conversar no privado.
desculpe”, “dizê”, “tomá”, “traidô”.
Crush: alguém que desperta interesse.
II. Há no texto uma influência da oralidade. Na língua,
Divou: estar muito produzida, sair bem em uma foto,
as expressões distinguem-se geográfica, social e
assim como uma diva.
historicamente. A fala espontânea varia da mesma
forma: não há as mesmas atitudes linguísticas na Fazer a egípcia: ignorar algo.
burguesia e na classe operária, na conversação de Lacrou/sambou: ganhar uma discussão com bons argu-
adultos e na de adolescentes. mentos a ponto de não haver possibilidade de resposta.
III. Os termos “dizê”, “acreditá”, “traidô”, “tava” e Stalkear: investigar sobre a vida de alguém nas redes
“resolvê” são exemplos da variedade linguística do sociais.
grupo social retratado no texto teatral. Disponível em: https://odia.ig.com.br. Acesso em: 19 jun. 2019. (Adaptado.)

180
Embora migrando do ambiente on-line para o vocabu- d) foi beneficiado pelo ensino bilíngue em seu território.
lário das pessoas fora da rede, essas expressões não e) está sujeito a imposições linguísticas de outros povos.
são consideradas como características do uso padrão
da língua porque 4.
a) definem sentimentos e acontecimentos corriqueiros
na web. Piquititim
b) constituem marcas específicas de uma determinada
Se eu fosse um passarim
variedade.
Destes bem avoadô
c) passam a integrar a fala das pessoas em conversas co-
Destes bem piquititim
tidianas.
Assim que nem beija-flor
d) são empregadas por quem passa muito tempo nas
Avoava do gaim e assentava sem assombro
redes sociais.
Nas grimpinha do seu ombro
e) complementam palavras e expressões já conhecidas
Mode beijá seus beicim
do português.
E se ocê deixasse as veiz
3. Com um fio do seu cabelim
Muitos imigrantes de Hunsrück, localizada no sudoes- No prazo de quaiz um mês
te da Alemanha, chegaram ao Brasil no século 19 trazendo
Eu fazia nosso nin
consigo uma variante do alemão, o hunsrückisch. Em con-
Aí sei que dessa veiz
tato com o português, essa variante se fundiu com algumas
palavras, dando origem a uma nova língua falada no Brasil Em poquim tempo dispoiz
há quase 200 anos, considerada uma língua de imigração. Nóis largava de ser dois
A partir de 2007, línguas de imigração se tornaram Pra ser quatro, cinco ou seis
línguas cooficiais em 19 municípios, sendo ensinadas nas CARNEIRO, H.; MORAIS, J. E. Disponível em: www.palcomp3.com.br.
Acesso em: 3 jul. 2019.
escolas municipais. Em 2012, o hunsrückisch se tomou pa-
trimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, falado A estratégia linguística predominante na configuração re-
também em Santa Catarina e no Espírito Santo. gional da linguagem representada na letra de canção é o(a)
Disponível em: www.dw.com. Acesso em: 11 jun. 2019. (Adaptado.)
a) ausência da marca de concordância nominal.
Ao informar que o hunsrŸckisch é falado em algumas re- b) redução da sílaba final de determinadas palavras.
giões do país, o texto revela que o Brasil c) emprego de vocabulário característico da fauna brasi-
a) foi subordinado à cultura alemã. leira.
b) é caracterizado pelo plurilinguismo. d) uso da regra variável de concordância verbal.
c) foi consagrado por sua diversidade linguística. e) supressão do R na sílaba final dos vocábulos.

Aprofundando o conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.
1. (Uece) E do mulato sabido
Texto 1 Mas o bom negro e o bom branco
Pronominais Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Dê-me um cigarro
MÓDULO 4

Deixa disso camarada


Diz a gramática Me dá um cigarro.
Do professor e do aluno ANDRADE, Oswald. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

181
Texto 2 (fala boa, em tupi), que continua na boca de cerca de
30 000 índios e caboclos no Amazonas. Sem falar da gran-
Samba do Arnesto de influência que teve no desenvolvimento do português
O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás e da cultura do Brasil. “Ele vive subterraneamente na fala
Nóis fumo e não encontremos ninguém dos nossos caboclos e no imaginário de autores fundamen-
tais das nossas letras, como Mário de Andrade e José de
Nóis vortemo cuma baita duma reiva
Alencar”, disse à SUPER Alfredo Bosi, um dos maiores
Da outra veiz nóis num vai mais
estudiosos da Literatura do país. “É o nosso inconsciente
Nóis não semos tatu! selvagem e primitivo.”
Outro dia encontremo com o Arnesto Todo dia, sem perceber, você fala algumas das 10 000
Que pidiu descurpa mais nóis não aceitemos palavras que o tupi nos legou. Do nome de animais, como
Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa jacaré e jaguar, a termos cotidianos como cutucão, mingau
Mais você devia ter ponhado um recado na porta e pipoca. É o que sobrou da língua do Brasil.
Anssim: “Ói, turma, num deu prá esperá A língua do Brasil. Superinteressante, São Paulo, 31 out. 2016. Disponível em:
https://super.abril.com.br/cultura/a-lingua-do-brasil/. Acesso em: 8 jun. 2022.
A vez que isso num tem importância, num faz má
Depois que nóis vai, depois que nóis vorta A formação do que hoje denominamos Língua
Assinado em cruz porque não sei escrever Portuguesa foi condicionada
Arnesto” a) pela vontade dos indígenas em aprender a religião
BARBOSA, Adoniran, Gravações Elétricas Continental S/A, 1953. dos portugueses.
b) pelo interesse dos portugueses em aprimorar o saber
A variação linguística pode revelar muitas informações
linguístico dos índios.
acerca de quem a está utilizando. Valendo-se desse fe-
nômeno, o autor do texto 2 apresenta o eu lírico como c) pela percepção dos indígenas de que as suas línguas
alguém que não domina a norma culta brasileira, por precisavam aperfeiçoar-se.
misturar traços da linguagem caipira com a fala de imi- d) pelo desejo unilateral dos indígenas em aprender
grantes italianos de conhecidos bairros paulistas para fi- uma nova língua com os portugueses.
gurativizar o personagem. Atente para o que se diz a e) pela distribuição espacial das línguas indígenas, que
seguir sobre variação linguística: era anterior à chegada dos portugueses.
I. As línguas têm formas variáveis e há usos de deter-
minada variedade em uma sociedade formada por 3. Leia os textos a seguir.
uma heterogeneidade de falantes advindos de lu- Texto 1
gares distintos, a exemplo de São Paulo.
II. Os aspectos mais perceptíveis da variação linguís-
Bixinho
tica são a pronúncia e o vocabulário, mas pode-se
apontar, no texto 2, variações em todos os níveis Ô, bixinho
da língua. Eu te conheço de outra vida
III. O fenômeno da variação é complexo e o princípio Meu sentimento é repartido
de adequação à identidade de quem utiliza, a situa- Um pedaço é pra você
ção comunicativa e outros fatores podem intervir.
Me contento
É correto o que se afirma em Em te ter bem devagarzinho
a) I e II apenas. c) II e III apenas. Fazer um amor bem gostosinho
b) I e III apenas. d) I, II e III. Pra gente só se divertir

Eu nunca senti
2. Leia o texto a seguir.
Em sua forma original, o tupi, que até meados do sécu- Desapego por ninguém
lo XVII foi o idioma mais usado no território brasileiro, não Com você experimentei
existe mais. Mas há uma variante moderna, o nheengatu Não resisti

182
Ei, meu bem entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão
Com esse sotaque cê me deixa louca da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-
[…] -transporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros.
Disponível em: www.letras.mus.br/duda-beat/bixinho/. Acesso em: 8 jun. 2022. O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que
um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por to-
Texto 2 das as razões sociais que a gente bem conhece.
Bixinho, bolo de rolo e arretado. Se você convive dia- Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de
riamente com esses termos, provavelmente é ambientado desesperança os leitores, os números rendem manchete,
na região Nordeste. As palavras e expressões que vêm car- mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só
regadas de um sotaque firme e marcante fazem parte da es- há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na
sência do primeiro disco da carreira musical de Duda Beat, desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os pon-
Sinto Muito. Coração no Recife e mente no Rio de Janeiro tos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país.
fizeram da cantora o nome destaque entre os jovens músi- SÁ, Xico. A vidinha sururu da desigualdade brasileira. El Pa’s, 28 out. 2019. Disponível
cos do país no ano de 2018. Tal mérito foi oficializado pela em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/opinion/1572287747_637859.html.
Acesso em: 25 maio 2020.
Associação Paulista de Críticos de Artes, que a premiou na
categoria Revelação da Música Brasileira. Assinale a alternativa que identifica corretamente recur-
VERÍSSIMO, Isabela. Autenticidade, sotaque e amor próprio: a consolidação de
Duda Beat. JC, 30 dez. 2018. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/canal/cultura/
sos linguísticos explorados pelo autor nessa crônica.
musica/noticia/2018/12/30/autenticidade-sotaque-e-amor-proprio-a-consolidacao-de
-duda-beat-367139.php. Acesso em: 8 jun. 2022. a) Uso de verbos no imperativo, linguagem informal,
texto impessoal.
A música, ao utilizar registros linguísticos regionais, b) Marcas de coloquialidade, uso de primeira pessoa,
a) facilita a disseminação de um novo vocabulário a ser linguagem objetiva.
utilizado no dia a dia dos brasileiros. c) Marcas de oralidade, uso expressivo de recursos orto-
b) limita-se a um público específico que conhece a se- gráficos, subjetividade do autor.
mântica do léxico daquela região. d) Uso de variação linguística, linguagem neutra, apelo
c) auxilia na desconstrução da normatividade linguística ao tom coloquial.
em torno de registros linguísticos mais aceitos.
d) contribui para o preconceito linguístico em relação ao 5.
falar do nordestino.
A carta da Terra
e) evidencia que a língua é um código vivo e completa-
mente diferente de região pra região. PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da
4. (Unicamp-SP) Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o
Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante seu futuro. Para seguir adiante, devemos reconhecer que,
talvez seja desigualdade. E nem é uma boa palavra, inco- no meio de uma magnífica diversidade de culturas e for-
moda. Começa com des. Des de desalento, des de deses- mas de vida, somos uma família humana e uma comuni-
pero, des de desesperança. Des, definitivamente, não é um dade terrestre com um destino comum. Para chegar a este
bom prefixo. propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, decla-
Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não remos nossa responsabilidade uns com os outros, com a

LÍNGUA PORTUGUESA
importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar grande comunidade da vida e com as futuras gerações.
muito nela. PRINCÍPIOS
De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas I. Respeitar e cuidar da comunidade da vida.
está escrita no destino de todos os busões da cidade, sen-
II. Proteger e restaurar a integridade ecológica.
tido centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano
III. Promover a justiça social e econômica.
Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem
IV. Fortalecer a democracia, a não violência e a paz.
MÓDULO 4

gente com fome, tem gente com fome, tem gente com
fome”, somente com esses substantivos. Você ainda não O CAMINHO ADIANTE
conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de

183
uma nova reverência face à vida e pelo compromisso fir- A verdade é que nenhum telefone celular me suporta.
me de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta Já tentei de todas as marcas e operadoras, apenas para
pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida. descobrir que eles são todos iguais: na primeira oportu-
Disponível em: www.mma.gov.br. Acesso em: 3 dez. 2017. (Adaptado.) nidade, dão no pé. Esse último aproveitou que eu estava
distraído e não desceu do táxi junto comigo. Ou será que
Analisando a estrutura composicional do texto, perce- ele já tinha pulado do meu bolso no momento em que eu
be-se que ele se insere na esfera embarcava no táxi? Tomara que sim. Depois de fazer o
a) institucional, pois propõe regras de conduta para al- que me fez, quero mais é que ele tenha ido parar na sar-
cançar a sustentabilidade da vida na Terra. jeta. […] Se ainda fossem embora do jeito que chegaram,
b) pessoal, pois manifesta subjetividade diante da injus- tudo bem. […] Mas já sei o que vou fazer. No caminho
tiça social e econômica dos povos da Terra. da loja de celulares, vou passar numa papelaria. Pensando
c) publicitária, porque conclama a sociedade para parti- bem, nenhuma das minhas agendinhas de papel jamais
cipar de ações relacionadas à preservação ambiental. me abandonou.
FREIRE, R. Começar de novo. O Estado de S. Paulo, 24 nov. 2006.
d) científica, pois relata fatos concretos sobre a real si-
tuação do meio ambiente em diferentes pontos do Nesse fragmento, a fim de atrair a atenção do leitor e
planeta. de estabelecer um fio condutor de sentido, o autor uti-
e) jornalística, pois apresenta títulos e subtítulos para liza-se de
organizar as informações sobre a relação do homem a) primeira pessoa do singular para imprimir subjetivida-
com o planeta. de ao relato de mais uma desilusão amorosa.
b) ironia para tratar da relação com os celulares na era
6.
de produtos altamente descartáveis.
Aconteceu mais de uma vez: ele me abandonou.
c) frases feitas na apresentação de situações amorosas
Como todos os outros. O quinto. A gente já estava junto há
estereotipadas para construir a ambientação do texto.
mais de um ano. Parecia que dessa vez seria para sempre.
Mas não: ele desapareceu de repente, sem deixar rastro. d) quebra de expectativa como estratégia argumentati-
Quando me dei conta, fiquei horas ligando sem parar – va para ocultar informações.
mas só chamava, chamava, e ninguém atendia. E então fiz e) verbos no tempo pretérito para enfatizar uma aproxi-
o que precisava ser feito: bloqueei a linha. mação com os fatos abordados ao longo do texto.

Anotações

184
MÓDULO

RECURSOS EXPRESSIVOS
5
E USOS CRIATIVOS
DA LINGUAGEM
OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Reconhecimento e uso de recursos expressivos por meio das linguagens
• Figuras de linguagem

HABILIDADES
• (EM13LGG101) Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas dife-
rentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses pessoais e coletivos.
• (EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na leitura/
escuta, considerando a construção composicional e o estilo do gênero, usando/reconhecendo
adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a con-
tinuidade do texto e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as
condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência;
tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
• (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha
de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposição de palavras,
dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.

