Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES


BACHARELADO EM RADIALISMO

SILVIO LÔBO DOS SANTOS DUARTE

A ESCOLA DE FRANKFURT E A TEORIA CRÍTICA NA


COMUNICAÇÃO

JOÃO PESSOA,
2022
SILVIO LÔBO DOS SANTOS DUARTE

Trabalho apresentado a Professora Doutora Gracy


Kelli Martins Gonçalves, para obtenção de nota.

João Pessoa,
2022

2
SUMÁRIO

1. Resumo …………………………………………………..………………4

1.1 Palavra-chave ....................................................................................4

2. Abstract ...................................................................................................4

2.1 Keyword ............................................................................................4

3. Justificativa .............................................................................................5

3
RESUMO

A filosofia da comunicação é um recorte teórico preocupado em investigar os


conceitos fundamentais e as implicações sociais geradas pelo advento dos meios de
comunicação em massa que se inicia a partir do século XIX. No momento em que a
relação entre transporte e comunicação é desfeita, e as informações passam a circular
sem a necessidade de um intermediário físico, como por exemplo, a carta, o jornal, o
livro, dando origem às mídias eletrônicas no século XX. Com as telecomunicações
surgiram novas formas de ver e interagir com o mundo. A formação da “cultura de
massa” se tornou um tema bastante explorado por filósofos interessados em explorar a
relação entre o avanço técnico dos meios de informação e o retorno do homem à
barbárie vivenciada historicamente nas duas Grandes Guerras mundiais do século XX.

PALAVRA-PASSE: Comunicação, implicações sociais, telecomunicação, cultura de


massa.

ABSTRACT

The philosophy of communication is a theoretical approach concerned with


investigating the fundamental concepts and social implications generated by the advent
of mass media that began in the 19th century. At the moment when the relationship
between transport and communication is broken, and information begins to circulate
without the need for a physical intermediary, such as the letter, the newspaper, the book,
giving rise to electronic media in the 20th century. With telecommunications, new ways
of seeing and interacting with the world have emerged. The formation of “mass culture”
has become a topic widely explored by philosophers interested in exploring the
relationship between the technical advance of the means of information and the return
of man to the barbarism historically experienced in the two World Wars of the 20th
century.

KEYWORDS: Communication, social implications, telecommunication, mass


culture.

4
JUSTIFICATIVA

A filosofia sempre pensou a relação entre mundo e linguagem, de modo que,


para interpretar corretamente a sentença aristotélica “o homem é um animal racional”,
isto é, dotado de Lógos, linguagem, devemos ficar atentos e não nos esquecer de outra
definição apresentada pelo filósofo “o homem é um animal político”. Na medida em que
possuímos linguagem essa linguagem só atinge seu pleno exercício quando é
compartilhada com todos os cidadãos, de modo que a fala não é capacidade particular
do ser humano que se desenvolve na sua interioridade, mas é também uma atividade
pública. Aristóteles foi o primeiro filósofo a se preocupar não apenas com o que é dito a
respeito da realidade, mas também com o modo como esse saber é comunicado. Para
Aristóteles a retórica era fonte de um conhecimento provável ou verossímil que se
desenvolveu atrelado à tradição oral Antiga.

As Ciências Humanas que se consolidam no século XIX e adotam um modelo


inclusivo de saberes eruditos incorporaram retórica, hermenêutica, estética e outras
abordagens para o estudo da história, da cultura e da comunicação. Ao enfatizar
procedimentos analíticos e estruturas conceituais sobre a cultura e a consciência humana
por meio da atenção detalhada às fontes históricas as humanidades ajudaram a moldar
as bases de pesquisa moderna em comunicação. Diante dessa variedade de abordagens
na análise do fenômeno da comunicação, as divergências entre a Teoria Crítica de raiz
marxista e a teoria de Análise Funcional desenvolvida por Dunkheim permanecem entre
os teóricos das ciências humanas. No entanto, o que todos eles tendem a concordar é
que a conduta da vida social está atrelada de modo inseparável dos recursos simbólicos
disponíveis, e a comunicação antecipa ações sociais e configura a estrutura social.

INTRODUÇÃO

Experimentamos os efeitos dessa configuração social pela comunicação em


situações cotidianas como no fenômeno da difusão de notícias falsas na internet,.que
atuam diretamente na conduta das pessoas, em tomadas de decisões, em ir ou não se
vacinar. Nas propagandas, na arte. E mesmo no desenvolvimento de mecanismos de
controle que vão desde as burocracias governamentais, pesquisas de mercado. Esses

5
setores produzem informações que permitem o planejamento e controle de âmbito
social.

