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FORMAÇÃO GERAL

LÍNGUA PORTUGUESA

5
CADERNO

SEGUNDA
SÉRIE
ENSINO MÉDIO

CADERNO DO PROFESSOR
ANÁLISE LINGUÍSTICA
HENRIQUE Santos Braga
Sérgio de Lima PAGANIM
LITERATURA E ARTE
Carlos Moacir Vedovato Junior (MOA)
Fernando MARCÍLIO Lopes Couto
MAURÍCIO Soares da Silva Filho
PAULO Giovani de Oliveira
PRODUÇÃO DE TEXTO
Eduardo Calbucci (BUCCI)
FELIPE Leal
Luciana Migliaccio (LUCY)
FORMAÇÃO GERAL
LÍNGUA PORTUGUESA

5
CADERNO

SEGUNDA
SÉRIE
ENSINO MÉDIO

CADERNO DO PROFESSOR
Presidência: Mario Ghio Júnior
Vice-presidência de educação digital: Camila Montero Vaz Cardoso
Direção executiva: Thiago Brentano Rodrigues
Direção editorial: Lidiane Vivaldini Olo
Direção pedagógica: Paulo Roberto Moraes
Coordenação pedagógica: Henrique Santos Braga
Gestão de projeto editorial: Flávio Matuguma (ger.),
Michelle Yara Urcci Gonçalves (coord.), Daniela Carvalho e
Eduarda Berteli Mario dos Santos (analistas)
Gerência de conteúdo e design educacional: Renata Galdino
Gerência editorial: Marcela Pontes
Coordenação editorial: Michele Tessaroto
Edição: Anelisa Zanetti Abud (Análise linguística),
Fabiana Mioto (Literatura e Arte) e Rodrigo da Motta Dias (Produção de texto)
Planejamento e controle de produção: Flávio Matuguma (ger.),
Juliana Batista (coord.) e Anny Lima (analista)
Revisão: Letícia Pieroni (coord.), Aline Cristina Vieira, Anna Clara Razvickas,
Brenda T. M. Morais, Carla Bertinato, Daniela Lima, Danielle Modesto,
Diego Carbone, Kátia S. Lopes Godoi, Lilian M. Kumai, Malvina Tomáz,
Marília H. Lima, Paula Rubia Baltazar, Paula Teixeira, Raquel A. Taveira,
Ricardo Miyake, Shirley Figueiredo Ayres, Tayra Alfonso e Thaise Rodrigues
Arte: Fernanda Costa da Silva (ger.), Catherine Saori Ishihara (coord.),
Nicola Loi e Fábio Cavalcante (edição de arte)
Diagramação: Casa de Tipos
Iconografia e tratamento de imagem: Roberta Bento (ger.),
Claudia Bertolazzi (coord.), Carlos Luvizari, Daniel Cymbalista, Evelyn Torrecilla,
Iron Mantovanello, Silvio Kligin, Tempo Composto Ltda.,
Thaisi Lima (pesquisa iconográfica) e Fernanda Crevin (tratamento de imagens)
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Jenis Oh (coord.), Liliane Rodrigues, Raísa Maris Reina e
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Anglo : Ensino médio : Formação geral básica : 2ª série : Anglo [livro eletrônico] : Ensino médio : Formação geral
Língua portuguesa : Caderno 5 : Caderno do professor / básica : 2ª série : Língua portuguesa : Caderno 5 : Caderno
Henrique Santos Braga...[et al]. -– 1. ed. -- São Paulo : do professor / Henrique Santos Braga...[et al]. -– 1. ed. --
SOMOS Sistemas de Ensino, 2021. São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2021.
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Outros Autores: Sérgio de Lima Paganim, Carlos Moacir Outros Autores: Sérgio de Lima Paganim, Carlos Moacir
Vedovato Junior, Fernando Marcílio Lopes Couto, Maurício Vedovato Junior, Fernando Marcílio Lopes Couto, Maurício
Soares da Silva Filho, Paulo Giovani de Oliveira, Eduardo Soares da Silva Filho, Paulo Giovani de Oliveira, Eduardo
Calbucci, Felipe Leal, Luciana Migliaccio Calbucci, Felipe Leal, Luciana Migliaccio
ISBN 978-65-5892-693-1 ISBN 978-65-5892-774-7(e-book)

1. Língua portuguesa (Ensino médio) I. Braga, Henrique 1. Língua portuguesa (Ensino médio) I. Braga, Henrique
Santos Santos

21-1962 CDD 469.07 21-2828 CDD 469.07

Angélica Ilacqua – Bibliotecária – CRB-8/7057 Angélica Ilacqua – Bibliotecária – CRB-8/7057

2021 2021
1a edição
1a impressão
De acordo com a BNCC.

Impressão e acabamento

Uma publicação
Apresentação

Caro(a) professor(a),
O grande desafio é aprimorar, em um curto espaço de tempo, competências e habilidades, além
de consolidar conteúdos de todo o Ensino Médio.
Para o Anglo, essa conquista está apoiada em cinco pilares: aula bem proposta, aula bem pre-
parada, aula bem dada, aula bem assistida e aula bem estudada.
Este material é resultado de uma ampla análise dos exames vestibulares de todo o Brasil, tendo
em vista não apenas os conteúdos de maior incidência, mas também as abordagens adotadas pelas
principais bancas e pelo Enem, trazendo, aula a aula, uma sequência e seleção de assuntos cuida-
dosamente escolhidos.
Para todos os conteúdos, apresentamos um conjunto de sugestões, escritas pelos próprios au-
tores, que auxiliam na preparação das aulas. Com este material procuramos dimensionar cada ex-
posição, de modo que haja tempo suficiente para a apresentação da teoria e para a aplicação de
exercícios. Tudo isso fortalece o engajamento dos alunos, principalmente ao perceberem a forte
conexão entre a aula, o material e os conteúdos cobrados nas provas.
O quinto e último pilar desse processo está diretamente relacionado à metodologia “aula dada,
aula estudada”. Para cada tópico abordado em sala de aula, apresentamos uma orientação de estu-
do clara e organizada, na qual o aluno encontrará tarefas de níveis de complexidade diferentes de-
nominadas Tarefa Mínima, Tarefa Complementar e Tarefa Desafio. Além disso, há ainda uma série de
exercícios adicionais à disposição dos alunos para auxiliá-los nos seus estudos.
Você, professor(a), pode adaptar o curso de acordo com suas necessidades, escolhendo as es-
tratégias mais eficientes para a sua realidade; afinal, como todos sabemos, cada sala de aula tem
suas particularidades.

Desejamos a você um ótimo trabalho!


Os autores.

Petri Oeschger/Moment/Getty Images


Conheça seu material
1 M AT EM ÁT IC A A COMPETÊNCIAS GERAIS C1. C2. C7

M Ó D U L O
Introdução às
probabilidades
HABILIDADES BNCC
HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO
EM13MAT106 Identificar situações da vida cotidiana nas quais seja necessário fazer escolhas levando-se em conta os riscos probabilísticos (usar este
ou aquele método contraceptivo, optar por um tratamento médico em detrimento de outro etc.).
EM13MAT311 Identificar e descrever o espaço amostral de eventos aleatórios, realizando contagem das possibilidades, para resolver e elaborar
problemas que envolvem o cálculo da probabilidade.
NORTEADORAS DO MÓDULO
Aqui você encontrará as habilidades
EM13MAT511 Reconhecer a existência de diferentes tipos de espaços amostrais, discretos ou não, e de eventos, equiprováveis ou não, e investigar

SUGESTÃO DE
implicações no cálculo de probabilidades.

Sugestão de roteiro de aula

ROTEIRO DE AULA Aula Descrição


Fenômenos aleatórios, espaço amostral e
probabilidades
Anotações
da Base Nacional Comum Curricular
1
trabalhadas no módulo.
Desenvolvendo habilidades: 1 e 2

Os módulos são previstos para


TM: 1 a 4
TC: 9 a 12
TD: 17 e 18
Resolução de exercícios

uma ou mais aulas. Neste


Desenvolvendo habilidades: 3 a 5

2 TM: 5 a 8
TC: 13 a 16
TD: 19 e 20
Extras!: 1 a 5

quadro, há uma sugestão de Objetivos de aprendizagem

como trabalhar aula a aula.


Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:
. Objetivo 1: medir a expectativa da ocorrência de um evento aleatório, analisando a frequência observada.
. Objetivo 2: calcular a probabilidade da ocorrência de um evento aleatório, admitindo que o espaço
amostral seja equiprovável.
. Objetivo 3: resolver situações-problema que façam uso de probabilidades em espaços amostrais
equiprováveis.

OBJETIVOS DE
APRENDIZAGEM
Nesta seção, explicita-se a expectativa
de aprendizagem do módulo.

Objetivos de aprendizagem
1 L I T ER AT UR A E A R T E COMPETÊNCIAS GERAIS C1. C3. C6. C7
SETOR
M Ó D U L O

Este material é dividido em


Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:
. Objetivo 1: Identificar formas verbais do presente, diferenciando diferentes extensões durativas e
distinguindo os modos indicativo e subjuntivo.
. Objetivo 2: Reconhecer formas verbais do modo imperativo, compreendendo seu papel na interlocu-
Diversidade estética:
ENCAMINHAMENTO setores que definem um arranjo
ção e distinguindo variantes padrão e não padrão.

Encaminhamento a Belle Époque


dos conteúdos adequado às
Como princípio norteador deste curso (amparado nas orientações curriculares nacionais, sobretudo na

Nesta seção, há sugestões


BNCC), adotamos um olhar sobre as formas gramaticais voltado à construção do significado e, por conse-
guinte, à atuação do indivíduo no mundo por meio da linguagem. Com os verbos, não poderia ser diferente.
Dessa forma, dando sequência ao tratamento mais abrangente que fizemos sobre a classe dos verbos

especificidades da disciplina.
no Caderno 4, este módulo inicia o estudo dos tempos verbais e aprofunda o olhar sobre as flexões, espe-
cialmente nos casos em que variedades populares e a norma-padrão da língua portuguesa divergem.

aula a aula para


Reservamos, assim, duas aulas para estudar as formas verbais do presente (do indicativo e do subjun- HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO
tivo) e também as do modo imperativo – as quais estão diretamente relacionadas ao presente dos dois EM13LGG201 Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural,
outros modos verbais. histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LGG202 Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e
Ponto de partida – Aula 5 verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.

trabalhar o conteúdo
EM13LGG604 Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção
Para começar o estudo dos tempos verbais, diferenciando-os do tempo cronológico, você pode per- histórica dessas práticas.
guntar: “Quanto tempo dura o presente?”. EM13LP01 Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de
circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar
Aula 5 as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.

com os alunos.
O questionamento proposto como Ponto de partida tem como fim desencadear uma reflexão sobre EM13LP03 Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de
posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
diferenças entre tempo cronológico e tempo verbal: de um lado, cronologicamente, o presente coincide
EM13LP50 Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico
com o tempo em que o sujeito se encontra, com o “agora”; de outro, linguisticamente, as formas verbais e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.
do presente coincidem com o momento da enunciação, mas raramente limitam-se a ele.
Para auxiliar os estudantes na resposta à questão inicial, você pode sugerir que eles citem frases “no
presente”, ainda sem a necessidade de formalizar o tempo verbal. Com base nas próprias respostas, cer- Sugestão de roteiro de aula
tamente será possível começar a diferenciar casos de presente pontual, contínuo e frequentativo. Para fi-
nalizar esse primeiro momento, você pode recorrer ao tópico “O momento da enunciação e a duração dos
eventos” da seção Neste módulo e sistematizar a conceituação. Caso prefira intercalar as questões de aula
Aula Descrição Anotações
e a reflexão teórica, você pode encaminhar neste momento a resolução da questão 1. Parnasianismo

Olavo Bilac
Na aula anterior, usamos a seção Prepare-se para solicitar aos alunos que recolhessem frases com verbos no
Desenvolvendo habilidades: 1 e 2
1
presente. Desse modo, para responder à pergunta feita na seção Ponto de partida desta aula, eles poderão
se basear nos exemplos selecionados previamente.
TM: 1, 2, 6 e 7
TC: 3, 4 e 8
Após analisar usos literais do tempo presente, convém dedicar um espaço a usos não literais. Isso pode TD: 5 e 9
Extras!: 1 e 2
ser feito com base na questão 2, que explora o uso do presente histórico e do presente com valor de fu-
turo. É importante destacar que, nessas ocorrências, outros elementos contextuais serão responsáveis pela Simbolismo
marcação de tempo propriamente dita, enquanto a forma verbal terá outros efeitos semânticos: em lugar
Cruz e Sousa
do pretérito, o presente confere atualidade ao evento expresso; em lugar do futuro, confere maior grau de
MÓDULO 2 – VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO

certeza sobre a concretização do evento. Impressionismo


Por fim, cabe resgatar um tema visto também no Caderno 4: as diferenças entre presente do indicati-
vo e presente do subjuntivo. Para isso, foi formulado o exercício 3. 2 Desenvolvendo habilidades: 3, 4 e 5

TM: 10 a 12
Ponto de partida – Aula 6 TC: 13 a 15
ANÁLISE LINGUÍSTICA

Recomendamos iniciar a aula verificando se, na variedade linguística predominante na turma: utiliza-se TD: 16 e 17
ou não o imperativo conforme a norma-padrão. Para isso, você pode apresentar duas formas imperativas Extras!: 3
(uma da segunda e outra da terceira pessoa) e perguntar aos alunos qual escolheriam em uma situação
cotidiana, informal. Pergunte, por exemplo, se usariam empresta ou empreste, corre ou corra, etc.

11 24

Pergunte para eles onde estariam as células mais distantes de qualquer superfície. Em seguida, peça
Aula 10 para achatarem o canudo.
Sugerimos que a aula seja organizada em dois momentos complementares. Inicialmente, após os Pergunte, então, onde estariam as células mais distantes de qualquer superfície. Peça que argumentem
questionamentos apontados na seção Ponto de partida, recomendamos discutir a deslegitimação do go- quais células, dos nemátodos ou dos platelmintos, teriam mais facilidade de receber substâncias do am-
verno monárquico, analisando a conjuntura que ocasionou a decadência do governo de dom Pedro II, biente através da superfície do corpo.
enfatizando essencialmente dois elementos: primeiro, a estruturação do movimento republicano a partir Espera-se que os alunos percebam que são as dos platelmintos. Em seguida, pode-se explicar a função
da publicação do Manifesto republicano (1870) e a realização da Convenção de Itu (SP), em 1873, associan- do líquido do pseudoceloma na distribuição de substâncias desde as superfícies de absorção até as célu-
do essas ações à propagação do republicanismo na sociedade brasileira; na sequência, sugerimos analisar las mais distantes dessas superfícies.
a atuação política do Exército brasileiro a partir da chamada Questão Militar, visando compreender as ações A ideia é que consigam chegar à conclusão de que o corpo achatado, mas sem cavidade corporal
e o papel histórico das instituições militares, associando-as às mobilizações políticas que conduziram ao (acelomados), permite a troca de substâncias entre a superfície e as células mais profundas de forma mais
fim do Império brasileiro. eficiente do que nos nemátodos, os quais acabam dependendo do líquido do pseudoceloma.
Ao final da aula, sugerimos discutir a proclamação da República (1889) por meio de uma breve retros- Recomendamos finalizar mostrando na árvore filogenética (apresentada no capítulo 2 do Caderno de
pectiva de eventos que levaram ao desgaste do apoio a dom Pedro II, ressaltando o papel dos meios de
Estudos) que os nemátodos apresentam alto grau de parentesco evolutivo com os artrópodes, formando
comunicação no declínio do governo imperial. Nesse momento, sugerimos realizar uma análise da imagem
o clado Ecdysozoa, caracterizados por realizarem mudas ou ecdises. Sugerimos falar brevemente sobre
construída sobre dom Pedro II: um homem de idade avançada, ineficiente e incapaz de governar o país.
esse assunto, já que a explicação detalhada será destinada às aulas de artrópodes.
Essa imagem não ficou restrita à figura individual do imperador, mas foi associada à própria estrutura es-
A seguir, convém apresentar os anelídeos. Procure diferenciá-los dos nemátodos em relação à seg-
tatal imperial. Também é importante analisar os eventos que fizeram com que o imperador ficasse cada
mentação corporal e à presença de celoma verdadeiro. Pode-se explicar que, além do líquido celomático,
vez mais isolado politicamente, apontando que foi justamente a ausência de apoio ao Império uma das
apresentam sistema circulatório, que auxilia na distribuição de substâncias pelo corpo.
principais causas do sucesso do golpe de Estado militar que proclamou a República.

PREPARE-SE
Sugerimos apresentar as três classes de anelídeos, caracterizando-as e dando os principais exemplos
de cada uma. Convém explicar que há representantes desse filo que ocupam ambientes terrestres, de água
doce e de água salgada. Pode-se aproveitar para explicar os tipos de respiração de cada um, enfatizando
#cultura_digital a adaptação aos diferentes ambientes.
Recomendamos aos estudantes que visitem o site do acervo digital do Museu Afro Brasil. Nele, é possível Pela familiaridade com as minhocas, esse animal será utilizado como modelo durante a aula. É funda-

Neste boxe, você receberá sugestões de como


encontrar obras de variadas culturas africanas, bem como artistas brasileiros dos séculos XIX e XX, como mental explicar a importância das galerias formadas enquanto se deslocam pela terra e do húmus como
Arthur Timótheo da Costa, Antônio Firmino Monteiro, Benedito José Tobias, entre outros. fertilizante natural. É preciso ter cautela com os termos utilizados nessa explicação, pois tratar da impor-
Há uma vasta quantidade de material disponível nesse acervo. A incorporação desses elementos na discus- tância ou utilidade das minhocas para o ambiente contradiz toda a aula inicial desse módulo. Sugerimos
são sobre o Brasil do século XIX pode aprimorar as abordagens pedagógicas em diferentes aspectos. usar termos como “colaboram”, “favorecem” ou “possibilitam”, para dar a ideia de que fazem parte de um
Esse conteúdo está disponível no link: http://www.museuafrobrasil.org.br/acervo-digital. Acesso em: conjunto de organismos que interagem no ambiente e que não estão lá para assumir determinada função.

os alunos podem se preparar para a próxima


11 maio 2021. A questão 8 do Desenvolvendo habilidades trata desse assunto.
O aumento de complexidade corporal trouxe também um sistema excretor formado por nefrídios, que
podem ser encontrados em cada segmento da minhoca. Se achar conveniente, explique o funcionamento
PREPARE-SE dessas estruturas. Na sequência, procure mostrar que o sistema nervoso é ganglionar, como já havia apa-

aula. Na busca por uma aprendizagem mais


recido em outros filos, mas que agora apresenta um cordão nervoso ventral que inerva o corpo (informação
Sugerimos que os alunos realizem um exercício do Enem sobre a Segunda Revolução Industrial a fim de se importante para contrapor o sistema nervoso dorsal dos cordados).
prepararem para o conteúdo do módulo seguinte. O gabarito da questão apresentada no Caderno do Aluno Pode-se finalizar a aula explicando de forma simplificada que a reprodução das minhocas é sexuada,
é a alternativa c. com fecundação cruzada e desenvolvimento direto, enfatizando o fato de que essa reprodução gera maior

CULTURA_DIGITAL autônoma e ativa, vamos indicar alguns


variabilidade do que se elas pudessem se autofecundar, já que são monoicas.
MîDULO 2 Ð PORêFEROS, CNIDçRIOS, PLATELMINTOS, NEMçTODOS E ANELêDEOS
MîDULO 4 - SEGUNDO REINADO: APOGEU E DECLêNIO DO IMPƒRIO BRASILEIRO

ANOTAÇÕES Sugest›es de consulta


. THIS TERRIFYING Worm Snatches Fish from the Ocean Floor. Disponível em: https://www.youtube.com/

Boxe que faz indicação de vídeos, textos, atividades, pesquisas, etc., que
watch?v=K_7ByiYbCYM. Acesso em: 27 mar. 2021.
. BIOTURBATION – Worms at Work. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n3wsUYg3XV0.
Acesso em: 27 mar. 2021.
. MINHOCÁRIO Caseiro – Simples Compostagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?

como trabalhar as TDIC em os alunos podem fazer em casa para que na


v=Haqm3g502RI. Acesso em: 27 mar. 2021.
. COMO AS MINHOCAS transformam lixo em composto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=2Pa1FwmKZcQ. Acesso em: 27 mar. 2021.

sala de aula. Ele pode indicar aula seguinte já tenham algum conhecimento
PREPARE-SE
BIOLOGIA A

Incentive os alunos a assistir à videoaula que trata dos moluscos e artrópodes para que tenham um primei-
HISTÓRIA

ro contato com o assunto referente à próxima aula.

softwares e orientar seu uso. sobre o assunto.


17 13
Sumário

Análise linguística
Módulo 1. Formação de palavras .......................... 6
Módulo 2. Verbo: presente e imperativo ......... 10
Módulo 3. Verbo: pretérito perfeito
e imperfeito ......................................................................13
Módulo 4. Pretérito mais-que-perfeito e
tempos do futuro: progressão temporal ...........15
Módulo 5. Discurso citado ...................................... 18

Gabarito – Caderno de Estudos 5 .......................21

Literatura e Arte
Módulo 1. Diversidade estética:
a Belle ƒpoque...............................................................24
Módulo 2. Pré-Modernismo .................................... 28
Módulo 3. Vanguardas artísticas europeias .. 30

Gabarito – Caderno de Estudos 5 ...................... 32

Produção de texto
Módulo 1. Descrição, narração e
dissertação ......................................................................34
Módulo 2. Gêneros descritivos e narrativos:
publicidade, quadrinhos e fotojornalismo ....... 37

Gabarito – Caderno de Estudos 5 ...................... 41


janiecbros/E+/Getty Images
1 ANÁLISE LINGUÍSTICA COMPETÊNCIAS GERAIS C5.C6.C7

M Ó D U L O

Formação de palavras

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO

EM13LGG102 Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias,
ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade.
EM13LP06 Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da
ordenação, combinação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.
EM13LP40 Analisar o fenômeno da pós-verdade – discutindo as condições e os mecanismos de disseminação de fake news e também exemplos,
causas e consequências desse fenômeno e da prevalência de crenças e opiniões sobre fatos –, de forma a adotar atitude crítica em relação ao fenômeno
e desenvolver uma postura flexível que permita rever crenças e opiniões quando fatos apurados as contradisserem.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Neologismos: a ampliação do léxico

Desenvolvendo habilidades: 1 a 3

1 TM: 1 a 3
TC: 4 a 6
TD: 7
Extras!: 1 e 2

Formação de palavras com afixos

Desenvolvendo habilidades: 4 a 6

2 TM: 8 a 10
TC: 11 a 13
TD: 14 e 15
Extras!: 3

Derivação sem acréscimo de afixos

Desenvolvendo habilidades: 7 a 9
3 TM: 16 a 18
TC: 19 a 21
TD: 22 e 23

Formação de palavras compostas

Desenvolvendo habilidades: 10 a 12

4 TM: 24 a 26
TC: 27 a 29
TD: 30
Extras!: 4

6
Objetivos de aprendizagem
Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:
. Objetivo 1: Identificar neologismos, correlacionando-os a mudanças sociais e tecnológicas das quais
eles decorrem ou a efeitos expressivos desencadeados por eles.
. Objetivo 2: Reconhecer afixos como morfemas formadores de palavras, identificando suas proprie-
dades gramaticais e semânticas.
. Objetivo 3: Identificar os processos de derivação regressiva e conversiva.
. Objetivo 4: Reconhecer a composição como processo de formação de palavras, diferenciando aglu-
tinação e justaposição.

Encaminhamento
Este módulo sobre formação de palavras procura explorar a sensibilidade linguística dos alunos, falan-
tes da língua portuguesa, para compreender como os vocábulos se constituem, como podem ser segmen-
tados e qual é a relação disso com seu sentido.
Para ativar essa intuição própria dos falantes, iniciamos a sequência didática com o estudo de neolo-
gismos, como estratégia para explicitar que a formação de palavras é um fenômeno permanente nas línguas.
Nesse momento, portanto, mais importante que formalizar os processos de formação é refletir criticamen-
te sobre o próprio surgimento de palavras.
No segundo momento, iniciando a formalização, indicamos que o foco do estudo sejam os afixos (seus
significados e suas funções gramaticais) e os processos de derivação prefixal, sufixal e parassintética. Em
seguida, reservarmos exercícios para abordar os casos de derivação sem afixos (imprópria e regressiva) e,
por fim, destinamos atividades ao estudo das palavras compostas.
Nas quatro aulas que compõem este módulo, predominam textos-base que tratam da circulação de
informações no universo digital, especialmente em redes sociais. Esse tema favorece a análise de neolo-
gismos que circulam em contextos conhecidos pelos estudantes e abre espaço para discussões éticas
sobre comportamentos nas redes sociais, incluindo seus impactos na democracia.

Ponto de partida – Aula 1


Para iniciar o estudo dos processos de formação de palavras, sugerimos este questionamento: “O que
pode motivar o surgimento de palavras novas (neologismos)?”. Para fundamentar a reflexão, convém expor
à turma variados exemplos de neologismo, o que pode ser feito ao longo da aula. Procure mostrar exemplos
da literatura (como Psia, presente do exercício 1), do léxico cotidiano (como sextou, termo citado na seção
Neste módulo) e de determinado campo do conhecimento especializado (como desinforma•‹o, também
citado na seção Neste módulo).

Aula 1
Com a atividade inicial, proposta como Ponto de partida, pretendemos manter viva ao longo deste
módulo a percepção de que a formação de palavras é um fenômeno dinâmico e constante. Especialmente
nesta aula, esse dinamismo se explicita com o estudo dos neologismos, que deve ser menos orientado para
a categorização (diferenciando neologismos gramaticais, semânticos ou por empréstimo) e mais para a
reflexão sobre como e por que novas palavras são criadas.
Após acolher algumas respostas e reflexões iniciais, sugerimos utilizar as questões 1 a 3 como um
percurso investigativo sobre o tema. Com isso, ao término da resolução dessas atividades, é possível vali-
dar, reformular ou refutar as hipóteses iniciais.
Desse modo, indicamos em sequência a leitura de “Psia”, texto-base para as questões 1 e 2. Antes de
MÓDULO 1 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS

respondê-las, convém analisar esse neologismo que dá título não apenas ao poema, mas também ao livro
de poemas concretos de Arnaldo Antunes. Para isso, além da interpretação do poema, cabe recorrer ao
boxe de biografia sobre o autor. Ao lado do poema e das questões 1 e 2, inserimos comentários com su-
ANÁLISE LINGUÍSTICA

gestões de como encaminhar essa atividade.


Para resolver a questão 3, os alunos devem analisar neologismos associados ao universo da desinfor-
mação. O ideal é reuni-los em grupos para promover a leitura e a discussão do texto. Espera-se que isso
fomente questionamentos éticos sobre comportamentos nas redes sociais, além da reflexão linguística
sobre os neologismos.

7
Finalizando a atividade, cabe retomar a pergunta inicial e rever as hipóteses levantadas. É importante
que os alunos reconheçam que os neologismos podem estar associados tanto a necessidades expressivas
quanto ao surgimento de novas tecnologias e comportamentos.

Ponto de partida – Aula 2


Como a aula é dedicada ao papel dos afixos na formação de palavras, pode-se perguntar à turma:
"Como é possível segmentar a palavra em partes menores que guardem significados". Sugerimos usar o
termo desinformação como exemplo, já que os textos-base desta aula abordam esse tema.

Aula 2
Ao analisar a formação de palavras, pode-se partir do produto (a palavra formada) ou do processo (a
junção dos morfemas). Indicamos a segunda opção com o propósito de reforçar a compreensão de que
os processos de formação de palavras seguem ativos na dinamicidade da língua, dando sequência a noções
já presentes no estudo dos neologismos.
De forma prática, essa escolha implica que, em um primeiro momento, a atenção seja dirigida aos
afixos e, em seguida, sejam definidos os processos de derivação. Adotando o ponto de partida sugerido,
podem ser postas lado a lado as palavras informar, informação e desinformação, para que os alunos bus-
quem inferir o percurso de formação entre elas.
Nessa análise, cabe privilegiar propriedades semânticas e sintáticas dos afixos. Ao analisar como se
formou o vocábulo informação, pode-se destacar como a forma -ção é produtiva na formação de subs-
tantivos deverbais (como construção, conspiração, respiração, etc.) e, ainda, sua complementaridade com
a forma -mento, que também compõe substantivos com base em verbos (como confinamento, acolhi-
mento, cumprimento, etc.). Ao analisar como se forma desinformação, pode-se refletir sobre a polissemia
do prefixo des- (que indica negação em desleal e ação contrária em desfazer). Feita essa discussão, esta-
rão assentadas as bases para apresentar os termos derivação prefixal e derivação sufixal.
Para deixar claras as especificidades da derivação parassintética, optamos por adotar o termo técnico
circunfixo, mais comum no vocabulário linguístico que na gramática tradicional. Não é fundamental que os
alunos se apropriem do termo em si, mas do fenômeno: na parassíntese, um nome (substantivo ou adjetivo)
é circundado por afixos para formar um verbo (noite, anoitecer; paixão, apaixonar, etc.), de modo que um
termo semanticamente estático (o nome) dê origem a um termo semanticamente dinâmico (o verbo).
Em seguida, a resolução dos exercícios 4 a 6 cria oportunidades de os alunos refletirem sobre esses
processos de formação.
No exercício 4, aproveitando o termo desmentidos, você pode explorar a polissemia do prefixo des-:
cabe perguntar à turma se, nesse termo, o prefixo expressa “negação” (como em desconhecer) ou “ação
contrária” (como em desfazer). É esperado que eles vejam que desmentir é diferente de “não mentir”, pois
se trata de desconstruir uma mentira.

Proposta para gamificação


Outra possibilidade para apresentar os processos de formação de palavras que envolvem afixos é criar uma
espécie de quebra-cabeças. Para isso, pode-se imprimir alguns morfemas (em papel sulfite) e desafiar os
alunos, em grupos, a montar o maior número de palavras possível.
Após o primeiro momento mais lúdico, pode-se refletir sobre as escolhas realizadas (por exemplo, discutir
quais sufixos são compatíveis com quais bases e por quê).
Como sugestão, indicamos estes morfemas:

des- igual -dade -mente -vel


pre- defin- -ção -mos -ste

Vocábulos possíveis: igualdade, igualmente, igualável, desigual, desigualdade, desigualmente, definição,


definimos, definiste, definível, predefinição, predefinimos, predefiniste

Ponto de partida – Aula 3


Sugerimos iniciar a aula com a questão 7 para retomar a noção de afixo. Em seguida, por contraste,
são trabalhados os casos em que a derivação não depende do acréscimo de formas: a derivação regres-
siva e a imprópria.

8
Aula 3
Esta aula é prevista, sobretudo, para encerrar a apresentação dos processos de derivação, incluin-
do, assim, a derivação conversiva e a regressiva. Como adotamos a estratégia de distinguir a derivação
em dois grandes grupos (palavras formadas com ou sem o acréscimo de afixos), sugerimos retomar
a noção de afixo com a questão 7. Assim, torna-se mais presente a distinção entre os dois modos de
derivação.
Os casos de derivação conversiva podem ser explorados em certa medida como revisão, pois as clas-
ses de palavras foram estudadas em cadernos anteriores. Para a derivação regressiva, a noção de classes
gramaticais será igualmente importante, já que esse processo forma substantivos deverbais.
Além dos exemplos da seção Neste módulo, os exercícios 8 e 9 servem de suporte ao estudo do tema.

Ponto de partida – Aula 4


Convém iniciar a aula retomando o conceito de derivação, para, em seguida, opô-lo ao de composição.
Para isso, você pode iniciar a aula preenchendo parcialmente o quadro destinado ao exercício 12, retoman-
do o que já foi estudado até o momento e indicando quais processos de formação ainda restam a estudar.

Aula 4
Como esta aula encerra o tema do módulo, recomendamos promover uma recolha dos conceitos es-
tudados. Uma estratégia, para traçar um panorama do assunto, é iniciar a aula preenchendo parcialmente
o quadro destinado ao exercício 12.
Esse momento é adequado para verificar e eliminar eventuais dúvidas sobre os processos já estudados
e discuti-las. Além disso, pode-se introduzir a noção de composição, em oposição à derivação.
Ao opor as noções de justaposição e aglutinação, cabe considerar a historicidade na formação de
vocábulos (o que propusemos já com o estudo dos neologismos). Nesse sentido, convém apontar que a
aglutinação de fonemas é um processo de mudança atuante nas línguas: termos populares como “peraí”
(de “espera aí”) ou “vambora” (de “vamos embora”) são formados por aglutinação, embora ainda não re-
gistrados em dicionários.
Para encerrar esse percurso, indicamos a resolução dos exercícios 10 e 11, além da finalização do quadro
presente no exercício 12.

PREPARE-SE

A aula seguinte será dedicada ao estudo de verbos no tempo presente. Para que os alunos comecem a re-
fletir sobre o tema, sugerimos que recolham exemplos de formas nesse tempo verbal em títulos de notícias,
para então comparar semelhanças e diferenças entre elas.
Na próxima aula, como Ponto de partida, você pode perguntar a eles: “Quanto tempo dura o presente?”. Para
responder à indagação, os alunos poderão usar os exemplos de verbos no presente que tenham recolhido
e, por meio da investigação, concluir que as formas linguísticas do presente podem indicar eventos de va-
riadas durações.
Caso opte por essa abordagem investigativa sobre o tema, recomendamos que dê destaque a esta propos-
ta ao fim desta aula.
Considere ainda que, entre os exemplos coletados, podem aparecer formas do presente com valor de pas-
sado ou de futuro. Se isso ocorrer, você pode estimular a turma a distinguir usos literais e não literais do
presente antes de responder a “quanto tempo o presente dura?”.

ANOTAÇÕES
MîDULO 1 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS
ANÁLISE LINGUÍSTICA

9
2 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Verbo: presente e imperativo

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural,
variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LGG402 Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero
do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem preconceito linguístico.
EM13LP02 Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o
estilo do gênero, usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a continuidade do
texto e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/
efeito ou consequência; tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
EM13LP06 Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da
ordenação, combinação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.
EM13LP07 Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes
modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modalizadores (verbos modais, tempos e modos
verbais, expressões modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de
impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado desses
elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.
EM13LP10 Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e
estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão
sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar
o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Presente: nuances semânticas

Desenvolvendo habilidades: 1 a 3

5 TM: 1 a 4
TC: 5 a 8
TD: 9 e 10
Extras!: 1

Modo imperativo

Desenvolvendo habilidades: 4 a 6

6 TM: 11 a 14
TC: 15 a 18
TD: 19 e 20
Extras!: 2 a 4

10
Objetivos de aprendizagem

Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: Identificar formas verbais do presente, diferenciando diferentes extensões durativas e
distinguindo os modos indicativo e subjuntivo.
. Objetivo 2: Reconhecer formas verbais do modo imperativo, compreendendo seu papel na interlocu-
ção e distinguindo variantes padrão e não padrão.

Encaminhamento

Como princípio norteador deste curso (amparado nas orientações curriculares nacionais, sobretudo na
BNCC), adotamos um olhar sobre as formas gramaticais voltado à construção do significado e, por conse-
guinte, à atuação do indivíduo no mundo por meio da linguagem. Com os verbos, não poderia ser diferente.
Dessa forma, dando sequência ao tratamento mais abrangente que fizemos sobre a classe dos verbos
no Caderno 4, este módulo inicia o estudo dos tempos verbais e aprofunda o olhar sobre as flexões, espe-
cialmente nos casos em que variedades populares e a norma-padrão da língua portuguesa divergem.
Reservamos, assim, duas aulas para estudar as formas verbais do presente (do indicativo e do subjun-
tivo) e também as do modo imperativo – as quais estão diretamente relacionadas ao presente dos dois
outros modos verbais.

Ponto de partida – Aula 5


Para começar o estudo dos tempos verbais, diferenciando-os do tempo cronológico, você pode per-
guntar: “Quanto tempo dura o presente?”.

Aula 5
O questionamento proposto como Ponto de partida tem como fim desencadear uma reflexão sobre
diferenças entre tempo cronológico e tempo verbal: de um lado, cronologicamente, o presente coincide
com o tempo em que o sujeito se encontra, com o “agora”; de outro, linguisticamente, as formas verbais
do presente coincidem com o momento da enunciação, mas raramente limitam-se a ele.
Para auxiliar os estudantes na resposta à questão inicial, você pode sugerir que eles citem frases “no
presente”, ainda sem a necessidade de formalizar o tempo verbal. Com base nas próprias respostas, cer-
tamente será possível começar a diferenciar casos de presente pontual, contínuo e frequentativo. Para fi-
nalizar esse primeiro momento, você pode recorrer ao tópico “O momento da enunciação e a duração dos
eventos” da seção Neste módulo e sistematizar a conceituação. Caso prefira intercalar as questões de aula
e a reflexão teórica, você pode encaminhar neste momento a resolução da questão 1.

Na aula anterior, usamos a seção Prepare-se para solicitar aos alunos que recolhessem frases com verbos no
presente. Desse modo, para responder à pergunta feita na seção Ponto de partida desta aula, eles poderão
se basear nos exemplos selecionados previamente.

Após analisar usos literais do tempo presente, convém dedicar um espaço a usos não literais. Isso pode
ser feito com base na questão 2, que explora o uso do presente histórico e do presente com valor de fu-
turo. É importante destacar que, nessas ocorrências, outros elementos contextuais serão responsáveis pela
marcação de tempo propriamente dita, enquanto a forma verbal terá outros efeitos semânticos: em lugar
do pretérito, o presente confere atualidade ao evento expresso; em lugar do futuro, confere maior grau de
certeza sobre a concretização do evento. MÓDULO 2 – VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO
Por fim, cabe resgatar um tema visto também no Caderno 4: as diferenças entre presente do indicati-
vo e presente do subjuntivo. Para isso, foi formulado o exercício 3.

Ponto de partida – Aula 6


ANÁLISE LINGUÍSTICA

Recomendamos iniciar a aula verificando se, na variedade linguística predominante na turma: utiliza-se
ou não o imperativo conforme a norma-padrão. Para isso, você pode apresentar duas formas imperativas
(uma da segunda e outra da terceira pessoa) e perguntar aos alunos qual escolheriam em uma situação
cotidiana, informal. Pergunte, por exemplo, se usariam empresta ou empreste, corre ou corra, etc.

11
Para que a pergunta inicial seja efetiva, é aconselhável criar pequenos contextos, em que os alunos se
vejam efetivamente utilizando as formas (por exemplo, pode-se perguntar: “Como você pediria a um ami-
go que ouvisse uma música nova de que você gostou muito? ‘Ouve essa música!’ ou ‘Ouça essa música!’?”).

Aula 6
O Ponto de partida sugerido tem a função de resgatar o conhecimento dos alunos sobre funções se-
mântico-discursivas do modo imperativo (assunto já visto no Caderno 4) e, principalmente, iniciar o estu-
do das formas imperativas como variantes linguísticas.
Após essa sondagem inicial, aponte à turma que, segundo a gramática normativa da língua portugue-
sa, as formas citadas se distribuem entre a 2ª (empresta, corre, ouve) e a 3ª pessoa gramatical (empreste,
corra, ouça). Ao contrapor essas formas, cabe comentar que, em sua origem, o tratamento ao enunciatário
por meio da terceira pessoa gramatical está associado a um grau de formalidade mais elevado (o que se
mantém nos pronomes de tratamento, à exceção do pronome você em variedades brasileiras – em Portu-
gal, ele segue sendo um pronome mais formal que tu).
Para formalizar a composição do imperativo, cujas formas provêm do presente (quase integralmen-
te do presente do subjuntivo, à exceção das formas de 2ª pessoa no imperativo afirmativo), pode ser
usado o quadro presente no tópico “Modo imperativo: formação do imperativo na norma-padrão” da
seção Neste m—dulo.
Considerando que, no Caderno 4, ressaltamos a função do imperativo na interlocução, as três questões
desta aula (4 a 6) destacam as formas imperativas da perspectiva da variação linguística e da adequação
à norma-padrão.

ANOTAÇÕES

12
3
M Ó D U L O ANÁLISE LINGUÍSTICA

Verbo: pretérito perfeito e


imperfeito

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LGG402 Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero
do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem preconceito linguístico.
EM13LP02 Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o
estilo do gênero, usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a continuidade do
texto e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/
efeito ou consequência; tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
EM13LP07 Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes
modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modalizadores (verbos modais, tempos e modos
verbais, expressões modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de
impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado desses
elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Aspecto verbal e construção do significado

Desenvolvendo habilidades: 1 a 3

7 TM: 1 a 3
TC: 4 a 6
TD: 7 e 8
Extras!: 1

Pretérito imperfeito do subjuntivo: semântica e


norma-padrão

Desenvolvendo habilidades: 4 a 6
8

MÓDULO 3 – VERBO: PRETÉRITO PERFEITO E IMPERFEITO


TM: 9 a 11
TC: 12 a 14
TD: 15 e 16
Extras!: 2

Objetivos de aprendizagem

Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:


ANÁLISE LINGUÍSTICA

. Objetivo 1: Diferenciar as formas verbais do pretérito perfeito e do imperfeito, relacionando-as à ex-


pressão de eventos de forma pontual ou durativa.
. Objetivo 2: Reconhecer o papel do pretérito imperfeito do subjuntivo na construção do significado,
bem como suas flexões na norma-padrão.

13
Encaminhamento

Estas aulas dão sequência ao estudo dos tempos verbais, iniciando uma abordagem sobre formas
verbais do pretérito. O foco da análise recairá sobre a noção de aspecto verbal, para distinguir o pretérito
perfeito (pontual) do pretérito imperfeito (durativo), considerando ainda a correlação desses tempos com
a construção de enunciados narrativos e descritivos.

Ponto de partida – Aula 7


Para despertar a curiosidade da turma, você pode levantar esta indagação: “Por que um tempo verbal se
chama perfeito, e outro, imperfeito?”. Tendo em mente o uso dos mesmos termos em linguagem não espe-
cializada, é natural que surjam hipóteses em torno do tema da “perfeição”. Após analisar as formas verbais e
seu funcionamento, você pode explicar que perfeito é particípio de perfazer, desfazendo então o “mistério”.

Aula 7
Tendo em mente o Ponto de partida acima, pode-se conduzir a aula para o desenvolvimento da noção
de “aspecto verbal”. Recomendamos que, no primeiro momento, sejam abordados o aspecto pontual do
pretérito perfeito, e o durativo do pretérito imperfeito. Posteriormente, cabe relacionar o nome desses
tempos verbais ao particípio do verbo perfazer (tal como está no Caderno de Estudos).
Para seguir tal percurso, sugerimos iniciar a leitura do texto-base, que serve de suporte aos exercícios
1 a 5. Esclareça à turma que a compreensão do texto será o primeiro passo para o estudo das categorias
gramaticais, de modo que fique explícita a intencionalidade da atividade.
Antes da leitura, cabe pedir aos alunos que estejam atentos a questões como estas: “Quais personagens
participam da cena?”; “Que outros personagens são citados?”; “Em que época parece ocorrer a narrativa?”.
Após a leitura, colha as respostas da turma e acrescente uma nova atividade: peça aos alunos que tentem
identificar uma passagem narrativa e outra descritiva, considerando que o tema já foi abordado nas aulas
de Produção de texto.
Com base em alguns exemplos citados pela turma, você pode apontar a correlação entre os tempos
verbais e esses modos de composição (pretérito perfeito e narração; pretérito imperfeito e descrição),
ainda sem justificar por que isso ocorre assim. Em seguida, você pode usar o item 1 da seção Neste mó-
dulo para formalizar a diferença entre pretérito perfeito e pretérito imperfeito, recorrendo às noções de
tempo e aspecto.
Para finalizar a aula, cabe resolver as três primeiras questões, que exploram propriedades de cada
tempo verbal.

Ponto de partida – Aula 8


Para dar sequência ao estudo do pretérito perfeito e do pretérito imperfeito, resgate o que a turma se
lembra da aula anterior, especialmente da distinção entre esses tempos verbais.

Aula 8
Feita essa retomada inicial, você pode resolver com a turma o exercício 4, que resgata a distinção
entre os tempos verbais estudados.
Outro tema a ser abordado nesta aula é o uso do pretérito imperfeito do subjuntivo, considerando
seus aspectos semânticos, sintáticos e morfológicos. Recomendamos iniciar o tema com o exercício 5,
que oferece uma abordagem semântica – tenha em mente que, em aulas anteriores, o modo subjuntivo
já foi objeto de estudo.
Em seguida, convém tratar das variantes linguísticas que ocorrem nesse tempo verbal. Em variedades
populares, são comuns formas como “retesse”, “indisposse” e “convisse”, em vez de retivesse, indispuses-
se e conviesse. Recorrendo ao item 2 da seção Neste módulo, você pode apresentar como se forma o
pretérito imperfeito do subjuntivo conforme a norma-padrão.
Para concluir o módulo, o exercício 6 aborda, de forma contextualizada, o uso normativo de formas do
tempo verbal analisado.

14
4
M Ó D U L O ANÁLISE LINGUÍSTICA

Pretérito mais-que-perfeito e
tempos do futuro:
progressão temporal

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LGG401 Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural,
variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LGG402 Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero
do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem preconceito linguístico.
EM13LP02 Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o
estilo do gênero, usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a continuidade do
texto e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/
efeito ou consequência; tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
EM13LP06 Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da
ordenação, combinação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.
EM13LP07 Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes
modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modalizadores (verbos modais, tempos e modos
verbais, expressões modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de
impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado desses
elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.

Sugestão de roteiro de aula

MÓDULO 4 – PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


Aula Descrição Anotações

Pretérito mais-que-perfeito: pretérito anterior

Futuro do pretérito: duplo referencial

Desenvolvendo habilidades: 1 a 3
9
TM: 1 a 5
TC: 6 a 10
TD: 11 e 12
Extras!: 1 e 2

Futuro do presente: posterioridade

Futuro do subjuntivo: uso e norma

Desenvolvendo habilidades: 4 a 6
10
ANÁLISE LINGUÍSTICA

TM: 13 a 15
TC: 16 a 18
TD: 19
Extras!: 3

15
Objetivos de aprendizagem

Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: Identificar progressões temporais determinadas pelo pretérito mais-que-perfeito e pelo
futuro do pretérito, bem como o valor condicional deste.
. Objetivo 2: Reconhecer diferentes noções de posterioridade vinculadas ao futuro do presente, ao
futuro anterior e ao futuro do subjuntivo, assim como as flexões na norma-padrão deste.

Encaminhamento

Estas duas aulas encerram um conjunto dedicado às classes de palavras e, em especial, ao estudo dos
verbos. Como nas aulas anteriores, nosso olhar aqui recaiu mais sobre os significados dos tempos verbais
e sua funcionalidade para a construção de sentidos do que sobre a descrição pormenorizada de conjuga-
ções verbais. É verdade que, em alguns casos, como o do futuro do subjuntivo, a questão normativa se
impõe naturalmente, mas em menor proporção do que as implicações semânticas para a progressão tem-
poral em textos.
Uma observação inicial importante para estas duas aulas é a forma como agrupamos diferentes tem-
pos verbais, a qual difere dos cânones dos estudos linguísticos no Ensino Médio, que costuma separá-los
a partir dos modos verbais. Optamos por juntar tempos que se caracterizam pela relação com pontos de
referência no passado (pretérito mais-que-perfeito e futuro do pretérito literal) e os diferentes tipos de
futuro, mesmo em modos distintos (futuro do presente e futuro anterior do modo indicativo e futuro do
subjuntivo). Como se pode notar, nossa opção privilegiou a noção mais ampla de tempo (pretérito e futu-
ro) em detrimento da de modo como baliza de organização dos conceitos.
No geral, as concepções de tempos verbais que vamos desenvolver nestas aulas são dominadas pelos
alunos, com diferentes graus de consciência. Por isso, é importante reafirmar uma das premissas deste
curso e do trabalho como professores de língua materna: promover contextos a partir dos quais possamos
tecer reflexões metalinguísticas e ensinar parâmetros linguísticos sólidos para que os alunos possam, por
si mesmos, desenvolver reflexões a respeito de fatos de linguagem, como os tempos verbais aqui aborda-
dos.

Ponto de partida – Aula 9


Para iniciar a discussão sobre tempos verbais que se alicerçam em pontos de referência no passado e
no presente, você pode começar perguntando quem assistiu ao filme De volta para o futuro. A partir de
uma noção rápida do enredo que aborda viagens no tempo, é possível lançar as bases dos tempos verbais
que se projetam de um referencial específico. Por exemplo: o raio que levará o protagonista de volta para
1985 é passado em relação ao ponto inicial do filme, mas futuro quando se toma como ponto de referência
o momento em que ele chega ao passado de seus pais.

Aula 9
A seção Neste m—dulo foi planejada para ser o ponto de partida das reflexões sobre os tempos verbais
desta aula, as quais podem explorar as tirinhas em que ocorrem verbos no pretérito mais-que-perfeito e
no futuro do pretérito. Uma sugestão é pedir aos alunos que ordenem as ações dos enunciados usando a
linha cronológica que acompanha cada um dos tempos no material.
Para abordar o pretérito mais-que-perfeito, a primeira questão explora o pretérito perfeito como seu
contraponto temporal. O trecho foi extraído de um capítulo sobre as condições necessárias para a argumen-
tação, e o texto ilustra a necessidade de gerenciamento da relação com o outro, como a história da mulher
que se associou a um clube com regras questionáveis. Depois da análise dos eventos, instigue a turma a pro-
duzir enunciados com os três pretéritos do indicativo – e uma sugestão é que o pretérito imperfeito sinalize
uma situação habitual; o pretérito perfeito, uma mudança nessa situação; e o pretérito mais-que-perfeito, uma
causa (portanto, anterior) dessa mudança. O exemplo apresentado no gabarito foi estruturado com essas
relações de sentido.
As duas questões que seguem focalizarão o futuro do pretérito: primeiro em sua função literal, cujo
ponto de referência é uma ação do passado; depois, em sua função não literal, condicional. O segundo
verbo analisado no exercício 2 e o exercício 3 tratam exclusivamente desse papel condicional do futuro. Por
isso, convém ressaltar os elementos contextuais que acionam o sentido condicional desse tempo verbal.

