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REDE DE BIBLIOTECAS

artigo de revisão
ESCOLARES EM PORTUGAL:
um programa modelo

Claudio Marcondes Castro Filho*

RESUMO Este artigo pretende descrever alguns aspectos do Programa de Rede


de Bibliotecas Escolares – PRBE de Portugal. Um dos objetivos é
apresentar ao leitor brasileiro os princípios, a estrutura e as ações
do PRBE, de modo a poder proporcionar subsídios de informação
e inspiração para reflexões e práticas sobre um projeto de rede
de bibliotecas escolares em âmbito nacional. O PRBE procura se
desenvolver em uma filosofia de Rede, com parcerias de diferentes
agentes educativos, provenientes de diversos estratos da sociedade
portuguesa. O artigo também aborda considerações sobre origens,
princípios, padrões de qualidade, funções, ações e projetos do
Programa. Com relação aos procedimentos metodológicos,
utilizamos como método científico a pesquisa exploratória e a
entrevista como técnica de investigação. Como considerações * Doutor em Ciência da Informação
finais, pode se dizer que o PRBE contribui para a formação social pela Universidade de São Paulo, Brasil.
Livre-Docente em Políticas Públicas e
e política do cidadão, pois é um espaço que, dada sua natureza, Formação Profissional da Informação
promove a leitura e o conhecimento. pela Universidade de São Paulo, Brasil.
Professor da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
Palavras-chave: Biblioteca Escolar. Programa de Rede de Bibliotecas Escolares - Universidade de São Paulo, Brasil.
PRBE Portugal. Rede de Bibliotecas Escolares - RBE. E-mail:claudiomarcondes54@gmail.com.

1 INTRODUÇÃO serviços. Nesse aspecto, devemos inserir as


bibliotecas e, particularmente, as bibliotecas

N
ão é possível que esqueçamos que um escolares e suas redes, que passam a contribuir
dos maiores desafios no mundo, há com a utilização de gestão de processos e de
muito tempo discutidos na literatura trabalhos em equipe.
científica, são as lutas existentes diante de Corroborando com definições acerca de
inúmeros contextos em torno dos eixos de entendimento de redes de bibliotecas, a rede é
atuação e responsabilidade incumbidos ao “uma organização [...] formada por um conjunto
Estado, na conjectura de políticas públicas de bibliotecas conectadas que se comprometem
culturais, educacionais e informacionais. Nesse formalmente na consecução de objetivos
aspecto, a biblioteca escolar é uma das figuras comuns” (VARELA OROL; GARCÍA MOLERO;
protagonistas nesse enredo de discussões que GONZÁLEZ GUITIAN, 1988, p. 218).
procura conferir a ela destaque como parte Como comprova Castells (2009, p. 566), as
reconhecidamente legitimada na política “[...] redes são estruturas capazes de expandir de
educacional de uma nação. forma ilimitada, integrando novos nós desde que
Ao longo dos últimos anos, pudemos consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja,
presenciar grande fomentação tecnológica, desde que compartilhem os mesmos códigos”.
tomando proporções significativas em inúmeros A noção de rede é algo tão fundamental
contextos sociais. Fala-se de avanços nas para a educação quanto ainda é algo subestimado
tecnologias de informação e comunicação, em termos de políticas públicas para o âmbito
rompendo barreiras físicas e geográficas, das bibliotecas escolares. Para que uma rede de
juntamente com a possibilidade de interligar bibliotecas seja considerada como um organismo

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coletivo, é necessário saber reconhecer as suas escolas significativo, se compararmos com uma
especificidades e as suas diferenças, mas que essa população de 10.325.425, com 14% de jovens
rede tenha interesses em comum. tendo menos de 14 anos, com 2.027.483 alunos
Nesse sentido, é possível definir uma rede matriculados nos estabelecimentos de ensino.
como “uma organização independente formada Completando dados estatísticos escolares, a faixa
por um conjunto de bibliotecas conectadas que sem nível de escolaridade está em torno de 8%,
se comprometem formalmente na consecução o que representa muito pouco, se considerarmos
dos mesmos objetivos” e que pode se agrupar 91% a taxa de pré-escolarização e 97% a do 1º
em três categorias: “a) elementos institucionais; ciclo, sendo as despesas do Estado em educação
b) elementos técnicos; c) elementos de governo da ordem de 4% do PIB (FUNDAÇÃO, 2017a, p.
e gestão” (VALERA OROL; GARCIA MELERO; 23).
GONZALEZ GUITIAN, 1988, p. 218). Nesse sentido, a necessidade de uma
Antes de detalharmos o Programa de Rede rede de bibliotecas escolares se faz importante,
de Bibliotecas Escolares - PRBE em Portugal, justamente para incentivar o aumento da taxa
é necessário apresentar o nível de ensino em da pré-escolarização e incentivar a continuidade
Portugal. Está dividido em: Educação Pré- dos jovens no 1º ciclo. Para tanto, é importante
Escolar; Ensino Básico 1º Ciclo; Ensino Básico analisarmos e apresentarmos um modelo de
2º Ciclo; Ensino Básico 3º Ciclo e o Secundário. concepção de rede de bibliotecas escolares: o
É importante salientar o número de Escolas, PRBE contempla atualmente 308 municípios. São
para termos uma noção das possibilidades em 2.461 bibliotecas, sendo 2.427 de escolas públicas
números de bibliotecas que podem fazer parte da e 34 de escolas privadas, em 2017 (FUNDAÇÃO,
rede de bibliotecas. 2017b). Em dados comparativos a 1997, eram
Segundo Fundação (2017, p. 1), o número apenas 164 bibliotecas escolares da rede pública;
total de estabelecimentos de ensino em Portugal, em quase 20 anos o aumento de bibliotecas
atualizado em julho de 2017, é de 13.986 escolas, escolares foi superior a 1.200%. Nesse sentido,
sendo que na Educação Pré-Escolar são 6.014; apresentamos a seguir o gráfico com os números
1º Ciclo, 4.314; 2º Ciclo, 1.209; 3º Ciclo ,1.486; de bibliotecas por Direção de Serviços Regionais
e no ensino Secundário, 963. Um número de de 2017 (REDE, 2017).