185
Para começar

O trecho seguinte foi extraído de uma entrevista fictícia feita por Rubem Braga com Machado de Assis,
cujas respostas foram transcritas de muitas de suas obras.
[…]
— E o trabalho?
— “O trabalho é honesto, mas há outras ocupações pouco menos honestas e muito mais lucrativas.”
— E a herança?
— “Há dessas lutas terríveis na alma de um homem. Não, ninguém sabe o que se passa no interior de um so-
brinho, tendo de chorar a morte de um tio e receber-lhe a herança. Oh, contraste maldito! Aparentemente tudo se
recomporia, desistindo o sobrinho do dinheiro herdado; ah! mas então seria chorar duas coisas: o tio e o dinheiro.”
[…]
BRAGA, Rubem. Entrevista com Machado de Assis. Revista Prosa Verso e Arte, 10 jun. 2022.
Disponível em: www.revistaprosaversoearte.com/entrevista-com-machado-de-assis-rubem-braga/. Acesso em: 12 abr. 2022.

Ao aproveitar as citações de fragmentos de textos de Machado de Assis, Rubem Braga compôs a entre‑
vista por meio de um processo intertextual de estilização. Com isso, ele não só prestou uma homenagem a
Machado, como também produziu uma entrevista dotada de inventividade e criatividade.
Ao descobrir que a estilização conferiu criatividade ao texto de Rubem Braga, você consegue apontar o
recurso criativo presente nas falas de Machado de Assis? Identificou a ironia como procedimento estético?
Seria capaz de explicar o significado dessas ironias?
Na primeira frase, apesar de aparentemente sugerir uma defesa do trabalho honesto, Machado, na ver‑
dade, incita a busca de meios mais lucrativos, apesar de ilícitos. Na segunda, afirma que a falsa possibilidade
de desistência da herança decorrente da morte de um tio poderia ser capaz de restabelecer a paz de espí‑
rito de um sobrinho atormentado; no entanto, deseja, de fato, sugerir que ele ficaria muito feliz pelo ganho
do patrimônio.
A partir de agora, vamos investigar alguns dos principais recursos estéticos da língua: as figuras de
linguagem.

Para retomar

As figuras de linguagem
As figuras de linguagem decorrem das variadas formas de expressão que não obedecem aos padrões da
linguagem convencional. Essas formas de desestabilização podem se manifestar em três planos: o semântico
(do sentido), o sintático (da estrutura do enunciado) e o fonético (do som). Leia o esquema a seguir.

186
metáfora
de som de palavra
metonímia
Figuras de
de sintaxe
linguagem
ironia
de sentido
eufemismo
prosopopeia
hipérbole
de pensamento
gradação
sinestesia
antítese
paradoxo

Lembramos que existem outras classificações possíveis além das apresentadas. Como há uma enorme
quantidade de figuras, escolhemos trabalhar, neste módulo, as figuras de substituição e de pensamento, as
quais decorrem de modificações, intensificações e substituições de palavras ou ideias.

Metáfora
Metáfora é uma figura de linguagem que se vale da substituição de uma ideia por um signo (verbal ou
não) que remete subjetiva e implicitamente a essa ideia. Veja os exemplos:
A final do campeonato foi uma guerra.
Muito mascarado esse jogador, hein!
Na seguinte tirinha de Frank e Ernest, Bob Thaves utiliza a metáfora para dar ao texto o efeito de humor
pretendido.

Frank & Ernest, Bob Thaves © 2003 Thaves/


Dist. by Andrews McMeel Syndication

Trata‑se, portanto, de uma relação de comparação implícita entre dois elementos ou duas ideias. A metá‑
fora pode se apresentar de forma direta (metáfora impura), como em “A Amazônia é o pulmão do planeta”, ou
de forma indireta (metáfora pura), como em “O pulmão do planeta está ameaçado de destruição”.

LÍNGUA PORTUGUESA
ATENÇÃO!
Damos o nome catacrese ao processo no qual, em razão da inexistência ou do desconhecimento de um nome, os
falantes passam, por analogia, a denominar objetos. Como não cumpre nenhum objetivo estético, a catacrese não cau‑
sa o impacto expressivo da metáfora.
O cão roeu o pé da mesa.
Coloquei um fio de óleo na frigideira.
MÓDULO 5

Estou com uma afta no céu da boca.

187
Símile ou comparação
À comparação entre dois termos de naturezas distintas por meio de conectivo damos o nome de símile
(ou apenas comparação). Diferentemente da metáfora, a símile acontece por meio de uma estrutura coesiva
que explicita a comparação.
Eles se completam que nem feijão com arroz.
Rubens é mais lento do que um cágado.
Veja como Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, empregou a símile em um dos poemas da
obra O pastor amoroso.
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo, tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
PESSOA, Fernando. O pastor amoroso. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/vo000006.pdf. Acesso em: 10 abr. 2022.

Note que, para que a símile seja uma figura de linguagem, é fundamental que a comparação seja feita en‑
tre dois elementos que não possuam relação objetiva de sentido entre si. Assim, dizer que “Joana é tão alta
quanto Maria” não é, de forma alguma, conotação.

Metonímia
Metonímia é a figura de linguagem que consiste na substituição de um termo por outro com o qual já
existe uma relação objetiva e direta de sentido, à qual chamamos contiguidade.
• Emprego da marca pelo produto:
Preciso de cotonete para ajudar a espalhar o produto na pele.
• Emprego do “possuidor” pelo “possuído”:
Vou ao barbeiro todo mês.
Cherries/Shutterstock/ADUR-RJ S. SIND

Os objetos
relacionados à posse
do professor servem
para substituí‑lo.

188
• Emprego do conteúdo pelo continente, e vice-versa:
Diz-se que uma taça de vinho por dia faz bem.
Passe-me o açúcar, por favor.
• Emprego do concreto pelo abstrato, e vice-versa.
Sempre foi meu braço direito.
Respeite a velhice.
• Emprego do efeito pela causa, e vice-versa:
Respeite meus cabelos brancos.
Vivo do meu trabalho.
• Emprego da parte pelo todo, e vice-versa.
Tenho duas bocas para alimentar em casa.
• Emprego do singular pelo plural, e vice-versa:
O brasileiro é apaixonado por carro.
As chuvas vieram fortes.
Note que a maioria dos casos de metonímia não carrega substancial expressividade tendo em vista a
relação extremamente objetiva e direta entre substituto e substituído. Quando comparamos metáfora e
metonímia, percebemos que, apesar de ambas serem figuras de substituição, elas se diferenciam porque a
segunda traz uma substituição tão objetiva e direta que chega a passar despercebida.

Sinestesia
Sinestesia é a figura de linguagem representada pela combinação entre diferentes sentidos ou sensa‑
ções. Em “A doce luz da manhã ilumina o terraço”, por exemplo, a sinestesia reside na relação entre o adje‑
tivo “doce” (paladar) e o substantivo “luz” (visão). Veja esse recurso nos versos de Casimiro de Abreu.
[…]

Seu rosto é formoso, seu talhe elegante,


Seus lábios de rosa, a fala é de mel,
As tranças compridas, qual livre bacante,
O pé de criança, cintura de anel;
— Os olhos rasgados são cor das safiras,
Serenos e puros, azuis como o mar;
Se falam sinceros, se pregam mentiras,
Não quero, não posso, não devo contar!

[…]

LÍNGUA PORTUGUESA
ABREU, Casimiro. “Segredos”. In: Grandes poetas rom‰nticos do Brasil. São Paulo: LEP, 1959.
Disponível em: www.escritas.org/pt/t/13094/segredos. Acesso em: 12 abr. 2022.

Ironia
A figura por meio da qual se afirma o contrário daquilo que realmente se pensa é denominada ironia.
Evidentemente, a ironia só pode ser inferida por meio do contexto. Se o rendimento da turma após uma ava‑
liação for baixo, e o professor diz “Vocês mandaram muito bem, a média da turma foi 4.”, podemos afirmar
que se produziu uma crítica irônica à performance da turma.
MÓDULO 5

Na tirinha a seguir, a construção da ironia exige diferenciar a intenção da personagem Níquel Náusea e
do seu autor Fernando Gonsales.

189
© Fernando Gonsales/Acervo do cartunista
GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de S.Paulo. São Paulo, 7 mar. 2011.

Na última fala, despropositalmente, a personagem produziu uma ironia em razão de julgar que elaborou
uma metáfora, embora, de fato, tenha se expressado de modo denotativo. Portanto, não há intenção da per‑
sonagem em ser irônica, mas sim do autor.
De forma mais ampla, as bancas de vestibular têm utilizado o termo “ironia” como procedimento de ma‑
nifestações de chiste, humor, deboche ou zombaria.

Eufemismo
Existe eufemismo sempre que se tenta, linguisticamente, atenuar uma ideia desagradável, constituindo
uma estratégia eficaz de argumentação. Caso clássico é o da utilização do eufemismo para suavizar a ideia de
morte, como atestam os exemplos: “passar desta para melhor”, “descansar na paz eterna”, “entrar na casa
do Senhor” ou, como disse Machado de Assis, “estudar a geologia dos campos santos”. Observe o empre‑
go de eufemismos neste fragmento:
E disse [Deus]: Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho.
E Sara escutava à porta da tenda, que estava atrás dele.
E eram Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia cessado o costume das mulheres.
Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o
meu senhor já velho?
[…]
E concebeu Sara, e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha falado.
Disponível em: www.bibliaonline.com.br. Acesso em: 12 maio 2022.

No trecho, afirma‑se que Abraão e Sara já estavam “adiantados em idade” e que a Sara “já havia cessa‑
do o costume das mulheres”. Essas expressões são eufemismos que remetem, respectivamente, à velhice e
ao ciclo menstrual.

Personificação ou prosopopeia
A personificação (também conhecida como prosopopeia ou animismo) é a figura por meio da qual se
conferem atributos, vozes ou sentimentos humanos a seres inanimados ou abstratos.
Repare como, no trecho a seguir, do romance O corti•o, de Aluísio Azevedo, o narrador dota a pedreira
de vida e sentimentos (em especial, certa arrogância), de modo a construir uma cena em que ela estaria em
confronto com os trabalhadores, que – impotentes – estariam tentando levá‑la abaixo.
Daí à pedreira, restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de
pedra moída que sujava como a cal. […] Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados
de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revol-
tados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a to-
dos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem
as entranhas de granito.
AZEVEDO, Aluísio de. O corti•o. 25. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 48.

190
Hipérbole
Hipérbole é a figura de linguagem que engrandece ou diminui exageradamente a realidade, resultando
em ênfase expressiva. Leia o trecho a seguir, de Castro Alves.
[…] ‘Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu’eu fique
Oh! minh’amante, onde estás?... Solitário nesta vida...
Vem! É tarde! Por que tardas? Mas por que tardas, querida?...
São horas de brando sono,
Já tenho esperado assaz...
Vem reclinar-te em meu peito
Vem depressa, que eu deliro
Com teu lânguido abandono!...
‘Stá vazio nosso leito...
[…]
ALVES, Castro. Espumas flutuantes. “Onde estás”. 1870. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000627.pdf. Acesso em: 12 maio 2022.

O eu poético, no início do trecho, lamenta a ausência da mulher amada no momento do sono, quan‑
do se encontra sozinho, no quarto. Para ampliar a sensação de solidão, ele utiliza a hipérbole “Stá vazio o
mundo inteiro”.

Gradação
A gradação consiste na sequenciação de termos que produzem o aumento ou a diminuição de uma ideia.
Não se trata, portanto, da mera enumeração de elementos, mas da disposição deles com o intuito de grada‑
tivamente construir o sentido pretendido.
Os versos seguintes pertencem ao poema “O desfecho”, no qual Machado de Assis recria o mito de
Prometeu, que foi acorrentado a uma rocha por ter irritado Zeus ao dar o fogo aos homens. A gradação pro‑
duzida serve para destacar o longo tempo de sofrimento de Prometeu.
Prometeu sacudiu os braços manietados
E súplice pediu a eterna compaixão,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,


Uns cingidos de luz, outros ensanguentados...
[…]
ASSIS, Machado de. Ocidentais. 1880. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000217.pdf. Acesso em: 12 abr. 2022.

Antítese
A antítese combina palavras ou expressões que pertencem a campos semânticos opostos. Em muitas si‑
tuações, essa figura de linguagem é construída dentro de contexto específico, e não fora dele. Nos versos a

LÍNGUA PORTUGUESA
seguir, Alceu Wamosy elabora uma antítese entre a frieza da estrada e a quentura do quarto.
[…]
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.
MÓDULO 5

[…]
WAMOSY, Alceu. Poesia completa. Porto Alegre: Alves Ed./IEL: EDIPUCRS, 1994. p. 14.
Disponível em: www.escritas.org/pt/t/12515/duas-almas. Acesso em: 12 abr. 2022.

191
Paradoxo
Paradoxo é caracterizado pela sobreposição de ideias opostas de modo a criar uma contradição ou uma
imagem ilógica. Ainda que haja palavras em antítese em segmentos paradoxais, o paradoxo extrapola a
mera oposição de palavras e configura a conciliação de imagens incongruentes entre si. Observe as duas
imagens paradoxais produzidas por Gregório de Matos.
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
[…]
MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Greg—rio de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

pH resolve

A questão a seguir compôs a edição 2020 do Enem.

Reprodu•‹o/Enem, 2020.

Disponível em: www.bhaz.com.br.


Acesso em: 14 jun. 2018.

Essa campanha de conscientização sobre o assédio sofrido pelas mulheres nas ruas constrói‑se pela com‑
binação da linguagem verbal e não verbal. A imagem da mulher com o nariz e a boca cobertos por um lenço
é a representação não verbal do(a)
a) silêncio imposto às mulheres, que não podem denunciar o assédio sofrido.
b) metáfora de que as mulheres precisam defender‑se do assédio masculino.
c) constrangimento pelo qual passam as mulheres e sua tentativa de esconderem‑se.
d) necessidade que as mulheres têm de passarem despercebidas para evitar o assédio.
e) incapacidade de as mulheres protegerem‑se da agressão verbal dos assediadores.

192
Resolução
Caso lêssemos a imagem da mulher sem qualquer relação com o texto verbal, poderíamos entendê‑la
como o silenciamento da mulher devido à impossibilidade de a mulher se manifestar. No entanto, essa leitura
torna‑se incoerente quando se relaciona a imagem às palavras. Isso faz que descartemos as alternativas a e e.
Ao associar texto verbal e não verbal, a metáfora do “campo de batalha” – caracterizando a rua como es‑
paço de resistência aos assédios ou às agressões verbais e físicas – faz com que a imagem da mulher colo‑
cando uma espécie de máscara seja lida como uma combatente ou manifestante que se prepara para lidar
com inimigos. Não se trata, portanto, de se esconder para se preservar, mas de compor‑se como muitos que
se camuflam ou não se revelam quando participam de eventos revolucionários ou questionadores. Assim, po‑
demos eliminar as alternativas c e d para chegar à resposta correta: alternativa b.

