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Pedagógica
Claudia Goulart
Gilberto Lacerda Santos
(Organizadores)
EDITORA
Copyright © 2018 by VIVA Editora
Revisão
Débora Diersmann Silva Pereira
ISBN: 978-85-63520-18-0
CDU: 37:004
Realização: Apoio:
Tecnologias e Comunicação
Pedagógica
Claudia Goulart
Gilberto Lacerda Santos
(Organizadores)
Capitulistas
Bruno Santos Ferreira
Carlos Ferreira
Christiane Moisés
Claudia Goulart
Erikson de Carvalho Martins
Frederico Coelho Krause
Gilberto Lacerda Santos
Isa Sara Rego
Noeli Batista dos Santos
Raquel Alves Amaral
Richard Gagnon
VII Seminário de Pesquisas do Laboratório Ábaco
25 e 26 de outubro de 2018
Universidade de Brasília
SUMÁRIO
Apresentação....................................................................................................... 08
Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) por
professores do Ensino Secundário em Portugal........................................... 12
Carlos Ferreira
Inovações Digitais: Implicações para a Formação de Professores
na Sociedade do Conhecimento........................................................................35
Christiane Moisés
Autorregulação e Motivação no Processo de Estratégia de
Ensino aprendizagem de Kolb...........................................................................57
Claudia Goulart
O ensino de língua materna, as novas práticas digitais no WhatsApp
e o desenvolvimento da argumentação escrita............................................73
Erikson de Carvalho Martins
Criando visualizações em realidade aumentada para o ensino
de ciências...........................................................................................................100
Frederico Coelho Krause
Docência no ambiente virtual.........................................................................115
Gilberto Lacerda Santos
Corpo, dança, educação e cultura: a ótica teórico-metodológica
da Informática aplicada ao ensino da Dança...............................................138
Isa Sara Rego
Estratégias e conteúdos transmídias: novas práticas didático-
pedagógicas para o contexto da cibercultura.............................................158
Noeli Batista dos Santos
Letramento e práticas textuais no aplicativo WhatsApp.............................176
Raquel Alves Amaral
Tecnologia, Educação e o Conhecimento em Ambientes de Formação
on-line....................................................................................................................193
Richard Gagnon
Bruno Santos Ferreira
APRESENTAÇÃO
8
No quarto e nono capítulos, professores utilizam recursos da ferramenta
WhatsApp na pesquisa sobre a língua materna e seu letramento. O professor
Erikson Martins, de Língua Portuguesa, do Instituto Federal de Educação, Ci-
ência e Tecnologia da Bahia, aplicou uma atividade aos alunos do 2º ano do
Ensino Médio Técnico Integrado em Informática do Instituto Federal da Bahia,
Campus Barreiras. A atividade teve como eixo norteador a discussão do enig-
ma central do livro de Machado de Assis, Dom Casmurro. O nono capítulo,
da professora Raquel Amaral, apresentou como objetivo esclarecer questões
sobre a aplicabilidade dos letramentos provenientes de práticas textuais no
aplicativo WhatsApp e suas contribuições ao ensino de conteúdos de língua
materna.
9
No último capítulo, o professor Richard Gagnon e o estudante de doutorado
Bruno Santos Ferreira, da Universidade de Laval, fazem um longo e aprofun-
dado debate sobre as relações entre informação, tecnologia, conhecimento e
o saber significativo.
10
Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) por
professores do Ensino Secundário em Portugal
Carlos Ferreira
Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa
UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal
Resumo
O presente capítulo visa proporcionar algum conhecimento sobre o
modo como os professores de 3º ciclo e Ensino Secundário, em Portugal,
utilizam as TIC em sala de aula, identificando e averiguando alguns aspetos
determinantes que estão subjacentes ao uso das TIC em contexto educativo,
de índole pessoal e profissional. Também, realçar os aspetos relacionados
à formação do professor, nomeadamente, os processos e os tipos de
formação frequentados, pretendendo-se verificar se existe uma associação
entre a mesma e o uso das TIC. A importância deste estudo surge aliada à
necessidade de se realizar mudanças de paradigma, que propõe a alteração
de hábitos profissionais, novas formas de organização do trabalho, alterando,
por sua vez, a visão global dos processos de ensino-aprendizagem conhecidos
como tradicionais. No caminho da “expansão tecnológica” é esperado que o
professor seja o responsável pela integração produtiva das TIC em sala de
aula, proporcionando aos alunos novas formas de aprender. Associada a
esta prática deve-se pensar paralelamente no Desenvolvimento Profissional
do Professor. Se é esperado que este seja o “veículo condutor” até ao aluno,
sobre estas novas formas de aprender, deve-se proporcionar planos de
formação adequados às necessidades e expetativas do professor. Sendo um
estudo de natureza mista, descritiva e não experimental, utilizaram-se como
método de recolha de dados o inquérito por inquérito, mediante o qual se
procurou obter resultados que esclarecessem os indicadores em estudo
– Utilização TIC e Formação, procurando-se, posteriormente, encontrar
relações de significância entre as variáveis relativas aos aspetos mencionados.
As conclusões gerais apontadas neste estudo consistem no facto de existir
uma tendência crescente do uso das TIC, verificando-se que os processos
formativos adotados pelos professores se encontram associados ao uso das
TIC. Contudo esses mesmos processos formativos não determinam que tipo
de uso estes fazem.
12
INTRODUÇÃO
13
“[…] tornando-as mais vivas, interessantes, participantes e mais vinculadas
com a nova realidade de estudo, pesquisa e contacto com conhecimentos
produzidos.” (MORAN, 2000).
Vários autores (SILVA; PRATES; RIBEIRO, 2017; LIMA, 2010) referem ser
fundamental a introdução das TIC nesses processos, contemplando, em
primeiro lugar, os conhecimentos que os professores possuem sobre a sua
prática pedagógica diária. Esta é a base que possibilita ao docente “sentir”
novas necessidades de formação, que o conduzirão, por sua vez, à procura da
formação contínua.
Kenski (2007) refere outro dado importante, refletindo sobre o que se passa,
de alguma forma, no terreno em que “a maioria das tecnologias é utilizada
como auxiliar nos processos educativos.” Nesse sentido, e mencionando a
taxonomia, parece que nos situamos entre o “aprender com o computador
– computer literacy” e a sua utilização como ferramentas de construção de
conhecimentos (mindtools).
14
Uma vez detectadas essas lacunas nos planos formativos, encaram-se novas
perspectivas que contemplem o caráter inovador do ensino, proporcionando
ao professor a possibilidade de explorar as potencialidades pedagógicas das
TIC, em detrimento dos aspetos mais tradicionalistas.
15
comunicação influencia a utilização de objetos de aprendizagem digitais e
programas educativos pelos professores em contexto educativo?”
16
2 METODOLOGIA
Quanto aos procedimentos, foi aplicado um inquérito aos professores, que foi
preenchido on-line, executado pelo software Lime-Survey, no qual os docentes
podiam responder através de uma hiperligação que foi divulgada por via cor-
reio eletrônico ao Diretor da escola que, por sua vez, passava ao restante dos
professores. Os contactos com a escola foram realizados telefonicamente e por
via correio eletrônico, de modo a obter a autorização superior para o preenchi-
mento do inquérito.
Após a sua recolha, os dados foram exportados para uma folha de cálculo do
Microsoft Excel. Os inquéritos foram tratados quantitativamente, através do
software IBM SPSS, de forma a possibilitar uma visão geral sobre o panorama
de utilização e formação que os professores participantes no inquérito detêm,
tendo em conta os objetivos do estudo.
2.1.1 Demográfico
18
2.1.2 Tecnologias e utilização
19
3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
20
amostra desse segmento corresponde ao número de professores que sele-
cionou a não certificada, aquando a questão “Que tipo de formação possui?”
(n=139). Desse modo, apresentámos duas vias alternativas para os processos
de formação: “Autoformação” e “Heteroformação”. Os resultados obtidos para
cada uma das vias foram os seguintes:
a) “Heteroformação” – 29%;
b) “Autoformação” – 21%,
21
3.1.2 Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)
Relativamente ao uso das TIC, constatou-se que dos 369 professores que res-
ponderam ao inquérito, 92,4% responderam que utilizam as TIC, e apenas 7,6%
dos professores responderam que não fazem uso.
Na questão: “Dos seguintes suportes digitais, qual ou quais, faz uso em sala
de aula”, obtiveram-se os seguintes resultados: 45,9% dos professores utilizam
somente objetos de aprendizagem digitais; 42,6% recorrem a programas edu-
cativos e a objetos de aprendizagem; 11,5% dos professores referem utilizar
somente programas educativos.
22
a) Programas para geração de apresentações – 96%;
Das ferramentas mais utilizadas constata-se que 86% dos professores recor-
rem, simultaneamente, a processamento de texto e a programas para geração
de apresentações.
Na questão seguinte “Utiliza as TIC em sala de aula porque:” foi dada a hipó-
tese de os professores selecionarem no máximo duas opções do conjunto de
respostas fornecidas. As opções mais selecionadas foram: “Revela impacto na
qualidade do ensino praticado e exerce efeitos na aprendizagem dos alunos”,
com 75,6%; “Considera diferentes tipos de ferramentas tecnológicas e meto-
23
dologias”, com 55,6%. As opções menos selecionadas foram: “Comporta e con-
sidera todos os professores”, com 1,8% e “Cobre todo o currículo”, com 8,5%.
c) Na Educação física.
Quando analisada a variável uso das TIC pelos professores com formação,
constata-se que de uma forma global e descritiva existem 44% dos professores
a utilizarem programas e objetos; 44% utilizam objetos de aprendizagem e ape-
nas 12% recorrem a programas educativos.
Para avaliar a associação entre as variáveis tipo de formação com o tipo de uti-
lização das TIC em contexto educativo, recorreu-se ao Teste do Qui-quadrado
de independência (MARÔCO, 2018).
24
A análise estatística permite afirmar que o tipo de formação em TIC não está
associado ao tipo de utilização (x^2(4)=9.040; p=0.060; n=304). Desse modo,
parece que a formação não determina o uso das TIC em sala de aula, talvez por
este mesmo uso ainda se encontrar numa fase embrionária, tendo em conta
que os recursos que são proporcionados são de fácil manipulação, e talvez ain-
da não se encontrar definida a complexidade que é necessária existir para uma
sala de aula ser efetivamente tecnológica.
50%
40%
30%
20%
10%
Faz uso
0% das TIC
Não faz
uso das
TIC
25
Na análise estatística realizada por meio do teste Wilcoxon-Mann-Whitney,
para se comparar as funções de distribuição entre a idade e o fazer uso, ve-
rifica-se que não é estatisticamente significativa esta distribuição (U=4193.5;
p=0.477).
Quando se analisa a mesma variável (Carreira docente) e o facto de ter ou não
formação em TIC, podemos analisar de forma descritiva, constatando-se que
o facto de o professor ter ou não formação em TIC vai aumentando com o
tempo de serviço (a análise desse dado dever-se-á fazer tendo em conta que
em primeiro lugar os professores deste estudo são, maioritariamente, mais
velhos, e já tiveram mais tempo de frequentar ações de formação aquando
comparado com os professores mais novos).
Quando partimos para a análise inferencial, claramente que se prevê que a
formação em TIC está associada ao tempo de serviço do professor. Para essa
conclusão recorreu-se, à semelhança do teste anterior, ao Wilcoxon-Mann-
-Whitney, retirando-se os seguintes resultados: (U=4804.5; p=0.001). Verifica-
-se, igualmente, uma associação entre a mesma variável e os níveis de certi-
ficação obtidos.
Analisando a componente não certificada, pretendeu-se também verificar
os processos de autoformação e a carreira docente. Constata-se, pelo teste
referido anteriormente, que essas variáveis se encontram associadas entre
si (U=10220;p=0.012). Já os processos de heteroformação não se encontram
associados à variável carreira docente (U=8320;p=0.661).
Na hipótese de que se existiria alguma associação entre o tipo de uso das
TIC e a fase de Carreira Docente, recorreu-se ao teste estatístico de Kruskal-
-Wallis, para se conseguir comparar mais do que duas categorias. Verifica-se
que o tipo de uso não é considerado significativo (p= 0.547; n=337).
Na hipótese de existir associação entre o tipo de formação e a fase de Carrei-
ra Docente, à semelhança da anterior recorre-se ao mesmo teste estatístico,
verificando que existe uma associação entre as variáveis (p=0.000; n=364),
que é significativamente diferente de 0 (21%).
Quanto à situação profissional, apura-se que os utilizadores das TIC se con-
centram, sobretudo, nos professores que pertencem ao quadro, com 60%
dos casos. Seguidamente, surgem os que pertencem à nomeação definitiva
(25%) e os contratados, com 16%.
26
Na hipótese que se pretendia compreender se a construção de objetos de
aprendizagem está associada ao tipo de formação do professor, recorre-se ao
teste do Qui-quadrado da independência, revelando que a construção de ob-
jetos de facto está associada à formação do professor (x^2(2)=7.566; p=0.023;
n=301), mas o nível de significância é relativamente baixo (16%). Quando ana-
lisamos se existe associação entre o tipo de formação do professor e o facto
de este propor aos seus alunos que construam objetos, isto é que manipulem
as tecnologias, verifica-se que essas duas variáveis não se encontram associa-
das (x^2(2)=5.772; p=0.056; n=301).
Outro dado constatado consiste no facto de não existir associação entre os
alunos construírem objetos de aprendizagem e a fase de carreira do docente,
obtendo-se os seguintes resultados pelo teste de Wilcoxon-Mann-Whitney:
(U=7987; p=0.399). Da mesma forma se verificou para o facto de o professor
construir os seus objetos e a fase em que se encontra, apurando-se que não
existe associação também (U=5627.5; p=0.898).
27
4 CONCLUSÕES
Tal como foi avaliado acima, os professores são considerados os principais ato-
res em termos da melhoria do ambiente digital nas escolas. Para este objetivo
é necessária a existência de planos de formação ajustados à realidade, contem-
plando a verdadeira vertente pedagógica das TIC no ensino, provocando, por
sua vez, mudanças nos paradigmas de ensino tradicional para o inovador.
Desse modo, as TIC acarretam consigo uma nova forma de trabalho dos profes-
sores, em que eles elaboram estratégias recorrendo a este meio como forma
de melhorar a qualidade e a eficácia das mesmas.
Projetamos e eles corrigem o trabalhinho em Word e depois temos uma dúvida
qualquer, mostramos uma imagem vamos ao Google por exemplo e vamos
buscar uma imagem, vamos ao email da turma que eu fiz com eles e trabalha-
mos [...]