Gráfico 1: Número de Bibliotecas Escolares em Portugal

Fonte: Rede de Bibliotecas Escolares de Portugal

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Rede de bibliotecas escolares em Portugal

Entre as pesquisas sobre o PRBE, apresenta como fonte de informação [...], uma
podemos citar: Dias (2007), que reflete sobre das técnicas de coleta de dados mais utilizada no
a implementação do PRBE a partir do caso da âmbito das ciências sociais” (GIL, 1999, p. 128).
biblioteca da Escola Secundária Mouzinho da As pesquisas bibliográficas são
Silveira (Portugal); Ferreira (2009), que aborda o desenvolvidas “com base em material já
Plano Nacional de Leitura - PNL e as bibliotecas elaborado, constituído principalmente de livros
escolares, como recursos capazes de fomentar e artigos científicos. Embora em quase todos
hábitos de leitura nas crianças; Campelos (2011), os estudos seja exigido algum tipo de trabalho
que verifica o modo de implementação do PNL dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas
por meio da dinamização da biblioteca escolar; exclusivamente a partir de fontes bibliográficas”
Conde, et. al. (2012), que retratam o processo (Gil, 1999, p. 43). No caso desta pesquisa,
de aprendizagem associado às bibliotecas utilizamos artigos, livros, teses e dissertações.
escolares na educação pré-escolar e no ensino
básico; Portugal (2013), que apresenta o quadro
estratégico do PRBE para 2014-2020; Calçada 2 PRINCÍPIOS: ORIGENS E FORMAÇÃO
e Martins (2014), que descrevem o futuro das
políticas públicas de educação e o papel do A Rede de Bibliotecas Escolares - RBE
Estado na definição da rede de bibliotecas nasce a partir da constituição de um grupo de
escolares de Portugal. trabalho criado pelos despachos conjuntos nº
Mediante este quadro de tipologia sobre 43/ME/MC/95 de 29 de dezembro e nº 5/ME/
a rede de bibliotecas escolares em Portugal, o MC/96, de 9 de janeiro. O PRBE foi lançado
objetivo do artigo é apresentar ao leitor brasileiro em 1996 pelos Ministérios da Educação e da
os princípios, a estrutura e as ações do PRBE, Cultura, com o objetivo de instalar e desenvolver
de modo a poder proporcionar subsídios de bibliotecas em escolas públicas de todos os níveis
informação e inspiração para reflexões e práticas de ensino, disponibilizando aos usuários os
sobre um eventual projeto de rede de bibliotecas recursos necessários à leitura, ao acesso, ao uso e
escolares em âmbito nacional. à produção da informação em suporte analógico,
Com relação aos procedimentos eletrônico e digital.
metodológicos, utilizamos como método Coordenado pelo Gabinete da Rede
científico a pesquisa exploratória, que tem como Bibliotecas Escolares - GRBE, o Programa articula
finalidade desenvolver e elucidar conceitos e a sua ação com outros serviços do Ministério da
ideias, e que normalmente envolve a pesquisa Educação e Ciência - MEC, direções de serviços
bibliográfica e documental. Segundo Gil (1999, de região, autarquias, bibliotecas municipais e
p. 43), este método tem como objetivo principal outras instituições como universidades, centros
o “aprimoramento de ideias ou a descoberta de formação, fundações, associações nacionais e
de intuições é, portanto, bastante flexível, de internacionais.
modo que possibilite a consideração dos mais É indispensável constituir e garantir
variados aspectos relativos ao fato estudado, a ligação entre o GRBE, as escolas e as
pois na maioria dos casos, envolve levantamento diferentes parcerias locais. Esta ligação cabe
bibliográfico”. aos interconselhos das bibliotecas escolares,
As pesquisas exploratórias têm como que coordenam um número de agrupamentos
“finalidade desenvolver, esclarecer e modificar e de escolas não agrupadas, a definir pela RBE,
conceitos e ideias [...] com o objetivo de conforme as circunstâncias e a geografia do
proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, território, assegurando ainda o apoio técnico e
acerca de determinado fato” (Gil, 1999, p. 43), pedagógico aos professores bibliotecários e às
tendo como objeto de estudo o PRBE. Como equipes das bibliotecas.
técnica de investigação, utilizamos a entrevista Para uma escola fazer parte do PRBE,
com a Coordenadora da RBE, Manuela Pargana deve passar por um processo denominado
da Silva, realizada em janeiro de 2018. A candidaturas, sendo selecionadas as escolas que
entrevista “é uma forma de interação social apresentarem melhores condições e projetos mais
[...], uma forma de diálogo assimétrico, em que consistentes, quer para a instalação, quer para a
uma das partes busca coletar dados e a outra se criação de serviços de biblioteca no agrupamento.

