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ACIDENTE DE TRABALHO

Francisco Narain Viana de Brito


Prof. Luiz Rogério
Direito da Seguridade Social
1. Acidente de trabalho

Um acidente de trabalho ocorre quando um colaborador sofre algum tipo de lesão,


temporária ou permanente, durante seu trabalho ou em decorrência dele.
Ademais, podemos citar exemplos como lesões causadas por esforços repetitivos
ou até mesmo psicossomáticos, que podem ser provocadas por estresse contínuo
pela sobrecarga de trabalho ou pelo próprio ambiente de trabalho.
Outrossim, todos os casos que são considerados como acidentes de trabalho estão
estabelecidos na legislação, que explicaremos mais para frente.
Diante disso, em todos eles, é necessário haver uma perícia médica de
confirmação, realizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dessa forma, o
perito pode constatar a relação entre o acidente e a atividade desenvolvida pelo
colaborador, além de orientar o colaborador acidentado.
Como consequência disso, o funcionário pode ser afastado temporariamente pela
incapacidade de continuar desempenhando suas tarefas diárias. Isso, pois o acidente pode
afetar permanentemente as habilidades do colaborador, impedindo que ele trabalhe na
mesma função.
Por fim, para alarmar e informar as empresas sobre este perigo, o Observatório
Digital de Saúde e Segurança do Trabalho divulgou, em 2018, dados sobre este tema,
desenvolvidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização
Internacional do Trabalho (OIT).

2. O acidente de trabalho e a CLT

A principal lei sobre este tema é a 8213/91. Em seu art. 19 ela define o que é
acidente de trabalho, assim como quais são os deveres da empresa neste momento.
Vejamos:
“Art. 19 – Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a
serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho
dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão

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corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
§ 1º – A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e
individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador.
§ 2º – Constitui contravenção penal, punível com multa, deixar a empresa de
cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.
§ 3º – É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os riscos
da operação a executar e do produto a manipular.”

3. Tipos de acidentes de trabalho

Segundo a CLT, existem três principais tipos de acidentes de trabalho no mundo


corporativo. São eles: típico; atípico e de trajeto.
Ademais, essas categorias foram criadas como forma de auxiliar a perícia médica
no momento da análise, e servir como garantia de que o acidente de fato ocorreu como
consequência da atividade exercida.
3.1. Típico

O acidente típico é um dos mais comuns de serem vistos no mundo corporativo.


Ele é caracterizado por ocorrer no local de trabalho, em seus arredores, ou durante o
expediente do colaborador.
Normalmente, as causas mais comuns para este acidente estão relacionados a
motivos e ações, como: imprudência, negligência ou causas naturais como deslizamentos
e enchentes.
3.2.Atípico

O acidente atípico ocorre em casos muito específicos quando há uma certa


repetição das atividades exercidas no trabalho, ou da doença que esteja, de alguma forma,
ligada ao ofício.
Neste caso, podemos citar alguns exemplos de atividades que podem causar
acidentes atípicos, como por exemplo: atos de agressão ou sabotagem; contaminação
durante o trabalho e acidente durante os períodos destinados a alimentação e descanso

3.3.De trajeto

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Por fim, o último tipo de acidente previsto em na lei é o de trajeto. Como seu
próprio nome diz, ocorre durante o deslocamento do profissional de sua casa até a sede
da empresa ou vice-versa, seja em seu próprio veículo ou no transporte público.
Cada um desses acidentes possui características bem distintas, que permitem uma
fácil diferenciação e entendimento para que as organizações consigam lidar com os
eventuais problemas decorrentes.
Agora, independentemente do tipo de acidente, a empresa deve seguir um
procedimento padrão previsto em lei para que o profissional lesionado tenha seus direitos
garantidos e consiga se recuperar.