Contudo como iremos constatar mais à frente, o uso destas é ainda muito ele-
mentar, aspeto esse que é reforçado pelos professores utilizadores. É impor-
tante referir ainda que alguns aspetos organizacionais são, de facto, fatores
condicionantes, e que embora esses professores utilizem, revelam alguma pre-
ocupação:
É a incapacidade que a escola tem, e os entraves que coloca à utilização das
TIC mais eficaz. Eu fiz dois anos de formação em quadros interativos, tive uma
grande classificação na formação que fiz, mas depois deparei-me com salas de
aula onde nem uma tinha o quadro interativo.
Acho que as escolas não estão organizadas de forma a permitir que os profes-
sores utilizem as TIC.
28
Assim, quando falamos do impacto das TIC nas escolas, e o seu potencial, surge
o Projeto IPETCCO, que tem como finalidade compreender o potencial das TIC
ao nível da modernização das práticas com professores de escolas do ensino
básico (PERALTA; COSTA, 2010). Dentro de um conjunto de fatores que poderão
condicionar a utilização das TIC, surgem os contextuais, que podem desenca-
dear duas visões, quer ao nível macro – as políticas regionais e nacionais para
o uso pedagógico das TIC, quer ao nível micro – onde as escolas devem ser
motores facilitadores para a integração das TIC na sala de aula.
Como se pode constatar, este uso das TIC encontra-se muito direcionado no 3º
ciclo e ensino secundário, para ferramentas do Office, como refere um profes-
sor utilizador: “[...] nós de facto temos muito interiorizada a utilização de tec-
nologias, a um nível elementar como é óbvio o Word o PowerPoint não muito
mais que isso.”
29
que tantos os alunos como os professores utilizadores das TIC e “construtores”
de objetos de aprendizagem, recorrem, encontram-se evidências que o “pro-
cessador de texto” “programas de geração de apresentações” e a “folha do Ex-
cel”, são os mais utilizados.
Constata-se ainda que o tipo de formação do professor na área das TIC en-
contra-se associado às fases de Carreira Docente, verificando-se algum inves-
timento dos professores nos processos de formação certificada e não certifi-
cada (nomeadamente, processos de autoformação e heteroformação), já que
se constata que 88% dos professores afirmaram ter algum tipo de formação.
Relativamente à certificada, 68,4% afirmam já possuir o Certificado de Compe-
tências Digitais (Nível 1).
30
[...] se eu tiver vontade, eu consigo chegar lá sozinho e não preciso de formação
nenhuma, tenho colegas aqui na escola que frequentaram mais formações que
eu, e em termos de domínio da coisa a bem ver ficam muito aquém.
31
sucesso da formação, dever-se-á levar primeiramente o professor a compre-
ender o que é que a utilização das TIC pode beneficiar os processos de ensino-
-aprendizagem (COSTA et al., 2008) com o Modelo F@R: Formação-Ação-Refle-
xão, colmatando a lacuna detectada (SAMPAIO; COUTINHO, 2011) de os planos
possuírem excesso de teoria em detrimento da prática. É nesse caminho que
a formação deverá contemplar a existência de acompanhamento desses pro-
fessores para o terreno (supervisão), dada a complexidade daquilo que esse
processo requer, bem como aquilo que ele ambiciona – colocar Portugal entre
os cinco países da Europa mais avançados em termos de modernização tecno-
lógica das escolas e esse esforço de apetrechamento tecnológico nas escolas só
faz sentido se os mesmos forem utilizados com intuito pedagógico.
32
REFERÊNCIAS
MARÔCO, João. Análise Estatística com o SPSS Statistics. 7. ed. [S.l: s.n.], 2018.
33
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Fonseca Silva. As Novas Tecnologias e aprendizagem: desafios enfrentados
pelo professor na sala de aula. Em Debate, n. 15, p. 107, 13 mar. 2017.
34
Inovações Digitais: Implicações para a Formação de Professores na So-
ciedade do Conhecimento
Christiane Moisés
Instituto de Letras, Universidade de Brasília
Resumo
Abordar sobre Tecnologias Digitais de Informação, Comunicação e Expressão
é uma tarefa árdua e árida, uma vez que a tecnologia aplicada na sala de aula
geralmente tende a reforçar práticas de ensino oxidadas ou tecnologias de
enxerto em metodologias existentes. É fato que as novas tecnologias digitais,
enquanto mediadoras das relações socioeducativas, constituem-se em
artefatos complexos que demandam ações e relações inovadoras, dinâmicas
e criativas por parte dos educadores, o que muitas vezes é permeado por
conflitos. Por essa razão, este artigo trata de questões relativas à formação de
professores e aos fundamentos necessários ao entendimento da Sociedade
do Conhecimento.
35
INTRODUÇÃO
37
estamos presos a ideias gerais e inovar não passa de uma “maquiagem” de
ações configuradas como mais do mesmo.
38
Todo o mundo imáginário de alavancas, canos, caldeiras, insetos e pessoas
conectados – amarrados entre si pelas regras que governam esse pequeno
mundo. Isso para mim, é uma interface em seu modo de arte e elevada.
Todavia, um dos maiores desafios com que as escolas hoje se debatem reside
na tentativa de perpetuar um modelo de ensino centralizado e limitador, um
modelo fabril que teima em se encaixar em um contexto onde o sujeito se torna
autor, aprende e produz consigo ou com outro(s), descobre experenciando a
ubiquidade da Web 2.0, já entremeada à Web 3.0.
40
estabelecendo uma parceria cognitiva com e através das TICEs – em outras
palavras, agentes que ressignificam e metamorfoseiam seu processo de
ensinar e aprender.
41
Behrens (2000, p. 15), há quase duas décadas, já reforçava a urgência de
ações efetivas de qualidade na constituição de uma docência condizente à
modernidade “[...] neste momento de globalização mundial, continuamos
a tratar a formação do professor com discursos vazios de uma prática
apropriada e significativa [...]”
Em nosso dia a dia, nos hibridizamos com tecnologias de fácil manuseio, bem
como aquelas que exigem um conhecimento mais acurado. Kenski (2010, p.
19) define tecnologia como “[...] o conjunto das ferramentas e das técnicas que
correspondem aos usos que lhes destinamos em cada época.” Assim, elucidar
que as tecnologias se restringem apenas ao uso específico de equipamentos
e produtos seria negar a evolução do homem, pois são elas que transformam
sua maneira de pensar, agir e sentir ao longo dos tempos. A geração digital vê
o digital como extensão de seu modo de vida – presente no cotidiano desde
o despertar, quando se conectam, e assim permanecem até o findar do dia.
42
A geração que nasceu no final da década de 1980 em diante possui muitos
apelidos, tais como “geração da rede”, “geração digital”, “geração instantânea”
e “geração ciber” (VEEN; VRAKKING, 2009). Todas essas denominações se
referem às características específicas de seus ambientes ou comportamentos.
“Geração digital” refere-se ao fato de as crianças atuarem em mundos digitais
on-line com informações digitais. “Geração instantânea” ou GenZ faz referência
ao fato de suas expectativas serem por respostas quase sempre imediatas e é
exatamente nessa geração que nos encaixamos no presente momento.
43
Ora, a geração presente em nossos ambientes educacionais ‒ da mais
tenra idade à universidade ‒ já tem o mundo digital como parte integrante
e dominante de sua rotina cuja característica premente, como mencionado,
é serem multitarefa: se divertem com jogos on-line ao mesmo tempo que
divulgam e conversam sobre os diversos assuntos, relacionam-se através
das redes sociais, manuseiam aplicativos de música e vídeo, complementam
seu conhecimento na Web e em videoaulas no YouTube, além de realizar
pesquisas escolares.
44
priorizando a habilidade do instrutor de conduzir uma reflexão sobre como
ocorre a aprendizagem na geração de conhecimento on-line, como a tecnologia
contribui para tal e o que se aprende a respeito da própria tecnologia quando
se engaja nesse tipo de aprendizagem. Palloff, Pratt e Stockley (2001, p. 81)
indicavam que:
Por isso, o que muito se advoga é que o professor do século XXI deve saber
produzir para e com seu aluno, por meio de projetos de aprendizagem e
tarefas colaborativas, levando-os a buscarem processos de investigação e
pesquisa.
45
Nóvoa (2009) insiste que a persistente equidistância entre os discursos,
formações acadêmicas e a práxis docente não são mais toleráveis:
É evidente o abismo que existe entre o ensino mediado pelas TICEs em muitas
de nossas universidades e a dinâmica que as redes podem oferecer na relação
professor-aluno on-line. Tal abismo ocorre pelo fato de estarmos arraigados a
uma longa estada em modelos de ensino-aprendizagem oxidados e corroídos.
46
A esse respeito, podemos sintetizar que uma formação eficiente de professores
via mediação das TICEs perpassa pela aprendizagem de diferentes estilos de
ensino (mesmo aqueles que nunca as vivenciaram enquanto estudantes),
desenvolvendo parcerias com atores da comunidade e prontos a assumir
riscos, de modo a minimizar o fosso existente entre a escola, a perspectiva
do estudante atual e, acima de tudo, corresponder ao contexto em que o
educador atua. Todavia, deve-se estar atento para não se incorrer a uma
mera estimulação tecnológica em sala de aula sem que ocorram “[...] modos
de se subjetivar, pensar e dialogar nessas condições.” (SIBILIA, 2012, p. 92).
47
De forma geral, os professores têm uma percepção positiva quanto ao uso
de conteúdos digitais para a prática docente. Vale destacar o fato de que o
estímulo ao uso desses recursos é mais motivado por interesse pessoal (92%)
e pela demanda ou necessidade dos alunos (66%) do que por incentivos
institucionais. (COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL, 2015, p. 128).
48
4 Quase uma conclusão
Dessa forma, via uma formação criativa, inovadora e que está intrinsecamente
ligada ao contexto educacional, o professor funcionará como um dínamo na
criação e execução de novas ideias e de soluções criativas em parceria; na
disposição de correr riscos calculados (em termos de tempo, equidade ou
carreira); na capacidade e habilidade criativa de reunir recursos necessários
49
para sua práxis pedagógica; e, finalmente, na visão de reconhecer
oportunidades onde e quando os outros veem o caos e a contradição.
50
REFERÊNCIAS
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56
Autorregulação e Motivação no Processo de Estratégia de Ensino-
aprendizagem de Kolb
Cláudia Goulart
Faculdade de Educação Física, Universidade de Brasília
Resumo
O que ocorre com educandos que se esforçam e permanecem nas aulas
teóricas e/ou práticas e com os que desistem, abandonam o processo de
ensino-aprendizagem? Questionamos suas motivações, desmotivações e
diversos motivos para o abandono das aulas. Normalmente, respondemos
que depende da didática do professor, da estrutura da escola ou da
motivação do aluno. Essa é uma discussão que nos remete a vários caminhos:
metodológicos, teórico-práticos e até políticos. Aos professores, cada vez mais
são exigidos desafios, em estratégias e conhecimento de teorias de ensino
aprendizagem, além disso, maior capacidade de entendimento, dedicação,
esforço de jovens e crianças, seja em sala de aula, seja no ambiente de atividade
física e esportes. Portanto, indagamos: Diferenças individuais influenciam
no aprendizado? Quais os tipos de motivações auxiliam na formação
pedagógica? Que metodologia devemos aplicar para maior aproveitamento
no processo de estratégias de ensino-aprendizagem? Que caminho seguir?
Tecnologias da Informação, Comunicação e Expressão, por intermédio da
aplicação sistemática de conhecimentos científicos, provenientes de teorias
cognitivas, sociocognitivas e neurociências da aprendizagem, vêm contribuir
a estes questionamentos, com o objetivo de resolver problemas concretos
ligados à aplicação de estratégias de ensino-aprendizagem (LACERDA, 1991,
2004, 2010). Este capítulo se propõe discutir essas questões, baseadas nas
relações existentes dos estudos de autorregulação, motivação e estilos de
aprendizagem, por meio de suas diferenças individuais, aplicados tanto no
espaço da sala de aula quanto no esportivo, onde entendemos que, apesar
de terem sua singularidade, há similaridades nas relações professor-aluno e
aluno-aluno.
57
INTRODUÇÃO
58
Neurocientistas têm aplicado seus estudos nos últimos anos a questões que
desenvolvem autorregulação e adaptações às situações adversas, seja no
ensino, em empresas, na psicoterapia clínica e em atletas de alto rendimento.
Muitas respostas ainda faltam a estas realidades tão amplas dos conceitos e
compreensão dos processos internos e externos do indivíduo. Levine (2010),
criador do método SE™ - Somatic Experiencing® (Experiência Somática),
entende que cada indivíduo tem sua forma de elaborar a sua autorregulação,
baseado em suas percepções pessoais adequando seus níveis de concentração
e ativação ideais em resposta às situações em que ele percebe as suas
emoções com respostas internas confortáveis ou desconfortáveis.
A partir dos anos 1980, observamos que estes estudos têm se ampliado em
pesquisas na área da educação, dos esportes e atividade física, relacionando-
os também aos estudos motivacionais, mas ainda são poucas produções
referentes a esta linha de pesquisa (BEILOCK, 2010; GAUDREAU et al., 2015;
SOKOL; GROUZET; MULLER, 2013; SCAER, 2014; VAN DER KOLK et al., 1985;
VAN DER KOLK et al., 1996).
59
De acordo com Kolb, a aprendizagem ideal requer que o professor utilize
métodos de ensino diversificados, a fim de que o ciclo completo seja realizado,
passando por cada etapa, e, com isso, atinja todos os alunos, utilizando
diferentes técnicas de ensino, nas quais teorias, práticas alternativas,
dinâmicas de grupos, jogos individuais e em grupo, leituras e seminários
preencham o seu plano de curso, e plano de atividades. Enfim, cabe ao
professor diversificar e utilizar-se de maior criatividade possível.
60
Gagnon (2015) afirma que dentro de cada aluno há um estilo de ensino mais
em evidência, portanto, em um grupo de alunos todos têm um dos estilos
de aprendizagem, mas cada um se identifica mais com um dos estilos. Por
outro lado, como somos seres em constante transformação e em cada
momento podemos nos manifestar em estilos diferenciados, podemos ousar
em afirmar que temos momentos distintos de aprendizagem, dependendo de
fatores internos e externos da nossa identidade personológica.