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A RBE financia, igualmente, a requalificação de digital, na formação de leitores críticos e na


bibliotecas escolares já integradas na Rede. Todas construção da cidadania.
as escolas que são sede de agrupamentos e de Segundo a coordenadora da RBE, Silva
ensino secundário beneficiam-se do PRBE. (2018) o PRBE conta com
O PRBE espera que a biblioteca escolar
seja um espaço agregador de conhecimentos e uma estrutura intermédia que
permite uma relação de proximidade
com recursos diversificados, um local engajado
com as escolas. Essa estrutura, os
na mudança das práticas educativas, no suporte coordenadores interconcelhos RBE,
às aprendizagens, no apoio ao currículo, no têm a seu cargo o acompanhamento
desenvolvimento da competência digital, da do trabalho das bibliotecas numa
informação e da tecnologia da informação e dada região. Este acompanhamento
é sustentado pela criação de redes
comunicação, na formação de leitores críticos e
concelhias que, por sua vez, criam
na construção da cidadania. dinâmicas de colaboração e de parceria
Nesse aspecto, o PRBE também é muito importantes. Há oportunidade
considerado um prestador de serviços por meio de intercâmbio entre as diferentes
de portal web, blog, newsletter, lista de difusão, bibliotecas de um mesmo concelho.
Criam-se catálogos e portais comuns que
redes sociais, plataformas de aprendizagem e
promovem a produção de conteúdos, a
catálogos individuais das escolas, sendo este troca e a articulação.
último de suma importância para as redes
conselheiras de bibliotecas. Como forma de Para tanto, a formação dos professores
disseminação da rede e das bibliotecas, são coordenadores e professores da equipe da
elaboradas ferramentas com intuito de trocar biblioteca escolar foi considerada um aspecto
experiências e de promover um intercâmbio de estruturante, sendo o alargamento da rede
informações. condicionado por este fator, desde o início
O PRBE procura se desenvolver do PRBE. A legislação referente à função
como uma filosofia de Rede, com parcerias de de Professor Bibliotecário [Portaria nº 192-
diferentes agentes educativos, entre o poder A/2015] garante que recursos qualificados e
local, a sociedade civil e outros projetos na especializados, nesta área, assegurem a gestão
área da educação, e, consequentemente, com e a dinamização dos recursos da biblioteca. A
o PNL. Tem procurado afirmar-se no espaço Portaria n.º 192-A/2015
internacional, participando em diferentes fóruns,
encontros, seminários, workshops e conferências, estabelece as regras de designação de
buscando a integração com os organismos e docentes para a função de professor
associações mais reconhecidos nesta área, como bibliotecário, o modo de designação de
docentes que constituem a equipa da
a International Association of School Librarianship biblioteca escolar, as regras concursais
- IASL e a International Federation of Library aplicáveis às situações em que se
Associations and Insttutions - IFLA. verifique a inexistência no agrupamento
Para o sucesso de um programa de redes de escolas ou nas escolas não agrupadas,
de bibliotecas escolares, é necessário contar de docentes a afetar para as funções de
professor bibliotecário, e as regras de
com a parte mais nobre da estrutura escolar designação de docentes para a função
– os recursos humanos, neste caso do PRBE, de coordenador interconselheiro para
os professores bibliotecários que asseguram as bibliotecas escolares (PORTUGAL,
na escola o funcionamento das bibliotecas, 2015).
as atividades de articulação com o currículo,
de desenvolvimento das competências e de Para o exercício funcional do professor
formação de leitores. Compete-lhes organizar e bibliotecário são necessários atributos e
elaborar a gestão das bibliotecas do agrupamento competências como:
enquanto espaços agregadores de conhecimento,
a) Sejam docentes de carreira de quadro
recursos diversificados e implicados na de agrupamento de escolas ou de escola
mudança das práticas educativas, no suporte não agrupada ou outros docentes de
às aprendizagens, no desenvolvimento da carreira nele(a) colocados; b) Possuam
competência em informação, tecnológica e 4 pontos de formação académica

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Rede de bibliotecas escolares em Portugal