Para concluir

Você estudou:
• as figuras de linguagem e sua divisão em três tipos: de som, de sintaxe e de sentido;
• as figuras de linguagem de sentido, que são classificadas em figuras de palavra (metáfora, compara‑
ção, metonímia e sinestesia) e de pensamento (ironia, eufemismo, prosopopeia, hipérbole, gradação,
antítese e paradoxo).

Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.
1. Na construção do soneto, as cores representam um recurso
poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico
O pav‹o vermelho
a) revela a intenção de isolar‑se em seu espaço.
Ora, a alegria, este pavão vermelho, b) simboliza a beleza e o esplendor da natureza.
está morando em meu quintal agora. c) experimenta a fusão de percepções sensoriais.
Vem pousar como um sol em meu joelho
d) metaforiza a conquista de sua plena realização.
quando é estridente em meu quintal a aurora.
e) expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.

Clarim de lacre, este pavão vermelho 2. (UPF‑RS) Leia o excerto e considere, para a construção
sobrepuja os pavões que estão lá fora. de seu sentido, as figuras de linguagem. Em seguida, as‑
sinale a alternativa que indica qual figura de linguagem
É uma festa de púrpura. E o assemelho
predomina no excerto.
a uma chama do lábaro da aurora.
A faceta política do medo da morte e do abandono con-

LÍNGUA PORTUGUESA
siste numa presença maior do Estado como provedor da se-
É o próprio doge a se mirar no espelho. gurança perdida, enquanto possível solução de uma morte
E a cor vermelha chega a ser sonora prematura e do abandono. Numa situação de epidemia,
neste pavão pomposo e de chavelho. as pessoas tendem a pedir a intervenção do Estado, forne-
cendo-lhes condições de existência. Na guerra, o Estado
Pavões lilases possuí outrora. toma a decisão de atacar outro país ou de se defender; na
epidemia, a sociedade é atacada por um inimigo invisível,
MÓDULO 5

Depois que amei este pavão vermelho,


sem que o Estado nada tenha podido fazer.
os meus outros pavões foram-se embora.
ROSENFIELD, Denis Lerrer. A pandemia, o sentido da vida e a política. O Estado de S. Paulo,
COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: 30 mar. 2020. Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,
Conselho Estadual de Cultura, 2001. a-pandemia-o-sentido-da-vida-e-a-politica,70003252502. Acesso em: 30 mar. 2020.
193
a) Metáfora, já que está sendo empregado um sentido — Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe
incomum a uma expressão “guerra”, a partir de uma que eu conto!
relação de semelhança com “a situação de epidemia”. TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979. (Fragmento.)

b) Hipérbole, uma vez que há substituição lógica de uma


Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressi‑
palavra por outra semelhante (“epidemia” por “guer‑
vos, essa crônica tem um caráter
ra”), mas é mantida uma relação de proximidade en‑
tre o sentido de um termo e o sentido do termo que a) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos
o substitui. vizinhos.
c) Prosopopeia ou personificação, já que está sendo b) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da
atribuída ação, qualidade ou sentimentos humanos vizinhança.
a seres inanimados, por exemplo “inimigo invisível” c) irônico, pois apresenta com malícia a convivência en‑
que, neste caso, diz respeito a um vírus. tre vizinhos.
d) Comparação, uma vez que estão sendo aproximados d) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de
dois termos (“pandemia” e “guerra”) a partir de uma vizinhança.
caracterização – em ambas as situações – do Estado.
e) didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na re‑
e) Eufemismo, já que há uma ideia expressa com exagero, lação entre vizinhos.
resultando na sua ênfase ou destaque (“guerra”).
4. (Unifesp)
3. Então começou a minha vida de milionário. Deixei
bem depressa a casa de Madame Marques – que, desde
O neg—cio que me sabia rico, me tratava todos os dias a arroz-doce,
e ela mesma me servia, com o seu vestido de seda dos do-
Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio pro- mingos. Comprei, habitei o palacete amarelo, ao Loreto: as
põe às donas que se abastecem de pão e banana: magnificências da minha instalação são bem conhecidas
— Como é o negócio? pelas gravuras indiscretas da Ilustração Francesa. Tornou-se
De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não respon- famoso na Europa o meu leito, de um gosto exuberante e
de ou é uma promessa a recusa: bárbaro, com a barra recoberta de lâminas de ouro lavrado
— Deus me livre, não! Hoje não… e cortinados de um raro brocado negro onde ondeiam, bor-
Abílio interpelou a velha: dados a pérolas, versos eróticos de Catulo; uma lâmpada,
suspensa no interior, derrama ali a claridade láctea e amo-
— Como é o negócio?
rosa de um luar de Verão.
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também
[...]
aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se
chegou: Entretanto Lisboa rojava-se aos meus pés. O pátio do
palacete estava constantemente invadido por uma turba:
— Como é o negócio?
olhando-a enfastiado das janelas da galeria, eu via lá bran-
Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa quejar os peitilhos da Aristocracia, negrejar a sotaina do
partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, Clero, e luzir o suor da Plebe: todos vinham suplicar, de lá-
duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quin- bio abjeto, a honra do meu sorriso e uma participação no
tal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de meu ouro. Às vezes consentia em receber algum velho de
viagem, estendida na grama orvalhada. título histórico: – ele adiantava-se pela sala, quase roçando
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu o tapete com os cabelos brancos, tartamudeando adulações;
imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas e imediatamente, espalmando sobre o peito a mão de fortes
fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do veias onde corria um sangue de três séculos, oferecia-me
Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho uma filha bem-amada para esposa ou para concubina.
repetiu: Todos os cidadãos me traziam presentes como a um ído-
— Como é o negócio? lo sobre o altar – uns odes votivas, outros o meu monograma
Diante da recusa, ele ameaçou: bordado a cabelo, alguns chinelas ou boquilhas, cada um

194
a sua consciência. Se o meu olhar amortecido fixava, por Bicho urbano
acaso, na rua, uma mulher – era logo ao outro dia uma carta
em que a criatura, esposa ou prostituta, me ofertava a sua Se disser que prefiro morar em Pirapemas
nudez, o seu amor, e todas as complacências da lascívia. ou em outra qualquer pequena cidade do país
Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar ad- estou mentindo
jetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime Sr. Teodoro, ainda que lá se possa de manhã
cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, desvairada, a lavar o rosto no orvalho
Gazeta das Locais chamou-me o extraceleste Sr. Teodoro! e o pão preserve aquele branco
Diante de mim, nenhuma cabeça ficou jamais coberta – sabor de alvorada.
ou usasse a coroa ou o coco. Todos os dias me era oferecida .....................................................................
uma presidência de Ministério ou uma direção de confra- A natureza me assusta.
ria. Recusei sempre, com nojo. Com seus matos sombrios suas águas
QUEIRÓS, Eça de. O mandarim. s/d.
suas aves que são como aparições
“Os jornalistas esporeavam a imaginação para achar me assusta quase tanto quanto
adjetivos dignos da minha grandeza; fui o sublime esse abismo
Sr. Teodoro, cheguei a ser o celeste Sr. Teodoro; então, de gases e de estrelas
desvairada, a Gazeta das Locais chamou‑me o extrace- aberto sob minha cabeça.
leste Sr. Teodoro!” GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991.

Nesta passagem do último parágrafo, identifica‑se uma Embora não opte por viver numa pequena cidade, o
a) hipérbole, por meio da qual o narrador enfatiza a inten‑ poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das
sidade de atenção recebida da imprensa portuguesa. pequenas comunidades. Para expressar a relação do
homem com alguns desses elementos, ele recorre à si‑
b) gradação, por meio da qual o narrador reforça a ideia de
nestesia, construção de linguagem em que se mesclam
bajulação posta em prática pelos jornais portugueses.
impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que
c) ironia, por meio da qual o narrador refuta o tratamen‑
se observa esse recurso.
to que lhe dispensavam os jornalistas portugueses.
a) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no
d) redundância, por meio da qual o narrador deixa entre‑
orvalho”
ver o modo como as pessoas lhe especulavam a vida.
b) “e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada.”
e) antítese, por meio da qual o narrador explica as con‑
c) “A natureza me assusta. / Com seus matos sombrios
tradições dos jornais portugueses ao tomarem‑no
suas águas”
como assunto.
d) “me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de
5. Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros gases e de estrelas”
da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre e) “suas aves que são como aparições / me assusta qua‑
a sua relação com as pequenas e grandes cidades. se tanto quanto”

Aprofundando o conhecimento
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco. LÍNGUA PORTUGUESA

1. (EsPCEx‑Aman‑RJ) Assinale a única alternativa que contém a) metonímia


a figura de linguagem presente no trecho sublinhado:
b) eufemismo
As armas e os barões assinalados,
c) ironia
Que da ocidental praia lusitana,
MÓDULO 5

Por mares nunca dantes navegados, d) anacoluto


Passaram ainda além da Taprobana, e) polissíndeto

195
2. (Insper‑SP) Não via, não sorria. Quando parava numa esquina,
Na semana passada, um telejornal exibiu uma matéria as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as
sobre a “morte” das lâmpadas incandescentes. O (ótimo) pernas matematicamente, os passos mediam setenta cen-
texto do repórter começava assim: “A velha e boa lâmpada tímetros, exatos, apesar de barrocas e degraus. A espinha
incandescente, mais velha do que boa...”. não se curvava, embora descesse ladei-
ras, as mãos e os braços executavam os Glossário
Hábil com as palavras, o repórter desfez a igualda-
movimentos indispensáveis, as duas barroca:
de que a conjunção aditiva “e” estabelece entre “velha”
monte de terra
e “boa” e instituiu entre esses dois adjetivos uma relação rugas horizontais da testa não se apro-
ou de barro.
de comparação de superioridade, que não se dá da forma fundavam nem se desfaziam.
costumeira, isto é, entre dois elementos (“A rua X é mais Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos,
velha do que a Y”, por exemplo), mas entre duas qualida- tratados majestosos, severos na encadernação negra
des (“velha” e “boa”) de um mesmo elemento (a lâmpada semelhante à do proprietário, empertigavam-se – e ne-
incandescente). nhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinha-
Ao dizer “mais velha do que boa”, o repórter quis di- mento rigoroso.
zer que a tal lâmpada já não é tão boa assim. Agora supo- Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à
nhamos que a relação entre “velha” e “boa” se invertesse. meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e
Como diria o repórter: “A velha e boa lâmpada incandes- jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de
cente, mais boa do que velha...” ou “A velha lâmpada in- seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30
candescente, melhor do que velha...”? ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na
Quem gosta de seguir os burros “corretores” ortográfi- linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e
cos dos computadores pode se dar mal. O meu “corretor”, arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar
por exemplo, condena a forma “mais boa do que velha” esses hábitos salutares.
(o “mestre” grifa o par “mais boa”). Quando escrevo “me- Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude,
lhor do que boa”, o iluminado me deixa em paz. E por que emanação das existências calmas, e condenou o crime, in-
ele age assim? Por que, para ele, não existe “mais bom”, feliz consequência da paixão.
“mais boa”; só existe “melhor”. Se atentássemos nas palavras emitidas por via oral, po-
CIPRO NETO, Pasquale, Folha de S.Paulo, 11 jul. 2013. deríamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os
autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
As aspas empregadas em “o mestre”, na oração “‘o mes‑ alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França
tre’ grifa o par ‘mais boa’” (último parágrafo), revelam não seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava,
a) ironia. se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
b) ênfase. considerando isso, considerando aquilo, considerando ain-
da mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo
c) reverência.
se formulava em obediência às regras – e era impossível
d) apropriação de discurso alheio. qualquer desvio.
e) inserção de termo de outro nível linguístico. Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito
redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, títulos,
3. (Unesp‑SP) Para responder à questão, leia o trecho inicial artigos e parágrafos. E o que se distanciava desses pará-
da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano grafos, artigos, títulos e capítulos não o comovia, porque
Ramos, publicada originalmente em 1943. Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.
O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha serta- RAMOS, Graciliano. Viventes das Alagoas, 1976.

neja, andava em meio século, tinha gravidade imensa, ver-


bo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas O cronista recorre à personificação no seguinte trecho:
muito finas. Vestia-se ordinariamente de preto, exigia que a) “Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos,
todos na justiça procedessem da mesma forma – e chegou tratados majestosos, severos na encadernação negra
a mandar retirar-se do Tribunal um jurado inconveniente, semelhante à do proprietário, empertigavam‑se – e
de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúne- nenhum ousava deitar‑se, inclinar‑se, quebrar o ali‑
bre, para não prejudicar a decência do veredicto. nhamento rigoroso.” (3o parágrafo)

196
b) “A espinha não se curvava, embora descesse ladei‑ que fica tudo guardado em algum lugar [...]” (Awapataku
ras, as mãos e os braços executavam os movimentos Waura, ancião e pajé do povo Waura).
indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não Adaptado de “Projeto Vidas Indígenas”, vídeo institucional do Museu da Pessoa,
sobre registro de narrativas orais indígenas. Disponível em: https://benfeitoria.com/
se aprofundavam nem se desfaziam.” (2o parágrafo) vidasindigenas. Acesso em: 4 abr. 2021.

c) “Ao afastar‑se, mexia as pernas matematicamente, os


passos mediam setenta centímetros, exatos, apesar No texto 2 (Projeto Vidas Indígenas), é utilizada uma me‑
de barrocas e degraus.” (2o parágrafo) táfora que relaciona “ancião” e “biblioteca”. As citações
a seguir tratam da importância de anciãos e anciãs in‑
d) “E o que se distanciava desses parágrafos, artigos, títu‑ dígenas para a transmissão do conhecimento. Assinale
los e capítulos não o comovia, porque Dr. França está aquela que também faz uso de uma metáfora.
livre dos tormentos da imaginação.” (7o parágrafo)
a) “Perder um ancião é o mesmo que fechar um livro.
e) “Vestia‑se ordinariamente de preto, exigia que todos Ou mesmo queimar um livro” (Comissão Pró‑Índio,
na justiça procedessem da mesma forma – e chegou a Twitter, via @g1).
mandar retirar‑se do Tribunal um jurado inconvenien‑
b) “Morte de anciãos indígenas na pandemia pode fazer
te, de roupa clara, ordenar‑lhe que voltasse razoável
línguas inteiras desaparecerem” (manchete da BBC
e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredic‑
Brasil News).
to.” (1o parágrafo)
c) “A morte de uma anciã ou um ancião é tratada como
se uma biblioteca fosse perdida” (site “Racismo
4. (Unicamp‑SP)
Ambiental”).
TEXTO 1 d) “Nikaiti Mekranotire é mais uma vítima do covid‑19.
Perdemos uma enciclopédia” (Mayalú Txucarramãe,
Reprodu•‹o/Unicamp-SP, 2022.