Por outro lado, Zull, em suas pesquisas, afirma que para incrementarmos o
aprendizado, auxiliarmos na criatividade e motivação do indivíduo, devemos
desenvolver maneiras de ativar diversas áreas do córtex cerebral (ZULL,
2002). Essa concepção teve como base os estudos de Kolb (1976, 1984),
quando faz a relação entre os quatro estilos com as quatro áreas do cérebro.
Para simplificar, dividiu-a em quatro regiões principais, por exemplo, córtex
sensorial (obtenção de informações); córtex integrativo, próximo ao córtex
sensorial (significado da informação); córtex integrativo, na frente (criando
novas ideias a partir desses significados); e o córtex motor (agindo sobre
essas ideias). Para ele, se os educadores fornecerem experiências que
envolvam estas quatro áreas, poderão obter melhores resultados em nível
de aprendizagem de seus educandos. Consequentemente, ativarão áreas do
cérebro, pouco utilizadas e estimularão as que são preponderantes em cada
indivíduo.
61
Após a compreensão e utilização dos quatro estilos, fica o questionamento
se esta metodologia, aplicada aos educandos, atuará de forma eficaz para
o entendimento de diferentes manifestações da motivação no processo
ensino-aprendizagem e como utilização de ferramenta pedagógica para o
engajamento do aluno em seu ambiente escolar e/ou esportivo.
62
relacionada diretamente com a meta de demonstração de competência
(NICHOLLS, 1989; NICHOLLS; PATASHNICK; NOLEN, 1985). Além disso, outras
metas apareceram para operacionalizar a não realização de uma tarefa dentro
de determinado contexto, para quando realizar algo é desejado, quando há
um padrão de excelência a ser atingido e quando a atividade tem valor para
o indivíduo. Pesquisadores têm seguido dois caminhos referentes às metas
para os estudos das Metas de Realização: as metas disposicionais – que se
referem à orientação às metas (NICHOLLS, 1989) e as metas situacionais –
que se referem ao clima motivacional (AMES, 1984a, 1984b). Segundo Duda
(2005), os construtos centrais na Teoria das Metas de Realização que têm sido
examinados consistentemente em pesquisas da psicologia do esporte e do
exercício físico, são: a escolha das orientações às metas e a percepção do clima
motivacional. O construto denominado orientação às metas, que fundamenta
os outros dois, aborda a escolha do indivíduo em orientar-se por meio de
sua autossuperação e/ou por meio da comparação social com outros. Refere-
se às metas disposicionais do indivíduo em relação às suas escolhas. Esse
construto analisa a percepção do aluno e o porquê de suas escolhas e tomadas
de decisão em diversas situações de seu cotidiano. O construto denominado
clima motivacional refere-se à percepção que o indivíduo tem do ambiente
que o cerca: seus pais, o professor, os amigos, entre outros, e qual a influência
motivacional que estes tentam impor sobre ele. A intenção desse construto é
analisar como o indivíduo percebe o ambiente e como ele se deixa influenciar
por ele. Portanto, estudar como uma equipe percebe o nível motivacional de
seu técnico/professor e como interfere no comportamento dos jogadores e
praticantes em relação ao desempenho, manutenção ou desistência da prática
da atividade física ou em relação ao esforço frente à tarefa são exemplos das
contribuições de se avaliar o clima motivacional do grupo para que haja a
discussão quanto à necessidade de promover modificações nesse ambiente.
63
4 Ansiedade e Aprendizagem
Por outro lado, há pessoas que não tiveram essa preparação, mas construíram,
por meio de sua personalidade, uma capacidade interna que as prepara às
diversas situações inesperadas, de contexto cultural, emocional e situacional.
Ainda, há crianças com enorme resiliência interna, mas que não tiveram pelo
Estado ou pela família condições de preparo intelectual, essas também ficam
defasadas em situações de contexto intelectual adversas a elas.
64
Questões de metodologia de ensino básico de neurociência do estresse
auxiliam no aprendizado. Ou seja, uma série de levantamentos, situações
do mundo moderno que são desafios a pais e educadores do século XXI. O
que era o foco de uma geração ou época, já ocorre nos tempos atuais. Saber
reconhecer essa diversidade, tentar desapegar-se dessas bolhas, será o grande
aprendizado da criança, apresentando maior resiliência e adaptabilidade às
adversidades do porvir.
5 Autorregulação e ensino
65
de tarefas para adaptabilidade de seu desempenho. Nesta segunda fase,
alguns pesquisadores separam em duas: monitoramento e controle da
aprendizagem (PINTRICH; ZUSHO, 2002). Por último, a terceira fase trata-
se de reflexões referentes a seu desempenho, que ocorrem logo após a
conclusão das atividades e tarefas de aprendizagem executadas. Durante
essa fase, o estudante deverá ter o cuidado em obter resultados de processos
de expressão, aprender a administrar suas emoções, seus comportamentos
em relação aos resultados de aprendizagem e suas realizações; além de
envolver-se na autoavaliação e reflexão sobre sua aprendizagem, que
acaba de ser vivenciada. Wigfield et al. (2011) e Pintrich e Zusho (2002) são
alguns pesquisadores que estudam as áreas que devem ser autorreguladas:
cognição, motivação, afeto e emoção.
6 Estratégias de ensino
67
educandos que se sentem ameaçados e sob pressão, onde obtêm resultados
aquém de seus desempenhos. Além dessas estratégias, acrescenta-se a
utilização de estilo de aprendizagem, que possa auxiliar os professores na
compreensão de diferentes formas de ensinar e intervir nos alunos, pois
estes têm sua forma diferenciada, individualizada de aprendizado.
7 Discussão
68
REFERÊNCIAS
BEILOCK, S. L. Choke: What the Secrets of the Brain Reveal About Getting It Right
When You Have To. New York, NY: Free Press, 2010.
69
HAGGER, M. S.; CHATZICHARANTIS, N. L. The trans-contextual model of
autonomous motivation in education: Conceptual and empirical issues and
meta-analysis. Review of Educational Research, 2015.
LEVINE, P. A. In an Unspoken Voice: How The Body Releases Trauma and Restores
Goodness. Berkeley, CA: North Atlantic Books, 2010.
70
NICHOLLS, J. G.; PATASHNICK, M.; NOLEN, S. B. Adolescents’ theories of
education. Journal of Educational Psychology, v. 77, p. 683-692, 1985.
SCAER, R. The body bears the burden: Trauma, dissociation and disease.
Binghampton: The Haworth Press, 2014.
71
VAN DER KOLK, B. et al. Dissociation, affect dysregulation and somatization: The
complex nature of adaptation to trauma. American Journal of Psychiatry, v. 153,
Suppl., p. 83-93, 1996.
VAN DER KOLK, B.; VAN DER HART, O. Pierre Janet and the breakdown of
adaptation in psychological trauma. American Journal of Psychiatry, v. 146,
p.1530-1540, 1989.
ZULL, J. E. The art of changing the brain: Enriching teaching by exploring the
biology of learning. Sterling, VA: Stylus, 2002.
72
O ensino de língua materna, as novas práticas digitais no WhatsApp e o
desenvolvimento da argumentação escrita
Erikson de Carvalho Martins
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia
Campus Barreiras
Resumo
Este artigo tem por objetivo discutir sobre o ensino de língua materna
mediado pelas novas Tecnologias Digitais da Informação, Comunicação e
Expressão, a partir da realização de práticas de leitura e escrita no WhatsApp
para o desenvolvimento da argumentação escrita. Buscamos as contribuições
teóricas de Rojo (2008, 2009), Braga (2009), Sousa (2009), Megid (2014) e Barton
e Lee (2015), que discorrem a respeito das novas práticas de leitura e escrita
nos espaços digitais; e de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), Koch (2013) e
Leitão (2011), que apresentam estudos sobre a capacidade de argumentação
e a utilização de estratégias argumentativas para defesa de posicionamentos
críticos. Com abordagem qualitativa, de cunho exploratório e com
caraterísticas de uma pesquisa-ação prática (TRIPP, 2005), desenvolvemos
como metodologia de estudo uma proposta de atividade pedagógica do
componente língua portuguesa para 26 estudantes de uma turma do 2º ano
do Ensino Médio Técnico Integrado em Informática, do Instituto Federal da
Bahia, Campus Barreiras. Essa atividade consistiu na discussão do enigma
central do clássico Dom Casmurro de Machado de Assis. Os dados coletados
foram analisados sob a ótica da análise de conteúdo (FRANCO, 2005) para
a compreensão e interpretação das mensagens postadas no grupo do
aplicativo. Finalmente, apontamos que é possível utilizar os espaços de
escrita oferecidos pelos ambientes digitais, como o WhatsApp e todas as
suas potencialidades, para o ensino de língua materna, tendo por objetivo
o aprimoramento das práticas de leitura e escrita, como, por exemplo, a
expressão de posicionamentos críticos e o desenvolvimento da capacidade
de argumentação escrita.
73
INTRODUÇÃO
Considerando que a maioria das práticas sociais faz uso da linguagem, e que
muitas dessas práticas, hoje, são desenvolvidas em ambientes digitais, donde
se originam uma ampla gama de gêneros textuais digitais, que fazem parte
do cotidiano dos indivíduos, é lamentável observar como os processos de
ensino-aprendizagem de muitas instituições educacionais ainda se encontram
distantes das práticas de leitura e escrita nos espaços da cibercultura,
especialmente, em relação ao ensino de língua materna, cujo foco deveria ser
o trabalho com a linguagem na perspectiva da interação social.
74
Tendo em vista o exposto, este trabalho busca responder ao seguinte
questionamento: o ensino de língua materna e as práticas digitais de leitura e
escrita desenvolvidas no WhatsApp podem contribuir para o desenvolvimento
da argumentação escrita dos estudantes? Dessa forma, o estudo em torno
dessa questão tem como objetivo discutir sobre o ensino de língua materna
mediado pelas novas tecnologias digitais da informação, comunicação e
expressão a partir da realização de práticas de leitura e escrita no WhatsApp
para o desenvolvimento da argumentação escrita. Como metodologia de
estudo, desenvolvemos uma proposta de atividade pedagógica com 26
estudantes de uma turma do 2º ano do Ensino Médio Técnico Integrado,
do Instituto Federal da Bahia, Campus Barreiras, que consistiu na leitura e
posterior atividade de discussão a respeito do enigma que envolve o clássico
Dom Casmurro de Machado de Assis. A referida atividade foi desenvolvida
em um grupo criado no aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp,
denominado “Capitu no Tribunal”, destinado à apresentação da proposta
pedagógica e à indicação de links para leitura e realização das discussões.
1
O trivium e o quadrivium constituíam as artes liberais, nascidas na Idade Média, cujo objetivo era a formação das elites
intelectuais, com base na educação clássica que possibilitaria o refinamento intelectual para a produção de obras e ideias
que elevassem o espírito humano. O trivium destinava-se aos estudos da linguagem, da palavra, do discurso, composto pelas
disciplinas Gramática, Retórica e Lógica ou Dialética. O quadrivium visava aos estudos da matéria, da natureza e dos números,
constituído pelas disciplinas Aritmética, Astronomia, Geometria e Música.
75
maneira quase instrumental e coexistindo lado a lado com o ensino do trivium1
– gramática, retórica e lógica ou dialética –, ministrado em latim. A primeira
escola a adotar o ensino de língua portuguesa em seu currículo foi o Colégio
Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, tendo como objetivo preparar facilmente os
estudantes dos anos iniciais, em língua materna, para o estudo do trivium, em
latim. Até o século XVIII, o ensino de outras línguas era dominante no Brasil,
como a língua geral – conjunto de línguas indígenas – e o latim, portanto,
a língua portuguesa estava relegada a um segundo plano. Foi somente
no século XIX, no final do Império, que as disciplinas gramática, retórica e
poética foram unificadas paulatinamente em uma só disciplina denominada
português (ROJO, 2009).
76
práticas de ensino de língua portuguesa tornaram-se resistentes, fazendo,
ainda, o uso do texto pelo viés da gramaticalização, como também como
suporte de análises textuais, silenciando o potencial do texto como produtor
de sentidos.
77
opiniões. Muitos pesquisadores (por exemplo, CHARTIER, 1997, BEAUDOUIN,
2002) já apontavam que essas características do funcionamento dos textos
em ambiente digital determinam alterações nos protocolos de leitura em
ambiente digital, isto é, nas relações leitor-texto-autor em termos de leitura e
escrita. (ROJO, 2008, p. 23-24).
Rojo (2008) salienta que após o grande domínio do livro e toda sua influência
no processo de produção e recepção dos textos, pela primeira vez, com as
novas tecnologias digitais, a leitura e a escrita tornaram-se síncronas e não
intervalares. O texto produzido em meio às redes é lido quase de forma
instantânea, além disso, aproxima-se do contexto de produção dos textos
orais, desfazendo as diferenciações existentes entre a escrita e a oralidade:
descontextualizada/contextualizada, autônoma/dependente do contexto,
planejada/não planejada, completa/fragmentada, precisa/imprecisa,
normatizada/não normatizada.
É fato que muitos estudantes brasileiros não possuem contato com a tecnologia
dentro das escolas, diferentemente dos contextos social e familiar, no qual
fazem uso constante dos suportes tecnológicos, utilizando as habilidades de
leitura e escrita nas redes sociais e nas mídias sociais digitais. Todavia, somente
esse uso não é capaz de desenvolver nos estudantes a compreensão acerca
das diferentes características dos gêneros textuais digitais que encontram
na rede, possibilitando-lhes conhecer o contexto de produção, o perfil dos
interlocutores, o uso da linguagem, a finalidade e outras peculiaridades
das produções no mundo virtual. Por essa razão, torna-se extremamente
importante que os estudantes tenham contato com esses gêneros dentro da
escola, especialmente, nas aulas de língua materna, para que compreendam
as especificidades de leitura e escrita de cada texto. Como questiona Megid
(2014, p. 68): “se pensarmos em um leitor do presente e na importância das
mídias nas aulas de língua portuguesa, como ignorar a presença dos textos
digitais na vida e na constituição dos alunos em sua formação básica?” É o
que veremos a seguir, com a discussão acerca do trabalho com os gêneros
textuais produzidos nos ambientes digitais.
79
4 Os gêneros textuais digitais nas práticas quotidianas de uso da linguagem
Sousa (2009) destaca que uma notável característica dos gêneros digitais diz
respeito à ampliação da dialogicidade. Para ela, essa é uma realidade que
deve ser transferida para o contexto escolar. Na escola, grande parte das
produções textuais dos alunos possui como único interlocutor o professor,
que é o responsável por atribuir uma nota à atividade avaliativa, enquanto na
internet os sujeitos possuem interlocutores reais diversos, que apresentam
papéis ativos e constituem uma ampla rede de relações sociais. A experiência
que os estudantes possuem com os gêneros digitais deveria resultar em uma
nova perspectiva sobre o ensino e a aprendizagem das práticas discursivas no
âmbito escolar, levando os professores a propiciarem aos alunos uma escrita
tão significativa e agradável tal qual a desenvolvida nos espaços digitais.