ou contínua na área das bibliotecas fundamentais à construção de hábitos de


escolares, de acordo com o Anexo II da leitura; e) Áreas de ensino, essenciais à
presente portaria e que dela faz parte formação para as competências digitais,
integrante; c) Possuam 50 horas de dos media e da informação; f) Núcleos
formação académica ou contínua na área de apoio pedagógico, cruciais ao
das TIC ou certificação de competências cumprimento dos objetivos educativos
digitais; d) Disponham de experiência da escola; g) Ambientes flexíveis,
profissional na área das bibliotecas adaptados às mudanças tecnológicas e às
escolares; e) Manifestem interesse em necessidades dos usuários; h) Estruturas
desempenhar as funções de professor lideradas por profissionais qualificados,
bibliotecário (PORTUGAL, 2015). capazes de responder às exigências
funcionais e pedagógicas da escola; i)
Essa caracterização é pertinente de ser Serviços de informação com conteúdos e
recursos tecnológicos competentes para
trazida aqui, pois demonstra a importância responder à mudança; j) Redes dinâmicas
de compreender a formação e os requisitos do sustentadas em práticas consistentes e
professor bibliotecário escolar. Em algumas enraizadas na comunidade; k) Sistemas
escolas da rede de bibliotecas escolares existe de cooperação com a sociedade,
o professor bibliotecário com graduação em promotores da partilha de recursos e
de saberes; l) Organizações inclusivas,
biblioteconomia e mestrado acadêmico em que garantem a igualdade no acesso a
biblioteca escolar. Nesse sentido, Silva (2018) serviços e recursos de informação; m)
destaca que Unidades de gestão, orientadas para a
qualidade e a excelência. (PORTUGAL,
este professor bibliotecário tem que 2013).
estar consciente da complexidade e
exigência da sua tarefa. Deve estar Cada padrão de qualidade apresenta 3
permanentemente disponível para fazer
linhas de ação que contemplam mediações nas
formação, acrescentar saber e induzir
a transformação. Uma vez que a sua bibliotecas escolares, desde as práticas de leitura,
primeira prioridade é a formação de como: apoio em pesquisa; aplicação de projetos
leitores torna-se necessário ter presente sociais; desenvolvimento de competências em
o que é ser leitor hoje e identificar informação; recursos de informação atualizados;
os desafios associados a esta tarefa.
atualização de recursos tecnológicos; melhorias
Tem que conhecer bem a realidade
da sua comunidade escolar apoiar as na gestão de coleções; políticas de criação de
aprendizagens curriculares e promover bibliotecas digitais; criação de redes em nível
as diferentes literacias. local e nacional; criação de parcerias nacional e
internacional; igualdade de acesso à informação
e inclusão social; realização de estudos que
mostram o impacto das bibliotecas, produção
3 QUALIDADES: PADRÕES E AÇÕES de estudos e resultados dos projetos; parcerias
com as universidades, no sentido de ampliar
As bibliotecas escolares contam com as pesquisas sobre biblioteca escolar e leitura;
pessoal especializado na área da biblioteconomia parcerias entre bibliotecas; parcerias com o PNL.
escolar e / ou ciência da informação, garantindo Para Silva (2018), as ações do PNL em
assim atendimento, produtos, serviços e ações relação ao PRBE são de ordem colaborativa:
com padrões de qualidade para as bibliotecas “promovemos e desenvolvemos diferentes
escolares; tais padrões foram estabelecidos no projetos nas nossas bibliotecas no âmbito da
Quadro Estratégico 2014-2020 do PRBE: leitura, das literacias e da inclusão em parceria
com o PNL. A nossa ação fica reforçada com
a) Lugares de conhecimento e inovação,
capazes de incorporar novas práticas os programas do PNL e acabamos por nos
pedagógicas; b) Espaços de integração complementar”.
social, indispensáveis ao combate à No contexto dos padrões de qualidade
exclusão e ao abandono escolar; c) para as bibliotecas escolares, podemos considerar
Locais de formação e desenvolvimento como uma das práticas pedagógicas a literacia ou
da competência leitora, condição
de todo o conhecimento; d) Focos competência em informação (information literacy).
difusores do gosto e do prazer de ler, Podemos entender a literacia como a competência

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que permite a leitura de materiais escritos e No contexto daqueles padrões de qualidade,


seu consequente uso “para enfrentar e resolver podemos avaliar que as tecnologias de informação
os diferentes desafios presentes na sociedade e comunicação atraem e estimulam “um público
contemporânea”, como “a capacidade de jovem para a prática da leitura, porém, sua adoção
processamento, na vida diária (social, profissional não garante o aumento do número de leitores e
e pessoal), de informação escrita de uso corrente nem mesmo implica em melhorar a qualidade da
contida em materiais impressos, tais como textos, leitura” (CASTRO FILHO; SILVA, 2016, p. 5). A
documentos e gráficos” (ALÇADA, 2016, p. 39). natureza social da web 2.0 contempla as práticas
Ainda neste contexto dos padrões de de literacia digital, e o hipertexto é uma das
qualidade, podemos entender a importância da modalidades que permite ao leitor uma leitura em
leitura como um bem essencial, uma competência rede e em conexões com palavras, sons, gráficos,
básica necessária a todos cidadãos, para sua imagens fixas e em movimento.
plena realização como indivíduos na sociedade, Ainda nesse mesmo contexto, dos padrões
em qualquer circunstância da vida. Contempla de qualidade para as bibliotecas escolares,
uma necessidade e um prazer; necessidade podemos considerar que, na gestão de coleções,
de conhecer outros mundos e de se mover na estas devem ser seletivas, dinâmicas e integradas
sociedade, prazer pela motivação da curiosidade à comunidade escolar. É importante ressaltar
e de passar por uma experiência de satisfação que a manutenção e a atualização dos acervos
pessoal, em qualquer suporte do ato de ler. precisam ser baseadas nos pontos fortes e fracos
É fator determinante no acesso de uma coleção de materiais de informação, em
à riqueza cultural das obras literárias e termos de necessidades dos leitores e recursos
artísticas, na interpretação da informação da comunidade, tentando corrigir as fraquezas
disponibilizada pelos meios de comunicação, existentes, quando constatadas. Essa mediação
na formação e manifestação do juízo crítico, no entre acevo e leitor informa maneiras inovadoras
desenvolvimento do conhecimento: “para viver de ensino e aprendizagem.
com autonomia, com plena consciência de si
próprio e dos outros, para poder tomar decisões
face à complexidade do mundo atual, para 4 PROJETOS DO PRBE
exercer uma cidadania ativa, é indispensável
dominar a leitura” (ALÇADA et. al., 2006, p. 11). Com relação aos projetos, o PRBE tem
A leitura é tomada como um alicerce executado programas de inovação e excelência em
fundamental na sociedade do conhecimento e da diferentes áreas, que comprovam uma qualidade
informação e do desenvolvimento sustentado, na melhoria do ensino e na aprendizagem, nas
segundo a União Europeia e organizações competências e no envolvimento da comunidade
internacionais como a Organização para a educativa.
Cooperação e Desenvolvimento Econômico - Os Projetos se apresentam em quatro
OCDE e a Organização das Nações Unidas para eixos de parcerias: Entidades do Ministério
a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, que da Educação e Cultura; Entidades públicas;
formulam recomendações para tomar a leitura Entidades privadas; Internacionais (PORTUGAL,
como prioridade política. 2017).
Ainda nesse mesmo contexto dos padrões
de qualidade, podemos identificar como locais • Projetos com as Entidades do Ministério da
de competência em informação e de leitura Educação e Cultura de Portugal:
as próprias bibliotecas escolares, a família, a) aLeR+, que tem como objetivo desenvolver
a biblioteca pública, livrarias, associações um ambiente integral de leitura;
comunitárias, grupos e círculos de leitura e outros b) Conta-nos uma história!, que trata de
espaços culturais. Moreira e Ribeiro (2009, p. 45) incentivar a utilização das Tecnologias
definem leitura na família como “o conjunto de de Informação e Comunicação (TIC),
práticas que englobam as formas como os pais, nomeadamente tecnologias de gravação
as crianças e os membros da família utilizam a digital de áudio e vídeo;
literacia em casa e na comunidade, que ocorrem, c) Ler+ Jovem, que tem por principal
não raramente, durante as rotinas diárias”. estratégia o envolvimento e a dinamização

