STOICORUM ADVOCACIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA FEDERAL CÍVEL E

CRIMINAL DA SSJ DE PARACATU/MG

JS LOCAÇÃO DE TRATORES E EQUIPAMENTOS LTDA

- ME, já devidamente qualificada nos autos da Ação Regressiva por Acidente
de Trabalho proposta pelo INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL -
INSS, pessoa jurídica de direito público, já devidamente qualificado, vem com o
devido respeito à presença de Vossa Excelência, requerer a juntada de suas
CONTRARRAZÕES à Apelação de ID 1365471347, para que sejam os autos
devidamente encaminhados ao Egrégio Tribunal.

Termos em que, respeitosamente

Pede deferimento.

Paracatu/MG, 31 de maio de 2023

Advª. Náthaly Silva Pereira

OAB/MG 216.042

Adv. DR. Fernando José Nascimento Fonseca

OAB/MG 116.096

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CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO

Recorrida : JS Locação de Tratores e Equipamentos Ltda - ME

Recorrente : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Processo : 1000778-11.2022.4.01.3817
Recurso : Apelação
Origem : Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Paracatu/MG

Egrégio Colégio Recursal

Colenda Turma

Ínclitos Julgadores

Merece ser mantida a respeitosa Sentença ora recorrida,

em razão da correta apreciação das questões de fato e de direito, conforme se
demonstrará no deslinde desta peça.

I. DA TEMPESTIVIDADE

A apelação deverá ser respondida no prazo de 15 (quinze)

dias, a contar da intimação da parte recorrida. Assim sendo, considerando que o
prazo se encerra em 02/06/2023, as contrarrazões são tempestivas.

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II. BREVE SÍNTESE DOS FATOS

A Autarquia recorrente propôs a presente ação em face da

recorrida asseverando, em apertada síntese, que no dia 11/03/2021, ocorreu
um grave acidente de trabalho na Fazenda Santa Luzia, no Município de João
Pinheiro/MG, durante a construção de um reservatório de água.

Narra que o Sr. Ângelo Carlos Alves Fonseca, funcionário

da empresa recorrida desde 12/02/2018, operava um trator esteira quando
houve necessidade de fazer reparos na máquina para substituição de uma
peça que apresentada defeitos. Que utilizou um macaco hidráulico para erguer
o trator, se entrou debaixo do equipamento para realizar a tarefa, momento em
que o trator, de aproximadamente 9 (nove) toneladas caiu sobre ele e o
esmagou. O funcionário faleceu, em decorrência das graves lesões.

A recorrente afirma que a culpa do acidente é atribuída à

empresa recorrida por inobservância de seus deveres, especialmente no que
tange à segurança no trabalho em máquinas e equipamentos. Aponta falta de
capacitação do funcionário, que não conseguiu identificar o risco que estava
exposto e, por conseguinte, que adotasse comportamento adequado para sua
segurança.

Além do mais, aponta que a empresa recorrida deixou de

cumprir seus deveres legais e gerou um ambiente inseguro, com condições
que tornaram possível o acidente e que a ação do trabalhador é decorrente que
uma gestão de riscos ineficiente.

Em continuidade, aduz que a violação das normas de

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segurança do trabalhador coloca em risco a vida e integridade física das
pessoas, além de causar grave dano à Previdência Social, sendo que o
pagamento de benefícios aos dependente do segurado configura dano para a
Autarquia.

Assim, aponta que a empresa descumpriu normas de

segurança do trabalho e deve indenizar o trabalhador e que, caso não seja
responsabilizado o empregador, em último caso o Erário custeará o prejuízo do
ato ilícito, sendo que todoa quele que causa um dado deve ser obrigado a
repará-lo. Portanto, ajuiza a presente ação regressiva alegando
comportamento culposo ou doloso do empregador pelo pagamento de
benefício acidentário.

Pois bem. Em sede de contestação, restou comprovado que

o acidente ocorreu por culpa exclusiva do funcionário, que agiu por vontade
própria, não tendo a empresa nenhuma responsabilidade, eis que não teve
conduta negligente no que se refere à prevenção do acidente, nem tampouco
nexo de causalidade com a fatalidade ocorrida.

Vale destacar que o Laudo 2021-0470-002975-024-

010523908-53 da Polícia Civil conclui que os vestígios apurados no local do
acidente no dia do ocorrido indicam a dinâmica compatível com a descrita no
Boletim de Ocorrência, qual seja, a ocorrência de um choque entre as
máquinas operadas por Francisco e Ângelo, que culminou na morte deste,
prensado pelo trator.