Considerando que a Teoria Crítica privilegia o discurso, seu propósito é


descobrir princípios velados nos discursos e ações de pessoas e instituições sociais,
explicitando interesses e motivos que podem não se manifestar de forma consciente para
elas mesmas. Para Paul Ricoeur, trata-se de uma hermenêutica da suspeita, que além de
Marx, incorpora também Nietzsche, na medida em que a interpretação não é feita a
partir de textos, mas desde a própria vida como história em movimento suscetível a
mudanças tecnológicas e sociais rápidas e efusivas.

Esses filósofos perceberam a dissolução das fronteiras entre informação,


consumo, entretenimento e política ocasionada pela mídia, bem como seus efeitos
nocivos na formação crítica de uma sociedade. Os principais pensadores da escola de
Frankfurt são Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor Adorno (1903-1969). A escola
de pensamento desenvolve o que ficou conhecido por Teoria Crítica, além desses
reunimos Walter Benjamin (1892-1940), Herbert Marcuse (1898- 1979). Em nossa
breve dissertação vamos apresentar os principais elementos que caracterizam a Teoria
Crítica da comunicação desenvolvida por esse coletivo de pensadores e cientistas
sociais.

1 O CONCEITO DE INDÚSTRIA CULTURAL

A obra Dialética do Esclarecimento foi publicada em 1947 numa parceria entre


Adorno e Horkheimer, é composta por três ensaios filosóficos e inaugura a discussão
em torno do conceito de cultura de massa. O primeiro ensaio intitulado O conceito
Esclarecimento pode ser considerado uma resposta ao famoso opúsculo de Kant, a
resposta a pergunta “que é esclarecimento?” em que o autor da Crítica oferece um
diagnostico da modernidade reivindicando a liberdade de pensamento da frase “ousar
saber” como prognóstico às futuras gerações. Adorno e Horkheimer, no entanto,
assumem uma atitude mais cautelosa. A partir de uma análise da noção de
esclarecimento e suas variadas correspondências com a idéia de iluminação presente na
mitologia, traçam um diagnóstico mais problemático da modernidade. O ensaio aponta
para o perigo de uma reversão material do esclarecimento à mitologia.

6
No segundo ensaio, A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação
das massas a discussão gira em torno do destino da arte na Modernidade que regrediu
ao mero entretenimento e distração ideológica perdendo seus elementos críticos.
Terminando com o ensaio Elementos do anti-semitismo: limites do esclarecimento,
onde debatem as raízes psicológicas e sociais da reversão da civilização européia à
violência racista e a destruição niilista durante a Segunda Guerra Mundial. Para esses
dois pensadores o importante é mostrar como o esclarecimento e o projeto de mundo
delineado pela razão iluminista configurava-se numa nova mitologia.

O princípio esclarecedor retiraria homens e mulheres de sua “menoridade”,


como disse Kant, mediante um total libertação das amarras dos mitos e da imaginação
através de um desencantamento do mundo, substituídos pelo saber racionalmente
organizado. Esse ideal de razão que garantiu as revoluções burguesas instauradoras da
modernidade passou a representar uma crença cega no progresso caracterizado de
modo exemplar pelo positivismo, como dominação total da natureza pelo homem e
sua conseqüente separação dela. O não reconhecimento do homem como pertencendo
a natureza.

Para os autores, na leitura de Bem & Almeida (2020), o que se dá aí é o processo


de autodestruição do esclarecimento que se consolida com o surgimento da indústria
cultural. Os pensadores acreditam que o esclarecimento aos moldes kantianos cedeu o
lugar ao papel da indústria a fomentar conformidades e resignação entre os
consumidores de bens culturais. O entretenimento é visto como não só o que assegura
a sobrevivência da exploração do homem pelo homem como continua exercendo uma
função em sua preservação, reprodução e renovação. Assim o que eles observam é o
regresso do esclarecimento à ideologia, não procuram tornar os homens melhores
intelectualmente e moralmente, estimulam apenas a submissão à lógica de dominação.

Para esses dois filósofos a indústria cultural é um meio de escamotear injustiças


sociais, gerenciando e processando os conflitos sociais, privando-os assim de existência,
na medida em que são produzidos e veiculados por uma indústria que visa produzir
bens, são reduzidos ao mero espetáculo. O conceito de indústria cultural compreende de
forma original a importância dos fenômenos da mídia e da cultura na formação do modo
de vida contemporâneo. Isso porque pensam que as comunicações só adquirem sentido

7
em relação ao todo social que precisa ser estudado à luz do processo histórico global da
sociedade.