Twitter).

5. (UEFS‑BA)
A sinestesia consiste em aproximar, na mesma ex-
pressão, sensações percebidas por diferentes órgãos dos
sentidos.
CUNHA, Hélio de Seixas Guimarães. Figuras de linguagem, 1988.

Verifica‑se a ocorrência de sinestesia no seguinte trecho:


a) “O mistério ia desfazer‑se e o malefício ser cortado.”
BANIWA, Denilson. Repovoamento da memória de uma cidade-floresta, 2021, Mural
Lambe-lambe, 3,80 m 3 12 m. Disponível em: https://www.premiopipa.com/ b) “aquela cruciante vida de cinco anos havia de lhe ficar
wp-content/uploads/2019/03/23-DenilsonBaniwa.jpeg. Acessado em: 5 jul. 2021.
na memória como passageiro pesadelo.”
TEXTO 2 c) “correu depressa para a casa de Madame Dadá.”
Para que as memórias e tradições permaneçam vivas, o d) “Era o sol muito claro e doce, um sol de junho;”
Museu da Pessoa, a Rádio Yandê e Ailton Krenak vão rea- e) “eram as fisionomias risonhas dos transeuntes;”
lizar uma formação virtual em memória e mídias para que
jovens das comunidades originárias registrem as histórias 6. (Famema‑SP)

LÍNGUA PORTUGUESA
de vida de seus anciãos e anciãs. [...] no tempo em que se passavam os fatos que vamos
O ditado “Cada ancião que morre é uma biblioteca narrando nada mais havia comum do que ter cada casa um,
que se queima” é válido para os povos indígenas, portanto dois e às vezes mais agregados.
nosso lema é “Cada ancião que se preserva é uma biblio- Em certas casas os agregados eram muito úteis, por-
teca que se salva”. Na tradição dos povos indígenas, todo que a família tirava grande proveito de seus serviços, e já
conhecimento de plantas, de cura, de mitos e narrativas é tivemos ocasião de dar exemplo disso quando contamos
MÓDULO 5

produzido de maneira oral. “A gente não sabe até quando a história do finado padrinho de Leonardo; outras vezes
que vão ter esse conhecimento completo. A gente vai mor- porém, e estas eram maior número, o agregado, refinado
rendo e vai se apagando tudo. A gente não é igual vocês, vadio, era uma verdadeira parasita que se prendia à árvore

197
familiar, que lhe participava da seiva sem ajudá-la a dar fru- O último trovador morreu em 1914.
tos, e o que é mais ainda, chegava mesmo a dar cabo dela. Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
E o caso é que, apesar de tudo, se na primeira hipótese o
esmagavam com o peso de mil exigências, se lhe batiam a
Há máquinas terrivelmente complicadas para as ne-
cada passo com os favores na cara, se o filho mais velho
cessidades mais simples.
da casa, por exemplo, o tomava por seu divertimento, e à
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
menor e mais justa queixa saltavam-lhe os pais em cima to-
mando o partido de seu filho, no segundo aturavam quanto Paletós abotoam-se por eletricidade.
desconcerto havia com paciência de mártir, o agregado tor- Amor se faz pelo sem-fio.
nava-se quase um rei em casa, punha, dispunha, castigava Não precisa estômago para digestão.
os escravos, ralhava com os filhos, intervinha enfim nos
mais particulares negócios. Um sábio declarou a O Jornal que ainda
Em qual dos dois casos estava ou viria estar em breve falta muito para atingirmos um nível razoável
o nosso amigo Leonardo? O leitor que decida pelo que se de cultura. Mas até lá, felizmente,
vai passar.
estarei morto.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias, 1994.

A hipérbole é uma figura de linguagem que expres‑ Os homens não melhoraram


sa ideia de exagero; a metáfora, por sua vez, expressa e matam-se como percevejos.
ideia de semelhança. As passagens do segundo pará‑ Os percevejos heroicos renascem.
grafo do texto que exemplificam essas figuras são, res‑ Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
pectivamente:
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segun-
a) “Em certas casas os agregados eram muito úteis”; do dilúvio.
“chegava mesmo a dar cabo dela”.
b) “o esmagavam com o peso de mil exigências”; “que (Desconfio que escrevi um poema.)
lhe participava da seiva sem ajudá‑la a dar frutos”. ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião: 19 livros de poesia.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
c) “se lhe batiam a cada passo com os favores na cara”;
“quando contamos a história do finado padrinho de
Leonardo”. 7. (Uerj) Os dois primeiros versos enfatizam uma ideia que
d) “saltavam‑lhe os pais em cima tomando o partido será desconstruída pela leitura integral do poema, ca‑
de seu filho”; “intervinha enfim nos mais particulares racterizando uma ironia, expressa também no título.
negócios”. Transcreva o verso do texto que, em comparação com
os dois primeiros, revela essa ironia. Em seguida, esta‑
e) “se o filho mais velho da casa, por exemplo, o toma‑
beleça a relação entre o verso transcrito e o título.
va por seu divertimento”; “que se prendia à árvore
familiar”.
8. (Uerj) Em um dos versos do poema, observa‑se uma
Texto para as questões 7 a 9. aparente contradição entre dois termos. Identifique
esse verso e explique por que, de acordo com a leitu‑
O sobrevivente ra do texto, a associação entre os termos não é con‑
traditória.
Impossível compor um poema a essa altura da evolu-
ção da humanidade. 9. (Unesp‑SP) Explicite a antítese contida em “Há máqui‑
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – nas terrivelmente complicadas para as necessidades
de verdadeira poesia. mais simples.” (2a estrofe).

198
MÓDULO

6
ANÁLISE MORFOLÓGICA
EM TEXTOS

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Substantivos
• Artigos

HABILIDADE
• (EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha
de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combinação e contraposição de palavras,
dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.

199
Para começar

Nesta crônica de 16 de maio de 1885, Machado de Assis aborda, de modo crítico e irônico, o valor dos
substantivos e dos adjetivos a partir da questão dos impostos inconstitucionais de Pernambuco, os quais, se-
gundo o texto, são excelentes, exceto quando acompanhados de certo adjetivo. Leia.
[...] Você, se fosse imperador, o que é que faria?
— Eu, se fosse imperador? Isso agoira é mais complicado. Eu, se fosse imperador, a primeira coisa que faria
era ser o primeiro céptico do meu tempo. Quanto ao caso de que se trata, faria uma coisa singular, mas útil: su-
primiria os adjetivos.
— Os adjetivos?
— Vocês não calculam como os adjetivos corrompem tudo, ou quase tudo; e quando não corrompem, aborre-
cem a gente, pela repetição que fazemos da mais ínfima galanteria. Adjetivo que nos agrada está na boca do mundo.
— Mas que temos nós outros com isso?
Glossário
— Tudo. Vocês como simples impostos são excelentes, gorduchos e corados, cheios de vida
e futuro. O que os corrompe e faz definhar é o epíteto de inconstitucionais. Eu, abolindo por
epíteto: palavra ou expressão um decreto todos os adjetivos do Estado, resolvia de golpe essa velha questão, e cumpria esta
que se associa a um nome ou
pronome para qualificá-lo. máxima, que é tudo o que tenho colhido da história e da política, e que aí dou por dois vinténs
a todos os que governam este mundo: Os adjetivos passam, e os substantivos ficam.
ASSIS, Machado de. Balas de estalo. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=16926.
Acesso em: 17 maio 2022.

Esse excerto, de modo contextualizado, apresenta ao leitor a função de duas classes gramaticais: o subs-
tantivo e o adjetivo. Você consegue identificar que, segundo o autor, o substantivo é a essência, o permanen-
te, e que o adjetivo é mutável a depender das circunstâncias? A partir daí, pode identificar também a função
do artigo?
Neste módulo, dedicaremos nossos estudos morfológicos à classe do substantivo e, posteriormente, à
classe do artigo.

Para relembrar

Âmbitos de estudo da gramática


A fonética e a fonologia estudam os fonemas ou os sons da língua e suas combinações; além dos carac-
teres prosódicos da fala, como entonação e acento.
A morfologia estuda a estrutura, a formação e a classificação das palavras.
A sintaxe, por sua vez, investiga a relação entre os termos que compõem os períodos. Além do estudo das
funções sintáticas, esse campo da língua inclui a regência, a concordância, a pontuação e a colocação pronominal.

Substantivos
Releia este fragmento:
[Os adjetivos] passam, / e [os substantivos] ficam.

200
Nesse período composto por duas orações, há duas estruturas nominais entre colchetes. A palavra mais
importante de cada uma (núcleo) é um termo cuja função é nomear.

Palavra que nomeia seres, sentimentos, ações, qualidades, processos ou coisas em geral. Visto como parte
de uma estrutura, o substantivo funciona como termo mais importante das expressões nominais de que faz parte.

Essa classe gramatical pode flexionar-se em gênero, número e assumir a categoria de grau.

Classificação dos substantivos


Quanto ao significado, os substantivos podem ser classificados em concretos e abstratos.
• Concretos: designam seres, reais ou fictícios, que têm existência independente ou que o pensamento
apresenta como tal. Além disso, pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e objetos são classifica-
dos dessa forma.
Exemplos: carro, sereia, Brasil, fada, casa.
• Abstratos: designam nomes de qualidades, ações, sentimentos, estados, processos.
Exemplos: ódio, beleza, vida, fuga, amor.

Gotas de saber

Substantivo concreto ou abstrato?


Alguns substantivos, a depender do contexto, podem ser classificados como concretos ou abstratos. Leia o
texto a seguir.

Denny/Acervo do cartunista

LÍNGUA PORTUGUESA

Disponível em: https://wordsofleisure.com/2015/01/18/tirinha-do-dia-moco-eu-queria-uma-rasteirinha/. Acesso em: 22 jun. 2022.

Nesse meme, o humor nonsense é construído a partir da possibilidade de interpretar o substantivo “rastei-
MÓDULO 6

ra” como concreto – um tipo de calçado – ou abstrato – um tipo de golpe em que se mete o pé ou a perna por
entre os membros inferiores de outrem para derrubá-lo.

201
Quanto à abrangência, os substantivos podem ser classificados em comuns ou próprios.
• Comuns: designam, genericamente, um elemento de um conjunto. São escritos com letra inicial
minúscula.
Exemplos: mulher, cidade, rio, vitória.

ATENÇÃO!
Há um tipo de substantivo comum que, no singular, designa um conjunto de seres de mesma espécie. São os deno-
minados substantivos coletivos, como cambada, batalhão, coro, flora, antologia, etc.

• Próprios: designam, especificamente, um elemento de um conjunto, um ser em particular. São escritos


com letra inicial maiúscula.
Exemplos: Clarice, Paris, Nilo, Vitória.

Gotas de saber

Substantivo comum ou próprio?


Dependendo da construção linguística e do efeito de sentido pretendido, alguns substantivos podem apre-
sentar classificações diferenciadas. Leia o texto a seguir e veja um exemplo desse fenômeno.
Reprodução/G1

Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/carnaval/2017/noticia/mancha-verde-vai-homenagear-os-zes-do-


brasil-no-carnaval-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 17 maio 2022.

O nome “Zés”, nesse contexto, mesmo escrito com inicial maiúscula, designa um grupo, e não um ser indi-
vidualizado. Por isso, é classificado como substantivo comum.

O mesmo caso acontece nestas construções:

Alguns Rembrants estão expostos em Amsterdam.

Não temos Pelés como antigamente.

Vale destacar que esses exemplos são casos de metonímia, em que uma parte representa o todo; o autor
representa a obra.

Quanto à formação, os substantivos podem ser classificados em simples e compostos.


• Simples: são aqueles formados por um só radical.
Exemplos: garoto, árvore, pé, tempo, livraria, couve.

202
• Compostos: são aqueles formados por mais de um radical.
Exemplos: aguardente, supermercado, pé de moleque, pernilongo, hipertensão, couve-flor.
Quanto à origem, os substantivos podem ser classificados em primitivos e derivados.
• Primitivos: são aqueles que não se originam de outra palavra.
Exemplos: banana, flor, cabelo, mar.
• Derivados: são aqueles que se formam a partir de outras palavras.
Exemplos: bananeira, florista, floreira, cabeluda, descabelado, maremoto.

Flexão dos substantivos

Número
A maioria dos substantivos pode ser flexionada quanto ao número em:
• singular: refere-se a um único ser ou a um conjunto de seres considerado como um todo (coletivos);
• plural: refere-se a mais de um ser ou a mais de um conjunto de seres.
Exemplos:
coração ñ corações
gravidez ñ gravidezes
sociedade ñ sociedades
A desinência de número (plural), na língua portuguesa, é marcada pelo morfema -s. Logo, geralmente,
para formar o plural dos substantivos, basta acrescentá-lo aos termos. No entanto, dependendo da termina-
ção do singular, há outros procedimentos para essa formação. São estes:
• Plural dos substantivos simples.

Terminação Regra Exemplos

lei ñ leis
Em vogal, ditongo oral ou
Acrescenta-se -s mãe ñ mães
ditongo nasal
arara ñ araras

refém ñ reféns
Em -m Troca-se o -m por -ns
homem ñ homens

Acrescenta-se -s ou -es* hífen ñ hifens/hifenes*


Em -n *Terminação mais comum em português de abdômen ñ abdomens/
Portugal. abdômenes

sênior ñ seniores
Em -r ou -z Acrescenta-se -es
raiz ñ raízes

LÍNGUA PORTUGUESA
Em -s (quando oxítonas ou mês ñ meses
Acrescenta-se -es
monossílabos tônicos) país ñ países

Invariáveis* o lápis ñ os lápis


Em -s (quando paroxítonos)
*Leia boxe Atenção! a seguir. o vírus ñ os vírus
MÓDULO 6

álcool ñ álcoois
Em -al, -el, -ol e -ul Troca-se -l final por -is
papel ñ papéis

203
Terminação Regra Exemplos

barril ñ barris
Em -il (quando oxítonos) Troca-se -l por -s
funil ñ funis

fóssil ñ fósseis
Em -il (quando paroxítonos) Troca-se -l final por -eis réptil ñ répteis*
*Embora também haja a forma
reptis (oxítona).