Nessa perspectiva, os professores poderiam levar os alunos a produzir e
analisar eventos comunicativos diversos, orais e/ou escritos, identificando
algumas de suas características temáticas, estruturais ou estilísticas e
relacionando-os às esferas de atividade social, à audiência, às condições de
produção, dentre outras relações que podem ser estabelecidas, a fim de que
os discentes possam vivenciar uma pluralidade de discursos. (SOUSA, 2009,
p. 203).
82
Portanto, para além do letramento escolar, temos o desafio de incorporar
o trabalho com o texto digital nas aulas de língua portuguesa, favorecendo
o letramento multissemiótico dos estudantes para a leitura e produção
de textos escritos articulados com imagens, sons, animações e outros
signos de forma múltipla e interativa (ROJO, 2008). Além disso, os múltiplos
discursos e vozes que aparecem nos textos que circulam na rede apontam
a necessidade de um letramento crítico dos nossos estudantes para que
sejam capazes de reconhecer o texto como produção de significados e de
ideologias. Diante da abrangência de múltiplas linguagens nas tecnologias
digitais, torna-se imprescindível, enfim, proporcionar aos estudantes um
trabalho interdisciplinar e transdisciplinar com práticas de leitura e escrita
nos ambientes digitais, a fim de que possam desenvolver habilidades e
capacidades mais amplas de uso efetivo da linguagem.
83
Para Leitão (2011), o interesse pelos estudos sobre argumentação e construção
do conhecimento tem despontado um grande número de estudos sobre a
relação que se estabelece entre a argumentação e os processos educativos,
além do interesse sobre como ela deve ser implementada nas atividades
de sala de aula e em outras situações de ensino-aprendizagem, a fim de
potencializar os estudantes para o desenvolvimento de sua capacidade de
argumentar.
84
vale ressaltar, antes de tudo, a disposição para fazê-lo, bem como atenção
e empenho no desenvolvimento de suas próprias competências enquanto
argumentador; a atenção contínua a oportunidades de argumentação sem
sala de aula – quer estas oportunidades surjam de forma espontânea, quer
sejam deliberadamente criadas; finalmente, o domínio não só dos conceitos
próprios do seu campo de atuação, mas também de raciocínios (modos de
pensar/argumentar) típicos do mesmo campo. (LEITÃO, 2011, p. 17).
85
enunciado é dirigido.” A postura se refere à forma como os pontos de vista
são expressos na mídia on-line. A própria estrutura e recursos de algumas
mídias oportunizam o desenvolvimento de postura. Instigando a discussão, a
expressão de opiniões, a produção e compartilhamento de conhecimentos,
como a plataforma do Facebook e do Youtube que possibilitam a postagem
de comentários e a do WhatsApp que permite responder a mensagens
específicas em chats nos grupos de discussão.
86
la, exigindo, assim, formas de ação e tomada consciente de decisões.” De
forma específica, podemos identificar características de uma pesquisa-ação
prática, visto que, conforme Tripp (2005), o pesquisador escolhe ou projeta as
mudanças a serem efetivadas no grupo pesquisado.
87
Inicialmente, a proposta de atividade foi apresentada aos estudantes no
grupo do WhatsApp, juntamente com a indicação de alguns links para a leitura
de artigos, visualização de vídeos, apreciação de tirinhas, charges e cartuns, a
fim de disponibilizar outras fontes de conhecimento e instigar os estudantes
para a defesa de um posicionamento crítico e produção de argumentos para
defendê-lo. Em seguida, foi proposta a seguinte questão de debate, conforme
ilustra a Figura 1.
88
Nesse sentido, analisamos nesta seção as sequências dialogais construídas
pelos estudantes, com ênfase nas participações ativas, pois como elucidam
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), a elaboração da argumentação se dá por
meio do debate entre os pares, visando a persuasão por meio do discurso.
Para tanto, realizamos a análise de conteúdo a partir de 03 categorias
distintas: 1) posicionamento crítico dos interlocutores acerca da questão de
debate; 2) presença de textos multissemióticos no processo argumentativo e
3) variedade de tipos de argumentos construídos para a defesa do ponto de
vista, segundo a tipologia para classificação dos argumentos estabelecida por
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005).
89
Figura 3 – Argumentos da Estudante “Sol”
90
Vejamos, a seguir, as figuras 4 e 5, que ilustram argumentos favoráveis à
imputação feita a Capitu por Bentinho.
92
As figuras acima trazem exemplos de memes utilizados pelos estudantes
durante as discussões em grupo no aplicativo. Os memes são gêneros
textuais digitais que podem associar imagens, vídeos, sons e gifs, com tom
humorístico, capazes de viralizar rapidamente na internet e conseguir
bastante popularidade. A Figura 6, compartilhada pelo estudante “Mickey”,
relembra um momento da participação de Glória Pires como comentarista do
Oscar em 2016, associando a imagem com conflito central de Dom Casmurro.
O estudante teve o objetivo de despertar humor logo no início das discussões,
como também evidenciar a ausência de um ponto de vista específico. Já a
estudante “Lalá” trouxe, na Figura 7, um desenho referente a uma cena da
minissérie Capitu, exibida pela Rede Globo em 2008. O enunciado verbal da
imagem demonstra que existem outras coisas mais fáceis, como falar da
própria estudante, do que conseguir provas acerca da traição de Capitu.
Por sua vez, a estudante “Vivi”, na Figura 8, lança uma crítica aos colegas que
escreveram “textões” no WhatsApp, mostrando-se cansada ao realizar leituras
de textos extensos. A crítica de “Vivi” foi bem aceita pelos demais colegas,
visto que uma boa parcela dos estudantes ainda não havia compreendido
que a dinâmica de um chat com caráter educacional é a mesma de um
chat convencional, com sequências dialogais curtas e rápidas, escrevendo,
dessa forma, verdadeiras dissertações argumentativas no grupo. Assim, é
possível inferir que muitos estudantes ainda não estão habituados a utilizar
determinadas mídias sociais e gêneros textuais digitais de forma pedagógica,
pois acabam trazendo práticas da sala de aula para as redes e mídias sociais. A
Figura 9, do estudante “Chulé”, traz um meme com uma montagem de imagens
da série em desenho animado Phineas e Ferb, relacionando-a à história de
Bentinho e Capitu. Na série, o casal Linda Flynn Fletcher e Lawrence Fletcher
possuem três filhos: Phineas, Ferb e Candece. A relação estabelecida com o
livro Dom Casmurro acontece pelo fato de o filho Ferb ser muito parecido com
o vilão da história, o Dr. Heinz Doofenshmirtz, o que fez com que o estudante
e demais colegas pensassem em uma possível traição por parte da mãe.
93
Na Figura 10, a seguir, a estudante “Flor” traz uma propaganda do carnaval
para reforçar o teor argumentativo do seu discurso.
94
Argumentos Construídos Tipologia
01 “Capitu se compadece com a morte e com sua amiga, não Dissociação
significa que tenha algum sentimento por ele.” – Estudante “Flor”
02 “Bentinho não mantinha diálogos com a esposa. Isso pode ter Ligação causal
contribuído para que ele tirasse suas próprias conclusões [...]” –
Estudante “Lalá”.
03 “[...] E no final ele pensa em matar a mulher, assim como Otelo.” – Comparação
Estudante “Mari”
04 “Minha psicóloga diz que é comprovado cientificamente que os Autoridade
ciúmes levam as pessoas a distorcerem as situações.” –
Estudante “Flor”
05 “A amizade entre os casais pode ter despertado algo em Capitu da Probabilidade
mesma forma que despertou em Bentinho, que se sentiu atraído
por Sancha”. – Estudante “Lagarto”.
06 “Dou foco a palavra reminiscência, que no dicionário significa Identidade e
‘lembrança vaga ou indireta’”. – Estudante “Coringa” Definição
07 “Se ela de fato traiu Bentinho, porque raios ela comentaria sobre a Contradição e
semelhança entre Ezequiel e Escobar?” – Estudante “Afrodite”. Incompatibilidade
08 “A persistência dela em continuar mandando cartas, por exemplo, Exemplo
mesmo depois de ter se mudado para a Europa, mostra que ela
ainda o amava”. – Estudante “Sol”
09 “Ela não é adúltera por ficar na janela, ela foi adúltera por ter traído Ato e essência
ele com Escobar”. – Estudante “Bob”
10 “Capitu e Escobar não traíram apenas Bentinho, traíram também Transitividade
Sancha, que era melhor amiga de Capitu e mulher de Escobar”. –
Estudante “Batman”
Fonte: dados da pesquisa do autor.
95
traído Bentinho e, ao mesmo tempo, comentar com ele sobre as semelhanças
entre Ezequiel e Escobar. A estudante “Sol” formula o argumento 8 com um
exemplo que justifica o amor de Capitu por Bentinho: as constantes cartas
enviadas ao marido após a separação. O argumento de ato e essência, ponto
9, do estudante “Bob”, apresenta os atos de Capitu para comprovar sua
essência de adúltera. Por fim, o estudante “Batman” constrói um argumento
de transitividade, tópico 10, transferindo a relação de traição estabelecida
entre dois elementos (1 – Escobar e Capitu; 2 – Bentinho) para um terceiro
(Sancha).
7 Considerações finais
96
competências, destacamos a capacidade de argumentação que pode ser
estimulada e desenvolvida nos ambientes digitais, a exemplo dos aplicativos
de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, para auxiliar os estudantes na
produção de diferentes gêneros argumentativos orais e escritos necessários
para a realização de práticas quotidianas de uso efetivo da língua.
97
REFERÊNCIAS
BARTON, David; LEE, Carmen. Linguagem online: textos e práticas digitais. São
Paulo: Parábola Editorial, 2015.
FRANCO, Maria Laura Puglisi Barbosa. Análise de conteúdo. 2. ed. Brasília, DF:
Liber Livro, 2005.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 11. ed. São Paulo:
Contexto, 2013.
ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
98
ROJO, Roxane. O texto no ensino-aprendizagem de línguas hoje: desafios da
contemporaneidade. In: TRAVAGLIA, Luiz Carlos; FINOTTI, Luísa Helena Borges;
MESQUITA, Elisete Maria Carvalho de (Org.). Gêneros de texto: caracterização e
ensino (Linguística IN FOCUS 5). Uberlândia: EDUFU, 2008. p. 09-43.
99
Criando visualizações em realidade aumentada para o ensino de
ciências
Frederico Coelho Krause
Universidade de Brasília
Resumo
Visualizações em ciências são relevantes para fomentar explicações acerca
do mundo físico e comunicá-las a terceiros. Nesse contexto, colocam-se as
representações geradas por computação gráfica, que incluem modelos bi (2D)
e tridimensionais (3D). Tais modelos podem ser apresentados por sistemas
de realidade aumentada (RA), nos quais os objetos virtuais são posicionados
em congruência com o ambiente real. Os trabalhos de revisão de literatura
demonstram, contudo, a ausência de preocupação com a utilização de
teorias de ensino e aprendizagem no processo de desenvolvimento desses
modelos. Essa desconexão dificulta a criação de modelos pedagogicamente
relevantes. Visando encurtar a distância entre educadores e desenvolvedores,
apresentamos aqui um guia para orientar o trabalho de criação de visualizações
em RA no ensino de ciências.
100
INTRODUÇÃO
101
ambiente se mantém, por definição – seguindo a classificação de Milgram e
Colquhoun Júnior (1999) – predominantemente formado por elementos reais.
Os elementos virtuais podem variar de textos ou símbolos simples a modelos
3D e animações, sendo apresentados sobrepostos aos elementos reais e
mantendo-se tipicamente os seis graus de liberdade do objeto, sendo três
translacionais e três rotacionais (WANG et al., 2013).
102
predominantemente, por educadores e pesquisadores da educação, e a
segunda por profissionais mais orientados à ciência da computação e design
gráfico.
As etapas descritas não seguem um caminho unívoco, uma vez que durante
o desenvolvimento é frequente sua revisão e reformulação. Levando isso
em consideração, procuramos traçar uma linha mestra que possa conduzir
aqueles com interesse no tema a adotar estratégias de desenvolvimento mais
eficientes.
2 Conhecendo o público-alvo
103
A escolha da mais adequada varia conforme a visão de mundo do
desenvolvedor-pesquisador, tempo para execução, grau de envolvimento
e acesso aos usuários finais, recursos disponíveis, dentre outros. Dentre
as principais tradições estão: a pesquisa narrativo-biográfica; os estudos
fenomenológicos; a pesquisa-ação; e os estudos de caso (ESTEBAN, 2010).
3 Delineando o tema
A menos que imposto por algum fator arbitrário, o tema a ser abordado costuma
permitir aos desenvolvedores algum espaço para escolha. Sua eleição decorre,
em grande parte, do resultado do levantamento feito na etapa anterior. Isto
porque, à medida que nos aprofundamos nas necessidades de nosso público-
alvo, passamos a identificar um conjunto de temas potencialmente relevantes,
tanto para os indivíduos, mais diretamente imbrincados no processo de
ensino-aprendizagem, quanto para a transformação do contexto no qual eles
estão inseridos. Aqui são cabíveis perguntas do tipo: O tema é relevante para
a escola? Há particular interesse para a comunidade local? Relaciona-se com
alguma situação premente no contexto regional, nacional ou internacional?
A definição dos objetivos costuma andar junto com a definição dos conteúdos,
uma vez que norteia a prática. Em um experimento com uso de RA no ensino
do tema eletromagnetismo com alunos do ensino médio na Espanha, por
exemplo, o conteúdo incluía conceitos, como força e campos magnéticos. O
objetivo da instrução era que os estudantes fossem capazes de compreender,
dentre outros, a relação estabelecida entre esses dois conceitos. Para tanto,
montou-se um sistema de RA no qual os estudantes podiam manipular e
visualizar as forças eletromagnéticas no ambiente real (IBÁÑEZ et al., 2014).
Uma vez que se elege uma teoria pedagógica ela passa a balizar toda
a estratégia de desenvolvimento e utilização do aplicativo, visto que a
aplicação não pode acontecer em descompasso com a etapa de criação.