Pela dinâmica pela qual ocorreu o acidente, resta claro que

a empresa recorrida não foi causadora do dano. Não houve negligência, dolo,
imperícia ou imprudência da empresa recorrida, isto é, não houve culpa
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genérica e, portanto, a responsabilidade civil não deve ser imputada à empresa
recorrida. Além do mais, não houve omissão da empresa no que tange às
normas de segurança.

Certo é que a Autarquia recorrente usa a presente ação não

apenas em busca do dinheiro, mas também como uma ferramente para
estimular a população a agir de determinada maneira, mas a ação regressiva
decorre de ato ilícito praticado por terceiros e diversas outras hipóteses, o que,
comprovadamente não aconteceu no presente caso.

Consubstanciado às provas documentais juntada aos autos,

afastando a responsabilidade da empresa recorrida, em razão da culpa
exclusiva da vítima, que voluntariamente se expôs a situação de perigo
extremo, o juízo julgou improcedente o pedido inicial, in verbis:

“Embora o INSS repute demonstrado o nexo de

causalidade pela falta de capacitação, o funcionário
recebeu treinamento para riscos de acidente. Nada
obstante, de maneira completamente imprudente,
posicionou-se debaixo do trator e solicitou ao
companheiro de trabalho que utilizasse a
retroescavadeira para forçar a peça que necessitava
de manutenção. Assim, a culpa exclusiva da vítima,
que voluntariamente se colocou numa situação de
extremo perigo, rompe o nexo de causalidade entre a
conduta da empresa e o dano. Ante o exposto, com
fulcro no art. 487, I, do CPC/2015, julgo
IMPROCEDENTE o pedido.”

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A recorrente, portanto, inconformada com a Sentença,
apresentou Apelação ao ID 1365471347, afirmando a responsabilidade da
empresa pela ocorrência do acidente, no intuito de que a empresa recorrida
seja compelida a ressarcir o Erário pelos gastos efetuados com o pagamento
de benefício previdenciário, razão pela qual se faz necessária as presentes
contrarrazões.

III. DA INEXISTÊNCIA DE DOLO OU CULPA DA EMPRESA

Meritíssimos Julgadores, a r. Sentença de ID 1350194369,

não merece qualquer tipo de retoque por parte deste Egrégio Tribunal, por ter
sido minuciosa quanto à descrição dos fatos ocorridos reclamados pela
recorrente. O recurso interpossto não merece acolhimento, conforme será
demonstrado sem dificuldades.

Certo é que, para que surja o dever de ressarcir os

prejuízos suportados pelo INSS em virtude de concessão de benefício por
acidente de trabalho, é imprescindível a comprovação da culpa da empresa
empregadora por negligência, no que tange ao cumprimento das normas de
segurança do trabalho.

É indispensável que o acidente tenha ocorrido em virtude

da negliglência da empresa e que fique comprovado o nexo de causalidade
entre ambos, para que configure responsabilidade da empresa e advenha a
obrigação de ressarcir as despesas efetuadas pela Autarquia.

Das provas colacionadas aos autos, depreende-se que a

empresa recorrida não agiu de forma culposa ou dolosa, nem tampouco
contribuiu para o acidente, pois este decorreu de fatos alheios à vontade da
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empresa. Não foram identificadas ação dolosa e/ou negligência da empresa
recorrida, bem como restou comprovado que a empresa cumpriu as normas-
padrão de segurança, não havendo como prever qualquer conduta para
impedir o acidente – que decorreu de culpa exclusiva do trabalhador. Segue
trecho da Sentença:

“Aliás, a empresa ré trouxe aos autos o controle de

presença - com a participação de Ângelo, no
treinamento de segurança oferecido em 15.04.2019
por uma empresa especializada, cujo conteúdo inclui
riscos ambientais e de acidentes (Id. 1112763772).
[...] o funcionário recebeu treinamento para riscos de
acidente. Nada obstante, de maneira completamente
imprudente, posicionou-se debaixo do trator e
solicitou ao companheiro de trabalho que utilizasse a
retroescavadeira para forçar a peça que necessitava
de manutenção.”

A documentação acostada aos autos demonstra que a

empresa recorrida sempre foi cautelosa no sentido de preservar e cumprir as
normas-padrão de segurança no trabalho, sempre visando identificar e corrigir
qualquer eventual irregularidade, monitorando os funcionários para que estes
não trabalhem sem os equipamentos de proteção.

Além do mais, foi comprovado nos autos que o trabalhador

recebeu treinamento de segurança, ofertado pela empresa recorrida, tendo o
funcionário qualificação para desenvolver suas atividades com segurança.