Invariáveis* o tórax ñ os tórax


Em -x
*Leia boxe Atenção! a seguir. o clímax ñ os clímax

Transforma-se em -ões, -ãos


sótão ñ sótãos
ou -ães*
Em -ão *Não há uma regra específica a ser seguida, cão ñ cães
já que a formação de plural depende da verão ñ verões
etimologia do termo.

ATENÇÃO!
Alguns substantivos conservam a mesma grafia no singular e no plural. Nesse caso, a análise do contexto e dos de-
terminantes, se houver, ajuda na distinção do número.
Os ônibus para Saquarema passam em que horário?

Gotas de saber

Metafonia
Em alguns substantivos, a formação do plural implica não só questões morfológicas, como também fonéticas.
Nesses casos, ocorre o fenômeno da metafonia, isto é, a alternância do timbre da vogal. Veja.

Singular (ô) Plural (ós)


aposto apostos
povo povos

• Plural dos diminutivos


• Passo a passo:
1. Passa-se o substantivo para o plural: bar ñ bares
2. Retira-se a desinência -s e acrescenta-se o sufixo -zinhos(as): barezinhos
Vale ressaltar que, coloquialmente, é comum a forma “barzinhos”.

ATENÇÃO!
Há substantivos que só apresentam a forma plural: pêsames, férias, núpcias, etc.

204
• Plural dos substantivos compostos.
• Geralmente, as palavras de valor adjetivo e substantivo que formam o substantivo composto vão para
o plural; as demais não.
beija-flor ñ beija-flores
verbo-substantivo

amor-perfeito ñ amores-perfeitos
substantivo-adjetivo

guarda-civil ñ guardas-civis
substantivo-adjetivo

guarda-roupa ñ guarda-roupas
verbo-substantivo

Casos especiais
• Os substantivos compostos que são grafados ligadamente (sem hífen) fazem plural como os substan-
tivos simples.
girassol ñ girassóis pontapé ñ pontapés
• Nos compostos de substantivo + substantivo, se o segundo se relaciona com o primeiro indicando tipo
ou finalidade, só o primeiro varia.
saia-balão ñ saias-balão salário-família ñ salários-família

ATENÇÃO!
Nos casos acima, admite-se também a pluralização dos dois elementos.

• Observação: se, no mesmo caso, o segundo substantivo se relaciona com o primeiro de maneira adi-
tiva, ambos pluralizam.
cirurgião-dentista ñ cirurgiões-dentistas (cirurgiões e dentistas)
• Nos compostos ligados por preposição, só o primeiro elemento varia.
pé de moleque ñ pés de moleque água-de-colônia ñ águas-de-colônia
• Nos compostos formados de palavras repetidas (ou muito semelhantes), constituindo uma onomato-
peia, só o segundo elemento varia.
tico-tico ñ tico-ticos pingue-pongueñ pingue-pongues

Gênero
Os substantivos podem se flexionar quanto ao gênero em: uniformes ou biformes.

Uniformes

LÍNGUA PORTUGUESA
Apresentam uma só forma para os dois gêneros (masculino e feminino). Subdividem-se em comuns de
dois, epicenos e sobrecomuns.
• Comuns de dois: a oposição se faz pelo artigo.
o artista ñ a artista
• Epicenos: a oposição se faz mediante o emprego das palavras “macho” e “fêmea”.
onça macho ñ onça fêmea
MÓDULO 6

• Sobrecomuns: não existe oposição gramatical.


criança, pessoa, criatura.

205
Biformes
Apresentam duas formas para a indicação do gênero, uma para o masculino e outra para o feminino.
Variam da seguinte maneira:
• os terminados em -o mudam para -a:
garoto ñ garota
• os terminados em -ão mudam para -ã, -oa, -ona:
cidadão ñ cidadã patrão ñ patroa chorão ñ chorona
• os terminados em -or mudam para -ora:
professor ñ professora
• os terminados em -e mudam para -a:
mestre ñ mestra
• os terminados em -ês, -l e -z acrescentam -a:
francês ñ francesa oficial ñ oficiala juiz ñ juíza
• os que indicam título formam feminino por -esa, -essa e -isa:
barão ñ baronesa abade ñ abadessa sacerdote ñ sacerdotisa

ATENÇÃO!
• São chamados heterônimos os substantivos que apresentam formas distintas para o feminino e o masculino.
Exemplos: cavalo × égua, bode × cabra, abelha × zangão
• São chamados heterossêmicos os substantivos que apresentam diferença de significado entre a forma feminina
e a masculina.
Exemplos: o capital (valor pecuniário) × a capital (cidade), o cabeça (líder) × a cabeça (parte do corpo), o rádio
(aparelho receptor) × a rádio (estação transmissora)

Grau
Os dois graus do substantivo, o aumentativo e o diminutivo, podem ser formados por meio de dois pro-
cessos: sintético e analítico.
• Sintético: pelo acréscimo de sufixo indicador de aumento ou diminuição ao substantivo em grau
normal.
gatinho/gatão, caderninho/cadernão
• Analítico: por intermédio de uma palavra de aumento (grande) ou diminuição (pequeno) a um
substantivo.
gato grande/gato pequeno, caderno grande/caderno pequeno

ATENÇÃO!
• No uso efetivo da língua, muitas vezes, as formas sintéticas de indicação de grau conferem valores distintos aos
substantivos. Observe.
Que comidinha gostosa você fez! ñ O diminutivo indica afeto, carinho.
Esse doutorzinho acha que sabe de tudo? ñ O diminutivo indica desprezo, ironia.
• Há também os casos de substantivos que, embora carreguem o sufixo de diminutivo, não apresentam significação
de diminutivo, desde que colocados em determinado contexto. Veja.
Você assistiu às pegadinhas no programa dominical? Estavam engraçadíssimas! ñ Significa ciladas.
Participe da nossa vaquinha on-line! ñ Ajuda mútua.

206
Artigos
Leia o início deste conto mínimo, escrito por Heloisa Seixas.

Vício solitário

Eu estava parada no sinal, com as mãos descansando sobre o volante, quando a vi. Era uma mulher de meia
idade, cabelos grisalhos um pouco desfeitos, cacheados, usando saia e blusa de algodão. Sua roupa era despojada,
porém limpa, e embora ela estivesse sentada quase no meio da rua, no degrau mais baixo da escada de um velho
sobrado, de forma alguma poderia ser tomada por uma mendiga.
Estava encurvada sobre alguma coisa, tendo a seu lado três cães vira-latas, todos de coleira e parecendo bem
tratados. Olhei mais atentamente e vi o que ela trazia nas mãos. Era um caderno, onde escrevia alguma coisa. O
sinal abriu e eu fui embora. Mas a mulher dos cães me ficou na cabeça, sem que eu soubesse bem por quê.
[...]
Disponível em: SEIXAS, Heloisa. Contos m’nimos. Disponível em: https://heloisaseixas.com.br/contos-minimos/2000-2/. Acesso em: 17 maio 2022.

Em destaque, estão dois artigos que acompanham o substantivo “mulher”. Note que, inicialmente,
esse termo é acompanhado por um artigo indefinido, por se tratar de uma personagem que ainda não
havia sido mencionada no texto. Depois, o mesmo substantivo aparece acompanhado de um artigo de-
finido, já que a personagem é conhecida pelo leitor. Essa é uma das funções dos artigos nos textos: pro-
mover a coesão.

Os artigos são termos que acompanham os substantivos a fim de especificá-los ou generalizá-los.


Semanticamente, eles têm o papel de indicar se o termo a que se referem é conhecido ou não pelo interlocutor.

Classificação dos artigos ATENÇÃO!


Os artigos são classificados em definidos e indefinidos. A ausência de artigo indica valor generalizante.
• Definidos: o, a, os, as. A professora elogiou Ø alunos de várias turmas.
• Indefinidos: um, uns, uma, umas.

Substantivação
Os artigos têm a capacidade de transformar outras classes gramaticais em substantivos. Nesse caso,
ocorre a derivação imprópria. Observe.
O não é uma palavra muito forte.
advérbio ñ substantivo

O olhar penetrante daquela mulher não sai de minha cabeça.


verbo ñ substantivo

LÍNGUA PORTUGUESA
Empregos especiais e estilísticos
Análise de casos:
Caso 1:
Vou visitar Klaus. × Vou visitar o Klaus.
• A presença do artigo denota familiaridade, intimidade, afetividade.
MÓDULO 6

Caso 2:
Não quero ser uma professora; quero ser a professora!
• O primeiro artigo denota insignificância, enquanto o segundo traz a ideia de grandeza, de importância.

207
Caso 3:
Todo o país lamentou o fato. (o país inteiro)
Todo país tem suas leis. (cada país, qualquer país)
• O pronome todo ou toda, precedido de artigo definido, traz a ideia de totalidade. Quando esse mes-
mo pronome não é precedido de artigo definido, há ideia de falta de especificação.
Caso 4:
Seu namorado é o engraçado!
Seu namorado é engraçado!
• O artigo intensifica o valor de “engraçado” na primeira frase.
Caso 5:
Daqui até Lençóis, são uns quinze quilômetros.
• O artigo indefinido indica ideia de inexatidão, de aproximação numérica.
Caso 6:
A laranja é fruta cítrica.
• O artigo definido refere-se a uma espécie inteira, e não a um ser específico.

ATENÇÃO!
Não se une à preposição o artigo que faz parte de um título. Observe.
Li algumas páginas de A hora da estrela ontem.

Situação-problema
Dever de casa está lá no Celso Cunha, é o substantivo que designa um
ser propriamente dito. Nomes de pessoas, de lugares, de
Um fiapo de gente e um feixe de problemas. Agora é instituições, etc. Quarta-feira. Vamos raciocinar. Nome
uma perguntação que não tem mais fim. Papai, o plural de um dia. Abstrato designa noção, ação, estado e quali-
de segunda-feira? Tira os óculos, para de ler a revista. dade. Desde que considerados como seres. Quarta-feira
Daqui a pouco é hora de telejornal. Dia cansativo, mas é um ser? Se é um dia, é um ser. Mas concreto? Abstrato.
pai é pai. Segunda-feira, segunda-feira. Murmurinha, Deve ser abstrato.
como se procurasse na memória algo que não sabe o que
é. Segunda-feira, pai. Ah, sim. O plural dos nomes com- Um dia de matar, trânsito engarrafado. A dorzinha
postos. Ao menos isto não terá mudado. de cabeça já se instalou. Quarta-feira, papai. Afinal?
Mudam tudo neste país. Depois querem ter jurispru- Outro dia era o aliás. Até que teve sua graça. Que é aliás?
dência. Ainda hoje andou lendo um acórdão. Emenda Bom, como categoria gramatical, me parece que. Pausa.
malfeita. Segunda-feira no plural. Não tem mais o que Mudaram a nomenclatura gramatical toda. A educação
inventar. Segundas-feiras. Variam os dois elementos. tem de ser mesmo um desastre. País de analfabetos.
Fácil, óbvio. Entendeu? Doutores analfabetos. Aliás, advérbio não é. Ou melhor,
é controvertido. Vem do latim. Quer dizer quer dizer,
Nem tinha retomado a leitura e lá vem outra pergun-
como disse o outro. Será advérbio?
tinha. Quarta-feira é abstrato ou concreto? Essa, agora.
Primeiro vamos saber se é mesmo substantivo. Nenhuma Esses meninos de hoje, francamente. Gramática
dúvida. É substantivo. Abstrato? ninguém estuda mais. A língua andrajosa, um mon-
Concreto. A professora disse que é concreto. Pai é te de solecismos. Mas quarta-feira é substantivo
pai. Põe tudo de lado e sai sem bater a porta. Concreto, abstrato? Concreto, disse a professora. Ora pinoia.

208
Está começando o telejornal. Mais um fantasma. a) Explique por que foram empregados artigos inde-
Mandado de segurança. Mandado e não mandato. finidos.
Presta atenção, meu filho. Aliás, só faltava essa. Meter Os artigos indefinidos são inseridos para apresentar elementos
o Supremo nessa enrascada. Querem atear fogo no país. que resumem o tema a ser explorado.
Fantasma é concreto? Eta Brasil complicado! Aliás, hoje
é quarta-feira. Abstrata? Uma vergonha!
b) A expressão “um fiapo de gente” poderia ser
RESENDE, Otto Lara. Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/
cronicas/6296/dever-de-casa. Acesso em: 9 ago. 2022. substituída, contextualmente, pelo substantivo “fi-
lho”. Transcreva, do primeiro parágrafo, o substan-
1. A crônica de Otto Lara Resende revela certa ironia a tivo abstrato que poderia substituir “um feixe de
partir do discurso do pai diante do conhecimento lin- problemas”.
guístico passado aos jovens de hoje. Explique tal ironia. Trata-se do substantivo abstrato “perguntação”.

Ao longo do texto, principalmente no último parágrafo, o pai critica


a educação do país e o fato de a gramática não ser mais estudada
como deveria. Tal discurso mostra-se irônico tendo em vista que c) Ao longo do texto, o pai não consegue sanar sua
ele mesmo não consegue responder à questão sobre o substantivo dúvida quanto à classificação de certos substanti-
“quarta-feira” ser concreto ou abstrato. vos em concretos ou abstratos. Indique a correta
classificação, quanto ao significado, do substantivo
“fantasma”.
O substantivo “fantasma” é concreto, tendo em vista que

2. A primeira frase do texto resume, de certa forma, o designa um ser fictício.

tema da crônica.

pH resolve

As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com seus namorados.
As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido
da professora; essas meninas; essas coisas sem importância.
O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desa-
finado, riem sem motivo; riem.
Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância.
Faltava uma delas. O jornal dera notícia do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condições, em
lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais rir.
As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.
ANDRADE, C. D. Essas meninas. Contos plaus’veis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.

LÍNGUA PORTUGUESA
No texto, há recorrência do emprego do artigo “as” e do pronome “essas”. No último parágrafo, esse
recurso linguístico contribui para
a) intensificar a ideia do súbito amadurecimento.
b) indicar a falta de identidade típica da adolescência.
c) organizar a sequência temporal dos fatos narrados.
MÓDULO 6

d) complementar a descrição do acontecimento trágico.


e) expressar a banalidade dos assuntos tratados na escola.