16
Ponto de partida – Aula 10
Esta aula sobre futuros pode ser iniciada com uma provocação que faça com que os alunos projetem
sua existência para diferentes momentos posteriores ao presente: “O que você imagina estar fazendo da-
qui a 5 anos?; E daqui a 50 anos?; Como você imagina nossa sociedade daqui a 100 anos?”. A intenção,
para cada uma dessas perguntas, é criar contextos que evidenciem o futuro do presente, o futuro anterior
e o futuro do subjuntivo, respectivamente.
Ao colher as respostas, convém enfatizar as estruturas linguísticas que inexoravelmente serão usadas
para projetar cenários futuros. Como o futuro anterior provavelmente não aparecerá nas falas, você pode
criar um contexto em que ele surja para posterior análise.

Aula 10
Para esta aula, reservamos o estudo de três futuros diferentes: o do presente, o anterior e o do sub-
juntivo. Embora eles pudessem ser organizados nessa sequência na aula (tempos do indicativo 3 tempo
do subjuntivo), optamos por deixar para o final o caso do futuro anterior, já que ele pode ser visto com
maior velocidade em relação ao futuro do subjuntivo, que exigirá uma delicada operação de construção
de flexões irregulares.
O primeiro exercício se pauta em um texto que aborda as previsões de futuro para o desenvolvimento
da inteligência artificial. Como o próprio tema do texto favorece a discussão sobre eventos posteriores ao
momento da enunciação, o foco da análise recairá na investigação das pistas do momento em que o enun-
ciador se encontra ao fazer as previsões, bem como nas formas mais coloquiais ou mais formais do futuro
do presente.
Para o estudo do futuro do subjuntivo, selecionamos outro trecho do mesmo livro, desta vez com previsões
feitas em 1956 e condicionadas à criação de um grupo de estudos para o desenvolvimento de máquinas inte-
ligentes. Nesse contexto, propusemos uma lista de verbos irregulares que precisam ser confrontados com sua
variação popular, como “se eu rever” 3 “revir”, ou “se os cientistas se contraporem” 3 “se contrapuserem”.
A fim de dar mais segurança para as flexões no futuro do subjuntivo, organizamos um quadro para que, caso
a caso, sejam investigadas as formas cultas de conjugação, seja no pretérito perfeito (tempo matriz), seja no
subjuntivo. Sugerimos que você, a partir da tabela de conjugação, apresente outros verbos derivados de irre-
gulares, como provir, entreter, refazer, etc. (vale uma consulta nos verbos que serão cobrados na tarefa, a fim
de dar mais segurança a essa operação de norma).
O último exercício oferece um contexto fundamentado em datas para facilitar o trabalho com o futuro
anterior: a partir do presente da enunciação, 2050 e 2100 são épocas futuras; mas aquela, anterior a esta.
O futuro anterior é o caso mais raro entre todos os que selecionamos para esta aula e, por isso, o exercício
reforça sua permutabilidade pelo futuro do presente, com perda de traço semântico. Aqui, portanto, suge-
rimos mais foco na análise do contexto do que na catalogação de mais um tempo verbal.

MîDULO 4 – PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


ANOTAÇÕES

ANÁLISE LINGUÍSTICA

17
5 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Discurso citado

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LGG101 Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas diferentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas
em função de interesses pessoais e coletivos.
EM13LGG302 Posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo presentes nos discursos em diferentes linguagens, levando em conta seus
contextos de produção e de circulação.
EM13LP03 Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de
posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
EM13LP06 Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da linguagem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da
ordenação, combinação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades de construção de sentidos e de uso crítico da língua.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Discurso direto

Discurso indireto

Transformação de discursos

11 Desenvolvendo habilidades: 1 a 3

TM: 1 a 5
TC: 6 a 10
TD: 11 e 12
Extras!: 1 e 2

Discurso indireto livre

Desenvolvendo habilidades: 4 a 6

12 TM: 13 a 15
TC: 16 a 18
TD: 19
Extras!: 3

Objetivos de aprendizagem

Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: Identificar os tipos de discurso citado com base em marcas linguísticas características,
bem como transformar um no outro, observando alterações relacionadas a pessoa, tempo e lugar.
. Objetivo 2: Reconhecer o discurso indireto livre em textos e interpretar a escolha feita pelo enuncia-
dor de um dos tipos de discurso como uma estratégia estilística, avaliando seus efeitos.

18
Encaminhamento

Um Ensino Médio que se pretende integrado à vida cotidiana, especialmente moldada pelas redes
sociais, não pode desprezar a pluralidade de discursos, sejam eles discordantes, sejam afinados na mesma
orientação argumentativa. Sua vocação emerge, portanto, não apenas da necessidade de reconhecimento
de diferentes vozes sociais, mas sobretudo do desenvolvimento da habilidade de conciliá-las. O discurso
democrático se fundamenta nessa mesma premissa: como as diferenças podem coexistir e aprender a se
respeitar e a caminhar juntas.
Os tipos de discurso, nesse contexto, constituem um assunto que permeia todos os campos de atuação
social. O jornalismo, por exemplo, se fundamenta exatamente na citação de depoimentos, de visões de
mundo, de vozes antagônicas. O artigo de opinião, ou o artigo de divulgação científica, o faz da mesma
forma. E, seguindo essa lógica, os alunos também precisam lidar com a citação direta ou indireta de pensa-
dores de seu repertório pessoal ou presentes na coletânea de textos que formam as propostas de redação.
É esse o espírito que norteia as atividades que integram as duas aulas dedicadas ao estudo do discur-
so direto, indireto e indireto livre. Para além da mera identificação dos tipos, nosso escopo é a operação
de transformação de um tipo no outro e a avaliação dos efeitos decorrentes de cada uma das escolhas
feitas pelo enunciador.

Ponto de partida – Aula 11


Uma dinâmica para aquecer a turma para a discussão sobre os tipos de discurso também introduzirá
noções importantes sobre as diferenças entre discurso citado diretamente e discurso indiretamente apre-
sentado. Do lado de fora da sala, peça a alguém que lhe conte, por exemplo, alguma coisa que fez no dia
anterior e, em seguida, conte para todos o que você ouviu. Depois, chame o dono do discurso citante para
expor o que fizera no dia anterior.
O resultado dessa atividade, que parece bastante corriqueira, deverá ser ressaltado, fundamentalmen-
te, na forma: o conteúdo da mensagem será basicamente o mesmo, mas as maneiras de contar serão di-
ferentes e poderão levar a reflexões sobre os efeitos de objetividade e subjetividade (já que no discurso
indireto a visão do narrador pode introduzir opinião e mudanças sensíveis no original).

Aula 11
O plano geral desta aula prevê a investigação de diferentes maneiras de um texto incorporar discursos
alheios (questão 1), o reconhecimento e a caracterização do discurso direto, do indireto e do próprio enun-
ciador do texto (questão 2) e a conversão de um tipo no outro, observando os diversos detalhes sensíveis
a essa operação (questão 3).
A primeira questão tem a finalidade mais ampla de trazer à tona a diferença entre a citação direta e a
indireta do pensamento de uma autoridade em um tema de redação da Unifesp. (A telenovela brasileira:
conscientização ou alienação?). Se, por um lado, a coleção de textos elaborada para dar suporte à reflexão
apresenta diferentes opiniões e visões de mundo sobre o tema, por outro, certas vezes os trechos selecio-
nados pela banca confrontam pontos de vista e formas de interpretar a realidade. Vale destacar, neste caso,
a ambiguidade do trecho em que não há marcas suficientes para determinar se se trata da continuidade
do pensamento de J.S.R. Goodlad ou de inferências do autor do texto.
Na segunda questão, procure enfatizar os recursos linguísticos que caracterizam cada tipo de discur-
so, a fim de preparar o terreno para a terceira questão, que consumirá a maior parte desta aula. Além da
transformação do discurso direto em indireto, é fundamental identificar os elementos linguísticos que vão
se alterando. O mapa mental produzido para a seção Neste módulo pode ser de grande valia para a exe-
cução desta tarefa. As tirinhas que compõem essa questão foram selecionadas para contemplar a maior
quantidade possível de casos especiais. Ao final de cada uma das respostas, foram destacados os elemen-
tos que inspiram cuidado na transformação. Uma sugestão é pedir que todas as frases sejam transpostas
e, em seguida, comentar cada um dos casos em que é preciso realizar mudanças na linguagem. Outra é
MÓDULO 5 – DISCURSO CITADO

incentivar os alunos a trabalhar em pares para promover as transformações e, depois, expor coletivamen-
te reflexões sobre os elementos que mudaram.
ANÁLISE LINGUÍSTICA

Ponto de partida – Aula 12


Como o discurso indireto livre produz um efeito de sobreposição de vozes, para começar esta aula
você pode fazer a seguinte pergunta para a turma: “Quem aqui sabe simular a voz de alguém famoso?”. A

19
intenção é demonstrar, na prática, como um indivíduo se faz passar por outro, mas sem deixar de ser ele
mesmo. Princípio semelhante governa o discurso indireto livre, que continua sendo citação de discurso
alheio, mas em uma espécie de arremedo que o narrador/enunciador faz da voz citada.
Sugerimos selecionar previamente um texto literário para mostrar, logo em seguida a essa introdução,
como as vozes de narrador e personagem se misturam, criando um “eco textual”. Você pode selecionar
entre os textos que compõem os exercícios de tarefa um que possa ajudar na introdução da aula.

Aula 12
A segunda aula será dedicada, fundamentalmente, à análise do discurso indireto livre, tema do exercí-
cio 5. Entretanto, antes de abordar esse assunto, apresentamos uma questão que retoma algumas das
principais alterações que o texto sofre ao se transpor o discurso direto para o indireto. Há mais duas ques-
tões na seção Extras! sobre esses procedimentos, dada sua complexidade e importância para a resolução
de exercícios e para o uso cotidiano da língua.
Para a análise do discurso indireto livre, escolhemos um trecho de Vidas secas, que já se tornou um
clássico nesse assunto. Sugerimos que os alunos façam a primeira abordagem do texto em busca dos
trechos que ilustram esse tipo de recurso, fundamentados na própria experiência como leitores e nas ca-
racterísticas do discurso direto acumuladas até esse ponto das aulas. Será de grande importância a análi-
se de cada um dos trechos para validar a ambivalência das vozes do narrador e de Fabiano, como se pede
no item b. Procure destacar a ausência de marcas formais do discurso direto, ao mesmo tempo que, do
ponto de vista do sentido, é evidente que se trata da fala da personagem central do livro.
Encerrando a aula, preparamos uma questão que aborda os efeitos do emprego do discurso direto e
do indireto. Nesse caso, vale a pena comentar com um pouco mais de ênfase os efeitos de objetividade e
subjetividade, especialmente quando se leva em consideração que, ao acomodar o discurso alheio em uma
estrutura de frase sem sinais de pontuação, o enunciador pode acabar promovendo, conscientemente ou
não, pequenas alterações de sentido em relação ao original, bem como a seleção do verbo dicendi pode já
revelar sua opinião a respeito da citação. Há ainda uma outra questão na seção Extras! dedicada ao mesmo
propósito de investigar os efeitos das escolhas estilísticas referentes à citação do discurso alheio.

ANOTAÇÕES

20
GABARITO

giar, para expressar sua vontade de ser amparado pela


Caderno de Estudos 5 mãe. Na terceira estrofe, débil significa “frágil”, “franzino”.

An‡lise lingu’stica b) O vocábulo existir, usualmente utilizado como verbo, é


convertido em substantivo, processo conhecido como de-
Capítulo 1 – Formação de palavras rivação imprópria ou conversiva. Em “criancinha”, o sufixo
diminutivo assume valor não literal, reforçando a ideia de
1 d
fragilidade atribuída ao substantivo pelo adjetivo débil.
2 c
24 b
3 b
25 c
4 e
26 d
5 b
27 a
6 e
28 b
7 a
29 a
8 a
30 a
9 e
10 b Capítulo 2 – Verbo: presente e imperativo
11 a 1 b

12 a 2 b
13 c 3 b
14 a 4 c
15 d 5 d
16 d 6 c
17 c 7 Para que se construa uma nova educação, é necessário
que a escola se adeque à realidade social, que seus ob-
18 d
jetivos proponham uma nova visão de mundo, que suas
19 b
ações não impeçam a liberdade de pensar, mas favore-
20 b çam o desenvolvimento do senso crítico.
21 d 8 d
22 a) O substantivo venda se forma com base no verbo 9 Sob o ponto de vista do sentido, o advérbio lá faz menção
vender, por derivação regressiva. Em sua primeira acep- a Pasárgada, lugar mítico da concretização dos desejos
ção, tem sentido abstrato, referindo-se ao ato de vender, para onde o eu lírico afirma que partirá. Por isso, o verbo
e, posteriormente, passa a indicar, por metonímia, o pró- ser, nesse contexto, tem valor de futuro, já que ele ainda
prio estabelecimento em que se pratica esse ato. Já pu- não se encontra na terra pretendida. Por contraste, o ad-
xado se forma por derivação imprópria ou conversiva, vérbio aqui faz referência ao espaço de realidade em que
com base na forma de particípio do verbo puxar: sem o eu lírico se encontra, e o verbo ser, nesse caso, tem valor
sofrer qualquer alteração em sua fônica, a forma verbal literal e indica o tempo concomitante ao da enunciação.
passa a ser usada como substantivo, dando nome a uma
10 a) Os tempos verbais podem ser empregados, em sen-
construção improvisada, rudimentar.
tido literal, para indicar o momento da ocorrência de
b) No primeiro caso, associada à forma verbal casara, a uma ação, respeitando a linearidade da passagem do
preposição assume o sentido de “companhia”, “acom- tempo (o futuro do presente, por exemplo, exprime um
panhamento”. No segundo, introduzindo a expressão processo posterior ao momento da fala). É possível,
“uma pequena venda”, a mesma preposição passa a porém, em certos contextos, operar com os tempos
ANçLISE LINGUêSTICA

indicar “meio”, já que o comércio é o meio pelo qual o verbais para obter efeitos expressivos (por exemplo,
casal pôde se estabelecer. dar ordens usando o infinitivo em vez do imperativo:
GABARITO

23 a) Na primeira estrofe, o eu lírico usa o verbo velar – na “Esquerda, volver!”). Os três textos exploram essas ca-
forma subjuntiva vele – como sinônimo de guardar, vi- racterísticas dos tempos verbais.

21
No Texto I, uma transmissão de jogo de futebol, o presente 6 e
do indicativo sinaliza que as ações acontecem simultanea-
7 O pretérito imperfeito é geralmente empregado para
mente ao momento em que são narradas pelo locutor indicar fatos passados habituais, recorrentes, rotineiros.
esportivo. Em “Faz festa a torcida”, por exemplo, o empre- Nesse sentido, ao recordar fatos da infância, o eu lírico
go desse tempo verbal sugere que a festa está ocorrendo se apoia nesse tempo verbal para indicar eventos corri-
no instante em que é enunciada. No Texto II, o presente é queiros, frequentes em seu cotidiano infantil.
empregado em sentido não literal: em vez de concomitân-
Já o presente do indicativo empregado no verso “compri-
cia em sentido estrito, indica ações costumeiras, que se
da história que não acaba mais” prolonga até o momento
repetem no dia a dia do casal (noção construída por ex-
da enunciação um evento do passado: a leitura de
pressões como Cotidiano, todo dia, sempre igual).
Robinson Crusoé se dava na infância do eu lírico, mas
No Texto III, como no II, ocorre emprego metafórico do o verbo acaba, conjugado no presente, indica que a histó-
tempo verbal, desta vez no lugar do futuro do presente ria se perpetua até o momento em que as lembranças
(tempo requerido pelo advérbio amanhã), produzindo estão sendo reavivadas. Em outros termos, o presente do
efeito de mais certeza ao enunciado. indicativo presentifica para o momento de enunciação das
b) Na transmissão de uma partida de futebol, é comum memórias o conteúdo da história lida na infância.
o locutor narrar os lances à medida que acontecem,
8 No primeiro período, ocorrem dois verbos conjugados
fazer comentários sobre eles e retomar eventos já nar- no pretérito perfeito, indicando que se trata de um tre-
rados. No último parágrafo, o locutor reconta com mais cho fundamentalmente narrativo, ou seja, faz-se menção
detalhes o gol de Anderson Conceição narrado no pa- a eventos que, do ponto de vista do momento de pro-
rágrafo anterior. A presença exclusiva do pretérito per- dução do texto, aconteceram em um tempo anterior: a
feito, portanto, é um recurso que organiza o discurso insatisfação dos pais e o boicote dos alunos, que não
oral: ela indica, literalmente, que as ações (subiu, des- compareceram às aulas no dia da Festa do Sacrifício.
viou, cutucou) se inscrevem no passado, não são simul-
Já o presente do indicativo do segundo período tem um
tâneas à fala. É a forma linguística de indicar o replay
valor frequentativo e indica que a reserva do dia da Fes-
na transmissão falada da partida.
ta do Sacrifício para orações, presentes e convivência é
11 a um hábito entre os muçulmanos.
12 b 9 c
13 d 10 e
14 b 11 c
15 d 12 d
16 a 13 c
17 c 14 e
18 e 15 e
19 d 16 e
20 Pai nosso, que está no céu, santificado seja o seu nome,
venha a nós o seu reino, seja feita a sua vontade, assim Capítulo 4 – Pretérito mais-que-perfeito e
na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dê tempos do futuro: progressão temporal
hoje, perdoe as nossas ofensas, assim como nós perdoa-
mos a quem nos tenha ofendido, e não nos deixe cair 1 a
em tentação, mas livre-nos do mal. 2 e
3 e
Capítulo 3 – Verbo: pretérito perfeito e imperfeito
4 e
1 c 5 d
2 e 6 d
3 b 7 c
4 a 8 c
5 b 9 c
22
10 Tanto o futuro do pretérito da locução “teria se esface- 4 a
lado” quanto o advérbio provavelmente desempenham 5 a
o papel de evitar que o enfraquecimento dos sindicatos 6 c
e o menor crescimento de salários e benefícios sejam
7 d
interpretados como conclusões categóricas, ou seja,
8 c
como efeitos inexoráveis do aumento de disponibilidade
9 c
de mão de obra chinesa, indiana e russa. Trata-se, por-
tanto, de recursos que diminuem a certeza da relação 10 c
de causa e efeito e projetam consequências prováveis 11 a) O paradoxo se caracteriza pela atribuição simultânea
sob a forma de possibilidades coerentes, mas não de de ideias opostas.
resultados imediatos e comprovados. A graça na fala do garçom reside na oposição entre os
11 b trechos “raio de língua” e “eu percebo tudo”. Essas ex-
12 a) De acordo com a propaganda política, os inimigos pressões configuram o paradoxo na medida em que “raio
eram os estrangeiros que queriam se apossar do poder de língua” revela uma reação de estranheza, e o trecho
econômico de São Paulo e paulistas separatistas, con- “eu percebo tudo” opõe-se a essa atitude, pois, embora
trários a lugares e classes empobrecidas do Brasil. aparentasse desconhecer a língua que os brasileiros esta-
vam falando, o garçom a compreendia integralmente.
b) A expressão “isso fariam” diz respeito aos estrangei-
ros e faz menção à tese de que, apoderando-se do con- b) O garçom lhes perguntou, intrigado, que raio de língua
trole econômico de São Paulo, ganhariam também o era aquela que estavam lá a falar, que ele percebia tudo.
controle político. 12 a) A declaração do norte-americano é apresentada em
c) O futuro do pretérito é empregado como um tempo discurso indireto: dizendo que quanto mais globalizado
por meio do qual se levantam hipóteses ou se coloca se tornar o mundo […]. A do brasileiro é apresentada
sob suspeita o conteúdo de verdade dos verbos. Consi- em discurso direto: “Desde as missões, as pesquisas na
derando que o texto começa falando sobre desinforma- Amazônia existem […]”.
ção como estratégia do Governo Provisório, as ações b) A escolha do discurso direto, reproduzindo literalmen-
conjugadas no futuro do pretérito são apontadas como te as palavras do coronel Amerino Raposo, corresponde à
inverídicas, contrapondo a versão oficial do governo e a intenção de criar o efeito de verdade e fazer chegar ao
visão do autor do texto. leitor o impacto da fala do militar tal como ele a proferiu.
13 a 13 d
14 c
14 d
15 a) Um conhecedor da Bíblia (rabino, pastor ou padre)
15 a
interpretaria esse mandamento como uma proibição de
furtar, com validade ilimitada. Entenderia que o futuro, 16 c
nesse contexto, tem valor de imperativo, que é o modo 17 b
verbal usado para propor que o interlocutor cumpra o 18 Resposta: 1 1 8 5 9
que está sendo enunciado.
19 a) Porque Joana Xaviel conta a história de Destemida,
b) Bastos Tigre faz uma interpretação literal do futuro, esposa grávida de um vaqueiro, que tem vontade de
segundo a qual a proibição contida em “Não furtarás” comer a vaca de propriedade de um homem rico. O
não tem validade para o momento presente, perpetuan- marido atende-lhe o desejo e é descoberto pela mãe do
do, portanto, indefinidamente a legitimidade do furto. proprietário da vaca. Destemida envenena a mulher e,
16 d depois, põe fogo na casa em que a defunta era velada.
17 a Os ouvintes da narração de Joana acreditam que a his-

18 e tória “tinha de ter outra parte”, pois esperavam um des-


fecho no qual ocorresse a punição do mal.
19 d
b) “Romanço do Boi Bonito” ou “Décima do Boi e do
Cap’tulo 5 Ð Discurso citado Cavalo”.
ANçLISE LINGUêSTICA

1 d c) “Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah ela


tinha de ter outra parte – faltava a segunda parte?”,
2 b
GABARITO

“Mentira dela?”, “Mas – uma segunda parte, o final – ti-


3 d nha de ter!”.

23
1 L I T ER AT UR A E A R T E COMPETÊNCIAS GERAIS C1. C3. C6. C7

M Ó D U L O

Diversidade estética:
a Belle Époque

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO

EM13LGG201 Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural,
histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LGG202 Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e
verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
EM13LGG604 Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção
histórica dessas práticas.
EM13LP01 Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de
circulação (leitor/audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar
as possibilidades de construção de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações.
EM13LP03 Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que permitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de
posicionamentos ou de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras possibilidades.
EM13LP50 Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico
e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Parnasianismo

Olavo Bilac

Desenvolvendo habilidades: 1 e 2
1
TM: 1, 2, 6 e 7
TC: 3, 4 e 8
TD: 5 e 9
Extras!: 1 e 2

Simbolismo

Cruz e Sousa

Impressionismo

2 Desenvolvendo habilidades: 3, 4 e 5

TM: 10 a 12
TC: 13 a 15
TD: 16 e 17
Extras!: 3

24
Objetivos de aprendizagem

Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: entrar em contato com a estética parnasiana e com a obra de Olavo Bilac.
. Objetivo 2: avaliar os desdobramentos do rigor formal parnasiano.
. Objetivo 3: identificar características gerais do Simbolismo e da obra de Cruz e Sousa.
. Objetivo 4: identificar características gerais do Impressionismo.

Encaminhamento

Ponto de partida
Para a aula 1, recomendamos apresentar aos alunos o texto a seguir, de autoria do crítico João Pache-
co, que trata da expressividade erudita que marcou a produção literária da Belle ƒpoque. Embora o trecho
se refira especificamente ao Parnasianismo, pode ser estendido a outras correntes literárias do período.
Passa-se a considerar que só as obras bem escritas são eternas, enxergando-se na correção e elegân-
cia da expressão a marca de originalidade e a segurança de perpetuidade. E, como no âmbito de nossa
língua, os parnasianos nacionais iam buscar inspiração nos mestres lusitanos do século XVIII, a sintaxe
brasileira ficou inteiramente subordinada à portuguesa, sobrestando-se dessa maneira a evolução que
com os românticos, ao influxo do meio americano e sob a inspiração de independência cultural, se vinha
processando no sentido de diferenciação.
PACHECO, João. O realismo. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1971. v. III. p. 69. (Coleção A Literatura Brasileira).

O crítico João Pacheco sintetiza, nesse trecho, uma das noções que fundamentaram a estética parna-
siana: a noção de obras bem escritas. Para os representantes dessa escola literária, a produção literária
deveria se pautar pela erudição e por referenciais que evidenciassem cultura (personagens e eventos da
mitologia, história antiga, etc.). Evidentemente, não se trata, aqui, de chegar a conclusões definitivas, mas
de colocar os alunos em contato com os princípios da estética parnasiana para verificar a validade deles
ainda hoje.
Como ponto de partida para a aula 2, você pode apresentar a discussão proposta por Rimbaud em
seu célebre poema “Vogais”.
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul: vogais,
Um dia hei de dizer vossas fontes latentes:
A, negro e veludoso enxame de esplendentes
Moscas a varejar em torno aos chavascais,

Golfos de sombra; E, alvor de tendas tumescentes,


Lanças de gelo altivo, arfar de umbelas reais;
I, púrpuras, cuspir de sangue, arcos labiais
Sorrindo em fúria ou nos transportes penitentes;

U, ciclos, vibrações dos mares verdes, montes

MÓDULO 1 – DIVERSIDADE ESTÉTICA: A BELLE ÉPOQUE


Semeados de animais pastando, paz das frontes
Rugosas de buscar alquímicos refolhos;

O, supremo Clarin de estridores profundos,


Silêncios a esperar pelos Anjos e os Mundos:
– O, o Ômega, clarão violáceo de Seus Olhos!
RIMBAUD, Arthur. Vogais. In: RIMBAUD, Arthur. Poesia completa. Edição bilingue. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
LITERATURA E ARTE

Vale a pena pedir aos alunos que atribuam uma cor para cada vogal. Dificilmente haverá consenso
entre eles. Esse exercício servirá para mostrar o espaço de imaginação que os simbolistas gostavam de
explorar, de modo a despertar novos sentidos para a realidade concreta em que nos inserimos.

25
Aula 1
A estética parnasiana pode ser apresentada aos alunos em seus aspectos gerais. Não há necessidade
de uma concentração excessiva em determinado autor. No entanto, se desejar, você poderá destacar a
obra de Olavo Bilac, o grande nome do movimento parnasiano no Brasil. Essa apresentação geral pode ser
feita de forma sucinta, passando-se em seguida à realização das atividades da seção Desenvolvendo ha-
bilidades. De fato, a grande importância que o estudo do Parnasianismo pode representar para os alunos
reside justamente no desenvolvimento de habilidades de leitura. Não são textos fáceis, principalmente por
se utilizarem de um vocabulário distante do que os estudantes estão habituados – mesmo em seus estudos
literários. No entanto, você pode enfatizar que, justamente por isso, são textos exigentes e desafiadores.
Para aqueles alunos mais resistentes, que se mostrarem pouco dispostos a superar as dificuldades
vocabulares dos poemas, você pode lembrar dois aspectos fundamentais. O primeiro deles diz respeito ao
fato de que os parnasianos produziram em uma época anterior ao Modernismo, estando, portanto, distan-
tes das inovações trazidas após a Semana de Arte Moderna de 1922. Como o Modernismo ainda não foi
visto pelos alunos no curso, você pode esclarecer que foi a partir desse momento que se elaboraram as
noções poéticas que estão em vigor até hoje, como os versos livres e brancos e a linguagem coloquial. E
deve ainda lembrá-los que os modernistas, quando apareceram no cenário cultural brasileiro, debateram
conceitos estéticos com os parnasianos. Isto é, começar a compreender a arte moderna, em literatura,
significa entender os princípios contra os quais os modernistas se colocaram – que eram, basicamente,
princípios parnasianos. O segundo aspecto a que se pode aludir aponta para as razões que levaram os
parnasianos a usar um vocabulário erudito: para eles, tratava-se de utilizar toda a riqueza da língua; se os
termos eram desconhecidos, isso se devia à pouca circulação que tinham, cabendo aos escritores a missão
de torná-los conhecidos, aumentando assim o repertório e a cultura dos leitores.
Se preferir, você pode abordar aspectos essenciais do Parnasianismo diretamente pelas questões do
Ponto de partida, e em seguida propor a leitura da atividade 2, baseada no poema “A um poeta”. Se isso
já ocupar tempo suficiente da aula, poderá recomendar a atividade 1 para casa, transformando-a em um
trabalho escrito, individual ou em grupo. A questão 2 da seção Extras! também se presta à discussão e,
dependendo do entusiasmo e envolvimento da turma, talvez seja interessante trazê-la para a sala, substi-
tuindo um dos exercícios de aula.
É conveniente ficar atento aos exercícios propostos nas tarefas para casa. Alguns deles apresentam
formatos que exigem criatividade dos alunos. Se achar conveniente, você pode, inclusive, fazer alguns
desses exercícios em sala (como substituto ou complemento) ou chamar a atenção para os que julgar mais
importantes.

Aula 2
Uma abordagem possível para iniciar a aula é retomar brevemente as características da segunda me-
tade do século XIX. O grande avanço nas áreas da comunicação, da medicina e da tecnologia demonstra-
va, na prática, a pertinência do pensamento científico. Os positivistas, entusiasmados com aquelas con-
quistas, apregoavam que só a Razão e a Ciência poderiam levar o ser humano à Verdade. O método
científico parecia ser o caminho mais seguro para solucionar as dúvidas que a humanidade sempre carre-
gara. A burguesia estava satisfeita com os frutos oferecidos pela Razão e considerava que, ademais, eles
colocavam a cultura europeia como ponto máximo da evolução humana. Nesse momento, os alunos devem
se lembrar de teorias como o evolucionismo, o determinismo e o positivismo.
Mas um grupo de artistas – logo chamados de “malditos” – não ficou satisfeito com esse estado das
coisas; eles consideravam que a alma humana era muito mais complexa do que pensavam as teorias em-
píricas. Em vez de se submeter ao mundo real, explicável pela física e pela matemática, eles cultuavam o
mistério, a vagueza, o impalpável e o desconhecido. Essa postura não era mero fruto de insensatez nem
de loucura, na medida em que era programática e rigorosamente seguida por aqueles que não aceitavam
as formas rudes do mundo consolidado pelo avanço do capitalismo industrial.
Dessa postura de questionamento nasceu o Simbolismo, movimento de repulsa ao racionalismo de
molde positivista. Uma breve discussão sobre o nome do movimento pode ser esclarecedora: um símbolo
é qualquer coisa usada para representar outra. No nosso cotidiano, por exemplo, o significado de vários
símbolos está culturalmente estabelecido, de maneira que há uma proximidade entre o símbolo (podería-
mos aqui usar “signo”) e o objeto. Os simbolistas, contudo, exploravam o mundo do sonho, no qual a rela-
ção entre o signo e seu objeto não são claras. Para buscar o significado das imagens apresentadas por eles,
é necessário se valer de outras formas de conhecimento, como a intuição.

26
É interessante mencionar que as raízes do Simbolismo estão entranhadas nas do Parnasianismo. Os
primeiros simbolistas franceses apresentaram seus poemas nas antologias Le Parnasse Contemporain, a
mesma publicação que deu forma ao movimento parnasiano. E não é só isso: os simbolistas cultuavam
também o preciosismo vocabular, a rima e a metrificação esmerada. Mas eles se diferenciavam bastante:
enquanto os parnasianos associavam sua atividade às artes plásticas (vide a “Arte poética” de Bilac), os
simbolistas se aproximaram da forte carga sugestiva da música.
Assim, diferenciando o Simbolismo do Parnasianismo, você pode apresentar as características mais
peculiares daqueles que inicialmente foram chamados de “decadentistas”. Um bom caminho é partir das
características que estão elencadas no Caderno do Aluno, acentuando que a musicalidade simbolista tira
de foco o peso tradicional do significado das palavras. Valoriza-se o significante: os sons que se expressam
pelo jogo da métrica, das rimas e das aliterações e assonâncias.
Ao tratar do Simbolismo brasileiro, você pode lembrá-los que, entre nós, o movimento foi um tanto
obscurecido pelo prestígio parnasiano – ao contrário do que se deu em Portugal e na França. Cumpre
mencionar rapidamente a trajetória de Cruz e Sousa, considerado o maior nome simbolista entre nós, res-
saltando as agruras impostas por sua condição de poeta negro em uma sociedade ainda marcada pela
escravidão.
Paralelamente ao desenvolvimento do Simbolismo, ocorreu na Europa o Impressionismo, movimento
fundamental para as artes plásticas. É possível relacionar um ao outro na medida em que o Impressionismo
também não apresenta uma forma de conhecimento submissa às imposições da clareza e da lógica – por
mais que ainda se mantivesse apegado à representação do real tangível. Para apresentar ambientes cheios
de luz e cor, os impressionistas afastavam-se dos padrões do Classicismo defendido e perpetrado nos
periódicos salões de arte estabelecidos pela Academia Francesa. Pintores como Édouard Manet (1832-1883),
Claude Monet (1840-1926) e Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) chocaram público e crítica ao tentar captar
as nuances efêmeras da realidade (tais como as variações de luz sobre uma paisagem) por meio de pin-
celadas curtas que, quando olhadas de perto, se assemelham a borrões. O termo “impressionista”, aliás, foi
usado de forma depreciativa por um crítico para apontar o caráter pouco preciso das representações. O
nome pegou. Mas o que os impressionistas desejavam, de fato, era captar uma dimensão real do ambien-
te, a da luz e da cor, que, embora cambiantes, são igualmente reais.

ANOTAÇÕES

MîDULO 1 Ð DIVERSIDADE ESTÉTICA: A BELLE ÉPOQUE


LITERATURA E ARTE

27
2 L I T ER AT UR A E A R T E

M Ó D U L O

Pré-Modernismo

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO

EM13LGG103 Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais,
verbais, sonoras, gestuais).
EM13LGG202 Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e
verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
EM13LGG302 Posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo presentes nos discursos em diferentes linguagens, levando em conta seus
contextos de produção e de circulação.
EM13LP05 Analisar, em textos argumentativos, os posicionamentos assumidos, os movimentos argumentativos (sustentação, refutação/contra-
-argumentação e negociação) e os argumentos utilizados para sustentá-los, para avaliar sua força e eficácia, e posicionar-se criticamente diante da questão
discutida e/ou dos argumentos utilizados, recorrendo aos mecanismos linguísticos necessários.
EM13LP48 Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio
da leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e
procedimentos estéticos.
EM13LP49 Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a
manifestação livre e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da vida humana e social dos romances, a dimensão política
e social de textos da literatura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Euclides da Cunha

Lima Barreto

Desenvolvendo habilidades: 1 a 4
3
TM: 1 e 2
TC: 3 e 4
TD: 5 e 6
Extras!: 1 e 2

Monteiro Lobato

Augusto dos Anjos

Desenvolvendo habilidades: 5 a 8
4
TM: 7 e 8
TC: 9 a 11
TD: 12 e 13
Extras!: 3 e 4

28
Objetivos de aprendizagem
Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:
. Objetivo 1: reconhecer características histórico-sociais do fim do século XIX e início do século XX, e
suas relações com as obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto.
. Objetivo 2: identificar características gerais das obras de Monteiro Lobato e de Augusto dos Anjos.

Encaminhamento

Ponto de partida
Uma discussão a respeito do termo PrŽ-Modernismo, que designa o próprio movimento, deve desper-
tar a consciência dos alunos para o fato de que muitas vezes os movimentos estéticos ganham mais coe-
são e coerência sob a luz da crítica, que, percebendo semelhanças e direcionamentos comuns, instaura
categorias amplamente conhecidas e utilizadas no discurso didático.

Aula 3
Você pode iniciar a aula explicando rapidamente a expressão “Pré-Modernismo” e suas implicações: a
fragilidade do conceito – por definir uma prática artística a partir de valores que lhe são posteriores – e as
vantagens – sugerir um prenúncio da arte de vanguarda que já se anunciava em nossas letras. Convém
reforçar que, apesar de imprecisa, é uma nomenclatura consagrada pelos estudos críticos.
O que permite a aproximação de autores como Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato
sob uma mesma designação é a abordagem literária da realidade social e cultural brasileira. Pode-se re-
cordar que essa característica foi também explorada pelo Realismo; mas o que singulariza o processo
pré-moderno é o tratamento mais direto das tensões nacionais, inclusive com destaque a eventos que
ocupavam as páginas dos jornais da época. Os assim chamados “pré-modernistas” se colocavam contra o
Brasil arcaico que excluía parcelas consideráveis da população. O olhar dos nossos melhores prosadores
se volta, assim, para o Sertão nordestino, para o Vale do Paraíba (que atravessava profunda decadência
econômica com a transferência da produção de café para o oeste paulista) e mesmo para a capital da
República, que alijava do centro da cidade as populações mais pobres, que rumavam para as periferias
distantes ou subiam os morros, iniciando o processo de favelização desses espaços.
Nesta primeira aula, você pode fazer uma apresentação desse contexto histórico, comentando o fato
de que o país se consolidava como uma economia pujante, mas que ainda apresentava profundos abismos
sociais. As reformas urbanas do Rio de Janeiro, no começo do século passado, atestam o impulso de tornar
a capital federal uma espécie de “Paris tropical”, que ombreasse em elegância as capitais europeias ou
Buenos Aires. Mas o processo de embelezamento urbanístico implicava o ocultamento das mazelas sociais
que grassavam na cidade. Essa tensão mais localizada era o retrato do que acontecia no país em um ce-
nário mais amplo, em que “dois brasis” se apresentavam de maneira inconteste: o mais rico, litorâneo, que
buscava a sofisticação emulando modismos europeus; e o mais pobre, que jazia no atraso que há séculos
marca a nossa sociedade. Os autores pré-modernos trabalharam essa questão profundamente.
Feita essa apresentação, você pode destacar a obra ensaística de Euclides da Cunha, que estudou os
fortes contrastes sociais brasileiros tomando como objeto a Guerra de Canudos e o sertanejo nordestino.
Ainda na aula 3, sugerimos o trabalho com a obra de Lima Barreto, escritor que expressou suas agru-
ras pessoais relacionadas ao preconceito racial. Sugerimos trabalhar com um trecho de Triste fim de Poli-
carpo Quaresma, o livro mais famoso do autor, por meio do qual se pode compreender sua obra de forma
ampla. Algumas das discussões mantidas por Lima Barreto em seus romances – o nacionalismo de Triste
fim de Policarpo Quaresma e o preconceito racial de Recordações do escrivão Isaías Caminha ou de Clara
dos Anjos – continuam atuais, e podem ser trazidas aos alunos a partir de episódios recentes, amplamen-
te noticiados pela imprensa.

Aula 4
MÓDULO 2 – PRÉ-MODERNISMO

A segunda aula do módulo pode começar com a apresentação da obra de Monteiro Lobato, que também
explorou os contrastes entre os valores urbanos e rurais. Quase sempre, estes últimos são marcados pela
pureza e pela ingenuidade, enquanto os primeiros são relacionados a uma espécie de esperteza interesseira.
LITERATURA E ARTE

Por fim, você pode apresentar a impactante poesia de Augusto dos Anjos. O poeta costuma impres-
sionar os alunos. Uma possibilidade de trabalho pode ser a declamação dos versos. Por mais que o autor
se valha de preciosismo vocabular e de termos técnicos, seus decassílabos são naturalmente fluidos, mui-
to bem estruturados no plano da métrica e da prosódia – o que os torna memoráveis.

29
3 L I T ER AT UR A E A R T E

M Ó D U L O

Vanguardas artísticas
europeias

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO

EM13LGG101 Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas diferentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas
em função de interesses pessoais e coletivos.
EM13LGG202 Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e
verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
EM13LGG203 Analisar os diálogos e os processos de disputa por legitimidade nas práticas de linguagem e em suas produções (artísticas, corporais e
verbais).
EM13LGG301 Participar de processos de produção individual e colaborativa em diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais), levando em conta
suas formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos em diferentes contextos.
EM13LGG302 Posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo presentes nos discursos em diferentes linguagens, levando em conta seus
contextos de produção e de circulação.
EM13LGG303 Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar
posições, frente à análise de perspectivas distintas.
EM13LGG604 Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida social, cultural, política e econômica e identificar o processo de
construção histórica dessas práticas.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações

Principais características das vanguardas:


Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo
e Expressionismo

5
Desenvolvendo habilidades: 1, 2 e 3

TM: 1 a 5
TC: 6 a 9
TD: 10 e 11
Extras!: 1 e 2

Aspectos das vanguardas que se mantêm


presentes na arte moderna e contemporânea

Desenvolvendo habilidades: 4, 5 e 6
6 TM: 12 e 13
TC: 14 a 16
TD: 17 e 18
Extras!: 3 e 4

30
Objetivos de aprendizagem

Ao fim desta(s) aula(s), o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: identificar as diferentes tendências estéticas propostas pelos participantes dos movimen-
tos mais significativos das vanguardas europeias.
. Objetivo 2: identificar e compreender influências exercidas pelos movimentos de vanguarda em ma-
nifestações da arte moderna e contemporânea.

Encaminhamento

Ponto de partida
As imagens selecionadas para a seção Neste módulo podem abrir a discussão acerca das vanguardas
artísticas europeias. A reflexão que se deseja levantar para instigar os alunos é: como o mesmo tema pode
suscitar representações diferentes em tempos distintos? Sugerimos que você comente sobre as perspec-
tivas alteradas em função das transformações de mundo que influenciaram os artistas e suas produções.
Outra possibilidade é iniciar uma discussão com base no texto do historiador da arte Giulio Carlo Argan
sobre o tempo e seu efeito sobre a arte.

Aula 5
Com a intenção de despertar o interesse e a curiosidade dos alunos acerca das obras que serão apre-
sentadas neste módulo, é interessante iniciar esta aula falando sobre o impacto da invenção da máquina
fotográfica para o mundo das artes. Depois disso, é interessante mostrar aos alunos exemplos variados das
tendências das vanguardas europeias e identificar o ponto em comum entre elas: a quebra do ideal aristo-
télico de mimese.
A partir daí, a proposta é apresentar separadamente cada uma das cinco principais vanguardas euro-
peias, associando uma obra icônica (algumas selecionadas para a seção Neste módulo são as mesmas do
Caderno de Estudos) e também uma palavra ou um conceito-chave que facilite a absorção das especifi-
cidades de cada tendência. Há também sugestões de termos na seção Neste módulo.
Os exercícios selecionados têm a intenção de contribuir com o desenvolvimento da aula e devem ser
utilizados como parte importante do processo de apresentação do conteúdo.
O exercício 1 traz oito exemplos de obras de arte associadas às vanguardas e pode servir como um
grande painel para os alunos preencherem durante as explicações teóricas. Esse procedimento incentiva-
-os a assumir parte importante no desenvolvimento de aspectos do conteúdo e também facilita a constru-
ção de um guia pessoal com seus próprios registros em sala.
O exercício 2 apresenta um poema de Oswald de Andrade e um pequeno fragmento do conto “A so-
ciedade”, de Antônio de Alcântara Machado, que configuram exemplos didáticos da utilização dos proce-
dimentos de vanguarda na literatura produzida no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
O exercício 3 é um exemplo de como essas questões são cobradas no Enem e também em vestibulares.

Aula 6
O principal objetivo da aula 6 é demonstrar aos alunos a presença de traços estéticos das vanguardas
europeias em manifestações artísticas produzidas ao longo do século XX e também na arte contemporâ-
nea. Para isso, o ideal é apresentar um exemplo, como o quadro As meninas, de Pablo Picasso, reproduzi-

MÓDULO 3 – VANGUARDAS ARTÍSTICAS EUROPEIAS


do na seção Neste módulo.
Os exercícios podem contribuir com o desenvolvimento da aula e devem ser utilizados como parte
importante do processo de apresentação do conteúdo.
O exercício 4 é mais um exemplo da presença recorrente do assunto nos exames do Enem.
O exercício 5 traz obras do artista brasileiro Arthur Bispo do Rosário, cujo processo se baseia em pro-
cedimentos muito próximos dos desenvolvidos pelos dadaístas.
LITERATURA E ARTE

Por fim, o exercício 6 solicita aos alunos a produção de um pequeno texto sobre o processo de Piet
Mondrian no desenvolvimento de sua obra e pode servir como um exercício final que reforce os objetivos
de aprendizagem do módulo.

31
GABARITO

8 a) Os ataques diretos ao presidente da República evi-


Caderno de Estudos 5 denciam um envolvimento do autor com questões so-

Literatura e Arte ciais brasileiras, o que destoa do distanciamento social


proposto pelo Parnasianismo, sintetizado na noção de
Cap’tulo 1 - Parnasianismo, Simbolismo e arte pela arte.
Impressionismo b) O texto II mostra um enunciador lírico envolvido pela
sedução da figura feminina, o que contraria o princípio
1 b
parnasiano da impassibilidade, segundo o qual o poeta
2 d deveria manter distanciamento em relação ao assunto
3 a) O título do soneto de Bilac retoma o início de A divi- de que trata.
na comédia, de Dante Alighieri, escrita no século XIV:
9 a) O texto de Geraldo Carneiro traz um conjunto de refe-
Nel mezzo del camin di nostra vita rências clássicas: “Atenas” (cidade onde floresceu a civili-
(A meio caminhar de nossa vida) zação grega da Antiguidade); “Platão” (filósofo grego),
mi ritrovai per una selva oscura, “Nabucodonosor” (rei da Babilônia, que viveu entre os
(Fui me encontrar em uma selva escura,) séculos VII e VI a.C.); “Homero” (poeta grego a quem se
ché la diritta via era smarrita. atribui a autoria das obras épicas Ilíada e Odisseia); “Odis-
(Estava a reta minha via perdida.) seu” (protagonista da Odisseia, de Homero); “musas” (en-
ALIGHIERI, Dante. A divina comŽdia. I – Inferno. Tradução de tidades mitológicas a quem recorriam os poetas quando
Italo Eugenio Mauro. São Paulo: 34, 1998. p. 25.
precisavam de inspiração); “Parnaso” (monte grego onde
b) Nos quartetos, o enunciador celebra o encontro de havia um templo dedicado a Apolo, deus das artes); “Ar-
amor, enquanto nos tercetos alude ao fim dessa união. cádias” (espaço lendário de convívio de poetas e pasto-
A causa da separação não fica clara, mas a imagem da res). Além disso, também aludem a Bilac e seu tempo: a
“extrema curva do caminho extremo” pode ser uma alu- referência a “absinto”, uma bebida de forte teor alcoólico,
são à morte da amada. consumida por poetas do fim do século XIX, e à “torre de
4 a) Do ponto de vista formal, trata-se de um soneto clás- marfim”, imagem de isolamento poético, condizente com
sico, com versos decassílabos e rimas e linguagem ela- as propostas parnasianas. Pode-se citar, ainda, o uso da
borada. Quanto ao tema, o poeta se utiliza de um recur- expressão “penthouse”, no último verso. Trata-se de um
so muito comum no Parnasianismo, o descritivismo. O termo inglês para designar um tipo de apartamento que
poema é, em síntese, a descrição de um muro. ocupa a cobertura de um prédio, e, nesse sentido, é coe-
rente com a imagem da “torre de marfim” que vem logo a
b) Trata-se da personificação, figura por intermédio da
seguir. No entanto, o termo também dá nome a uma co-
qual atribui-se traços humanos a seres não humanos.
nhecida revista norte-americana destinada ao público
No poema, são traços humanos atribuídos ao muro o
masculino adulto, que tinha fotos de modelos nuas. Dessa
fato de talvez compreender a missão de guardar a casa
forma, o poema alude à sensualidade presente na obra de
que cerca e o olhar que lança ao redor (“espreita a
Bilac. Por fim, a expressão “príncipe” faz referência ao
sombra, e vela”).
título de Príncipe dos poetas brasileiros atribuído a Bilac,
5 a) O soneto compara as pombas a sonhos (que come- em 1907, e o verso “o Rio de Janeiro é meu exílio” contem-
çam a ser referidos a partir do verso 10).
pla a cidade onde Bilac viveu.
b) Assim como as pombas fogem dos pombais, os so-
b) O poema de Geraldo Carneiro possui 14 versos, a
nhos escapam dos corações humanos. No entanto, en-
mesma medida do soneto, forma poética bastante prati-
quanto as pombas retornam, os sonhos não voltam mais.
cada por Olavo Bilac. Além disso, Carneiro se utiliza de
6 Resposta pessoal. versos longos, métrica preferida dos parnasianos: predo-
7 O mesmo rebuscamento que se verifica na literatura minam os versos decassílabos, mas estão presentes tam-
parnasiana, com seu vocabulário erudito e o recurso ao bém dodecassílabos (12 sílabas), nos versos 3 e 4, e hen-
hipérbato, também se encontra na gravura de Mucha, decassílabos (11 sílabas), nos versos 7 e 14. Pode-se indi-
de linhas curvas e espirais. Além disso, a sensualidade car ainda a presença de alguns termos que fazem alusão
presente em poemas de Olavo Bilac também é notada ao tipo de vocabulário utilizado no Parnasianismo, como
na imagem, com a representação do corpo feminino. “louçanias”, “resplandecem” e “cortejado”.