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Rede de bibliotecas escolares em Portugal

da leitura pelos jovens junto da respectiva curiosidade e o interesse dos alunos pela
comunidade; estatística;
d) Ler, é para já!, programa dirigido a jovens g) Histórias com ciência na BE •
e adultos com poucos hábitos de leitura Universidade de Aveiro, que tem como
e que precisam aumentar os níveis de objetivo a realização de um ciclo de
competência e consolidar as aprendizagens conferências no âmbito da História das
necessárias à qualificação profissional; Ciências, a decorrer nas bibliotecas das
e) Todos Juntos Podemos Ler, que tem como escolas secundárias;
principal objetivo a criação de bibliotecas h) Media@ção, que trata de questões ligadas
inclusivas, capazes de proporcionar à internet e às novas mídias, tais como a
oportunidades de leitura para todos alunos. navegação em segurança, os direitos de
autor, o uso pedagógico das mídias, a
Estes projetos tratam de vários aspectos liberdade e a responsabilidade no mundo
da leitura direcionados para crianças, jovens virtual;
e adultos; contemplam as tecnologias de i) Newton gostava de ler! • Universidade
informação e comunicação com dimensão social de Aveiro, que aborda questões como: o
da narrativa digital não formal e informal; conhecimento científico é decisivo para o
apresentam estratégias nos contextos de avanço civilizacional; a biblioteca escolar
socialização da leitura, centrando na melhoria garante condições para produzir ciência;
da compreensão leitora. Alguns programas j) Operação 7 dias com as mídias 2017,
tratam de aumentar a capacidade do aluno no que tem como objetivo sensibilizar os
desenvolvimento da competência em informação. cidadãos para o modo como os meios de
Existem também projetos como o Clube de comunicação influenciam e até configuram
Leitura e o Diário de Leitura, nos quais existe a vida cotidiana e a cultura;
a presença do mediador da leitura que vai k) REAtar • Biblioteca Nacional de Portugal:
incentivar, nas atividades de leitura, o uso de Recursos Educativos Abertos, Tecnologias
estratégias de compreensão do texto e de reflexão e Aprendizagem em Rede – REAtar, que
sobre personagens, temas e ideias. tem como objetivo captar o interesse de
professores, bibliotecas escolares e alunos
• Projetos com Entidades Públicas: para a utilização da Biblioteca Nacional
a) A maior lição do mundo, que trata Digital -BND, enquanto fonte de recursos
do envolvimento dos alunos com com elevado potencial para o ensino, a
questões ligadas aos Objetivos para o aprendizagem e a investigação;
Desenvolvimento Sustentável - ODS; l) SOBE • Escovar na Escola, que visa
b) AdolesCiência, revista que foi fruto da incentivar as escolas e os jardins-
necessidade de um espaço para ajudar de-infância a implementarem ou
a desenvolver nos jovens a procura de desenvolverem projetos de saúde oral,
conhecimento sério, o espírito científico, o incluindo a escovação dos dentes efetuada
respeito pela autoria e as competências de pelos alunos diariamente, em ambiente
leitura e escrita; escolar;
c) Arquivo Nacional da Torre do Tombo, m) Voluntariado de leitura • Universidade
parceria para utilização das bases de dados Nova de Lisboa - CITI, que se destina a
do Arquivo Nacional; potencializar o desenvolvimento de uma
d) CASES • Prémio António Sérgio 2017, rede nacional de voluntariado na área da
direcionado à premiação de trabalhos promoção da leitura.
escolares;
e) Clássicos em rede • Centro de Estudos Cada um dos projetos com as entidades
Clássicos da FLUL, que tem como objetivo públicas tem as suas especificidades, como o caso
aumentar os conhecimentos sobre a cultura do projeto da Revista Júnior de Investigação, que
clássica; vem incentivar o espírito científico direcionado
f) Competição Europeia da Estatística • à pesquisa, contribuindo para competência
INE, que tem como objetivo promover a em informação e competência digital. No