4. Acidente de trabalho X doença ocupacional

A diferença entre estes termos é bem simples: a doença ocupacional está


englobada dentro das possibilidades de acidente de trabalho. Ou seja, é uma possível lesão
que pode ocorrer em virtude da atividade desempenhada pelo colaborador.
Essas doenças podem ser causadas por diversos fatores, sendo a mais comum a
exposição contínua a agentes de risco (físicos, químicos, biológicos e radioativos),
podendo inclusive agravar quadros clínicos já existentes. Segundo a legislação, existem
duas categorias de doenças ocupacionais. São elas: Doenças profissionais e Doenças do
trabalho.

4.1.Doenças profissionais

Regido pelo anexo II do Decreto 3.048/99, as doenças profissionais são


decorrentes de situações comuns aos integrantes de determinada categoria profissional
de trabalhadores.
Além disso, essas doenças normalmente apresentam quadros leves que evoluem
de forma lenta, se agravando conforme o tempo.
Por fim, podemos citar o exemplo de profissionais que trabalham como caixas
em instituições bancárias e adquirem DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao
Trabalho), devido à movimentação diária contando dinheiro e registrando as
informações nas máquinas.

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4.2.Doenças do trabalho

As doenças do trabalho são resultantes das condições do ambiente no qual o


profissional exerce suas atividades.
Em outras palavras, diferentemente do caso anterior, os problemas que podem
surgir não são causados pelo desempenho da atividade em si, mas sim de algum fator
associado ao seu ambiente de trabalho.
Como exemplo, funcionários que trabalham em lugares com ruídos altos como
indústrias, podem ter sua audição prejudicada com o passar do tempo, especialmente se
não usarem Equipamentos de Proteção Individuais (EPI).
Por isso, caso algum colaborador sofra quaisquer desses tipos de acidentes, a sua
empresa deve estar preparada para lidar com a situação de forma eficiente, garantindo
todos os direitos dos profissionais previstos em lei.

5. Obrigações da Empresa

Dependendo do ramo da organização, os colaboradores possuem grandes


chances de sofrerem algum dos tipos de acidentes de trabalho que mencionamos acima.
Por isso, as empresas devem estar preparadas e cumprir com todas as obrigações
previstas em lei quando essas situações ocorrerem.
Mas afinal, quais são essas obrigações? Podemos separá-las nos seguintes
tópicos: Oferecer os devidos equipamentos de proteção individual; enviar o
Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT) e cumprir com os direitos previstos aos
colaboradores acidentados.

5.1.Oferecer EPIs

Segundo a Norma Regulamentadora Nº6, os Equipamentos de Proteção


Individual são dispositivos usados pelos funcionários destinados a protegê-los de
eventuais riscos que possam ameaçar sua saúde e segurança no trabalho.
As organizações são obrigadas a conceder gratuitamente estes equipamentos em
três situações: Quando as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção
contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais do trabalho;

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quando as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas e para atender a
emergências.
Dessa forma, toda empresa, cujas atividades possam oferecer algum risco à
saúde do funcionário, deve fornecer esses equipamentos. Além disso, também devem
garantir que estão em boa qualidade, orientar seu uso de forma adequada, e substituí-lo,
caso seja danificado. Caso contrário, estarão sujeitas a penalidades e multas.

5.2.CAT

Agora, caso o colaborador venha a sofrer algum acidente, o principal


procedimento que deve ser tomado imediatamente pela empresa é a Comunicação do
Acidente do Trabalho.
Explicaremos em detalhes como realizar essa comunicação daqui a pouco. Mas
aqui, podemos adiantar que ela deve ser encaminhada à Previdência Social até o
primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência, detalhando o acidente ocorrido e o
colaborador que foi lesionado.
Caso essa comunicação não seja feita, a contratante sofrerá severas autuações do
Ministério do Trabalho (MTE), segundo os art. 286 e 336 do Decreto nº 3.048/1999.
Veja na íntegra:
“Art. 286 – A infração ao disposto no art. 336 sujeita o responsável à multa
variável entre os limites mínimo e máximo do salário-de-contribuição, por
acidente que tenha deixado de comunicar nesse prazo.
§ 1º – Em caso de morte, a comunicação a que se refere este artigo deverá ser
efetuada de imediato à autoridade competente.
§ 2º – A multa será elevada em duas vezes o seu valor a cada reincidência.
§ 3º – A multa será aplicada no seu grau mínimo na ocorrência da primeira
comunicação feita fora do prazo estabelecido neste artigo, ou não comunicada,
observado o disposto nos arts. 290 a 292.