32
c) No poema de Carneiro, convivem com o vocabulário Monteiro Lobato mostrou como o caipira interiorano do
mais elaborado típico dos parnasianos expressões colo- Vale do Paraíba era completamente avesso às conquis-
quiais como “piqueniques” e “me deixou a ver navios”. tas do progresso, vivendo de forma rudimentar e pobre.
10 d 7 Enquanto o caipira interiorano de Monteiro Lobato é
apresentado sob um ponto de vista negativo, que o
11 e
associa à preguiça e à falta de interesse em melhorar de
12 d
vida, o sertanejo do romance romântico Inoc•ncia é
13 a diligente, corajoso e orgulhoso de suas conquistas.
14 c 8 b
15 d 9 d
16 A obra de Vincent van Gogh se afasta da típica pintura 10 e
acadêmica do século XIX porque representa a realidade
11 b
a partir de uma interpretação feita pelo pintor. O quadro
explora uma leitura muito pessoal da paisagem, em pin- 12 d
celadas de cor pura, claramente perceptíveis. 13 Não. O narrador lamenta o fato de que as árvores anti-
gas que resistem em meio ao cafezal ficam completa-
17 a) Na terceira estrofe do poema, o eu lírico compara o
mente descontextualizadas. Para o narrador, seria me-
movimento do ventre da dançarina a um “réptil abjeto
lhor derrubá-las todas. Portanto, o ponto de vista não é
sobre o lodo”, o que reforça a visão negativa e cristã
o da preservação ecológica das árvores, mas o da elimi-
(pois remete à luxúria) da dança do ventre.
nação delas para evitar o caráter grotesco de seu isola-
b) O sujeito da oração é “os venenos da serpente”. O mento em meio aos pés de café.
recurso do hipérbato produz uma oração cujo movimen-
14 d
to se assemelha aos próprios volteios da serpente, de
15 c
modo que forma e conteúdo se aproximam no poema.
18 b Capítulo 3 - Vanguardas artísticas europeias
19 e 1 a
20 d 2 b
3 a
Capítulo 2 - Pré-Modernismo
4 d
1 d 5 d
2 b 6 a
3 e 7 a
4 b 8 e
5 Os espaços são o subúrbio da cidade do Rio de Janeiro 9 c
(associado a hábitos simples, grosseiros e à familiarida-
10 c
de entre pessoas conhecidas) e o centro da cidade, que
é associado à sofisticação e elegância, valores com os 11 d
quais o personagem Cassi Jones não era acostumado. 12 c
6 Sim. O trecho do romance Clara dos Anjos mostra as 13 a
diferenças entre o subúrbio e o centro do Rio de Janei- 14 e
ro. Outros autores pré-modernos também abordaram a
15 b
questão das dicotomias entre diferentes regiões: Eucli-
16 a
des da Cunha mostrou ao Brasil as condições de atraso
e de embrutecimento a que estavam relegadas as popu- 17 e
lações miseráveis do Sertão nordestino. Por sua vez, 18 b
LITERATURA E ARTE

GABARITO

33
1 PRODUÇÃO DE TEXTO COMPETÊNCIAS GERAIS C1.C2.C4.C9

M Ó D U L O

Descrição, narração
e dissertação

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LP05 Analisar, em textos argumentativos, os posicionamentos assumidos, os movimentos argumentativos e os argumentos utilizados para
sustentá-los, para avaliar sua força e eficácia, e posicionar-se diante da questão discutida e/ou dos argumentos utilizados, recorrendo aos mecanismos
linguísticos necessários.
EM13LP07 Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes
modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modalizadores (verbos modais, tempos e modos
verbais, expressões modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de
impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva, etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado desses
elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.

Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações


Tipos textuais e gêneros textuais
Descrição, narração e dissertação
Desenvolvendo habilidades: 1, 2 e 3
1 TM: 1 e 2
TC: 3 e 4
TD: 5
Extras!: 1
Combinações entre tipos textuais
Desenvolvendo habilidades: 4 e 5

2 TM: 6 e 7
TC: 8 e 9
TD: 10
Extras!: 2
Desenvolvendo habilidades: 6 e 7

3 TM: 11 e 12
TC: 13 e 14
TD: 15

Objetivos de aprendizagem

Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:


. Objetivo 1: identificar as principais características das sequências descritivas, narrativas e dissertativas,
distinguindo os conceitos de tipo textual e de gênero textual.
. Objetivo 2: entender as múltiplas possibilidades de combinações entre passagens descritivas, narra-
tivas e dissertativas.
. Objetivo 3: compreender de que maneira, em textos de natureza dissertativa, os argumentos são
utilizados, inclusive em sequências textuais descritivas e narrativas, como forma de atingir objetivos
em contextos específicos e em gêneros diversos.
34
. Objetivo 4: identificar marcas linguísticas que expressam o posicionamento do enunciador diante do
que é enunciado e aplicar esse conhecimento em textos dissertativos.

Encaminhamento

Ponto de partida
Durante o Ensino Fundamental, os alunos já tiveram aulas sobre textos descritivos, narrativos e disser-
tativos. Por não se tratar de um assunto novo para eles, a ideia é começar o módulo indagando o que se
lembram sobre o tema. Na sequência, pode-se desmontar o mito de que apenas textos dissertativos ex-
pressam visões de mundo. Na verdade, o que distingue descrições, narrações e dissertações é a forma
como essas visões de mundo são veiculadas.

Aula 1
Na primeira aula, nossa sugestão é começar retomando as distinções – que já terão sido levantadas no
Ponto de partida – entre descrição, narração e dissertação. Esses são tipos de texto muito conhecidos e,
no caso da dissertação, tornou-se até um verdadeiro “gênero escolar”. Não achamos, porém, que vale a
pena gastar muito tempo com as diferenças teóricas entre tipos e gêneros. Nossa ideia, neste e nos pró-
ximos módulos, é mostrar como alguns gêneros, como a fotografia, os gráficos ou as reportagens, valem-
-se de recursos descritivos, narrativos ou dissertativos, muitas vezes combinados entre si.
Em relação às características básicas desses três tipos de texto, sugerimos nos concentrarmos nos
elementos figurativos e nos elementos temáticos. Descrições e narrações são textos do universo figurativo,
que representam diretamente o mundo e, por isso, apresentam predominância de elementos concretos. A
diferença é que, nas descrições, não há progressão temporal dos eventos apresentados. Já dissertações
são textos do universo temático, que interpretam o mundo e, por isso, apresentam predominância de ele-
mentos abstratos.

Os conceitos de temas e figuras foram propostos por pesquisadores franceses na década de 1970. Os temas
seriam os conceitos abstratos, muitas vezes presentes nas camadas mais profundas do texto. As figuras seriam
os elementos concretos, que se manifestam na superfície textual. Um leão, por exemplo, pode ser a representa-
ção figurativa dos temas valentia, liderança ou força. Textos que valorizam esses elementos concretos são então
chamados de figurativos, enquanto textos que operam mais com abstrações são temáticos.
Para se inteirar mais dos conceitos, indicamos a obra Elementos de análise do discurso, de José Luiz Fiorin.

Essas noções já são suficientes para responder aos três primeiros exercícios de aula. No primeiro, o
fragmento em questão é tipicamente descritivo; no segundo, é dissertativo-argumentativo; no terceiro,
mistura descrição com narração.
Façamos a ressalva de que outros tipos de texto, como o injuntivo, não têm aparecido no Enem e nos
principais vestibulares do país. Quando esse termo surge em uma prova, quase sempre é em alternativas er-
radas de questões de múltipla escolha. Em relação aos textos expositivos, argumentativos e opinativos, esta-
mos tomando-os como variações dissertativas, em que as visões de mundo são menos ou mais explícitas.

Aula 2
Podemos começar esta aula com a resolução de um exercício interessante, que retoma as reflexões da

MÓDULO 1 – DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO


aula anterior, mas com um grau de profundidade maior. A estrofe de Fernando Pessoa é temática: “cons-
ciente”, “esquecimento”, “sonho”, “sono”, “spirito” e “dono” são termos abstratos. O texto é dissertativo. Se
houver tempo, podemos mostrar aos alunos o célebre soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, pergun-
tando se os versos camonianos são dominantemente descritivos, narrativos ou dissertativos. Muitos alunos
podem responder que Camões está descrevendo o amor. Mas não é isso. Ele está definindo o amor. O
texto é temático, e não figurativo. Descrever remete ao mundo concreto; definir (como ocorre também na
estrofe de Pessoa) dialoga com o abstrato.
PRODUÇÃO DE TEXTO

Na sequência, podemos fazer algumas considerações sobre as combinações entre os tipos de texto e
sobre como alguns gêneros fazem essas combinações. Por exemplo: uma fotografia é descritiva, mas nem
toda descrição é fotografia. Já um gráfico, um trecho de uma notícia, uma charge podem ser descritivos,
mas não são, literalmente, uma fotografia. Já a narração pode estar presente na relação entre duas fotos,

35
em uma tira humorística ou em um gráfico. Ressalte que a narração está presente em todos esses gêneros,
mas não é nenhum deles: se alguém tiver que responder que texto está diante dele, não vai chamar a fo-
tografia de descrição, apesar de saber (ainda que intuitivamente) que uma foto é descritiva, tampouco
uma reportagem de uma narração, ainda que possa reconhecer que esse “tipo textual” é predominante
nela. Já um artigo de opinião, gênero que estudaremos melhor em outros módulos, embora seja dominan-
temente dissertativo, pode conter passagens narrativas, empregadas como recurso argumentativo.
O exercício que encerra esta aula exige a identificação dos elementos mais importantes de um info-
gráfico, gênero dominantemente descritivo. Em um primeiro momento, o mais importante é reconhecer as
informações veiculadas por meio da linguagem não verbal. Há muitos elementos que podem ser apontados
aqui. Em um segundo momento, os estudantes devem perceber que há uma intencionalidade argumenta-
tiva por trás do infográfico descritivo. É uma boa hora para reforçar a máxima de que todo texto revela a
visão de mundo de quem o produziu.

PREPARE-SE

Na próxima aula, faremos uma produção textual que exigirá reflexão sobre o valor do casamento para mu-
lheres entre os 50 e os 60 anos de idade. Para isso, propomos no Caderno do Aluno a leitura de uma repor-
tagem em que, curiosamente, os homens valorizam mais o casamento do que as mulheres. Nossa ideia é
mostrar que, em assuntos desse tipo, é preciso muito cuidado para evitar os raciocínios simplistas e os es-
tereótipos fáceis.

Aula 3
A aula tem como objetivo principal a realização de um exercício de utilização de textos figurativos em
textos temáticos. Além disso, explora o uso da modalização como recurso argumentativo.
A primeira atividade é uma preparação para o comentário dissertativo da atividade seguinte. Os itens
a e b são exercícios de compreensão textual. Especialmente no b, que trata do termo “capital marital”
forjado pela autora, é um bom momento para tratar da natureza da dissertação. Diante dos dados concre-
tos coletados em sua pesquisa, a antropóloga e professora Mirian Goldenberg cria o conceito para tratar
de como, infelizmente, a felicidade das entrevistadas brasileiras de 50 a 60 anos depende do casamento
com um homem.
O item c aprofunda o exercício mostrando em que a pesquisa pode contribuir para compreender a
desigualdade de gênero no país. Já o item d trata da modalização. Não recomendamos aqui aprofunda-
mento em terminologias, que são complexas e talvez não contribuam para as habilidades de escrita. Su-
gerimos que o foco seja mostrar como a escolha do advérbio é uma expressão do posicionamento da
autora diante do dado, o que contribui para que o aluno perceba que a argumentatividade não está ex-
pressa apenas na escolha de fatos e dados que levam a uma certa conclusão, mas também em seleções
lexicais pontuais.

ANOTAÇÕES

36
2 PRODUÇÃO DE TEXTO

M Ó D U L O

Gêneros descritivos e
narrativos: publicidade,
quadrinhos e fotojornalismo

HABILIDADES BNCC NORTEADORAS DO MÓDULO


EM13LGG102 Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias como
forma de ampliar suas possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade.
EM13LGG103 Analisar, de maneira cada vez mais aprofundada, o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em
textos de diversas semioses.
EM13LGG201 Utilizar adequadamente as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno
social, cultural, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
EM13LGG402 Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao
gênero do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e combatendo situações de preconceito linguístico.
EM13LP01 Relacionar o texto, tanto na produção como na recepção, com suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de
circulação (leitor previsto, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, época, gênero do discurso etc.).
EM13LP02 Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como na recepção, considerando a construção composicional e o
estilo do gênero, usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos que contribuam para a coerência, a continuidade do texto
e sua progressão temática, e organizando informações, tendo em vista as condições de produção e as relações lógico-discursivas envolvidas (causa/efeito
ou consequência; tese/argumentos; problema/solução; definição/exemplos etc.).
EM13LP07 Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes
modalidades (epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que operam como modalizadores (verbos modais, tempos e modos
verbais, expressões modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de
impessoalização (uso de terceira pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da criticidade e ao manejo adequado desses

MÓDULO 2 – GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


elementos nos textos produzidos, considerando os contextos de produção.
EM13LP15 Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe, videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas
multimídia e transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de produção de sentidos e engajar-se de forma reflexiva em
práticas autorais e coletivas.
EM13LP16 Utilizar softwares de edição de textos, fotos, vídeos e áudio, além de ferramentas e ambientes colaborativos para criar textos e produções
multissemióticas com finalidades diversas, explorando os recursos e efeitos disponíveis e apropriando-se de práticas colaborativas de escrita, de construção
coletiva do conhecimento e de desenvolvimento de projetos.
EM13LP44 Analisar, discutir, produzir e socializar, tendo em vista temas e acontecimentos de interesse local ou global, notícias, fotodenúncias,
fotorreportagens, reportagens multimidiáticas, documentários, infográficos, podcasts noticiosos, artigos de opinião, críticas da mídia, vlogs de opinião,
textos de apresentação e apreciação de produções culturais (resenhas, ensaios etc.) e outros gêneros próprios das formas de expressão das culturas juvenis
(vlogs e podcasts culturais, gameplay etc.), em várias mídias, vivenciando de forma significativa o papel de repórter, analista, crítico, editorialista ou articulista,
leitor, vlogueiro e booktuber, entre outros.
EM13LP45 Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas
pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica
EM13LP49 Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de diferentes autores e gêneros literários de um mesmo momento
histórico e de momentos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral se constituem, dialogam e se retroalimentam.
EM13LP50 Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um
acervo pessoal e dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio cultural.
EM13LP53 Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante seleção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório
artístico –, e/ou produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.
PRODUÇÃO DE TEXTO

37
Sugestão de roteiro de aula

Aula Descrição Anotações


Textos sincréticos
Fotojornalismo e publicidade
Desenvolvendo habilidades: 1 a 3
4 TM: 1 e 2
TC: 3 e 4
TD: 5
Extras!: 1 e 2
Quadrinhos: charges e tirinhas
Desenvolvendo habilidades: 4 a 6
5 TM: 6 e 7
TC: 8 a 10
TD: 11
Desenvolvendo habilidades: 7

6 TM: 12 e 13
TC: 14
TD: 15

Objetivos de aprendizagem
Ao fim destas aulas, o aluno deve ser capaz de:
. Objetivo 1: distinguir textos verbais, não verbais e sincréticos, reconhecendo que, nestes, os sentidos
costumam ser produzidos, principalmente, pela combinação de elementos verbais e visuais.
. Objetivo 2: compreender as relações entre as imagens e as legendas nas fotografias de natureza
jornalística.
. Objetivo 3: relacionar elementos verbais e não verbais em textos publicitários.
. Objetivo 4: identificar as características principais da linguagem dos quadrinhos, com ênfase na pers-
pectiva crítica de charges e tiras humorísticas.
. Objetivo 5: aperfeiçoar a capacidade de planejar, organizar e produzir textos opinativos, tendo como
base a leitura de uma coletânea composta de textos verbais, não verbais e sincréticos.

Encaminhamento

Ponto de partida
As perguntas que propusemos para abertura da aula têm como objetivo relacionar a discussão sobre
os tipos textuais do módulo anterior com o tema deste módulo: gêneros sincréticos de natureza descritiva
e narrativa. A partir das respostas, saberemos o domínio que os alunos têm sobre fotografias jornalísticas,
anúncios publicitários, charges e tiras humorísticas. Assim, podemos ajustar nossa exposição teórica a
esses conhecimentos.
Para este primeiro momento da aula, podemos mostrar a campanha de conscientização abaixo e inda-
gar: “essa campanha veicula que visão de mundo?”. Para chegar à resposta, pode-se explorar com os alunos
a imagem a fundo, como sua natureza sincrética, com a linguagem não verbal causando impacto no leitor,
e a linguagem verbal sendo responsável por trazer o
sentido pleno do texto, de modo que a campanha só
Reprodução/Oliviero Toscani

é entendida como conscientização antirracista pelo


sentido construído da relação entre o verbal e o não
verbal. Considerando a relevância do tema da campa-
nha, esse momento é adequado para problematizar e
refletir com os alunos o tema racismo. A imagem que
apresentamos para este momento é apenas uma su-
gestão, e o texto verbal estar em Língua Inglesa não
prejudica em nada a aula. Pelo contrário, dialoga mui-
to com uma abordagem interdisciplinar de construção
de conhecimento.

38
Aula 4
De início, vale a pena deixar o aluno ciente de que vamos agora focalizar alguns gêneros que circulam no
universo jornalístico e mesclam recursos típicos da descrição e da narração. Foram escolhidos gêneros sincré-
ticos, pois tiram proveito simultâneo de elementos visuais e verbais. É o caso dos quadrinhos (tiras humorísticas
e charges), dos anúncios publicitários e da unidade formada pelas fotografias jornalísticas e suas legendas.
Nesta aula, o foco deve estar na definição de sincretismo e na breve caracterização do fotojornalismo
e da publicidade.
Assim, o primeiro exercício é elaborado com base em dois textos de gêneros bastante diferentes, mas
com o mesmo tema e a mesma finalidade informativa. É um bom momento para comentar as diferenças e
explorar as vantagens e as limitações da comunicação integralmente verbal e da comunicação sincrética.
Faça-se a ressalva de que nem sempre textos verbais são mais objetivos e formais do que textos sincréticos.
O segundo exercício permite tratar do aspecto descritivo de uma fotografia isolada e do narrativo de
uma sequência fotográfica, abordando as transformações urbanas ocorridas em São Paulo. Já o terceiro
exercício, que funde um croqui à fotografia de uma obra pronta, mostra como a publicidade se vale de
recursos verbais e não verbais para atingir seus objetivos.

Aula 5
Na segunda aula do módulo, o foco está nos quadrinhos, fundamentalmente nas charges e nas tiras
humorísticas. É essencial retomar que estamos no universo sincrético, quando verbal e visual estabelecem
uma codependência, relacionando-se mutuamente para a construção do sentido. Tendo isso em vista, a
prioridade deve ser a exemplificação por meio dos exercícios, conduzindo os alunos em sua percepção e
posterior explicação da correlação visual-verbal.
O exercício 4 explora a ambiguidade do verbo “torcer”, que é reforçada pelos elementos visuais: a
personagem está com a camisa de um time de futebol.
A tirinha do exercício 5 trata da imposição social de um padrão de beleza branco, marginalizando a
estética negra. O homem, ao pedir que a moça alise o cabelo, está reforçando essa imposição e o precon-
ceito racial e, ao perceber isso com a fala da moça, se sente constrangido, como vemos pela sua expressão
facial no último quadrinho. A linguagem passa, assim, de um tom mais formal, de comunicado, para uma
conversa em que o homem percebe o problema por trás do seu pedido a partir do diálogo com a moça.
Por fim, o exercício 6 permite retomar, por exemplo, as dificuldades da pandemia do novo coronavírus,
ao mesmo tempo em que sugere o aspecto cíclico das adversidades da vida.

PREPARE-SE

MîDULO 2 Ð GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


A canção “Todo o sentimento”, de Chico Buarque e Cristóvão Bastos, foi lançada no álbum Francisco (1987)
e regravada no registro ao vivo do show Na carreira. A letra – que alguns acreditam ter sido influenciada pela
leitura de O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez – trata dos desencontros e reencontros
de um casal e, sobretudo, da promessa de felicidade no “tempo da delicadeza”, expressão que aparece na
coletânea da proposta de redação da próxima aula.

Aula 6
A última aula do módulo tem como objetivo principal apresentar uma coletânea de textos bastante
diversificada em sua manifestação textual, a fim de que o aluno possa ampliar sua habilidade de leitura de
textos verbais, não verbais e sincréticos. Os textos motivadores são o ponto de partida para que o aluno
compreenda e aprofunde a análise sobre a questão posta em debate: Como colocar em prática o desafio
proposto por Affonso Romano para sermos, no cotidiano, “urgentemente delicados”?
Para construir sua redação, o aluno deveria aproveitar as informações de cada texto da coletânea. No
texto I, a autora reflete sobre a agressividade, afirmando que ela se tornou, em nossos dias, uma espécie
de modo de viver: “the new black”. Critica-se, então, essa maneira de se expressar no mundo, ao afirmar
que pessoas inteligentes e sensatas não demonstram agressividade – nem de maneira real nem virtual.
PRODUÇÃO DE TEXTO

No texto II, a definição de intolerância também pode contribuir para a reflexão, já que a palavra estaria
no mesmo campo semântico da falta de empatia, do não reconhecimento da humanidade no outro, o que
coloca os seres sempre em conflito. A ausência da tolerância pressupõe a necessidade de sua existência
para que o bem coletivo seja alcançado.

39
O texto III, sincrético, reproduz um diálogo comum em nossos dias e, ao mesmo tempo que faz rir de
nossa própria condição, propõe uma reflexão do modo como entendemos o valor de nossa própria falta
de tolerância. Os elementos verbais e não verbais colaboram para a aproximação entre o leitor da tira
humorística e a situação descrita, criando um efeito de subjetividade.
No texto IV, poético, brinca-se com a criação de atos institucionais (comumente decretados em go-
vernos ditatoriais, como o AI-5), invertendo a sua brutalidade e intolerância ao vislumbrar algumas atitudes
que estariam em consonância com a delicadeza, que proporcionaria uma maior harmonia social.
Por fim, a cantiga popular, no plano da expressão tão harmonicamente estruturada, com a presença
de diminutivos que colaboram para a criação de sentido da “delicadeza”, traz em seu conteúdo uma disjun-
ção ao tratar da falta de reciprocidade amorosa.

ANOTAÇÕES

40
GABARITO
b) Os elementos visuais da ilustração de Jaguar reafir-
Caderno de Estudos 5 mam o significado da legenda: o atalho é uma escada, e
carros não sobem escadas. O atalho sob forma de escada
Produ•‹o de Texto
seria comemorado com euforia por um caminhante; para
Capítulo 1 – Descrição, narração e dissertação um motorista, porém, nada podia ocorrer de mais errado.

1 d 5 Resposta pessoal.
2 a 6 c
3 a 7 d
4 A única passagem narrativa é “Saí, afastando-me dos 8 b
grupos, e fingindo ler os epitáfios”. A predominância de 9 a
palavras de sentido concreto e a sequência de ações, 10 a) O contraste entre o que o personagem digita
indicando progressão temporal, definem o texto narrativo. (“Sou alto, loiro e sincero”) e o que se pode obser-
5 Resposta pessoal. var pela imagem (o rapaz é moreno e de estatura
mediana ou baixa) revela que na rede há padrões
6 c
de beleza masculina, ou seja, estereótipos a res-
7 a
peito do que seja atraente em alguém, levando-
8 a -nos a interpretar ironicamente a afirmação do
9 c alto: no mundo conectado os preconceitos ga-
10 Resposta pessoal. nham larga difusão.
11 a b) A arrogância da personagem à esquerda, indicada
12 a não só por sua postura corporal e fisionomia, mas
principalmente pelo teor absoluto da sua fala (“Tem
13 c
tudo na Wikipédia”), revela não só a ignorância, mas
14 A expressão “com razão” está desempenhando função
certo desprezo pelo conhecimento mais embasado e
sintática de adjunto adverbial. Na construção do texto, o
aprofundado, revelando ironicamente que no mundo
termo contribui para demarcar a posição do enunciador
conectado há muita ignorância.
sobre o conceito de “precariado”: com o adjunto, ele
c) O próprio evento representado no quadrinho, ou seja,
expressa sua adesão à crítica de Ruy Braga ao modo
alguém terminar um relacionamento afetivo por uma
como Guy Standing concebe o termo.
mensagem de texto demonstra uma atitude covarde.
15 Resposta pessoal. Isso deixa claro que, ironicamente, no mundo conecta-
do há muita covardia.
Capítulo 2 – Gêneros descritivos e narrativos:
publicidade, quadrinhos e fotojornalismo 11 Resposta pessoal.
12 a
1 d
13 c
2 d
14 a) A tira faz alusão à Batalha de Waterloo, em que Na-
3 Respostas pessoais. poleão foi derrotado.
4 a) O princípio matemático parodiado afirma que “a b) As qualidades são transmitidas geneticamente.
reta é a menor distância entre dois pontos”. A le-
c) A personagem consultada busca a explicação para as
genda da ilustração, ao substituir “reta” por “ata-
qualidades profissionais do “estrategista militar”: se é
lho”, inverte o sentido original, o que configura a
verdade que este é parente do estrategista de Napo-
paródia. Ou seja, o atalho, que deveria ser, como a
leão em Waterloo, e se é verdade que as característi-
reta, a menor distância entre dois pontos, nessa
cas de um ser são transmitidas geneticamente a seu
situação concreta é justamente o contrário. Isso se
descendente, o fracasso na Batalha de Waterloo – que
ajusta ao enunciado fundamental da Lei de Mur-
phy: o atalho se torna um problema, é valorizado leva a questionar a competência do assistente de Na-
PRODU‚ÌO DE TEXTO

negativamente (já que não encurta a distância), poleão – faz pressupor que as qualidades profissionais
confirmando a ideia de que “se alguma coisa pode do estrategista da tirinha são também desastrosas.
15 Resposta pessoal.
GABARITO

dar errado, dará”.

41
ANOTAÇÕES

42
ANOTAÇÕES

43
PRODUÇÌO DE TEXTO
ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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PRODUÇÃO DE TEXTO
ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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PRODUÇÃO DE TEXTO
ANOTAÇÕES

48
Linguagens e suas
Tecnologias
Space Chimp/Shutterstock

Viktor Gladkov/Shutterstock
urbazon/Getty Images

ANÁLISE LINGUÍSTICA
Módulo 1 Formação de palavras .......................................14
Módulo 2 Verbo: presente e imperativo......................... 25
Módulo 3 Verbo: pretérito perfeito e imperfeito ........34
Módulo 4 Pretérito mais-que-perfeito e tempos
do futuro: progressão temporal ................... 40
Módulo 5 Discurso citado....................................................50

LITERATURA E ARTE
Módulo 1 Diversidade estética: a Belle Époque...........61
Módulo 2 Pré-Modernismo..................................................66
Módulo 3 Vanguardas artísticas europeias ................... 73

PRODUÇÃO DE TEXTO
Módulo 1 Descrição, narração e dissertação ............... 83
Módulo 2 Gêneros descritivos e narrativos:
publicidade, quadrinhos e fotojornalismo....90

LÍNGUA INGLESA
Módulo 1 Education Around the
World; Present Perfect Tense....................... 102
Módulo 2 Medical Technology;
Conditional Sentences ...................................... 111
Cafe Racer/Shutterstock
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 4
A área de Linguagens e suas Tecnologias Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, cultural, social,
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 1 variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo suas va-
riedades e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e
Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais coletivas, bem como agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer
(artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção natureza.
e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diver-
sas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as Habilidades
possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para conti-
(EM13LGG401) Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracte-
nuar aprendendo.
rizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável,
Habilidades heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
(EM13LGG402) Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua
(EM13LGG101) Compreender e analisar processos de produção e circulação de
adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do dis-
discursos, nas diferentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em
curso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem pre-
função de interesses pessoais e coletivos.
conceito linguístico.
(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos (EM13LGG403) Fazer uso do inglês como língua de comunicação global, levan-
e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, amplian- do em conta a multiplicidade e variedade de usos, usuários e funções dessa
do suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na língua no mundo contemporâneo.
realidade.
(EM13LGG103) Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 5
produzir criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, Compreender os processos de produção e negociação de sentidos nas prá-
sonoras, gestuais). ticas corporais, reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressão
de valores e identidades, em uma perspectiva democrática e de respeito à
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcio-
diversidade.
namentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos
campos de atuação social. Habilidades
(EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remidiação de
(EM13LGG501) Selecionar e utilizar movimentos corporais de forma consciente
produções multissemióticas, multimídia e transmídia, desenvolvendo diferentes
e intencional para interagir socialmente em práticas corporais, de modo a esta-
modos de participação e intervenção social.
belecer relações construtivas, empáticas, éticas e de respeito às diferenças.
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 2 (EM13LGG502) Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de
Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que poder presentes nas práticas corporais, adotando posicionamento contrário a
permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos humanos e valores
pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base em princípios democráticos.
e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, (EM13LGG503) Vivenciar práticas corporais e significá-las em seu projeto de
exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos vida, como forma de autoconhecimento, autocuidado com o corpo e com a
e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. saúde, socialização e entretenimento.

Habilidades COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 6


Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, con-
(EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em
siderando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus
diferentes contextos, valorizando-as como fenômeno social, cultural, histórico,
conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)cons-
variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
truir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades
nos discursos das diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), e culturas.
compreendendo criticamente o modo como circulam, constituem-se e (re)pro-
duzem significação e ideologias. Habilidades
(EM13LGG203) Analisar os diálogos e os processos de disputa por legitimidade (EM13LGG601) Apropriar-se do patrimônio artístico de diferentes tempos e
nas práticas de linguagem e em suas produções (artísticas, corporais e verbais). lugares, compreendendo a sua diversidade, bem como os processos de legiti-
(EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimento mútuo, nas diversas linguagens mação das manifestações artísticas na sociedade, desenvolvendo visão crítica
(artísticas, corporais e verbais), com vistas ao interesse comum pautado em e histórica.
princípios e valores de equidade assentados na democracia e nos Direitos (EM13LGG602) Fruir e apreciar esteticamente diversas manifestações artísticas
Humanos. e culturais, das locais às mundiais, assim como delas participar, de modo a agu-
çar continuamente a sensibilidade, a imaginação e a criatividade.
COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 3 (EM13LGG603) Expressar-se e atuar em processos de criação autorais indivi-
Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com duais e coletivos nas diferentes linguagens artísticas (artes visuais, audiovisual,
autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, dança, música e teatro) e nas intersecções entre elas, recorrendo a referências
de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que estéticas e culturais, conhecimentos de naturezas diversas (artísticos, históricos,
respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioam- sociais e políticos) e experiências individuais e coletivas.
biental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.
(EM13LGG604) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões da vida
social, cultural, política e econômica e identificar o processo de construção his-
Habilidades
tórica dessas práticas.
(EM13LGG301) Participar de processos de produção individual e colaborativa
em diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais), levando em conta suas COMPETÊNCIA ESPECÍFICA 7
formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos em diferentes contextos. Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões
(EM13LGG302) Posicionar-se criticamente diante de diversas visões de mundo técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de pro-
presentes nos discursos em diferentes linguagens, levando em conta seus con- duzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a
textos de produção e de circulação. aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal
e coletiva.
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando
diferentes argumentos e opiniões, para formular, negociar e sustentar posições, Habilidades
frente à análise de perspectivas distintas.
(EM13LGG701) Explorar tecnologias digitais da informação e comunicação
(EM13LGG304) Formular propostas, intervir e tomar decisões que levem em (TDIC), compreendendo seus princípios e funcionalidades, e utilizá-las de modo
conta o bem comum e os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o ético, criativo, responsável e adequado a práticas de linguagem em diferentes
consumo responsável em âmbito local, regional e global. contextos.
(EM13LGG305) Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades (EM13LGG702) Avaliar o impacto das tecnologias digitais da informação e co-
de atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios contempo- municação (TDIC) na formação do sujeito e em suas práticas sociais, para fazer
râneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira crítica, cria- uso crítico dessa mídia em práticas de seleção, compreensão e produção de
tiva, solidária e ética. discursos em ambiente digital.
(EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em pro- ângulo/vetor, foco/profundidade de campo, iluminação, cor, linhas, formas etc.) e
cessos de produção coletiva, colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais. de sua sequenciação (disposição e transição, movimentos de câmera, remix, entre
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de outros), das performances (movimentos do corpo, gestos, ocupação do espaço
informação, por meio de ferramentas e dos novos formatos de produção e distri- cênico), dos elementos sonoros (entonação, trilha sonora, sampleamento etc.) e das
buição do conhecimento na cultura de rede. relações desses elementos com o verbal, levando em conta esses efeitos nas pro-
duções de imagens e vídeos, para ampliar as possibilidades de construção de sen-
tidos e de apreciação.
Habilidades específicas de Língua (EM13LP15) Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos e
Portuguesa multissemióticos, considerando sua adequação às condições de produção do tex-
to, no que diz respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se pretende
(EM13LP01) Relacionar o texto, tanto na produção como na leitura/escuta, com passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao veículo e mídia em que o
suas condições de produção e seu contexto sócio-histórico de circulação (leitor/ texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais
audiência previstos, objetivos, pontos de vista e perspectivas, papel social do autor, geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística
época, gênero do discurso etc.), de forma a ampliar as possibilidades de construção apropriada a esse contexto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais
de sentidos e de análise crítica e produzir textos adequados a diferentes situações. (ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e
verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir.
(EM13LP02) Estabelecer relações entre as partes do texto, tanto na produção como
na leitura/escuta, considerando a construção composicional e o estilo do gênero, (EM13LP16) Produzir e analisar textos orais, considerando sua adequação aos
usando/reconhecendo adequadamente elementos e recursos coesivos diversos contextos de produção, à forma composicional e ao estilo do gênero em questão,
que contribuam para a coerência, a continuidade do texto e sua progressão temá- à clareza, à progressão temática e à variedade linguística empregada, como também
tica, e organizando informações, tendo em vista as condições de produção e as aos elementos relacionados à fala (modulação de voz, entonação, ritmo, altura e
relações lógico-discursivas envolvidas (causa/efeito ou consequência; tese/argu- intensidade, respiração etc.) e à cinestesia (postura corporal, movimentos e gestua-
mentos; problema/solução; definição/exemplos etc.). lidade significativa, expressão facial, contato de olho com plateia etc.).
(EM13LP03) Analisar relações de intertextualidade e interdiscursividade que per- (EM13LP17) Elaborar roteiros para a produção de vídeos variados (vlog, videoclipe,
mitam a explicitação de relações dialógicas, a identificação de posicionamentos ou videominuto, documentário etc.), apresentações teatrais, narrativas multimídia e
de perspectivas, a compreensão de paráfrases, paródias e estilizações, entre outras transmídia, podcasts, playlists comentadas etc., para ampliar as possibilidades de
possibilidades. produção de sentidos e engajar-se em práticas autorais e coletivas.
(EM13LP04) Estabelecer relações de interdiscursividade e intertextualidade para (EM13LP18) Utilizar softwares de edição de textos, fotos, vídeos e áudio, além de
explicitar, sustentar e conferir consistência a posicionamentos e para construir e ferramentas e ambientes colaborativos para criar textos e produções multisse-
corroborar explicações e relatos, fazendo uso de citações e paráfrases devidamen- mióticas com finalidades diversas, explorando os recursos e efeitos disponíveis e
te marcadas. apropriando-se de práticas colaborativas de escrita, de construção coletiva do
(EM13LP05) Analisar, em textos argumentativos, os posicionamentos assumidos, conhecimento e de desenvolvimento de projetos.
os movimentos argumentativos (sustentação, refutação/contra-argumentação e (EM13LP19) Apresentar-se por meio de textos multimodais diversos (perfis variados,
negociação) e os argumentos utilizados para sustentá-los, para avaliar sua força e gifs biográficos, biodata, currículo web, videocurrículo etc.) e de ferramentas digi-
eficácia, e posicionar-se criticamente diante da questão discutida e/ou dos argu- tais (ferramenta de gif, wiki, site etc.), para falar de si mesmo de formas variadas,
mentos utilizados, recorrendo aos mecanismos linguísticos necessários. considerando diferentes situações e objetivos.
(EM13LP06) Analisar efeitos de sentido decorrentes de usos expressivos da lingua- (EM13LP20) Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/problemas/
gem, da escolha de determinadas palavras ou expressões e da ordenação, combi- questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizan-
nação e contraposição de palavras, dentre outros, para ampliar as possibilidades do diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como
de construção de sentidos e de uso crítico da língua. também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins.
(EM13LP07) Analisar, em textos de diferentes gêneros, marcas que expressam a (EM13LP21) Produzir, de forma colaborativa, e socializar playlists comentadas de
posição do enunciador frente àquilo que é dito: uso de diferentes modalidades preferências culturais e de entretenimento, revistas culturais, fanzines, e-zines ou
(epistêmica, deôntica e apreciativa) e de diferentes recursos gramaticais que ope- publicações afins que divulguem, comentem e avaliem músicas, games, séries, filmes,
ram como modalizadores (verbos modais, tempos e modos verbais, expressões quadrinhos, livros, peças, exposições, espetáculos de dança etc., de forma a com-
modais, adjetivos, locuções ou orações adjetivas, advérbios, locuções ou orações partilhar gostos, identificar afinidades, fomentar comunidades etc.
adverbiais, entonação etc.), uso de estratégias de impessoalização (uso de tercei-
(EM13LP22) Construir e/ou atualizar, de forma colaborativa, registros dinâmicos
ra pessoa e de voz passiva etc.), com vistas ao incremento da compreensão e da
(mapas, wiki etc.) de profissões e ocupações de seu interesse (áreas de atuação,
criticidade e ao manejo adequado desses elementos nos textos produzidos, con-
dados sobre formação, fazeres, produções, depoimentos de profissionais etc.) que
siderando os contextos de produção.
possibilitem vislumbrar trajetórias pessoais e profissionais.
(EM13LP08) Analisar elementos e aspectos da sintaxe do português, como a ordem
(EM13LP23) Analisar criticamente o histórico e o discurso político de candidatos,
dos constituintes da sentença (e os efeito que causam sua inversão), a estrutura
propagandas políticas, políticas públicas, programas e propostas de governo, de
dos sintagmas, as categorias sintáticas, os processos de coordenação e subordi-
forma a participar do debate político e tomar decisões conscientes e fundamenta-
nação (e os efeitos de seus usos) e a sintaxe de concordância e de regência, de
das.
modo a potencializar os processos de compreensão e produção de textos e a
possibilitar escolhas adequadas à situação comunicativa. (EM13LP24) Analisar formas não institucionalizadas de participação social, sobre-
tudo as vinculadas a manifestações artísticas, produções culturais, intervenções
(EM13LP09) Comparar o tratamento dado pela gramática tradicional e pelas gramá-
urbanas e formas de expressão típica das culturas juvenis que pretendam expor
ticas de uso contemporâneas em relação a diferentes tópicos gramaticais, de forma
uma problemática ou promover uma reflexão/ação, posicionando-se em relação a
a perceber as diferenças de abordagem e o fenômeno da variação linguística e ana-
essas produções e manifestações.
lisar motivações que levam ao predomínio do ensino da norma-padrão na escola.
(EM13LP25) Participar de reuniões na escola (conselho de escola e de classe, grê-
(EM13LP10) Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis
mio livre etc.), agremiações, coletivos ou movimentos, entre outros, em debates,
(variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática)
assembleias, fóruns de discussão etc., exercitando a escuta atenta, respeitando seu
e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional,
turno e tempo de fala, posicionando-se de forma fundamentada, respeitosa e ética
etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica
da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestí- diante da apresentação de propostas e defesas de opiniões, usando estratégias
gio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o linguísticas típicas de negociação e de apoio e/ou de consideração do discurso do
combate a preconceitos linguísticos. outro (como solicitar esclarecimento, detalhamento, fazer referência direta ou re-
tomar a fala do outro, parafraseando-a para endossá-la, enfatizá-la, complementá-
(EM13LP11) Fazer curadoria de informação, tendo em vista diferentes propósitos e -la ou enfraquecê-la), considerando propostas alternativas e reformulando seu
projetos discursivos. posicionamento, quando for caso, com vistas ao entendimento e ao bem comum.
(EM13LP12) Selecionar informações, dados e argumentos em fontes confiáveis, (EM13LP26) Relacionar textos e documentos legais e normativos de âmbito uni-
impressas e digitais, e utilizá-los de forma referenciada, para que o texto a ser versal, nacional, local ou escolar que envolvam a definição de direitos e deveres – em
produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso especial, os voltados a adolescentes e jovens – aos seus contextos de produção,
comum) e contemple a sustentação das posições defendidas. identificando ou inferindo possíveis motivações e finalidades, como forma de am-
(EM13LP13) Analisar, a partir de referências contextuais, estéticas e culturais, efei- pliar a compreensão desses direitos e deveres.
tos de sentido decorrentes de escolhas de elementos sonoros (volume, timbre, (EM13LP27) Engajar-se na busca de solução para problemas que envolvam a co-
intensidade, pausas, ritmo, efeitos sonoros, sincronização etc.) e de suas relações letividade, denunciando o desrespeito a direitos, organizando e/ou participando de
com o verbal, levando-os em conta na produção de áudios, para ampliar as possi- discussões, campanhas e debates, produzindo textos reivindicatórios, normativos,
bilidades de construção de sentidos e de apreciação. entre outras possibilidades, como forma de fomentar os princípios democráticos
(EM13LP14) Analisar, a partir de referências contextuais, estéticas e culturais, efeitos e uma atuação pautada pela ética da responsabilidade, pelo consumo consciente
de sentido decorrentes de escolhas e composição das imagens (enquadramento, e pela consciência socioambiental.
(EM13LP28) Organizar situações de estudo e utilizar procedimentos e estra- agregadores de conteúdo) e da consulta a serviços e fontes de checagem e
tégias de leitura adequados aos objetivos e à natureza do conhecimento em curadoria de informação, de forma a aprofundar o entendimento sobre um de-
questão. terminado fato ou questão, identificar o enfoque preponderante da mídia e man-
(EM13LP29) Resumir e resenhar textos, por meio do uso de paráfrases, de marcas ter-se implicado, de forma crítica, com os fatos e as questões que afetam a cole-
do discurso reportado e de citações, para uso em textos de divulgação de estudos tividade.
e pesquisas.
(EM13LP43) Atuar de forma fundamentada, ética e crítica na produção e no com-
(EM13LP30) Realizar pesquisas de diferentes tipos (bibliográfica, de campo, partilhamento de comentários, textos noticiosos e de opinião, memes, gifs, remixes
experimento científico, levantamento de dados etc.), usando fontes abertas e
variados etc. em redes sociais ou outros ambientes digitais.
confiáveis, registrando o processo e comunicando os resultados, tendo em
vista os objetivos pretendidos e demais elementos do contexto de produção, (EM13LP44) Analisar formas contemporâneas de publicidade em contexto di-
como forma de compreender como o conhecimento científico é produzido e gital (advergame, anúncios em vídeos, social advertising, unboxing, narrativa
apropriar-se dos procedimentos e dos gêneros textuais envolvidos na realização mercadológica, entre outras), e peças de campanhas publicitárias e políticas
de pesquisas. (cartazes, folhetos, anúncios, propagandas em diferentes mídias, spots, jingles
(EM13LP31) Compreender criticamente textos de divulgação científica orais, etc.), identificando valores e representações de situações, grupos e configura-
escritos e multissemióticos de diferentes áreas do conhecimento, identificando ções sociais veiculadas, desconstruindo estereótipos, destacando estratégias
sua organização tópica e a hierarquização das informações, identificando e de engajamento e viralização e explicando os mecanismos de persuasão utili-
descartando fontes não confiáveis e problematizando enfoques tendenciosos zados e os efeitos de sentido provocados pelas escolhas feitas em termos de
ou superficiais.
elementos e recursos linguístico-discursivos, imagéticos, sonoros, gestuais e
(EM13LP32) Selecionar informações e dados necessários para uma dada pesquisa espaciais, entre outros.
(sem excedê-los) em diferentes fontes (orais, impressas, digitais etc.) e comparar
autonomamente esses conteúdos, levando em conta seus contextos de produção, (EM13LP45) Analisar, discutir, produzir e socializar, tendo em vista temas e acon-
referências e índices de confiabilidade, e percebendo coincidências, complemen- tecimentos de interesse local ou global, notícias, fotodenúncias, fotorreportagens,
taridades, contradições, erros ou imprecisões conceituais e de dados, de forma a reportagens multimidiáticas, documentários, infográficos, podcasts noticiosos,
compreender e posicionar-se criticamente sobre esses conteúdos e estabelecer artigos de opinião, críticas da mídia, vlogs de opinião, textos de apresentação e
recortes precisos. apreciação de produções culturais (resenhas, ensaios etc.) e outros gêneros
(EM13LP33) Selecionar, elaborar e utilizar instrumentos de coleta de dados e infor- próprios das formas de expressão das culturas juvenis (vlogs e podcasts culturais,
mações (questionários, enquetes, mapeamentos, opinários) e de tratamento e gameplay etc.), em várias mídias, vivenciando de forma significativa o papel de
análise dos conteúdos obtidos, que atendam adequadamente a diferentes objetivos repórter, analista, crítico, editorialista ou articulista, leitor, vlogueiro e booktuber,
de pesquisa. entre outros.
(EM13LP34) Produzir textos para a divulgação do conhecimento e de resultados (EM13LP46) Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos literários,
de levantamentos e pesquisas – texto monográfico, ensaio, artigo de divulgação percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas
científica, verbete de enciclopédia (colaborativa ou não), infográfico (estático ou
de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspec-
animado), relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, re-
portagem científica, podcast ou vlog científico, apresentações orais, seminários, tiva crítica.
comunicações em mesas redondas, mapas dinâmicos etc. –, considerando o con- (EM13LP47) Participar de eventos (saraus, competições orais, audições, mostras,
texto de produção e utilizando os conhecimentos sobre os gêneros de divulgação festivais, feiras culturais e literárias, rodas e clubes de leitura, cooperativas culturais,
científica, de forma a engajar-se em processos significativos de socialização e di- jograis, repentes, slams etc.), inclusive para socializar obras da própria autoria
vulgação do conhecimento. (poemas, contos e suas variedades, roteiros e microrroteiros, videominutos, playlists
(EM13LP35) Utilizar adequadamente ferramentas de apoio a apresentações orais, comentadas de música etc.) e/ou interpretar obras de outros, inserindo-se nas
escolhendo e usando tipos e tamanhos de fontes que permitam boa visualização, diferentes práticas culturais de seu tempo.
topicalizando e/ou organizando o conteúdo em itens, inserindo de forma ade-
quada imagens, gráficos, tabelas, formas e elementos gráficos, dimensionando a (EM13LP48) Identificar assimilações, rupturas e permanências no processo de
quantidade de texto e imagem por slide e usando, de forma harmônica, recursos constituição da literatura brasileira e ao longo de sua trajetória, por meio da
(efeitos de transição, slides mestres, layouts personalizados, gravação de áudios leitura e análise de obras fundamentais do cânone ocidental, em especial da
em slides etc.). literatura portuguesa, para perceber a historicidade de matrizes e procedimen-
(EM13LP36) Analisar os interesses que movem o campo jornalístico, os impactos tos estéticos.
das novas tecnologias digitais de informação e comunicação e da Web 2.0 no (EM13LP49) Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gê-
campo e as condições que fazem da informação uma mercadoria e da checagem neros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas, a manifestação livre
de informação uma prática (e um serviço) essencial, adotando atitude analítica e
e subjetiva do eu lírico diante do mundo nos poemas, a múltipla perspectiva da
crítica diante dos textos jornalísticos.
vida humana e social dos romances, a dimensão política e social de textos da lite-
(EM13LP37) Conhecer e analisar diferentes projetos editorias – institucionais, pri- ratura marginal e da periferia etc.) para experimentar os diferentes ângulos de
vados, públicos, financiados, independentes etc. –, de forma a ampliar o repertório
apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.
de escolhas possíveis de fontes de informação e opinião, reconhecendo o papel da
mídia plural para a consolidação da democracia. (EM13LP50) Analisar relações intertextuais e interdiscursivas entre obras de dife-
(EM13LP38) Analisar os diferentes graus de parcialidade/imparcialidade (no limi- rentes autores e gêneros literários de um mesmo momento histórico e de momen-
te, a não neutralidade) em textos noticiosos, comparando relatos de diferentes tos históricos diversos, explorando os modos como a literatura e as artes em geral
fontes e analisando o recorte feito de fatos/dados e os efeitos de sentido provo- se constituem, dialogam e se retroalimentam.
cados pelas escolhas realizadas pelo autor do texto, de forma a manter uma (EM13LP51) Selecionar obras do repertório artístico-literário contemporâneo à
atitude crítica diante dos textos jornalísticos e tornar-se consciente das escolhas
disposição segundo suas predileções, de modo a constituir um acervo pessoal e
feitas como produtor.
dele se apropriar para se inserir e intervir com autonomia e criticidade no meio
(EM13LP39) Usar procedimentos de checagem de fatos noticiados e fotos publi- cultural.
cadas (verificar/avaliar veículo, fonte, data e local da publicação, autoria, URL,
formatação; comparar diferentes fontes; consultar ferramentas e sites checadores (EM13LP52) Analisar obras significativas das literaturas brasileiras e de outros
etc.), de forma a combater a proliferação de notícias falsas (fake news). países e povos, em especial a portuguesa, a indígena, a africana e a latino-ame-
(EM13LP40) Analisar o fenômeno da pós-verdade – discutindo as condições e os ricana, com base em ferramentas da crítica literária (estrutura da composição,
mecanismos de disseminação de fake news e também exemplos, causas e con- estilo, aspectos discursivos) ou outros critérios relacionados a diferentes matrizes
sequências desse fenômeno e da prevalência de crenças e opiniões sobre fatos culturais, considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com
–, de forma a adotar atitude crítica em relação ao fenômeno e desenvolver uma outros textos, inserções em movimentos estéticos e culturais etc.) e o modo como
postura flexível que permita rever crenças e opiniões quando fatos apurados as dialogam com o presente.
contradisserem.
(EM13LP53) Produzir apresentações e comentários apreciativos e críticos sobre
(EM13LP41) Analisar os processos humanos e automáticos de curadoria que ope- livros, filmes, discos, canções, espetáculos de teatro e dança, exposições etc.
ram nas redes sociais e outros domínios da internet, comparando os feeds de di-
(resenhas, vlogs e podcasts literários e artísticos, playlists comentadas, fanzines,
ferentes páginas de redes sociais e discutindo os efeitos desses modelos de cura-
e-zines etc.).
doria, de forma a ampliar as possibilidades de trato com o diferente e minimizar o
efeito bolha e a manipulação de terceiros. (EM13LP54) Criar obras autorais, em diferentes gêneros e mídias – mediante sele-
(EM13LP42) Acompanhar, analisar e discutir a cobertura da mídia diante de acon- ção e apropriação de recursos textuais e expressivos do repertório artístico –, e/ou
tecimentos e questões de relevância social, local e global, comparando diferentes produções derivadas (paródias, estilizações, fanfics, fanclipes etc.), como forma de
enfoques e perspectivas, por meio do uso de ferramentas de curadoria (como dialogar crítica e/ou subjetivamente com o texto literário.
w

Língua Carlos Moacir Vedovato Junior (MOA)


Eduardo Calbucci (BUCCI)
FELIPE Leal

Portuguesa
Fernando MARCÍLIO Lopes Couto
HENRIQUE Santos Braga
Luciana Migliaccio (LUCY)
MAURÍCIO Soares da Silva Filho
PAULO Giovani de Oliveira
Sérgio de Lima PAGANIM
1 ANÁLISE LINGUÍSTICA COMPETÊNCIAS GERAIS C5, C6, C7

M Ó D U L O

Formação de palavras

Módulo previsto para 4 aulas (Aulas 1, 2, 3 e 4).


COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: Identificar neologismos, correlacionando-os a mudanças sociais e tecnológicas das quais
COMPETÊNCIA 1
eles decorrem ou a efeitos expressivos desencadeados por eles. (Aula 1)
EM13LGG102
. Objetivo 2: Reconhecer afixos como morfemas formadores de palavras, identificando suas proprie- EM13LP06
dades gramaticais e semânticas. (Aula 2)
. Objetivo 3: Identificar os processos de derivação regressiva e conversiva. (Aula 3)
COMPETÊNCIAS
2E7
. Objetivo 4: Reconhecer a composição como processo de formação de palavras, diferenciando aglu- EM13LP40
tinação e justaposição. (Aula 4)

Ponto de partida:
Neste módulo Aula 1
Para iniciar o estudo dos
Aula 1 processos de formação
1 Neologismos: a ampliação do léxico de palavras, sugerimos
este questionamento:
“O que pode motivar o
O léxico das línguas se atualiza constantemente, acompanhando novas tecnologias, novos compor- surgimento de palavras
tamentos ou mesmo novas necessidades expressivas. É nesse contexto que surgem os neologismos. novas (neologismos)?”.
Para fundamentar a re-
flexão, convém expor à
turma variados exemplos
de neologismo, o que
pode ser feito ao longo
da aula. Procure mostrar
exemplos da literatura
(como Psia, presente
no exercício 1), do léxico
cotidiano (como sextou,
termo citado na seção
Neste módulo) e de
determinado campo do
conhecimento especia-
lizado (como desinfor-
mação, também citado
na seção Neste módulo).
Reprodução /Twitter

Em variedades do português popular brasileiro, surgiu o neologismo sextar, para designar de modo
mais expressivo a chegada ao final da semana.

14
Neologismo gramatical: cria-se uma forma linguística, com base em formas preexistentes no idioma (sexta 1
1 ar ñ sextar).
Neologismo semântico: um vocábulo que já existia passa a expressar um novo significado (doença viral ñ
ñ vídeo viral).
Neologismo por empréstimo: termo de língua estrangeira é incorporado ao léxico (como likes ou haters).

Aula 2

2 Formação de palavras com afixos Ponto de partida:


Aula 2
informar O verbo informar se transforma no substantivo Como a aula é dedicada
informação com o acréscimo de um afixo. ao papel dos afixos na
formação de palavras,
pode-se perguntar à
informação turma: "Como é possí-
vel segmentar a palavra
Com o acréscimo de um novo afixo,
surge o termo desinformação. em partes menores que
guardem significados?".
Sugerimos usar desin-
desinformação formação como exem-
plo, já que os textos-base
Termos básicos para analisar derivação por afixos desta aula abordam esse
tema.
. radical: morfema que expressa o sentido essencial do vocábulo (dos termos informação, informe,
informante deduz-se o radical inform-).
. base: vocábulo a partir do qual outro é derivado (informação é base de desinformação).
. afixo: morfema utilizado em processos de derivação.

Derivação prefixal
Agrega-se um prefixo (afixo anteposto) à base, como nestes exemplos:
. informação ñ desinformação
. verdade ñ pós-verdade
. fascismo ñ neofascismo

Pode-se inferir o significado dos prefixos analisando variadas palavras em que eles ocorrem. Em pós-verda-
de, pós-modernismo e pós-graduação, por exemplo, o prefixo indica posterioridade.

Derivação sufixal
Agrega-se um sufixo (afixo posposto) à base. São exemplos:
. checar ñ checagem
. real ñ realmente
. jornal ñ jornalismo

Além de contribuir com a construção do significado do vocábulo, os sufixos podem determinar a classe gra-
matical. O sufixo -gem, por exemplo, forma substantivos com base em verbos (checagem, contagem, etc.).

Derivação parassintŽtica
Agrega-se um circunfixo (par formado por prefixo e sufixo simultaneamente) à base. É o que se vê
nestes casos:
MÓDULO 1 - FORMAÇÃO DE PALAVRAS

. tarde ñ entardecer
. joelho ñ ajoelhar
. alto ñ enaltecer
ANÁLISE LINGUÍSTICA

Na derivação parassintética, os dois afixos são agregados à base ao mesmo tempo (por exemplo, tarde é
base para entardecer). É diferente do que acontece em desinformação, em que ocorrem separadamente a
sufixação (informar ñ informação) e a prefixação (informação ñ desinformação).

15
Aula 3

Reprodução/Distribution Company
3 Derivação sem acréscimo de afixos
Derivação imprópria (ou conversão)
Na derivação imprópria (também chamada conversão), a classe gramatical do
vocábulo é alterada sem modificação em sua forma.
Originalmente, o vocábulo olhar integra a classe dos verbos. Quando passa a ser
usado como substantivo (como no exemplo), sem alteração em sua forma, ocorre
derivação imprópria (também chamada conversão).

Derivação regressiva
A derivação regressiva ocorre quando se forma substantivo deverbal (ou seja,
com base em verbo) por meio da supressão do -r final (eventualmente, com alteração
na última vogal).
Verbo Substantivo

Evitaremos atrasar. Evitaremos o atraso.


No premiado filme argentino O segredo dos seus olhos,
Decidiram comprar o imóvel. Decidiram a compra do imóvel.
o olhar de um dos personagens é decisivo para
desvendar um crime.
É importante debater. É importante o debate. Ponto de partida:
Aula 3
Aula 4
Sugerimos iniciar a aula
4 Formação de palavras compostas com a questão 7, para
retomar a noção de
Palavras compostas são formadas por mais de uma base, em um processo chamado composição. afixo. Em seguida, por
contraste, são trabalha-
Nesses casos, as bases podem se somar exatamente como são (composição por justaposição), mas tam-
dos os casos em que a
bém podem sofrer adaptações fonéticas (composição por aglutinação). derivação não depende
do acréscimo de formas:
Composição por justaposição a derivação regressiva e
a imprópria.

Bases se somam e mantêm sua pronúncia inalterada (guarda-chuva, passatempo, girassol, etc.).
Ponto de partida:
Aula 4
Reprodução/Arteplex Filmes

Convém iniciar a aula


retomando o conceito
de derivação, para, em
seguida, opô-lo ao de
composição. Para isso,
você pode preencher
parcialmente o quadro
destinado ao exercício
12, retomando o que já
foi estudado até aqui e
indicando quais proces-
sos de formação ainda
restam estudar.

No título do filme, o termo obra-prima é exemplo de composição por justaposição.

Composição por aglutinação


Bases se somam e sofrem alteração fonética (outrora, boquiaberto, pontiagudo, etc.)

16
No texto-base para as questões 1 e 2, há dois neologismos literários: psia e calos.
Para compreendê-los (o que é solicitado no exercício 2), é necessária a interpretação
global do poema (explorada no exercício 1).

DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S


Aula 1

1 (Unicamp-SP) O poema abaixo vem impresso na orelha do livro Psia, de Arnaldo Antunes.

Psia é feminino
de psiu;
que serve para chamar a atenção
de alguém, ou para pedir
silêncio.
É essencial compreender a diferença entre o
que o eu lírico diz fazer “no microfone” e “na Eu berro as palavras
página”. Caso os alunos não conheçam Arnal-
do Antunes, recorra ao boxe Biografia, para no microfone
apresentá-lo como músico e poeta. Ao citar a da mesma maneira com que
sua poesia, você pode mostrar um exemplo de
poema concreto do próprio autor, para explicar as desenho, com cuidado,
por que ele afirma “desenhar” em sua escri-
ta (recomendamos o poema “Rever”, por ser
na página.
rapidamente encontrado em sites de busca e Para transformá-las em coisas,
por ser possível reproduzi-lo com facilidade na
própria lousa). em vez de substituírem
as coisas.
Peça aos alunos que criem uma hipótese que
Calos na língua; de calar. explique por que são “calos de calar”. Sugira
Alguma coisa entre a piscina e a pia. que eles relacionem isso com o neologismo
psia. Ambos os termos se relacionam ao tipo de
Um hiato a menos. poesia feita por Arnaldo Antunes: seus “dese-
nhos na página” devem ser vistos, não lidos em
ANTUNES, Arnaldo. Psia. São Paulo: Iluminuras, 2012. voz alta. Nesse contexto, “Psia” é a poesia que
pede silêncio, vinda da “língua calada”.

Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu processo de criação poética. É correto dizer que o autor se propõe a:

a) revelar a primazia da comunicação oral sobre a escrita das palavras.


Na orelha do livro, o eu lírico do poema afirma que, ao desenhar
b) discutir a flexão de gênero, que torna a palavra psia um substantivo. palavras, transforma-as em coisas. Desse modo, ocorre o que
a alternativa c propõe: conversão das palavras em coisas e
c) defender a conversão das palavras em coisas, mudando seu estatuto. mudança de seu estatuto.

d) explorar o poder de representação da interjeição exclamativa psiu!.


Fábio Guinalz/Fotoarena

Arnaldo Antunes
O cantor, compositor e poeta Arnaldo Antunes (São Paulo-SP, 1960-) alcança ex-
pressiva popularidade nacional na década de 1980, com a banda de rock Titãs – a
qual deixou em 1992, para seguir carreira solo.
Na literatura, o artista ganha maior projeção na década de 1990. Em seus poemas,
destaca-se a busca por formulações que lembram a criatividade ingênua das crian-
ças (tanto que ele chega a compor canções para o público infantil, que obtêm
bastante êxito), bem como a exploração da estética concretista, em que a dispo-
sição das palavras na página se converte em desenhos.
MÓDULO 1 - FORMAÇÃO DE PALAVRAS

2 Nos primeiros versos, o eu lírico esclarece o significado de psia, termo que dá nome ao livro de poemas. Tal termo
pode ser interpretado como:
ANÁLISE LINGUÍSTICA

a) um neologismo semântico, pois se trata de uma forma linguística preexistente que passou a expressar um novo significado.
O termo preexistente é psiu; psia é criado com base nele.
b) um empréstimo linguístico, que reflete a influência de línguas estrangeiras no imaginário popular de falantes brasileiros.
Não se trata de um termo estrangeiro.

17
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Nos versos 3, 4 e 5, c) um neologismo criado pelo poeta com a função de Os neologismos citados são empréstimos linguísticos, ori-
afirma-se que psiu fazer referência a uma estética literária na qual a sono- ginários da língua inglesa e incorporados recentemente
pode ser usado para
chamar a atenção ridade é superada pelas imagens. ao português brasileiro. Tendo isso em mente, responda
de alguém ou pedir
ao que se pede.
silêncio. No contex- d) um desvio linguístico intencional cuja finalidade é de-
to, psia faz menção a) Considerando a pronúncia de cada termo, pode-se
à poesia concreta. nunciar a desigualdade de gênero reforçada por subs-
tantivos exclusivamente masculinos. identificar diferenças entre eles quanto ao processo de
A flexão de gênero do termo, no contexto, não remete a gênero social ou biológico.
incorporação à língua portuguesa? Justifique.
e) uma gíria regionalista, utilizada pontualmente por jo-
vens do universo urbano como recurso para afirmação Sim. Os termos bots e doxing não sofrem alteração fonética em seu
de sua identidade. O termo foi inventado pelo poeta.
uso no Brasil, mantendo a forma original. Já encriptação e trollagem
3 Os verbetes seguintes integram o Glossário essencial da
desinformação, criado pelo Projeto credibilidade (iniciati- assumem forma aportuguesada, com substituição das terminações

va internacional contra a desinformação). originais pelas formas -ção e -gem, respectivamente.


[...]
Nesta questão, sugerimos realizar um pequeno debate oral sobre os em-
Bots são contas de mídia social operadas inteiramen-
préstimos linguísticos. Recomendamos agrupar os alunos em pequenos
te por programas de computador, projetadas para gerar núcleos e, em seguida, abrir a discussão com a sala toda.

posts e/ou engajar com algum conteúdo numa platafor-


b) Em sua opinião, esses neologismos poderiam ser subs-
ma específica. Em campanhas de desinformação, os bots
tituídos por outros termos já disponíveis na língua por-
podem ser usados para chamar a atenção para narrativas
tuguesa? Explique.
enganosas, para apropriar-se de listas de tendências de
plataformas e para criar a ilusão de discussão pública e Resposta pessoal.
apoio [...].
[...]
Não há uma resposta única para a questão. O importante é que, nas res-
Doxing ou doxxing é o ato de publicar informações pri- postas, os alunos demonstrem ter refletido sobre alguns destes pontos:
os reflexos linguísticos da influência cultural e tecnológica dos EUA;
vadas ou que identifiquem um indivíduo sem a sua permis- a necessidade de criar nomes para práticas que surgiram no mundo
são. Pode incluir nomes completos, endereços, números de digital; a possibilidade (nem sempre adotada) de aportuguesar pronúncias
estrangeiras.
telefone, fotos etc. Doxing é um exemplo de [...] informação
correta compartilhada publicamente para causar dano.
Encriptação (encryption) é o processo de codificar Aula 2

dados para que sejam interpretados apenas pelos desti- 4 Leia o seguinte excerto do artigo “A arte de manipular
multidões”.
natários desejados. Muitos serviços populares de mensa-
gens, como o WhatsApp, encriptam textos, fotos e vídeos [...]
enviados por usuários. Isso evita que governos leiam ou
A pós-mentira
interceptem mensagens de WhatsApp e que jornalistas
tentem monitorar [...] desinformações compartilhadas na Hoje em dia tudo é verificável e, portanto, não é fá-
plataforma. cil mentir. Mas essa dificuldade pode ser superada com
dois elementos básicos: a insistência na asseveração fal-
[...]
sa, apesar dos desmentidos confiáveis; e a desqualifica-
Trollagem (trolling) é o ato deliberado de postar con- ção de quem a contradiz. E a isso se soma um terceiro
teúdo ofensivo e exaltado numa comunidade on-line com
fator: milhões de pessoas prescindiram dos intermediá-
a intenção de provocar leitores ou interromper uma con-
rios de garantias (previamente desprestigiados pelos
versa. Hoje, o termo troll é mais usado para se referir a uma
enganadores) e não se informam pelos veículos de co-
pessoa que assedia ou insulta outras on-line. Mas também
municação rigorosos, mas diretamente nas fontes mani-
descreve contas controladas por humanos que desempe-
puladoras (páginas de internet relacionadas e determi-
nham atividades semelhantes a bots. [...]
nados perfis nas redes sociais). A era da pós-mentira fica
WARDLE, Claire. Pesquisa de Grace Greason, Joe Kerwin e Nic Dias. Glossário essencial
da desinformação, julho 2018. Disponível em: https://www.manualdacredibilidade.com.
assim configurada.
br/glossario-da-desinformacao. Acesso em: 10 mar. 2021.
[...]

18
4. Para reforçar a percepção da turma sobre os prefixos, procure citar outros vocábulos formados por afixos semelhantes (por exemplo, ao analisar reagem, reconquistar,
refazer, rever, etc.)
Essa questão visa explorar a sensibilidade linguística dos alunos, para que percebam que a identificação de um prefixo pressupõe correlacionar forma e significado: em
insistência, os fonemas que iniciam a palavra têm forma semelhante à do afixo in-, porém não se trata do prefixo, que expressaria negação. Vale mostrar que, embora a
maior parte das palavras iniciadas por in- seja negativa e derivada por prefixação (indiscutível, inimaginável, incoerente), não se trata de uma regra categórica (como se
pode notar em inseto, indústria, indígena, por exemplo).

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

A tecnologia permite hoje manipular digitalmente qualquer documento (incluindo as imagens), e isso avaliza que se indi-
que como suspeitos os que reagem com dados certos diante das mentiras, porque suas provas já não têm valor de fato.
GRIJELMO, Alex. A arte de manipular multidões. El País, 28 ago. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html.
Acesso em: 10 mar. 2021.

No excerto, o autor recorre ao neologismo pós-mentira para caracterizar estratégias de desinformação da atualidade. O
processo de formação que deu origem ao termo pode ser identificado também nas palavras seguintes, exceto em:
a) insistência.
b) desmentidos. des-
c) contradiz. contra-
d) intermediários. inter-
e) reagem. re-

Leia o seguinte fragmento sobre o lançamento do livro Novo jogo, velhas regras para responder às questões 5 e 6.

Brasil viveu “utopia” de que internet seria democratizante, diz pesquisador


Em livro lançado nas eleições, Francisco Brito Cruz faz diagnóstico sobre o direito na era das fake news
A legislação eleitoral não acompanhou as transformações do consumo de mídia da última década e precisa ser repen-
sada sob a lógica das redes, em que qualquer cidadão vira um potencial influenciador digital de campanha e elementos
como automação e uso de dados pessoais entram com força no jogo democrático.
Francisco Brito Cruz, doutor em filosofia e teoria geral do direito pela USP, defende essa e outras ideias no livro Novo
jogo, velhas regras (ed. Letramento, 457 págs., R$ 79), que aborda o direito na nova era da propaganda política e das
fake news.
Com prefácio de Fernando Henrique Cardoso, a obra foi lançada durante as eleições municipais deste ano. O pesqui-
sador faz um amplo resgate da comunicação política — da dominância da TV nos anos 1990 até sua conversão digital a
partir de 2010 —, pontuando problemas contemporâneos como desinformação, polarização e microdirecionamento de
conteúdo. [...]
SOPRANA, Paula. Folha de S.Paulo. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/12/brasil-viveu-utopia-de-que-
internet-seria-democratizante-diz-pesquisador.shtml. Acesso em: 10 mar. 2021.

5 Considerando sua função gramatical, é correto o que se afirma sobre o sufixo destacado em:
5. a) O sufixo -nte forma substantivos ou adjetivos com
a) “democratizante”: formador de adjetivos com base em substantivos. base em verbos (atenuante, insistente, etc.).
b) O sufixo -or (também nas formas -dor ou -tor) forma
b) “pesquisador”: formador de adjetivos com base em substantivos. substantivos e adjetivos com base em verbos (cantor,
jogador, amador, etc.).
c) “eleitoral”: formador de adjetivos com base em verbos. c) O sufixo -al forma adjetivos com base em substantivos
(regional, final, etc.).
d) “transformações”: formador de substantivos com base em verbos. d) O sufixo -ção é produtivo na formação de substantivos
deverbais (alegação, reclamação, inovação, etc.).
e) “democrático”: formador de substantivos com base em verbos. e) O sufixo -ico é formador de adjetivos (básico, cênico,
biológico, etc.).
6 Analisando os processos de formação dos vocábulos em destaque, é correto afirmar que:

a) o termo acompanhou foi formado segundo o mesmo processo que gerou o vocábulo desinformação.
MîDULO 1 - FORMAÇÃO DE PALAVRAS

b) influenciador e pesquisador expressam características subjetivas, pois contêm sufixo formador de adjetivos deverbais.

c) fake news é um empréstimo linguístico, que pode ser substituído por “falsas notícias” sem produzir qualquer alteração
ANÁLISE LINGUÍSTICA

semântica.

d) desinformação e polarização são neologismos formados pelos mesmos processos de derivação prefixal e sufixal.

e) no neologismo microdirecionamento, o prefixo utilizado remete ao grau de especificidade com que se pode atingir um
público específico.
6. a) Em desinformação, prefixo e sufixo não ocorrem simultaneamente. d) Apenas em desinformação ocorre derivação prefixal, e só esse termo é neologismo.
b) Os sufixos formam termos deverbais, porém não ocorre a subjetividade mencionada. e) No primeiro parágrafo, o excerto menciona “automação e uso de dados pessoais”. 19
c) A expressão fake news assume um significado específico, que seria perdido Com isso, pode-se inferir que o neologismo se refere a um direcionamento de infor-
com a substituição. mação minuciosamente calculado em função do público-alvo.
7. a) A questão cria uma boa oportunidade para retomar, de forma contextualizada,
o conceito de radical (morfema que guarda o sentido essencial de termos
cognatos).
b) Essa questão permite discutir a necessidade de sermos cuidadosos quando
analisamos a origem das palavras: sem consultar fontes seguras, inferências
equivocadas podem assumir ares de realidade.

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S
Aula 3
7 As redes sociais impulsionaram recentemente uma análi- safras, no mesmo ano e no mesmo local, durante a estação
se etimológica equivocada da palavra aluno: em sua ori- chuvosa da região. Uma beleza, não é? Seria, se o desma-
gem latina, o termo significaria “sem luz”, motivo pelo qual tamento não estivesse encolhendo a janela de tempo na
deveria ser evitado. O fragmento seguinte foi escrito em qual é possível plantar.
resposta a essa formulação.
Essa é a principal conclusão de dois estudos publicados
[...] Aluno veio do latim alumnus, “criança de peito,
por pesquisadores da UFV (Universidade Federal de Viçosa,
lactente, menino” e, por extensão de sentido, “discípulo”.
em Minas Gerais), junto com colegas de outras instituições
O verbo ao qual se liga é alere, “fazer aumentar, nutrir, ali-
do Brasil e do exterior. As análises se somam a uma massa
mentar”. Uma consulta simples a qualquer dicionário eti-
cada vez maior de dados que mostram que existe um elo im-
mológico resolveria a questão. [...]
portantíssimo entre a presença da floresta e a robustez das
RODRIGUES, Sérgio. Aluno não quer dizer “sem luz”. Sem luz é quem diz isso.
Veja, 31 jul. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/ chuvas que viabilizam boa parte do agronegócio do país.
aluno-nao-quer-dizer-sem-luz-sem-luz-e-quem-diz-isso/.
Acesso em: 10 mar. 2021. [...]

Dicion‡rio etimol—gico: dicionário que descreve a origem das palavras. Enquanto isso, porém, representantes da banda mais
bovina do setor assistem enlevados a palestras de um dos
Considerando o fragmento e o erro que ele contesta, for-
mais notórios negacionistas do clima do Brasil, segundo o
mule uma hipótese para explicar a origem da análise equi-
vocada. Em sua resposta, mencione razões de dois cam- qual não haveria relação alguma entre florestas e chuva. (Re-
pos dos estudos linguísticos: cuso-me a mencionar o nome do esconjurado neste espaço,

a) uma razão semântico-gramatical. nem que seja pelo princípio de que diminuem as chances
de o Capeta aparecer quando evitamos chamá-lo.) [...]
Em uma série de vocábulos, o fonema a funciona como prefixo,
LOPES, Reinaldo José. Folha de S.Paulo, 12 jan. 2020. Disponível em: https://www1.folha.
uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2020/01/desmate-diminui-chuva-na-amazonia-
expressando ausência (como em anormal ou amoral). Soma-se a isso
e-ameaca-segunda-safra-anual-na-regiao.shtml?origin=folha.
Acesso em: 10 mar. 2021.
a semelhança formal entre lun e o radical presente em termos como

luminoso, luminosidade e no próprio substantivo luz. Desse modo,


8 No título do artigo, é utilizado o termo desmate e, no
tais semelhanças pareciam abonar a análise do termo, que se mostra primeiro parágrafo, seu sinônimo desmatamento. Com-
parando os vocábulos:
etimologicamente incorreta.
a) identifique uma semelhança e uma diferença em seus
processos de formação.
b) uma razão semântico-discursiva.
Os dois termos têm uma base semelhante, o verbo desmatar. Apesar
Espera-se que seja reconhecida a existência de práticas escolares que

ignoram conhecimentos prévios dos estudantes. Esse dado de disso, cada substantivo foi formado por um processo diferente: desmate

realidade levou à inferência – linguisticamente equivocada – de que o se forma por derivação regressiva e desmatamento, por derivação sufixal.

substantivo aluno traduziria uma visão de mundo segundo a qual os

estudantes devem ser passivamente “iluminados” pelos mestres. b) formule uma hipótese que possa justificar a preferência
por um dos termos em detrimento do outro.

Leia o excerto seguinte de um artigo de opinião para res- Para justificar a preferência por desmatamento, pode-se recorrer à
ponder às questões 8 e 9.
tradição normativa, pois o substantivo desmate não é registrado pelos
Desmate diminui chuva na Amazônia e ameaça
principais dicionários.
segunda safra anual na região
Graças aos meses de chuva dá para plantar soja, co- Para justificar a preferência por desmate, pode-se argumentar que, sendo
lhê-la e ainda obter uma colheita de milho
um termo mais breve, o vocábulo tem sido utilizado na elaboração de
Um dos motivos que transformaram a agricultura
praticada no sul da Amazônia numa potência nacional e títulos mais curtos. Cabe considerar ainda que, em textos sobre temas
internacional é a possibilidade de colher e plantar duas
ambientais, o termo evita a repetição do vocábulo desmatamento.

20
10. a) O neologismo SARS-Cov-2 é um termo técnico, portanto não é exemplo de
variante popular.
c) Na formação do termo, há composição por justaposição de substantivos
formados por siglas.
d) O termo feique é uma grafia aportuguesada do empréstimo linguístico fake.
Não se trata de composição por aglutinação.
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

9 Analise o verbete seguinte do dicionário digital Michaelis. [...]


Mas a feique mais caprichada é a que tem um cara que
Reprodução/Michaelis

diz que é o Tasuku Honjo, japonês que ganhou o Nobel de


Medicina em 2018. O sujeito conta que trabalhou em um
laboratório em Wuhan e sabia que o SARS-Cov-2 estava
sendo desenvolvido lá. O Honjo verdadeiro já desmentiu
tudo, mas quem é que lê desmentido? [...]
TORERO, José Roberto. Meu zap-zap recebe um monte de feiquenius sobre covid. E elas
são ótimas!. Rede Brasil Atual, 1 dez. 2020. Disponível em: https://www.redebrasilatual.
com.br/blogs/diario-do-bolso/2020/12/meu-zap-zap-recebe-um-monte-de-feiquenius-
sobre-covid-e-elas-sao-otimas/. Acesso em: 4 jan. 2021.

A renovação do léxico é um fenômeno presente nas lín-


guas ao longo de sua história. Com base no fragmento
lido, tal processo pode ser exemplificado:
a) com termos exclusivos da fala popular, originados por
meio de empréstimos linguísticos.
b) com os termos compostos “zap-zap” e “feiquenius”,
cuja grafia imita pronúncias populares.
c) com o termo técnico SARS-Cov-2, composto pela aglu-
tinação de substantivo e adjetivo.
d) com o substantivo feique, formado por aglutinação
Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=esconjurar. para mimetizar a variante não culta.
Acesso em: 10 mar. 2021.
e) com termos técnicos e suas respectivas variantes po-
pulares, reflexo da baixa escolaridade dos falantes.
Considerando o uso do termo esconjurado no 3º parágra-
fo do excerto da questão anterior: 11 Leia o excerto seguinte, extraído do artigo “O que é info-
a) identifique de que acepção do verbo esconjurar o ter- demia e como você pode sobreviver a ela”.
mo se aproxima. [...]

O termo se aproxima da acepção 4. A infodemia é definida pela OMS como um “dilú-


Esta questão propicia reforçar que o significado é construído contextualmente, vio de informações – precisas ou não – que dificultam
dada a polissemia original do termo esconjurado. No texto, como foi utilizado para
o acesso a fontes e orientações confiáveis”. Não é um
referir-se pejorativamente a alguém, infere-se que é sinônimo de “amaldiçoado”.
fenômeno novo, como explicou Sylvie Briand, arquiteta
da estratégia da OMS [Organização Mundial de Saúde]
b) descreva o processo de formação do vocábulo.
para combater o risco infodêmico, em entrevista a The
Lancet. “Sabemos que todo surto será acompanhado por
A forma verbal de particípio, esconjurado, é convertida em
um tipo de tsunami de informação, mas também, dentro
substantivo por derivação imprópria. dessas informações, você sempre tem desinformação,
boatos etc. Sabemos que mesmo na Idade Média havia
esse fenômeno.”
[...] O Grupo de Pesquisa sobre a Sobrecarga da Infor-
Aula 4 mação (Information Overload Research Group – IORG)
10 Leia o excerto seguinte. afirma que o fenômeno é resultado da combinação de três
MîDULO 1 - FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Diário, todo dia o meu zap-zap recebe um monte de fatores: o excesso, a baixa qualidade da informação e a fal-
feiquenius sobre covid. E elas são ótimas! Coisa profissio- ta de tempo. [...]
nal mesmo. OLIVEIRA, Débora. O que é infodemia e como você pode sobreviver a ela. Jornal do
ANÁLISE LINGUÍSTICA

Commercio, 11 jun. 2020. Disponível em: https://jc.ne10.uol.com.br/


Por exemplo, hoje eu recebi o vídeo que tem um médi- brasil/2020/06/5612170-o-que-e-infodemia-e-como-voce-pode-sobreviver-a-ela.html.
co italiano chamado Roberto Petrella dizendo que a pan- Acesso em: 10 mar. 2021.

demia faz parte de um plano internacional para matar 80% Considerando o fragmento anterior e outros conhecimen-
da população do planeta. tos do seu repertório, responda ao que se pede.

21
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

a) Relacione os conceitos infodemia e desinformação.

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde, infodemia é um “dilúvio de informações – precisas ou não – que dificultam o acesso a fontes e

orientações confiáveis”. Como nesses contextos multiplicam-se também as informações enganosas, pode-se afirmar que a desinformação é parte da infodemia.

b) Explique o processo de formação da palavra infodemia e por que o termo assume conotação negativa.

O processo de formação do termo infodemia é de composição por aglutinação, com base nos termos informação e epidemia. Com essa origem, o vocábulo

relaciona o excesso de informação a uma enfermidade, do que decorre sua conotação negativa.

É possível tratar o termo como uma palavra-valise, porém o fundamental é que a turma perceba a fusão das bases na formação do termo.

12 Utilize o quadro seguinte para revisar os processos de formação de palavras. Anote nele ao menos um exemplo de cada um
dos processos.

d. prefixal desfazer, anormal, incompleto

com afixos d. sufixal combinação, alinhamento, felizmente

d. parassintética enturmar, alinhar, esclarecer


Derivação

d. imprópria/conversiva Ela cantou bonito.

sem afixos

Processos d. regressiva o avanço, o recuo, o retorno


de formação

por justaposição guarda-roupa, cheiro-verde, paraquedas

Composição

por aglutinação aguardente, planalto, embora

PREPARE-SE

Na aula seguinte, retomaremos o estudo das formas verbais. Para iniciar seu estudo e suas reflexões sobre
o tema, recolha exemplos do tempo verbal presente em títulos de notícias atuais, buscando identificar se-
melhanças e diferenças entre os exemplos coletados.

22
Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:
Aula 1: objetivo 1 Aula 2: objetivo 2 Aula 3: objetivo 3 Aula 4: objetivo 4

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Análise linguística – Capítulo 1: Formação de palavras

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia o item 1 da seção Neste • Leia o item 1 do Capítulo 1. • Faça a questão 7 do


módulo. Capítulo 1.
1 • Faça as questões 4 a 6 do
• Faça as questões 1 a 3 do Capítulo 1.
Capítulo 1.

• Leia o item 2 da seção Neste • Leia o item 2 do Capítulo 1. • Faça as questões 14 e 15 do


módulo. Capítulo 1.
2 • Faça as questões 11 a 13 do
• Faça as questões 8 a 10 do Capítulo 1.
Capítulo 1.

• Leia o item 3 da seção Neste • Leia o item 3 do Capítulo 1. • Faça as questões 22 e 23 do


módulo. Capítulo 1.
3 • Faça as questões 19 a 21 do
• Faça as questões 16 a 18 do Capítulo 1.
Capítulo 1.

• Leia o item 4 da seção Neste • Leia o item 4 do Capítulo 1. • Faça a questão 30 do


módulo. Capítulo 1.
4 • Faça as questões 27 a 29 do
• Faça as questões 24 a 26 do Capítulo 1.
Capítulo 1.

EX TRAS!
Aula 1
1 a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras.
b) uma nova realidade limitando o aparecimento de novas
Texto I
palavras.
Um ato de criatividade pode contudo gerar um mode-
lo produtivo. Foi o que ocorreu com a palavra sambódro- c) a apropriação inadequada de mecanismos de criação
mo, criativamente formada com a terminação -(ó)dromo de palavras por leigos.
(= corrida), que figura em hipódromo, autódromo, cartó- d) o reconhecimento da impropriedade semântica dos
dromo, formas que designam itens culturais da alta bur- neologismos.
guesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas e) a restrição na produção de novas palavras com o radi-
populares como rangódromo, beijódromo, camelódromo. cal grego.
AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.
2
Texto II
Existe coisa mais descabida do que chamar de sam- Retrato do artista quando coisa
bódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? A menina apareceu grávida de um gavião.
Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de cor- Veio falou para a mãe: o gavião me desmoçou.
rida”, daí as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, A mãe disse: Você vai parir uma árvore para a gente
às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada comer goiaba nela.
MÓDULO 1 - FORMAÇÃO DE PALAVRAS

a correr para não perder pontos, mas não se desloca com E comeram goiaba.
a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1. Naquele tempo de dantes não havia limites para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o poder de
ANÁLISE LINGUÍSTICA

GULLAR, F. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012.

Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Em- alçar.


bora o Texto II apresente um julgamento de valor sobre a Se a gente falasse a partir de um córrego a gente pe-
formação da palavra sambódromo, o processo de forma- gava murmúrios.
ção dessa palavra reflete: Não havia comportamento de estar.

23
EXTRAS!

Urubus conversavam sobre auroras. Texto II


Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis. BACURALIZAR
Depois veio a ordem das coisas e as pedras verbo transitivo direto
têm que rolar seu destino de pedra para o resto dos 1. autogovernar-se em comunidade, fazer a própria
tempos. gestão dos recursos e serviços que deveriam ser ofereci-
Só as palavras não foram castigadas com dos pelo estado, sem a ajuda de empresas ou de parcerias
a ordem natural das coisas. público-privadas.
As palavras continuam com seus deslimites. 2. entricheirar-se em suas comunidades como forma
BARROS, M. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998.
de defesa à máquina de matar do estado.
Adaptado do Instagram de Lia de Itamaracá. Disponível em: https://www.insta7zu.com/
No poema, observam-se os itens lexicais desmoçou e tag/LiaDeltamaraca. Acesso em: 20 out. 2019.
deslimites. O mecanismo linguístico que os originou cor-
responde ao processo de: a) Explique por que bacuralizar é um neologismo e qual
é o processo de formação dessa palavra.
a) estrangeirismo, que significa a inserção de palavras de
outras comunidades idiomáticas no português. b) Considere as informações sobre o enredo do filme Ba-
curau presentes no Texto I e sobre o papel do Estado
b) neologismo, que consiste na inovação lexical, usada
na vida da comunidade no Texto II. A partir dessas in-
para o refinamento estilístico do texto poético.
formações, crie um exemplo do uso de bacuralizar para
c) arcaísmo, que expressa o emprego de termos produti- cada acepção da palavra registrada no Texto II.
vos em outros períodos históricos do português.
d) brasileirismo, que significa a inserção de palavras es- 4 (UFRJ) Texto para a questão. Aula 4 (processos: composição)

pecíficas da realidade linguística do português. Os diferentes


e) jargão, que evidencia o uso profissional de palavras Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha
específicas de uma área do léxico do português. de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça
para baixo e tem vida organizada.
3 (Unicamp-SP) Aula 2 (processos: derivação)
É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito
Texto I sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não
Em Bacurau, vilarejo fictício no meio do nada que re- perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do
cebe o nome de um pássaro “brabo” de hábitos noturnos, mundo. E o que eles dizem com os pés dá a impressão de
o sertão é também o centro do país. Bacurau cheira a mor- serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
te. A primeira sequência do longa é a passagem de um Uma comissão de cientistas europeus e americanos
caminhão-pipa que atropela caixões pelo caminho. No estuda a linguagem desses homens e mulheres, não ten-
povoado isolado, mas hiperconectado à internet, os mo- do chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns pro-
radores, com uma grande variedade de gêneros, raças e fessores tentaram imitar esses nativos e foram recolhidos
sexualidades, vivem sem água e escondem-se quando o ao hospital da ilha. Os cabecences-para-baixo, como foram
prefeito em campanha pela reeleição chega para distri- denominados à falta de melhor classificação, têm vida lon-
buir mantimentos vencidos, e despejar livros velhos em ga e desconhecem a gripe e a depressão.
frente à escola local. Aí já começa a resistência: em meio ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150.
à penúria, os moradores organizam-se e ajudam-se entre
No texto, identifica-se o povo da ilha de Ossevaolep por
si. Quando o vilarejo literalmente desaparece dos mapas um neologismo: cabecences-para-baixo.
digitais e a comunidade perde a conexão com a internet,
a) Identifique os processos de formação de palavras uti-
a presença de forasteiros coincide com o misterioso apa-
lizados para a criação desse neologismo.
recimento de cadáveres crivados à bala e Bacurau vive
b) Considerando o conhecimento que os observadores
uma carnificina.
têm do povo de Ossevaolep, responda: por que se afir-
[Adaptado de] Oliveira, Joana. “Em ‘Bacurau’, é lutar ou morrer no sertão que espelha o
Brasil”. El País. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/20/
ma, no texto, que o neologismo foi criado “à falta de
cultura/1566328403_365611.html. Acesso em: 20 out. 2019. melhor classificação”?

24
2 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Verbo: presente e imperativo

Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 5 e 6).


COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: Identificar formas verbais do presente, diferenciando extensões durativas e distinguindo
COMPETÊNCIA 1
os modos indicativo e subjuntivo. (Aula 5)
EM13LP02
. Objetivo 2: Reconhecer formas verbais do modo imperativo, compreendendo seu papel na interlocu- EM13LP06
ção e distinguindo variantes padrão e não padrão. (Aula 6)
EM13LP07

COMPETÊNCIA 4
EM13LGG401
Neste módulo
EM13LGG402
Aula 5 EM13LP10

1 Presente: nuances semânticas Ponto de partida:


Aula 5
O momento da enunciação e a duração dos eventos Para começar o estudo
Em seu sentido literal, as formas verbais do presente coincidem com o momento da enunciação, mas dos tempos verbais, dife-
renciando-os do tempo
os eventos expressos podem ter diferentes extensões no tempo. cronológico, você pode
perguntar: “Quanto tem-
Momento da po dura o presente?”.
Com base nesse ques-
enunciação tionamento, pode-se
conduzir um trabalho
investigativo, conforme
sugerido no Caderno do
Professor.
Pontual Contínuo Habitual

Agora são 8 h. Gil mora na Bahia. Toda manhã bebo café.

Usos não literais das formas de presente


As formas do presente podem ser usadas em sentido não literal para expressar outros tempos: passa-
do e futuro.

Presente como passado (presente histórico)


Formas do presente conferem efeito de atualidade a eventos do passado.
MÓDULO 2 - VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO
Reprodução/O Globo

ANÁLISE LINGUÍSTICA

Disponível em: https://oglobo.globo.com/


sociedade/ciencia/policia-alema-apreende-
60-fosseis-de-animais-brasileiros-que-seriam-
vendidos-ilegalmente-em-leilao-on-
line-24753115. Acesso em: 10 mar. 2021.

25
A notícia se refere a uma apreensão de fósseis que já havia ocorrido; verbo no presente (apreende em
vez de apreendeu) cria efeito de atualidade.

Presente como futuro


Elementos contextuais permitem inferir que o evento expresso pelo verbo no presente ocorrerá após
o momento da enunciação.

Reprodução/Folha de S.Paulo
Disponível em: https://acervo.folha.com.br/digital/leitor.do?numero=49430&anchor=6428039&_ga=
2.158908410.1531407365.1612626917-1172172174.1600034045&_mather=f6bc42924a06861f&pd=
51cac2bfe82790761891a4d90a7c204d. Acesso em: 10 mar. 2021.

A notícia, publicada em uma manhã de domingo, chamava a atenção dos leitores para um evento
esportivo que aconteceria horas mais tarde. A forma verbal fazem (em vez de farão) confere atualidade e
credibilidade à informação.

Presente do indicativo e presente do subjuntivo


O tempo presente pode ocorrer em dois dos modos verbais: o indicativo e o subjuntivo.

Presente do indicativo
O enunciador adota o indicativo para se comprometer com o valor de verdade do enunciado: o
evento é expresso como algo real, como é possível identificar, por exemplo, no ditado popular:
Camarão que dorme a onda leva.
No ditado popular, as ações dorme e leva são tratadas como eventos reais. Usa-se o presente do
indicativo.

Presente do subjuntivo
O presente do subjuntivo expressa eventos que, no momento da enunciação, são vistos como irreais:
hipóteses, riscos, possibilidades e desejos são expressos por essas formas verbais. Por exemplo:
Reprodução/Gabi Artz @gabi.artz

ARTZ, Gabriela. Disponível em:


https://www.instagram.com /p/CCpNM2olbH9/.
Acesso em: 11 mar. 2021.

Na fotografia, a frase traz uma forma do subjuntivo mobilizada para expressar um desejo: “que o mar
leve embora”.
26
Gramática do presente do subjuntivo
A desinência que marca o presente no subjuntivo é sempre distinta da que marca o presente do indicativo.
Nos verbos terminados em -ar no presente do indicativo, usa-se a desinência -e- para marcar o subjuntivo;
nos terminados em -er ou -ir, usa-se a desinência -a-. Exemplos:
1) Verbos de primeira conjugação (-ar)

Presente do indicativo (-ar) Presente do subjuntivo (-ar)


A onda leva o banhista. O banhista deseja que a onda o leve.

2) Verbos de segunda conjugação (-er)

Presente do indicativo (-er) Presente do subjuntivo (-er)


A onda bate nas pedras. Talvez a onda bata nas pedras.

3) Verbos de terceira conjugação (-ir)

Presente do indicativo (-ir) Presente do subjuntivo (-ir)


A jovem sorri na praia. É esperado que a jovem sorria na praia.

Aula 6

2 Modo imperativo
Modo imperativo: enunciados diretivos
O uso de formas verbais imperativas pressupõe uma referência direta do enunciador ao enunciatário. Ponto de partida:
Aula 6

© André Dahmer/Acervo do cartunista


Recomendamos iniciar
a aula verificando se,
na variedade linguística
predominante na turma,
utiliza-se ou não o impe-
rativo conforme a norma-
-padrão. Para isso, você
pode apresentar duas for-
mas imperativas (uma da
segunda e outra da ter-
ceira pessoa) e perguntar
qual eles escolheriam em
uma situação cotidiana,
DAHMER, André. Não há nada acontecendo. Folha de S.Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/ informal. Pergunte se
cartum/cartunsdiarios/#19/1/2021. Acesso em: 12 mar. 2021. eles usariam as formas
empresta ou empreste,
corre ou corra, etc.
Na tira, usa-se o modo imperativo para criticar a dinâmica de uma rede social: a forma verbal sorria
reflete a imposição social para aparentar alegria, mesmo que simulada.

Modo imperativo: forma•‹o do imperativo na norma-padr‹o


Conforme a tradição gramatical, pode-se compreender a formação do imperativo com base no pre-
sente do indicativo e no presente do subjuntivo. Com a ajuda do professor, ou recorrendo ao capítulo
teórico, você pode preencher a tabela seguinte e verificar como essa formação ocorre.
Sugerimos que esta ta-
Presente do Imperativo Presente do Imperativo bela seja preenchida com

MîDULO 2 - VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO


os alunos. De preferên-
indicativo afirmativo subjuntivo negativo cia, alterne verbos das di-
ferentes conjugações (1a,
– Que eu – 2a e 3a) para identificar a
alternância das desinên-
(-s) (tu) Que tu Não (tu) cias do subjuntivo (como
em “que eu ame” e “que
(você) Que você Não (você) eu vença”).
ANçLISE LINGUêSTICA

(nós) Que nós Não (nós)

(-s) (vós) Que vós Não (vós)

(vocês) Que vocês Não (vocês)

27
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S
Aula 5
1 Leia os textos seguintes para responder à questão.
Texto I

© Niquel Náusea de Fernando


Gonsales/Acervo do cartunista
GONSALES, Fernando. Folha de S.Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/cartunsdiarios/#7/4/2019.
Acesso em: 12 mar. 2021.

Texto II

Descrença nos políticos é maior obstáculo para eleitor escolher candidato


O Correio conversou com cidadãos para ouvir o que eles mais levam em conta na hora de escolher em quem votar
FORTUNA, Deborah; SANTA RITA, Bruno. Correio Braziliense, 28 maio 2018. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2018/05/28/interna_
politica,684027/descrenca-nos-politicos-e-maior-obstaculo-para-eleitor-escolher-candid.shtml. Acesso em: 12 mar. 2021.

a) Explique a afirmação do personagem no último quadrinho.

Com base na afirmação “Antes não era assim!”, identifica-se uma relação intertextual com os contos de fada: nesse universo narrativo, príncipes são

transformados em sapos, mas voltam à forma original quando se quebra o feitiço. Desse modo, o personagem expressa surpresa com sua situação atual (ficar

“enrugado” quando passa longos períodos submerso), quando a compara com sua forma anterior.

b) Compare o uso do tempo presente no Texto I (fico e acabo) e no Texto II (é e levam).

Em ambos os textos, o presente coincide com o momento da enunciação, porém a duração dos eventos expressos é diferente em cada um deles. Na tirinha, o

personagem se refere a eventos habituais; na notícia, descreve-se um fenômeno contínuo.

2 Leia os textos seguintes.

Texto I Para explicitar a noção de anterioridade, destaque no primeiro parágrafo da notícia as formas verbais foram publicadas e confirmaram.

NASA confirma a existência de água na Lua


Novas observações indicam que o satélite da Terra tem grandes reservas de gelo que poderiam ser essenciais para missões
tripuladas
Em 31 de agosto de 2018, um Boeing 747 abriu uma grande escotilha situada junto à sua cauda em pleno voo, a cerca de
13.000 metros de altitude. A essa distância da superfície da Terra, já é possível observar o espaço com uma clareza impossível
para os telescópios terrestres devido a distúrbios da atmosfera. Após mais de dois anos de análises, as observações feitas na-
quele dia foram publicadas hoje e confirmaram, de forma inequívoca, que existe água na Lua. [...]
DOMINGUEZ, Nuño. El País, 26 out. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-10-26/nasa-confirma-a-existencia-de-agua-na-lua.html.
Acesso em: 12 mar. 2021.

28
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Para justificar a noção de posterioridade, destaque


Texto II a noção de futuro explícita em “se ela aceitar”.

Frank & Ernest, Bob Thaves © 2013 Thaves/


Dist. by Andrews McMeel Syndication
Considerando o contexto em que confirma (Texto I) e aceito (Texto II) ocorrem, tais formas verbais expressam, em relação
ao momento da enunciação:
a) simultaneidade, em ambos os casos.
b) anterioridade e posterioridade, respectivamente.
c) simultaneidade e posterioridade, respectivamente.
d) anterioridade e simultaneidade, respectivamente.
e) anterioridade, em ambos os casos.

3 O texto seguinte é uma nota de divulgação científica publicada na revista Pesquisa Fapesp. Leia-o para responder ao que
se pede.

Incompreendidos tubarões do Recife


Os tubarões que atacam surfistas nas praias da Região Metropolitana do Recife terão seu comportamento investi-
gado por pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), graças a uma verba de R$ 200 mil da
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O projeto, batizado de Protuba, vai capturar tubarões no trecho entre o Porto
de Suape e a Praia do Pina, onde ocorreu a maioria dos 14 ataques com mortes registrados desde 1992. O objetivo é
estudar os ciclos biológicos, os hábitos alimentares e os movimentos migratórios dos animais. Também serão analisa-
dos fatores ambientais que podem ter vínculo com os ataques, como a temperatura e a salinidade da água. O interesse
primordial da pesquisa é o tubarão cabeça-chata, identificado como o principal agressor dos surfistas. Não se conhece
muita coisa sobre essa espécie, mas se acredita que os ataques estejam relacionados à entrada de fêmeas no estuário
para dar cria. “Se pudermos identificar quando ocorre essa fase, na qual as fêmeas se aproximam da praia e ficam mais
agressivas, será mais fácil prevenir os ataques e proteger animais e surfistas”, diz Fabio Hazin, diretor do Departamento
de Pesca da UFRPE e coordenador do Protuba. Também é provável que a onda de ataques tenha a ver com a construção
do Porto de Suape, que mudou a configuração do estuário e pode ter empurrado os tubarões em direção ao Recife. A
pesquisa deve durar dois anos. A intenção do grupo, porém, é transformar a iniciativa num trabalho de monitoramento
permanente da costa.

MîDULO 2 - VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO


Pesquisa FAPESP, maio 2004. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/incompreendidos-tubaroes-do-recife/. Acesso em: 12 mar. 2021.

a) Considerando sua relação com a íntegra do texto, explique o título da nota.

A nota anuncia o início de estudos para entender as razões dos ataques de tubarões a banhistas no Recife. Desse modo, infere-se que atualmente tais animais
ANÁLISE LINGUÍSTICA

são “incompreendidos”, como se afirma no título.