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conselho editorial da revista existe a presença e) Educação para todos • Fundação PT,
de várias profissionais da rede de bibliotecas projeto Todos Juntos Podemos Ler;
escolares. Outro projeto específico trata dos ODS, f) Ensaio filosófico • Associação de
principalmente do ODS 4 – Educação de Qualidade, Professores de Filosofia, promovido para
com iniciativas da biblioteca escolar abordando suscitar o interesse pela escrita e a reflexão
temas sobre: Direitos Humanos; Igualdade de filosóficas, realçando a importância
Gênero; Interculturalidade; Educação Ambiental; da disciplina de Filosofia na formação
Saúde; Sexualidade; Empreendedorismo; Mundo geral dos alunos do ensino secundário e
do Trabalho; entre outros. Alguns projetos têm consolidar competência em informação;
parceria com museus, arquivos das cidades e g) Escola Virtual, que tem por objetivos
universidades. Apresenta também projetos: sobre ações de divulgação e a aquisição das
aumentar os conhecimentos dos alunos à Cultura competências necessárias para explorar os
Clássica; de prêmios destinados a trabalhos de recursos educativos digitais;
âmbito escolar; de incentivar alunos e professores h) Escritores online, que visa a divulgação
pelo estudo da estatística; sobre a cultura científica conjunta de notícias, reportagens,
junto de um público pré-universitário, tendo como entrevistas, vídeos e eventos relacionados
centro a biblioteca escolar; com as tecnologias com os livros, a leitura, os escritores e as
de informação e comunicação que, por meio das bibliotecas escolares;
bibliotecas digitais, alteram as formas de acesso i) Literatura BD • JANKENPON, que
à informação e de produção do conhecimento, estimula a leitura de histórias em
facilitando a exploração de diferentes tipos de quadrinhos e, simultaneamente, a leitura
materiais e fontes de informação. literária, bem como o desenvolvimento de
competências de comunicação e expressão,
• Projetos com Entidades Privadas: da educação visual e artística;
a) Ações PORDATA KIDS, base de dados que j) Media Smart • APAN, que visa trabalhar
pretende responder com isenção e rigor princípios da competência em publicidade;
à curiosidade natural dos mais pequenos k) Miúdos a votos • Visão Júnior, que trata
e também ser um instrumento útil aos do ato eleitoral, permitindo aos seus alunos
professores do 1.º e 2.º ciclos do ensino expressarem a sua opinião e participarem
básico; na votação nacional;
b) Bia e Kiko, coleção que pretende l) Põe a tua terra nos píncaros! • Rádio
proporcionar experiências educativas Miúdos, que tem como destinatárias todas
diversificadas para estimular a descoberta, as escolas públicas dos 100 municípios
a criatividade e a aprendizagem, do centro do país, e pretende premiar
abrangendo quatro áreas: a Matemática, a dedicação das crianças à sua terra, e
o Mundo, a Língua Inglesa e a Língua descobrir quem tem boas ideias para fazer
Portuguesa (nesta última área, os recursos programas de rádio;
incluem o código ColorADD, sistema de m) Quem conta um conto… ao modo de
identificação de cores para daltônicos); Saramago!?, concurso que lança um
c) Caixa de Euclides • Geometric World, desafio aos jovens que queiram ousar a
cujos objetivos são: contribuir para o sua primeira experiência de escrita através
desenvolvimento da inteligência espacial, da criação de textos originais inspirados
da intuição e da criatividade; tornar mais na obra Memorial do convento, utilizando
fácil, motivador e abrangente o estudo as competências justas para a produção
da Geometria, ajudando a desenvolver literária sob a forma narrativa do conto.
o gosto pela Matemática; permitir uma
abordagem transdisciplinar (Matemática, Os projetos são desenvolvidos em
Física, Biologia, Desporto e Arte); parcerias com empresas particulares, com
d) Casa das Ciências • Fundação Calouste o objetivo de reforço do incentivo à leitura
Gulbenkian, que tem como objetivo nas bibliotecas públicas e colaboração para a
principal a melhoria das aprendizagens instituição de um ambiente social favorável à
nas áreas científicas; leitura. Outro aspecto importante é que a maioria