Art. 336 – Para fins estatísticos e epidemiológicos, a empresa deverá


comunicar à previdência social o acidente de que tratam os arts. 19, 20, 21 e
23 da Lei nº 8.213, de 1991, ocorrido com o segurado empregado, exceto o
doméstico, e o trabalhador avulso, até o primeiro dia útil seguinte ao da
ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob
pena da multa aplicada e cobrada na forma do art. 286.”

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5.3.Direitos dos colaboradores

Por fim, a terceira obrigação das empresas é a concessão de todos os direitos aos
colaboradores acidentados.
Esses benefícios são assegurados pelo INSS, e só poderão ser concedidos por
meio do documento gerado pela Comunicação do Acidente de Trabalho, que
comprovará a incapacidade de o profissional continuar exercendo suas atividades.
Para entender melhor estes últimos processos, detalhamos cada um deles nos
próximos tópicos. Preste muita atenção, pois o não cumprimento deles pode acarretar
sérias consequências econômicas para o seu negócio.

6. Direitos dos trabalhadores que sofrem acidente de trabalho

Ao todo, as leis trabalhistas estabelecem que todo profissional lesionado por


algum acidente de trabalho possui cinco direitos. São eles:
6.1.Estabilidade no emprego

Essa estabilidade no emprego é garantida até que o funcionário possa retornar ao


trabalho. Ou seja, ao retornar, seu contrato de trabalho estará garantido por, no mínimo,
12 meses.
6.2.Afastamento remunerado

Normalmente, o período de afastamento para que o colaborador se recupere é de


15 dias. No entanto, mesmo caso este tempo precise ser estendido, o profissional não
será prejudicado em sua remuneração.
O INSS fornecerá um auxílio financeiro durante todo o período necessário para
que o profissional se recupere e possa voltar a desempenhar suas tarefas.

6.3.Recolhimento do FGTS

Independente do tempo de afastamento, todo colaborador acidentado também


tem direito ao recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

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6.4.Aposentadoria por invalidez

Alguns acidentes de trabalho mais graves podem causar a incapacidade do


colaborador de retornar a desempenhar suas funções normalmente. Nesses casos, ele terá
direito à aposentadoria por invalidez junto ao INSS.
Agora, caso a perícia confirme um diagnóstico de invalidez parcial, o funcionário
pode receber a chamada aposentadoria especial.

6.5.Pensão por morte.

Por fim, em casos de acidentes que levam ao óbito do colaborador, seus


dependentes possuem o direito de receber uma pensão pela perda.
Estes são os principais direitos que sua empresa deve garantir a seus colaboradores
que forem acidentados. Além de seguir uma determinação legal, o seu cumprimento
ajudará o funcionário a se recuperar para que consiga voltar à trabalhar normalmente.

7. Considerações finais

Por mais indesejáveis que sejam, os acidentes de trabalho são recorrentes em


muitas organizações cujas atividades ofereçam algum tipo de risco a seus colaboradores.
Por isso, é necessário saber não somente os principais tipos de acidentes que seu
negócio pode sofrer, mas principalmente quais são as medidas que devem ser tomadas
para auxiliar o profissional lesionado.
Por fim, explicamos os tipos de acidentes de trabalho previstos na legislação, os
direitos dos colaboradores que sofrerem esses prejuízos, e os procedimentos que devem
ser seguidos pelas organizações.

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