Se partirmos da teoria da aprendizagem experiencial de David Kolb, por
exemplo, que concebe a existência de diferentes estilos de aprendizagem,
seria incongruente desenvolver um aplicativo que não permitisse a utilização
segundo as diferentes estratégias preconizadas por ela.
107
Sendo o desenvolvimento um processo tipicamente longo e laborioso, é
fundamental que se estabeleça um calendário de atividades a ser seguido, o
que permite adequar os tempos de modelagem e prototipagem às janelas de
teste e avaliação.
7 Criando modelos 3D
Este último aspecto tem sido apontado como um dos mais relevantes,
conforme levantamento feito com especialistas, para que visualizações em
RA possam alcançar seus objetivos pedagógicos em ciências. É bastante
desejável que seja possível alterar aquilo que se está vendo em oposição à
limitação de controle apenas do ângulo e distância de visão do objeto, como
ocorre no caso das animações simples (NIELSEN; BRANDT; SWENSEN, 2016).
Outro exemplo é o estudo realizado por Ibáñez et al. (2014), que utilizou tablets
e marcadores em objetos de papelão em formato de imãs e baterias que
110
exibiam fenômenos eletromagnéticos diferentes, a depender da configuração
de seus posicionamentos.
10 Considerações finais
111
REFERÊNCIAS
ANDÚJAR, J. M.; MEJÍAS, A.; ANTONIO, Marco M. Augmented reality for the
improvement of remote laboratories: an augmented remote laboratory. IEEE
Transactions on Education, 2011.
COLL, R. K.; LAJIUM, D. Modeling and the Future of Science Learning. In: KHINE,
M. S.; SALEH, I. M. (Org.). Models and Modeling: Cognitive Tools for Scientific
Enquiry. Londres: Springer, 2011.
GOMES, A. P. et al. The Role of Concept Maps in the Medical Education. Revista
Brasileira de Educação Médica, v. 35, n. 2, p. 275-282, 2011.
112
FURIÓ et al. The effects of the size and weight of a mobile device on an
educational game. Computers & Education, v. 64, p. 24-41, 2013.
HUNG, Y.-H.; CHEN, C.-H.; HUANG, S.-W. Applying augmented reality to enhance
learning: a study of different teaching materials. Journal of Computer Assisted
Learning, v. 33, p. 252-266, 2017.
TSAI, C.; SHEN, P.; FAN, Y. The Application of Augmented Reality in Online
Education: A Review of Studies Published in Selected Journals from 2003 to 2012.
113
International Journal of Information and Communication Technology Education, v.
10, n. 2, p. 75-80, 2014.
114
Docência no ambiente virtual
Gilberto Lacerda Santos
Professor Titular da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
Resumo
A migração da sala de aula convencional para a sala de aula virtual constitui
um desafio didático dos mais complexos, sobretudo nesse momento, em que
políticas públicas de grande envergadura veem na educação a distância uma
solução rápida para problemas complexos, como o dos professores leigos,
o da oferta de educação superior para todos, o da ressignificação da escola
frente ao avanço e a popularização das novas tecnologias de informação,
comunicação e expressão (NTICE). Tal migração consiste em uma mudança
significativa de cultura na gestão das relações educativas. Esse tema da
migração da sala de aula convencional para a sala de aula virtual pode ser
abordado sob diferentes óticas. Nesse texto, relatamos os resultados de
uma pesquisa longitudinal, transformada em livro intitulado Virtualizando
a escola: Migrações docentes rumo à sala de aula virtual (LACERDA SANTOS;
ANDRADE, 2010), no contexto da qual procuramos responder às seguintes
questões: Que novos formatos para a sala de aula virtual? Que estratégias
pedagógicas podem nortear o trabalho docente na sala de aula virtual? Que
materiais didáticos inovadores são condizentes com o trabalho docente na
sala de aula virtual? Que novos papéis docentes na sala de aula virtual? Este
texto, essencialmente decorrente dos trabalhos de Lacerda Santos e Andrade
(2010) e com parte já publicada em edição da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, consiste no relato de uma investigação que contou com o
apoio do CNPq, da Fenadesp e da FAPDF, das instituições de ensino superior
nas quais as investigações foram realizadas (UnB, Unopar) e dos professores
e tutores que foram alvo de nossas inquietações acadêmicas e que nos
forneceram dados para análise (da Faculdade de Educação da Universidade
de Brasília, da Secretaria de Educação do Distrito Federal, do Instituto Federal
Baiano, da Secretaria de Educação do Acre, da Universidade Norte do Paraná).
115
1 Um breve quadro teórico sobre a sala de aula virtual
Pierre Lévy (1995), em seu visionário livro O que é o Virtual, tece as seguintes
considerações acerca do conceito de ciberespaço, definido como o ambiente
da virtualidade:
117
entre alunos e conhecimentos em dinâmicas de educação mediadas por
tecnologias. No cenário acadêmico brasileiro, podemos citar nomes, como
Kenski (2003), que se dedica a discutir os suportes tecnológicos e as ações
docentes em situação de educação a distância; Silva (2000), que busca situar
o hipertexto e as tecnologias digitais na nova sala de aula; Barreto (2002),
que se preocupa com a formação de professores para atuar na sala de aula
virtual; Oliveira (2003), que discute justamente a mudança paradigmática na
educação decorrente da influência das tecnologias digitais; Belloni (2005), que
introduz e debate o conceito de mídia-educação; Pretto (1996), que discute
o futuro da escola na sociedade da informação; Dias (2007), que aponta as
possibilidades educativas múltiplas e inovadoras do hipertexto; Moraes
(2003), que defende a exploração educativa do ciberespaço por meio de
uma pedagogia libertadora. De nossa parte, também nos associamos a esses
pesquisadores e defendemos a adoção de um novo modo de formação de
professores (F2) em oposição aos modos tradicionais de formação docente
(F1), como caminho crucial de se preparar novas gerações de profissionais da
educação para atuarem adequadamente no contexto da escola da sociedade
digital emergente (LACERDA SANTOS, 2005).
118
uma solução (CASTRO, W., 2008; DWYER et al., 2007). Tais resultados, ao invés
de apontarem para trás, para um retrocesso, apontam para frente, para a
necessidade do avanço; eles evidenciam a crise paradigmática instaurada
na escola e a necessidade de se inventar uma nova escola, profundamente
articulada com as tecnologias, linguagens, estratégias e possibilidades de
informação, comunicação e expressão que, inelutavelmente, caracterizam
a sociedade que acolhe a escola, que não pode permanecer como se fora
um peixe em um aquário, protegido da água por uma bolha de plástico:
debatendo-se sem possibilidades de renovação do ar.
120
não presencial interações condizentes com as características desse novo
ambiente, que exploram a multiplicidade de linguagens, a horizontalidade
nas interações, a diferença de ritmos de aprendizagem e de estilos cognitivos.
A investigação apontou, também, que a pedagogia de projetos resgata o
interesse dos alunos pela escola, pela aprendizagem e pela construção
de conhecimentos, possibilitando o desenvolvimento da autonomia, da
criticidade e da autoconfiança. Souza (2007) avançou na mesma direção,
enfatizando, todavia, a criatividade. A pesquisadora investigou o uso
pedagógico do computador como vetor das habilidades do comportamento
criativo em crianças que estão no ensino fundamental em situação de
aprendizagem mediada por computadores, por meio da pedagogia de
projetos. Os resultados positivos alcançados reforçaram o potencial didático
da pedagogia de projetos para uso na sala de aula virtual. Sempre na busca
de respostas para a questão de pesquisa em foco, orientamos a dissertação
de Inuzuka (2008), que investigou o uso do Wiki como vetor constitutivo de
relações educativas na sala de aula virtual. Sendo o Wiki um dispositivo que
permite a edição coletiva de documentos em ambientes de desenvolvimento
colaborativo na Internet, a investigação girou em torno de um estudo de caso
em que estudantes de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade
de Brasília foram envolvidos em uma atividade didática colaborativa em rede.
A sala de aula virtual os tinha como alunos e o pesquisador como professor.
As observações então realizadas reforçaram o poder da colaboração e da
interatividade como fatores educativos incontornáveis no meio virtual. A
partir de tais investigações, não é possível indicar uma estratégia pedagógica,
em particular, para delimitar o trabalho pedagógico na sala de aula virtual,
mas é possível apontar a colaboração, a horizontalização e a interatividade
como premissas básicas de qualquer estratégia que venha a ser empregada.
Efetivamente, a sala de aula virtual, por não contar com seus atores em
situação de presença física e tendo à sua disposição as possibilidades
de uma comunidade de aprendizagem em rede, responsabiliza cada um
por sua própria participação produtiva na relação educativa, o que os faz
colaborar para progredir e atingir plenamente os objetivos de aprendizagem;
compartilhar a tarefa de ensinar o papel docente; e interagir, do modo mais
amplo possível, para construir conhecimentos e usufruir dos materiais
didáticos disponibilizados. Aliás, é importante sinalizar que há uma conexão
cervical entre as estratégias de aprendizagem e os materiais didáticos
empregados em relações educativas virtuais. Foi justamente pensando
121
nessa conexão entre estratégias pedagógicas e materiais didáticos que as
dissertações comentadas a seguir foram desenvolvidas.
122
percorrem perpendicularmente este campo totalmente em aberto para
profissionais da educação e indicam pistas de pesquisa e de desenvolvimento
que precisam ser consideradas. O trabalho de Ramos (2004) responde a uma
grande demanda da área: como transformar, modificar, adaptar materiais
didáticos e conteúdos tradicionais para uso na sala de aula virtual. A partir de
um texto paradidático de apoio ao ensino da geometria plana, o pesquisador
desenvolve e propõe um método para se construir um hipertexto educativo,
mantendo a mesma matriz didática e a intencionalidade original do autor,
agregando, todavia, diversas possibilidades de interatividade, leitura não linear,
percursos alternativos e links enriquecedores. Ramos (2004) demonstra, por
meio de sua investigação, que há uma distância enorme entre a dinâmica dos
materiais didáticos estáticos e a dos materiais didáticos dinâmicos, requeridos
pela sala de aula virtual. Demonstra também que somente é possível ir em
direção destes últimos a partir de um conhecimento amplo do conceito de
interatividade e da percepção da relação educativa aberta proposta pelo meio
virtual como uma situação de liberdade, de criatividade, de autonomia e de
recriação cognitiva permanente.
123
público-alvo do objeto de aprendizagem, mas também o contexto da relação
educativa que o empregará, bem como a natureza do conteúdo pedagógico
a ser proposto aos alunos. Esse conjunto de investigações, a despeito de
indicar princípios e critérios para o desenvolvimento de materiais didáticos
condizentes com o trabalho docente na sala de aula virtual, também enfatiza
o quanto se torna complexa a atuação do professor nesse ambiente. Assim
sendo, apesar da excessiva recorrência desse tema entre os pesquisadores
da área, o que conduz a certa fadiga epistemológica no campo, voltamos a
acolher propostas de investigação em torno dos novos papéis docentes em
situações de ensino alicerçadas em NTICE, objeto da quarta e última questão
de nossa investigação de síntese.
124
a flexibilidade, a interação e a motivação constante dos alunos, estamos
diante de um professor com credenciais de sucesso em qualquer ambiente
educativo, incluindo o virtual. Entretanto, se ele privilegia a aula expositiva
onde somente ele fala e os alunos escutam, está fadado a uma situação
insustentável para a sala de aula virtual. Já os trabalhos de Malvestiti (2004) e
de Andrade (2007) foram diretamente focados na mediação pedagógica em
situação de educação não presencial e tiveram como âncora a ação tutorial.
A primeira pesquisadora consultou 35 tutores de um curso virtual acerca
dos requisitos para ser um bom tutor. Ela obteve 22 indicações, dentre as
quais a capacidade de autoaprendizagem, a constância da presença virtual,
a persistência, o conhecimento do conteúdo e das ferramentas digitais e a
sensibilidade para perceber as necessidades dos alunos, o que é fundamental
no combate da distância transacional. Por sua vez, Andrade (2007) constata
que em processos educativos a distância, os instrumentos de comunicação
se transformam em instrumentos simbólicos de mediação, por intermédio
dos quais o sujeito constrói seu raciocínio, dinamiza múltiplas habilidades
e potencializa suas linguagens. O exercício da mediação pedagógica em tal
contexto demanda um tutor ou professor capaz de potencializar a autonomia,
a motivação para aprender e as singularidades de um processo que se
constrói pela interatividade do grupo. Em consequência, os novos papéis
docentes na sala de aula virtual são, sobretudo, aqueles relacionados com
a gestão de situações educativas virtuais, descentralizadas, geograficamente
dispersas, sem a perda dos fios condutores que devem conduzir os alunos
à conclusão das interações e à realização dos objetivos de aprendizagem
previstos, fazendo com que se sintam conectados e em permanente atividade
de trabalho.
125
eficaz e totalmente condizente com a dinâmica da Sociedade da Informação.
Tais elementos definidores, dada sua natureza revolucionária, indicam
a própria engrenagem do processo de rompimento paradigmático aqui
discutido. São eles: os conceitos de comunidade de aprendizagem em rede;
de trabalho colaborativo virtual; de horizontalização da relação educativa;
de materiais didáticos dinâmicos e de mediação pedagógica fundamentada
na interatividade. A adoção desses conceitos impõe uma nova dinâmica
para a relação educativa virtual, distanciada de procedimentos tradicionais
já inoperantes na educação tradicional e de caminhos de massificação da
formação e de determinismo tecnológico. Afinal, o virtual de que tratamos
aqui não é um espaço de abstração, mas de concretude para amparar o
trabalho docente a partir deste conjunto de elementos definidores. O que
está em jogo é a redefinição do espaço educativo. Para tanto, a sala de aula
virtual deve potencializar trocas entre seus atores, de modo que eles possam
ocupar todos os espaços de cognição propostos pelas NTICE e colocar em
sinergia os elementos definidores citados, na medida em que é claro que
a mera inclusão de tecnologias na educação não poderá gerar e sustentar
processos de inteligência coletiva.