Quando Horkheimer e Adorno elaboraram o conceito de indústria cultural


era 1944, em pleno curso da Segunda Guerra. A revolução comunista fracassara e
o socialismo se consumiu em um despotismo burocrático, a barbárie nazista ainda
não terminara. Os dois estavam refugiados nos Estados Unidos na época em que
criaram o conceito. Os dois, porém, perceberam que embora muito distintos os
regimes formalmente democráticos havia também tendências totalitárias.

De acordo com os dois filósofos, nas sociedades capitalistas a população é


mobilizada a participar em atividades necessárias a manutenção do sistema através do
consumo estético massificado através da indústria cultural. Para Rüdigger (1999)
esclarecimento e o positivismo criaram a idéia de que somos seres livres e distintos
capazes de permitir a cada um a satisfação individual, a história do século XX mostrou
que esse projeto era repleto de contradições internas que estão na base de muitos
conflitos econômicos, que lidam diretamente com angústias coletivas, sofrimentos
existenciais e problemas materiais que crescem dia após dia. O conceito de indústria
cultural mostra como os meios do iluminismo positivista podem se transformar em
barbárie tecnológica.

Os pensadores Frankfurtianos criticaram a cultura de massa não


porque ela é popular, mas, sim, por que boa parte dessa cultura
conserva as marcas das violências e das explorações a que as massas
tem sido submetidas desde as origens da história. A linguagem
rebaixada, o menosprezo da inteligência e a promoção de nossos
piores instintos, senão da brutalidade e estupidez, que encontramos em
tantas expressões na mídia. (RÜDIGGER, 1999, p.144)

Podemos definir o conceito de indústria cultural como a conversão da cultura em


mercadoria e a subordinação da consciência humana à racionalidade técnica do
capitalismo que ocorreram no início do século XX. O conceito não se refere aos
artefatos tecnológicos, como o computador, a televisão, o rádio, por outro lado designa
uma prática social em que a produção cultural e intelectual é orientada em função de sua
possibilidade de consumo no mercado.

Podemos dizer que boa parte das teorias contemporâneas da comunicação se


desenvolveu como uma recepção positiva ou negativa das noções desenvolvidas pela

8
Teoria Crítica. Partindo ou não de suas principais posições. A maior parte de seus
críticos se agarrou aos benefícios técnicos proporcionados pelo exercício positivista da
ciência desconhecem as dificuldades de defender sustentar de modo coerente a
imparcialidade da ciência partindo de uma perspectiva positivista tradicional.

Outro importante aspecto da teoria crítica da comunicação é que ela nos permite
enxergar a comunicação como um fenômeno complexo que engloba muitas outras áreas
do saber e lida com conseqüências reais. Basta tomar o exemplo das eleições no Brasil,
em que políticos são oferecidos pelos meios de comunicação como produtos para o
consumo do eleitor. Desse modo a indústria cultural procura sempre colocar seu
receptor numa posição puramente passiva, no sentido de que busca a todo instante
antecipar e coordenar sua reação.

Para Jensen (2008) a Teoria Crítica permite uma observação sobre os fenômenos
da comunicação além da manifestação imediata da mensagem. As contribuições da
teoria crítica para os estudos em comunicação se dão desde a identificação de que, tanto
no processo de produção quanto de associação da indústria cultural com o sistema de
controle do esquema de consumo de bens simbólicos, está presente a racionalidade
técnica. Isto significa que, não só na esfera do trabalho ou da ciência e tecnologia
primam pela eficiência, calculatividade, previsibilidade e instrumentalidade, mas que
esse modelo de organização penetrou inclusive a esfera do lazer e da arte, que foram
pensados tradicionalmente como momentos de exceção à regra e ao controle dos
métodos organizacionais da industrialização.

Considerar as estruturas de mediação da tecnologia, sua historicidade e a


condição que provocam na formação da subjetividade. Desse modo as mensagens
isoladamente são vistas apenas como efeitos que se referem a uma estrutura que
incorpora processos de aperfeiçoamento tecnológico na formação da subjetividade
humana. Para ver um exemplo disso basta ver o fenômenos das redes sociais e o modo
como elas influenciam o comportamento coletivo, ainda mais diante de nossa
circunstância pandêmica. Nesse sentido não podemos esquecer dos inúmeros problemas
psicológicos ocasionados pela exposição intensa à linguagem adotada por esses meios
ao comunicar.

