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No início de março, Joel Valdemiro de Borba teve 70% do corpo queimado em uma
máquina de pintar tecidos na Nobre Indústria Têxtil, em Gaspar, Santa Catarina. Dez dias
depois do acidente, um auditor fiscal do trabalho interditou essa e outras máquinas devido
ao risco de novos acidentes acontecerem. Mas a Justiça liberou o funcionamento
alegando que o auditor não interditou imediatamente as máquinas (portanto, não haveria
risco), que a empresa demonstrava “certa boa vontade” em corrigir o problema e que sua
interrupção traria prejuízos financeiros à empresa e aos trabalhadores.
Oito dias depois da liberação, outro trabalhador, Alexandre Souza da Silva, queimou 45%
do seu corpo em máquina semelhante no mesmo local.
Dois meses após o primeiro acidente, a fábrica continua a funcionar normalmente, ainda
amparada pela mesma medida liminar. Procurada, a empresa, através de nota da sua
advogada, afirmou que “está dando apoio aos acidentados e internamente vem
promovendo sindicância nas máquinas.”
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Joel teve 70% do seu corpo queimado ao ser atingido pelo líquido quente que estava
dentro de uma caldeira usada para tingir tecidos. A máquina que ele operava funciona de
maneira parecida com uma panela de pressão de cerca de dois metros de altura. Dentro
dela, o líquido chega a uma temperatura próxima a duzentos graus.
A máquina não tinha nenhum dispositivo que impedisse sua abertura enquanto estava
pressurizada, segundo o relatório do auditor fiscal do trabalho Pedro Maglioni. Algumas
das caldeiras da fábrica tiveram, inclusive, os dispositivos de segurança retirados pelo
empregador. A empresa, porém, alega que “as máquinas têm diversos dispositivos de
segurança”.
Por falta de segurança, as máquinas da fábrica foram interditadas após o acidente pelo
auditor fiscal do trabalho. A falta de um dispositivo que impedisse a abertura da caldeira
sob pressão foi um dos motivos apontados para a medida.
O auditor determinou que a fábrica só poderia voltar a funcionar se segue uma série de
recomendações, cujas soluções deveriam ser apresentadas em 4 dias. Como a empresa
não se adequou nesse tempo, as máquinas foram interditadas após uma semana.
Por fim, ela argumentava que a ação atrapalhava a sua atividade econômica. A defesa
da Nobre alegava que o não cumprimento de prazos geraria perda de clientes,
interrupção nas receitas, não pagamento aos empregados e até a falência da empresa.
Às 18:56 de um domingo, o juiz José Lucio Munhoz decidiu que a fábrica poderia voltar
a funcionar. O magistrado argumenta que um caso grave de segurança do trabalho
deveria ter suas atividades imediatamente suspensas, mas esse não teria sido o que foi
presenciado pela fiscalização, já que houve um intervalo entre a visita do auditor à fábrica
e a interdição das máquinas. “Não foi essa a situação presenciada pelo órgão de
inspeção, pois do contrário não teria concedido prazo algum para que a impetrante
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oferecesse documentos. Caso a situação técnica fosse de uma gravidade urgente, a
medida deveria ter sido enérgica”, diz o juiz na liminar.
A nota também diz que o magistrado trabalhava em plantão, e o processo foi redistribuído
para a 2ª Vara do Trabalho de Blumenau, “que inclusive não revogou a liminar do juiz
Munhoz. Também não há a indicação nos autos de que a União tenha tentado reverter a
decisão no segundo grau.”
Uma semana e um dia após a decisão do juiz, Alexandre Souza da Silva sofreu um
acidente semelhante ao de Joel em outra caldeira da empresa. Assim como naquele
caso, a tampa abriu com a máquina ainda pressurizada, e ele foi atingido por um jato de
água quente. Seu braço, sua perna, sua barriga e até suas costas foram queimados.
O operador teve queimaduras de segundo grau em 45% do seu corpo, e também foi
internado, segundo informações do Comunicado de Acidente de Trabalho emitido pelo
médico da empresa.
Segundo o MPT, a única prova de que a empresa tomou alguma medida foi um “simples
contrato firmado com uma empresa de engenharia” que “não garante em nada que as
medidas protetivas necessárias serão efetivamente implementadas.”
Uma tentativa de conciliação entre as partes está marcada para o dia 15 de maio, com a
presença do Ministério Público do Trabalho. Até lá, a fábrica pode continuar a funcionar
sem restrições.
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