2 Discussão e conclusões
127
educativa (professores, alunos, tutores, conteúdo), de fornecer continuamente
interatividade e retroação, de diminuir a distância transacional, de permitir
acompanhamento avaliativo tanto formativo quanto somativo, de manter
a memória das interações, de agregar diferentes linguagens tecnológicas e,
quando for o caso, proporcionar, de forma adequada, a intermitência entre
ensino presencial e ensino não presencial. O diagrama a seguir resume os
papéis dos tutores na condução de salas de aula virtuais:
129
Figura 2 – Dimensões das novas tecnologias derivadas do computador e da Internet
130
Por fim, retomando agora a primeira e mais abrangente questão de pesquisa,
acerca dos novos formatos para a sala de aula virtual, é importante lembrar-
se da sua atualidade nesse momento em que políticas públicas vigorosas
recorrem à educação a distância, por meio de iniciativas, como a da
Universidade Aberta do Brasil e a da Escola Técnica Aberta do Brasil, a fim de
se suprir lacunas quantitativas e qualitativas no corpo docente da educação
básica. A sala de aula virtual para a formação de professores constitui um
ponto nevrálgico desse cenário em que se coloca em xeque a possibilidade de
se formar, a distância, com a devida qualidade e responsabilidade, docentes
para todos os níveis de ensino. Avançando na mesma direção, universidades
privadas, com dezenas de milhares de alunos, sobretudo, em cursos de
pedagogia a distância, proliferam por todo o país, bem como instituições
europeias e latino-americanas oferecendo cursos de mestrado e de doutorado
a distância, com encontros presenciais em dois finais de semana por mês,
em polos avançados, distanciados do ambiente acadêmico e dos formatos
tradicionais de formação de pesquisadores. Eis um debate em aberto, cujos
desdobramentos colocam em xeque o próprio desenvolvimento nacional, o
qual depende de novos quadros formados com qualidades, os quais, por sua
vez, dependem de professores formados com qualidade.
132
REFERÊNCIAS
133
DIAS, A. A. C. Olhar Hipertextual: Uma perspectiva bakhtiniana da inclusão de
imagens na sala de aula. 2007. Disponível em: <http://www.lab-eduimagem.
pro.br/frames/seminarios/pdf/aacd.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2008.
134
LACERDA SANTOS, G. Ciência, Tecnologia e Formação de Professores para o Ensino
Fundamental. Brasília, DF: Ed. UnB, 2005.
135
MALVESTITI, M. O papel da tutoria em situações de e-learning: um estudo de caso.
Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade de Brasília, Brasília, DF,
2004.
PALLOFF, R. M.; PRATT, K. O Aluno Virtual: um guia para trabalhar com estudantes
on-line. Porto Alegre: Artmed, 2005.
136
SILVA, M. A Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.
137
Corpo, dança, educação e cultura: a ótica teórico-metodológica da
Informática aplicada ao ensino da Dança
Isa Sara Rego
Instituto Federal de Brasília
Resumo
O artigo, resultante de experiências do campo da informática aplicada ao ensino
da Dança, apresenta a concepção teórico-metodológica de uma proposta
metodológica em construção, para orientar o ensino da Dança mediado por
Tecnologias Digitais de Informação, Comunicação e Expressão (TDICE). Uma
proposta metodológica é primordialmente definida por crenças e conceitos
que estão colocados na prática do professor. A proposição de uma proposta
metodológica em Dança exige a compreensão de quatro conceitos, que são
estudados neste artigo, são eles: o corpo, a dança, a educação e a cultura.
De natureza qualitativa, descritiva e exploratória, a metodologia proposta
foi a pesquisa bibliográfica que apresenta a ótica teórico-metodológica da
Informática aplicada ao ensino da Dança. Este estudo parte do pressuposto
que o campo educacional deve acompanhar as mudanças na sociedade,
inovando e criando processos de ensino-aprendizagem contextualizados,
visando à construção de novos conhecimentos, destaca, ainda, o potencial
da colaboração para o desenvolvimento de uma prática docente carregada
de intenção.
138
INTRODUÇÃO
Duas possibilidades são colocadas por Zabala (1998, p. 29): o professor pode
ser um mero reprodutor da tradição, desenvolvendo a atividade profissional
sem se colocar no sentido profundo das experiências; ou intervir no
processo de ensino de forma intencional, identificar fatores de crescimento
e engajamento dos estudantes e aceitar o papel que se pode ter sobre esse
crescimento, em avaliação contínua da sua função social enquanto educador.
2 O corpociborgue revisado
141
binômio corpo e tecnologia, o principal arcabouço teórico para a proposição
do conceito corpociborgue.
142
Quadro 1 – Como as tecnologias transformam os nossos corpos
Restauradoras Normalizadoras Reconfiguradoras Melhoradoras
Permitem restaurar Retornam as Criam criaturas pós- Criam criaturas
funções e substituir criaturas a uma humanas que são melhoradas,
órgãos e membros indiferente iguais aos seres relativamente ao ser
perdidos. normalidade. humanos e, ao humano.
mesmo tempo,
diferentes deles.
Técnicas de correção Psicofármacos, Como as técnicas de Técnicas de
de funções avariadas remédios e vacinas. body building e body conexões permitidas
do corpo (como modification; por serviços
implantes, próteses, incluindo cirurgias informáticos e
obturações, com fins estéticos. telecomunicacionais
aparelhos e (que vão desde o
ortodônticos), além celular até a
de tecnologias de realidade
mutações aumentada).
temporárias (como a
maquiagem, a
tatuagem temporária
e a sobrancelha de
rena).
2
O pós-humano representa a construção do corpo como parte de um circuito integrado de informação e matéria, que inclui
componentes humanos e não humanos, tanto de chips de silício quanto tecidos orgânicos, bits de informação e bits de carne
e osso.
143
Acreditamos que a aceleração das descobertas científicas e tecnológicas
vem afetando profundamente nossas habilidades para observar, interpretar,
transformar e manipular as ações corporais. Sob efeito de uma crescente
complexidade tecnológica o corpo, assim como a sociedade, estão
passando por modificações tão intensas que adotar uma perspectiva inter e
transdisciplinar nos processos educacionais, sem menosprezar as Tecnologias
Digitais de Informação, Comunicação e Expressão (TDICE) é uma postura
responsável diante dos fenômenos sociais.
Pode-se pensar a dança como uma configuração artística formada pelo corpo,
que desenvolve movimentos intencionais no tempo e no espaço. Dança Digital
é um termo que propomos para designar obras artísticas em Dança que são
mediadas pelas Tecnologias Digitais de Informação, Comunicação e Expressão
(TDICE). Esse termo deriva do conceito de Cultura Digital, proposto por Lemos
(2008), conceituado para designar os modos de produção, distribuição e
consumo das relações sociais inseridas na Cibercultura. A Dança Digital estuda
como a tecnologia digital potencializa a criação, execução, manipulação e
apreciação nas cenas de dança.
144
Quadro 1 – Como as tecnologias transformam os nossos corpos
Categorias Conceitos Exemplos
Dança com softwares interativos É a dança desenvolvida a partir O software Isadora é um ambiente
da mediação de softwares gráfico de programação para
interativos. O corpo ao adentrar Macintosh e Windowns que
em ambientes interativos tem os fornece o controle interativo em
seus sentidos virtualizados: mídia digital, com ênfase na
recebem (input) e transmitem manipulação em tempo real. Em
(output) dados em tempo real. O nossas aulas utilizamos o software
corpo torna-se uma superfície Isadora para explorar poéticas
intermidiática, pois o corpo tecnológicas interativas, tal como
virtualizado corporifica múltiplas no vídeo Experiências criativas
identidades em estado virtual. com o Software Isadora, disponível
em: <encurtador.net/DJNT6>.
Acesso em: 30 jun. 2018.
Dança criada com/para mídias É a dança mediada por O Musical-ly é um aplicativo (app)
móveis aplicativos móveis e para lançado em 2016, criado para
aplicativos móveis, pois na produção de vídeos, mensagens e
cultura da ubiquidade, o corpo transmissão ao vivo. Em julho de
não precisa estar no mesmo local 2017, esse app chegou à posição
e momento para dançar. Quando número 1 na App Store, tornando-
o corpo conquista o estado de se o app gratuito mais baixado em
ubiquidade, artistas se apropriam 30 países do mundo. Uma das
desse estado do corpo para principais vertentes de consumo e
construir processos artísticos no produção desse app é a dança. Em
ciberespaço. 2017, o aplicativo foi vendido para
a empresa chinesa Bytedance
Technology e em 2018 passou a
chamar-se Tik Tok.
145
O quadro acima apresenta que a capacidade expressiva do corpo na
dança se faz acompanhar pela transformação mútua do corpo no mundo
tecnologizado. Essas tecnologias inferem não apenas nas relações sociais
do corpo, mas também nas formas de produção, consumo e distribuição
artística que o corpo estabelece na contemporaneidade. O artista começou a
utilizar as tecnologias digitais e informacionais no processo criativo da dança,
transferindo a sua função técnica para a função estética.
Sancho (1998, p. 28) nos lembra de que na Grécia, a combinação dos termos
téchne (arte, destreza) e logos (palavra, fala) significava o fio condutor que abria
o discurso sobre o sentido e a finalidade das artes. Naquela época, a distinção
entre técnica e arte era pequena, no entanto, a téchne não era uma habilidade
146
qualquer, mas aquela que seguia certas regras, por meio das quais se chega
a conseguir algo. Daí existir uma téchne da navegação (arte de navegar), uma
técnhe do governo (arte de governar), uma técnhe do ensino (arte de ensinar).
147
O desenvolvimento tecnológico fez surgir não apenas máquinas capazes
de ampliar a força física muscular do homem ou dos animais, quando
utilizam para transportes e trabalhos pesados, mas também, máquinas
sutis e sofisticadas capazes de produzir imagens reprodutíveis e estéticas
tecnológicas. Um exemplo desse tipo de tecnologia é a câmera fotográfica,
que permitiu o registro da realidade do espectador a um simples toque de
botão, sem intermediação da mão do artista. Santaella (2007, p. 258) destaca
que com o avanço das tecnologias uma habilidade individual passa a ser
coletivizada.
148
e mecanicistas. Alguns, ainda, tal como no período jesuítico, concebem o corpo
como um meio e um instrumento para a modernização de outros setores ou
disciplinas, e não como atividade, com valor em si mesmo. A preocupação não
é somente com o discurso, mas com aquilo que o antecede: a forma de ver o
mundo.
149
Já as relações de cooperação representam justamente aquelas que vão
possibilitar o desenvolvimento cognitivo do corpo. Nessa relação não há
hierarquias estabelecidas, antes há discussão, trocas de ideias, controle mútuo
dos argumentos e das provas. Na relação de cooperação está disponível a
coordenação das operações entre dois ou mais sujeitos.
Nesse ponto, devo ressaltar que para Piaget as diferentes relações sociais
implicam assumir um conjunto de organizações cognitivas que influenciam
as interações sociais. A cooperação é o tipo de relação social que representa
o mais alto nível de socialização (LA TAILLE; KOHL; DANTAS, 1992). Para
Piaget, a cooperação não é um sistema de equilíbrio estático, como ocorre
em relações de coação. As relações de cooperação pressupõem um equilíbrio
móvel e, portanto, movido por relações partilháveis. Não estou dizendo
que no processo de ensino-aprendizagem da dança não exista hierarquia.
Porém, a diferença é que o professor de dança troca o estilo rígido da prática
ditatorial por um ensino aberto e livre. Ao aluno é compartilhado não apenas
os processos criativos e laborais, mas também responsabilidades para a
condução da aula.
5 A Sociedade da Informação
151
A interligação entre diferentes computadores digitais e a Internet culminou
na “Sociedade da Informação” (SI), que poderíamos definir como um novo
estágio de desenvolvimento das sociedades humanas, caracterizado pela
capacidade de obter e compartilhar qualquer quantidade de informação de
maneira completamente instantânea. Nesse momento, já conseguimos fazer
tudo isso pelo celular, falamos do estado de ubiquidade.
O contexto das atividades humanas não é mais o contexto físico imediato, mas um contexto
muito mais amplo, sujeito a uma densa rede de inter-relações, de envolvimento e de influências
mútuas: complexidade, a interdependência e a imprevisibilidade permeiam as atividades e
as relações dos indivíduos, juntamente com a globalização.
A grande quantidade de informação e a facilidade de transmiti-la e acessá-la é um avanço com
enorme potencialidade, no entanto, os autores ponderam que o risco de manipulação de
excesso de informação, diz respeito não apenas à quantidade do fluxo de informação, mas
também ao ruído dela, a “infoxicação”.
A rapidez afeta todos os aspectos e processos envolvidos na Sociedade de informação: na
transmissão da informação, na atualização de softwares e hardwares, nas mudanças de
tendências econômicas em nível mundial, rapidez nas tomadas de decisões forçados pela
necessidade de responder a uma realidade que está submetida a um processo de mudança:
rapidez nos processos e suas consequências.
Essa rapidez da qual falamos anteriormente, juntamente com os fenômenos de excesso têm
conduzido as pessoas à diminuição e a dispersão da atenção, a uma cultura de mosaico,
carente de profundidade. De acordo com Cebrián (1998, p. 181 apud COLL; MONEREO, 2010,
p. 23), “a velocidade é contrária à reflexão, impede a dúvida e dificulta o aprendizado.” São
características da SI a escassez de espaço e de tempo para a abstração e reflexão.
O surgimento de novas classes sociais: os “inforricos” e os “infopobre”. Estamos diante
de uma revolução de alcance mundial que afeta o conjunto da humanidade, mas não afeta a
todos da mesma maneira. A consequência das diferentes formas de produção, distribuição e
consumo da informação, resulta no aumento das diferenças entre países pobres e países
desenvolvidos, de acordo com Cébrián (1998, p. 187 apud COLL; MONEREO, 2010, p. 24), a
sociedade dual está sendo potencializada.
153
cooperativo, nas quais a competência do grupo prima sobre a competência
individual.
6 Considerações Finais
A educação deve servir para dar sentido ao mundo que rodeia o aluno, para
ensinar ao corpo a interagir socialmente e solucionar problemas. O potencial
educativo de um software, um aplicativo, ou de qualquer outra tecnologia
digital, está em considerar esse aparato como um potencial criativo que,
carregado de sentido, constrói conhecimento por meio da interação social e
potencializa a criação de signos.
154
REFERÊNCIAS
155
LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea.
Porto Alegre: Sulina, 2008.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34,
1999.
LÉVY, Pierre. O que é virtual? Tradução Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1999.
156
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SANCHO, J. Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre: Artes Médicas Sul
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ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
157
Estratégias e conteúdos transmídias: novas práticas didático-
pedagógicas para o contexto da cibercultura
Noeli Batista dos Santos
Professora Adjunta da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal
de Goiás
Resumo
O presente artigo apresenta um estudo de caso, destacando as estratégias
e os conteúdos transmídias como tópicos emergentes para a prática
docente no contexto da cibercultura. As reflexões emergem da pesquisa de
doutoramento intitulada A transmidiação dos sentidos de docência na prática
dos MOOCs: perspectivas emergentes, desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Educação da UnB, Linha de Pesquisa Educação,
Tecnologias e Comunicação, na defesa da tese de que há um pensamento
pedagógico transmídia, e esse, quando aplicado ao ensino na modalidade on-
line, atualiza os sentidos de docência e as práticas didático-pedagógicas para
o contexto da cibercultura.