2 A ESTETIZAÇÃO DA POLÍTICA

9
Quase todos os grandes teóricos da escola de Frankfurt procuraram interpretar a
arte diante do problema da indústria cultual. “Estetização da política” é um conceito
muito abordado e discutido que foi desenvolvido por Walter Benjamin que embora
tenha se dedicado mais a elaboração de uma teoria sobre a arte, atuou também em
investigações sobre a filosofia da linguagem, estética e a filosofia da história. Suas
reflexões nos auxiliam q entender os efeitos da arte como veículo de comunicação no
exercício do poder político pelo estado.

Enquanto que Adorno e Horkheimer enfatizaram a distorção da cultura frente ao


capitalismo tecnicista, Walter Benjamin foi um dos mais esperançosos do potencial da
arte na “era da reprodutibilidade técnica”, Para Benjamin uma postura comum aos
filósofos da escola de Frankfurt foi a de se concentrar na questão ambivalente da cultura
com a questão da liberdade social. Benjamin percebeu a estranha capacidade que os
nazistas tinham de fundir os valores e símbolos de uma sociedade pré-capitalista, como
o elogio da vida camponesa, com os de uma sociedade técnica e industrial como fonte
de sua propaganda. Em seu ensaio de 1936 A obra de arte na época de sua
reprodutibilidade técnica o filósofo desenvolveu o conceito de “estetização da política”
para atender a necessidade de explicar como os fascistas além de rejeitarem argumentos
e a persuasão como ferramentas políticas se utilizaram da arte para explorar forças
irracionais de ódio contra um grupo social, criando um inimigo interno à própria
sociedade.

As massas têm o direito de exigir a mudança das relações de


propriedade; o fascismo permite que elas se exprimam, conservando
ao mesmo tempo essas relações. Ele desemboca conseqüentemente na
estetização da vida política. (BENJAMIN, 1994, p.195)

E ainda:

Na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo aos


deuses olímpicos; agora, ela se transforma em espetáculo de si mesma.
Sua auto alienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria
destruição como um prazer estético de primeira ordem. Eis a
estetização da política, como a pratica o fascismo. O comunismo
responde com a politização da arte (BENJAMIN, 1994, p. 196)

Para Walter Benjamin era tarefa dos artistas e pensadores críticos contrariarem
essa tendência com o que chamou de “politização da estética”, fazendo com que a arte
se insurja contra a estetização da política por meio da exposição e oposição às

10
tendências reacionárias. Embora reconhecesse a arte como um veículo para uma política
emancipatória o filósofo reconheceu o lado pervertido da herança cultural. Obras de
arte e artefatos históricos expostos em museus são em sua maioria despojos de uma
marcha fúnebre em que os vencedores dos conflitos históricos pisam sobre aqueles que
estão sob seus pés.

A noção desenvolvida por Benjamin de que não há documento da cultura que


não seja ao mesmo tempo instrumento de barbárie se demonstrou de forma brutal nos
campos de extermínios nazistas onde os funcionários ordenavam prisioneiros tocar
Beethoven e Wagner enquanto milhares eram intoxicados e queimados em escala
industrial. Nesse momento a mesma técnica que cura doenças trouxe morte a milhões.

Em nosso cotidiano observamos os efeitos da estetização da política de várias


formas. Desde desenhos animados que reforçam os preconceitos de nossa sociedade, até
formas mais escancaradas como a imitação das posturas e atitudes reacionárias dos
regimes nazi-fascistas por políticos em atividade hoje que busca associar ao seu produto
valores tradicionais que perderam seu sentido diante das transformações de nossa
sociedade e que conta uma quantidade grande de artistas à sua disposição para
propagandear e que são produtos dessa sociedade de cultura massificada.

Desse modo a obra de arte se constitui para Benjamin como crítica da arte-
mercadoria. Vale anotar que Benjamin não rejeita as tendências atuais que aparecem
com o desenvolvimento técnico, como o caso da fotografia em sua época. Benjamin
entende que a estetização da política inaugurada pelo fascismo é a radicalização do
conceito marxista de fetichismo da mercadoria. O problema está no modo de
reprodução e não no veículo que a reproduz. Em outras palavras, não se trata de uma
usurpação do processo de produção da arte, a estetização da política significa que tanto
atividade política quanto a artística passa a ser observada ao invés de praticada. Nesse
sentido a passividade do espectador não é algo natural, na verdade é estimulada e
difundida amplamente.