No caso dos autos, em 11 de março de 2021, o Sr. Ângelo

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Carlos Alves Fonseca, operador de máquinas, funcionário da empresa
recorrida, sofreu acidente de trabalho e veio à óbito. O trabalhador executava
sua função de operador de máquinas, quando notou que o trator que precisava
de reparos e, então, voluntariamente se posicionou por baixo da máquina e
pediu o colega de trabalho que forçasse a peça que precisava de manutenção
com a máquina retroescavadeira, quando ocorreu um choque entre as duas
máquinas, culminando, lamentavelmente, no óbito do trabalhador. O ocorrido
ensejou na concessão de benefício de pensão por morte em favor da família do
segurado.

Para configuração da pretensão ressarcitória, deve ser

incontestável a culpa da empresa empregadora, mas no caso em comento
resta evidente que a empresa recorrida não agiu com culpa, ao contrário,
ofereceu treinamentos necessários à segurança dos trabalhadores.

O acidente que ensejou a presente discussão foi uma

fatalidade. Era totalmente impossível sua previsão, não sendo cabível
responsabilizar a empresa recorrida pelo ônus do benefício previdenciário
suportado pelo INSS.

Outrossim, tendo em vista que as empresas são obrigadas

a recolher a contribuição segundo o grau de risco das atividades desenvolvidas
(SAT), é totalmente descabida a pretensão da Autarquia em resgatar o
montante concedido à família da vítima de acidente do trabalho, pois
configuraria cobrança em duplicidade, eis que não foi verificada na lide dolo ou
culpa da empresa empregadora.

Assim, diante do conjunto probante dos autos e da verdade

dos fatos expostos no decorrer da lide, foi demonstrado que a empresa
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recorrida não teve nenhuma responsabilidade no ocorrido, o que motivou o
Ilustre Magistrado a quo a concluir pela improcedência da demanda,
entendendo que não houve ação dolosa ou negligência da empresa recorrida
no cumprimento das normas padrão de segurança do trabalho.

Assim sendo, não há que se falar em responsabilidade da

empresa pelo acidente ocorrido e, por tais razões, pugna pelo desprovimento
do Recurso de Apelação interposto, pelas contrarraões fáticas acima
expendidas.

IV. DA NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA SENTENÇA

Analisando detidamente os autos, o Magistrado entendeu

que “o funcionário recebeu treinamento para riscos de acidente. Nada obstante,
de maneira completamente imprudente, posicionou-se debaixo do trator e
solicitou ao companheiro de trabalho que utilizasse a retroescavadeira para
forçar a peça que necessitava de manutenção.”

Além do mais, é nítido, pelas provas produzidas nos autos

que a empresa recorrida ofertou treinamento de segurança aos funcionários,
além de que o acidente ocorreu por culpa exclusiva do trabalhador, não
havendo nexo de causalidade entre a conduta da empresa e o acidente.

Da Sentença, o Juízo a quo expressou que “De acordo com

as versões constantes do BO e do laudo da Polícia Civil, em favor dos quais
milita a presunção de legitimidade e veracidade, conclui-se que, ao solicitar ao
funcionário Francisco que utilizasse a retroescavadeira para forçar a peça e se
posicionar embaixo do trator – momento em que as máquinas teriam se
chocado, a própria vítima se colocou numa situação de risco exorbitante. Aliás,
a empresa ré trouxe aos autos o controle de presença - com a participação de

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Ângelo, no treinamento de segurança oferecido em 15.04.2019 por uma
empresa especializada, cujo conteúdo inclui riscos ambientais e de acidentes
(Id. 1112763772).”

Restou comprovado que não houve negligência da empresa

recorrida no que tange à capacitação de seus empregados quanto à segurança
laborativa, e a determinação do Juízo a quo em julgar improcedente o pedido
inicial é medida justa e efetiva, eis que inexistente o nexo de causalidade entre
a empresa recorrida e o acidente.

Ademais, da leitura das razões e pedidos contidos na

Apelação, percebe-se que a Autarquia pugna pelo ressarcimento dos gastos
efetuados com a concessão de benefício de aposentadoria por morte em
razão do acidente sem preencher o requisito legal primordial para tanto, qual
seja, comprovar que a empregadora agiu com dolo e culpa no que tange às
normas-padrão de segurança do trabalho.

A Sentença não merece qualquer tipo de reapreciação, pois

o mérito foi analisado na medida certa, não havendo que se falar em
reanálise da Decisão que julgou improcedente o pedido, sendo que a
esta deve ser mantida em sua integralidade, por seus próprios
fundamentos.

V. CONCLUSÃO

Pelos fatos e fundamentos acima expendidos, requer que

seja negado provimento à Apelação interposta pela recorrente e que seja
mantida a r. Sentença do Juiz de Direito em todos os seus termos e
fundamentos, de forma a garantir a Justiça.

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Pede deferimento.

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