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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

DIRETORIA DE ENSINO A DISTÂNCIA


PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Ludmila Yamashita da Silva

A segurança de trabalho numa fábrica no Japão

Belo Horizonte
2022
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1 Introdução

O presente estudo foi realizado pela própria acadêmica numa fábrica no


Japão, e remete a importância do uso de segurança do trabalho num local que os
funcionários operam máquinas, fornos e uso excessivo de força manual.
Quando se trata do Japão podemos supor que há superproteção de máquinas e
disciplina extremamente rigorosas que evitam acidentes, mas não é o caso em todos
os locais de trabalho.
Anualmente ocorrem vários acidentes em locais de trabalhos no Brasil,
obviamente, os números japoneses são muito menores que os de países como
Brasil, Argentina, Chile e México, onde muitos profissionais não fazem parte das
estatísticas por não aparecerem nos registros estatais e os padrões de segurança
trabalhistas tendem a ser inferiores ao japonês (Mexía, Fernando).
Além dos riscos de acidentes que o trabalhador pode sofrer com o trabalho
em máquinas e excesso de peso, o trabalhador estrangeiro fica ainda mais
suscetível a transtornos mentais relacionados ao trabalho.
Geralmente a falta da família, amigos, o preconceito de ser de outra nação e
não saber falar a língua nativa quando se chega em outro país afeta o mesmo.
Segundo o Manual sobre as condições de trabalho no Japão, no Japão existem
várias leis para proteger os trabalhadores, como garantir as suas condições de
trabalho, saúde e segurança, bem como compensar as lesões ou doenças causadas
no trabalho ou durante o seu deslocamento entre sua casa e o trabalho. Estas leis
são tratadas igualmente tanto para japoneses e estrangeiros, e são aplicadas aos
trabalhadores de qualquer nacionalidade.
O local de trabalho era uma fábrica de capacitores elétricos que são
dispositivos utilizados para o armazenamento de cargas elétricas. Os capacitores
são utilizados em vários tipos de aparelhos eletrônicos, carros, aviões, navios,
foguetes, aparelhos hospitalares entre muitos outros. O estudo visa detalhar como é
o trabalho e como é utilizado a segurança do trabalho no Japão e quais as melhorias
que possam ser usadas para maior segurança para o trabalhador.
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2 Identificação do risco e descrição dos objetivos

No serviço a ser realizado eram trabalhadas onze horas por dia e 55 horas
semanais, com intervalo para o almoço de quarenta e cinco minutos e vinte minutos
de descanso após cinco horas do horário do almoço. O serviço era realizado em pé
durante as 11 horas por dia.
Antes de aprender o trabalho que seria realizado, a funcionária conheceu toda
a empresa e como era utilizado e feito o produto. Os produtos químicos utilizados no
processo realizado pela funcionária não foram informados.
Na atividade realizada no local de trabalho, a funcionária realizava dois tipos
de serviços diferentes. No primeiro serviço a funcionária operava cinco máquinas ao
mesmo tempo, que realizava o corte do produto no tamanho definido pela
necessidade dos pedidos realizados na empresa. Havia o risco de corte dos dedos e
mãos no processo. A máquina realizava o corte a base de água e o EPI utilizados
nesse primeiro serviço era luva de algodão com pigmentos de PVC. A mão com
frequência molhava, expondo a pele aos produtos químicos utilizados no processo.
Após o corte realizado pela máquina, o produto era seco e feita a fiscalização
com lupa, utilizando luz para conferir se havia erros nos processos anteriores em
outros setores ou erro de corte da máquina utilizada pela funcionária, havendo erros,
o erro era sinalizado com caneta com o código do mesmo. Após a fiscalização era
enviado para o processo de forno, onde o EPI utilizado era uma luva de borracha.
Com frequência a funcionária sofria queimadura nos pulsos com o manejo de
retirar o produto do forno. Nesse processo também havia odor exalado pelo
processo de aquecimento do produto, não sendo oferecido máscaras de proteção.
Os erros do produto eram retirados. O produto em conformidade com o modelo era
armazenado e carregado pela mesma e mandado para o setor seguinte. As caixas
com o produto que seria enviado para o setor seguinte, variava entre 10kg a 25kg.
Esse processo era realizado várias vezes por dia, e havia meta para cumprir
de quantidades de lotes realizados. Protetores auriculares e sapatos com proteção
eram distribuídos.
Portanto, para a realização da atividade há a exposição a uma atmosfera de
risco, onde pode haver risco de cortes, queimaduras, contato e inalação de produtos
químicos. A avaliação de risco, análise do fornecimento de EPI’s necessários, se faz
primordial para o melhoramento do bem estar dos funcionários na empresa.
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3 Revisão da literatura

Na disciplina de número 5 Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas,