158
INTRODUÇÃO
Para Manovich (2001), esse novo contexto é pautado pela linguagem das
novas mídias – atualmente, “mídias digitais” –, cuja existência indica cinco
princípios, sendo eles: representação numérica, modularidade, automação,
variabilidade e transcodificação cultural. Ao pensar na cibercultura,
compreende-se que o conjunto desses princípios indica a necessidade da
construção de diálogos entre a multidimensionalidade, a hipermobilidade e
a ubiquidade desdobrada propiciada pelos atuais dispositivos de acesso às
redes digitais (SANTAELLA, 2013).
159
ensino são hibridizadas em comunicações síncronas e assíncronas, entre
elas, o fenômeno compreendido por Massive Open Online Courses (MOOCs)
‒ herança da chamada “Educação Aberta” (PETERS; BRITEZ, 2008). Esses
cursos, desenvolvidos em plataformas digitais, de perfil aberto e massivo,
atendem a públicos diversos, bem como possuem diferentes formatos de
oferta. Segundo Santos e Lacerda Santos (2018), as pesquisas sobre MOOCs
têm abordado tópicos sobre ensino e aprendizagem, ferramentas didáticas,
impacto formativo, revisão de literatura e tecnologias aplicadas.
160
No estudo de caso citado, especificamente sobre as transmidiações que
configuram os desenhos didático-pedagógicos das unidades de análise,
buscou-se respostas para a seguinte questão investigativa: em que medida
os processos de transmidiação (estratégias e conteúdos transmídias)
identificados nos MOOCs analisados podem sinalizar pressupostos para uma
metodologia de ensino transmídia? Assim, o presente artigo compartilha as
descobertas e problematizações que emergiram do contexto citado.
2 A plataforma Miríada X
161
Atualmente, além de instituições do contexto europeu, estão integradas à
plataforma Miríada X mais de 340 instituições oriundas das Américas do Norte,
Central e do Sul. No caso do Brasil, desde o ano de 2015, estão associadas
cinco universidades, sendo elas: PUCRS, UFRGS, FURB, Unisinos e Anhembi
Morumbi. Nessa plataforma, no período delimitado para o desenvolvimento
da pesquisa – setembro de 2017 a janeiro de 2018 ‒ estiveram disponíveis para
acesso ‒ e, portanto, disponíveis para análise dos processos de transmidiação
‒ sete MOOCs, conforme indicado no Quadro 1.
Estratégias de expansão
Conteúdos de extensão Conteúdos de extensão
MOOCS analisados textual lúdica
Extensões Extensões Extensões Extensões
narrativas diegéticas vivenciais de marca
1. Introdução aos processadores
0 11 0 0
Multicore – PUCRS
2. Responsabilidade social e
sustentabilidade das organizações – 7 5 0 0
PUCRS
3. Língua Portuguesa – Anhembi
7 12 0 0
Morumbi
4. Português para estrangeiros –
1 14 0 0
FURB
5. Inovação orientada pelo Design –
4 4 0 0
UNISINOS
6. Química Geral I: Sistemas,
Materiais, Estequiometria, Soluções e 0 18 0 0
Gases – UFRGS
7. Leitura, Análise e Método: Anton
5 1 0 0
Tchékhov e Liev Tolstói – UFRGS
Total 24 65 0 0
Fonte: elaborada com base nas informações disponíveis na plataforma Miríada X (2018).
Fonte: elaborada com base nas informações disponíveis na plataforma Miríada X (2018).
167
remixando o conteúdo original, de maneira que a visualização do mesmo
fica condicionada às respostas aos questionamentos que surgem na tela. A
plataforma PowToon também possibilita a criação de conteúdos audiovisuais,
porém, em linguagem anime ‒ característica de desenhos animados. Nessa
plataforma, o conteúdo é construído a partir da combinação dos elementos
disponibilizados com a inserção de vozes, assim como nos processos de
dublagem. As plataformas Educaplay e KhanAcademy são repositórios de
conteúdos textuais e audiovisuais ‒ também integradas a outras plataformas,
por exemplo, o YouTube. As plataformas LivroClipe e Quizlet disponibilizam
ferramentas de gamificação de conteúdos de texto, imagem e som.
169
Em relação às estratégias de propagação, seguem alguns exemplos referentes
aos conteúdos reformatados e conteúdos informativos. Nas correlações aos
conteúdos reformatados de antecipação foram identificadas atividades com
a proposta de construção de perfis dos alunos, enquetes e autoavaliações.
Em relação às correlações aos conteúdos reformatados de recuperação
foram identificadas atividades do tipo “lembre-se”, jogos de percurso, jogos
de palavras e avaliações gerais. Nessa análise, no que se refere aos conteúdos
informativos do tipo remixagem, foi encontrado apenas um exemplo, de
vídeo interativo referente ao MOOC “Português para Estrangeiros” (Figura 6).
Em relação aos conteúdos informativos promocionais foram encontrados
dois exemplos, uma divulgação de um MOOC e de um curso de graduação
relacionado ao programa narrativo do curso “Língua Portuguesa”.
170
5 (In)Conclusões
171
REFERÊNCIAS
172
FECHINE, Y. Transmidiação, entre o lúdico e o narrativo. In: CAMPALANS, C.;
RENÓ, D.; GOSCIOLA, V. (Org.). Narrativas transmedia entre teorías y prácticas.
Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, 2012. p. 102-123.
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Alegre: Sulina, 2011.
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generation of software. Sebastopol: O’Reilly Media, 2009.
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upf10230%2F26011&indx=29&recIds=TN_ upf10230%2F26011&r
ecIdxs=8&elementId=&renderMode=poppedOut&displayMode=full&http://
capes->. Acesso em: 17 dez. 2017
175
Letramento e práticas textuais no aplicativo WhatsApp
Raquel Alves Amaral
Secretaria de Educação do Distrito Federal
Resumo
Este estudo apresenta temas questionadores e atuais em relação às
atividades de leitura, escrita e de fala em volta de materiais escritos, no
contexto virtual, especialmente, nas comunicações realizadas por meio do
aplicativo WhatsApp. As práticas de leitura e escrita têm sido apontadas como
as mais relevantes ações linguísticas reforçadas na educação básica. Nesse
paradigma, este artigo objetiva esclarecer questões quanto à aplicabilidade
dos letramentos advindos de práticas textuais no aplicativo WhatsApp e
suas contribuições ao ensino de conteúdos de língua materna, bem como
as influências do aplicativo na Educação, ao mostrar que a escola precisa
desenvolver estratégias didático-pedagógicas para elevar as consciências
no ciberespaço, em virtude do aumento no grau de adesão de dispositivos
móveis pelos estudantes.
176
INTRODUÇÃO
No que diz respeito a essas alterações, notamos que o letramento digital tem
contribuído e traz consigo uma série de situações de comunicação pouco
vividas antes da chegada das inovações tecnológicas computacionais. A
existência de salas virtuais de conversação na internet para a realização de
conversas simultâneas por escrito entre duas ou mais pessoas, a partir de
lugares diferentes do mundo, era um evento comunicativo impossível até a
implementação da grande era de comunicação.
Segundo Marcuschi (2008), todo texto tem uma função social, ou seja, são
escritos para que sejam lidos e compreendidos dentro de uma esfera de
ação social. As escritas realizadas por meio do aplicativo WhatsApp, que se
constituem nos principais dados para este estudo, visam à compreensão
das novas formas de letramento que estão surgindo no contexto virtual do
aplicativo que, ao receber influências da cibercultura, reconfigura a concepção
de letramento, a qual, possivelmente, reinventa-se com a inserção de sons,
imagens e vídeos.
178
As potencialidades e possibilidades do WhatsApp Messenger como mediador
de outras práticas de letramento, escrita e leitura que se constroem no
processo comunicativo e, consequentemente, educativo sustentam o
argumento de que a comunicação e a educação possibilitadas pelo aplicativo
oportunizam a elaboração de uma escrita permeada por novos elementos
específicos da cultura digital (PORTO; OLIVEIRA; CHAGAS, 2017, p. 125).
Cada um podendo ver, ouvir, ler, gravar, voltar atrás, ir adiante, enviar,
receber e modificar conteúdos e mensagens entendidos como espaços de
intervenção, de negociação inacabados. Cada um experimentando não mais
a disjunção da emissão/recepção, mas a coautoria (SILVA, 2001, p. 14).
179
emoticons, sem ler o conteúdo da mensagem. Torna-se muito necessária
uma consciência na cibercultura para o seu uso crítico.
180
Conhecemos que “o WhatsApp é um aplicativo digital multimodal,
multiplataforma, com alto grau de usabilidade” (SILVA; VILHEGAS, 2013),
que proporciona o compartilhamento de mensagens no formato de texto,
imagem, áudio e vídeo. Diante de novas experiências de comunicação na
cibercultura entre os sujeitos no cotidiano, percebemos suas implicações
no âmbito escolar. Alguns questionamentos surgiram nesse processo,
entre os quais temos: a formação crítica dos sujeitos no contexto da prática
escolar e as implicações do aplicativo; o uso didático de dispositivos móveis
e de aplicativos, como o WhatsApp, como uma necessidade pedagógica
contemporânea; o uso dessa mídia para apoio, informação e articulação das
aulas realizadas na sala de aula; um ambiente para realização de cursos.
181
caracterizada como uma faculdade humana, esta se divide em duas vertentes:
língua que constitui a parte social da linguagem e fala que é o uso individual
da linguagem.
183
4 As relações entre letramento, práticas textuais e aplicativo WhatsApp
184
família, a igreja, a rua, bem como o lugar de trabalho, mostram orientações
de letramento muito diferentes (KLEIMAN, 1995, p. 20).
Uma associação socialmente aceita entre modos de usar a língua, de pensar, sentir, acreditar,
valorar e de atuar que podem ser usadas para identificar-se como um membro de um grupo ou
uma rede “social” socialmente significativa, ou sinalizar (que alguém está desempenhando) um
“papel” socialmente significativo. (GEE, 1990, p. 143 apud RIOS, 2010, p. 168).
Nesse sentido, temos que os discursos são “um tipo de linguagem usada
para construir uma perspectiva particular sobre um objeto da realidade e
o relaciona a modelos mentais ou esquemas, modos particulares de pensar
que são socialmente estruturados.” (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999 apud
RIOS, 2010).
185
Sabemos que as redes sociais e os ambientes virtuais criam novas
possibilidades para participação em práticas sociais que envolvem leitura
e escrita. Na prática social, “o discurso é um elemento que se relaciona
dialeticamente com outros: fenômenos mentais, atividades materiais,
relações sociais, de modo que um interioriza e é interiorizado pelos outros.”
(RIOS, 2010, p. 171). Como resultado, temos que o discurso se expande através
da gama de possibilidades de combinações entre fala, escrita e outros modos
semióticos, trazendo inovações para explorar os gêneros escritos, os estilos
usados para produção de textos, as atividades de leitura e os textos escritos
no discurso.
187
atualmente do indivíduo é que ele saiba onde buscar dados e informações
para, em seguida, promover a contextualização, seleção e relação entre tudo
aquilo que, abundantemente, as mídias lhe oferecem (RANGEL; FREIRE, 2012,
p. 13).
188
Novas reconfigurações surgiram e o processo de interpretação tanto recorre
ao conhecimento dos interlocutores, em seus contextos, quanto aos textos
anteriores estabelecendo associações ou complementações de sentidos.
Dessa forma, é preciso desenvolver habilidades e competências para esse
novo letramento manifestado no ambiente do aplicativo WhatsApp.
Nessa lógica, os professores devem criar mecanismos para que esse processo
de construção de sentidos, tanto da escrita quanto da leitura, concretize-se.
Sabemos que “a aprendizagem mediada é o caminho pelo qual os estímulos
são transformados pelo mediador, guiado por suas intenções, intuições,
emoções e cultura.” Para Santos e Andrade (2010, p. 34), “o mediador seleciona
os estímulos mais apropriados, filtra-os, elabora esquemas, amplia alguns.”
Segundo os autores, é por meio da mediação que a estrutura cognitiva
adquire padrões de comportamento que determinarão sua capacidade de
ser modificada. Assim, quanto mais mediação pedagógica, mais o educando
desenvolve a capacidade de ser afetado e se modificar.
5 Considerações finais
189
Já pudemos ser esclarecidos de que as principais características dos
novos letramentos é que são interativos, em vários níveis de expressão e
comunicação. Diferentemente dos letramentos anteriores, impressos. Essa
linguagem digital, por ser traduzida para a linguagem dos dígitos binários e
por sua concepção fundante em rede (web), permite que o leitor e escritor de
textos interaja em vários níveis e com vários interlocutores.
190
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz? São Paulo: Loyola,
2006.
KOCH, Ingedore. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2008.
191
NERI, Juarez Heladio P. Mídias sociais em escolas: uso do Whatsapp como
ferramenta pedagógica no ensino médio, 2015. Disponível em: <portal.estacio.
br/docs%5Crevista_estacao_cientifica/06-14.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018.
RANGEL, Mary; FREIRE, Wendel. Educação com tecnologias. Rio de Janeiro: Wak,
2012.
192
Tecnologia, Educação e o Conhecimento em Ambientes de Formação
on-line
Richard Gagnon
Universidade Laval (Canadá)
Resumo
Nenhuma sociedade pode fazer economia de levar as novas gerações à forma
adulta, de educá-las, de formá-las cidadãs. A educação é uma ideia elementar
que se inscreve nos princípios que formam uma sociedade, bem como que
conduzem o desenvolvimento humano. No entanto, o advento da tecnologia
revolucionou o mundo e, consequentemente, impôs mudanças no conceito
de educação – implicando sua ordem, seus agentes e também sua matéria.
No meio digital, tudo é informação e, portanto, o conhecimento passa a ser
produto derivado de sua decodificação e assimilação. Consequentemente,
tudo se transforma: o processo de ensino e aprendizagem (a formação), os
agentes do processo (o professor, o aluno) e também, o conteúdo (a matéria)
assumem uma nova forma. E o conhecimento? À luz dessa questão propomos
desenvolver neste artigo algumas ideias em torno do conhecimento, sem a
pretensão de exaurir o tema, no entanto, com forte interesse na exploração
de seus aspectos organizadores e operacionais que o legitima de diversas
maneiras como um “saber”, significativo, enciclopédico e completo.