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Rede de bibliotecas escolares em Portugal

dos projetos fazem parte das linhas de estratégia Especificamente sobre o projeto de
do PNL de Portugal. parceria com a UNESCO, tem como objetivo a
Alguns projetos são bem diferenciados competência científica de forma a sensibilizar
como: o de incentivar a leitura de história a comunidade educativa para os problemas
em quadrinhos e, simultaneamente, a leitura ambientais e da promoção da saúde e prevenção
literária; o de experiências educativas que da saúde. A parceria com a IFLA contribui
vão estimular a descoberta, a criatividade e com a participação de integrantes da RBE em
a aprendizagem, que abrangem quatro áreas congressos da IFLA.
(Matemática,  Mundo,  Língua Inglesa,  Língua A parceria da RBE de Portugal com a IASL
Portuguesa); o desenvolvimento da inteligência é antiga, desde, praticamente, o seu lançamento,
espacial; o de consolidação e ampliação do papel em 1996. Integrar a IASL corresponde à
da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas - RNBP necessidade da Rede se manter atualizada com
e da RBE no estímulo aos hábitos de leitura. Na a vasta e diversificada realidade das bibliotecas
maioria dos projetos destacam-se: a promoção escolares em âmbito internacional e com a
da leitura como fato e fator de desenvolvimento pesquisa e produção de conhecimento que vai se
individual e nacional; a valorização das práticas fazendo nesta área.
pedagógicas e outras ações de incentivo ao
prazer da leitura.
5 AVALIAÇAO DO PRBE
• Projetos Internacionais:
a) Comissão Nacional da UNESCO, que Tanto os projetos como o PRBE têm sido
tem o objetivo de formalizar a parceria avaliados, nos últimos anos, como instrumento
entre esta instituição e a RBE no domínio essencial de gestão e implementação de boas
da competência científica, de forma a práticas. É, hoje, um procedimento natural
sensibilizar a comunidade educativa para nos agrupamentos e escolas, integrando a sua
os problemas ambientais e da saúde; autoavaliação.
b) International Federation of Library Com o objetivo de continuar a avaliação
Associations and Institutions: a RBE tem das bibliotecas, o PRBE publicou em 2017 uma
estado presente, desde 1998, em algumas nova versão do modelo de avaliação da biblioteca
destas conferências onde participou, por escolar, que manteve os princípios norteadores do
exemplo, nos trabalhos de preparação do modelo anterior, que se constitui das seguintes
Manifesto da Biblioteca Escolar, publicado fases: Fase 1- implementação do processo de
pela IFLA / UNESCO em 2000 e traduzido melhoria; plano de melhoria; relatório de execução
para português pela RBE; do plano de melhoria; Fase 2 - avaliação da
c) International Association of School biblioteca escolar; relatório de avalição.
Librarianship: a RBE é membro da IASL Para o novo ciclo de avaliação que
desde 1996; corresponde à necessidade da começou em 2017, será preservado o princípio
Rede em se manter atualizada com a vasta de alternância entre as fases da implementação
e diversificada realidade das bibliotecas do processo de melhoria e da avaliação da
escolares em escala internacional e com biblioteca escolar. Nessa fase, as bibliotecas
a pesquisa e produção de conhecimento formulam o  plano de melhoria, que inclui: a)
nesta área; análise dos resultados apontados no último ciclo
d) Moçambique: em articulação com o PNL, de avaliação; b) produção de um diagnóstico
visa integrar à RBE a Biblioteca da Escola que torne possível detectar os pontos a serem
Portuguesa de Moçambique - EPM, criar aperfeiçoados, nos casos em que a biblioteca
bibliotecas e promover a leitura em escolas não tenha ainda cumprido o processo de
moçambicanas; avaliação. Tais planos de melhoria nas bibliotecas
e) Timor-Leste: visa integrar à RBE a Escola serão implementados como o apoio local
Portuguesa Ruy Cinatti, de Díli - EPRC, dos coordenadores interconselheiros, sob a
criar e desenvolver bibliotecas escolares e supervisão do GRBE.
outras iniciativas de promoção da leitura Para Silva (2018), quanto às melhorias no
em escolas timorenses. PRBE a se fazer:

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Claudio Marcondes Castro Filho