29
4. Adotando o imperativo de 2ª pessoa, teríamos “Vota com moderação”. No contex-
to, também seria possível interpretar tal forma verbal como 3ª pessoa do indicativo
(algo como “O ódio vota com moderação”).

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

b) Identifique o modo verbal das formas sublinhadas e Vai, levanta e anda


justifique seu uso no contexto. Mas eu sei que vai, que o sonho te traz
Coisas que te faz* prosseguir
As formas verbais estão no modo subjuntivo. Em ambos os casos, [...]
recorre-se ao subjuntivo para expressar hipóteses levantadas pelos Irmão, você não percebeu
Que você é o único representante
cientistas, as quais ainda prescindem de confirmação. Segundo o texto,
Do seu sonho na face da terra
apenas “se acredita” que os ataques estejam associados a fêmeas Se isso não fizer você correr, chapa
Eu não sei o que vai
prestes a dar cria. Também se afirma ser “provável” que os episódios
[...]
“tenham a ver com a construção do Porto de Suape”. EMICIDA; LIMA, Rael de. Levanta e anda. In: O glorioso retorno de quem
nunca esteve aqui. 2014.

*Em “coisas que te faz”, a concordância não segue a norma-padrão (“coisas que te
fazem”). Na letra da canção, porém, tal desvio serve de recurso para construir a rima
interna entre “que o sonho te traz” e “coisas que te faz”.

A letra da canção “Levanta e anda” busca exortar o recep-


tor da mensagem a superar suas dificuldades. Tendo isso
em mente, responda ao que se pede.
Aula 6 a) Identifique dois versos em que a exortação é explicita-
4 Leia a charge. da por formas verbais no imperativo. Em seguida, rees-
creva os versos conforme a norma-padrão, consideran-
Hubert/Folhapress

do a forma de tratamento adotada na segunda estrofe.

Trata-se dos versos 3 e 4 da primeira estrofe (“Então levanta e anda,

vai, levanta e anda/ Vai, levanta e anda”). Tais formas imperativas são da

2ª pessoa. Reescrevendo-as conforme o tratamento por “você” (3ª do

singular), teríamos o seguinte: “Então levante e ande, vá, levante e

ande/ Vá, levante e ande”.

HUBERT. Folha de S.Paulo. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/


galerias/nova/1613101255613626-charges-outubro-2018#foto-1613260596977381.
Acesso em: 12 mar. 2021.

Em uma relação paródica com campanhas publicitárias


oficiais, o cartunista faz uma exortação ao público-alvo, b) Comparada ao texto original, a reescrita elaborada no
utilizando o tratamento em 3ª pessoa. No mesmo contex- texto anterior produz os mesmos efeitos? Justifique.
to, se o tratamento fosse mudado para a 2ª pessoa, tal
alteração resultaria em: Não. Podem-se apontar duas perdas com a reescrita: nos versos

a) enfatização dos valores democráticos.


originais, havia uma assonância com a vogal a; ocorre, portanto, um
b) hierarquização entre emissor e receptor.
prejuízo na sonoridade. Além disso, por adotarem a variante popular, os
c) restrição da mensagem ao universo juvenil.
d) dupla possibilidade de leitura da mensagem. versos originais criam efeito de proximidade entre enunciador e

e) normalização do ódio nas relações cotidianas.


enunciatário; com a mudança, perde-se essa estratégia argumentativa.

5 Leia o seguinte fragmento da letra da canção “Levanta e


anda”, de Emicida e Rael.
[...]
Quem costuma vir de onde eu sou
Às vezes não tem motivos pra seguir
Então levanta e anda, vai, levanta e anda

30
Se possível, recomendamos exibir a interpretação de Caetano Veloso do poema,
musicada por Carlinhos Brown. A gravação está no álbum Livro, de 1997, e pode
ser encontrada on-line.

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

6 O excerto a seguir é a estrofe final do poema “O navio negreiro”, do poeta abolicionista Castro Alves (1847-1871). Leia-a para
responder à questão.
Brigue: tipo de embarcação.
[...]
Fatalidade atroz que a mente esmaga! Vagas: ondas.
Extingue nesta hora o brigue imundo Pélago: alto-mar.
O trilho que Colombo abriu nas vagas, Plaga: região.
Como um íris no pélago profundo! Andrada: José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838),
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga patrono da Independência do Brasil.
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Pendão: no contexto do poema, trata-se da bandeira
Andrada! arranca esse pendão dos ares! brasileira, posta no mastro do navio.
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
ALVES, Castro. O navio negreiro. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf. Acesso em: 12 mar. 2021.

Considerando o período histórico em que foi escrito o poema, pode-se afirmar que:
a) a substituição de arranca e fecha por arranque e feche é necessária para adequar o poema à variedade padrão.
b) as formas levantai-vos, arranca e fecha estão flexionadas na 2ª pessoa, remetendo assim ao mesmo referente.
c) as formas imperativas do excerto exemplificam uma variedade histórica em que predomina a 2ª pessoa gramatical.
d) a forma levantai-vos poderia ser substituída por levante-se, tendo em vista o enunciatário a quem se dirige.
e) no verso final, a paráfrase de “fecha a porta” por “não mais abre a porta” manteria a adequação do poema à norma-padrão.

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 5: objetivo 1 Aula 6: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Análise linguística – Capítulo 2: Verbo: presente e imperativo

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia o item 1 da seção Neste • Leia os itens 1 e 2 do • Faça as questões 9 e 10 do


módulo. Capítulo 2. Capítulo 2.
1
• Faça as questões 1 a 4 do • Faça as questões 5 a 8 do
Capítulo 2. Capítulo 2.

• Leia o item 2 da seção Neste • Leia o item 3 do Capítulo 2. • Faça as questões 19 e 20 do


módulo. Capítulo 2.
2 • Faça as questões 15 a 18 do
• Faça as questões 11 a 14 do Capítulo 2.
Capítulo 2.

EX TRAS!
Aula 5 (presente do indicativo)
MÓDULO 2 - VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO
1 (Uerj) Texto para a questão.
Nosso pensamento, como toda entidade viva, nasce para se vestir de fronteiras. Essa invenção é uma espécie de vício de
arquitetura, pois não há infinito sem linha do horizonte. A verdade é que a vida tem fome de fronteiras. Porque essas fronteiras
da natureza não servem apenas para fechar. Todas as membranas orgânicas são entidades vivas e permeáveis. São fronteiras
ANÁLISE LINGUÍSTICA

feitas para, ao mesmo tempo, delimitar e negociar: o “dentro” e o “fora” trocam-se por turnos.
Um dos casos mais notáveis na construção de fronteiras acontece no mundo das aves. É o caso do nosso tucano, o tucano
africano, que fabrica o ninho a partir do oco de uma árvore. Nesse vão, a fêmea se empareda literalmente, erguendo, ela e o
macho, um tapume de barro. Essa parede tem apenas um pequeno orifício, ele é a única janela aberta sobre o mundo. Naquele

31
EXTRAS!

cárcere escuro, a fêmea arranca as próprias penas para preparar o ninho das futuras crias. Se quisesse desistir da empreitada,
ela morreria, sem possibilidade de voar. Mesmo neste caso de consentida clausura, a divisória foi inventada para ser negada.
Mas o que aqueles pássaros construíram não foi uma parede: foi um buraco. Erguemos paredes inteiras como se fôssemos
tucanos cegos. De um e do outro lado há sempre algo que morre, truncado do seu lado gêmeo. Aprendemos a demarcarmo-nos
do Outro e do Estranho como se fossem ameaças à nossa integridade. Temos medo da mudança, medo da desordem, medo
da complexidade. Precisamos de modelos para entender o universo (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso), que foi
construído em permanente mudança, no meio do caos e do imprevisível.
A própria palavra fronteira nasceu como um conceito militar, era o modo como se designava a frente de batalha. Nesse
mesmo berço aconteceu um fato curioso: um oficial do exército francês inventou um código de gravação de mensagens em al-
to-relevo. Esse código servia para que, nas noites de combate, os soldados pudessem se comunicar em silêncio e no escuro. Foi
a partir desse código que se inventou o sistema de leitura Braille. No mesmo lugar em que nasceu a palavra fronteira sucedeu
um episódio que negava o sentido limitador da palavra.
A fronteira concebida como vedação estanque tem a ver com o modo como pensamos e vivemos a nossa própria identidade.
Somos um pouco como a tucana que se despluma dentro do escuro: temos a ilusão de que a nossa proteção vem da espessura da
parede. Mas seriam as asas e a capacidade de voar que nos devolveriam a segurança de ter o mundo inteiro como a nossa casa.
COUTO, Mia. Adaptado de fronteiras.com, 10 ago. 2014.

A exposição do autor confere um caráter universal ao tema das fronteiras. No primeiro parágrafo, a marca linguística que
melhor evidencia esse caráter conferido ao tema é:
a) predomínio dos verbos no presente do indicativo.
b) emprego das aspas como índice de formalidade.
c) destaque de estruturas explicativas diversas.
d) uso de elementos de negação categórica.

2 (Uerj) Texto para a questão. Aula 6 (presente e imperativo)

Natal
Jesus nasceu! Na abóbada infinita No entanto, os reis da terra, pecadores,
Soam cânticos vivos de alegria; Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
E toda a vida universal palpita Vêm cobrir de perfumes e de flores
Dentro daquela pobre estrebaria... O chão daquela pobre estrebaria.

Não houve sedas, nem cetins, nem rendas Sobem hinos de amor ao céu profundo;
No berço humilde em que nasceu Jesus... Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Mas os pobres trouxeram oferendas Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Para quem tinha de morrer na Cruz. Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal!

Sobre a palha, risonho, e iluminado Natal! Natal! Em toda Natureza


Pelo luar dos olhos de Maria, Há sorrisos e cantos, neste dia...
Vede o Menino-Deus, que está cercado Salve, Deus da Humildade e da Pobreza,
Dos animais da pobre estrebaria. Nascido numa pobre estrebaria!

Não nasceu entre pompas reluzentes;


Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes,
Foi para os pobres seu primeiro olhar.
BILAC, Olavo. In: BUENO, Alexei (org.). Olavo Bilac: obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

Vede o Menino-Deus, que está cercado (v. 11)


As formas verbais desse verso modificam a representação do fato relatado, já que nas duas primeiras estrofes predomina o
tempo passado dos verbos.

Explicite o efeito estilístico causado pelo emprego de cada uma dessas formas verbais: uma no modo imperativo e outra no
presente do indicativo.
32
EXTRAS!

3
Descubra e aproveite um momento todo seu. Quando você quebra o delicado chocolate, o irresistível recheio cremoso come-
ça a derreter na sua boca, acariciando todos os seus sentidos. Criado por nossa empresa. Paixão e amor por chocolate desde 1845.
Veja, n. 2.320, 8 maio 2013 (adaptado).

O texto publicitário tem a intenção de persuadir o público-alvo a consumir determinado produto ou serviço. No anúncio,
essa intenção assume a forma de um convite, estratégia argumentativa linguisticamente marcada pelo uso de:
a) conjunção (quando).
b) adjetivo (irresistível).
c) verbo no imperativo (descubra).
d) palavra do campo afetivo (paixão).
e) expressão sensorial (acariciando).

4 (Fuvest-SP) Leia o trecho de uma canção de Cartola, tal como registrado em gravação do autor:
[...]
Ouça-me bem, amor,
Preste atenção, o mundo é um moinho,
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
Vai reduzir as ilusões a pó.

Preste atenção, querida,


De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares, estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés.
CARTOLA, “O mundo é um moinho”.

a) Na primeira estrofe, há uma metáfora que se desdobra em outras duas. Explique o sentido dessas metáforas.
b) Caso o autor viesse a optar pelo uso sistemático da segunda pessoa do singular, precisaria alterar algumas formas verbais.
Indique essas formas e as respectivas alterações.

ANOTAÇÕES

MîDULO 2 - VERBO: PRESENTE E IMPERATIVO


ANçLISE LINGUêSTICA

33
3 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Verbo: pretérito perfeito e


imperfeito
Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 7 e 8).
COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: Diferenciar as formas verbais do pretérito perfeito e do imperfeito, relacionando-as à ex-
COMPETÊNCIA 1
pressão de eventos de forma pontual ou durativa. (Aula 7)
EM13LP02
. Objetivo 2: Reconhecer o papel do pretérito imperfeito do subjuntivo na construção do significado, EM13LP07
bem como suas flexões na norma-padrão. (Aula 8)
COMPETÊNCIA 4
EM13LGG402

Neste módulo
Aula 7
Ponto de partida:
1 Aspecto verbal e construção do significado Aula 7
Para despertar a curio-
Pretérito perfeito e pretérito imperfeito expressam eventos anteriores ao momento da enunciação. A sidade da turma, você
principal diferença entre os tempos está no chamado aspecto verbal (ou seja, na expressão da duração pode levantar esta inda-
gação: “Por que um tem-
dos eventos). po verbal se chama pre-
térito perfeito, e outro,
Pretérito perfeito imperfeito?”. Tendo em
mente o uso dos mes-
Terrores noturnos mos termos em lingua-
gem não especializada, é
Abriu os olhos, pulou da cama, correu até a porta: trancada. natural que surjam hipó-
teses em torno do tema
VIDAL, Paloma. Terrores noturnos. In: FREIRE, Marcelino (org.). Os cem menores contos brasileiros do século. Cotia: Ateliê Editorial, 2004. p. 75. da “perfeição”. Após
analisar as formas ver-
. Tempo: o momento do evento (abriu, pulou, correu) é anterior ao momento da enunciação;
bais e seu funcionamen-
to, você pode explicar
. Aspecto: o evento é apresentado de modo pontual (acabado, concluído).
que perfeito é particípio
de perfazer, desfazendo
então o “mistério”.

Progressão temporal
Em fragmentos narrativos, as formas de pretérito perfeito contribuem para a progressão temporal: ao apre-
sentar pontualmente os eventos, tais verbos estabelecem sua sequenciação. No microconto acima, as formas
do pretérito perfeito (abriu, pulou e correu) estabelecem a progressão cronológica.

Pretérito imperfeito
Abrindo um antigo caderno
Foi que descobri:
Antigamente eu era eterno
LEMINSKI, Paulo. In: Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Você pode usar este
exemplo para confrontar
um momento apresen-
. Tempo: o momento do evento (era) é anterior ao momento enunciação; tado como pontual (des-
cobri), e outro, como
. Aspecto: destaca-se a duração do evento, que pode ser contínuo ou iterativo (frequente, habitual). durativo (era).

34
Evento contínuo: Ele parecia muito feliz naquelas férias de verão.
Evento iterativo, habitual: A cada verão a família conhecia um lugar novo.

Recurso descritivo
Por apresentar os eventos como durativos, o pretérito imperfeito cria o efeito de simultaneidade entre eles.
Por isso ele é utilizado em textos descritivos, expressando características que coexistem.

Aula 8

2 Pretérito imperfeito do subjuntivo: semântica e Ponto de partida:


Aula 8
norma-padrão Para dar sequência ao es-
tudo do pretérito perfeito
e do imperfeito, resgate

Garfield, Jim Davis © 2013 Paws, Inc. All Rights


Reserved/Dist. by Andrews McMeel Syndication
o que a turma se lembra
da aula anterior, especial-
mente da distinção entre
esses tempos verbais.

Na tira, as formas verbais tivesse e salvasse contêm a desinência -sse, marca formal do pretérito
imperfeito do subjuntivo.
O imperfeito do subjuntivo se refere a eventos irreais, sejam eles passíveis ou não de realização.

Formação do pretérito imperfeito do subjuntivo (-sse)


A raiz das formas do pretérito imperfeito do subjuntivo é idêntica à da 3ª pessoa do plural do pretérito per-
feito do indicativo. Por exemplo:

Pretérito perfeito do Pretérito imperfeito do


Verbo
indicativo (3ª pessoa) subjuntivo
Ter Eles tiveram atenção. Se eu tivesse atenção [...]
Ver Eles viram o filme. Se eu visse o filme [...]
Pôr Eles puseram tudo no lugar. Se eu pusesse tudo no lugar [...]
Vir Eles vieram rápido. Se eu viesse rápido [...]

DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S

MîDULO 3 - VERBO: PRETÉRITO PERFEITO E IMPERFEITO


Aula 7
Para responder às questões 1 a 5, leia o excerto do conto pudesse ver10 a casa em que eu entrava11. Naquele tempo
“Era noite de luar”, do escritor brasileiro Rubem Braga vivíamos12 cercados de precauções. O menor descuido era
(1913-1990). a prisão – e as notícias que vinham13 lá de dentro eram14 de
O táxi ia rodando1 devagar pela rua mal iluminada, fazer tremer.
2
para que eu pudesse ir vendo os números das casas. Andei pela calçada. Era uma rua sossegada, em um
3 4 5
Quando vi o 108, mandei parar. Tinha de ir ao 250 e bairro onde antigamente viviam famílias ricas. Agora os
ANÁLISE LINGUÍSTICA

perguntar por dona Judite. Era6 quase certo que não me ricos moravam em outras partes da cidade, e aqueles casa-
seguiam7; de qualquer modo não convinha8 parar o táxi rões envelhecidos, com seus parques de grandes árvores,
9
diante da casa para não chamar a atenção. Tive , além dis- pareciam dormir. Uma vez ou outra passava um auto; de-
to, o cuidado de deixar o carro se afastar sem que o chofer pois o luar aumentava o sossego da rua.

35
2. Entre as formas destacadas, apenas passava assume aspecto frequentativo,
dada sua correlação, no contexto, com o adjunto “uma vez ou outra”.
3.a. Para mostrar que considerou o contexto da narrativa em sua resposta, é im-
1. Esta questão favorece relacionar o aspecto pontual das formas do pretérito portante que o aluno explique por que Marina estava inquieta enquanto olhava
perfeito com seu efeito em textos narrativos. pela janela.
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Apertei a campainha. Uma mulher gorda me disse 2 O pretérito imperfeito é um recurso linguístico
que fosse pelo jardim, ao lado da casa; era uma porta que utilizado para, referindo-se a eventos do passado, desta-
tinha uma escadinha nos fundos. car-lhes o caráter durativo. Essa ideia de duração, porém,
Ao bater, ouvi um rumor lá dentro. Depois senti que pode manifestar-se em diferentes aspectos. No 2º pará-
alguém me espiava pela veneziana, sem dizer nada. Bati grafo do excerto, indicam continuidade e repetição, res-
outra vez. Ouvi ainda uns rumores dentro do quarto e, por pectivamente, as formas verbais destacadas em:
fim, uma voz nervosa: a) “Era uma rua sossegada” e “viviam famílias ricas”.

– Quem é? b) “viviam famílias ricas” e “os ricos moravam em outras


partes da cidade”.
Marina não me havia reconhecido e com certeza esta-
va inquieta. Tranquilizei-a: c) “aqueles casarões envelhecidos [...] pareciam dormir”
e “Uma vez ou outra passava um auto”.
– Sou eu, Domingos.
d) “Era uma rua sossegada” e “aqueles casarões envelhe-
A porta abriu-se.
cidos [...] pareciam dormir”.
Tinha visto Marina poucas vezes, sempre em compa-
e) “Uma vez ou outra passava um auto” e “o luar aumen-
nhia do marido, na rua. Nunca havíamos trocado mais de
tava o sossego da rua”.
duas ou três palavras. Não se podia dizer que fosse bonita,
mas era agradável com seu ar um pouco seco, um pouco 3 Releia a seguinte passagem:
nervoso, e seu jeito de vestir-se com severidade. Agora es- Ao bater, ouvi um rumor lá dentro. Depois senti que
tava diante de mim e não pude deixar de sorrir quando a alguém me espiava pela veneziana, sem dizer nada. Bati
vi metida em um macacão. outra vez. Ouvi ainda uns rumores dentro do quarto e, por
– Trago notícias do Alberto. fim, uma voz nervosa:
Dei o recado que um político solto no dia anterior ha- – Quem é?
via trazido. Alberto mandava dizer que estava bem, que há Marina não me havia reconhecido e com certeza esta-
muito tempo já não o interrogavam, e que não tinha ne- va inquieta.
nhuma esperança de ser libertado tão cedo. Era bom que Considerando o contexto da narrativa:
ela tentasse sair do Rio, onde podia ser presa a qualquer a) explique a relação temporal entre os eventos expressos
momento, e fosse para o Nordeste, onde morava sua famí- pelas formas verbais em destaque.
lia. A viagem de avião ou por mar seria impossível. O me-
lhor era ir de trem até Belo Horizonte e seguir para Alagoas No fragmento, o narrador chega sem avisar à casa de Marina, que,

pelo São Francisco. Havia uma pessoa que podia arranjar


foragida e não sabendo de quem se trata, fica aflita. Nesse contexto,
uma parte do dinheiro, e um endereço em Belo Horizonte
onde talvez conseguisse mais. Era preciso abrir o caixote enquanto ela “espiava pela veneziana” também “estava inquieta”, pela
de livros e queimar um papel que estava dentro das Poe-
preocupação. Ambos os eventos, portanto, estão em relação de
sias de Olavo Bilac. Dei-lhe um número para onde devia
telefonar. simultaneidade.
– Acha que eles vão deixar o Alberto preso muito
tempo? [...]
b) compare a função das formas verbais destacadas à do
BRAGA, Rubem. Era noite de luar. In: Melhores contos. São Paulo:
Global, 2012 [1985]. p. 77. pretérito perfeito, que predomina no excerto.

1 O primeiro parágrafo do conto alterna elementos Nesse contexto, as formas do pretérito perfeito expressam a sequência
descritivos e narrativos, apresentando o contexto geral e
de eventos associados ao narrador-personagem, enquanto aguardava
os eventos pontuais que nele ocorrem. Para demarcar a
progressão temporal entre esses eventos, foram mobili- ser atendido: “ouvi um rumor”, “senti que alguém me espiava”, “bati
zadas as seguintes formas verbais:
a) ia rodando1, pudesse ir vendo2 e tinha de ir5. outra vez”, “ouvi ainda uns rumores”. Já as formas do pretérito imperfeito

b) vi3, mandei4, tive9.


expressam, de modo durativo, o estado de preocupação de Marina,
c) era6, seguiam7, convinha8
que inicialmente apenas espiava, pois “estava inquieta”.
d) tive9, pudesse ver10, entrava11
e) vivíamos12, vinham13, eram14

36
4. No início do excerto, o narrador-personagem afirma que deu um recado de 6. Sugerimos que, antes da exposição teórica, os alunos tentem resolver a
Alberto a Marina. Em seguida, a passagem “Era bom que ela” introduz a série questão com base em suas intuições de falantes do idioma. Após essa primei-
de orientações transmitidas. Nelas, o pretérito imperfeito predomina, situando no ra tentativa, convém sistematizar a flexão do pretérito imperfeito do subjuntivo.
passado esse diálogo (observe que, caso se adotasse o discurso direto, as formas
seriam do presente do indicativo).

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S
Aula 8
Releia o seguinte excerto da narrativa para responder às 6 Nos excertos seguintes, foram suprimidas certas formas
questões 4 e 5. verbais. Nos espaços indicados, reescreva esses verbos,
Dei o recado que um político solto no dia anterior ha- adotando a flexão adequada ao contexto e à norma-
via trazido. Alberto mandava dizer que estava bem, que há -padrão.
muito tempo já não o interrogavam, e que não tinha nenhu- a)
ma esperança de ser libertado tão cedo. Era bom que ela
tentasse sair do Rio, onde podia ser presa a qualquer mo- Pressionado, time de futebol americano aceita
mento, e fosse para o Nordeste, onde morava sua família. A mudar de nome após protestos antirracistas
viagem de avião ou por mar seria impossível. O melhor era

Brian A. Westerholt/Getty Images


ir de trem até Belo Horizonte e seguir para Alagoas pelo São
Francisco. Havia uma pessoa que podia arranjar uma par-
te do dinheiro, e um endereço em Belo Horizonte onde tal-
vez conseguisse mais. Era preciso abrir o caixote de livros e
queimar um papel que estava dentro das Poesias de Olavo
Bilac. Dei-lhe um número para onde devia telefonar.

4 No excerto narrativo, ao recriar um encontro entre


personagens, o enunciador mobiliza uma série de formas
do pretérito imperfeito para:
a) indicar eventos que ocorriam de forma reiterada, como
em “onde podia ser presa a qualquer momento”.
b) relatar acontecimentos que, quando a narrativa é enun-
ciada, continuam desconhecidos por Marina.
c) situar em um momento anterior à sua enunciação as
orientações de Alberto que foram transmitidas à Marina. [...]

d) enfatizar sua concordância em relação às instruções de A pressão para que o time mudasse de nome não é
Alberto, como em “O melhor era ir de trem até Belo nova. Há décadas, a diretoria da equipe é incentivada a
Horizonte”. retirar o termo racista [redskins] e alterar sua marca. Em
e) explicitar a sequência cronológica entre os eventos 2014, senadores americanos chegaram a pedir formal-
narrados, como em “Havia uma pessoa que podia ar- mente que a NFL interviesse no assunto, mas
ranjar uma parte do dinheiro”. nada efetivo foi feito. [...] (intervir)
5 No modo subjuntivo, o pretérito imperfeito se refere a HYPENESS. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2020/07/pressionado-time-
de-futebol-americano-aceita-mudar-de-nome-apos-protestos-antirracistas/.
eventos não realizados. Tendo isso em mente, responda
Acesso em: 16 mar. 2021.
ao que se pede.
a) Identifique as três formas do pretérito imperfeito do b)
subjuntivo presentes no excerto.
Golpe no Instagram promete conta verificada,
Trata-se das formas tentasse, fosse e conseguisse.
mas rouba dados pessoais
[...] A página fraudulenta pede a senha do e-mail:
b) Explique por que tais eventos foram expressos no modo

MîDULO 3 - VERBO: PRETÉRITO PERFEITO E IMPERFEITO


caso o Instagram detecte um acesso suspeito na conta
subjuntivo.
quando o criminoso inserir os dados roubados, ele po-
Nos três casos, as formas se referem a eventos não realizados, porém derá comprovar sua suposta veracidade acessando o
e-mail da vítima.
de maneiras diferentes. As duas primeiras, tentasse e fosse,
Se o criminoso não tivesse os dados de e-mail da
expressam conselhos do personagem Alberto, que o narrador- conta roubada, o Instagram automaticamente trancaria o
ANÁLISE LINGUÍSTICA

suspeito fora do perfil, e permitiria que apenas o usuário


-personagem transmitiu a Marina. Já conseguisse expressa
verdadeiro __ __ __
reouvesse __ __ a conta. [...] (reaver)
possibilidade e dúvida, dada sua correlação com o advérbio talvez.
STIVANI, Mirella. TechTudo, 2 set. 2019. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/
noticias/2019/07/golpe-no-instagram-promete-conta-verificada-mas-rouba-dados-
pessoais.ghtml. Acesso em: 16 mar. 2021.

37
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

c)
Criadora negou acordo milionário com a Netflix; entenda o motivo!
[...] Em uma conversa com a [revista] Vulture, Coel revela que a Netflix fez uma oferta para I May Destroy You em 2017, no
valor de US$ 1 milhão. Coel recusou a oferta do streaming porque a empresa não permitiria que ela retivesse qual-
quer porcentagem dos direitos autorais. [...] (reter)
YAO, Rodrigo. Observatório de Séries. Disponível em: https://observatoriodeseries.uol.com.br/noticias/criadora-negou-acordo-milionario-com-a-netflix-entenda-o-motivo.
Acesso em: 16 mar. 2021.

d)
Anna Calvi fez um grande disco sobre “o tipo de mulher que não é retratado na nossa cultura”. Agora,
vem cantá-lo a Portugal
Se os arranjos de banda tornam o som do disco mais cheio, com o baixo, guitarra e sintetizadores a ganhar espaço e desta-
que, a voz de Anna Calvi está diferente, mais aberta. Capaz de sussurrar mas também gritar, cantar a capella ofegante, afinada
e quase a gemer, Calvi libertou a voz “de forma consciente”, porque queria que ela denotasse “uma expressão selvagem que
se contrapusesse ao que é habitualmente pedido às mulheres: que fiquem em silêncio ou que falem e se compor-
tem de forma bonita e sossegada. Quis que a minha voz não ficasse confinada e pudesse ser selvagem”. [...] (contrapor)
CORREIA, Gonçalo. Observador. Disponível em: https://observador.pt/2018/10/19/anna-calvi-fez-um-grande-disco-sobre-o-tipo-de-mulher-que-nao-e-retratado-na-nossa-cultura-agora-
vem-canta-lo-a-portugal/. Acesso em: 16 mar. 2021.

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 7: objetivo 1 Aula 8: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Análise linguística – Capítulo 3: Verbo: pretérito perfeito e imperfeito

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia o item 1 da seção Neste • Leia o item 1 do • Faça as questões 7 e 8 do


módulo. Capítulo 3. Capítulo 3.
1
• Faça as questões 1 a 3 do • Faça as questões 4 a 6 do
Capítulo 3. Capítulo 3.

• Leia o item 2 da seção Neste • Leia o item 2 do Capítulo 3. • Faça as questões 15 e 16 do


módulo. Capítulo 3.
2 • Faça as questões 12 a 14 do
• Faça as questões 9 a 11 do Capítulo 3.
Capítulo 3.

EX TRAS!
Aula 7 (pretérito imperfeito)
1 (Fuvest-SP)

Às seis da tarde
Às seis da tarde
as mulheres choravam
no banheiro.
Não choravam por isso
ou por aquilo
choravam porque o pranto subia
garganta acima
mesmo se os filhos cresciam

38
EXTRAS!

com boa saúde


se havia comida no fogo
e se o marido lhes dava
do bom e do melhor
choravam porque no céu
além do basculante
o dia se punha Basculante: um tipo de janela.

porque uma ânsia


uma dor
uma gastura Gastura: inquietação
era só o que sobrava nervosa, aflição, mal-estar.
dos seus sonhos.

Agora
às seis da tarde
as mulheres regressam do trabalho
o dia se põe
os filhos crescem
o fogo espera
e elas não podem
não querem
chorar na condução.
COLASANTI, Marina. Gargantas abertas.

a) O texto faz ver que mudanças históricas ocorridas na situação de vida das mulheres não alteraram substancialmente sua
condição subjetiva. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente.
b) No poema, o emprego dos tempos do imperfeito e do presente do indicativo deixa claro que apenas um deles é capaz
de indicar ações repetidas, durativas ou habituais. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente.
Aula 8 (pretérito perfeito × imperfeito)
2 (Unesp-SP) Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à questão.

Poema só para Jaime Ovalle1


Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...

MîDULO 3 - VERBO: PRETÉRITO PERFEITO E IMPERFEITO


– Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.
Estrela da vida inteira, 1993.
1
Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista. Aproximou-se do meio intelectual carioca e se tornou amigo íntimo de Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque
de Hollanda e Manuel Bandeira. Sua música mais famosa é “Azulão”, em parceria com o poeta Manuel Bandeira (Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira).

No poema, Bandeira explora uma espécie de contraste entre os tempos verbais “pretérito perfeito” e “pretérito imperfeito”.
Dos pontos de vista sintático e semântico, que padrão pode ser percebido no emprego desses dois tempos verbais?
ANÁLISE LINGUÍSTICA

39
4 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Pretérito mais-que-perfeito e
tempos do futuro:
progressão temporal
Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 9 e 10).
COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: Identificar progressões temporais determinadas pelo pretérito mais-que-perfeito e pelo
COMPETÊNCIA 1
futuro do pretérito, bem como o valor condicional deste. (Aula 9)
EM13LP02
. Objetivo 2: Reconhecer diferentes noções de posterioridade vinculadas ao futuro do presente, ao EM13LP06
futuro anterior e ao futuro do subjuntivo, assim como as flexões na norma-padrão deste. (Aula 10)
EM13LP07

COMPETÊNCIA 4
EM13LGG401
Neste módulo
EM13LGG402
Aula 9

1 Pretérito mais-que-perfeito: pretérito anterior Ponto de partida:


Aula 9
Para iniciar a discussão

Peanuts, Charles Schulz © 1973 Peanuts Worldwide


LLC/Dist. by Andrews McMeel Syndication
sobre tempos verbais
que se alicerçam em
pontos de referência no
passado e no presente,
você pode começar per-
guntando quem assistiu
ao filme De volta para o
futuro. A partir de uma
noção rápida do enredo
que aborda viagens no
tempo, é possível lançar
as bases dos tempos
verbais que se projetam
de acordo com um refe-
rencial específico. Por
exemplo: o raio que leva-
A correlação entre pretérito mais-que-perfeito (tinham se separado) e pretérito perfeito (perguntaram) rá o protagonista de volta
para 1985 é passado em
é reforçada pela expressão “Anos mais tarde”: trata-se de um evento anterior e outro posterior, ambos no relação ao ponto inicial do
passado. filme, mas futuro quando
se toma como ponto de
referência o momento
Pretérito Momento de Momento da em que ele chega ao
mais-que-perfeito referência enunciação passado de seus pais.

Evento expresso pelo pretérito Momento em relação ao qual Momento em que o


mais-que-perfeito é anterior a o pretérito mais-que-perfeito enunciado é proferido.
outro momento passado indica anterioridade.
(“passado do passado”).

40
2 Futuro do pretérito: duplo referencial

Grand Avenue (Xodós da Vovó), Steve Breen © 2019 Mike


Thompson/Dist. by Andrews McMeel Syndication for UFS
O futuro do pretérito (poderia saber) indica um evento futuro em relação a comprou e perdeu, mas
passado em relação ao momento de enunciação (aquele em que o garoto está resolvendo o problema de
matemática).

Momento de Futuro do Momento da


referência pretérito enunciação

Momento em relação ao qual Evento expresso pelo Momento em que o


o futuro do pretérito indica futuro do pretérito é posterior enunciado é proferido.
posterioridade. a outro momento passado
(“futuro do passado”).

Outro uso muito comum do futuro do pretérito é a indicação de eventos condicionais, prováveis, hi-
potéticos. Esse sentido não literal costuma contar com contextos específicos, como outros verbos no
pretérito imperfeito do subjuntivo. Por exemplo:
Se ferradura trouxesse sorte, burro não puxaria carroça.
O valor hipotético do futuro do pretérito (puxaria) é apoiado, aqui, pelo pretérito imperfeito do sub-
juntivo (trouxesse), além da conjunção condicional (se).

MÓDULO 4 - PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


Baldo, Cantú & Castellanos © 2017 Baldo Partnership/Dist.
by Andrews McMeel Syndication

Como o primeiro quadrinho estabelece o pressuposto de que não há um monte de dinheiro, os verbos
no futuro do pretérito (poderia comprar e faria) são interpretados como indicadores de eventos hipotéti-
cos, condicionados à disponibilidade de muito dinheiro.
ANÁLISE LINGUÍSTICA

41
Aula 10
Ponto de partida:
3 Futuro do presente: posterioridade Aula 10
Esta aula sobre futuros
pode ser iniciada com

Garfield, Jim Davis © 2004 Paws, Inc. All Rights


Reserved/Dist. by Andrews McMeel Syndication
uma provocação que
faça com que os alunos
projetem sua existên-
cia para diferentes mo-
mentos posteriores ao
presente: “O que você
imagina estar fazendo
daqui a 5 anos?; E daqui
a 50 anos?; Como você
imagina nossa socieda-
de daqui a 100 anos?”.
A intenção, para cada
uma dessas perguntas,
é criar contextos que evi-
denciem o futuro do pre-
As formas verbais conjugadas no futuro do presente (vão fazer e vai ser, equivalentes a farão e serão) sente, o futuro anterior e
o futuro do subjuntivo,
indicam eventos posteriores ao momento da enunciação, aquele em que John faz a pergunta para seu gato respectivamente.
Garfield.
O futuro do presente composto, também chamado futuro anterior, localiza um evento como posterior
ao momento da enunciação, mas anterior a outro, mais posterior. Por exemplo:
As projeções demográficas indicam que a população brasileira será de cerca de 165 milhões de pes-
soas em 2100, mas terá atingido seu pico em 2050, com 235 milhões de habitantes.
O futuro anterior (terá atingido) se localiza entre o momento de enunciação da frase e o futuro do
presente (será). Em outros termos, temos: momento atual ñ futuro anterior (2050) ñ futuro do presente
(2100).

Momento da Futuro do presente Futuro do presente


enunciação composto (anterior) simples

Momento em que o O evento é posterior ao Evento posterior ao


enunciado é proferido. momento de enunciação, momento da enunciação.
mas anterior ao do futuro
do presente.

4 Futuro do subjuntivo: uso e norma


Calvin & Hobbes, Bill Watterson © 1990 Watterson/Dist.
by Andrews McMeel Syndication

O futuro do subjuntivo expressa eventos posteriores ao momento da enunciação e sempre se correla-


ciona a outro. Eles vêm inscritos em orações condicionais (“Se a gente pegar o carro”) ou temporais
(Quando a gente pegar o carro).

42
Formação do futuro do subjuntivo
Sejam verbos regulares, sejam irregulares, pode-se recorrer ao pretérito perfeito para confirmar as flexões
no futuro do subjuntivo:
1) Conjugar o verbo primitivo na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito e excluir a terminação -ram;
2) Ao tema obtido, acrescentar o prefixo (se verbo derivado) e as desinências próprias do futuro do
subjuntivo.

Verbo Verbo primitivo Pretérito perfeito (-ram) Presente do subjuntivo (Se eu...)
Conter Ter Eles tive-ram con-tive-r

Intervir Vir Eles vie-ram inter-vie-r

Repor Pôr Eles puse-ram re-puse-r

Para facilitar a análise da progressão temporal estabelecida pelo pretérito mais-que-perfeito,


escolhemos um trecho narrativo, de sentido autônomo. Uma sugestão é mapear no quadro
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S com os alunos a sequência de eventos marcada pelos tempos verbais, a fim de ressaltar o
papel sobretudo do pretérito perfeito e do mais-que-perfeito. É evidente que outros recursos
linguísticos concorrem para a progressão, mas a meta é aumentar a consciência sobre o
Aula 9 papel dos tempos verbais nesse fim.
1 Leia o texto a seguir e responda à questão. Uma das propriedades fundamentais de um texto narra-
[...] tivo é a progressão temporal: os eventos narrados se or-
Muitas vezes, temos medo do poder do outro e por ganizam em relação a noções de antes e depois. Consi-
isso nos retraímos. Muitas pessoas temem o poder de seus derando que os tempos verbais são um dos recursos que
ajudam a tecer a cronologia na narrativa, responda:
chefes, de pessoas de nível social mais elevado, às vezes de
seus próprios pais, maridos e esposas. A primeira grande a) As locuções “se havia mudado” (ref. 1), “tinha entrado”
verdade que temos que aprender é que nós aturamos os (ref. 2) e “tinha dado” (ref. 3) estão conjugadas no pre-
térito mais-que-perfeito do indicativo, indicando ações
déspotas que nós queremos aturar. O poder que alguém
anteriores a outras, todas no passado. Indique os even-
tem sobre mim é uma concessão minha! Explosões de rai-
tos tomados como referência para cada um desses três.
va, ameaças, acusações não revelam poder, mas fraqueza!
Minhas ações são a fonte do poder do outro. A mudança da amiga para a cidade (“se havia mudado”) é anterior à
Certa vez, uma amiga associou-se ao clube de uma
cidade para a qual 1se havia mudado recentemente. Ao sua associação ao clube local (“associou-se ao clube”); a entrada de

começar a frequentá-lo com os filhos, teve algumas sur- uma das crianças com uma mochila (“tinha entrado”) é anterior à ducha
presas desagradáveis. A piscina era cercada por grades
e, antes de usá-la, tinham todos de tomar uma ducha e e à apresentação da carteirinha (“tinha tomado ducha e apresentado

MÓDULO 4 - PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


apresentar as carteiras do clube, embora já tivessem feito
carteirinha”); e a concessão do poder de controle aos funcionários do
isso na portaria. Uma das crianças, que 2tinha entrado com
uma mochila, teve de retornar ao vestiário para despejar clube (“tinha dado [...] o poder”) é anterior à associação ao clube (“Ao

seu conteúdo em um recipiente de plástico transparente,


associar-se ao clube, ou seja, quando se associou ao clube”).
para que os fiscais da piscina pudessem verificar o que es-
tava transportando. Ao voltar à piscina, teve de tomar outra
ducha e apresentar novamente a carteira. Quando alguém
queria tomar refrigerante ou um sorvete, não podia fazê-lo
b) O pretérito mais-que-perfeito pode ser conjugado em sua
dentro do recinto da piscina. Tinha de sair, ir até o bar e vol-
forma simples ou composta, traduzindo diferentes graus
tar depois, repetindo a ducha e a apresentação da carteira. de formalidade. Redija outras formas possíveis para as
Depois de inúteis reclamações a funcionários e à direção, locuções “se havia mudado”, “tinha entrado” e “tinha dado”.
minha amiga decidiu mudar de clube e ficar livre daquela
rotina infernal. Ao associar-se ao clube, sem que soubesse, “Se havia mudado”: tinha se mudado; se mudara.
ANÁLISE LINGUÍSTICA

3
ela tinha dado a seus funcionários e diretores o poder de
“Tinha entrado”: havia entrado; entrara.
controlar seus passos. Bastou sair dele para ficar livre des-
se poder! [...] “Tinha dado”: havia dado; dera.
ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar:
gerenciando razão e emoção. Cotia: Ateliê Editorial, 2005. p. 20-21.

43
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

c) Com base nos sentidos literais do pretérito imperfeito, explica os termos pretérito e futuro que compõem o nome
perfeito e mais-que-perfeito, crie um enunciado em que desse tempo verbal. Com base nesse conceito:
você indique três ações passadas, sendo uma habitual, a) Explique a sequência de eventos anteriores e posteriores
uma pontual e outra anterior à pontual. ao indicado pela locução verbal “poderia levar” (ref. 1),
provando que se trata de futuro do pretérito em sentido
A resposta é livre, porém deve ser balizada pelas noções cronológicas
literal.
dos 3 pretéritos; por exemplo: Na primeira fase do campeonato, o time
Todo o trecho aborda eventos do passado, considerando o momento
jogava mal, porém contratou um novo atacante que mudou o
presente em que o enunciador se encontra. Depois da primeira visita à
desempenho da equipe, graças ao novo patrocínio milionário que
loja de carros, a sequência de eventos é a seguinte: 1) o vendedor
conseguira.
ligou; 2) o carro poderia ser comprado/levado, depois da ligação e do

aceite do comprador, por 40 mil dólares; 3) o enunciador fechou o

negócio.

Em outros termos, temos o seguinte:


2 Leia o texto a seguir e responda à questão. Ligação (ligou, no pretérito perfeito) ñ venda por 40 mil (poderia levar,
no futuro do pretérito) ñ fechamento do negócio (fechei, no pretérito
[...]
perfeito) ñ momento da enunciação dessas lembranças (chama-se, no
A BMW reluzia no estacionamento da loja de carros presente do indicativo).
usados. Embora já tivesse rodado alguns quilômetros, b) No final do primeiro parágrafo, há outro verbo conjuga-
parecia impecável. Só que, por 50 mil dólares, era decidi- do no futuro do pretérito, pagaríamos (ref. 2). É possí-
damente cara demais para mim. Entendo um pouco de vel afirmar que ele também informa um evento futuro
carros usados e, a meu ver, ela valia, no máximo, 40 mil em relação a um ponto de referência no passado? Jus-
dólares. Mas o vendedor não cedeu. Uma semana depois, tifique sua resposta com recursos linguísticos do texto.
quando ele me ligou dizendo que eu 1poderia levar o car-
O futuro do pretérito do verbo pagar não indica a mesma relação
ro por 40 mil, fechei o negócio. No dia seguinte, parei em
um posto de gasolina. O dono do posto veio falar comi- cronológica que foi analisada no item a, pois o contexto sugere o uso
go e me ofereceu 53 mil em dinheiro pelo carro. Recusei,
não literal desse tempo verbal, ligado à noção de probabilidade, de
agradecendo. Somente no caminho para casa é que me
dei conta de quão irracional havia sido meu comporta- hipótese, de condição. Aliás, a conjunção se presente no trecho “se
mento. Eu deveria ter vendido na hora uma coisa que, a
meus olhos, valia no máximo 40 mil e de repente passou fôssemos comprá-la” estabelece a condição que precisa ser atendida

a valer 53 mil depois de se tornar minha. O erro por trás para que o pagamento aconteça. A primeira locução verbal, “poderia
do meu comportamento chama-se efeito de dotação
[endowment effect]. Damos mais valor ao que possuímos levar”, está inserida em um contexto de certeza, de eventos passados

do que ao que não possuímos. Em outros termos: quando


que estão sendo lembrados. Já o verbo pagar participa de um contexto
vendemos alguma coisa, cobramos mais por ela do que
nós próprios 2pagaríamos se fôssemos comprá-la. [...] fictício, probabilístico, que só tem existência se outro evento ocorrer.

Ao que parece, desapegar-se é mais difícil do que acu-


Neste exercício, recomendamos destacar o papel do contexto para a de-
mular. Isso explica não apenas por que entulhamos nossas terminação do sentido literal e não literal do futuro do pretérito. Na primeira
ocorrência, esquematizar a sequência de ações no passado ajuda a cons-
casas de tranqueiras, mas também por que é tão raro que
truir a percepção do valor literal; na segunda, a identificação da conjunção
aficionados por selos, relógios ou obras de arte troquem condicional se é crucial para o valor hipotético.
ou vendam seus objetos de coleção. [...]
DOBELLI, Rolf. A arte de pensar claramente: como evitar armadilhas do pensamento e
3 Texto para a questão.
tomar decisões de forma mais eficaz. Rio de Janeiro: Objetiva. 2014. p. 74-5.
[...]
O futuro do pretérito, em seu uso literal, indica uma ação Imagine um automóvel com um teto verde capaz de fa-
posterior a um ponto de referência no passado, o que zer fotossíntese. No teto, 1haveria uma fina camada orgânica,

44
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

muito similar a uma folha de uma planta, contendo células enquanto as tecnologias que 2remodelarão o mundo em
artificiais capazes de capturar a energia solar e transformá-la menos de quinze anos provavelmente já existem em la-
em energia química (sacarose) que em seguida 2é usada pe- boratórios na forma de protótipos. Vinte anos também
las mesmas células artificiais para produzir etanol. O álcool pode ser um período próximo do tempo restante da
3
seria transportado por uma rede de nanotubos de celulose carreira de quem trabalha prevendo tais avanços, limi-
até o tanque do seu carro. Além disso, o etanol puro ainda tando, assim, o risco que uma previsão ousada poderia
4
seria misturado com água que o próprio “tecido artificial” causar à sua reputação.
produz, fazendo com que, no tanque do seu carro, 5gotejasse O fato de que, no passado, alguns indivíduos fize-
etanol hidratado na proporção certa para servir como bio- ram previsões exageradas a respeito da inteligência
combustível. artificial (IA) não implica, entretanto, que a IA seja im-
Não, você não está lendo um conto de ficção cientí- possível ou que nunca 3será desenvolvida. A principal
fica. Tampouco o que está descrito no parágrafo acima é razão para que progresso tenha sido mais lento do que
impossível. A descrição é bem plausível e talvez até viável o previsto se deve ao fato de que dificuldades técnicas
ainda neste século. para a construção de máquinas inteligentes se mostra-
Tudo isso (e muito mais) pode acontecer como con- ram maiores do que os obstáculos previstos pelos pio-
sequência de um novo ramo da biologia que está sendo neiros da IA. [...]
chamado de “biologia sintética”. Ela é definida em um
BOSTROM, Nick. Superinteligência: caminhos, perigos e estratégias para um novo
documento divulgado em junho pela Royal Society, do mundo. Rio de Janeiro: DarkSide Books: 2018. p. 25-6.
Reino Unido, como um ramo da biologia preocupado
com a produção de entidades com base biológica (par- Analise o contexto em que ocorrem os verbos terão (ref. 1),
tes, mecanismos, sistemas e organismos) que desem- remodelarão (ref. 2) e será (ref. 3) e responda:
penhem uma nova função diferente da encontrada na a) O futuro do presente projeta eventos para um momen-
natureza. [...] to posterior ao da enunciação, ou seja, toma como re-
BUCKERIDGE, Marcos. Um passo além da engenharia genética. Revista Fapesp, 2 dez. ferência o presente do indicativo. Indique, no texto,
2008. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/um-passo-alem-da-engenharia- recursos linguísticos que localizem a voz do enunciador
genetica/. Acesso em: 15 mar. 2021.
nesse tempo verbal.
Há diversas expressões que, no texto, reiteram a noção de
perspectiva, de mundo provável, hipotético: “imagine”; • Em relação à forma verbal terão, duas expressões determinam que o

“você não está lendo um conto de ficção científica”; “viá-


presente é o ponto de referência: o verbo estão (acompanhado do
vel ainda neste século”. Dentre os verbos a seguir, aponte
aquele cujo tempo em que está conjugado é menos com- advérbio já) e a expressão “nos próximos cinco ou dez anos”, que cria o
patível com o contexto imaginário:

MÓDULO 4 - PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


pressuposto de referência no aqui e agora.
a) haveria (ref. 1) Retomamos, neste exercício, apenas
a noção condicional do futuro do pre-
b) é usada (ref. 2) térito, uma vez que sua ocorrência é • Para a forma verbal remodelarão, há dois outros trechos muito
muito mais comum no uso da língua
c) seria transportado (ref. 3) que o valor literal. Vale a pena destacar
semelhantes aos já mencionados aqui: a expressão “já existem” e o
e analisar os diversos outros recursos
d) seria misturado (ref. 4) discursivos responsáveis pela constru-
ção do contexto condicional, tais como pressuposto de presentificação criado pela expressão “em menos
e) gotejasse (ref. 5)
listados no enunciado da questão.
Aula 10 de quinze anos”.
4 Leia o texto a seguir e responda à questão.
• Em relação à forma será, o verbo implica, conjugado no presente do
[...]
Duas décadas é o período de tempo ideal para quem indicativo e expressão da opinião do enunciador, localiza-o,
tenta prever uma mudança radical: próximo o suficien-
consequentemente, no presente, tempo de referência da enunciação.
te para ser relevante e chamar atenção e ainda distante
o suficiente para tornar possível imaginar que uma se-
quência de grandes avanços, atualmente apenas vaga-
ANÁLISE LINGUÍSTICA

mente concebíveis, possa ocorrer. Contraponha isso a


períodos de tempo menores: a maioria das tecnologias
que nos próximos cinco ou dez anos 1terão um grande
impacto no mundo já estão em uso de forma limitada,

45
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

b) Que outras formas verbais poderiam substituir as três, mantendo o mesmo tempo e modo verbal? Essas formas verbais
são exatamente equivalentes? Justifique sua resposta.