193
INTRODUÇÃO
Desse modo, a educação é uma ideia elementar que se inscreve nos princípios
que formam uma sociedade, bem como que conduzem o desenvolvimento
humano. Em outras palavras, é uma fórmula que implica conceitos éticos,
morais, valores geradores de comportamento (condutas, hábitos) individuais,
culturais, sociais e, também, todo o conhecimento inscrito na natureza de
cada um desses conceitos (MORANDI, 2000). Nessa perspectiva, “sociedade” e
“educação” estão intimamente ligadas em uma interdependência. É por meio
da educação que o sujeito se integra ao seu meio, a um sistema de sociedade,
de cultura e de valor, no qual as instituições educativas (escolas, universidades
e outras) ganham protagonismo. O sujeito somente se forma pela educação
e uma sociedade madura somente se estabelece por meio da educação
(DURKHEIM, 1911). Não se educa apenas por “educar”, mas também para
uma finalidade: para adaptação a uma realidade, para a liberdade, para o
progresso coletivo ou individual, para inventar, para evoluir, para aperfeiçoar
a pratica. Na “prática”, a educação é própria da natureza do homem, assim
como afirmou Aristóteles (MORIN; BRUNET, 2000) e um homem só se torna
homem através da educação, como complementou Kant (1966).
194
Não obstante, o advento da tecnologia revolucionou o mundo e,
consequentemente, impôs mudanças no conceito de educação – implicando
sua ordem, seus agentes e também sua matéria. Atualmente, quando se
pensa em educação, pensa-se em tecnologia. Por um lado, em razão da
presença e utilidade das tecnologias, dos dispositivos tecnológicos na vida
cotidiana e, por outro, em virtude da popularização da Web que generalizou
o acesso à informação e, consequentemente, viabilizou novos meios de
acesso ao conhecimento e, com isso, novas formas de educação. É o caso
da educação on-line e a distância (EAD): uma evolução natural, resultante
da revolução tecnológica no meio educacional (KENSKI, 2008). Por meio
das redes de comunicação que extrapolam as barreiras físicas e estão, de
maneira onipresente, em vários aparelhos digitais, o conceito de educação se
expandiu, possibilitando a oferta de diversos níveis de formação a distância:
acadêmica, técnica, profissionalizante e outras atividades de extensão
instrucional. No entanto, a tecnologia não somente democratizou a educação,
mas transformou, fundamentalmente, a maneira pela qual transmitimos e
adquirimos o conhecimento.
195
torna a palavra de ordem no cenário digital. Todavia, em um cenário real, a
“reputação” continua ordenando as ideias sociais, a fim de promover o bem-
estar comum por meio de sujeitos bem adaptados ao meio em que vivem.
Em outras palavras, embora a autonomia, ou seja, a capacidade de governar-
se pelos próprios meios, seja um objeto de desejo de comum acordo entre
um indivíduo e sua sociedade; essa última necessita reconhecê-la, atestá-la,
certificá-la, objetivá-la dentro de suas regras e leis comuns que delimitam
suas fronteiras normativas, faz parte do ritual! A aquisição de conhecimentos
que favoreçam a autonomia na aprendizagem é uma questão, obviamente,
bastante discutida no meio científico da educação, tanto para situações
presenciais quanto para situações a distância. Ademais, as capacidades de
trabalhar de forma independente são cruciais para o sucesso de tecnologias
educativas de modo geral e, em particular, em ambientes de EAD; ao passo
que o sujeito-aluno tem maior responsabilidade pelo seu processo de
aprendizagem (KENSKI, 2008). Portanto, para orientar as práticas didáticas
e pedagógicas e os modos de intervenção dos professores em ambientes de
EAD, é desejável dispor de novos conceitos que possibilitem compreender,
do ponto de vista cognitivo, o que significa ser autônomo em situações de
aprendizagem e quais são os limites e as dificuldades que permeiam o termo.
196
2 O conhecimento dentro de uma epistemologia do saber significativo
197
como válido6 – verdadeiro – aos olhos de um indivíduo ou de uma sociedade
(GAGNON, 2013). Ademais, é quando um conhecimento é reconhecido como
significativo: individualmente, ao passo que contribui ativamente para a sua
autonomia; e, socialmente, ao passo que contribui para a sua reputação de
um indivíduo dentro de um corpo coletivo.
4
Tradução nossa.
5
A pertinência de um saber significativo está relacionada com o esforço necessário para se adquirir uma informação e com o
efeito do contexto produzido sobre o indivíduo ou sobre a comunidade (ZOURHLAL, 2015; GAGNON, 2013).
6
Validar um conhecimento significa certificá-lo como verdadeiro e confiável (GAGNON, 2013). A certificação está associada
a uma posição epistemológica que diz respeito a um indivíduo ou a um corpo coletivo que, segundo a teoria Pepper (1970),
podem ser categorizados, como: mecanicismo, formismo, contextualismo e organicismo.
198
b) No que concerne à perspectiva individual do sujeito, duas dimensões
são estabelecidas: 1) a privada, cujos conhecimentos ficam restritos às
percepções particulares de um indivíduo e 2) a pública, cujos conhecimentos,
por possuírem uma identidade coletiva, ficam perceptíveis universalmente;
assim sendo, intitularemos os conhecimentos pertencentes à dimensão
privada de um sujeito de Saber Individual Privado e aqueles pertencentes à
dimensão pública do sujeito de Saber Individual Público; consequentemente,
podemos perceber que os Saberes Sociais estão contidos na dimensão pública
do sujeito, logo, podemos perceber que o conjunto de Saberes Individuais
Públicos contém o conjunto de Saberes Sociais de um indivíduo. Portanto,
todo Saber Individual Público é Saber Social, porém nem todo Saber Social é
Saber Individual Público.
199
Assim sendo, se, por uma perspectiva individual os conhecimentos ganham
significado por meio de um movimento de interconexão, então não seria
absurdo pressupor que, por uma perspectiva coletiva, todos os saberes
individuais de um sujeito podem estar conectados, por meio das identidades
coletivas, com outros conhecimentos externos ao sujeito, pertencentes ao
seu corpo coletivo imediato e, seguindo a mesma lógica, com outros corpos
coletivos maiores, de maneira universal. Isso mesmo, esse pensamento não
é absurdo! Trata-se do pensamento enciclopédico, cujo objetivo geral era
medir o conhecimento humano de uma época, mediante a ótica de uma obra
completa, com uma Enciclopédia.
200
segundo seu objeto de estudo e finalidade. Esse referencial foi concebido por
d’Alembert e foi intitulado de Sistema Figurativo do Conhecimento Humano. O
conceito esquemático nas ideias de Francis Bacon nas teorias epistemológicas
do Iluminismo. Ademais, no que concerne o conceito 3, todo conhecimento
poderia estar relacionado a outros, independentemente de suas ciências de
base, por meio de referências que os conectariam. Essa conexão ocorreria
por meio de um vocabulário em que os conhecimentos compartilham. Desse
modo, seria possível transitar de um conhecimento para outro por meio de
um vocabulário comum (DIREROT, 2013).
4 Discussão
201
são mais problemáticos, porque levantam questões que desconhecemos,
de fato, ou, ao contrário, abordam assuntos que não queremos resolver.
Consideraremos, para começar, o saber individual significativo. Nós o
qualificamos de perfeito porque ele corresponde totalmente ao que um
indivíduo exige de um conhecimento para atribuir-lhe valor e confiança. Por
um lado, o conhecimento é desejado por este último, porque ele o considera
útil, interessante, agradável de conhecer ou por alguma razão que, do seu
ponto de vista, confere ao conhecimento sua pertinência. Por outro lado, ele
encontra sua validade na mesma forma que o indivíduo privilegia quando
quer validar seus conhecimentos mais valiosos, ou seja, de acordo com sua
posição epistemológica ou, praticamente, de acordo com o seu estilo de
aprendizagem, conforme a classificação de Kolb (1984). Certamente, um
conhecimento qualquer pode ser bastante particular – conhecido ao extremo
unicamente por este indivíduo – ou mesmo falso para os outros, mas, para
este último, é carregado de significado e é válido. Nesse caso, se necessário,
será difícil leva-lo a mudar sua posição quanto a esse conhecimento.
202
que o conhecimento resultante forma uma mistura composta, parcialmente
indeterminada, peculiar a cada um. Eles serão reconhecidos pela sociedade
somente se validarem esse conhecimento, seu componente público significa
o que ele alcança em suas instituições educacionais e ordens profissionais.
Uma primeira fonte de conflito surge, então, quando o que é pertinente
para um indivíduo não é necessariamente pertinente para a sociedade ou
grupo no qual ele pertence. Assim, um interesse individual marcado pela
história do engenheiro mecânico não está, geralmente, no currículo das
universidades que formam os engenheiros deste domínio, o que poderia
frustrar um estudante que tenha esse interesse. Mais grave ainda, um
desinteresse significativo pela matemática, por parte de um estudante,
afetará muito sua formação nessa área de domínio, já que o programa faz
uso extensivo dessa disciplina. O mesmo vale para aquilo que diz respeito
ao modo de conhecimentos privilegiados. Se as posições epistemológicas do
indivíduo e de seu respectivo coletivo correspondem – e se o conhecimento é
pertinente para ambos – encontramos nesta situação uma correspondência
que descrevemos como perfeita, tanto para o individual quanto para seu
coletivo. O indivíduo, então, sente-se realmente à vontade no grupo coletivo
que, reciprocamente, o reconhece desde o início como um dos seus. Mas se,
em vez disso, os métodos de validação do conhecimento não coincidirem,
se, por exemplo, uma abordagem estritamente analítica e mecânica – que
considera o todo como a soma de suas partes, como é comum em engenharia
mecânica – é privilegiada de um lado, mas por outro, é sim um tipo orgânico
de abordagem – que argumenta que o todo contém mais do que a soma de
suas partes, como normalmente se pensa em biologia – um outro problema
aparece, porque o indivíduo não tem escolha a não ser demonstrar ao
coletivo que ele conhece e compartilha seus métodos. Na prática, o indivíduo,
na maioria das vezes, opta por se adaptar ao coletivo, pelo menos enquanto
é observado, ou seja, avaliado, e depois retornar às suas preferências, se
isso for possível para ele. Qualquer um que já tenha ensinado reconhecerá
esse fenômeno! Nessas condições, o conhecimento perde um pouco de
sua perfeição. Há alguns anos, Gagnon (2015) propôs algumas maneiras de
desenvolver ambientes de formação ludificados que levam em conta esses
problemas. O leitor interessado pode consultá-lo.
7
Para os felizes, mas muito poucos eleitos que tiveram a chance de estudar. Os outros foram simplesmente deixados no escuro.
205
Assim, será fácil entender por que o desenvolvimento de ambientes de
formação orientados dessa forma não é popular, consequentemente, os
ambientes mais especializados são favorecidos em seu lugar, visto que
são mais simples de produzir e muito mais lucrativos no curto prazo, mas,
provavelmente, mais prejudiciais em uma perspectiva de desenvolvimento
sustentável, embora isso seja questionável. Contudo, considerando o
exposto, a Web não forneceria uma boa base para esse tipo de ambiente,
pelo menos no nível público, social e coletivo? A Web certamente reconhece
um espelho bastante fiel do conhecimento humano e das várias disposições
das mentes subjacentes. Em particular, há um grande conhecimento
significativo que é relevante e válido para comunidades de indivíduos que
são plenamente reconhecidos socialmente em praticamente todas as áreas
da atividade humana. Estes incluem sites de associações profissionais,
corporações, organizações com ou sem fins lucrativos, instituições privadas
e públicas de todos os tipos, ministérios ou governos, desenvolvidos por ou
em colaboração com especialistas competentes, que geralmente podemos
confiar. Todos esses sites formariam a essência de uma enciclopédia pública
perfeita, melhorando dia a dia e excedendo em quantidade, acessibilidade e
possibilidades de uso, todas as enciclopédias, compêndios e dicionários de
todos os tipos, tradicionalmente publicados em papel, que são encontrados
quase inteiramente na Web, eles constituem um subconjunto muito
pequeno. Por sua diversidade, esses sites também expressam um conjunto
extremamente representativo dos campos do conhecimento humano,
mas também das posições epistemológicas e métodos de validação do
conhecimento que prevalecem nesses campos.
8
Será que eles compreenderão um dia a velocidade vertiginosa em que a Web se transforma?
207
CONCLUSÃO
9
Para entender o escopo desse comentário, imagine um canhoto forçado a usar equipamentos construídos espe-
cificamente para destros, ou melhor, imagine-se caminhar por quilômetros usando calçados com os pés trocados!
10
Normalmente cinco, ou seja, quatro para levar em conta as quatro posições epistemológicas fundamentais, ou os quatro
estilos de aprendizagem de acordo com a classificação de Kolb, e um quinto atribuído às características específicas da comu-
nidade de referência.
209
atividades de aprendizagem adaptadas a eles. Mais imponente e mais aberto
do que os dispositivos de formação do primeiro tipo, esse segundo tipo de
dispositivo seria bastante apropriado em um ambiente escolar em que se
busca formar pessoas autônomas e confiantes dentro de suas possibilidades,
mas também socialmente à vontade e bem adaptadas ao meio em que
vivem. Até agora, porém, só buscamos o desenvolvimento do conhecimento
perfeito, seja para a única comunidade de referência no primeiro caso, seja
para o indivíduo e a comunidade de referência no segundo. Mas seria possível,
apesar da dificuldade previsível, desenvolver um terceiro tipo de dispositivo
de formação, aquele adequado para o desenvolvimento do conhecimento
completo, isto é, enriquecido pelas contribuições dos meios de aprendizagem.
Normalmente negligenciado e desvalorizado pelo indivíduo ou pela sua
comunidade de referência, na maioria das vezes, indesejado pelas mesmas
razões, dolorosamente harmonizado, e cujo desenvolvimento requer,
para todos os efeitos, o trabalho de uma vida inteira? Por enquanto, não
responderemos a essa pergunta. Apesar do avanço de nosso conhecimento,
apesar da crescente flexibilidade e eficiência dos equipamentos de TI, apesar
do tremendo e explosivo desenvolvimento da Web, o desenvolvimento
sustentável esperará! Ai de mim!
210
REFERÊNCIAS
GAGNON, R. Jogar para ter sentido. In: ZOUHRLAL, Ahmed et al. (Org.).
211
MORIN, E. La méthode 3. La connaissance de la connaissance I. Paris: Seuil,
1986.
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EDITORA
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