todas as bibliotecas têm que colocar objetivo a produção de conhecimento


como primeira missão a intervenção e, normalmente, é realizada em grupo.
ao nível da leitura. Este trabalho Assim, os alunos têm oportunidade
tem que ser continuado, sistemático de acrescentar conhecimentos,
e consolidado. Constitui a base de desenvolver a sua autonomia e o
todas as aprendizagens. A biblioteca sentido crítico. Em algumas bibliotecas
tem que criar um plano de ação de há uma ligação efetiva aos alunos a
acordo com as principais dificuldades partir do projeto alunos monitores.
dos alunos e as fragilidades da Estes beneficiam de uma formação base
escola. Trabalhar em parceria com os para depois desempenharem várias
professores curriculares e colaborar funções na gestão e na dinamização das
para a melhoria das aprendizagens. A bibliotecas. Este projeto confere-lhes
biblioteca permite desenvolver outras responsabilidade, capacidade de gestão,
práticas nomeadamente, metodologias relacionamento e entre ajuda, desde
de projeto que ajudam os alunos a muito novos.
perceber como se aprende constituindo-
se como protagonistas do processo
de aprendizagem, confrontam-se
com opiniões diferentes, aprendem 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
a respeitar o outro ao mesmo tempo
que devolvem a argumentação.
Esta percepção da diferença ajuda à Os projetos do PRBE contemplam
construção de cidadania. Tratando-se diversas áreas do conhecimento em dimensões
de um espaço para toda a escola e para expandidas, por meio de uma capilaridade em
todos os alunos, tem que se encontrar as diversas disciplinas e geografias. Com cunho
melhores estratégias de inclusão para os educacional e social, os projetos encaminham
diferentes alunos. Por isso, promove-se
e desenvolve-se um conjunto variado de a comunidade para o aprendizado ao longo
projetos com incidência na leitura, nas da vida. Estimulam as questões sociais,
literacias, na inclusão e na colaboração. comunicacionais, educacionais. Favorecem o
estímulo à criatividade e às práticas de leitura,
Para a consecução destes objetivos, é originadas da iniciativa e do apoio do Estado
ferramenta fundamental o referencial “Aprender (também como promotor de parcerias) para criar
com a biblioteca escolar”, como comprovaram políticas públicas que interagem com educadores,
as escolas que recorreram à sua aplicação, intelectuais e sociedade.
em termos de motivação dos alunos e de O PRBE procura reforçar a articulação
enriquecimento das práticas de ensino, além dos entre a RNBP, a RBE e as bibliotecas das
próprios resultados e produtos advindos desse instituições de ensino superior. Novas atribuições
documento. Para 2017-2018, a RBE espera que o para o PRBE e o PNL estão sendo apresentadas
referencial seja cada vez mais utilizado por todos no decorrer de 2018 e até 2027, como uma política
os professores bibliotecários como instrumento integrada de promoção da leitura e da escrita e
de superação dos desafios enfrentados pelas das múltiplas competências em informação, a
escolas, apoiado também em esforços conjuntos cultural, a científica e a digital. Em Portugal há
entre outros professores, parceiros e órgãos de uma continuidade em ações executando seus
gestão. novos objetivos e metas, como também com as
Para Silva (2018), o PRBE contribui para a instituições de cultura, ciência e tecnologia e
formação social e política do cidadão pois as autarquias locais. Nesse sentido, parceiros
e patrocinadores contribuem para criar um
é um espaço que, dada a sua natureza, contexto social favorável à promoção dos hábitos
promove a leitura, o saber mas
também a socialização dos alunos. A
culturais nas esferas do livro e da leitura.
abordagem ao conhecimento é feita Salientando que o principal objetivo do
a partir de uma utilização autônoma PRBE é a leitura, que esta continue a ser, para
mas, também, a partir de projetos a sociedade, uma política pública voltada à
desenvolvidos não apenas na biblioteca educação e à cultura, eficiente e com ações a
mas em articulação com os professores
curriculares e com a sala de aula.
curto, médio e longo prazo, sempre na tentativa
Este trabalho de projeto alicerçado de melhorias para o desenvolvimento intelectual
na pesquisa de informação tem por da comunidade.

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Rede de bibliotecas escolares em Portugal

Nesse aspecto, a biblioteca escolar deve informação. O professor bibliotecário deve estar
ser reconhecida como um equipamento cultural atento para ajudar a erradicar, ou, pelo menos,
e, ainda, como uma instituição social, com amenizar, a exclusão digital e a falta de acesso à
intuito de integrar a sociedade da informação, informação. Ao contribuir para a inclusão digital,
estabelecendo novos conceitos e se adequando este profissional assume uma postura crítica,
às realidades sociais, culturais, educativas e política e social, contribuindo com mudanças
tecnológicas da sociedade. significativas na sociedade.
Consideramos que uma biblioteca escolar Se considerarmos que o professor
deve ser dinâmica, formada por uma variedade de bibliotecário faz parte de uma biblioteca escolar,
recursos movimentados por atividades educativas, que, por sua vez, faz parte de uma rede de
lúdicas e de leitura, podendo inaugurar novas bibliotecas escolares, que, por sua vez, faz parte
maneiras de aprender, mais atraentes e polissêmicas, de um programa de rede de bibliotecas escolares,
aproximando os sujeitos de diferentes linguagens, que, por sua vez, faz parte de um plano nacional
sentidos e também outros sujeitos, superando, assim, de leitura... Enfim, que essa concatenação de
práticas rígidas e desestimulantes encontradas elementos, além de configurar uma associação em
frequentemente nas escolas. conexões coerentes e contínuas, possa funcionar
Para tanto, o professor bibliotecário deve como matriz e motor de um mundo mais humano,
ter conhecimento específico e habilidades para com menos desigualdades e mais justiça. Isso tudo
mediar o acervo de forma criativa para os seus por meio de um instrumento civilizador formado
leitores, considerando a realização de ações por: biblioteca, livro, leitura e leitor em rede.
culturais e a utilização de tecnologias para
organizar, processar e disseminar informações, Auxílio recebido: Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo –
bem como promover a chamada competência em
FAPESP.

Artigo recebido em 29/01/2018 e aceito para publicação em 11/05/2018

NETWORK OF SCHOOL LIBRARIES IN PORTUGAL: a program model

ABSTRACT This article intends to discribe some aspects of the Network School Libraries Program - PRBE of Portugal.
One of the objectives is to introducing Brazilian readers to the principles, structure and actions of PRBE, in
order to provide information and inspiration subsides for reflections and practices on a project of networks of
school libraries in a national context. PRBE seeks to develop a philosophy of Network, parterships of different
educational agents, from different strata of Portuguese society. The article also addresses considerations
about origens, principles, quality patterns, functions, actions and projects of the Program. Concerning the
methodological procedures, we use as a scientific method the exploratory research and the interview as a
research technique. Regarding final considerations, it can be said that the PRBE contributes to the social and
political shaping of the citizen, once it is a space that, given its nature, promotes reading and knowledge.

Keywords: School library. Network of School Libraries Program - PRBE Portugal. Network of School Libraries - RBE.

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