Ao verbo terão correspondem as formas “vão ter” e “irão ter”; a remodelarão, “vão remodelar” e “irão remodelar”; a será, “vai ser” e “irá ser”. Em todos os

casos, o sentido literal do futuro do presente é o mesmo; as formas compostas dos verbos, porém, são mais coloquiais que suas correspondentes formas simples.

Para o futuro do presente, a noção de posterioridade em relação ao momento da enunciação é simples e a consciência dessa relação aqui é o mais importante.

Vale destacar as equivalências entre as formas de manifestação desse tempo verbal e os níveis de formalidade de cada uma delas.

5 Leia o texto a seguir e responda à questão.


[...]
No verão de 1956, na Dartmouth College, dez cientistas que compartilhavam o interesse em redes neurais, na teoria dos
autômatos e no estudo da inteligência se reuniram para um workshop de seis semanas. O Dartmouth Summer Project é consi-
derado, frequentemente, o marco que assinalou a inteligência artificial como um campo de pesquisa. Muitos dos participantes
seriam mais tarde reconhecidos como fundadores desse campo. A perspectiva otimista dos participantes está refletida na pro-
posta apresentada à Rockefeller Foundation, que patrocinou o evento:
Nós propomos que um estudo sobre inteligência artificial seja realizado por dez homens durante duas semanas [...].
O estudo será realizado com base na hipótese de que todos os aspectos da aprendizagem ou de qualquer outra característica
da inteligência podem, em princípio, ser descritos de forma tão precisa que uma máquina poderia simulá-los. Será feita uma
tentativa de descobrir como produzir máquinas que usem linguagem, formem conceitos e abstrações, resolvam determinados
tipos de problemas até agora reservados aos humanos e que sejam capazes de se aperfeiçoar. Acreditamos que um avanço sig-
nificativo possa ser feito em um ou mais desses problemas se um grupo de cientistas cuidadosamente selecionados trabalhar
em conjunto no projeto durante um verão.
BOSTROM, Nick. Superintelig•ncia: caminhos, perigos e estratégias para um novo mundo. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2018. p. 28.

a) No segundo parágrafo, há um verbo empregado no futuro do subjuntivo, e, como é de praxe, ele vem acompanhado de
uma marca linguística presente na frase, responsável por instituir o contexto hipotético. Identifique esses dois elementos
linguísticos no texto.

A forma verbal trabalhar, presente no último período do segundo parágrafo,apresenta a desinência típica do futuro do subjuntivo (que, nos verbos regulares,

assemelha-se à forma do infinitivo do verbo).

A conjunção condicional se é a marca linguística responsável por construir, aqui, o contexto hipotético, próprio de verbos no modo subjuntivo.
b) Há, no 2º parágrafo, outra marca linguística que contribui para a construção do contexto hipotético em que se insere o
futuro do subjuntivo. Transcreva-a e explique como ela desempenha essa função.

Os verbos conjugados no presente do subjuntivo também ajudam a criar a atmosfera hipotética ao projetarem características ainda não reais das máquinas: “usem

linguagem“, “formem conceitos e abstrações“, “resolvam determinados tipos de problemas“, “sejam capazes de se aperfeiçoar“, “avanço significativo possa ser feito”.

c) O tema de verbos regulares conjugados no futuro do subjuntivo tem forma equivalente à do próprio infinitivo (“se eu
amar” 5 amar, infinitivo); já os irregulares tomam como base o tema da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito. Com
base nisso, conjugue os verbos a seguir.

Verbo Pretérito perfeito Futuro do subjuntivo


rever (re) vi (ram) (re) vi (r) o projeto
prever (pre) vi (ram) (pre) vi (r) os obstáculos
... se um grupo (contra) disse (ram) (contra) disse (r)
contradizer o senso comum
de cientistas
intervir (inter) vie (ram) (inter) vie (r) nas pesquisas
dispor (dis) puse (ram) (dis) puse (r) a revolucionar
opor-se (o) puse (ram) se (o) puse (r) ao conservadorismo

46
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

d) No penúltimo período do 1o parágrafo, o verbo ser está conjugado no futuro do pretérito. Considerando o contexto, apon-
te se se trata do sentido literal ou condicional e transcreva, do texto, uma expressão que comprove sua resposta.

Pelo contexto, o futuro do pretérito está empregado em seu sentido literal: em relação ao “marco que assinalou a inteligência artificial como um campo de

pesquisa”, é futura a ideia de que muitos participantes seriam mais tarde reconhecidos como fundadores desse campo. Acrescente-se a isso que essas duas

informações estão localizadas no passado, considerando o momento presente de enunciação. A expressão que melhor fundamenta essa relação de

posterioridade em relação ao passado é “mais tarde”.

6
[...]
De acordo com o último relatório das Nações Unidas sobre a população mundial, a Terra terá 9,7 bilhões de habitantes até
2050 e 10,9 bilhões em 2100, em comparação com os atuais 7,7 bilhões.
O novo estudo questiona esse crescimento contínuo ao longo do século XXI.
Pesquisadores do IHME, um organismo financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, uma referência por seus estudos
globais em saúde pública, preveem um pico a partir de 2064, para 9,7 bilhões de pessoas, antes de começar a diminuir para
8,8 bilhões em 2100.
O declínio dependerá em grande parte do desenvolvimento da educação das meninas e do acesso ao controle de natali-
dade, o que reduzirá a taxa de fertilidade para 1,66 filho por mulher em 2100, em comparação aos atuais 2,37, de acordo com o
estudo. Essa queda na fertilidade é muito mais rápida do que a prevista pela ONU. [...]
A China pode perder cerca de metade de seus habitantes (1,4 bilhão atualmente para 730 milhões em 2100), com um declí-
nio no número de pessoas em idade ativa, o que pode “impedir” seu crescimento econômico. [...]
Por outro lado, a África subsaariana poderá triplicar sua população de 1 bilhão para 3 bilhões, principalmente na Nigéria

MÓDULO 4 - PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


(206 a 790 milhões de habitantes) [...].
[...]
Neste mundo em que a população em idade ativa 1terá diminuído e onde as pessoas com mais de 80 anos serão seis vezes
mais numerosas do que agora (de 141 para 866 milhões), será necessário “reavaliar a estrutura atual dos sistemas de assistência
social e dos serviços de saúde”, adverte Christopher Murray. [...]
AFP. Estudo estima em 8,8 bilhões população mundial em 2100. Disponível em: https://istoe.com.br/estudo-estima-em-88-bilhoes-populacao-mundial-em-2100/#:~:text=De%20
acordo%20com%20o%20%C3%BAltimo,os%20atuais%207%2C7%20bilh%C3%B5es. Acesso em: 17 mar. 2021.

A respeito da locução verbal “terá diminuído” (ref. 1), assinale a alternativa incorreta:
a) indica o resultado futuro (2021) do processo de redução da população em idade ativa.
b) a redução da população ativa é anterior ao crescimento da população com mais de 80 anos.
c) o resultado final do processo de redução da população fica entre o presente e o futuro, com 6 vezes mais octogenários.
d) sua substituição por diminuirá não se configura como erro, mas apaga o traço semântico de anterioridade.
ANÁLISE LINGUÍSTICA

e) há na locução um traço semântico de incerteza, de imprecisão em relação à efetiva redução da população ativa.

47
Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:
Aula 9: objetivo 1 Aula 10: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Análise linguística – Capítulo 4: Pretérito mais-que-perfeito e


tempos do futuro: progressão temporal

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia os itens 1 e 2 da seção • Leia os itens 1 e 2 do • Faça as questões 11 e 12 do


Neste módulo. Capítulo 4. Capítulo 4.
1
• Faça as questões 1 a 5 do • Faça as questões 6 a 10 do
Capítulo 4. Capítulo 4.

• Leia os itens 3 e 4 da seção • Leia o item 3 do Capítulo 4. • Faça a questão 19 do


Neste módulo. Capítulo 4.
2 • Faça as questões 16 a 18 do
• Faça as questões 13 a 15 do Capítulo 4.
Capítulo 4.

EX TRAS!
Aula 9 (pretérito mais-que-perfeito × pretérito perfeito)

1 Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com


Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço
me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia,
de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou
que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sa-
a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá esti- cudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e
vera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, curta, grossa na base, cheia de moscas, semelhante a uma
um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está cauda de cascavel.

datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até ou- Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingar-
da de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez
tubro de 1914.
tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os
No relato de memórias do autor, entre os recursos usados meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se
para organizar a sequência dos eventos narrados, desta- cansavam de repetir a mesma pergunta: – Vão bulir com
ca-se a: a Baleia?
a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamici- Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos
dade ao texto. de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a suspeita de que Ba-
b) presença de advérbios de lugar para indicar a progres- leia corria perigo.
são dos fatos. Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos

c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os os três, para bem dizer não se diferenciavam, rebolavam
acontecimentos. na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava
cobrir o chiqueiro das cabras. […]
d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações
Fabiano percorreu o alpendre, olhando a baraúna e as
pessoais.
porteiras, açulando um cão invisível contra animais invisí-
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do
veis: – Eco! Eco!
escritor.
Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e
2 (Unesp-SP) chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu
A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagre- Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco,
cido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avulta- levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono des-
vam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam confiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até fi-
e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a car no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando
inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra,

48
EXTRAS!

Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto.
Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras,
modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir
desesperadamente.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas.

Comparando o segundo e o terceiro parágrafos do fragmento de Vidas secas, explique a diferença no emprego dos tempos,
quando o enunciador opõe formas verbais no pretérito mais-que-perfeito (como imaginara e amarrara-lhe) e no pretérito
perfeito (como resolveu, lixou-a e limpou-a).
Aula 10 (futuro do pretérito)
3 (Fuvest-SP) Leia o excerto, observando as diferentes formas verbais.
Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a sede de família. Em seguida acocorou-se, remexeu o aió, tirou o
fuzil, acendeu as raízes de macambira, soprou-as, inchando as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu, elevou-se, tingiu-lhe
o rosto queimado, a barba ruiva, os olhos azuis. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim.
Eram todos felizes. Sinha Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de Sinha Vitória remoçaria [...].
[...]
A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas.

a) Considerando que no primeiro parágrafo predomina o pretérito perfeito, justifique o emprego do imperfeito em “o preá
torcia-se e chiava no espeto de alecrim”.
b) Explique o efeito de sentido produzido no excerto pelo emprego do futuro do pretérito.

ANOTAÇÕES

MÓDULO 4 - PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO E TEMPOS DO FUTURO: PROGRESSÃO TEMPORAL


ANÁLISE LINGUÍSTICA

49
5 ANÁLISE LINGUÍSTICA

M Ó D U L O

Discurso citado

Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 11 e 12).


COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: Identificar os tipos de discurso citado com base em marcas linguísticas características, bem
COMPETÊNCIA 1
como transformar um no outro, observando alterações relacionadas a pessoa, tempo e lugar. (Aula 11)
. Objetivo 2: Reconhecer o discurso indireto livre em textos e interpretar a escolha feita pelo enuncia-
EM13LGG101
EM13LP03
dor de um dos tipos de discurso como uma estratégia estilística, avaliando seus efeitos. (Aula 12)
EM13LP06

Neste módulo COMPETÊNCIA 3


EM13LGG302
Aula 11

1 Discurso direto Ponto de partida:


Reprodução/Livraria Cultura Aula 11
Uma dinâmica para aque-
cer a turma para a discus-
são sobre os tipos de dis-
curso introduzirá noções
importantes sobre as
diferenças entre discur-
so citado diretamente e
discurso indiretamente
apresentado. Do lado
de fora da sala, peça a
alguém que lhe conte
alguma coisa que fez no
dia anterior e, em segui-
da, conte para todos o
que você ouviu. Depois
chame o dono do discur-
so citante para expor o
que fizera no dia anterior.

Selton Mello – prestes a lançar


seu terceiro filme como diretor,
ele revela: “Ainda me sinto
inadequado muitas vezes no
mundo”.
Revista da Cultura, ed. 114, jul. 2017.

. Citação direta da fala de um personagem, sem mediação de outrem (narrador ou enunciador).


. Presença de sinais de pontuação, como dois-pontos, travessão ou aspas.
. Introduzido por um verbo “de dizer”: afirmou, assegurou, respondeu, disse, etc.
. Presença de marcas linguísticas típicas da interlocução, como vocativos e pronomes de primeira pessoa.

50
Reprodução/Livraria Cultura
2 Discurso indireto
. Citação indireta da fala de um personagem: narrador ou
enunciador fala por ele.
. Ausência de sinais de pontuação, como dois-pontos, traves-
são ou aspas.
. Introduzido por um verbo “de dizer”: afirmou, assegurou,
respondeu, disse, etc. (a escolha desse verbo pode indicar
a opinião do narrador/enunciador).
. Apagam-se as marcas linguísticas típicas da interlocução,
como vocativos e pronomes de primeira pessoa.

Sem definir se é um ator de comédia ou drama,


Lázaro Ramos fala do grande prazer que a
liberdade na profissão lhe proporciona.
Revista da Cultura. Ed. 82, maio/2014.

3 Transformação de discursos
Principais elementos envolvidos na transformação de um tipo de discurso no outro:

1a pessoa 3a pessoa

você ele/ela

vocativo objeto indireto

imperativo futuro do pretérito (dever)

hoje naquele dia

amanhã no dia seguinte

presente pret. imperfeito

Discurso Discurso
direto pretérito pret. mais-que-perfeito indireto

futuro futuro do pretérito


VERBOS “DE DIZER” VERBOS “DE DIZER”
COM SINAIS DE SEM SINAIS DE
PONTUAÇÃO futuro do subjuntivo imperfeito do subjuntivo PONTUAÇÃO
MîDULO 5 - DISCURSO CITADO

aqui lá
ANÁLISE LINGUÍSTICA

neste naquele

exclamação afirmação

interrogação afirmação
51
Aula 12
Ponto de partida:
4 Discurso indireto livre Aula 12

.
Como o discurso indireto
O narrador/enunciador cita a fala de alguém/personagem, mas deixa marcas de que se trata também livre produz um efeito de
sobreposição de vozes,
de uma citação direta.
para começar esta aula
. Ausência de sinais de pontuação, como dois-pontos, travessão ou aspas. você pode fazer a seguin-
te pergunta para a turma:
. Não é introduzido por verbos “de dizer”. “Quem sabe simular a
voz de alguém famoso?”.
. Só pode ser reconhecido considerando seu contexto de enunciação. A intenção é demonstrar,
. Exemplo:
na prática, como um in-
divíduo se faz passar por
outro, mas sem deixar de
O desembargador deu ganho de causa aos sem-teto que invadiram o prédio abandonado. Tinha ser ele mesmo. Princípio
semelhante governa o
chegado ao fim o tempo da insegurança. Finalmente, um lugar seguro para reconstruir a vida. discurso indireto livre, que
continua sendo citação de
discurso alheio, mas em
uma espécie de arremedo
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S que o narrador/enunciador
faz da voz citada.
Aula 11

1 Leia o texto a seguir e responda à questão.


A dramatização e a representação da vida conquistaram — não por acaso — o privilégio do melhor horário noturno, pois
mexem com mecanismos mentais muito fortes e decisivos. A telenovela não é uma imposição forçada nem um mecanismo de
fuga. Não se confunde com o sono, com o uso da droga ou do álcool nem tenta escapar das obrigações sociais; ao contrário, o
grande público busca, pela telenovela, entrar inteiramente no social, no conhecimento e no domínio das regras da sociedade.
J.S.R. Goodlad, autor dessa tese, afirma que o motivo de se assistir às telenovelas é que por meio delas as pessoas podem ordenar
e organizar sua vivência social segundo o que é permitido na sociedade, ou seja, de acordo com o “comportamento social adequado”.
Se o drama, segundo ele, assumiu anteriormente a função social através dos mitos, dos contos populares e dos rituais, é a
telenovela que hoje atua como método de controle social.
Diante de uma vida problemática e sem esperanças, da necessidade de ganhar dinheiro, de ter uma casa ou um negócio
próprio, de encontrar um companheiro, diante das exigências do trabalho, das contas a pagar e dos compromissos, a esfera
emotiva das pessoas retrai-se. A vida que a televisão mostra é então, para o homem e para a mulher, uma verdadeira troca, com
vantagens, de sua vida real. [...] Ela é o alimento espiritual desse corpo cansado, sugado e exaurido pelo trabalho industrial na
linha de montagem, pelo trabalho burocrático no banco ou na repartição, pelo trabalho enfadonho dos escritórios e das lojas.
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: a vida pelo vídeo. – Exame de Redação da Unifesp 2010.

É comum que textos opinativos como o artigo de opinião valham-se do pensamento de estudiosos a fim de emprestar seu
prestígio à análise e mesmo de ampliá-la com novas visões de mundo. Tendo isso em mente:
a) explique as duas maneiras por meio das quais o discurso de J.S.R. Goodlad é reportado no texto.

Há uma citação explícita de uma expressão que o autor emprega (“comportamento social adequado”), delimitada por aspas com a finalidade de reportar ao

leitor que não se trata de trecho de autoria do enunciador do texto. Outro recurso usado para incorporar ao texto uma voz diferente da do enunciador é

parafrasear suas ideias e avisar que são do pensador citado, por meio de expressões como “autor dessa tese” ou “segundo ele”. Neste caso, como não são

citados explicitamente trechos do pensamento de J.S.R. Goodlad, o autor do texto ganha liberdade para articular mais as ideias citadas e o próprio discurso.
b) é possível afirmar que todas as ideias do 2º parágrafo se referem ao pensamento de J.S.R. Goodlad acerca das telenove-
las? Justifique sua resposta.

Não é possível ter certeza da autoria das ideias contidas nos três últimos períodos do parágrafo: elas podem ser tanto de J.S.R. Goodlad como do enunciador

do texto. Por um lado, é preciso considerar que, não havendo marcas de discurso reportado, tais como as descritas no item a, pode-se supor que a reflexão

sobre a conscientização emocional que as telenovelas promovem seja do autor do texto (até porque essa tese não é exatamente o que se entende por

“comportamento social adequado”). Por outro lado, pode-se supor que o parágrafo todo desenvolve a ideia de J.S.R. Goodlad: mesmo sem marcas de discurso

reportado, os sentidos do início e do fim do parágrafo são solidários e tratam da capacidade de “entrar inteiramente no social”, ou seja, a dose diária de emoção

proporcionada pelas telenovelas seria uma forma de “domínio das regras sociais”.

52
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

2 Texto para a questão.


[Na produção de um documentário] 1a vontade de chegar à verdade pode passar por caminhos supostamente ficcionais,
gerando uma discussão sobre o que é real. A cineasta Flávia Castro conta que 2estruturou o roteiro do seu documentário Diário
de uma Busca [sobre a morte do pai, o militante de esquerda Celso Afonso Gay de Castro] como o de uma ficção. 3“Para mim,
não há separação total entre os dois e queria que o filme tivesse um momento de ápice.” Quando estava com o roteiro pronto,
4
pensava em como ia transformar aquilo num documentário! A narrativa pulava da vida atribulada, conhecida previamente,
para a investigação sobre sua morte.
5
Os limites atenuados entre a ficção e o documentário parecem transformar o documentário em algo que não é totalmente
real. A questão é: o que é “totalmente real”? 6“O cotidiano programado dos reality shows é real e é verdade? A reencenação por
pessoas concretas de suas próprias histórias é real?” – pergunta Amir Labaki, fundador e diretor do É tudo verdade – festival
internacional de documentários. “Não basta ser real para ter verdade. 7Acho que a veracidade de uma narrativa é um pacto ético
entre narrador e espectador frente ao que vai ser apresentado. O recurso a instrumentos ficcionais pode romper com o dogma
do ‘totalmente real’, mas ainda assim vir carregado de verdade”.
Revista Cinema & Linguagem, edição especial da revista Língua. Out. 2011. p. 20.

Analise os trechos a seguir, destacados do texto, e classifique-os segundo o código:


I. Discurso direto
II. Discurso indireto
III. Discurso do enunciador do texto
a) ( III ) a vontade de chegar à verdade pode passar por caminhos supostamente ficcionais, gerando uma discussão sobre
o que é real. (ref. 1)
b) ( II ) estruturou o roteiro do seu documentário Diário de uma Busca [sobre a morte do pai, o militante de esquerda Celso
Afonso Gay de Castro] como o de uma ficção. (ref. 2)
c) ( I ) “Para mim, não há separação total entre os dois e queria que o filme tivesse um momento de ápice”. (ref. 3)
d) ( II ) pensava em como ia transformar aquilo num documentário!. (ref. 4)
e) ( III ) Os limites atenuados entre a ficção e o documentário parecem transformar o documentário em algo que não é to-
talmente real. (ref. 5)
f) ( I ) “O cotidiano programado dos reality shows é real e é verdade? A reencenação por pessoas concretas de suas próprias
histórias é real?”. (ref. 6)
g) ( I ) Acho que a veracidade de uma narrativa é um pacto ético entre narrador e espectador frente ao que vai ser apre-
sentado. (ref. 7)

3 A transformação de um tipo de discurso em outro exige mudanças em marcas sobretudo de pessoa, tempo e lugar. Trans-
forme as falas das tirinhas a seguir em discursos indiretos e, em seguida, sublinhe as alterações que a transformação exigiu.
a)
Jeff Stahler © 2019 Jeff Stahler/Dist. by
Andrews McMeel Syndication for UFS

MîDULO 5 - DISCURSO CITADO


ANÁLISE LINGUÍSTICA

O filho disse ao pai que precisava de ajuda com sua lição de casa sobre divisão. O pai perguntou se era sobre Matemática, ao que o filho respondeu que

não, era sobre Ciências Sociais. (presente, interrogação, 1ª pessoa)

53
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Peanuts, Charles Schulz © 1974


Peanuts Worldwide LLC/Dist. by
Andrews McMeel Syndication
b)

Sally reclamou com seu irmão Charlie Brown dizendo que belo irmão ele era, pois ela iria ficar reprovada só porque ele não a ajudava a fazer o dever de casa.

Insistindo pela sua atenção, provoca-o novamente perguntando que raio de irmão ele era afinal de contas. E terminou questionando se ele não acreditava na

fraternidade. (futuro, exclamação, interrogação, 1ª pessoa)

c)

Adam@Home, Brian Basset © 1997 Brian


Basset/Dist. by Andrews McMeel Syndication
A filha perguntou ao pai se podia usar o computador para fazer sua lição de casa. O pai consentiu, mas a menina voltou reclamando do computador, pois ele

não tinha feito nenhuma das suas lições de casa. (vocativo, presente, 1ª pessoa, exclamação, pretérito perfeito)
Garfield, Jim Davis © 2021 Paws,
Inc. All Rights Reserved/Dist. by
Andrews McMeel Syndication

d)

Segundo o livro que Garfield estava lendo, deve-se fazer hoje algo que você/o leitor de amanhã agradecerá. Garfield considerou essas palavras sábias e

terminou dizendo que havia escondido uma dúzia de donuts embaixo da cama. (imperativo, futuro, você-hoje-amanhã não literais, pretérito perfeito)

54
4. Ao abrir a segunda aula do módulo, esta questão faz uma breve revisão de alguns aspectos fundamentais para a transformação de discursos. Na alternativa a, o correto
seria que ganharia e pegou assumissem formas do pretérito mais-que-perfeito, como tinha ganhado e havia pegado; em b, acabava e inundou também precisariam
assumir as formas do pretérito mais-que-perfeito, como acabara e havia inundado; na alternativa c, o discurso indireto não deveria estar em formato de interrogação direta;
e em e, não aconteceu a transformação do tempo verbal começava, que deveria estar no pretérito imperfeito.

D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

e) d) “Ganhei uma indenização ótima do seguro. Minha casa

Marmaduke, Brad Anderson © 2021 Paul and Brad


Anderson/Dist. by Andrews McMeel Syndication for UFS
pegou fogo”. / O primeiro amigo disse que tinha ga-
nhado uma indenização ótima do seguro. Sua casa
havia pegado fogo.
e) “Como você começa uma inundação?” / O primeiro
amigo perguntou ao segundo como ele começa uma
inundação.

5 Leia o texto a seguir para responder à questão.


Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos be-
zerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e
apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de
feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não
chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um ca-
brito.
Um garoto disse ao outro que aquele era o melhor truque que já [...] Consumidos os legumes, roídas as espigas de
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o
haviam ensinado ao cachorro (lhe). (esse, presente, pretérito perfeito)
produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição,
tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se,
engolia em seco. [...] De repente estourava:
Aula 12 — Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém
4 pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
Dois velhos amigos sentados em um banco de praça.
[...] No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fe-
Primeiro amigo:
char o negócio notou que as operações de Sinha Vitória,
– Ganhei uma indenização ótima do seguro. Minha
como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e ob-
casa pegou fogo.
teve a explicação habitual: a diferença era proveniente de
Segundo amigo:
juros.
– Que engraçado! Acabei de ganhar uma indenização
[...] Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estri-
ótima também. Minha casa inundou.
bos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que
Primeiro amigo:
era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar
– Como você começa uma inundação?
como negro e nunca arranjar carta de alforria!
PAINTER, Evelyn. 6 piadas para morrer de rir e agitar seu fim de tarde. Seleções, 29 jul.
2019. Disponível em: https://www.selecoes.com.br/humor/6-piadas-para-morrer-de-rir-
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom
e-agitar-seu-fim-de-tarde/. Acesso em: 7 abr. 2021. que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
Diálogos reproduzidos em discurso direto são uma das
Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa,
características estruturais mais frequentes do gênero tex-
pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento
tual piada. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela
que promove a correta transformação para o discurso não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. [...]
indireto: RAMOS, Graciliano. Vidas secas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.

a) “Ganhei uma indenização ótima do seguro. Minha casa a) Identifique desse trecho de Vidas secas as passagens
pegou fogo.” / O primeiro amigo disse que ganharia que ilustram o discurso indireto livre.
uma indenização ótima do seguro. Sua casa pegou
fogo. • “Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de

b) “Que engraçado! Acabei de ganhar uma indenização


mão beijada!”
ótima também. Minha casa inundou”. / O segundo
MîDULO 5 - DISCURSO CITADO

amigo disse que aquilo era engraçado, pois acabava • “Estava direito aquilo?”
de ganhar uma indenização ótima também. Sua casa
ANÁLISE LINGUÍSTICA

inundou. • “Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!”

c) “Como você começa uma inundação?” / O primeiro • “Não era preciso barulho não.”
amigo perguntou ao segundo como ele começava uma
inundação?

55
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

b) Explique por que esses trechos são exemplos de discurso indireto livre.

Nesses trechos, não há marcas linguísticas típicas do discurso direto, como aspas, travessão ou verbo “de dizer”. Logo, trata-se da voz do narrador, no lugar da

de Fabiano. Porém, as frases conservam características da fala da personagem, produzindo um efeito de sobreposição de vozes no enunciado, sem que haja a

presença explícita da voz de Fabiano.

6
“Nós cometemos erros”, diz Mark Zuckerberg sobre escândalo do Facebook com Cambridge Analytica
[...]
1
“Nós cometemos erros, temos que fazer mais e precisamos avançar e fazer isso”, afirmou.
As declarações foram dadas em um post no perfil de Zuckerberg na rede social, na primeira vez que falou sobre a crise ins-
titucional que fez o Facebook perder quase US$ 50 bilhões em valor de mercado em dois dias.
[...] O Facebook informou que está investigando o vazamento de dados envolvendo uma empresa britânica que trabalhou
para a campanha de 2016 do presidente americano, Donald Trump. A empresa de consultoria Cambridge Analytica manipulou
informação de mais de 50 milhões de usuários da rede social nos Estados Unidos.
A companhia obteve as informações em 2014 e as usou para construir uma aplicação destinada a prever as decisões dos
eleitores e influenciar sobre elas, segundo revelaram neste sábado os jornais London Observer e New York Times.
Zuckerberg também disse que a companhia modificou sua política de distribuição de dados para aplicativos parceiros em
2014 e que esse problema não deverá se repetir atualmente. [...]
G1, 21 mar. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/nos-cometemos-erros-diz-mark-zuckerberg-sobre-escandalo-do-facebook-com-cambridge-
analytica.ghtml. Acesso em: 17 mar. 2021.

O texto usa diferentes estratégias para apresentar os discursos reportados que o constituem. Analise os trechos destacados
e os comentários a respeito deles:
I. A estratégia de transcrever em discurso direto a confissão de Zuckerberg (ref. 1) cria efeito de verdade, afinal o texto cria
um impacto ao apresentar a frase tal como foi proferida pelo CEO da empresa envolvida no escândalo.
II. Por se tratar de discursos de instituições e não de indivíduos, o autor optou, no segundo parágrafo, por reportar em
discurso indireto a declaração do Facebook e as avaliações de dois jornais.
III. A transcrição da fala de Zuckerberg em discurso indireto no terceiro parágrafo pode ser interpretada como uma
opção estilística para diversificar as formas de reportar o discurso do CEO e não dividir o destaque com a sua
primeira declaração.

É(são) correto(s):
a) apenas I. b) apenas II. c) apenas III. d) apenas I e III. e) I, II e III.

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 11: objetivo 1 Aula 12: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Análise linguística – Capítulo 5: Discurso citado

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia os itens 1 a 3 da seção • Leia os itens 1 a 2.2 do • Faça as questões 11 e 12 do


Neste módulo. Capítulo 5. Capítulo 5.
1
• Faça as questões 1 a 5 do • Faça as questões 6 a 10 do
Capítulo 5. Capítulo 5.
• Leia o item 4 da seção Neste • Leia o item 2.3 do Capítulo 5. • Faça a questão 19 do
módulo. Capítulo 5.
2 • Faça as questões 16 a 18 do
• Faça as questões 13 a 15 do Capítulo 5.
Capítulo 5.

56
EX TRAS!
Aula 11 (Transposição de discurso direto em indireto)
1 (Unifesp) Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de Moacyr a) existirem, pode, meu.
Scliar, para responder à questão. b) existissem, poderia, seu.
Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des- c) existiam, puderem, meu.
conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista
d) existem, poderei, dele.
holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
e) tenham existido, terá podido, seu.
girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes
deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu 2 (Fuvest-SP) Examine a transcrição do depoimento de
instinto criador. Eduardo Koge, líder indígena de Tadarimana, MT.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel, às Nós vivemos aqui que nem gado. Tem a cerca e nós
telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Começaria não podemos sair dessa cerca. Tem que viver só do que
pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna de São tem dentro da cerca. É, nós vivemos que nem boi no curral.
Paulo. Paulo A. M. Isaac. Drama da educação escolar indígena Bóe-Bororo.

Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não


a) Nos trechos “Tem a cerca...” e “Tem que viver...”, o verbo
faria como outros destruidores de telas que entram num ter assume sentidos diferentes? Justifique.
museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando
b) Reescreva, em um único período, os trechos “Nós vive-
destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu
mos aqui que nem gado” e “nós não podemos sair des-
intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método sa cerca” empregando o discurso indireto.
científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspeita- Aula 12 (Efeitos do uso de diferentes tipos de discurso em texto)
dos: os cupins. 3 (Unicamp-SP)
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era O circo não é mais o mesmo, respeitável público. A
necessário treinar os cupins para que atacassem as telas tradição do picadeiro itinerante, da arte hereditária, vem
de Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavlovia- se transformando. Uma das grandes mudanças foi a par-
na. Reproduções das telas do artista, em tamanho natu- tir da segunda metade do século XX, quando os próprios
ral, eram recobertas com uma solução açucarada. Dessa artistas, preocupados com as exigências da educação
forma, os insetos aprenderam a diferenciar tais obras de formal de seus filhos, decidiram fixar residência. Muitos
outras. reduziram as viagens, mandaram as crianças para a casa
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo de de parentes e para uma escola fixa e assumiram um novo
cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era repulsi- modo de vida. O circo não é mais o mesmo: encontrou ou-
vo, mas para os insetos era agradável, e isso era o que im- tros modos de organizar-se, muito além da lona. Ocupa es-
portava. paços nunca antes imaginados, como academias, projetos
Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à es- sociais, oficinas culturais e até hospitais.
pera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi enor- No Brasil, grande parte dessa transformação se deve
me. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins preferiram aos próprios artistas que, preocupados ainda com a conti-
as vigas de sustentação do prédio, feitas de madeira abso- nuidade da arte circense, participaram da criação de esco-
lutamente vulgar. E por isso foram detectados. las para a formação das novas gerações. Escolas e cursos
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode con- abertos a quem se interessasse. De fato “os próprios artis-
fiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que al- tas foram abrindo o ambiente para outras pessoas e facili-
guns insetos foram encontrados próximos a telas de Van tando esta via de mão dupla. O ‘circo novo’ de hoje estabe-
Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que lece-se a partir desta relação com o novo sujeito histórico”,
os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar afirma Rodrigo Mallet Duprat, autor da tese “Realidades e
dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa. particularidades da formação do profissional circense no
O imaginário cotidiano, 2002. Brasil: rumo a uma formação técnica e superior”.
Rodrigo investigou a formação do profissional de cir-
MîDULO 5 - DISCURSO CITADO

Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis girassóis, co no Brasil, na Bélgica, na França e na Espanha. O objetivo
aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes deformados, do trabalho foi entender a pluralidade da formação do pro-
ANÁLISE LINGUÍSTICA

dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu instinto criador. fissional de circo de hoje bem como sua atuação em outros
(1º parágrafo) âmbitos, para além do artístico/profissional. A pesquisa foi
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, os termos desenvolvida no programa de pós-graduação em Educação
sublinhados assumem a seguinte redação: Física, na área de concentração Educação Física e Sociedade.

57
EXTRAS!

Rodrigo entende que atualmente a atividade é exercida existir essa amplitude só que aquele profissional poderia ter
por diferentes profissionais como professores de teatro, artes a possibilidade de se formar, fazer um curso superior de artes
ou educação física. A tese propõe formação continuada a fim do circo”, defende o autor da tese.
de habilitar o profissional de circo para atuar em todos os Adaptado de Patrícia Lauretti, “Tem diploma no circo”, Jornal da Unicamp,
n. 607, 22 set. 2014, p. 12.
âmbitos, inclusive naqueles que ganharam maior espaço no
Brasil nas últimas décadas, como os projetos de circo social. a) Em um texto jornalístico, usam-se fontes fidedignas
“Há, no mercado, profissionais híbridos, oriundos de várias para dar credibilidade às informações. Aponte os tipos
áreas de formação, inclusive no circo familiar. Mas, como falta de fonte usados no texto e dê dois exemplos de dis-
um curso superior, muitos artistas que começaram nas artes curso reportado que as identificam.
circenses vão para outras áreas do conhecimento como ciên- b) Com base nas informações do texto, descreva o pro-
cias sociais, dança, teatro, educação física, história... É até bom fissional do circo e sua formação nos dias atuais.

GABARITO – EXTRAS!

Módulo 1 – Formação de palavras . A política estatal de “guerra às drogas” resulta em


várias mortes de civis, o que pode levar as populações
1 a periféricas a bacuralizarem sua relação com o Estado.
Observação: em ambas as acepções, é necessário que o
2 b
verbo seja utilizado como transitivo direto, respeitando
3 a) O termo bacuralizar foi cunhado com base no enredo
a indicação do verbete.
do filme, para nomear iniciativas comunitárias de auto-
gestão e resistência. Como o vocábulo não integra o 4 a) De cabeça, formou-se o termo cabecence por deri-
vação sufixal. Já a expressão “cabecences-para-baixo” é
vernáculo do português, trata-se de um neologismo, um
resultado da junção de três radicais, em um processo de
termo novo, “inventado”. Para formar esse verbo, recor-
composição por justaposição, já que não há perdas
reu-se à derivação sufixal: tomando-se como base o
sonoras dos termos originais.
substantivo Bacurau, foi acrescentado o sufixo -(l)izar,
com as adaptações fonéticas necessárias. b) De acordo com o texto, os observadores do povo da
ilha de Ossevaolep (“pelo avesso”, escrito ao contrário)
b) Para exemplificar a primeira acepção do termo, po-
não foram capazes de entendê-lo, “não tendo chegado
de-se considerar que, segundo o excerto I, os morado-
ainda a conclusões publicáveis”. Logo, o neologismo se
res da comunidade de Bacurau “organizam-se e aju-
baseia na observação de uma das características mais
dam-se”. Com base nisso, podem-se sugerir usos do
peculiares dos habitantes da ilha: sua forma de andar
termo que remetam a iniciativas de autogestão comuni-
com as cabeças para baixo e os pés para cima.
tárias (creches ou escolas geridas pelos próprios pais e
mães; centros de lazer sob responsabilidade dos mora- Módulo 2 – Verbo: presente e imperativo
dores; mutirões de limpeza em espaços coletivos; etc.).
1 a
Eis alguns exemplos de frases:
2 As formas verbais conjugadas, respectivamente, no
. Os moradores bacuralizaram os cuidados com as modo imperativo (vede) e no presente do indicativo
crianças e fundaram uma creche para seus filhos. (está) interrompem a narrativa que se construía na se-
. A pracinha estava abandonada, mas a população gunda estrofe por meio de verbos no pretérito perfeito.
bacuralizou a limpeza do lugar. O emprego do presente, além de reconectar o trecho
Para a segunda acepção, os exemplos devem remeter a com o início do poema, em que os verbos estão conju-
estratégias de defesa diante de atos de violência come- gados no mesmo tempo (soam, palpita), constrói o
tidos por instituições estatais (no caso, as polícias ou o efeito de presentificação – é como se o evento histórico
Exército). Eis alguns exemplos: estivesse acontecendo no momento da enunciação. Já o
. Para reagir à repressão violenta do Estado ao bai- imperativo desloca o foco do fato narrado para os inter-
le funk, os jovens da comunidade bacuralizaram seu locutores, para a humanidade, convidando-a a contem-
comportamento. plar a simplicidade em que nascera o Menino-Deus.

58
3 c 2 O pretérito imperfeito é usado para descrever o ambiente
4 a) Moinho é um engenho ou dispositivo, acionado por (“ainda fazia escuro”, “Chovia” ou “Chovia uma triste chu-
diversos meios (água, ventos, animais, motor), que se va de resignação”), indicando ações durativas e simultâ-
destina a moer cereais. Com a metáfora “o mundo é um neas entre si, enquanto o pretérito perfeito indica as
moinho”, o poeta indica e destaca seu poder de triturar, ações pontuais do eu lírico (“Quando hoje acordei”, “En-
de desfazer. Mas o quê? Então ele desdobra a metáfora, tão me levantei, / Bebi o café que eu mesmo preparei, /
apontando o objeto da moagem. Na terceira estrofe, o Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei
que é triturado são os sonhos. Na quarta, são as ilusões pensando...”), dispostas numa sequência cronológica.
que, trituradas, são reduzidas a pó, ou seja, na clave
instituída pela metáfora, a nada. Portanto, do mesmo Módulo 4 – Pretérito mais-que-perfeito e tem-
modo que o moinho tritura cereais, o mundo destrói os pos do futuro: progressão temporal
sonhos e as ilusões, reduzindo-os a nada.
1 c
b) As formas verbais que deveriam ser alteradas caso o
autor optasse pelo uso sistemático da segunda pessoa 2 O pretérito mais-que-perfeito dos verbos do segundo
do singular são: parágrafo do fragmento indica que as ações por ele
expressas se dão em um tempo anterior às narradas no
. “Ouça-me”, do primeiro verso da primeira estrofe,
terceiro parágrafo com os verbos no pretérito perfeito.
que deveria ser mudado para "Ouve-me".
De fato, as ações atribuídas a Fabiano no terceiro pará-
. “Preste atenção”, do segundo verso da primeira es-
grafo – “resolveu matá-la [...] foi buscar a espingarda [...]
trofe (repetido no primeiro verso da segunda estro-
lixou-a [...] limpou-a [...]” – ocorrem depois e por conse-
fe), que deveria ser mudado para "Presta atenção".
quência de ele ter imaginado (imaginara) que a cadela
Módulo 3 – Verbo: pretérito perfeito e imperfeito Baleia estivesse com um princípio de hidrofobia, e de-
pois de ter-lhe amarrado (amarrara-lhe) no pescoço um
1 a) O texto relata transformações na condição feminina: rosário de sabugos de milho queimados. Assim, o preté-
antes, as mulheres trabalhavam em casa, em afazeres rito mais-que-perfeito se opõe ao pretérito perfeito por
domésticos, desempenhando o papel de cuidar “do lar”; indicar um momento anterior ao das ações expressas
depois, passaram a trabalhar fora, assumindo outros por este último tempo verbal.
papéis sociais. Apesar dessas mudanças de sua condi-
3 a) A predominância do pretérito perfeito no primeiro
ção objetiva, do ponto de vista subjetivo não se proces-
parágrafo indica o aspecto pontual das ações de Fabia-
sou nenhuma alteração substancial, uma vez que não se
no. Já o emprego das formas verbais no pretérito im-
transformou a natureza das mulheres. Antes, “às seis da
perfeito (torcia e chiava) traduz uma ação durativa,
tarde”, elas choravam, com ou sem motivo, “porque o
inacabada, que enfatiza o estado de euforia das perso-
pranto subia garganta acima”. Depois, no mesmo horá-
nagens, tomadas por uma alegria duradoura, embora
rio, “elas não podem / não querem / chorar na condu-
ção”. No plano da aparência (do parecer), tem-se a im- ingênua.

pressão de que houve uma transformação em sua sub- b) Ao ver o preá chiando “no espeto de alecrim”, Fabia-
jetividade; no plano da essência (do ser), contudo, não é no começa a sonhar com uma vida melhor para a famí-
isso o que ocorre: elas não choram na condução, o que lia. Assim, as formas verbais no futuro do pretérito (ves-
implica dizer não que não choram mais, mas que não tiria, remoçaria, renasceria e seria) produzem um efeito
podem fazê-lo por estarem em público. de sentido de probabilidade que funciona como uma
b) Não. Os verbos no pretérito imperfeito do indicativo passagem para um mundo idealizado.
expressam ações repetidas no passado, revelando práti-
cas habituais da mulher, as quais lhe conferiam dada Módulo 5 – Discurso citado
natureza. Os verbos no presente do indicativo também
1 b
manifestam ações recorrentes, práticas que se repetem
caracterizando a nova condição feminina: não se trata 2 a) Sim. No primeiro caso, o verbo está sendo usado com
de um presente pontual, mas frequentativo, de validade o sentido de existir. No segundo, com o sentido de preci-
ANçLISE LINGUêSTICA

indeterminada: as ações enunciadas valerão até que sar, de dever. Uma paráfrase possível nesta situação se-
nova transformação se processe (os verbos ora conju- ria: “É necessário viver...”.
GABARITO

gados no presente serão conjugados, então, no imper- b) O líder indígena disse que eles viviam ali/lá que nem
feito, e os novos fatos, enunciados no presente). gado e que eles não podiam sair daquela cerca.

59
3 a) Para dar credibilidade à informação de que houve sibilidade de se formar, fazer um curso superior de artes
mudanças no modo de vida do profissional de circo a do circo”.
partir do século XX, o autor do texto jornalístico se vale, b) No texto, o profissional de circo, atualmente, é descri-
basicamente, dos estudos do pesquisador Rodrigo Mallet to como um sujeito que apresenta um “novo modo de
Duprat, autor da tese “Realidades e particularidades da vida”, ou seja, um novo modo de organizar-se. A partir
formação do profissional circense no Brasil: rumo a uma do século XX, esse profissional tem residência fixa, faz
formação técnica e superior”. Os trechos que identifi- menos viagens e deixa os filhos sob a tutela de parentes
cam o discurso do pesquisador – o discurso reportado ou em escolas fixas. Além disso, o artista circense ocupa
– seriam aqueles delimitados pelas aspas, como em: “os novos espaços para exercer o seu trabalho, como aca-
próprios artistas foram abrindo o ambiente para outras demias e hospitais, desenvolve projetos sociais e pro-
pessoas e facilitando esta via de mão dupla. O ‘circo move oficinas culturais. Em relação à formação, foram
novo’ de hoje estabelece-se a partir desta relação com o criadas, com a participação dos próprios profissionais,
novo sujeito histórico” e em: “Há, no mercado, profissio- escolas e cursos abertos para o preparo de novas gera-
nais híbridos, oriundos de várias áreas de formação, ções de artistas de circo. A atividade, hoje, é exercida
inclusive no circo familiar. [...] É até bom existir essa por profissionais de diferentes áreas, como professores
amplitude só que aquele profissional poderia ter a pos- de teatro, arte e educação física.

ANOTAÇÕES

60
1 L I T ER AT UR A E A R T E COMPETÊNCIAS GERAIS C1. C3. C6. C7

M Ó D U L O

Diversidade estética:
a Belle Époque
Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 1 e 2).
COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem Sugestão de divisão aula a aula: ESPECÍFICAS
Aula 1: objetivos 1 e 2 – Parnasianismo e Olavo Bilac E HABILIDADES
Aula 2: objetivos 3 e 4 – Simbolismo, Cruz e Sousa e Impressionismo
DA BNCC
. Objetivo 1: entrar em contato com a estética parnasiana e com a obra de Olavo Bilac. (Aula 1)
. Objetivo 2: avaliar os desdobramentos do rigor formal parnasiano. (Aula 1)
COMPETÊNCIA 1
EM13LP03
. Objetivo 3: identificar características gerais do Simbolismo e da obra de Cruz e Sousa. (Aula 2)
. Objetivo 4: identificar características gerais do Impressionismo. (Aula 2)
COMPETÊNCIA 2
EM13LGG201
EM13LGG202
EM13LP01
Neste módulo Disponibilizamos, no Caderno do Professor, um texto teórico que trata da
expressividade erudita que marcou a produção literária do período. Embora
Aula 1 COMPETÊNCIA 6
o trecho se refira especificamente ao Parnasianismo, pode ser estendido a
1 A estética parnasiana outras correntes literárias da Belle Époque. EM13LGG604
EM13LP50

Ponto de partida:
Objetividade: Distanciamento
PARNASIANISMO No início do módulo, você
arte racionalista social
pode propor a seguinte dis-
cussão: a arte deve ou não
Impassibilidade: se engajar nas questões so-
Descritivismo ciais de seu tempo? O artis-
não envolvimento
ta deve prezar apenas pela
beleza ou perfeição de sua
Arte pela arte técnica ou deve usar sua
(noção básica): supervalorização da forma inspiração para propagar
Aula 2 ideias e convicções políti-
cas? Essas discussões po-
2 A estética simbolista dem servir de gancho para
a introdução de importantes
questões relativas ao Parna-
Misticismo/religiosidade sianismo e ao Simbolismo.
Como introdução da aula 2,
sobre a estética simbolista,
você pode propor uma dis-
Musicalidade: aliterações/ cussão com base no poema
assonâncias “Vogais”, do poeta francês
Rimbaud (o poema está
disponível na íntegra no
Maiúsculas alegorizantes: sugerem Caderno do Professor):
significados ocultos nas palavras “Qual é a cor do ‘A’? Qual

MÓDULO 1 - DIVERSIDADE ESTÉTICA: A BELLE ÉPOQUE


a cor do ‘E’?”, e assim com
SIMBOLISMO todas as vogais. A ideia é
(1893-1922) Ambientações religiosas: templos, mostrar aos alunos que es-
Oposição ao catedrais, o paraíso celeste sas atribuições de cores às
racionalismo cientificista vogais são completamente
arbitrárias e radicalmente
subjetivas: o “A” pode ser
Sinestesia: mistura de sentidos preto para alguns e verde
para outros. Esse é o gan-
cho para mostrar como
os simbolistas partiam de
LITERATURA E ARTE

Hermetismo: imagens complexas,


impulsos subjetivos para
de difícil compreensão
atingir a essência simbólica
da realidade que nos cerca,
atribuindo sentidos inusita-
Autor de destaque Cruz e Sousa (1861-1898): o “Cisne Negro”. dos e surpreendentes a
Transcendentalismo, musicalidade elementos já conhecidos.

61
3 Impressionismo

Reprodução/Museu Metropolitano
de Arte, Nova York, EUA.
Superação da imitação verista
da realidade

Pinceladas visíveis

IMPRESSIONISMO

Espaços abertos: jogos de luz


e efeitos do clima

Literatura: ambientes oníricos


(de sonho)

Catedral de Ruão: portal (luz do


sol) (1894), de Claude Monet.

DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S


Aula 1
1 O conceito de arte pela arte é central na poética parnasiana. Ele pode ser assim definido:

A teoria da arte pela arte repudia a tendência de tornar a arte útil, posta a serviço da sociedade. Invariavelmente, o signi-
ficado da palavra “utilidade” é sempre relativo: o que é útil para um não o é para outro, e é justamente no desprezo ao aspecto
utilitarista da existência que se concentra a razão da pureza artística.
LOBO, Danilo (dir.). Introdução à estética parnasiana. Brasília: Thesaurus, 1994. p. 30.

Com base na leitura do texto, discuta com os colegas a seguinte questão: o conceito de arte pela arte é válido ainda hoje?
1. Se desejar incrementar ainda mais a discussão, você pode apresentar aos alunos alguns exemplos de Poesia Concreta (como o poema
Resposta pessoal. “Rever”, de Augusto de Campos), para perguntar se, nesse caso, não teríamos uma obra puramente formal, desligada de qualquer referência.