209
Resolução
O emprego do artigo “as” e do pronome “essas”, no último parágrafo, contribui para destacar o momen-
to do amadurecimento: as meninas alegres tornaram-se mulheres sérias. Isso ocorreu devido ao fato de
elas, subitamente, lidarem com a morte violenta de uma amiga.
A alternativa b é incorreta, devido ao fato de tanto o artigo definido quanto o pronome demonstrativo
especificarem as meninas e as mulheres, respectivamente. Logo, são seres individualizados. Além disso,
o texto não menciona a falta de identidade delas.
A alternativa c é incorreta, porque o artigo e o pronome não promovem a progressão temporal no texto;
o advérbio “agora” e a locução adverbial “de uma hora para outra” têm essa função.
A alternativa d é incorreta, já que traz uma afirmação incoerente, pois a descrição do acontecimento é
feita, por exemplo, por meio de adjetivos.
A alternativa e é incorreta, uma vez que a morte e o assassinato, no texto, não são tratados de modo banal.

Para concluir

Você estudou:
• as funções e classificações dos substantivos; a flexão em gênero e número e suas particularidades; a
categoria de grau e suas nuances semânticas;
• as funções e classificações dos artigos; o emprego estilístico e os casos especiais.

Desenvolvendo habilidades
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.
1. (Unicamp-SP) Nas passagens, “há notícias que são de interesse do público” e “...
Há notícias que são de interesse público e há notícias que têm óbvio interesse público”, o termo “público”, respectivamente, é
são de interesse do público. Se a celebridade “x” está saindo substantivo e adjetivo. No primeiro caso, o termo é um substantivo
com o ator “y”, isso não tem nenhum interesse público. Mas, devido à presença do artigo determinado e ao fato de “público” ser
dependendo de quem sejam “x” e “y”, é de enorme interesse
núcleo do sintagma nominal. No segundo caso, é um adjetivo por
do público, ou de um certo público (numeroso), pelo menos.
caracterizar o substantivo “interesse” e concordar com ele.
As decisões do Banco Central para conter a inflação
têm óbvio interesse público. Mas quase não despertam in-
teresse, a não ser dos entendidos. b) Qual é, no texto, a diferença entre o que é chamado
O jornalismo transita entre essas duas exigências, desa- de “interesse público” e o que é chamado de “inte-
fiado a atender às demandas de uma sociedade ao mesmo resse do público”?
tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita “Interesse público” diz respeito a fatos que devem ser, de direito e
cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares. dever, do conhecimento de toda a sociedade; já “interesse do
SILVA, Fernando Barros e. O jornalista e o assassino. Folha de São Paulo
(versão on line), 18 abr. 2011. Acesso em: 20 dez. 2011. público” diz respeito a fatos sobre os quais as pessoas procuram se
informar em função de interesses particulares, independentemente
a) A palavra “público” é empregada no texto ora como
de tais fatos afetarem ou não a sociedade como um todo.
substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada
um desses empregos com passagens do próprio tex-
to e apresente o critério que você utilizou para fazer
a distinção.

210
2. (Fuvest-SP) 5. (Uema) Leia o poema a seguir extraído da obra Alguma
poesia, de Carlos Drummond de Andrade, em que o au-
Conversa no ônibus tor descreve o cotidiano familiar.
Sentaram-se lado a lado um jovem publicitário e um
velhinho muito religioso. O rapaz falava animadamente so- Família
bre sua profissão, mas notou que o assunto não despertava
o mesmo entusiasmo no parceiro. Justificou-se, quase de- Três meninos e duas meninas,
safiando, com o velho chavão: sendo uma ainda de colo.
— A propaganda é a alma do negócio. A cozinheira preta, a copeira mulata,
— Sem dúvida, respondeu o velhinho. Mas sou daque- o papagaio, o gato, o cachorro,
les que acham que o sujeito dessa frase devia ser o negócio. as galinhas gordas no palmo de horta
a) A palavra “alma” tem o mesmo sentido para ambas e a mulher que trata de tudo.
as personagens? Justifique. A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
Não. O substantivo “alma” para o rapaz é essência, substantivo
o cigarro, o trabalho, a reza,
abstrato; para o velhinho, espírito, substantivo concreto.
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
b) Segundo a indicação do velhinho, redija a frase na e a mulher que trata de tudo.
versão que a ele pareceu mais coerente.
O agiota, o leiteiro, o turco,
O negócio é a propaganda da alma.
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
3. (Uerj) Flexão é o processo de fazer variar um vocábulo, em
sua estrutura interna, para nele expressar dadas categorias A mulher que trata de tudo
gramaticais como gênero e número. A partir desse concei- e a felicidade.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo:
to, a palavra sublinhada que admite flexão de gênero é: Companhia das Letras, 2013.
a) “Fez-se de triste o que se fez amante” (Vinicius de
Moraes). Considerando os aspectos linguísticos no referido tex-
b) “Paisagens da minha terra,/Onde o rouxinol não canta” to, verifica-se que,
(Manuel Bandeira). a) em “o médico uma vez por mês” (última estrofe),
c) “Sou um homem comum/de carne e de memória/de o vocábulo destacado classifica-se como artigo por
osso e de esquecimento” (Ferreira Gullar). acrescentar uma noção particular ao substantivo a
que está associado.
d) “Meu amigo, vamos cantar,/vamos chorar de man-
sinho/e ouvir muita vitrola” (Carlos Drummond de b) no verso “e a mulher que trata de tudo”, há uma ora-
Andrade). ção que pode ser substituída pelo adjetivo tratante,
sem provocar alteração no sentido do texto.
4. (UFF-RJ) Na flexão dos diminutivos, o uso coloquial, com c) no segundo verso “sendo uma ainda de colo.”, a for-

LÍNGUA PORTUGUESA
frequência, se diferencia do uso prescrito pela gramática ma verbal introduz uma explicação que caracteriza o
normativa. cotidiano familiar.
d) do ponto de vista semântico, utilizou-se um processo
Assinale o par de palavras em que os dois usos ocorrem:
de enumeração, ao longo do poema, no qual predo-
a) colherzinhas – florzinhas. mina uma classe de palavras cuja função primordial
b) mulherzinhas – coraçõezinhos. é designar.
MÓDULO 6

c) florezinhas – mulherezinhas. e) no verso “o bilhete todas as semanas” (terceira es-


d) mulherzinhas – coraçãozinhos. trofe), “todas” está adverbializado pela presença
e) colherezinhas – floreszinhas. do artigo.

211
6. (Fuvest-SP) O texto a seguir é fragmento de um artigo dispositivos e, por isso, suscetível a fomentar interpretações
de divulgação científica. e toda sorte de litígios. Também temos um sistema de juris-
A preferência pela mão esquerda ou direita provavel- dição constitucional, talvez único no mundo, com um rol
mente é resultado de um processo complexo, que envolve enorme de agentes e instituições dotadas da prerrogativa ou
fatores genéticos e ambientais. O novo estudo, fruto de de competência para trazer questões ao Supremo. É um leque
uma colaboração internacional, é a maior análise genética considerável de interesses, de visões, que acaba causando a
focada em canhotos da história: utilizou dados de 1,7 mi- intervenção do STF nas mais diversas questões, nas mais dife-
lhão de pessoas, extraídos de bancos como o UK Biobank e rentes áreas, inclusive dando margem a esse tipo de acusação.
a empresa privada 23andMe. Comparando os genomas de Nossas decisões não deveriam passar de duzentas, trezentas
destros, canhotos e ambidestros, a equipe descobriu que por ano. Hoje, são analisados cinquenta mil, sessenta mil pro-
há 41 pares de bases ligados às chances de uma pessoa cessos. É uma insanidade.
ser canhota, e sete relacionados a ambidestros. Um “par Veja, 15 jun. 2011.

de bases” é, grosso modo, uma letrinha do DNA (A, T, C


ou G). Cada gene contém as instruções para fabricar uma No trecho “dotadas da prerrogativa ou de competên-
proteína. Uma mudança em uma única letrinha do gene é cia”, a presença de artigo antes do primeiro substantivo
capaz de mudar a sequência de tijolinhos que constroem e a sua ausência antes do segundo fazem que o sentido
essa proteína, e, por tabela, sua função. Ou seja: o que os de cada um desses substantivos seja, respectivamente,
geneticistas encontraram foram 41 letrinhas de DNA que a) figurado e próprio.
aparecem só em pessoas canhotas. Daí até saber o que exa- b) abstrato e concreto.
tamente essas letrinhas mudam é outra história. c) específico e genérico.
B. Carbinatto. “Estudo identifica 41 variações no genoma associadas
a pessoas canhotas”. (Adaptado.) d) técnico e comum.
a) Retire do texto duas características linguísticas que e) lato e estrito.
permitem classificá-lo como artigo de divulgação
científica. 8. (Uece) O texto a seguir foi extraído de uma crônica de
O texto apresenta informações acerca de investigações Affonso Romano de Sant’Anna, cronista e poeta minei-
desenvolvidas sob parâmetros da metodologia científica, ro. Professor universitário e jornalista, escreveu para os
apresentando dados de bancos, como o UK Biobank, e da empresa maiores jornais do País. “Com uma produção diversi-
privada 23andMe. Ademais, é um texto escrito em terceira pessoa, ficada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu
de modo impessoal, com vocabulário acessível, a fim de transmitir
tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como
cronista, como professor, como administrador cultural e
informações sobre determinada pesquisa a um público leigo.
como jornalista.”

b) Quais os sentidos, no texto, gerados pelo emprego


Porta de colégio
do diminutivo nas palavras “letrinha(s)” e “tijolinhos”?
Explique. Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação
O emprego do diminutivo nesses substantivos permite ao leitor nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal, di-
comum compreender a mensagem a ser passada pelo artigo. Trata-se, reis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como se
portanto, de uma forma de tornar o texto mais acessível. precisasse ver melhor o que via e previa.
Primeiro há uma diferença de clima entre aquele
bando de adolescentes espalhados pela calçada, sentados
sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refrige-
7. (Fuvest-SP) Leia o seguinte trecho de uma entrevista rantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só o uni-
concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, forme. Não é só a idade. É toda uma atmosfera, como se
Joaquim Barbosa: estivessem ainda dentro de uma redoma ou aquário, numa
Entrevistador: — O protagonismo do STF dos últimos bolha, resguardados do mundo. Talvez não estejam. Vários
tempos tem usurpado as funções do Congresso? já sofreram a pancada da separação dos pais. Aprenderam
Entrevistado: — Temos uma Constituição muito boa, que a vida é também um exercício de separação. Um ou
mas excessivamente detalhista, com um número imenso de outro já transou droga, e com isso deve ter se sentido

212
(equivocadamente) muito adulto. Mas há uma sensação de que rio e danço e invento exclamações alegres,
pureza angelical misturada com palpitação sexual, que se porque a ausência, essa ausência assimilada,
exibe nos gestos sedutores dos adolescentes. ninguém a rouba mais de mim.
Onde estarão esses meninos e meninas dentro de dez Corpo, 2015.
ou vinte anos? As palavras podem mudar de classe gramatical sem
Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que sofrer modificação na forma. A este processo de enrique-
parece gostar de esporte, vai se interessar pela informática cimento vocabular pela mudança de classe das palavras
ou economia; aquela de cabelos louros e crespos vai ser dá-se o nome de “derivação imprópria”.
dona de boutique; aquela morena de cabelos lisos quer ser CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo, 2013.
(Adaptado.)
médica; a gorduchinha vai acabar casando com um gerente
de multinacional; aquela esguia, meio bailarina, achará um
No contexto do poema “Ausência”, observa-se um
diplomata. Algumas estudarão Letras, se casarão, largarão
exemplo de derivação imprópria no verso
tudo e passarão parte do dia levando filhos à praia e à praça
e pegando-os de novo à tardinha no colégio. [...] a) “Hoje não a lastimo.”
Estou olhando aquele bando de adolescentes com evi- b) “A ausência é um estar em mim.”
dente ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e c) “que rio e danço e invento exclamações alegres,”
contava-lhes as últimas histórias da carochinha antes que d) “ninguém a rouba mais de mim.”
o lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria
e) “Por muito tempo achei que a ausência é falta.”
daqui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma,
enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino
10. (IME-RJ)
também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo.
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano de Sant’Anna: seleção e prefácio
de Letícia Malard. Coleção Melhores Crônicas. p. 64-66. Becos de Goi‡s

Atente para o que se diz a respeito da preposição “de” Beco da minha terra...
que entra na composição do título da crônica: “Porta de Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
colégio”. Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
I. A preposição de, sozinha, sem contração, como é Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
usada nesse título, generaliza o substantivo, no caso E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,
do texto, “colégio”. e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
II. A contração da preposição de com o pronome calçando de ouro a sandália velha,
demonstrativo aquele, que resultaria em daquele,
jogada no teu monturo.
manteria inalterado o sentido do título.
III. A introdução, no título do texto, do artigo definido Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
o, que resultaria em do, alteraria o sentido do título. descendo de quintais escusos sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Está correto o que se diz apenas em
Amo a avenca delicada que renasce
a) I. b) I e III. c) II e III. d) II.
na frincha de teus muros empenados,
9. (Unesp-SP) Leia o poema “Ausência”, de Carlos e a plantinha desvalida, de caule mole

LÍNGUA PORTUGUESA
Drummond de Andrade, para responder à questão. que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta. Amo esses burros-de-lenha
Hoje não a lastimo. que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros,
Não há falta na ausência. secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados.
MÓDULO 6

A ausência é um estar em mim. Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a


E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus sombra,
braços, no range-range das cangalhas.