Equipamentos e Instalações II, em sua unidade de número 2, foi apresentado
algumas normas relacionadas a máquinas, fornos e equipamentos, ministrada pelo
Professor Marcelo Santana Silvino, onde abordou-se os conceitos da Norma
Regulamentadora 12.
De acordo com a NBR 12100 (ABNT, 2013) a análise de risco é a
combinação da especificação dos limites da máquina, da identificação de perigos e
das estimativas de riscos. Conforme o desenvolvimento do trabalho, lesão física é
considerado um dano. Há um risco de probabilidade de ocorrência deste dano, onde
a pessoa fica exposta a pelo menos um perigo, no caso estudado, o perigo para a
funcionária em operar a máquina, era um risco de corte dos dedos e mãos e
queimaduras. Possuindo essa zona de perigo, deveria ser analisada medidas de
proteção para reduzir esse perigo.
De acordo com a NR 12, esta Norma Regulamentadora define referências
técnicas, princípios fundamentais e medidas de proteção para resguardar a saúde e
a integridade física dos trabalhadores e estabelece requisitos mínimos para a
prevenção de acidentes e doenças do trabalho nas fases de projeto e de utilização
de máquinas e equipamentos, e ainda à sua fabricação, importação,
comercialização, exposição e cessão a qualquer título, em todas as atividades
econômicas.
Nota-se que na utilização das máquinas pela funcionária, mesmo enquanto a
máquina estava fazendo o corte do produto, a porta da máquina poderia ser aberta
ocasionando perigo a saúde física da mesma. Os funcionários eram orientados a
não abrir a porta da máquina, mas havendo algum problema na hora do corte, o
funcionário era ensinado a abrir e tentar resolver, para não ocasionar perda na
matéria prima, pois, era cara. Havendo nesse momento um risco na integridade
física do funcionário. Não havia dispositivo de parada de emergência.
Conforme ministrado pelo professor Marcelo Santana Silvino, na unidade 1,
vimos também sobre a NR 14. Que aborda sobre Fornos. De acordo com essa
norma, esta Norma Regulamentadora visa estabelecer requisitos para a operação
de fornos com segurança.
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No item 14.1 a Norma Regulamentadora fala que, os fornos, para qualquer


utilização, devem ser construídos solidamente, revestidos com material refratário, de
forma que o calor radiante não ultrapasse os limites de tolerância estabelecidos pela
Norma Regulamentadora NR 15 – Atividades e operações insalubres.
De acordo com a NR 15, entende-se por “limite de tolerância”, para fins desta
norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a
natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do
trabalhador, durante a sua vida laboral.
A funcionária cuidava de 2 fornos ao mesmo tempo, a temperatura do forno
dependia do tipo da peça. A temperatura variava de 110°C à 135°C. A funcionária
ficava a uma distância de uns 30 cm dos fornos as onze horas trabalhadas. Quando
ia retirar o lote do forno, geralmente se queimavam, por causa que os empregadores
não lhes davam EPI’s necessários.
Além dos riscos apresentados nas máquinas e fornos, a funcionária fazia uso
da força no carregamento das caixas com o produto, que variava de 10kg à 25kg.
Essas caixas eram carregadas várias vezes ao dia.
De acordo com a NR 17, item, 17.4.3, devem ser implementadas medidas de
prevenção, a partir da avaliação ergonômica preliminar ou da AET, que evitem que
os trabalhadores, ao realizar suas atividades, sejam obrigados a efetuar de forma
contínua e repetitiva como o uso excessivo de força muscular.
Portanto, de acordo com os dados analisados do trabalho, visamos estudar
uma proposta para situações que possam ser melhoradas para a integridade do
funcionário.

4 Proposta de medida de segurança e operacionalização

Neste capítulo serão utilizadas como base a Norma Regulamentadora n°12


(NR-12), que estabelece diretrizes para princípios fundamentais e medidas de
proteção para resguardar a saúde e a integridade física dos trabalhadores, a Norma
Regulamentadora 14 (NR-14), que visa estabelecer requisitos para a operação de
fornos com segurança, a Norma Regulamentadora 15 (NR-15), que estabelece as
atividades que devem ser consideradas insalubres, a Norma Regulamentadora 17
(NR-17), que visa estabelecer as diretrizes e os requisitos que permitam a
adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
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trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho


eficiente no trabalho e a Norma Regulamentadora (NR-06), que tem como objetivo
estabelecer os requisitos para aprovação, comercialização, fornecimento e utilização
de Equipamentos de Proteção Individual – EPI.
Na identificação dos perigos e riscos na atividade, procuramos aqui medidas
que podem ser adotadas como medidas de proteção que se pretende para atingir a
redução de risco.
Como visto no trabalho, primeiramente a funcionária manuseava cinco
máquinas ao mesmo tempo, utilizando como EPI uma luva de algodão com
pigmentos de PVC.
De acordo com a NR 12, item 12.1.7, o empregador deve adotar medidas de
proteção para o trabalho em máquinas e equipamentos, capazes de garantir a saúde
e a integridade física dos trabalhadores.
A porta da máquina não tinha dispositivo de travamento enquanto estava em
funcionamento, como pedida de proteção e de acordo com a NBR 12100 (ABNT,
2013), podemos inserir uma proteção com intertravamento que é uma proteção
associada a um dispositivo que, em conjunto com o sistema de controle da máquina,
a impede de executar funções perigosas enquanto estiver aberta.
A máquina também não tinha dispositivo de parada de emergência, e
podemos inserir um projeto de dispositivo de partida, acionamento e parada das
maquinas de acordo com requisitos da NR-12.
Como, a luva de algodão e pigmentos de PVC era constantemente molhada
com o excesso de água, podemos trocar a luva de algodão por uma luva para
proteção contra umidade proveniente de operações com utilização de água.
De acordo com a NR-15, anexo 03, na área do forno devemos ter um laudo
técnico para a caracterização da exposição ao calor. E pela NR-14, os fornos devem
ser instalados em conformidade com o disposto em normas técnicas oficiais e em
locais que ofereçam segurança e conforto aos trabalhadores. A funcionária
constantemente sofria queimaduras nos pulsos por falta de EPI necessários,
podemos trocar a luva de borrada por luvas de proteção das mãos contra agentes
térmicos e adicionar mangas para proteção do braço e do antebraço contra agentes
térmicos. Contra o odor exalado, seria oferecido máscara de proteção respiratória.
Poderíamos adicionar também óculos de proteção contra o calor nessa etapa.
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Em relação ao manuseio da carga de acordo com a NR-17, não deverá ser


exigido nem admitido o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso
seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. E a carga suportada
deve ser reduzida quando se tratar de trabalhadora mulher e de trabalhador menor
nas atividades permitidas por lei.
Lembrando também que como medida de prevenção devem haver pausas
para propiciar a recuperação dos trabalhadores.

5 Conclusão

Concluiu se que, devemos obedecer os estudos sobre o controle dos riscos,


eliminando ou substituindo o material, redução, controle do maquinário, medidas
administrativas e Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). A exposição aos
riscos devem ser evitados sempre que possíveis com medidas e ações protetivas.
O empregador deve fornecer os Equipamentos de Proteção coletivos e
Individuais necessários. As máquinas devem estar funcionando de acordo com as
Normas Reguladoras e ter todos os dispositivos de seguranças necessários.
São medidas de prevenção adotadas para proteger o empregador e os
funcionários a fim de reduzir os riscos de acidentes de trabalho. Essas medidas de
segurança visa proporcionar um ambiente de trabalho saudável para que as
atividades sejam realizadas da maneira mais correta possível, evitando possíveis
acidentes.
Pondo essas medidas protetivas em prática, o estudo visa diminuir
consideravelmente os riscos no local de trabalho.
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Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12100: Segurança de


máquinas – Princípios gerais de projeto – Apreciação e redução de riscos. Rio de
Janeiro. 2013.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 06 – Equipamento de Proteção


Individual – EPI. Brasília. Ministério do Trabalho e Previdência, 2022 <Disponível
em:https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
portarias/2022/portaria-mtp-no-2-175-nova-nr-06.pdf>.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 12 – Segurança no trabalho em


máquinas e equipamentos. Brasília. Ministério do Trabalho e Previdência, 2022
<Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-
regulamentadoras/nr-12-atualizada-2022.pdf>.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 14 – Fornos. Brasília. Ministério


do Trabalho e Previdência, 2022 <Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-
previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-
trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-portarias/2022/portaria-mtp-
no-2-189-nr-14.pdf>.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e operações insa-


lubres. Brasília. Ministério do Trabalho e Previdência, 2022 <Disponível em:
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-
regulamentadoras/nr-15-atualizada-2022.pdf>.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 17 – Ergonomia. Brasília. Ministé-


rio do Trabalho e Previdência, 2022 < Disponível em:https://www.gov.br/trabalho-e-
previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-
trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-17-
atualizada-2021.pdf>.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, TRABALHO E BEM-ESTAR. Manual sobre as condições


de trabalho no Japão <Disponível em: https://jsite.mhlw.go.jp/hyogo-
roudoukyoku/content/contents/000604082.pdf>.

MEXÍA, Fernando. Japão usa tecnologia para se proteger de acidentes de trabalho,


2007. < Disponível em : https://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1658161-
5602,00JPAO+USA+TECNOLOGIA+PARA+SE+PROTEGER+DE+ACIDENTES+DE
+TRABALHO.html

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