2 Leia o soneto de Olavo Bilac para responder ao que se pede.

A um poeta 2. Este é um dos sonetos mais emblemáticos de Olavo Bilac e bastante interessante para a expo-
sição de alguns aspectos importantes da teoria parnasiana. Assim, se preferir, você pode iniciar a
Longe do estéril turbilhão da rua, aula com a leitura do texto e proceder à realização dos exercícios.
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego


Do esforço; e a trama viva se construa Claustro: espaço interno de um convento.
De tal modo, que a imagem fique nua, F‡brica: aqui, tem o sentido de produção de algo.
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício


Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,


Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, Olavo. A um poeta. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 268.

62
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Aula 2
a) Por que, segundo o texto, o poeta deve comportar-se Texto para as questões 3 e 4
como um monge beneditino?
Alma ferida
O eu lírico sugere a seu interlocutor que trabalhe como um monge
Alma ferida pelas negras lanças
beneditino, ou seja, que se dedique à escrita da poesia, distanciando-se Da Desgraça, ferida do Destino,
Alma, de que a amargura tece o hino
dos acontecimentos do mundo que o cerca, como se vivesse em um Sombrio das cruéis desesperanças;

claustro.
Não desças, Alma feita das heranças
Da Dor, não desças do teu céu divino.
2a. A primeira estrofe sintetiza a postura de distanciamento social proposta
Cintila como o espelho cristalino
pelos parnasianos. Ao realizar o exercício, pode-se salientar esse aspecto
da poética parnasiana. Das sagradas, serenas esperanças.

b) Essa posição corresponde a um importante princípio Mesmo na Dor espera com clemência
parnasiano. Indique esse princípio e o explique. E sobe à sideral resplandecência,
Longe de um mundo que só tem peçonha.
Trata-se da noção de arte pela arte, que pregava o distanciamento entre

a arte e o contexto social. Das ruínas de tudo ergue-te pura


E eternamente na suprema Altura,
Suspira, sofre, cisma, sente, sonha!
2b. Se preferir, você pode partir daqui para elaborar e apresentar o conceito
de arte pela arte. CRUZ E SOUSA. Alma ferida. In: BANDEIRA, Manuel (org.). Antologia dos poetas
brasileiros: fase simbolista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. p. 31.

3 Identifique os dois espaços mencionados no poema, bem


como os valores associados a cada um deles.
c) No contexto do poema, qual efeito é produzido pelo
O poeta aborda um espaço celeste, onde a alma vive na “suprema
polissíndeto (repetição de conectivos) no último verso
da primeira estrofe? Altura”, associada a valores positivos como “sagradas, serenas

No verso “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!”, o polissíndeto esperanças” e a uma “sideral resplandecência”. Esse espaço se opõe

produz efeito de continuidade, reforçando a ideia de um trabalho longo ao mundo concreto, material, “um mundo que só tem peçonha”, e que,

e intenso para a composição dos poemas. portanto, é um lugar negativo.

2c. Neste exercício, pode-se apresentar o antirromantismo dos parnasia-


nos, que – assumindo uma leitura um tanto distorcida da escola anterior
– atribuíam aos românticos uma dependência da inspiração.
4 Considerando o fato de o poeta Cruz e Sousa ser afrodes-
cendente, o poema pode ser relacionado à condição social
d) A obra de arte deve evidenciar o esforço despendido
das populações negras no Brasil no fim do século XIX?
pelo artista para a sua criação. Essa afirmação pode ser
Justifique sua resposta.
depreendida do poema? Justifique sua resposta.

MÓDULO 1 - DIVERSIDADE ESTÉTICA: A BELLE ÉPOQUE


Sim. O eu lírico manifesta um sentimento de dor, martirizado pelas
Não. O enunciador lírico afirma que a obra de arte deve esconder todo
“negras lanças / da Desgraça”. Esse estado de opressão pode ser
esforço do autor e todo artifício utilizado para a sua composição,
relacionado à condição social das populações negras do Brasil no fim do
mostrando-se de forma natural e espontânea.
século XIX, momento em que as marcas da escravidão recém-abolida
LITERATURA E ARTE

2d. Trata-se de um trecho de difícil leitura, mas sua análise pode trazer ainda continuavam muito vivas.
algumas luzes sobre o Parnasianismo. Há uma tendência de se imaginar
que o rigor formal com que os parnasianos encaravam o fazer poético
tornava essa produção artificial e forçada, mas a proposta dos autores é
oposta; para eles, esse rigor deveria estar a serviço de uma expressão
tão natural quanto possível.

63
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

5 Observe as imagens a seguir.

Reprodução/Museu de Arte Walters, Baltimore, EUA.

Reprodução/Museu Metropolitano de Arte, Nova York, EUA.


Pandora (1873), de Alexandre Banhistas na Grenouillère (1869), de Claude Monet (1840-1926).
Cabanel (1823-1889).
Embora pintados na mesma época, os quadros exemplificam movimentos artísticos distintos, cada um com técnicas próprias.
O primeiro é um exemplo de arte acadêmica, e o segundo, do Impressionismo. Descreva cada uma das obras, destacando a
maneira como os artistas buscavam representar seus modelos.

Pandora, de Alexandre Cabanel, é uma obra ligada à pintura acadêmica, tanto pelo tema (que resgata a figura mitológica de Pandora) quanto pela técnica de

representar fielmente a realidade por meio de pinceladas sutilíssimas que parecem esconder a intenção do pintor. Já o quadro Banhistas na Grenouill•re, de

Monet, é uma obra impressionista, em que o autor busca o efeito de realidade usando pinceladas claramente perceptíveis na tela. O resultado se afasta de uma

representação estritamente verista, mas é capaz, por outro lado, de captar variadas nuances de luz e jogos de cores. Quanto ao tema, a obra de Monet se afasta

dos temas tradicionais (muitas vezes ligados à mitologia ou à História) para registrar uma cena cotidiana ao ar livre.

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 1: objetivos 1 e 2 Aula 2: objetivos 3 e 4

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Literatura e Arte – Capítulo 1 – Parnasianismo,


Simbolismo e Impressionismo

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia o item 1 da seção Neste • Faça as questões 3 e 4 do • Faça a questão 5 do


módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
1
• Faça as questões 1 e 2 do • Leia os itens 1 a 2.4 do
Capítulo 1. Capítulo 1.

• Faça as questões 6 e 7 do • Faça a questão 8 do • Faça a questão 9 do


Capítulo 1. Capítulo 1. Capítulo 1.
2
• Leia os itens 3 a 3.2 do
Capítulo 1.

• Leia o item 2 da seção Neste • Faça as questões 13 e 14 do • Faça a questão 17 do


módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
3
• Faça as questões 10 e 11 do • Leia os itens 4 a 5 do
Capítulo 1. Capítulo 1.

• Leia o item 3 da seção Neste • Faça a questão 15 do • Faça a questão 16 do


módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
4 • Faça a questão 12 do • Leia o item 6 e os boxes
Capítulo 1. Integrando com Arte do
Capítulo 1.

64
EX TRAS!
Aula 1

1 O soneto a seguir, de autoria de Olavo Bilac, pertence à série intitulada “Via Láctea”, publicada em 1888. Leia-o e responda
ao que é solicitado.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Senso: juízo, razão.
Inda as procuro pelo céu deserto.
Via Láctea: galáxia em que está localizado o Sistema Solar.
Pálio: manto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido Tresloucado: louco.
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
BILAC, Olavo. Via Láctea, soneto XIII. In: BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 117.

a) Por que se pode dizer que, nesses versos, o poeta se aproxima da estética romântica?
b) Por que se pode dizer que, do ponto de vista formal, o poeta obedece a princípios parnasianos?

2 A estética parnasiana defendia a utilização de uma linguagem elevada, com um vocabulário precioso. Esse tipo de recurso
ainda é utilizado nos dias de hoje. Reflita a respeito da seguinte questão: quais são os setores sociais que ainda usam esse
tipo de linguagem e que efeitos podem ser obtidos por esse uso? Redija um parágrafo com suas conclusões.
3 Aula 2
Inverno! inverno! inverno!
Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal, descampados de gelo cujo limite escapa-nos sempre, desespera-
damente, para lá do horizonte, perpétua solidão inóspita, onde apenas se ouve a voz do vento que passa uivando como uma
legião de lobos, através da cidade de catedrais e túmulos de cristal na planície, fantasmas que a miragem povoam e animam,
tudo isto: decepções, obscuridade, solidão, desespero e a hora invisível que passa como o vento, tudo isto é o frio inverno da
vida.
Há no espírito o luto profundo daquele céu de bruma dos lugares onde a natureza dorme por meses, à espera do sol avaro
que não vem.
POMPEIA, R. Canções sem metro. Campinas: Unicamp, 2013.

Reconhecido pela linguagem impressionista, Raul Pompeia desenvolveu-a na prosa poética, em que se observa:
a) imprecisão no sentido dos vocábulos.

MÓDULO 1 - DIVERSIDADE ESTÉTICA: A BELLE ÉPOQUE


b) dramaticidade como elemento expressivo.
c) subjetividade em oposição à verossimilhança.
d) valorização da imagem com efeito persuasivo.
e) plasticidade verbal vinculada à cadência melódica.
LITERATURA E ARTE

65
2 L I T ER AT UR A E A R T E

M Ó D U L O

Pré-Modernismo

Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 3 e 4).


COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem Sugestão de divisão aula a aula: ESPECÍFICAS
Aula 3: objetivo 1 – Euclides da Cunha e Lima Barreto E HABILIDADES
Aula 4: objetivo 2 – Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos
DA BNCC
. Objetivo 1: reconhecer características histórico-sociais do fim do século XIX e início do século XX e
COMPETÊNCIA 1
suas relações com as obras de Euclides da Cunha e de Lima Barreto. (Aula 3)
EM13LGG103
. Objetivo 2: identificar características gerais das obras de Monteiro Lobato e de Augusto dos Anjos. EM13LP48
(Aula 4)
COMPETÊNCIA 2
EM13LGG202
Neste módulo
COMPETÊNCIA 3
Aula 3 EM13LGG302
EM13LP05
1 Pré-Modernismo COMPETÊNCIA 6
. Momento de transição. EM13LP49

. Abordagem crítica da realidade social e cultural brasileira.


Ponto de partida:
. Estilo eclético: preciosismo vocabular + interesse pela linguagem popular. Você pode iniciar a dis-
cussão sobre o Pré-Mo-

1.1 Autores
dernismo por meio da
reflexão a respeito da
designação desse movi-
. mento: “pré-moderno”
Acervo Iconographia/Reminiscencias

Obra: é aquilo que veio antes


- Os sert›es (1902) do Modernismo, de cer-
. Gênero híbrido:
ta forma anunciando-o.
Contudo, a designação
- Ciência (estudos de História, Geografia, Sociologia e Antropologia) implica necessariamente
+ uma criação a priori. Os
autores que chamamos
- Estilo literário (metáforas impactantes, ritmo sugestivo, dinamismo
“pré-modernos” não
narrativo) conheciam essa desig-
Reprodução/Coleção particular

nação a respeito de suas


próprias obras. Assim,
ressalta-se o fato de que
o Pré-Modernismo não
tem exatamente um ca-
ráter de escola literária,
no sentido de ter proce-
Euclides da Cunha dimentos aceitos por um
(1866-1909) determinado número de
escritores.

66
.

Acervo Iconographia/Reminiscencias
Abordagem do preconceito racial e social
. Crítica à cultura academicista
. Espontaneidade linguística: experiências com coloquialismo
. Obra:
- Triste fim de Policarpo Quaresma (1915): romance

Reprodução/Coleção particular
Lima Barreto
(1881-1922)

.
Acervo Iconographia/Reminiscencias

Abordagem da decadência econômica do Vale do Paraíba Aula 4


. Representação do caipira preguiçoso e avesso ao progresso: Jeca
Tatu
. Emprego de vocabulário interiorano.
. Obras:
- Urupês (1918): contos
- Reinações de Narizinho (1931): literatura infantojuvenil

Reprodução/Coleção particular

Monteiro Lobato
(1882-1948)

.
Reprodução/Coleção particular

Poesia
. Angústia existencial
. Linguagem cientificista, temas repulsivos
. Obra:
- Eu (1914): poemas
Reprodução/Coleção particular

MîDULO 2 - PRƒ-MODERNISMO
LITERATURA E ARTE

Augusto dos Anjos


(1884-1914)

67
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S
Aula 3
Texto para as questões 1 e 2
[...] E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros, barba inculta e longa; face escaveirada;
olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um hábito azul de brim americano; abordoado ao clássico bastão em que se apoia
o passo tardo dos peregrinos... [...]
No seio de uma sociedade primitiva, que pelas qualidades étnicas e influxo das santas missões malévolas compreendia
melhor a vida pelo incompreendido dos milagres, o seu viver misterioso rodeou-o logo de não vulgar prestígio, agravando-
-lhe, talvez, o temperamento delirante. A pouco e pouco todo o domínio que, sem cálculo, derramava em torno, parece haver
refluído sobre si mesmo. Todas as conjeturas ou lendas que para logo o circundaram fizeram o ambiente propício ao ger-
minar do próprio desvario. A sua insânia estava, ali, exteriorizada. Espelhavam-na a admiração intensa e o respeito absoluto
que o tornaram em pouco tempo árbitro incondicional de todas as divergências ou brigas, conselheiro predileto em todas
as decisões. A multidão poupara-lhe o indagar torturante acerca do próprio estado emotivo, o esforço dessas interrogativas
angustiosas e dessa intuspecção delirante, entre os quais envolve a loucura nos cérebros abalados. Remodelava-o à sua ima-
gem. Criava-o. Ampliava-lhe, desmesuradamente, a vida, lançando-lhe dentro os erros de 2 mil anos.
Precisava de alguém que lhe traduzisse a idealização indefinida, e a guiasse nas trilhas misteriosas para os céus...
O evangelizador surgiu, monstruoso, mas autômato.
Aquele dominador foi um títere. Agiu passivo, como uma sombra. Mas esta condensava o obscurantismo de três raças.
E cresceu tanto que se projetou na História...
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Ateliê; Imprensa Oficial do Estado; Arquivo do Estado, 2002. p. 267-268.

Anacoreta: eremita, pessoa que vive afastada do convívio social.


Intuspecção: ensimesmamento, introspecção.
Títere: marionete; pessoa que se deixa influenciar, sem vontade própria.

1 O evangelizador citado no trecho é Antônio Conselheiro, líder religioso do arraial de Canudos. Explique como o texto rela-
ciona o prestígio de Conselheiro ao contexto social em que ele surgiu.

Segundo o texto, o prestígio de Antônio Conselheiro se explica pelo fato de ele ter surgido em uma “sociedade primitiva”, inclinada a acreditar em explicações

sobrenaturais. Assim, a loucura do Conselheiro foi reforçada pelo ambiente de pessoas crédulas, obscurantistas, que, de certa maneira, espelhavam a loucura

daquele líder.

2 Explique o trecho “compreendia melhor a vida pelo incompreendido dos milagres”, que faz referência à população
sertaneja.

O trecho indica que a população compreendia sua própria existência por meio de explicações sobrenaturais, as quais não têm nenhuma comprovação e não

podem ser explicadas senão pela fé – o que contraria uma explicação racionalista-materialista da existência.

68
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Texto para as questões 3 e 4


Durante os lazeres burocráticos, [Policarpo Quaresma] estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua
história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que
o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai,
as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais
rios do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do “seu” rio que ele mais
implicava. Ai de quem o citasse na sua frente! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando se discutia
a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, [...] estudava o jargão caboclo com afinco e
paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupini-
quim, deram não se sabe por que em chamá-lo – Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem
reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?”
Quaresma era considerado no arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade de seu viver impunham-no
ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos.
Endireitou-se, concertou o pince-nez, levantou o dedo indicador no ar e respondeu:
— Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a
emancipação da Pátria.
LIMA BARRETO. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1956. p. 33-34.

Doestos: insultos, injúrias. Pince-nez: óculos sem haste que se prende ao nariz por uma mola.

3 Quais são as consequências do idealismo de Policarpo Quaresma em seu dia a dia?

O nacionalismo idealista de Policarpo Quaresma torna-o alvo de gozações e pilhérias entre os colegas de repartição. Apesar disso, ele não se desestabiliza,

mantendo-se firme em seu apaixonado nacionalismo.

4 Você considera o patriotismo uma postura necessária para o progresso e o bem-estar social? Justifique sua resposta.
4. Busca-se, com essa pergunta, fomentar a discussão a respeito dos aspectos positivos e negativos do patriotismo.
Resposta pessoal.

Aula 4
Texto para as questões 5 e 6
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e
ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher – cocos de tucum ou jiçara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pi-
nhões, orquídeas ou artefatos de taquarapoca – peneiras, cestinhas, samburás, tipitis, pios de caçador ou utensílios de madeira
mole – gamelas, pilõezinhos, colheres de pau. Nada mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisto vai longe.
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura
MîDULO 2 - PRƒ-MODERNISMO

biboca de bosqu’mano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para hóspedes. Três pernas per- Bosqu’mano: povos nômades dos
LITERATURA E ARTE

mitem equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para desertos do sul da África.
que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo?
MONTEIRO LOBATO. Urupês. In: MONTEIRO LOBATO. Urupês. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 170-171.

69
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

5 Qual é o principal argumento do narrador para sustentar seu ponto de vista negativo a respeito de Jeca Tatu?

O narrador considera que o principal defeito de Jeca Tatu é a preguiça, visto que ele se contenta com as condições mais precárias de vida desde que não

precise se esforçar para fazer nada.

6 Considerando que a criação de Jeca Tatu pretendia representar toda uma parcela da sociedade interiorana, é possível ques-
tionar o ponto de vista do narrador? Justifique sua resposta.

Sim, é possível questionar o ponto de vista do narrador, na medida em que ele não leva em consideração aspectos culturais da população caipira nem a miséria

em que ela vivia. É possível questionar ainda a exploração do trabalho, pois o caipira não tinha acesso à posse da terra, vivendo na dependência dos grandes

proprietários rurais.

Texto para as questões 7 e 8


Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!


O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,


Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
ANJOS, Augusto dos. Versos íntimos. In: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 85-86.

7 Identifique a presença do Determinismo no poema de Augusto dos Anjos.

O Determinismo de meio comparece na segunda estrofe, na menção ao fato de que o “Homem”, entre feras, torna-se fera.

8 Aponte a peculiaridade de estilo que se apresenta no soneto. O que faz dele um poema original no cenário da literatura
brasileira?

Augusto dos Anjos é um dos poetas mais originais da literatura brasileira. O soneto corrobora essa peculiaridade, porque explora uma temática repulsiva,

pessimista, com versos impactantes (como o que encerra o poema) e o uso habilíssimo dos decassílabos.

70
Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:
Aula 3: objetivo 1 Aula 4: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Literatura e Arte – Capítulo 2 – Pré-Modernismo

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia a seção Neste módulo. • Faça as questões 3 e 4 do • Faça as questões 5 e 6 do


Capítulo 2. Capítulo 2.
1 • Faça as questões 1 e 2 do
Capítulo 2. • Leia os itens 1 a 3.2.1 do Ca-
pítulo 2.

• Faça as questões 7 e 8 do • Faça as questões 9 a 11 do • Faça as questões 12 e 13 do


Capítulo 2. Capítulo 2. Capítulo 2.
2
• Leia os itens 4 a 5.1.1 do Ca-
pítulo 2.

EX TRAS!
Aula 3
1
Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo
também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência
de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os
escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir
azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem
pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2012.

Nessa petição do pitoresco personagem do romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão justifica-se pela:
a) situação social de enunciação representada.
b) divergência teórica entre gramáticos e literatos.
c) pouca representatividade das línguas indígenas.
d) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.
e) tentativa de solicitação do documento demandado.

2
Texto I
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo,
na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram.
Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987.

Texto II
MÓDULO 2 - PRÉ-MODERNISMO

Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por
ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e magro, e um caboclo. Ao serem in-
timados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa
LITERATURA E ARTE

guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional.
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902.

71
EXTRAS!

Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída
sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente, como fruto da:
a) manipulação e incompetência. c) hesitação e obstinação. e) bravura e loucura.
b) ignorância e solidariedade. d) esperança e valentia.
Aula 4
3 Leia o trecho para responder.

Paranoia ou mistificação?
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte
pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos
grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é
Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espa-
nha. Se tem apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A outra es-
pécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica
de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os
períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais
das vezes com a luz de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora eles se deem como novos precursores duma arte a ir, nada é mais velho de que a arte anormal ou teratológica:
nasceu com a paranoia e com a mistificação.
MONTEIRO LOBATO. Paranoia ou mistificação? Disponível em: www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/educativo/paranoia.html. Acesso em: 14 abr. 2021.

O posicionamento de Monteiro Lobato a respeito das artes plásticas permite afirmar que ele defende o:
a) direito constante à inovação estética.
b) nacionalismo como critério de valorização.
c) impulso teratológico como forma de expressão estética.
d) modelo clássico consagrado pela tradição de estudos estéticos.
e) talento individual como geração de novidade e de originalidade na arte.

4 Leia o poema.

A ideia
De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Vem essa luz que sobre as nebulosas Chega em seguida às cordas do laringe,
Cai de incógnitas criptas misteriosas Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Como as estalactites duma gruta?!
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Vem da psicogenética e alta luta Mas, de repente, e quase morta, esbarra
Do feixe de moléculas nervosas, No molambo da língua paralítica!
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
ANJOS, Augusto dos. A ideia. In: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 17.

O poema de Augusto dos Anjos pode ser tomado como uma reflexão a respeito da:
a) putrefação da matéria orgânica.
b) dificuldade de expressão estética.
c) origem material da existência humana.
d) capacidade da medicina em curar moléstias infecciosas.
e) inutilidade das crenças religiosas em meio ao racionalismo científico.

72
3 L I T ER AT UR A E A R T E

M Ó D U L O

Vanguardas artísticas
europeias
Módulo previsto para 2 aulas (Aulas 5 e 6).
COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem Sugestão de divisão aula a aula: ESPECÍFICAS
Aula 5: objetivo 1 – vanguardas europeias E HABILIDADES
Aula 6: objetivo 2 – vanguardas e suas influências
DA BNCC
. Objetivo 1: identificar as diferentes tendências estéticas propostas pelos participantes dos movimen-
COMPETÊNCIA 1
tos mais significativos das vanguardas europeias. (Aula 5)
EM13LGG101
. Objetivo 2: identificar e compreender influências exercidas pelos movimentos de vanguarda em ma-
nifestações da arte moderna e contemporânea. (Aula 6) COMPETÊNCIA 2
EM13LGG202
EM13LGG203
Neste módulo Algumas imagens selecionadas para a seção Neste módulo também aparecem no Caderno de
Estudos. É interessante que os alunos tenham contato com vários exemplos das vanguardas, mas, COMPETÊNCIA 3
Aula 5 acima disso, é fundamental que sejam reforçadas aquelas que se tornaram icônicas para o movimento.
EM13LGG301
Um fato artístico nunca passa, não é um valor adquirido, classificado, imutável: é um acontecimento EM13LGG302
flagrante, que pode se transformar com nossa intervenção. Ao movermo-nos no tempo, altera-se a pers- EM13LGG303
pectiva histórica, assim como, ao movermo-nos no espaço, altera-se a perspectiva. COMPETÊNCIA 6
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 342. EM13LGG604
Reprodução/Museu do Prado, Madri, Espanha.

© Succession Pablo Picasso/AUTVIS, Brasil, 2021.


Reprodução/Museo Picasso, Barcelona, Espanha.

MÓDULO 3 - VANGUARDAS ARTÍSTICAS EUROPEIAS

As meninas (1656-1657), de Diego Velázquez. As meninas (1957), de Pablo Picasso.


LITERATURA E ARTE

Ponto de partida:
Uma discussão sobre as transformações na arte desencadeadas pelas vanguardas europeias pode ser um começo interessante para a aula. Provocações como “Por que o
mesmo tema tem tratamentos tão diferentes nas telas apresentadas?”, “Como as características de cada obra refletem o espírito da época a que pertencem?” e “Quais os
traços comuns entre as obras desse período?” são gatilhos para que os alunos observem a instigante releitura de Picasso para o clássico de Velázquez. Outra possibilidade
é a leitura do fragmento do historiador da arte italiano Giulio Carlo Argan.

73
Aula 6

© Succession Pablo Picasso/AUTVIS,


Brasil, 2021. Reprodução/Museu de Arte
Moderna, Nova York, EUA.

© Association Marcel Duchamp/


AUTVIS, Brasil, 2021. Bridgeman
Images/Keystone Brasil/Museu de
Arte da Filadélfia, Pensilvânia, EUA.
CUBISMO DADAÍSMO
(1907) (1914)

Ready-made:
Fragmentação, retirada do valor
quebra da utilitário dos
perspectiva objetos

Fonte (1917), de
Marcel Duchamp.

© Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador


Dalí/AUTVIS, Brasil, 2021. Reprodução/
Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA.
SURREALISMO
(1924)
As senhoritas de Avignon (1906-1907), de
Pablo Picasso.
Mergulho no
inconsciente,
sonho, irrealidade

© CARRA, Carlo/AUTVIS, Brasil, 2021.


Reprodução/Coleção Mattioli, Milão, Itália.
FUTURISMO
(1909)

Valorização da A persistência da memória


máquina e da (1931), de Salvador Dalí.
velocidade

Reprodução/Museu Nacional de
Arte, Oslo, Noruega.
EXPRESSIONISMO
(fim do
século XIX)

Deformação,
cores fortes

Manifestação intervencionista (1914), de


Carlo Carrà. Colagem.
O grito (1893), de
Edvard Munch.
1. Você pode utilizar o primeiro exercício como estratégia para a sala de aula. As imagens
são exemplos muito importantes de obras representativas de cada vanguarda e vão
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S permitir aos alunos que observem características de contraste e aproximação entre elas.
Perguntas como: “Pode-se dizer que há um ponto em comum entre essas imagens?” ou
“Quais aspectos das obras transmitem uma ideia de modernidade?” podem ser usadas
Aula 5 para iniciar a discussão sobre o tema do módulo.
1 b)

Reprodução/Museu de Arte Moderna, Nova York, EUA.


Identifique a vanguarda artística europeia que correspon-
de a cada obra e redija um pequeno texto com uma breve
justificativa.
a)
© Association Marcel Duchamp/
AUTVIS, Brasil, 2021. Bridgeman
Images/Keystone Brasil/Museu de
Israel, Jerusalém, Israel.

Roda de bicicleta (1913),


de Marcel Duchamp. Noite estrelada (1889), de Vincent van Gogh.

DADAÍSMO / retirada do valor utilitário / ressignificação do objeto EXPRESSIONISMO / deformação da natureza / cores marcantes

74
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

© Photothèque R. Magritte/AUTVIS,
Brasil, 2021. Album/ZUMA Press/
Imageplus/Coleção particular
c) f)

© Succession Pablo Picasso/AUTVIS, Brasil,


2021. Reprodução/Museu de Arte Moderna,
Nova York, EUA.
Moça com bandolim (1910), de Golconda (1953), de René Magritte.
Pablo Picasso.
SURREALISMO / mundo onírico representado / expressão do
CUBISMO / fragmentação da imagem / pintura monocromática
inconsciente

© Man Ray 2015 Trust/AUTVIS, Brasil, 2021.


Valeria Kuypers/AFP
g)
d)
Reprodução/© Tarsila do Amaral
Empreendimentos

Antropofagia (1929), de
Tarsila do Amaral.
Presente (1921), de Man Ray.
EXPRESSIONISMO / deformação dos corpos / cores marcantes
DADAÍSMO / ressignificação de objeto cotidiano / ready-made

h)
© Succession Pablo Picasso/AUTVIS, Brasil,
2021. Granger/Imageplus/Museu de Arte
Moderna, Nova York, EUA.

e)
© Balla, Giacomo/AUTVIS, Brasil,
2021. Luca Carrà/Mondadori
Portfolio/Bridgeman Images/
Keystone Brasil/Museu do
Novecento, Milão, Itália.

Automóvel 1 velocidade 1 MîDULO 3 - VANGUARDAS ARTêSTICAS EUROPEIAS


1 luz (1913), de Giacomo
Balla.
Mulher em frente ao espelho (1932),
FUTURISMO / traços repetitivos em um padrão / referência à máquina de Pablo Picasso.
LITERATURA E ARTE

CUBISMO / fragmentação da imagem / diferentes ângulos em um

mesmo plano

75
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

2 Os dois textos a seguir trazem características cubistas b) Além do Cubismo, é possível identificar a influência de
empregadas na literatura. Leia-os com atenção para res- outra vanguarda no texto de Antônio de Alcântara Ma-
ponder aos itens. 2. Um aspecto importante no estudo das van-
chado. Identifique essa característica e explique a rela-
ção com a vanguarda em questão.
Texto I guardas europeias é a identificação de sua mani-
festação na literatura, o que pode ser trabalhado
nos exemplos selecionados para este segundo
Hípica exercício. O texto faz uso de onomatopeias que se referem à velocidade: “Uiiiiia-

Saltos records
uiiiia!”. Além disso, há referências diretas a elementos da cidade, como
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis o número da casa – “259-C” – e também à moda da época – “chapéu
Os magnatas
Borsalino”. Esses aspectos estão diretamente relacionados ao
As meninas
E a orquestra toca progresso técnico e à multiplicidade de símbolos que indicam o
Chá
crescimento da metrópole, o que se aproxima dos princípios estéticos
Na sala de cocktails
ANDRADE, Oswald de. Hípica. In: BASTOS, Alcmeno. Poesia brasileira e estilos de época. e temáticos pregados pelo Futurismo.
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2004. p. 113.

Texto II
O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ar-
del e trouxe Teresa Rita do escritório para o terraço.
O Lancia passou como quem não quer. Quase parando.
A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino. 3
Uiiiiia-uiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na primeira Texto I
esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo. Conti-

Reprodução/Enem, 2017.
nuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sempre na mes-
ma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Pouco antes
do número 259-C já sabe: uiiiiia-uiiiiia!
ALCÂNTARA MACHADO, Antônio de. A sociedade. In: ALCÂNTARA MACHADO,
Antônio de. Brás, Bexiga e Barra Funda. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/bi000005.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021.

a) Identifique a característica comum entre os textos e


explique como ela dialoga com as propostas cubistas.

Os dois textos trabalham com a sobreposição de flashes do cotidiano

que, aproximados, compõem uma cena completa, marcada pela

RAUSCHENBERG, R. Cama. Óleo e lápis em


fragmentação. No poema, imagens como “Cavalos da Penha”,
travesseiro, colcha e folha em suporte de
madeira. 191,1 3 80 3 20,3 cm. Museu de Arte
“Meninas” e “E a orquestra toca” são recortes da cena principal que
Moderna de Nova York, 1995. Disponível em:
www.moma.org. Acesso em: 8 jun. 2017.
revelam detalhes que também fazem parte do todo. No texto em

prosa, o procedimento é o mesmo: “o livro de Henri Ardel” sendo


Texto II
No verão de 1954, o artista Robert Rauschenberg
fechado nas mãos de Teresa Rita, a “mão enluvada” que cumprimenta
(n. 1925) criou o termo combine para se referir a suas no-
do carro a menina no terraço e os movimentos do próprio veículo – “na vas obras que possuíam aspectos tanto da pintura como
da escultura. Em 1958, Cama foi selecionada para ser
primeira esquina fez a curva” e “veio voltando” – são fragmentos da
incluída em uma exposição de jovens artistas america-
cena descrita pelo narrador e sua aproximação no texto gera uma nos e italianos no Festival dos Dois Mundos em Spoleto,
na Itália.
percepção de simultaneidade muito cara aos cubistas.
Os responsáveis pelo festival, entretanto, se recu-
saram a expor a obra e a removeram para um depósito.

76
5. Este exercício é uma oportunidade para apresentar um artista contemporâneo aos
alunos – Arthur Bispo do Rosário – e, mais que isso, demonstrar como as vanguardas
europeias do início do século estão presentes na arte que se produz hoje. Pedir aos
alunos que pesquisem exemplos de obras do nosso tempo que revelem traços das
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S vanguardas deve ser um estímulo ao protagonismo do estudante.

Embora o mundo da arte debatesse a inovação de se porque depois de quinze dias você começa a gostar dele
pendurar uma cama numa parede, Rauschenberg con- ou a detestá-lo. É preciso chegar a qualquer coisa com uma
siderava sua obra “um dos quadros mais acolhedores indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção esté-
que já pintei, mas sempre tive medo de que ninguém tica. A escolha do ready-made é sempre baseada na indi-
quisesse se enfiar nela”. ferença visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total de
DEMPSEY. A. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico da arte moderna. bom ou mau gosto.
São Paulo: Cosac Naify, 2003.
CABANNE, P. Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva,
1987 (adaptado).
A obra de Rauschenberg chocou o público na época em
que foi feita, e recebeu forte influência de um movimento Relacionando o texto e a imagem da obra, entende-se que
artístico que se caracterizava pela: o artista Marcel Duchamp, ao criar os ready-mades, inau-
a) dissolução das tonalidades e dos contornos, revelando gurou um modo de fazer arte que consiste em:
uma produção rápida.
a) designar ao artista de vanguarda a tarefa de ser o ar-
b) exploração insólita de elementos do cotidiano, dialo- tífice da arte do século XX.
gando com os ready-mades.
b) considerar a forma dos objetos como elemento essen-
c) repetição exaustiva de elementos visuais, levando à
cial da obra de arte.
simplificação máxima da composição.
d) incorporação das transformações tecnológicas, valori- c) revitalizar de maneira radical o conceito clássico do
zando o dinamismo da vida moderna. belo na arte.

e) geometrização das formas, diluindo os detalhes sem d) criticar os princípios que determinam o que é uma obra
se preocupar com a fidelidade ao real. de arte.
Aula 6
4 e) atribuir aos objetos industriais o status de obra de arte.

Texto I
Textos para a questão 5
Reprodução/Enem, 2017.

Texto I Texto II
Rodrigo Lopes/Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ.

Rodrigo Lopes/Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ.

DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Aço e madeira, 1,3 m 3 42 cm, MîDULO 3 - VANGUARDAS ARTêSTICAS EUROPEIAS
1913. Museu de Arte Moderna de Nova York.
DUCHAMP, M. Roda de bicicleta. Barcelona: Poligrafa, 1995.

Texto II
LITERATURA E ARTE

Ao ser questionado sobre seu processo de criação de


ready-mades, Marcel Duchamp afirmou: Canecas [s.d.], de Arthur Bispo Talheres [s.d.], de Arthur Bispo
do Rosário. Madeira, alumínio, do Rosário. Madeira, metal,
— Isto dependia do objeto; em geral, era preciso tomar
metal, papel, PVA e tecido, papel, tecido e plástico,
cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um objeto 110 cm x 47 cm. 197 cm x 70 cm x 9 cm.

77
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Texto III

Rodrigo Lopes/Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ.

Objetos de limpeza [s.d.], de Arthur Bispo


do Rosário. Madeira, plástico, linha e metal,
36 cm x 74 cm x 116 cm.

Texto IV
Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 1911 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989). Artista visual. Destaca-se por ter
desenvolvido, com objetos cotidianos da instituição em que viveu internado, uma produção em artes visuais reconhecida na-
cional e internacionalmente.
[...] Com a divulgação, surge o reconhecimento artístico das obras. O crítico Frederico Morais (1936-) inclui seus tra-
balhos na exposição À Margem da Vida, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1982, com
obras de presidiários, menores infratores, idosos e internos da Colônia. Posteriormente, realiza-se a primeira exposição
individual do artista, também no MAM/RJ. Morais, ao escrever sobre o trabalho de Bispo, relaciona-o à arte de vanguarda,
à arte pop, ao novo realismo e especialmente à obra de Marcel Duchamp (1887-1968).
ARTHUR Bispo do Rosário. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021.
Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10811/arthur-bispo-do-ros%C3%A1rio. Acesso em: 9 mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.

5 Partindo da observação das obras de Arthur Bispo do Rosário e das informações sobre os princípios que regem o trabalho
dele, é possível associar os resultados alcançados às pesquisas realizadas pelos:
a) futuristas, que utilizavam elementos que faziam referência ao cotidiano e à modernidade.
b) cubistas, que procuravam apresentar outra perspectiva na representação das imagens.
c) dadaístas, que utilizavam objetos do cotidiano, retirando seu aspecto utilitário.
d) surrealistas, que sempre priorizaram o universo onírico na composição de seus trabalhos.
e) expressionistas, que deformam o cotidiano, atribuindo cores fortes na composição das obras.

78
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

6 Piet Mondrian é um artista holandês conhecido por ter sido fundador do Neoplasticismo, tendência da arte abstrata no início
do século XX. Nas telas a seguir, é possível perceber aspectos de transformação na pintura de Mondrian, a partir da influên-
cia específica de uma vanguarda europeia. De que vanguarda se trata? Escreva um pequeno parágrafo comparando as obras
e comentando o processo de evolução do artista e sua influência vanguardista principal. Se necessário, faça uma breve
pesquisa.

Album/ZUMA Press/Imageplus/Museu
Municipal de Haia, Haia, Holanda.

Reprodução/Museu Municipal de Haia,


Haia, Holanda.

Reprodução/Museu Municipal de
Haia, Haia, Holanda.
A árvore vermelha (1910), de Piet Mondrian. A árvore cinzenta (1911), de Piet Mondrian.

Composição com vermelho, amarelo, azul e


preto (1921), de Piet Mondrian.

Mondrian pintava árvores na intenção de registrar suas formas e movimentos. Seus quadros iniciais revelam influência do pós-impressionista Vincent van Gogh.

Após conhecer os cubistas, suas obras se transformaram significativamente. O processo de geometrização da árvore está presente na pintura A árvore cinzenta, em

que o artista usou uma paleta monocromática e diferentes tons de cinza que sugerem luz e movimento, traço da influência cubista. A última tela é

completamente abstrata e apresenta linhas divisórias claras entre a combinação de formas preenchidas pelas cores primárias. A trajetória de Mondrian evoluiu

do figurativo para o abstrato, se valendo de importante contribuição cubista.

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 5: objetivo 1 Aula 6: objetivo 2

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Literatura e Arte – Capítulo 3 – Vanguardas artísticas europeias

MÓDULO 3 - VANGUARDAS ARTÍSTICAS EUROPEIAS


Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia a seção Neste módulo. • Faça as questões 6 a 9 do • Faça as questões 10 e 11 do


Capítulo 3. Capítulo 3.
1 • Faça as questões 1 a 5 do
Capítulo 3. • Leia o boxe Revisão e o
item 1 do Capítulo 3.
LITERATURA E ARTE

• Faça as questões 12 e 13 do • Faça as questões 14 a 16 do • Faça as questões 17 e 18 do


Capítulo 3. Capítulo 3. Capítulo 3.
2
• Leia os itens 2 a 6 do
Capítulo 3.

79
EX TRAS!
Aula 5
1 (Unifesp)
Tal vanguarda rompeu radicalmente com a ideia de arte como imitação da natureza prevalecente na pintura europeia des-
de a Renascença. Seus principais adeptos abandonaram as noções tradicionais de perspectiva, tentando representar solidez e
volume numa superfície bidimensional, sem converter pela ilusão a tela plana num espaço pictórico tridimensional. Múltiplos
aspectos do objeto eram figurados simultaneamente; as formas visíveis eram analisadas e transformadas em planos geométri-
cos que eram recompostos segundo vários pontos de vista simultâneos. Tal vanguarda era e dizia ser realista, mas tratava-se de
um realismo conceitual, e não óptico.
Ian Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007. Adaptado.

Uma pintura representativa da vanguarda à qual o texto se refere está reproduzida em:

Reprodução/Unifesp, 2018.
a) d)
Reprodução/Unifesp, 2018.

Pablo Picasso. As senhoritas de Avignon, 1907.

b)
Reprodução/Unifesp, 2018.

René Magritte. Império das luzes, 1954.

Reprodução/Unifesp, 2018.
e)

Edvard Munch. O grito, 1893.


Reprodução/Unifesp, 2018.

c)

Henri Matisse. Violinista à janela, 1917.

Roy Lichtenstein. Luminárias vermelhas, 1990.

80
EXTRAS!

Reprodução/Unicamp-SP, 2021.
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da
energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos es-
senciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensati-
va, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento
agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mor-
tal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo en-
riqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade.
Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tu-
bos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo...
um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha,
é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o
volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também
numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto
e munificiência, para aumentar o entusiástico fervor dos
elementos primordiais.
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. In: TELES, G. M. Vanguardas europeias e
Modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.

O documento de Marinetti, de 1909, propõe os referenciais


estéticos do Futurismo, que valorizam a:
a) composição estática. Marcel Duchamp, “Mona Lisa de Bigode”, 1919.
b) inovação tecnológica.
A emergência e a consolidação do rap como linguagem
c) suspensão do tempo. artística foram cercadas de polêmicas de natureza ética,
d) retomada do helenismo. política e cultural. Com base no excerto e no quadro de
e) manutenção das tradições. Marcel Duchamp, assinale a alternativa correta.
Aula 6
a) Os elementos poéticos do rap não podem ser compa-
3 (Unicamp-SP)
rados aos procedimentos das artes maiores, pois sua
Esses artifícios de montagem, mixagem e scratching
preocupação é mais política do que artística.
dão ao rap uma variedade de formas de apropriação que
parecem tão volúveis e imaginativas quanto as das artes b) A incorporação das referências culturais nas canções
maiores – como, digamos, as exemplificadas na “Mona Lisa dos Racionais MC’s é comparável ao gesto de Marcel
de bigode” de Duchamp e nas múltiplas reduplicações de Duchamp ao pintar um bigode na Mona Lisa, de Leo-
imagens comerciais pré-fabricadas de Andy Warhol. O rap nardo da Vinci. Ambos são apropriações imaginativas
e críticas.
também apresenta uma variedade de conteúdos. Não ape-

MîDULO 3 - VANGUARDAS ARTêSTICAS EUROPEIAS


nas utiliza trechos de canções populares, como também c) O modernismo de Marcel Duchamp, os quadros do
absorve ecleticamente elementos da música clássica, de pintor norte-americano Andy Warhol e as canções de
apresentações de TV, de jingles de publicidade e da mú- rap não têm valor artístico, pois expressam a degrada-
sica eletrônica de videogames. Ele se apropria até mesmo ção e o ecletismo de uma sociedade de massas.
de conteúdos não musicais, como reportagens de jornais d) O rap dos Racionais MC’s e as artes modernas não fa-
na TV e fragmentos de discursos de Malcom X e Martin zem distinção entre a cultura erudita e a de massa,
LITERATURA E ARTE

Luther King. misturam os seus elementos e produzem obras desti-


Richard Shusterman, Vivendo a arte. São Paulo: Editora 34, 1998. p. 149. tuídas de crítica social.

81
EXTRAS!

4
Texto I Texto II

Reprodu•‹o/Enem, 2020.
O grupo Jovens Artistas Britânicos (YABs), que surgiu
no final da década de 1980, possui obras diversificadas
que incluem fotografias, instalações, pinturas e carcaças
desmembradas. O trabalho desses artistas chamou a aten-
ção no final do período da recessão, por utilizar materiais
incomuns, como esterco de elefantes, sangue e legumes,
o que expressava os detritos da vida e uma atmosfera de
niilismo, temperada por um humor mordaz.
Disponível em: http://damienhirsti.com. Acesso em: 15 jul. 2015.
FARTHING, S. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011 (adaptado).

A provocação desse grupo gera um debate em torno da


obra de arte pelo(a):
a) recusa a crenças, convicções, valores morais, estéticos
e políticos na história moderna.
b) frutífero arsenal de materiais e formas que se relacio-
nam com os objetos construídos.
c) economia e problemas financeiros gerados pela reces-
são que tiveram grande impacto no mercado.
d) influência desse grupo junto aos estilos pós-modernos
que surgiram nos anos 1990.
HIRST, O. Motherand Child. Bezerro dividido em duas partes:
1029 3 1689 3 625 mm, 1993 (detalhe). Vidro, aço pintado, silicone, acrílico, e) interesse em produtos indesejáveis que revela uma
monofilamento, aço inoxidável, bezerro e solução de formaldeído. consciência sustentável no mercado.

GABARITO - EXTRAS!

Módulo 1 – Diversidade estética: 3 e


a Belle ƒpoque
Módulo 2 – Pré-Modernismo
1 a) Os versos relatam uma postura idealista por parte do
poeta, que o leva a conversar com as estrelas. Além 1 a
disso, ele toma o sentimento amoroso como justificativa 2 e
para esse diálogo cósmico.
3 d
b) O Parnasianismo se caracterizou pelo rigor formal, e
4 b
isso é notado no soneto pela regularidade métrica e
pelas rimas.
Módulo 3 – Vanguardas artísticas europeias
2 Resposta pessoal. Um dos setores sociais que usa a lin-
guagem retórica e elevada dos parnasianos é a classe 1 a
política brasileira, cujos representantes, muitas vezes, em 2 b
seus discursos, fazem uso de um linguajar pretensamen-
3 b
te erudito. O efeito buscado é o de dar credibilidade ao
orador, conferindo-lhe uma aura de sabedoria e cultura. 4 b

82
1 PRODUÇÃO DE TEXTO COMPETÊNCIAS GERAIS C1.C2.C4.C9

M Ó D U L O

Descrição, narração
e dissertação
Módulo previsto para três aulas (Aulas 1 a 3).
COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: identificar as principais características das sequências descritivas, narrativas e dissertativas,
COMPETÊNCIA 1
distinguindo os conceitos de tipo textual e de gênero textual. (Aula 1)
EM13LP07
. Objetivo 2: entender as múltiplas possibilidades de combinações entre passagens descritivas, narra-
tivas e dissertativas. (Aula 2) COMPETÊNCIA 3
EM13LP05
. Objetivo 3: compreender de que maneira, em textos de natureza dissertativa, os argumentos são
utilizados, inclusive em sequências textuais descritivas e narrativas, como forma de atingir objetivos Ponto de partida:
em contextos específicos e em gêneros diversos. (Aula 3) Pode-se começar reto-
. Objetivo 4: identificar marcas linguísticas que expressam o posicionamento do enunciador diante do
mando o que os alunos
já sabem sobre tipos
que é enunciado e aplicar esse conhecimento em textos dissertativos. (Aula 3) textuais, perguntando
a eles quais seriam as
características de textos
descritivos, narrativos e
Neste módulo (Aula 1) dissertativos. Na sequên-
cia, pode vir a provoca-
ção: apenas a disserta-
ção expressa um ponto
Descrição, narração e dissertação são os três tipos textuais mais importantes. Essas três modalidades de vista? Embora alguns
nem sempre se manifestam de forma autônoma, mas como parte integrante de textos pertencentes a di- tenham a tendência a
responder isso afirmati-
versos gêneros. vamente, é fundamental
lembrar que todo texto
revela a visão de mundo
de quem o produziu. Para
deixar isso claro desde
Descrição Predominância de elementos concretos Sem progressão temporal
o começo das aulas, é
possível dar exemplos
Narração Predominância de elementos concretos Com progressão temporal simples de descrições
e narrações, inclusive
Dissertação Predominância de conceitos abstratos Progressão argumentativa extraídas de textos sin-
créticos que expressem
claramente valores, cren-
ças, opiniões.
Variações dissertativas

Dissertativo

Expositivo Opinativo MÓDULO 1 - DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO

Quando as visões de mundo Quando as visões de mundo


são apresentadas de maneira vêm acompanhadas de
implícita. Argumentativo marcadores de subjetividade.

Quando as visões
PRODUÇÃO DE TEXTO

de mundo aparecem
mais claramente.

Observação: Existe um outro tipo de texto, o injuntivo, que, por meio de verbos no imperativo, instruem
alguém a fazer algo. É o que acontece nas receitas culinárias ou em tutoriais. (Aula 2)

83
É bastante raro que um texto seja exclusivamente descritivo, narrativo ou dissertativo.
. Em um conto ou romance, por exemplo, que são gêneros literários predominantemente narrativos,
há passagens descritivas na caracterização das personagens e dos espaços.
. Em um artigo de opinião ou em um editorial, que são gêneros jornalísticos predominantemente
dissertativos, uma passagem narrativa pode servir de argumento de exemplificação, tornando os
conceitos abstratos mais concretos.

A descrição não é um tipo exclusivo de gênero da linguagem verbal. Veja a foto a seguir.
Eugene Partyzan/Shutterstock

A fotografia, por exemplo,


que é um gênero da
linguagem visual, é
tipicamente descritiva.

A narração também é um tipo que ocorre em linguagens não verbais. Veja a sequência de fotos
a seguir.

Tatiana Kiseleva551983/Shutterstock

Quando combinada com outras fotos, formando uma sequência com progressão temporal, ela se
transforma em uma narração.

84
(Aula 3)
Sequências descritivas e narrativas podem compor dissertações porque expressam, em termos con-
cretos, posicionamentos abstratos sobre o comentário dissertativo.

Narração

Descrição

Elementos
concretos
(figuras)
Os textos dissertativos são dominantemente
Elementos abstratos, mas eles podem se valer de
abstratos elementos concretos, que concretizam e
(temas) particularizam as ideias. Assim, passagens
descritivas e narrativas aparecem na
superfície do texto e estão a serviço de uma
Dissertação
visão de mundo.

DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S

1 (Unifesp) (Aula 1) A forma como se dá a construção do texto revela que ele


Um sarau é o bocado mais delicioso que temos, de te- é predominantemente
lhado abaixo. Em um sarau todo mundo tem que fazer. O a) dissertativo, com o objetivo de analisar criticamente o
diplomata ajusta, com um copo de champagne na mão, os que é um sarau.
mais intrincados negócios; todos murmuram, e não há quem
b) descritivo, com o objetivo de mostrar o sarau como
deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos minuetes e
uma festa fútil e sem atrativos.
das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalos
da sua época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; c) narrativo, com o objetivo de contar fatos inusitados
estão no seu elemento: aqui uma, cantando suave cavatina, ocorridos em um sarau.
eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por entre os quais
d) descritivo, com o objetivo de apresentar as caracterís-
surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da
ticas de um sarau.
sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no
écarté, mesmo na ocasião em que a moça se espicha com- e) dissertativo, com o objetivo de relatar as experiências
pletamente, desafinando um sustenido; daí a pouco vão humanas em um sarau.
outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e
2 (Uerj) (Aula 1)
marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer
de nossos batalhões da Guarda Nacional, ao mesmo tempo
que conversam sempre sobre objetos inocentes que movem
A educação pela seda
olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é
gorducha vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de do- vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.
ces que veio para o chá, e que ela leva aos pequenos que, diz, Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e
lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dandy que dirige pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro
mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na
olhar.
sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essen-
Rosa Amanda Strausz. Mínimo
cial ter cabeça nem boca, porque, para alguns é regra, duran- múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro:

MÓDULO 1 - DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO


te ele, pensar pelos pés e falar pelos olhos. José Olympio, 1990.

E o mais é que nós estamos num sarau. Inúmeros batéis


O conto contrasta dois tipos de texto em sua estrutura.
conduziram da corte para a ilha de... senhoras e senhores,
Enquanto o segundo parágrafo se configura como nar-
recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa
e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e rativo, o primeiro parágrafo se aproxima da seguinte
mostra em toda a parte borbulhar o prazer e o bom gosto. tipologia:
Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que a) injuntivo
PRODU‚ÌO DE TEXTO

com aturado empenho se esforçam para ver qual delas b) descritivo


vence em graças, encantos e donaires, certo sobrepuja a
travessa Moreninha, princesa daquela festa. c) dramático

(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.) d) argumentativo

85
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

3 (Aula 1) d) narrativo e descritivo, pois o enunciador conta sobre suas


andanças pelas ruas da cidade ao mesmo tempo que a
Caminhando contra o vento,
descreve.
Sem lenço e sem documento
e) narrativo e injuntivo, pois o enunciador ensina o inter-
No sol de quase dezembro
locutor como andar pelas ruas da cidade contando
Eu vou
sobre sua própria experiência.
O sol se reparte em crimes
4 (Fuvest-SP) (Aula 2)
Espaçonaves, guerrilhas
Ser consciente é talvez um esquecimento.
Em cardinales bonitas
Talvez pensar um sonho seja, ou um sono.
Eu vou
Talvez dormir seja, um momento,
Em caras de presidentes Voltar o ‘spirito nosso a ser dono.
Em grandes beijos de amor [Fernando Pessoa]
Em dentes, pernas, bandeiras
a) O trecho anterior, do ponto de vista da composição,
Bombas e Brigitte Bardot
classifica-se como descritivo, narrativo ou dissertativo?
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça Trata-se de um texto dissertativo.
Quem lê tanta notícia
Eu vou
b) Justifique sua resposta, transcrevendo pelo menos dois
VELOSO, C. Alegria, alegria. In: Caetano Veloso.
São Paulo: Phillips, 1967 (fragmento). elementos do texto.

É comum coexistirem sequências tipológicas em um mes- A estrofe de Pessoa é temática e apresenta uma interpretação abstrata e
mo gênero textual. Nesse fragmento, os tipos textuais que
se destacam na organização temática são genérica da realidade – “Ser consciente é talvez um esquecimento”.
a) descritivo e argumentativo, pois o enunciador detalha
Além disso, a repetição do advérbio “talvez” traduz a intenção de
cada lugar por onde passa, argumentando contra a vio-
lência urbana. formular uma hipótese explicativa, o que é comum no texto dissertativo
b) dissertativo e argumentativo, pois o enunciador apresen-
ta seu ponto de vista sobre as notícias relativas à cidade. de caráter científico. Ainda é possível apontar a ausência de pronomes

c) expositivo e injuntivo, pois o enunciador fala de seus de 1ª pessoa (e de outras marcas de subjetividade) e a valorização do
estados físicos e psicológicos e interage com a mulher
amada. presente epistêmico (comum em definições científicas).

5 (Unicamp-SP) (Aula 2)

Reprodução/Unicamp, 2014.

(Adaptado de Planeta Sustentável. Disponível em planetasustentavel.abril.com.br/infográficos/#content. Acessado em: 29 out. 2013.)

86
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S
(Aula 3)
a) Os infográficos apresentam informações de forma sin- 6 Leia o artigo de opinião abaixo e responda às questões.
tética, utilizando imagens, organização gráfica, etc.
Indique dois exemplos, do infográfico reproduzido, em O marido como capital
que a informação é apresentada por meio de linguagem No Brasil, as mulheres experimentam o envelhecimen-
não verbal. to como um período de perdas ainda maiores
Mirian Goldenberg
Entre as possibilidades de exemplos, temos a ondulação da linha
NO BRASIL, o corpo é um capital. Certo padrão estético
superior da área em que estão as figuras humanas, a silhueta humana, é visto como uma riqueza, desejada por pessoas de dife-
rentes camadas sociais.
indicando que se trata de consumo de água por pessoas, as bandeiras,
Muitos percebem a aparência como veículo de ascen-
os traços na lateral das figuras humanas, a gradação descendente do são social e como capital no mercado de trabalho, de ca-
samento e de sexo. Para aprofundar essa discussão, estou
preenchimento das figuras que mostra a enorme desigualdade de
fazendo um estudo comparativo com mulheres brasileiras
consumo entre os países ricos (as bandeiras, como dito, permitem a e alemãs na faixa de 50 a 60 anos.
Já nas primeiras entrevistas, constatei um abismo en-
identificação deles) e os pobres, o balãozinho de fala que parece dar
tre o poder objetivo que as brasileiras conquistaram e a mi-
voz aos que consomem pouca água, etc. séria subjetiva que aparece em seus discursos.
Elas conquistaram realização profissional, inde-
pendência econômica, maior escolaridade e liberdade
b) Considerando o veículo em que foi publicado, a re- sexual.
vista Planeta Sustentável, qual é a finalidade desse Mas se preocupam com excesso de peso, têm vergo-
infográfico? nha do corpo, medo da solidão.
As alemãs se revelam muito mais seguras tanto objeti-
Infere-se, a partir do título da revista, que a preocupação central do
va quanto subjetivamente.
infográfico seja a ecológica, especificamente a busca pelo equilíbrio Mais confortáveis com o envelhecimento, enfatizam a
riqueza dessa fase em termos de realizações profissionais,
entre a atuação humana sobre o meio ambiente e a conservação deste,
intelectuais e afetivas.
em uma palavra: sustentabilidade. Dentro dessa perspectiva, o A discrepância entre a realidade e a miséria discursiva
das brasileiras mostra que aqui a velhice é um problema
infográfico, além de informar o desperdício de água, teria uma proposta
muito maior, o que explica o sacrifício que muitas fazem
reparadora: alterar o comportamento dos leitores para um consumo para parecer mais jovens.
A decadência do corpo, a falta de homem e a invisibili-
consciente da água.
dade marcam o discurso das brasileiras. De diferentes ma-
neiras, elas dizem: “Aqueles olhares e cantadas tão comuns
sumiram. Ninguém mais me chama de gostosa. Sou uma
mulher invisível”.
Curiosamente, as brasileiras que se mostram mais sa-
PREPARE-SE
tisfeitas não são as mais magras ou bonitas. São aquelas
Durante muito tempo, o casamento e a maternidade foram que estão casadas há anos. Elas têm “capital marital”.

MÓDULO 1 - DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO


considerados fundamentais para a felicidade das mulheres. Em um mercado em que os homens disponíveis são
Mas será que as coisas funcionam assim até hoje? Para au- escassos, principalmente na faixa etária pesquisada, as ca-
mentar sua compreensão sobre essa questão e preparar-se sadas se sentem poderosas por terem um “produto” raro e
para as próximas atividades, leia a reportagem “Homens va- valorizado. Aqui, ter marido também é um capital.
lorizam mais o casamento que as mulheres, diz Datafolha”,
No Brasil, onde corpo e marido são considerados ca-
publicada na seção Comportamento do jornal GZH em 27
pitais, o envelhecimento é experimentado como uma fase
PRODU‚ÌO DE TEXTO

nov. 2017, disponível no link a seguir: https://gauchazh.clicrbs.


de perdas ainda maiores.
com.br/comportamento/noticia/2017/11/homens-valorizam-
mais-o-casamento-que-as-mulheres-diz-datafolha-cjai1c0jz Já na cultura alemã, em que diferentes capitais têm
05oe01pgvr1rauo4.html. Acesso em: 9 mar. 2021. mais valor, a velhice pode ser uma fase de realizações e de
extrema liberdade.

87
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Como ressaltou Simone de Beauvoir, “a última idade” d) Analise o trecho do artigo a seguir. Pode-se dizer que
pode ser uma liberação para as mulheres, que, “submetidas o advérbio em destaque expressa uma avaliação da
durante toda a vida ao marido e dedicadas aos filhos, po- autora sobre o que é dito depois? Justifique.
dem, enfim preocupar-se consigo mesmas”.
GOLDENBERG, Mirian. “O marido como capital”. Equilíbrio. Folha de S.Paulo. Curiosamente, as brasileiras que se mostram mais satisfeitas
1º jun. 2010. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/
eq0106201001.htm. Acesso em: 9 mar. 2021.
não são as mais magras ou bonitas. São aquelas que estão
casadas há anos. Elas têm “capital marital”.
a) Quais são as diferenças identificadas pela autora entre
as entrevistadas brasileiras e as alemãs quanto ao que
traz satisfação a elas? Sim. Ao dizer que a satisfação das mulheres não se relaciona à

percepção da beleza, a autora adiciona, com o advérbio, um comentário


Segundo a autora, as brasileiras de 50 a 60 anos têm a sua satisfação

que expressa sua surpresa diante do que encontrou na pesquisa.


relacionada ao fato de estarem casadas. Já as alemãs têm a satisfação

Pode-se relacionar isso ao fato de que, já no início do texto, ela havia


relacionada a realizações profissionais, intelectuais e afetivas. Por isso,

afirmado que, no Brasil, o corpo é um capital.


o envelhecimento seria experimentado como uma fase de perdas pelas

primeiras, enquanto pelas segundas como possibilidade de realizações.


e) Analise este outro trecho do artigo. O verbo “poder” é
capaz de exprimir diferentes modos de afirmar algo,
como a permissão, a possibilidade e a capacidade. O
que ele expressa nesta situação específica?

b) Segundo o texto, o que seria o “capital marital”? Já na cultura alemã, em que diferentes capitais têm mais
valor, a velhice pode ser uma fase de realizações e de extre-
No início do texto, a autora apresenta a noção de capital percebida como
ma liberdade.
uma riqueza e desejada por pessoas de diferentes camadas sociais. No

caso do “capital marital”, o casamento é o elemento visto dessa forma. Nesse caso, o verbo “poder” expressa possibilidade. No texto, isso

É interessante comentar como esse conceito mostra a essência da indica que a satisfação de que fala a autora não ocorre em todos os

dissertação: de que forma a busca por conceitos abstratos ajuda a casos, mas é possível que ocorra.

compreender situações concretas. 7 É comum que textos dissertativos tenham trechos descri-
tivos ou narrativos para compor a sua estratégia de argu-
mentação. Considerando isso e a atividade anterior, redi-
ja em seu caderno um breve artigo de opini‹o conforme
as instruções seguintes. (Aula 3)
. O primeiro parágrafo deve narrar um acontecimento na
vida de uma mulher brasileira de 50 a 60 anos que a
leve a pensar sobre a sua autoestima e a sua felicidade.
c) O que as conclusões da autora mostram sobre a relação É interessante considerar elementos como filhos, reali-
entre homens e mulheres no Brasil? zações profissionais e educacionais, o status de rela-
cionamento, etc.
O texto faz pensar em uma relação de desigualdade e opressão, afinal
. O segundo parágrafo deve ser um trecho dissertativo,
o valor próprio das mulheres estaria relacionado sempre à presença da em que você comente a situação narrada. Nele, você
deve buscar compreender a realidade da personagem,
figura masculina.
posicionando-se a respeito dela. Procure utilizar ex-
pressões que marquem a sua posição, como “lamen-
tavelmente”, “certamente” ou “provavelmente”, por
exemplo.

7. O fundamental é que o aluno produza um texto relacionando a sequência narrativa e a dissertativa, de modo coerente com o posicionamento
88 dele sobre a questão da felicidade das mulheres na faixa etária indicada. O uso dos marcadores de modalização é importante para desen-
volver a compreensão sobre a presença da argumentatividade não só na escolha dos fatos e informações, mas também do modo de dizer.
Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:
Aula 1: objetivo 1; Aula 2: objetivo 2; Aula 3: objetivos 3 e 4

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Produção de texto – Capítulo 1 – Descrição, narração e dissertação

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia a primeira parte da seção • Faça as questões 3 e 4 do • Faça a questão 5 do


Neste módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
1
• Faça as questões 1 e 2 do • Leia os itens 1 e 2 do Capítulo 1.
Capítulo 1.

• Leia a segunda parte da seção • Faça as questões 8 e 9 do • Faça a questão 10 do


Neste módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
2
• Faça as questões 6 e 7 do • Leia os itens de 3 a 6 do
Capítulo 1. Capítulo 1.

• Leia a terceira parte da seção • Faça as questões 13 e 14 do • Faça a questão 15 do


Neste módulo. Capítulo 1. Capítulo 1.
3e4
• Faça as questões 11 e 12 do
Capítulo 1.

EX TRAS!

1 (Fuvest-SP) e) segmento dissertativo introdutório; desenvolvimento


de uma descrição; rejeição da tese introdutória.
Das v‹s sutilezas
Os homens recorrem por vezes a sutilezas fúteis e vãs 2
para atrair nossa atenção. [...] Aprovo a atitude daquele per- No tradicional concurso de miss, as candidatas apresen-
sonagem a quem apresentaram um homem que com tama- taram dados de feminicídio, abuso sexual e estupro no país.
nha habilidade atirava um grão de alpiste que o fazia passar No lugar das medidas de altura, peso, busto, cintura e
pelo buraco de uma agulha sem jamais errar o golpe. Tendo quadril, dados da violência contra as mulheres no Peru. Foi
pedido ao outro que lhe desse uma recompensa por essa assim que as 23 candidatas ao Miss Peru 2017 protestaram
habilidade excepcional, atendeu o solicitado, de maneira contra os altos índices de feminicídio e abuso sexual no
prazenteira e justa a meu ver, mandando entregar-lhe três país no tradicional desfile em trajes de banho.
medidas de alpiste a fim de que pudesse continuar a exer-
O tom político, porém, marcou a atração desde o co-
cer tão nobre arte. É prova irrefutável da fraqueza de nosso
meço: logo no início, quando as peruanas se apresenta-
julgamento apaixonarmo-nos pelas coisas só porque são ra-
ram, uma a uma, denunciaram os abusos morais e físicos,
ras e inéditas, ou ainda porque apresentam alguma dificul-
a exploração sexual, o assédio, entre outros crimes contra
dade, muito embora não sejam nem boas nem úteis em si.
Montaigne, Ensaios.
as mulheres.
O texto revela, em seu desenvolvimento, a seguinte Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 29 nov. 2017.

estrutura: Quanto à materialização da linguagem, a apresentação


a) formulação de uma tese; ilustração dessa tese por meio de dados relativos à violência contra a mulher

MÓDULO 1 - DESCRIÇÃO, NARRAÇÃO E DISSERTAÇÃO


de uma narrativa; reiteração e expansão da tese inicial. a) configura uma discussão sobre os altos índices de abu-
b) formulação de uma tese; refutação dessa tese por meio so físico contra as peruanas.
de uma narrativa; formulação de uma nova tese, inspi-
b) propõe um novo formato no enredo dos concursos de
rada pela narrativa.
beleza feminina.
c) desenvolvimento de uma narrativa; formulação de tese
c) condena o rigor estético exigido pelos concursos tra-
inspirada nos fatos dessa narrativa; demonstração dessa
dicionais.
PRODUÇÃO DE TEXTO

tese.
d) recupera informações sensacionalistas a respeito des-
d) segmento narrativo introdutório; desenvolvimento da
narrativa; formulação de uma hipótese inspirada nos se tema.
fatos narrados. e) subverte a função social da fala das candidatas a miss.

89
2 PRODUÇÃO DE TEXTO

M Ó D U L O

Gêneros descritivos e
narrativos: publicidade,
quadrinhos e fotojornalismo

Módulo previsto para três aulas (Aulas 4 a 6).


COMPETÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem ESPECÍFICAS
E HABILIDADES
DA BNCC
. Objetivo 1: distinguir textos verbais, não verbais e sincréticos, reconhecendo que, nestes, os sentidos
COMPETÊNCIA 1
costumam ser produzidos, principalmente, pela combinação de elementos verbais e visuais. (Aula 4)
EM13LGG102
. Objetivo 2: compreender as relações entre as imagens e as legendas nas fotografias de natureza EM13LGG103
jornalística. (Aula 4)
EM13LP02
. Objetivo 3: relacionar elementos verbais e não verbais em textos publicitários. (Aula 4) EM13LP07
. Objetivo 4: identificar as características principais da linguagem dos quadrinhos, com ênfase na pers-
COMPETÊNCIA 2
pectiva crítica de charges e tiras humorísticas. (Aula 5) EM13LGG201
. Objetivo 5: aperfeiçoar a capacidade de planejar, organizar e produzir textos opinativos, tendo como EM13LP01
base a leitura de uma coletânea composta de textos verbais, não verbais e sincréticos. (Aula 6)
COMPETÊNCIA 3
EM13LP50
Neste módulo (Aula 4)
COMPETÊNCIA 4
EM13LGG402
Textos verbais: compostos apenas de signos verbais, como ocorre com um poema épico ou uma crô-
COMPETÊNCIA 6
nica jornalística.
EM13LP45
Textos não verbais: compostos apenas de signos não verbais, principalmente visuais, como o desenho,
EM13LP49
a fotografia e a pintura.
Textos sincréticos: promovem uma integração entre signos verbais e não verbais, como em tiras hu- COMPETÊNCIA 7
morísticas, charges ou anúncios publicitários. EM13LP16

COMPETÊNCIAS
Fotojornalismo 1E3
EM13LP44
As fotografias no jornalismo, acompanhadas de legendas, acabam também por fazer parte de um todo sincrético,
em que imagem e texto verbal influenciam-se mutuamente. EM13LP53

Publicidade COMPETÊNCIAS
3E7
Geralmente há, em anúncios, uma parte verbal, que constitui o que chamamos de slogan, que, de maneira EM13LP15
provocativa e sintética, procura aumentar a adesão a uma causa ou valorizar as qualidades de um produto ou
serviço. Além disso, há uma parte não verbal no anúncio que pode ser uma foto ou desenho, cujo significado
normalmente reforça o que foi dito no slogan.

Quadrinhos

Os quadrinhos, em geral, exploram uma combinação harmônica de palavras e imagens, integrando linguagem
verbal e visual. Há desde textos compostos de poucos quadrinhos, como as charges ou tiras humorísticas, até
aqueles que se desenvolvem por muitas páginas.
Ponto de partida:
Podemos começar a aula perguntando diretamente: uma fotografia em um portal de notícias é descritiva, narrativa ou dissertativa? E uma charge? É possível que as respostas
90 variem, mas é importante que os estudantes percebam que esses gêneros textuais estão no universo figurativo e que, portanto, eles costumam manifestar-se por meio de
sequências descritivas, narrativas ou as duas coisas simultaneamente.
DESEN V OLV ENDO H A BIL ID A DE S
(Aula 4)
1 Leia com atenção os dois textos a seguir para responder a) Os textos I e II se constroem de diferentes maneiras,
ao que se pede. mas possuem a mesma finalidade. Qual seria essa fina-
lidade?
Texto I
As adrenais, também conhecidas como suprarrenais,
Ambos os textos têm a finalidade de apresentar informações a respeito
são duas glândulas endócrinas situadas na cavidade ab-
dominal, acima de ambos os rins. A adrenal direita tem for- do funcionamento e das funções das glândulas adrenais ou
mato triangular, enquanto a esquerda assemelha-se a uma
meia-lua. São envolvidas por uma cápsula fibrosa e têm cer- suprarrenais.
ca de 5 cm. Fazem parte do sistema endócrino e dividem-se
em duas partes: córtex (camada externa, de cor amarelada
devido à presença de colesterol) e medula (parte central).
As glândulas adrenais secretam hormônios extrema-
b) O texto I é verbal; o texto II, sincrético. Quais as dife-
mente importantes para o bom funcionamento do orga-
renças mais significativas que você encontra na expres-
nismo, a saber:
são de ideias dos dois textos?
1) Córtex
O córtex é dividido em três zonas funcionais que pro- O primeiro texto é descritivo, objetivo e está em linguagem formal. Já o
duzem hormônios diferentes:
. Zona glomerulosa: libera aldosterona, que regula o ba- segundo texto, sincrético, apresenta ilustrações que trazem um tom
lanço entre o sódio e o potássio;
. Zona fasciculada: sintetiza o cortisol, hormônio corticoste- lúdico à transmissão da informação, linguagem mais informal e se

roide envolvido na resposta ao estresse e que regula o me- aproxima do texto narrativo e do universo das histórias em quadrinhos.
tabolismo da glicose e da gordura, entre outras funções;
. Zona reticulada: excreta hormônios sexuais, em especial
a testosterona.
2) Medula
Sintetiza e secreta catecolaminas, especialmente a
adrenalina e a noradrenalina. Esses hormônios regulam o (Aula 4)
sistema nervoso autônomo, que controla importantes fun- 2 (FGV-SP) Examine a seguinte mensagem publicitária de
ções do corpo humano como frequência cardíaca, respira- uma empresa do ramo de construção civil.

Reprodução/FGV-SP, 2016.
ção, digestão, entre outras.

MîDULO 2 - GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


ADRENAIS (suprarrenais). Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/
corpo-humano/adrenais-suprarrenais/. Acesso em: 11 mar. 2021.

Texto II
© Cynabon Yum/Acervo da cartunista

PRODUÇÃO DE TEXTO

Disponível em: https://ciencianarua.net/hq-de-cynthia-bonacossa-17-12-2020/.


Acesso em: 11 mar. 2021. Valor Setorial, junho de 2015.

91
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Tanto a frase quanto a imagem que compõem essa propaganda estão divididas, visualmente, em duas partes. Explique re-
sumidamente a relação de sentido que existe entre imagem e frase, em cada uma das duas partes.

Na parte esquerda da imagem, lê-se “O nosso papel no seu projeto” e observa-se o desenho de uma ponte; na direita, lê-se “é tirar o seu projeto do papel.” e observa-se a

fotografia da ponte já construída. Assim, nos dois casos, as partes da frase reforçam o sentido produzido pelas imagens, já que a parte esquerda é um desenho em nanquim

e remete ao projeto, enquanto a da direita mostra o projeto realizado. Há, pois, entre imagem e frase, entre os elementos visuais e verbais, uma relação de ênfase.

(Aula 4)
3 As fotos abaixo são registros de um mesmo espaço, da avenida Brigadeiro Luís Antônio, no centro da cidade de São Paulo,
em 1902 e em 2014 respectivamente.

Léo Burgos/Acervo do fotógrafo


Marc Ferrez/Coleção particular

a) Escreva uma legenda para cada foto, imaginando que elas fossem ser publicadas, lado a lado, num site sobre transforma-
ções urbanas.

Resposta pessoal. Apesar de não haver resposta correta, é importante reforçar para a turma que as legendas de uma foto jornalística orientam nossa leitura,

para que percebam o sincretismo desse tipo de composição.

b) Escreva um texto de, no máximo, dez linhas, apontando as diferenças que você constatou ao comparar as duas fotografias.

Espera-se que os alunos percebam que há uma significativa diferença entre os frequentadores do espaço e na organização das ruas: saem os bondes e as charretes,

e entram os carros. Também é desejável que seja destacada a preservação de parte da arquitetura original, ainda que envelhecida pela passagem do tempo.

92
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

4 (IFPE) (Aula 5)

Reprodução/IFPE, 2019.
Disponível em: www.turmadoroma.com.br/assim-e-o-futebol/tempos-modernos-1/. Acesso em: 17 jun. 2019.

As tirinhas constituem um gênero textual multimodal, por terem seu sentido construído pela associação de mais de uma
modalidade da linguagem. Na leitura da tirinha acima, ao associarmos o texto verbal com as ilustrações, percebemos que
a) a conclusão à qual o personagem chega no terceiro quadrinho caracteriza um exagero no que diz respeito aos cuidados
com a camisa e uma ironia quanto ao seu uso.
b) a ilustração do cômodo no qual o personagem se encontra caracteriza uma informação irrelevante, visto que as informa-
ções verbais quanto aos cuidados com a roupa são suficientes para compreendermos o sentido da tira.
c) a interpretação que o personagem dá à informação “não torcer” é equivocada já no segundo quadrinho, sendo dispen-
sável a leitura do terceiro para compreendermos o sentido da tira.
d) a expressão do personagem no segundo quadrinho sugere que a informação da etiqueta da camisa o surpreendeu de
algum modo e que isso atende às expectativas do leitor quanto ao que será dito no último quadrinho.
e) a polissemia de um termo provocou ambiguidade no texto, o que levou o personagem a uma interpretação equivocada
sobre o que poderia ser feito com a camisa.
(Aula 5)
5 (Ifsul-RS) Para responder à questão, leia a tirinha a seguir, publicada pela Federação Interestadual de Sindicatos de
Engenheiros (Fisenge).

Reprodução/Ifsul-RS, 2020.

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Disponível em: http://rj.cut.org.br/noticias/discriminacao-racial-e-o-tema-da-terceira-tira-em-quadrinhos-produzida-pela-fise-6e40&gt. Acesso em: 29 ago. 2019.

Com base nos elementos verbo-visuais presentes na tirinha, considere as seguintes afirmações:
I. Ao compararmos os primeiros quadros com o último quadro, é perceptível o constrangimento do homem diante da respos-
ta da mulher, possivelmente porque ele considerava o alisamento do cabelo como algo normal, sinônimo de “boa aparência”.
II. A tirinha problematiza a imposição social que as mulheres negras sofriam/sofrem para alisar o cabelo, pois a estética
branca era/é o modelo a ser seguido, produzindo um imaginário social de que os cabelos crespos eram desarrumados,
inadequados ao ambiente profissional.
III. Na primeira parte da fala do personagem masculino, há a utilização do nível formal de linguagem; no entanto, nas pró-
PRODUÇÃO DE TEXTO

ximas interações, os personagens utilizam uma linguagem mais informal. Essa mudança de registro sinaliza uma mudan-
ça de pauta do diálogo: de um comunicado mais profissional, passa para uma conversa mais coloquial.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)


a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III.

93
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S
(Aula 5)
6 Observe a charge a seguir: “Se prepare, Ruth, a agressividade nas redes sociais é
algo que você não pode imaginar.”
Estela May/Folhapress

Foi o que me disseram pouco antes da estreia do blog.


Eu, fingindo não estar com medo, balancei a cabeça posi-
tivamente como quem diz “tô sabendo, tô sabendo”. Mas
como diria Compadre Washington, “sabe de nada, inocente”.
No meu segundo texto, quase desisti de tudo. Eu real-
mente não tinha dimensão do nível sem cabimento que as
Estela May Young – Folha ilustrada de 1o jan. 2020
pessoas poderiam atingir para atacar algo que na maioria
A charge da cartunista Estela May Young foi publicada no
das vezes nem mesmo as provocou.
dia 1º de janeiro de 2020. Considerando o valor simbólico
Há muito tempo venho tentando digerir, mas não con-
dessa data, explicite a visão de mundo que se constrói a
sigo. Achava que a agressividade vinha só de alguns lei-
partir da relação entre a linguagem verbal e a não verbal.
tores meio pancadas. Engano meu. Ela vem de todo lado:
A charge, publicada em 1o de janeiro, tematiza as dificuldades enfrentadas
de quem lê, de quem não lê, de quem lê só o título e até de
quem escreve.
pelos indivíduos em um novo ano que se inicia e que parecem se repetir a E eu pensava que isso acontecia porque o computa-
dor torna as pessoas intocáveis, assim como os carros e
cada ano, segundo o texto da imagem. O carro, no topo da montanha-russa,
que por isso elas canalizavam toda sua agressividade nas
simboliza o ponto de partida – o primeiro dia – de um ano que se mostra redes sociais ou no trânsito.
Engano meu. Tá generalizado, como uma peste que se
cheio de altos e baixos, como a estrutura do brinquedo. O fato de a espalha pelo país e ninguém faz nada para conter. Mesa de
bar, fila da farmácia, ponto do ônibus. Discursos de ódio e
montanha-russa ser tão sinuosa ainda pode ser uma forma de remeter às
ignorância estão por toda parte.
dificuldades que seriam enfrentadas em 2020 (quando ainda nem se falava Acho que existe um erro de conceito. As pessoas pas-
saram a utilizar a agressividade como um artifício para au-
de pandemia do novo coronavírus) e que provavelmente continuariam nos
mentar a própria autoestima.
anos seguintes, o que evidencia uma visão de mundo, ao mesmo tempo, Como as pessoas se sentem politizadas? Sendo
agressivas.
pessimista e resignada. Como as pessoas se sentem informadas? Sendo
agressivas.
Como as pessoas se sentem engraçadas? Sendo
agressivas.
PREPARE-SE Como as pessoas se sentem menos ignorantes? Sendo
agressivas.
Na atividade de escrita da próxima aula, você verá a ex-
Entendam: pessoas inteligentes não jogam pedras.
pressão “tempo de delicadeza”. Ela aparece em uma canção
E pessoas equilibradas não berram, nem mesmo via caps lock.
de Chico Buarque e Cristóvão Bastos chamada "Todo sen-
timento", que fala dos desencontros e reencontros de um
Sempre me vem à mente aquela passagem de Saga-
casal. Ouça esta versão ao vivo da canção, para se preparar rana, em que Augusto Matraga diz que vai para o céu “nem
para as reflexões que serão propostas: www.youtube.com/ que seja a porrete”. As pessoas tentam reduzir a violência
watch?v=WyZuJ337Y3w. Acesso em: 11 mar. 2021. com agressividade. Tentam melhorar o país com agressivi-
dade. Tentam educar seus filhos com agressividade. Ten-
(Aula 6) tam fazer justiça amarrando pessoas em postes.
7 (Epcar-MG) “Pra pedir silêncio eu berro, pra fazer barulho eu mes-
Texto I ma faço”. Será que um dia essa gente vai entender que o
antônimo de agressividade não é passividade? Mas é as-
Agressividade is the new black
sim que tá sendo.
Ruth Manus
Porque argumentar dá muito trabalho. Pesquisar en-
Para que dialogar se nós podemos jogar pedras?
tão, nem se fala. Articular um discurso está fora de questão.
The new black. Expressão inglesa que designa uma
Tentar persuadir é bobagem. E tolerar... Tolerar é um verbo
nova tendência, algo que está tão na moda que poderia morto. Agressividade is the new black.
até mesmo funcionar como um pretinho básico. Adoraria
Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/agressividade
que este fosse um texto sobre jaqueta jeans, mas não é. -is-the-new-black. Acesso em: 28 ago. 2020.

94
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Texto II

O que é intolerância
A palavra “intolerância” vem do latim intolerantia, que significa impaciência, incapacidade de suportar, falta de condes-
cendência e de compreensão. Também compreende o sentido de inflexível, rígido e que não admite opinião ou posição diver-
gente. No sentido oposto, “tolerância” foi definida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco) como “o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos
de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos”.
[...] Um interessante entendimento das razões da intolerância é o da antropóloga francesa Françoise Héritier (1933-2017). Se-
gundo ela, a intolerância está associada à dificuldade de reconhecer a expressão da condição humana no que nos é absolutamente
diverso. Ser intolerante seria “restringir a definição de humano aos membros do grupo; os outros, sendo não humanos, podem ser
tratados como tais”. Está aí uma das chaves para a compreensão das causas do aumento da intolerância nos últimos tempos. [...]
Disponível em: http://conhecimentocerebral1.blogspot.com/2018/06/atualidades-vestibular-e-enem-dossie.html. Acesso em: 28 ago. 2020.

Texto III

Reprodução/Cpcar, 2021.

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Disponível em: www.seuguara.com.br/2013/03/intolerancia-charge-do-duke-270313.html. Acesso em: 28 ago. 2020.

Texto IV
Os estatutos do homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I Artigo VIII
Fica decretado que agora vale a verdade. Fica decretado que a maior dor
Agora vale a vida, Sempre foi e será sempre
E de mãos dadas, não poder dar-se amor a quem se ama
Marcharemos todos pela vida verdadeira. [...]

Artigo II Parágrafo único:


Fica decretado que todos os dias da semana, Só uma coisa fica proibida:
PRODUÇÃO DE TEXTO

Inclusive as terças-feiras mais cinzentas, Amar sem amor.


Têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
[...]
MELLO, Thiago de. Os estatutos do homem. São Paulo: Vergara & Riba, 2001.

95
D E S E N V O LV E N D O H A B I L I D A D E S

Texto V
Cajueirinho pequenino,
Carregadinho de flor,
Como queres que te ame,
Se não és o meu amor.
Cantiga de domínio popular

Redação
Considere os textos, seu conhecimento de mundo e o texto apresentado a seguir como motivações para redigir um texto
dissertativo-argumentativo, em prosa, conforme o tema apresentado.

Tempo de delicadeza
Sei que as pessoas estão pulando na jugular umas das outras.
Sei que viver está cada vez mais dificultoso.
Mas talvez por isto mesmo ou talvez devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema
da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nessa crônica, varando os tiroteios, os sequestros, as palavras
ásperas e os gestos grosseiros que ocorrem nas esquinas da televisão com a vida.
Talvez devesse lançar um manifesto pela delicadeza. [...]
Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Tempo de delicadeza. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 7.

Tema da redação
Como colocar em prática o desafio proposto por Affonso Romano para sermos, no cotidiano, “urgentemente delicados”?

Orientação de estudo Sugestão de divisão aula a aula:


Aula 4: objetivos 1, 2 e 3; Aula 5: objetivo 4; Aula 6: objetivo 5

Material de consulta: Caderno de Estudos 5 – Produção de texto – Capítulo 2 – Gêneros descritivos e narrativos:
publicidade, quadrinhos e fotojornalismo

Objetivo de
Tarefa Mínima Tarefa Complementar Tarefa Desafio
aprendizagem

• Leia a seção Neste m—dulo. • Faça as questões 3 e 4 do • Faça a questão 5 do


1, 2 e 3 • Faça as questões 1 e 2 do Capítulo 2. Capítulo 2.
Capítulo 2. • Leia os itens 1 a 3 do Capítulo 2.

• Faça as questões 6 e 7 do • Faça as questões 8 a 10 do • Faça a questão 11 do


Capítulo 2. Capítulo 2. Capítulo 2.
4 • Leia o item 4 do Capítulo 2.

• Faça as questões 12 e 13 do • Faça a questão 14 do • Faça a questão 15 do


5 Capítulo 2. Capítulo 2. Capítulo 2.

96
EX TRAS!

1 2

Reprodução/Enem, 2013.
Reprodução/Enem, 2017.

Veja, n. 42, 20 out. 2010 (adaptado).

Campanhas de conscientização para o diagnóstico pre-


Disponível em: http://orion-oblog.blogspot.com.br. Acesso em: 6 jun. 2012 (adaptado).
coce do câncer de mama estão presentes no cotidiano
das brasileiras, possibilitando maiores chances de cura
O cartaz aborda a questão do aquecimento global. A re-
para a paciente, em especial se a doença for detectada
lação entre os recursos verbais e não verbais nessa pro-
precocemente. Pela análise dos recursos verbais e não
paganda revela que
verbais dessa peça publicitária, constata-se que o cartaz
a) o discurso ambientalista propõe formas radicais de
a) promove o convencimento do público feminino porque
resolver os problemas climáticos.
associa as palavras “prevenção” e “conscientização”.
b) busca persuadir as mulheres brasileiras, valendo-se do b) a preservação da vida na Terra depende de ações de
duplo sentido da palavra “tocar”. dessalinização da água marinha.

c) objetiva chamar a atenção para um assunto evitado por c) a acomodação da topografia terrestre desencadeia o
mulheres mais velhas. natural degelo das calotas polares.
d) convence a mulher a se engajar na campanha e a usar d) o descongelamento das calotas polares diminui a quan-
laço rosa. tidade de água doce potável do mundo.
e) mostra a seriedade do assunto, evitado por muitas e) a agressão ao planeta é dependente da posição assu-

MÓDULO 2 - GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


mulheres. mida pelo homem frente aos problemas ambientais.

PROPOSTA DE VESTIBUL AR

(Unicamp-SP) Você é um(a) escritor(a) que publica uma crôni- tuação que você vivenciou. Em sua crônica, você deve, tal como
ca em uma revista semanal. Sempre se viu como uma pessoa fez Chimamanda Ngozi Adichie (excerto 2): a) narrar o episó-
livre de preconceitos e sempre apoiou a igualdade de gêneros. dio vivenciado por você, b) relacioná-lo à atitude micromachis-
Hoje, porém, ao ler uma matéria no El País, você se deu conta ta escolhida e c) expor suas reflexões sobre os sentimentos
de que, certa vez, vivenciou um episódio em que considerou que o reconhecimento dessa atitude despertou em você.
normal uma das atitudes listadas nessa matéria, as quais, se- Crônica é um gênero textual que aborda temas do cotidiano.
gundo Ianko López, revelam o micromachismo enraizado em Normalmente é veiculada em jornais e revistas. O cronista
nossa sociedade. trata de situações corriqueiras sob uma ótica particular.
PRODUÇÃO DE TEXTO

Diante da sua tomada de consciência, você decidiu que esse


será o tema da sua crônica desta semana. Identificou, então, Para redigir o seu texto, leve em conta os excertos apresenta-
entre as atitudes listadas (excerto 1) a que corresponde à si- dos a seguir.

97
Texto I Texto II
As atitudes machistas mais flagrantes são claras Quando eu estava no primário, em Nsukka, uma
para nós. Aquelas que, de forma manifesta e constante, cidade universitária no sudeste da Nigéria, no co-
colocam a mulher em uma posição inferior ao homem meço do ano letivo, a professora anunciou que iria
em contextos sociais, econômicos, jurídicos e familiares.
dar uma prova e quem tirasse a nota mais alta seria
Aquelas que consideram que o homem e a mulher nas-
o monitor da classe. Ser monitor era muito impor-
cem com objetivos e ambições diferentes na vida. No
tante. Ele podia anotar, diariamente, o nome dos
entanto, apesar das reivindicações históricas dos anos
1970 e da crescente conscientização em relação ao ma- colegas baderneiros, o que por si só já era ter um
chismo em todos os âmbitos culturais e políticos nos poder enorme; além disso, ele podia circular pela
últimos anos, há pequenos resquícios que continuam sala empunhando uma vara, patrulhando a turma
interiorizados em muitos de nós. São sequelas da nossa do fundão. É claro que o monitor não podia usar
educação e dos produtos culturais que nos formaram a vara. Mas era uma ideia empolgante para uma
como pessoas e que fazem com que, apesar de criticar- criança de nove anos, como eu. Eu queria muito ser
mos e denunciarmos o machismo, ainda possamos cair a monitora da minha classe. E tirei a nota mais alta.
em algumas de suas armadilhas sem perceber. O micro- Mas, para minha surpresa, a professora disse que o
machismo, como vem sendo chamado nos últimos cin-
monitor seria um menino. Ela havia se esquecido
co anos, se manifesta em formas de discriminação mui-
de esclarecer esse ponto, achou que fosse óbvio.
to sutis que acontecem todos os dias, até mesmo nos
Um garoto tirou a segunda nota mais alta. Ele seria
ambientes mais progressistas. Segue uma lista baseada
em exemplos que demonstram que talvez tenhamos o monitor. O mais interessante é que o menino era
entendido o grosso das reivindicações feministas, mas uma alma bondosa e doce, que não tinha o menor
ainda precisamos ler as letras miúdas. interesse em vigiar a classe com uma vara. Mas eu
1. Achei necessário explicar algo a uma mulher sem era menina e ele, menino, e ele foi escolhido. Nunca
que ela me pedisse, pelo simples fato de ser mulher. me esqueci desse episódio. Se repetimos uma coi-
2. Comentei com um amigo que ficou cuidando sa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma
dos filhos: “Hoje te deixaram de babá.” coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os
3. Perguntei a uma mulher se ela estava “naqueles
meninos são escolhidos como monitores da classe,
dias” quando me respondeu com indiferença ou desprezo.
então em algum momento nós todos vamos achar,
4. Disse que “ajudo” nas tarefas do lar, subentendendo
mesmo que inconscientemente, que só um menino
que esse é um trabalho da mulher em que eu estou aju-
dando, e não participando em condições de igualdade. pode ser o monitor da classe. Se só os homens ocu-
5. Em meu trabalho ou entre amigos, só chamo os pam cargos de chefia nas empresas, começamos a
homens para jogar futebol, pressupondo que as mu- achar “normal” que esses cargos de chefia só sejam
lheres não querem jogar. ocupados por homens. Eu tendo a cometer o erro
6. Perguntei a uma mulher quando vai ter filhos, de achar que uma coisa óbvia para mim também é
mas nunca perguntei o mesmo a um homem. óbvia para todo mundo. Um dia estava conversando
7. Pago todos os meus jantares com mulheres acre- com meu querido amigo Louis, que é um homem
ditando que é o que se espera de mim. brilhante e progressista, e ele me disse: “Não enten-
8. Descrevi uma mulher como “pouco feminina”.
do quando você diz que as coisas são diferentes e
9. Usei a palavra “provocante” para descrever a rou-
mais difíceis para as mulheres. Talvez fosse verdade
pa de uma mulher.
no passado, mas não é mais. Hoje as mulheres têm
10. Comentei que “essas não são formas para uma
moça falar.” tudo o que querem.” Oi? Como o Louis não enxerga-
11. Na televisão, aprecio homens ácidos e diverti- va o que para mim era tão óbvio?
dos e mulheres bonitas. ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. Tradução de Christina

12. Fiz o comentário “Ela é uma mulher forte”, su- .


Baum. São Paulo: Companhia da Letras, 2015, p. 15-17 (adaptado)

bentendendo que as mulheres, em geral, são fracas.


1 Você conhecia o conceito de micromachismos? Você
13. Deixo meu filho adolescente ficar na rua até as
já identificou esses comportamentos em pessoas pró-
3 da madrugada, mas obrigo minha filha a voltar antes
ximas a você?
da meia-noite.
LÓPEZ, Ianko. Micromachismos: se é homem e faz alguma destas coisas, deve 2 A escola pode ter um papel importante para mudar a
repensar seu comportamento. Disponível em El País. https://brasil.elpais.com/
brasil/2018/03/07/politica/1520426823_220468.html. Acessado em 28 jun. 2019
crença de que “só os homens ocupam cargos de che-
(adaptado). fia nas empresas”?

98
ANÁLISE DE PROPOSTA DE VESTIBUL AR

A proposta solicita que o aluno se coloque no lugar de um homens”. Por fim, ela destaca o fato de essa reflexão passar
escritor que publica sua crônica em uma revista semanal. Esse despercebida pelas pessoas, mesmo aquelas que lutam pelo
indivíduo é caracterizado inicialmente como alguém “livre de fim dos preconceitos e da intolerância.
preconceitos”, mas que se deparou com uma matéria jornalís-
tica na qual se revelava que certos comportamentos machistas, Encaminhamentos possíveis
nomeados como “micromachismos”, estão enraizados na so- Seguindo a instrução da proposta, o ponto de partida seria
ciedade e que ele, como sujeito pertencente a ela, não estaria narrar o episódio escolhido dentre os 13 propostos (item a);
livre de reproduzir alguns deles. Decide, então, que o tema da relacioná-lo ao conceito micromachista desenvolvido no texto I
crônica da semana seria a análise de um fato vivido por ele (item b); e, por fim, analisar subjetivamente os fatos (item c).
que retratasse esse tipo de intolerância. Vale destacar que Vemos, portanto, que a Unicamp solicitou que o percurso de
tanto o gênero requisitado (crônicas são textos bastante co- raciocínio do texto fosse do concreto ao abstrato, do fato à
muns em vários suportes de leitura) quanto a temática são reflexão, exatamente o mesmo caminho seguido pelo texto II.
bastante adequados e atuais. Essa ordem deveria ser rigorosamente cumprida.
Para organizar seu texto, o aluno deveria fazer a leitura da No entanto, ao estruturar o texto, o aluno poderia exercitar um
coletânea oferecida. O primeiro deles seria aquele que o cro- pouco mais sua liberdade de criação, já que a crônica não
nista teria lido e que o motivara a escrever o texto da semana,
obedece a um padrão totalmente fixo. Como descrito na pro-
o texto intitulado “Micromachismos: se é homem e faz alguma
va, a crônica é um gênero discursivo em que o autor, motiva-
destas coisas, deve repensar seu comportamento”. Nele, Ianko
do por um ato/fato do cotidiano, mostra sua visão pessoal,
Lopes apresenta sua reflexão sobre atitudes machistas, afir-
subjetiva. Ao apresentar ao leitor reflexões que, na maior par-
mando que as mais flagrantes – como aquelas que colocam a
te das vezes, opõem-se à visão do senso comum, a crônica
mulher em posição de inferioridade social, econômica, jurídica
tem por finalidade levar o interlocutor a perceber certos fatos
e familiar em relação ao homem, ou que limitam ou determinam
da realidade para os quais ele nunca se atentou. Isso se encai-
as escolhas dos indivíduos em função dos gêneros – são claras
xa perfeitamente na proposta de produção textual da Unicamp.
e mais passíveis de conscientização e de combate. O alerta do
A possibilidade de escolher uma dentre as 13 situações comuns
autor reside no fato de que as atitudes menos visíveis e mais
ao nosso cotidiano descritas no texto I certamente conferiu
sutis – classificadas como “micromachismos” – por vezes es-
ainda mais liberdade ao aluno.
capam à nossa percepção, ocorrendo até mesmo em ambien-
As crônicas figuram basicamente entre as produções do
tes que são considerados mais progressistas. Na sequência, o
meio midiático, como jornais e revistas, e são produções
autor apresenta uma lista de 13 situações que se aplicam a
regulares e em espaços fixos – segundo informações da
essa categorização e que deve servir, segundo as instruções
prova, a crônica seria publicada, especificamente, em uma

MÓDULO 2 - GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


da prova, como um guia para que o aluno (assumindo o papel
revista semanal. Dessa forma, é possível supor que os lei-
de cronista) determinasse a situação que o tenha levado a
escrever a crônica. tores da crônica são “fiéis” e que, portanto, eles devem
O segundo texto, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi, estar familiarizados aos temas e ao modo de escrita do
é uma lembrança de infância. A autora teria deixado de ser cronista. Isso permite uma maior fluidez na linguagem,
escolhida como monitor de sala, apesar de ter tirado a maior resultando em uma informalidade que preserva os laços
nota na prova, pelo simples fato de o papel de monitor, nor- entre leitor e escritor, aproximando-os. Por essa mesma
malmente, não ser uma opção do universo feminino dentro razão, a crônica costuma ser escrita em primeira pessoa
daquele contexto em que estava inserida. A partir desse fato, do singular, havendo a possibilidade de o leitor ser convo-
a escritora desenvolve a tese de que a “normatização” está cado a qualquer momento a participar da narrativa por
diretamente relacionada à frequência com que aquela situação meio de expressões como “você sabe” ou “caro leitor” ou
se repete: “se repetirmos uma coisa várias vezes, ela se torna mesmo por meio da utilização da primeira pessoa do plural,
‘normal’”, e exemplifica com situações em que o padrão é como fez a autora do texto II em “Se repetimos...”. Ainda
criado e não se rompe: “se só meninos são escolhidos como que as normas do português escrito devam ser cumpridas,
monitores da classe, então [...] nós todos vamos achar [...] que nas crônicas são frequentes algumas marcas de oralidade,
só um menino pode ser monitor da classe”, “Se só os homens assim como vemos no texto de Chimamanda o uso recor-
ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar rente do termo “coisa” ou no trecho “Oi? Como o Louis não
PRODUÇÃO DE TEXTO

‘normal’ que esses cargos de chefia só sejam ocupados por enxergava...”.

99
GABARITO - EXTRAS!

Módulo 1 – Descrição, narração e Módulo 2 – Gêneros descritivos e narrativos:


dissertação publicidade, quadrinhos e fotojornalismo

1 a 1 b
2 e 2 e

ANOTAÇÕES

100
ANOTAÇÕES

101
PRODUÇÃO DE TEXTO

MÓDULO 2 - GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


ANOTAÇÕES

102
ANOTAÇÕES

103
PRODUÇÃO DE TEXTO

MÓDULO 2 - GÊNEROS DESCRITIVOS E NARRATIVOS: PUBLICIDADE, QUADRINHOS E FOTOJORNALISMO


ANOTAÇÕES

104
FORMAÇÃO GERAL
LÍNGUA PORTUGUESA
Volatilidade, incerteza e complexidade são algumas das
palavras mais usadas para definir o momento histórico
em que vivemos. Para muitos, isso gera angústia e inse-
gurança. Para o aluno do Anglo, porém, a possibilidade
de construir o futuro deve servir cada vez mais de fonte
de motivação e inspiração.
A fim de contribuir para esse processo de formação e
amadurecimento, desenvolvemos este material conside-
rando os seguintes princípios: de um lado, é fundamental,
como no passado, que todos tenham acesso aos mais
sólidos conhecimentos que nos deixaram as gerações
anteriores, nas diversas áreas; de outro, esses mesmos
conhecimentos apenas fazem sentido quando vinculados
a valores, atitudes e habilidades exigidos nesta época,
tão marcada pela inconstância e pela fluidez.
Com esse direcionamento, cada volume deste material foi
cuidadosamente elaborado para favorecer o desenvolvi-
mento do pensamento crítico, da ética, da autonomia e
da empatia. Desse modo, a etapa do Ensino Médio se
compromete com as competências essenciais para garan-
tir que o projeto de vida de cada estudante se concretize.

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