213
E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja. terror dos soldados, castigado nas armas.
Sem infância, sem idade. Capitão-mor, alma penada,
Franzino, maltrapilho, num cavalo ferrado,
pequeno para ser homem, chispando fogo,
forte para ser criança. descendo e subindo o beco,
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade. comandando o quadrado – feixe de varas...
Amo e canto com ternura Arrastando espada, tinindo esporas...
todo o errado da minha terra. Mulher-dama. Mulheres da vida,
Becos da minha terra, perdidas,
discriminados e humildes, começavam em boas casas, depois,
lembrando passadas eras... baixavam pra o beco.
Beco do Cisco. Queriam alegria. Faziam bailaricos.
Beco do Cotovelo. – Baile Sifilítico – era ele assim chamado.
Beco do Antônio Gomes. O delegado-chefe de Polícia – brabeza –
Beco das Taquaras. dava em cima...
Beco do Seminário. Mandava sem dó, na peia.
Bequinho da Escola. No dia seguinte, coitadas,
Beco do Ouro Fino. cabeça raspada a navalha,
Beco da Cachoeira Grande. obrigadas a capinar o Largo do Chafariz,
Beco da Calabrote. na frente da Cadeia.
Beco do Mingu. Becos da minha terra...
Beco da Vila Rica... Becos de assombração.
Conto a estória dos becos, Românticos, pecaminosos...
dos becos da minha terra, Têm poesia e têm drama.
suspeitos... mal afamados O drama da mulher da vida, antiga,
onde família de conceito não passava. humilhada, malsinada.
“Lugar de gentinha” – diziam, virando a cara. Meretriz venérea,
De gente do pote d’água. desprezada, mesentérica, exangue.
De gente de pé no chão. Cabeça raspada a navalha,
Becos de mulher perdida. castigada a palmatória,
Becos de mulheres da vida. capinando o largo,
Renegadas, confinadas chorando. Golfando sangue.
na sombra triste do beco.
(ÚLTIMO ATO)
Quarto de porta e janela.
Prostituta anemiada, Um irmão vicentino comparece.
solitária, hética, engalicada, Traz uma entrada grátis do São Pedro de Alcântara.
tossindo, escarrando sangue Uma passagem de terceira no grande coletivo de São
na umidade suja do beco. Vicente.
Uma estação permanente de repouso – no aprazível
Becos mal assombrados. São Miguel.
Becos de assombração...
Cai o pano.
Altas horas, mortas horas...
CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. 21. ed.
Capitão-mor – alma penada, São Paulo: Global Editora, 2006.

214
“Amo e canto com ternura / todo o errado da minha ter- b) mostra que a voz poética é avessa a tudo o que acon-
ra” (versos 29 e 30). tece nos becos.
c) salienta uma proximidade e cumplicidade entre quem
A substantivação do adjetivo “errado”, antecedido pelo
ama e quem recebe o amor.
determinante “o”, que aparece no trecho acima desta-
cado do poema de Cora Coralina d) revela apatia em relação aos becos de Goiás e a seus
frequentadores.
a) fala do desdém relativo à maneira como vivem os ha-
bitantes dos becos. e) trata unicamente da exclusão social dos moradores
dos becos.

Aprofundando o conhecimento
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.
1. (UEL-PR) Leia o texto sobre a origem da palavra “alvo” e Em situação de poço, a água equivale
responda aos itens a seguir. a uma palavra em situação dicionária:
ALVO – Adjetivo que significa “claro, branco”. Mas isolada, estanque no poço dela mesma,
por que o adjetivo se tornou substantivo, com os signifi- e porque assim estanque, estancada;
cados de “ponto a que se dirige o tiro”, “ponto de conver- e mais: porque assim estancada, muda,
gência” ou “fim a que se dirigem desejos ou ações”? Nos
e muda porque com nenhuma comunica,
estandes de tiros, usados para treinamento ou competição,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
usa-se um desenho de vários círculos concêntricos, com
os maiores contendo os menores. De acordo com uma ver- o fio de água por que ele discorria.
MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra.
são bastante difundida, o nome passou a ser usado porque
o principal objetivo do atirador é acertar o círculo menor, o
Na palavra composta “discurso-rio”, há
único que é inteiramente branco, ou alvo. Em português,
a) dois substantivos em relação de coordenação.
alvo é sinônimo de branco, mas somente alvo tem o signifi-
cado de “meta”. [...] Um dos termos relacionados com alvo b) dois substantivos em relação de subordinação.
é “álbum” [album, em latim], que na Roma antiga designa- c) substantivo e adjetivo em relação de subordinação.
va um painel branco onde eram afixados avisos de juízes d) substantivo e adjetivo em relação de coordenação.
e pretores. Hoje, “álbum” designa livro onde são coladas,
e) dois adjetivos em relação de coordenação.
entre outras peças, assinaturas, fotografias, poemas, letras
de músicas etc.
3. (Enem)
BUENO, M. A origem curiosa das palavras. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. p. 18.
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a ima-
a) Com base no texto, é correto afirmar que “alvo” dei- gem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
xou de ser adjetivo para ser substantivo? Explique. Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por
b) Segundo o texto, o que aproxima e o que afasta “al- trás de sua casa se chama enseada.
bum” de “álbum”? Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que

LÍNGUA PORTUGUESA
fazia uma volta atrás de casa.
2. (Fuvest-SP) Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
Rios sem discurso BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro. Best Selles, 2008.

Quando um rio corta, corta-se de vez O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “ensea-
o discurso-rio de água que ele fazia; da” porque a
MÓDULO 6

cortado, a água se quebra em pedaços, a) terminologia mencionada é incorreta.


em poços de água, em água paralítica. b) nomeação minimiza a percepção subjetiva.

215
c) palavra é aplicada a outro espaço geográfico. Vai o meu elefante
d) designação atribuída ao termo é desconhecida. pela rua povoada,
e) definição modifica o sentido do termo no dicionário. mas não o querem ver
nem mesmo para rir
Texto para as questões 4 e 5. da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
O elefante
É todo graça, embora
Fabrico um elefante as pernas não ajudem
de meus poucos recursos. e seu ventre balofo
Um tanto de madeira se arrisque a desabar
tirado a velhos móveis ao mais leve empurrão.
talvez lhe dê apoio. Mostra com elegância
E o encho de algodão, sua mínima vida,
de paina, de doçura. e não há cidade
A cola vai fixar alma que se disponha
suas orelhas pensas. a recolher em si
A tromba se enovela, desse corpo sensível
é a parte mais feliz a fugitiva imagem,
de sua arquitetura. o passo desastrado
Mas há também as presas, mas faminto e tocante.
dessa matéria pura Mas faminto de seres
que não sei figurar. e situações patéticas,
Tão alva essa riqueza de encontros ao luar
a espojar-se nos circos no mais profundo oceano,
sem perda ou corrupção. sob a raiz das árvores
E há por fim os olhos, ou no seio das conchas,
onde se deposita de luzes que não cegam
a parte do elefante e brilham através
mais fluida e permanente, dos troncos mais espessos.
alheia a toda fraude. Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
Eis o meu pobre elefante
no campo de batalha,
pronto para sair
à procura de sítios,
à procura de amigos
segredos, episódios
num mundo enfastiado
não contados em livro,
que já não crê em bichos
de que apenas o vento,
e duvida das coisas.
as folhas, a formiga
Ei-lo, massa imponente
reconhecem o talhe,
e frágil, que se abana
mas que os homens ignoram,
e move lentamente
pois só ousam mostrar-se
a pele costurada
sob a paz das cortinas
onde há flores de pano
à pálpebra cerrada.
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético E já tarde da noite
onde o amor reagrupa volta meu elefante,
as formas naturais. mas volta fatigado,

216
as patas vacilantes 5. (IME-RJ) O poema “O elefante”
se desmancham no pó. a) anuncia, por meio da alegoria do animal, que o tama-
Ele não encontrou nho dos problemas dos adultos é inversamente pro-
o de que carecia, porcional ao tamanho do elefante, sendo, ao mesmo
o de que carecemos, tempo, um poema direcionado às crianças.
eu e meu elefante, b) estabelece uma relação criador/criatura e, metafori-
em que amo disfarçar-me. camente, é possível falar de um paralelo entre arte/
Exausto de pesquisa, artista: o conteúdo produzido pelo artista é causa e
caiu-lhe o vasto engenho consequência, ao mesmo tempo, do trabalho do poe-
como simples papel. ta com as palavras.
A cola se dissolve c) desconecta o elefante (criação) de seu criador, retiran-
e todo o seu conteúdo do deste toda a sua capacidade criativa.
de perdão, de carícia,
d) mostra a criatura, o elefante, como algo definido e úni-
de pluma, de algodão,
co: criá-lo é tão trabalhoso que não há possibilidade
jorra sobre o tapete, de criar outros elefantes.
qual mito desmontado.
e) revela, metaforicamente, um descuido com o fazer poé-
Amanhã recomeço.
ANDRADE, Carlos Drummond de. O Elefante. 9. ed. São Paulo:
tico ao descrever a deselegância do elefante mal cons-
Editora Record, 1983. truído, que segue pelas ruas de modo desequilibrado.

4. (IME-RJ) Observe os vocábulos destacados em negrito 6. (Unesp-SP) Leia o excerto do “Sermão do bom ladrão”,
nos versos 39 a 44 do poema, transcritos abaixo: de Antônio Vieira (1608-1697), para responder à questão.
Vai o meu elefante Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa arma-
pela rua povoada, da pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse tra-
mas não o querem ver zido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando
nem mesmo para rir os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em
da cauda que ameaça tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem ler-
deixá-lo ir sozinho. do, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque rou-
bo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em
Sobre esses vocábulos, de acordo com a gramática nor- uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é
mativa, considere as seguintes afirmações: culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco po-
I. o primeiro “o” é um artigo definido e o segundo é der faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas
uma forma pronominal oblíqua, assim como a forma Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpre-
“lo” em “deixá-lo”. tar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo
nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer
II. a colocação do segundo “o” junto ao advérbio de
o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos
negação aproxima-se do registro mais utilizado no
têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
português falado no Brasil.
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que
III. “o” e “lo” nos versos “mas não o querem ver” e
um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal senten-

LÍNGUA PORTUGUESA
“deixá-lo ir sozinho” são formas pronominais que
ça em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou,
garantem a coesão referencial anafórica.
e quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangé-
Está(ão) correta(s) a(s) afirmação(ões) licos em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda,
a) I apenas. ou para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam
estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o
b) III apenas.
que calam que com o que disserem; porque a confiança
c) I e II apenas.
MÓDULO 6

com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não
d) I e III apenas. podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento
e) II e III apenas. de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]

217
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não Tenho três filhos lindos, dois são meus, um é de
são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua criação.
fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma Eu tinha mais coisas pra lhe contar
sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão Mas vou deixar pra uma outra ocasião.
que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que
Não repare a letra, a letra é de minha mulher.
não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de
Vide verso meu endereço, apareça quando quiser.
maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões,
BARBOSA, Adoniran. CD Adoniran Barbosa-1975, remasterizado EMI, 1994.
diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou
espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; Em “Casei, comprei uma casinha lá no Ermelindo”, o di-
os ladrões que mais própria e dignamente merecem este minutivo no substantivo expressa, além de tamanho e
título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos carinho, o sentido de
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração
a) penúria.
das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam
e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um ho- b) humilhação.
mem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam de- c) simplicidade.
baixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, d) pobreza.
se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
Essencial, 2011.
e) ironia.

“[...] os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a 8. (Unifesp) Para responder a questão, leia as opiniões em
quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este relação ao projeto de adaptação que visa facilitar obras
gênero de vida [...].” (3o parágrafo) de Machado de Assis.
Texto 1
Os termos destacados constituem, respectivamente,
Isso é um assassinato e eu endosso. A autora [da adap-
a) um artigo, uma preposição e uma preposição.
tação] quer que a Academia se manifeste. Para ela, vai ser
b) uma preposição, um artigo e uma preposição.
a glória. Mas vários acadêmicos se manifestaram. Eu me
c) um artigo, um pronome e um pronome. manifestei. Há temas em que a instituição não pode se ba-
d) um pronome, uma preposição e um artigo. ratear. Essa mulher quer que nós tenhamos essa discussão
e) uma preposição, um artigo e um pronome.
como se ela estivesse propondo a ressurreição eterna de
Machado de Assis, como se ele dependesse dela. Confio
na vigilância da sociedade. Vamos para a rua protestar.
7. (Unifesp) Leia a letra da música de Adoniran Barbosa,
(Nélida Piñon. http://entretenimento.uol.com.br)
para responder à questão.
Texto 2
Vide verso meu endere•o É melhor que o sujeito comece a ler através de uma
adaptação bem feita de um clássico do que seja obrigado
Falado: Seu Gervásio, se o doutor José Aparecido apa-
a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a lin-
recer por aqui, o senhor dá esse bilhete a ele, viu? Pode ler,
guagem e os parâmetros culturais atuais. Depois que leu
não tem segredo nenhum. Pode ler, seu Gervásio.
a adaptação, ele pode pegar o gosto, entrar no processo de
Venho por meio dessas mal traçadas linhas leitura e eventualmente se interessar por ler o Machadão
Comunicar-lhe que fiz um samba pra você no original. Agora, dar uma machadada em um moleque
No qual quero expressar toda minha gratidão que tem PS3, Xbox, 1000 canais a cabo e toda a internet à
E agradecer de coração tudo o que você me fez. disposição é simplesmente burrice.
Ronaldo Bressane. http://entretenimento.uol.com.br.
Com o dinheiro que um dia você me deu
Comprei uma cadeira lá na Praça da Bandeira Texto 3
Ali vou me defendendo Não defenderia, jamais, que Secco [autora da adapta-
Pegando firme, dá pra tirá mais de mil por mês. ção] fosse impedida de realizar seu projeto, mas não me pa-
Casei, comprei uma casinha lá no Ermelindo rece que a proposta devesse merecer apoio do Ministério

218
da Cultura e ser realizada com a ajuda de leis que, afinal, 10. (Unifesp) Leia o texto para responder à questão.
transferem impostos para a cultura. Trata-se, na melhor das
hipóteses, de ingenuidade; na pior, de excesso de “sagaci- A sens’vel
dade”. Não será a adulteração de obras, para torná-las su- Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia
postamente mais legíveis por ignorantes, que irá resolver o ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A
problema do acesso a textos literários históricos – mesmo cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar
porque, adulterados, já terão deixado de ser o que eram. perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquan-
Marcos Augusto Gonçalves. http://www.folha.uol.com.br. to este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado,
insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor.
Examine a passagem do texto 2:
Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enlu-
“e eventualmente se interessar por ler o Machadão no vadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem
original. Agora, dar uma machadada em um moleque” mesmo a simpatia por si própria.
Os dois termos em destaque, derivados por sufixação, Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como
reportam a Machado de Assis. Tal recurso atribui aos de doença, escolheu um domingo em que o marido viajava
substantivos, respectivamente, sentido de para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma
necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda
a) pejo e intimidade. d) simpatia e ironia.
fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava
b) ironia e simpatia. e) tamanho e humor.
muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi
c) humor e reverência. procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma
rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora
9. (Fuvest-SP)
se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de
As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas
fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bor-
como cigarras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas
dar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu
as esquadrinhadoras de todas as vidas, as espalhadoras de
afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã,
todas as maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas. E
e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde peque-
na desditosa cidade, não existia nódoa, pecha, bule racha-
na, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no
do, coração dorido, algibeira arrasada, janela entreaberta,
quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem
poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo encomenda-
amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão
do nas Matildes, que seus olhinhos furantes de azeviche
talvez a perplexidade diante da liberdade da bordadeira pobre.
sujo não descortinassem e que sua solta língua, entre os
Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.
dentes ralos, não comentasse com malícia estridente. LISPECTOR, Clarice. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.
QUEIRÓS, Eça de. A ilustre casa de Ramires.
O emprego do adjetivo “sensível” como substantivo, no
No texto, o emprego de artigos definidos e a omissão título do texto, revela a intenção de
de artigos indefinidos têm como efeito, respectivamente, a) ironizar a ideia de sentimento, então destituído de sub-
a) atribuir às personagens traços negativos de caráter; jetividades e ambiguidades na expressão da senhora.
apontar Oliveira como cidade onde tudo acontece. b) priorizar os aspectos relacionados aos sentimentos,
b) acentuar a exclusividade do comportamento típico como conteúdo temático do conto e expressão do
das personagens; marcar a generalidade das situa- que vive a senhora.
ções que são objeto de seus comentários. c) explorar a ideia de liberdade em uma narrativa em

LÍNGUA PORTUGUESA
c) definir a conduta das duas irmãs como criticável; co- que o efeito de objetividade limita a expressão dos
locá-las como responsáveis pela maioria dos aconte- sentimentos da senhora.
cimentos na cidade. d) traduzir a expressão comedida da senhora ante a vida
d) particularizar a maneira de ser das manas Lousadas; e os sentimentos mais intensos, como na relação com
situá-las numa cidade onde são famosas pela maledi- a bordadeira.
cência. e) dar relevância aos aspectos subjetivos das relações
MÓDULO 6

e) associar as ações das duas irmãs; enfatizar seu livre humanas, pondo em sintonia os pontos de vista da
acesso a qualquer ambiente na cidade. senhora e da bordadeira.