O interesse nesse desempenho é imenso. Porque é diante de um


aparelho que a esmagadora maioria dos citadinos precisa alienar-se de
sua humanidade, nos balcões e nas fábricas, durante o dia de trabalho.
À noite, as mesmas massas enchem o cinema para assistir à vingança
que o intérprete executa em nome delas, na medida em que o ator não
somente afirma diante do aparelho sua humanidade (ou o que parece
como tal aos olhos dos espectadores), como coloca esse aparelho a
serviço de seu próprio triunfo. (BENJAMIN, 1994, p.179)
11
Assim como Adorno e Horkheimer, Walter Benjamin vai se opor à visão de
mundo positivista e se mostrou também um crítico da ilustração aos moldes kantianos.
Ao compreender a arte como “produção por liberdade” em oposição ao artesanato
entendido como atividade remunerada e penosa está em jogo o pressuposto do sujeito,
isto é, um sujeito contemplativo distante do processo produtivo. Para Benjamin essa
compreensão da arte a partir da oposição à atividade interessada se realiza
historicamente na sociedade burguesa como divisão social do trabalho.

A discussão sobre a relação entre arte e sociedade levou a duas


atitudes filosóficas opostas: a que afirma que a arte só é arte se for
pura, isto é, se não estiver preocupada com as circunstâncias
históricas, sociais, econômicas e políticas. Trata-se da defesa da “arte
pela arte”. A outra afirma que o valor da obra de arte decorre de seu
comprometimento crítico diante das circunstâncias presentes. Trate-se
da defesa da “arte engajada”, na qual o artista toma posição diante de
sua sociedade, lutando para transformá-la e melhorá-la, e para
conscientizar as pessoas sobre as injustiças e opressões do presente.
(CHAUÍ, 2005, p.152)

Podemos dizer que na era da reprodutibilidade técnica a originalidade dá espaço


ao mimetismo. A arte é expropriada de seu lugar de origem e é transformada pelo
mercado para atender as exigências de consumo estético da sociedade para atingir um
número maior de pessoas. A comunicação tem um papel importante nesse sentido, pois
a indústria cultural tende a apelar para supostos ineditismos que consistem basicamente
na realocação de formas para a produção de novas mercadorias que tendem a um
nivelamento gradual. Basta tomar como exemplo a indústria musical, que mesmo diante
de uma variedade enorme de ritmos tende a tornar-los indistintos na medida em que
todos acabam abordando os mesmos temas e soando de maneira muito semelhante
devido à produção musical em escala industrial.

Benjamin procurou colocar seu pensamento a serviço da transformação social e


romper com o que chamou de mistificação da arte e acompanha a questão ambígua das
mídias contemporâneas em relação à arte e a cultura. Walter Benjamin era judeu e tirou
a própria vida enquanto tentava escapar dos nazistas fugindo pra Rússia. Aconteceu que
foi assinado o pacto de não agressão entre União Soviética e os Nazistas, de modo que
ciente da impossibilidade de atravessar a fronteira que estava tomada e vislumbrando a
chance de ser mandado para um campo de concentração, atirou contra a própria cabeça.

12
As teorias desenvolvidas pela Escola de Frankfurt não esgotam completamente
os problemas que envolvem a teoria da comunicação nos dias atuais, considerando o
surgimento de novas formas de mediação pelo avanço da tecnologia. As idéias desses
filósofos continuam pertinentes na medida em que inovaram ao relacionar comunicação,
política, arte e vida social concreta, guiados pelo dever histórico de responder à situação
paradoxal do século XX que, se por um lado representou o século das grandes
descobertas, foi também um momento sombrio de nossa história em que a civilização
progrediu rumo à barbárie com a mesma velocidade em que seu poderio e controle
sobre a natureza aumentou. Ao evidenciar o papel determinante dos meios de
comunicação na formação ativa da sociedade chama atenção para a não isenção dos
meios de comunicação e para as estratégias que exercem no controle social.

13
REFERÊNCIAS

ADORNO, Theodor.; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Disponível


em: http://antivalor.vilabol.uol.com.br Acesso em: 27 maio 2022. Beatriz

BEM & ALMEIDA. Teoria Crítica, ideologia e cultura moderna: o conceito de


“indústria cultural” sob o paradigma da tecnologia da informação. Revista: Diversitas.
V. 5, n. 3. 2020, p. 2317-2331.
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In:
Walter Benjamin; Obras Escolhidas: Magia e técnica, arte e política. 7 ed. Tradução de
Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 165-196.
JENSEN, Klaus Bruhn. Teoria e filosofia da comunicação. Revista: Matrizes, Ano 2,
nº1 2008, p. 31-47.
RÜDIGGER, Francisco. Comunicação e teoria crítica da sociedade. Porto Alegre:
PUCRS, 1999.

14

Você também pode gostar