219
11. (Uece) de Holanda, na época, solteiro, deixou esse filho na
Alemanha. Na família, no entanto, não se falava no as-
A garagem de casa sunto. Chico teve, por acaso, conhecimento dessa
aventura do pai em uma reunião na casa de Manuel
Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de
Bandeira, por comentário feito pelo próprio Bandeira.
livros, a 1garagem de casa lembra uma biblioteca pública
permanentemente aberta para a rua. Mas não são adeptos Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão
de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chuva ou que Chico Buarque desenvolveu sua narrativa ficcional,
do sol a pino de verão. Esses desocupados matam o tempo o seu romance.
jogando porrinha, ou lendo os jornais velhos que mamãe
amontoa num canto, sentados nos degraus do escadote Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que o lei-
com que ela alcança as prateleiras altas. Já quando fazem tor tem em mãos [...] não é um relato histórico. Realidade
o obséquio de me liberar o espaço, de tempos em tempos e ficção estão aqui entranhadas numa narrativa que em-
entro para olhar as estantes onde há de tudo um pouco, em baralha sem cessar memória biográfica e ficção”.
boa parte remessas de editores estrangeiros que têm apreço
Considere a expressão “a garagem de casa” (ref. 1) e o
pelo meu pai. Num reduto de literatura tão sortida, como
que se diz sobre ela.
bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva de
por puro acaso dar com um livro bom. Ou by serendipity, I. O emprego do vocábulo “casa” sem a determina-
como dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se ção do artigo definido, como acontece no texto, in-
tem a felicidade de deparar com outro bem, mais precioso dica que a casa é da pessoa que fala.
ainda. Hoje revejo na mesma prateleira velhos conhecidos, II. A introdução do artigo definido antes do substantivo
algumas dezenas de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, “casa” – garagem da casa – indicaria não só que o
que papai é capaz de um dia querer destrinchar. Também falante não é o proprietário da casa, ou pelo menos
continua em evidência o livro do poeta romeno Eminescu, não a habita, mas também que o referente casa, re-
que papai ao menos tentou ler, como é fácil inferir das fo- presentado no texto pelo vocábulo “casa”, já apare-
lhas cortadas a espátula. Há uma edição em alfabeto árabe cera no texto, portanto não seria novo para o leitor.
das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas cujas ilustra- III. A introdução do artigo indefinido um antes do
ções admirou longamente, como denunciam os filetes de substantivo “casa” – garagem de uma casa – indi-
cinzas na junção das suas páginas coloridas. Hoje tenho ex- caria que o referente casa, representado pelo vocá-
periência para saber quantas vezes meu pai leu um mesmo bulo “casa”, ainda não aparecera no texto, portanto
livro, posso quase medir quantos minutos ele se deteve em seria novo para o leitor.
cada página. E não costumo perder tempo com livros que
ele nem sequer abriu, entre os quais uns poucos eleitos Está correto o que se diz em
que mamãe teve o capricho de empilhar numa ponta de a) I e II apenas.
prateleira, confiando numa futura redenção. Muitas vezes b) I, II e III.
a vi de manhãzinha compadecida dos livros estatelados no
c) I e III apenas.
escritório, com especial carinho pelos que trazem a foto do
autor na capa e que papai despreza: parece disco de cantor d) II apenas.
de rádio.
BUARQUE, Chico. O irm‹o alem‹o. 1. ed. São Paulo. Companhia das Letras, 12. (UFJF/Pism-MG)
2014. p. 60-61. (Texto adaptado com o acréscimo do título.)

Dois e dois: quatro


A obra O irm‹o alem‹o, último livro de Chico Buarque
de Holanda, tem como móvel da narrativa a existên- Como dois e dois são quatro
cia de um desconhecido irmão alemão, fruto de uma sei que a vida vale a pena
aventura amorosa que o pai dele, Sérgio Buarque de embora o pão seja caro
Holanda, tivera com uma alemã, lá pelo final da dé- e a liberdade pequena
cada de 30 do século passado. Exatamente quando
Hitler ascende ao poder na Alemanha. Esse fato é real: Como teus olhos são claros
o jornalista, historiador e sociólogo Sérgio Buarque e a tua pele, morena

220
como é azul o oceano fenômenos não era suficiente para garantir que determina-
e a lagoa, serena da situação se repetiria sempre.
Em um de seus exemplos mais célebres, 1o filósofo afir-
como um tempo de alegria
mou que, mesmo observando milhares de cisnes brancos,
por trás do terror me acena
era impossível assegurar que todos os cisnes são brancos,
e a noite carrega o dia pois bastaria surgir um único cisne negro para derrubar o
no seu colo de açucena preceito. Assim, observações particulares não poderiam ser
generalizadas, e a simples observação de um fenômeno não
– sei que dois e dois são quatro provaria sua verdade absoluta. Era preciso primeiro formar
sei que a vida vale a pena uma hipótese baseada, também, na intuição, para depois
mesmo que o pão seja caro comprovar sua consistência por meio do método científico.
e a liberdade, pequena. O mundo mudou muito desde a época do filósofo.
GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Hoje, basta uma pessoa relatar um fenômeno nas redes
José Olympio, 2010. p. 171. sociais para que ele seja considerado fato. Estabelecer re-
lações de causa e efeito com base em histórias pessoais não
O poema “Dois e dois: quatro” foi escrito durante a di- é novidade, mas a velocidade com que elas se espalham
tadura civil-militar iniciada com o Golpe de 1964, perío- atualmente é surpreendente.
do marcado por intensa repressão das liberdades de
Se antes apenas os conhecidos da tia do vizinho fica-
opinião, comportamento e expressão. Sobre uma pos-
vam sabendo que a senhora supostamente teria se curado
sível relação do poema com tal contexto, NÃO se pode
de câncer de estômago com um chá, agora a história pode
afirmar que:
atingir milhares de pessoas em pouco tempo. E fazer um
a) A palavra “pão” é, sem dúvida, mais relevante para a tremendo estrago, gerando não apenas curiosidade acerca
compreensão do poema que a palavra “liberdade”. do “medicamento”, mas dando origem a toda sorte de boa-
b) A palavra “liberdade” se destaca no poema e é es- tos e questionamentos. [...]
sencial para sua compreensão. A pesquisa Wellcome Global Monitor 2018, feita pelo
c) Os versos “como um tempo de alegria/por trás do Instituto Gallup e divulgada no primeiro semestre de 2019,
terror me acena” indicam que o poema incorpora as representa o maior estudo mundial sobre a forma como as
circunstâncias de seu tempo, mas constrói uma ima- pessoas pensam a ciência e os principais desafios da área
gem de esperança em um futuro distinto da realidade da saúde. Os pesquisadores entrevistaram 140 mil pessoas,
presente. entre elas mil brasileiros com mais de 15 anos. No ranking
d) Seria possível relacionar a expressão “liberdade pe- dos 144 países participantes, o Brasil ocupa apenas a 111a
quena” com o contexto da ditadura civil-militar inicia- posição entre os que mais confiam na ciência.
da em 1964. Para 35% dos brasileiros, a ciência não merece con-
e) A relação entre o substantivo “liberdade” e o adjeti- fiança, e 1 em cada 4 pessoas acha que a produção cientí-
vo “pequena” aparece duas vezes no poema, o que fica não contribui para o país.
destaca a importância de ambas para a compreen- Para a matemática, filósofa e professora Tatiana
são do texto. Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as pes-
13. (UEM/PAS-PR) soas não veem o resultado da contribuição científica em

LÍNGUA PORTUGUESA
sua vida cotidiana, já que muitos cientistas costumam se
isolar e têm dificuldade de comunicação. “Ultimamente,
Um terço dos brasileiros desconfia da ciência
há um nítido aumento da preocupação dos cientistas em
Mariana Varella se comunicar melhor com a sociedade, mas ainda é um
Karl Popper, nascido em 1902, na Áustria, foi um dos movimento incipiente”, afirma Roque. Sem conhecer os
maiores filósofos da ciência do século 20. Ficou muito co- resultados das pesquisas científicas e com pouco ou quase
MÓDULO 6

nhecido por questionar os preceitos positivistas da época, nenhum contato 2com quem a produz, a população não
que viam na observação o caminho para se chegar ao co- vislumbra seus benefícios e tampouco desenvolve uma re-
nhecimento científico. Para Popper, a pura observação dos lação de confiança com a ciência.

221
Por outro lado, a necessidade de mostrar resultados ganha em velocidade galopante, a ciência pode e deve ser
pode comprometer a autonomia, essencial para que a ciên- vista como aliada na luta contra a desinformação.
cia prospere. Foi a liberdade em relação ao Estado e à in- (Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/coluna-2/um-terco-dos-brasileiros-
desconfia-da-ciencia-coluna/. Acesso em: 07 dez. 2020. (Adaptado.)
dústria que permitiu o desenvolvimento de pesquisas e das
próprias ciências. Se houvesse apenas ciências aplicáveis, Em relação a elementos linguísticos presentes no texto,
3
o que seriam das Humanas ou de pesquisas que não pu- assinale o que for correto.
dessem ser diretamente aplicadas?
01) O sintagma nominal “o filósofo” (ref. 1) tem em sua
[...] composição um artigo definido, e não um indefini-
Religião do, pois se trata de uma estrutura que retoma uma
Se cientistas e aqueles que propagam o pensamento referência já apresentada no texto.
científico falham em comunicar a importância da ciência, a 02) O vocábulo “a”, em “com quem a produz” (ref. 2),
religião, por sua vez, estabelece uma relação de proximidade pode ser substituído por lhe sem prejuízo sintático-
com seus seguidores. A Wellcome Global Monitor mostrou -semântico.
que 75% dos brasileiros escolhem sua religião quando esta 04) Em “o que seriam das Humanas” (ref. 3), pressupõe-
discorda da ciência. Considerando que apenas 4% dos en- -se o termo ci•ncias antes do vocábulo “Humanas”,
trevistados disseram não ter religião, é possível afirmar que ainda que não presente textualmente.
a maioria dos brasileiros confia mais na 4religião do que na 08) O vocábulo “ambas” (ref. 6) é empregado no gêne-
5
ciência quando há discordância entre 6ambas. ro feminino e no número plural, pois sua referência
“O papel das igrejas amplia-se no vácuo deixado pe- aponta para duas entidades do gênero gramatical
las políticas sociais, que vêm abandonando, desde os anos feminino, a saber: “religião” (ref. 4) e “ciência” (ref. 5).
1990, a ideia de proteção, de seguridade coletiva, de direi- 16) Em “É necessário que as pessoas percebam sua im-
tos do cidadão. Se não podem acreditar nos valores sociais, portância” (ref. 7), o possessivo “sua” faz referência
só lhes restam os valores individuais, apoiados pela família a “pessoas”, o que permite a seguinte paráfrase: É
necessário que as pessoas percebam a importância
tradicional e pela igreja conservadora. Não acho que a reli-
de si mesmas.
gião seja um empecilho [para acreditar na ciência]. O que
ocorre hoje é que há um modo de praticar a religião que
14. (UFJF-MG) Assinale a alternativa em que aparecem
estende sua influência a domínios que não costumavam
substantivos simples, respectivamente, concreto e abs-
ser da religião, e sim da política”, conclui Roque.
trato.
Portanto, não basta ensinar ciência nas escolas, embo-
a) Água, vinho d) Jesus, abaixo-assinado
ra isso seja muito importante. 7É necessário que as pessoas
percebam sua importância, que sintam seus benefícios no b) Pedro, Jesus e) Nova Iorque, Deus
dia a dia, aprendam a desenvolver o pensamento científico c) Pilatos, verdade
e a confiar nele.
Isso não implica, obviamente, refutar outros saberes e 15. (Unifesp) Em “E correr uns bons 20 km!”, o termo “uns”
formas de conhecimento; ao contrário, o excesso de auto- assume valor de
confiança por parte daqueles que estudam e fazem ciência a) posse. d) especificação.
pode afastar ainda mais as pessoas que não dominam o co-
b) exatidão. e) aproximação.
nhecimento científico. Em um momento em que a desin-
formação e os boatos ganham as redes sociais e a internet c) definição.

Anotações

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Anotações

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MÓDULO 6 LÍNGUA PORTUGUESA
Anotações

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Na Formação Geral Básica,
o novo material do Ensino Médio do
Sistema de Ensino pH promove o
desenvolvimento das habilidades e
competências da Base Nacional Comum
Curricular. Assim, além de garantir as
aprendizagens comuns e obrigatórias, que
contribuirão para excelentes resultados
no Enem e nos principais vestibulares do
país, este material apoiará a formação de
cidadãos críticos e conscientes, capazes de
fazer escolhas pessoais e profissionais com
autonomia e responsabilidade.

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